Brasileiro escapa de extradição no Reino Unido após alegar ser gay e temer condições desumanas de prisão em Alagoas
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Nicolas Gomes De Brito é acusado de ter participado do assassinato de William Pereira de Paiva na cidade de Caratinga, em Minas Gerais, em 2019
Nicolas Gomes De Brito seria preso em Alagoas — Foto: Reprodução
Uma juíza britânica negou ao governo brasileiro a extradição de Nicolas Gomes De Brito, de 26 anos, alvo de um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça de Minas Gerais e integrante da lista de foragidos da Interpol. Ao longo do processo, concluído em janeiro deste ano, mas revelado apenas nesta semana pela imprensa do Reino Unido, o brasileiro, apontado como autor de um assassinato ocorrido em Caratinga, em 2019, alegou correr risco a sua integridade física nas prisões brasileiras, tanto por ser gay, quanto pelas condições desses estabelecimentos. Brito foi solto por decisão da juíza distrital Briony Clarke.
"Isso ocorre porque, na ausência dessas informações, há, na minha visão, fundamentos substanciais para acreditar que ele enfrentaria um 'risco real' de ser submetido a tortura ou tratamento ou punição desumana ou degradante se fosse extraditado", escreveu a magistrada na decisão a qual O GLOBO teve acesso.
O argumento que sustentou a decisão de liberar o brasileiro foi a situação das prisões no Brasil. Segundo o documento, a defesa apresentou um relatório formulado por um especialista argentino em sistemas penitenciários no qual as deficiências das prisões brasileiras são expostas. Detalhes da prisão de Agreste, para a qual Brito seria enviado caso fosse extraditado, também aparecem no processo. Com base no relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), a análise apresentada pelos advogados do brasileiro aponta uma superlotação de 108% na unidade.
As celas também não estariam em conformidade com os padrões da Convenção Europeia dos Direitos Humanos (CEDH), com pouca ou nenhuma iluminação artificial e sem ventilação. Nas solitárias, há ausência de camas, com detentos obrigados a dormirem no chão, e falta de acesso a água nas celas, além de superlotação.
O especialista alega ainda que, por conta de sua orientação sexual, Brito também poderia ser vítima de homofobia e violência. A juíza Clarke pontua, no entanto, a ausência de evidências nesse sentido. O foragido chegou a afirmar ter casado com um português oito meses antes de deixar o Brasil, mas não apresentou documentos ou fotos que provem o relacionamento. Além disso, a polícia brasileira disse ter conversado com a mulher de Brito após o crime.
Ao ser preso no Brasil, Nicolas recebeu uma ligação de sua esposa na noite do assassinato. Além disso, argumenta a juíza britânica, ele deu o nome dela e afirmou que estavam em um relacionamento há pelo menos três anos. "Não há nada na prova de evidência do réu que dê qualquer explicação para o término desse relacionamento, como registros de divórcio, e as informações que ele forneceu não fazem referência alguma à sua esposa", pontua o documento.
Ainda segundo a decisão, procurado, o governo brasileiro não forneceu uma série de informações solicitadas pela juíza, referentes as características da prisão onde o homem ficaria. "É decepcionante que este tribunal não tenha recebido nenhuma resposta do Estado solicitante (Brasil). Mesmo que fosse difícil fornecer as informações solicitadas ou a garantia necessária, eu esperaria ter recebido algum tipo de resposta, mesmo que fosse para dizer 'não podemos fornecer essas informações' ou 'não podemos fornecer essas informações no prazo fornecido'", escreveu.
Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Justiça não se manifestou.
Além disso, a última movimentação do processo no Tribunal de Justiça de Minas Gerais dá conta de que o juiz do caso solicitou informações ao Ministério da Justiça sobre o paradeiro de Nicolas. A pasta se limitou a dizer que ele esteve preso no Reino Unido, mas não deu informações adicionais sobre o status atual do rapaz, nem a localização exata dele.
Entenda a acusação
A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu ainda em 2019 o inquérito em que Nicolas Gomes de Brito é acusado de participar de um homicídio em Caratinga. Segundo o delegado Rodrigo Cavassoni, a polícia descobriu que a motivação da morte de William Pereira de Paiva foi vingança e envolvimento com o tráfico de drogas.
De acordo com as investigações, em 2018, William teria contratado Anthonie Guilherme de Oliveira, na época com 18 anos, para executar Lucas Ferreira Lima, conhecido como “Lucas Boi”. Na época, Lucas Boi resistiu aos ferimentos, mas ficou paraplégico.
Dois dias após sair do presídio onde estava, a vingança foi realizada: William foi executado sob comando de Lucas Boi, que teria contado com a ajuda de Nicolas — apontado como “um dos principais articuladores desse crime” — um menor de 17 anos e Luís Henrique Lopes de Oliveira.
Na época, apenas Lucas Boi terminou preso pelo crime. Segundo os últimos registros da polícia de Minas, Luís Henrique teria fugido para a França e sido abrigado na casa do irmão de Lucas Boi. Neste período, da conclusão do inquérito, a polícia ainda considerava Nicolas foragido e não sabia o paradeiro do criminoso. Fonte: https://oglobo.globo.com
Adolescente que vivia em cobertura em Balneário Camboriú é alvo de operação contra golpe que simulava campanhas de doação ao RS
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Polícia Civil gaúcha realizou buscas no local na última sexta-feira. Imóvel era usado, segundo a investigação, como espécie de QG para aplicar série de estelionatos virtuais
Apartamento de alto padrão na beira-mar em Santa Catarina, onde foram realizadas buscas pela Polícia Civil-RS / Divulgação
Uma cobertura de alto padrão na beira-mar em Balneário Camboriú, Santa Catarina, com aluguel de R$ 30 mil, é apontada pela polícia como espécie de QG usado para aplicar golpes pela internet. Entre as trapaças, está a que simulava campanhas de doações para o Rio Grande do Sul, para auxiliar as vítimas das inundações. O imóvel, onde residia um adolescente de 16 anos investigado pelo esquema, foi alvo de buscas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
A Polícia Civil gaúcha chegou ao local enquanto investigava os responsáveis pela fraude que buscava se aproveitar do momento de calamidade no Estado para lucrar pela internet. Um adolescente, que usa as redes sociais para divulgar a vida de alto padrão, tornou-se um dos investigados dentro da chamada Força-Tarefa Cyber — criada para apurar estelionatos virtuais e casos de disseminação de notícias falsas envolvendo as inundações no RS.
O adolescente de 16 anos já era alvo da investigação, mas dentro do imóvel a polícia localizou mais dois suspeitos, um de 17 e outro de 20 anos.
— Deparamos com esses três, sozinhos, numa cobertura de luxo, trabalhando com dinheiro ilícito, obtido pela internet. Eles estavam praticando naquele momento diversos golpes virtuais — afirma a diretora do Deic, delegada Vanessa Pitrez, em coletiva à imprensa nesta segunda-feira (27).
A investigação aponta que o trio seria integrante do mesmo grupo, especializado em aplicar golpes pela internet, utilizando diferentes contextos. O adolescente de 16 anos é natural de Santa Catarina, enquanto os outros dois são de Alagoas e do Rio Grande do Norte. Os três teriam se unido para a prática dos estelionatos. A polícia ainda apura há quanto tempo o grupo estava atuando.
— Quando surgiu a tragédia, a enchente aqui no RS, eles se utilizaram disso para continuar e criar espécies de golpes. A gente ainda apura há quanto tempo eles atuam especificamente nessa modalidade que eles chamam de "black", mas entende que sim eles atuavam há mais tempo. Eles relataram durante o cumprimento dos mandados que de fato eram especialistas nessa modalidade de golpe. Tudo que chamava atenção da população em geral eles se utilizavam para criar golpes — afirma o delegado João Vitor Heredia.
O aluguel do imóvel, segundo a polícia, era dividido pelo trio. Dentro do apartamento havia equipamentos de informática com valor estimado em cerca de R$ 200 mil. Foram apreendidos no apartamento computadores, celulares, HDs e outros equipamentos que serão analisados para tentar extrair provas.
— De fato, eles se utilizavam desse apartamento como um quartel general para a prática de golpes diuturnamente. Eles estavam praticando golpes naquele momento. O próprio menor de 16 anos ouvido nos confirmou diversas espécies de golpes, que se utilizavam de qualquer outro fato nacional que chamasse atenção para a criação de golpes — explica o delegado.
Como há envolvimento de menores de 18 anos, a investigação passará a contar com apoio da Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca) para apurar os atos infracionais. Os adultos identificados seguirão sendo investigados pelo Deic. A polícia apura, entre outros crimes, a prática de estelionato, associação criminosa e uso de documento falso.
Como funcionava
Um dos pontos que despertou a atenção da polícia é a sofisticação do golpe. Neste caso, era usado um gateway (tecnologia de pagamento digital, conectando quem paga e a instituição financeira) para tornar mais complexa a identificação do destinatário e forçar uma licitude dos valores. Para impulsionar o golpe e motivar as pessoas a doarem, os golpistas fingiam que a campanha já havia arrecadado somas milionárias.
— Essas pessoas que praticam esses golpes já identificamos diversas modalidades. Alguns um pouco mais simples, mas ainda assim arrecadando dinheiro, e como esse praticado por esse adolescente, residente em Balneário Camboriú, que é um dos mais sofisticados — explica o diretor de investigações do Deic, delegado Eibert Moreira Neto.
Para a prática do golpe, segundo a polícia, foi criado um site, simulando uma campanha do governo do RS. A partir dali, havia um link para outro site falso, com uma vaquinha virtual. Por meio dessa página, era acessado um QR Code (processado por meio de uma loja virtual) para pagamento por Pix. A partir dali, quando a pessoa pensava estar fazendo a doação é que se concretizava o golpe.
O dinheiro era encaminhando para um gateway de pagamento, que faz a intermediação entre a pessoa que está comprando e a instituição financeira. O gateway direcionava esse pagamento para onde o golpista, o titular daquela conta, havia definido. Neste caso, segundo a polícia, o adolescente, como era sócio proprietário de uma empresa de consultoria online, direcionava o valor do gateway de pagamento para a empresa dele.
"Esse valor a título de contribuição chegava na conta desse golpista como se fosse a aquisição de um produto ou serviço. Ele fazia todo esse caminho para dar a aparência de licitude".
JOÃO VITOR HEREDIA-Delegado
Então, Mas, na verdade, se tratava de um golpe, que foi todo elaborado por eles, utilizando esses gateway de pagamento para fins de tentar ocultar a real ilicitude desses valores — explica Heredia.
-Houve determinação da Justiça, a partir de pedidos da polícia, para o bloqueio de contas no valor de até R$ 1 milhão. Os policiais ainda investigam qual o valor que foi movimentado pelo grupo desde o início do esquema.
Força-Tarefa Cyber
Desde o começo da força-tarefa já foram investigados 59 casos e abertos 29 inquéritos para apurar estelionatos virtuais e notícias falsas. Esta foi a segunda operação voltada para golpes realizada desde o início da mobilização. Segundo a polícia, já foi possível retirar do ar 71 páginas, contas e publicações.
Dicas
-Não compartilhe notícias das quais não tem certeza sobre a veracidade da informação. Busque confirmar as informações que recebe por conversas de WhatsApp, por exemplo, em canais oficiais e pela imprensa.
-Quem compartilha e dissemina as notícias falsas também pode ser responsabilizado por isso, não somente aquele que criou a informação falsa.
-Verifique a confiabilidade da campanha para onde pretende doar algum valor. Na hora de realizar e concluir o pagamento, via Pix, por exemplo, confira se a conta e o destinatário do valor é a mesma pessoa física ou jurídica que solicitou a doação.
-Se não souber para quem doar, busque campanhas oficiais, como do governo do Estado, por meio da campanha SOS Rio Grande do Sul.
-Também é possível acessar o portal “Para quem doar”, que faz a certificação de credibilidade das campanhas.
-Informe a polícia sobre casos de suspeita de golpes ou mesmo de divulgação de fake news. Fonte: Polícia Civil – RS
Como registrar
Caso seja vítima de algum golpe ou perceba que uma página ou perfil está disseminando notícias falsas, registre o fato na Polícia Civil. Só assim será possível investigar os crimes e chegar aos responsáveis. A comunicação pode ser feita por meio do Disque-Denúncia no número 197, ou no 181. Também é possível registrar ocorrência nas delegacias ou pelo site da Delegacia Online. Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br
O que move os seguidores nas redes sociais?
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Gerar engajamento promovendo informações relevantes é um caminho potente para criarmos uma rede rumo à transformação necessária
Uma pessoa verificando o celular — Foto: Mego-studio no Freepik
Rachel Maia
As redes sociais, nós sabemos, representam um meio de comunicação importantíssimo hoje. Com elas, podemos nos relacionar com familiares, amigos, colegas de trabalho e até com quem não conhecemos pessoalmente, mas que, de alguma forma, admiramos ou nos admira. O poder dessas redes é inquestionável, servindo tanto para promover ações positivas quanto para disseminar, por exemplo, notícias falsas (fake news).
Os meus canais na internet têm quase 400 mil seguidores. No LinkedIn, rede social direcionada a assuntos profissionais, são mais de 205 mil pessoas que me acompanham. Tamanho alcance me faz, com frequência, pensar sobre a nossa responsabilidade ao produzir conteúdos em ambientes virtuais. Precisamos de atenção redobrada: uma informação pode viralizar em pouco tempo e afetar indivíduos ou grupos de maneira grave.
Leis para o digital
Promover o direito e o dever digitais é algo discutido desde 2007. Com o avanço da tecnologia e, em particular, da inteligência artificial (IA), observamos uma corrida contra o tempo no que diz respeito ao combate de cibercrimes e à promoção de uma educação a favor do bom uso da internet e das redes sociais.
Uma das leis mais importantes desde o início da era tecnológica é a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), n° 13.709/2018. Segundo o site do governo federal, a LGPD procura proteger os direitos fundamentais de liberdade e privacidade, além da livre formação da personalidade de cada indivíduo. Já leis anteriores à primazia do on-line também seguem em vigor no contexto virtual. A lei nº 7.716/89, a qual garante que todos sejam respeitados independentemente de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, aplica-se à convivência mediada pela internet, nos resguardando e, em simultâneo, nos cobrando atitudes éticas.
O poder da comunicação
É importante entender como nossos seguidores chegam até nós, qual a relevância do que publicamos e o quanto isso interfere na sociedade. Nas minhas redes, há uma audiência que busca se conectar com a minha história, com assuntos voltados para a área de negócios, diversidade e meio ambiente. Sei da minha responsabilidade por representar pessoas que, de alguma maneira, enxergam em mim um lugar de pertencimento almejado.
Com os meus mais de trinta anos de experiência corporativa, construí um compromisso empresarial e social que, agora, é desenvolvido e praticado também no universo digital, sempre com o intuito de democratizar dados verídicos e promover debates qualificados.
Fomentar o acesso à comunicação e à informação de qualidade é um passo muito importante para os avanços necessários na batalha contra a desinformação em massa. Todo assunto que debato nos meus artigos de opinião, publicados em jornais, revistas e sites, são compartilhados para minha audiência das redes sociais, com o objetivo de que mais gente tenha a oportunidade de entrar em contato com veículos que prezam pela integridade da informação.
O meu respeito à imprensa e à ciência se conecta com as minhas ações e com o modo que escolho me comunicar com quem me segue. Trazer dados e notícias que se somam ao meu trabalho à frente de assuntos pertinentes para a sociedade é uma escolha respeitosa com o meu público e também um compromisso como cidadã.
No nosso país, a TV ainda é o meio de comunicação mais consumido. No entanto, a internet já ocupa o segundo lugar. O Brasil é o terceiro maior utilizador de redes sociais do mundo, de acordo com levantamento da Comscore em 2023 (mais de 131,5 milhões de pessoas estão conectadas). E é por isso que acredito que gerar engajamento promovendo informações relevantes é um caminho potente para criarmos uma rede rumo à transformação necessária, validando e renovando nossos direitos e deveres no mundo. Fonte: https://oglobo.globo.com
Por que opinamos sobre as mortes dos outros?
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Por que opinamos sobre as mortes dos outros?
Luto e as disputas de narrativas sobre as causas das mortes
Carlos com a esposa, Crispina, e as duas filhas, Ludmyla e Letícia - Arquivo pessoal
Eu estava longe de ser uma pessoa interessada em questões sobre a morte quando reparei, pela primeira vez, neste fenômeno: quando alguém anuncia a morte de uma pessoa, a curiosidade sobre a causa e as circunstâncias vem ainda antes das condolências.
Mas morreu de quê? Estava doente? Quantos anos?
Isso sempre me chamou a atenção e, embora muitas vezes eu também tenha ficado curiosa, tentava conter perguntas inconvenientes.
Já procurei algum texto que explique, tecnicamente, por que sentimos essa necessidade de conhecer as causas das mortes alheias, muitas vezes de pessoas que nem conhecemos, de quem nunca ouvimos falar em vida, mas cuja morte desperta curiosidade.
Não consegui. Mas tenho um palpite. Queremos saber do que morrem os outros para garantir que não é algo que está próximo de acontecer com a gente.
Mas estava doente? Se sim, não estou doente, não estou perto da morte.
Mas tinha quantos anos? Se é muito mais velho do que minha mãe, então ela também não está perto da morte.
Estava internado? Ufa, então a morte deu aviso prévio.
Talvez seja apenas mais uma das formas que encontramos de nos afastar da realidade e nos iludirmos sobre nosso material não infinito. No fim das contas, essa curiosidade pode ser apenas uma expressão da nossa humanidade e dos nossos medos.
Mas aí chegaram as redes sociais e a amplificação de tudo que temos de pior. Nossa curiosidade, até natural, transformou-se em suposições aleatórias sobre a vida alheia. E isso torna ainda mais difícil o luto de quem fica após a morte de uma pessoa querida, cuja morte, por algum motivo, foi exposta.
Foi o que aconteceu com a família do Carlos Pereira, operário da construção civil. No último dia 25 de abril, dia do aniversário da sua filha, Ludmyla, e do seu irmão, Jean, ele sofreu um acidente de carro na estrada para Esmeraldas, em Minas Gerais. Carlos morreu na hora.
"A imprudência no trânsito é grande". "Complicado. O povo conhece os perigos dessa estrada e mesmo assim ainda abusa! Lamentável". "Aconteceu por causa de um irresponsável".
No imaginário de quem deixou os comentários, Carlos, de vítima de um acidente de trânsito fatal, passou a ser apenas mais um motorista de trânsito imprudente. A família, que já estava sofrendo imensamente com a perda repentina de um pai, filho, irmão, primo, passou a sofrer também para tentar disputar a narrativa da Internet. Na era das redes sociais, todas as mortes são disputas de narrativa.
A realidade do que aconteceu com Carlos é conhecida por poucas pessoas. Ele estava se sentindo mal, com tosse. Gravou um áudio para sua esposa, Crispina, e disse que iria ao hospital. Pegou o carro e foi.
Enquanto tentava chegar ao seu destino, teve um infarto, bateu em outro carro e capotou várias vezes. Foi a única vítima.
Dificilmente, alguém que começa a passar mal e decide ir ao hospital imagina que está prester a ter um infarto. No mundo ideal, Carlos poderia ter pedido a alguém para levá-lo. Mas, no mundo real, quase ninguém espera pelo pior.
Se tivesse imaginado que era algo mais grave, Carlos talvez agisse diferente. "Os homens raramente pedem ajuda", sua prima Jéssica me diz.
Crispina estava indo embora do trabalho quando ouviu a mensagem do marido. Ao ligar para ele para saber se já havia sido atendido no hospital, um policial rodoviário atendeu, perguntando o que ela era de Carlos. "É meu marido". O policial informou o local do acidente e não disse que Carlos tinha morrido na hora.
Crispina e Crispiniana são irmãs gêmeas. O marido de Crispiniana, Nélio, foi ao local do acidente e recebeu a informação do óbito. Ele quem deu a notícia para Crispina. Logo depois, também começou a passar mal. O impacto da notícia acelerou outro infarto, que, segundo o médico, Nélio já estava para ter mesmo.
Enquanto Carlos era enterrado, Nélio estava em estado grave na UTI. Enquanto as duas irmãs choravam por seus maridos, a Internet discutia a culpa pelo acidente no Instagram.
Um estudo recente sobre morte e luto nas redes sociais demonstra que, embora possam ser úteis, as redes também validam narrativas que "justificam" algumas mortes, o que dificulta a elaboração do luto pelos familiares das vítimas. Já vi muito comentário horrível sendo feito contra pessoas que acabaram de perder seus maiores amores. Pais sendo responsabilizados por filhos que supostamente teriam tirado a própria vida. Lutos sendo ridicularizados, porque os desconhecidos da Internet teriam sido capazes de salvar pessoas que eles nunca viram. "Se fosse meu amigo, não teria acontecido".
As redes sociais estenderam certezas absolutas que alguns sempre tiveram sobre a vida também para a morte. Não é só o luto da família de Carlos Pereira que se dificulta. É o legado de alguém que talvez sempre tenha prezado pela responsabilidade no trânsito, pela preocupação com as outras vidas ali na estrada, no lugar em que também não imaginava encerrar a sua.
Um dos meus primeiros textos aqui no Morte sem Tabu foi sobre a morte do menino João Pedro, dentro da casa da tia, no Rio de Janeiro, com um tiro de fuzil nas costas. Nunca esqueci o desespero de sua família em tentar preservar a sua imagem, já sabendo que tentariam culpá-lo de alguma forma pelo próprio assassinato. O luto fica para depois, eu pensei.
Sei que são situações diferentes, porque a culpabilização da vítima faz parte da estratégia do aparato policial violento. Mas se não fôssemos tão naturalmente ávidos por comentar a causa da morte alheia com base em nossas próprias suposições, talvez tanto a família de João Pedro, como a de Carlos pudessem sofrer as suas perdas com um pouco mais de paz.
Indo além, penso em outra situação: por que falamos que pessoas doentes perderam as batalhas sobre suas doenças? Por que as culpamos pelo desfecho natural e inegociável de cânceres incuráveis, como se de fato houvesse uma possibilidade de vitória?
Sei que quem destila comentários inoportunos e tantas vezes mentirosos na Internet pode não se importar com os sentimentos que vão atingir os vivos, quem dirá os mortos. Mas, ainda sim, penso que a reflexão é válida. Talvez possamos nos perguntar por que queremos tanto saber e opinar sobre o papel das próprias vítimas nas causas de suas mortes. E, talvez, lembrando que isso pode dificultar muito o luto de quem fica, sejamos um pouco mais cuidadosos, nas redes sociais e fora delas. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
A política ignora a mudança climática
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Com a tragédia gaúcha e a previsão de mais desastres, ou o País segue a politização inconsequente ou opta por reconhecer que a política tratou a agenda climática e ambiental com descaso
Por Notas & Informações
Há politização demais e política de menos na forma como o Brasil está lidando com as mudanças climáticas e seus efeitos nos desastres naturais cada vez mais intensos e frequentes – como é o caso da tragédia no Rio Grande do Sul, a mais grave do gênero enfrentada pelo País nos últimos anos e possivelmente o prenúncio de muitas outras que virão no futuro próximo. Da esquerda à direita, do governo federal aos governadores e prefeitos, do Congresso Nacional aos legisladores estaduais e municipais, o fato é que a agenda climática e ambiental sempre foi, e segue sendo, um tema lateral na política brasileira. A constatação se torna ainda mais relevante quando se assiste tanto à descoordenação entre as diferentes lideranças que deveriam agir de maneira concertada quanto ao tiroteio, explícito ou velado, em que cada grupo, partido ou – vá lá – ideologia busca transferir culpas pela tragédia.
Enquanto isso, a boiada tenta passar. No Congresso, apesar da recente aprovação do projeto de lei que cria diretrizes para a formulação de planos de adaptação às mudanças climáticas, tramitam 25 projetos que agridem normas ambientais. Um deles regulamenta um termo autodeclaratório de que o empreendimento está de acordo com as regras exigidas, além de estipular prazos máximos para o andamento do processo de licenciamento ambiental. Se é fato que a desburocratização dos procedimentos é uma necessidade para destravar projetos econômicos, também é verdade que o projeto de lei pode criar uma espécie de “autolicenciamento” e inibir a análise de casos mais complexos. Há mais: um projeto propõe reduzir a reserva legal na Amazônia, enquanto outro elimina a proteção de campos nativos; mais um admite a exploração mineral em unidades de conservação, enquanto outro anistia desmatadores; um esvazia o poder de fiscalização do Ibama, enquanto outro flexibiliza normas de regularização fundiária.
O problema vai além da Câmara e do Senado. Vozes lulopetistas e bolsonaristas se apressaram a colocar o dedo em riste contra o governador Eduardo Leite (PSDB), acusando-o de favorecer a alteração de 450 pontos do Código Florestal gaúcho. Não faltou oportunismo na crítica, afinal decerto tais mudanças não provocaram as enchentes. Mas convém não ignorar o fato de que as alterações não apenas são questionáveis quando se pensa nos efeitos ambientais de longo prazo, como nem sequer seriam notadas não fosse a tragédia trazida pelas chuvas. Por outro lado, enquanto as gralhas bolsonaristas gritam, resta lembrar a sucessão de retrocessos promovidos pelo governo Bolsonaro – aquele que enxergava na floresta em pé um inimigo e o aquecimento do planeta um delírio esquerdista.
O desenvolvimentismo lulopetista não fica atrás. Apesar do verniz ambientalista do terceiro mandato, o presidente Lula da Silva, o PT e a esquerda jamais deram grande atenção à pauta do clima e do meio ambiente. Essa pauta foi historicamente deixada em segundo plano, ora como uma agenda restrita a “ongueiros” amazônicos e ambientalistas radicais, ora como se fosse uma preocupação típica de liberais. Nos governos petistas, houve fartos exemplos de projetos grandiosos que não levaram em conta os impactos climáticos já previstos àquele tempo – esta semana, por exemplo, uma pesquisadora lembrou o desmonte, por Dilma Rousseff, de um programa de adaptação climática, em nome do cartão postal que grandes empreendimentos desenvolvimentistas simbolizavam para sua errática gestão.
O Brasil bateu recorde de desastres naturais em 2023, resultado da conjugação de fatores climáticos, da intervenção humana e da tibieza das lideranças políticas em todos os níveis ante o problema. Diante das evidências e da tragédia gaúcha, há dois caminhos a escolher: ou segue a politização inconsequente ou opta por reconhecer que até aqui relegamos a agenda climática e ambiental ora ao descaso, ora ao negacionismo – e sempre ao segundo plano. Tratá-la com o devido peso ajudará, primeiro, a separar o que é o catastrofismo que imobiliza do que é informação capaz de mobilizar o País à ação; e, segundo, a incluir o clima na equação dos projetos de desenvolvimento econômico. Sem isso, seguiremos sacrificando o futuro em nome do presente. Fonte: https://www.estadao.com.br
Chimpanzé em zoo da Espanha se recusa a soltar filhote que morreu há três meses
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Natalia, uma chimpanzé de 21 anos, perdeu um filhote recém-nascido em fevereiro.
A chimpanzé Natalia perdeu o filhote após 14 dias do nascimento. — Foto: Reuters
Por Darío Brooks, g1
Esta é a segunda vez que a chimpanzé Natalia perde um filhote.
Ela deu à luz no início de fevereiro deste ano no Bioparc, um zoológico da cidade de Valência, na Espanha.
Tudo parecia estar indo bem — mas 14 dias após o parto, literalmente da noite para o dia, o filhote "ficou debilitado muito rápido, e morreu".
"Não sabemos a causa exata, mas parece que a mãe não estava produzindo leite suficiente", explica o diretor do Bioparc, Miguel Casares, à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.
Desde a morte da cria, a chimpanzé de 21 anos não quis se separar do corpo do filhote. Ela o carrega consigo há mais de três meses enquanto cumpre sua rotina diária.
"Ela não solta em nenhum momento. É um comportamento já descrito, que pode acontecer ocasionalmente no caso de chimpanzés fêmeas com filhotes que morrem com apenas alguns dias
de vida, em zoológicos e na natureza", afirma Casares, que é veterinário.
Sabe-se que as mães carregam seus filhotes por até quatro meses.
"Nem sempre acontece, mas de vez em quando uma fêmea pode carregar uma cria morta por alguns dias ou, até mesmo, algumas semanas, assim como alguns meses, como neste caso", acrescenta o diretor do Bioparc.
Durante todo esse tempo, os visitantes do zoológico viram a mãe com o filhote no que é considerado um processo de luto. A cena causou reações de todos os tipos.
"Nos primeiros dias, dava para ver claramente que era um filhote, e que estava morto. Todo mundo ficava surpreso... Notamos uma reação de empatia muito, muito forte com a situação. Empatia e respeito", diz Casares.
O corpo do filhote passou por um processo natural de decomposição, e o zoológico se certificou de que isso não resultaria em problemas sanitários, para permitir à chimpanzé uma separação gradual da cria, até que se sinta preparada para tal.
Tirar o filhote da mãe não era uma opção
A chimpanzé já havia perdido um filhote em 2018 — e, naquela ocasião, desapegou dele em poucos dias.
Desta vez, foi diferente. Assim como acontece com outros primatas que vivem em ambientes naturais ou controlados, os chimpanzés do Bioparc de Valência são uma família bastante sociável e unida.
"Nos primeiros dias, eles ficaram muito próximos, se abraçavam. Foi algo bastante impressionante de ver, porque se equiparava com o que poderia acontecer com as pessoas, é uma situação muito próxima para nós", explica Casares.
Depois de um tempo, o restante dos chimpanzés — da subespécie p.t. verus, um dos mais ameaçados do mundo — continuou com sua rotina normal.
Mas Natalia optou por não soltar o corpo do filhote.
Os especialistas do zoológico avaliaram a situação, e decidiram deixar o processo continuar da melhor maneira para ela. Além disso, intervir para retirar o corpo teria implicado em um trabalho complicado — e até arriscado.
"O grupo está sempre junto. Então, se quiséssemos anestesiar a mãe para retirar o filhote, certamente teríamos que anestesiar vários membros da família", explica o diretor do Bioparc.
"E havia outra fêmea, que é irmã dela, que tinha um filhote pequeno. Esta ação colocaria o outro filhote em risco. Nunca pensamos nesta opção."
Para os especialistas, que já presenciaram situações semelhantes, era o melhor caminho a seguir.
'A morte também faz parte da vida'
Hoje a chimpanzé Natalia realiza suas atividades cotidianas com relativa normalidade. Ela não apresentou problemas de saúde, tampouco os demais chimpanzés, por ter o corpo do filhote morto junto a ela durante estes meses.
"Temos monitorado o estado de saúde dos animais adultos, e não observamos nenhum problema. Mas, claro, o filhote passou por uma fase de decomposição. É um processo natural. Mas os chimpanzés têm, felizmente, um sistema imunológico muito forte", explica Casares.
Se necessário, os especialistas do zoológico poderiam intervir, mas priorizaram que a mãe assimilasse a situação de forma natural para seu próprio bem-estar.
Casares destaca que, apesar de estarem em um ambiente controlado, os chimpanzés deste zoológico não são animais domesticados ou de estimação.
O que acontece com eles segue padrões observados em outros ambientes naturais ou controlados.
"Isso também acontece na natureza, não só com os chimpanzés, (o comportamento) também é observado em outros primatas sociáveis, grandes símios, babuínos, elefantes, animais que são sempre muito inteligentes e têm uma relação muito forte entre mãe e filhote, e comportamento familiar bastante complexo", ressalta.
"[No zoológico] não há apenas animais jovens e filhotes fofos brincando. A morte também faz parte da vida e, às vezes, os animais morrem."
Como a cena chama a atenção e pode até impressionar algumas pessoas, principalmente as crianças, membros do zoológico têm estado presentes no local para dar explicações pertinentes sobre o que aconteceu.
"A grande maioria das pessoas a quem eles explicaram (a situação), compreendeu — e demonstrou empatia e respeito por uma mãe que está em processo de luto pela perda de um filho." Fonte: https://g1.globo.com
Leite exagera no marketing e evita assumir erros antes de tragédia no RS
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Governador se desculpa por falas desastradas, mas insiste em defender mudanças que afrouxaram legislação ambiental
O governador Eduardo Leite usa colete da Defesa Civil em balanço dos estragos no Rio Grande do Sul — Foto: Reprodução
A declaração causou espanto no início da semana passada. Em entrevista à rádio BandNews, o governador Eduardo Leite disse que o alto volume de doações ao Rio Grande do Sul poderia prejudicar as vendas do comércio local.
“O reerguimento desse comércio fica dificultado na medida em que você tem uma série de itens que estão vindo de outros lugares”, afirmou.
A frase repercutiu tão mal que o tucano precisou se retratar. Disse que não quis desprezar os donativos nem esnobar a ajuda ao estado.
“Meu mais sincero pedido de desculpas pela confusão que possa ter causado no entendimento de algumas pessoas”, escusou-se.
Sem tirar o colete laranja da Defesa Civil, que passou a vestir até em solenidades no palácio, Leite argumentou que “ninguém está livre de errar”. Pode ser, mas ele parece estar exagerando no marketing — e abusando da boa vontade alheia.
Na segunda-feira, o governador disse ao GLOBO que defende o debate sobre adiar as eleições municipais. Alegou que o clima de campanha poderia dificultar a recuperação dos municípios gaúchos.
Além de criar um precedente perigoso, a ideia significaria premiar maus gestores. Prefeitos que ignoraram as mudanças climáticas e não investiram em prevenção seriam beneficiados com a prorrogação dos mandatos.
Em outra entrevista, Leite admitiu à Folha de S. Paulo que recebeu alertas sobre o aumento no volume de chuvas. Em seguida, alegou que não se mexeu porque “o governo também vive outras pautas e agendas”.
Ao ser cobrado pela nova fala desastrada, o tucano engrenou um discurso contra as fake news e os “recortes para as redes sociais”. “Talvez haja culpa de não ter me expressado bem”, completou, a contragosto.
Na noite de segunda, Leite foi ao Roda Viva com uma ideia fixa: repetir que acredita na ciência e não é um negacionista. Depois de tocar seu realejo, teve que explicar as quase 500 mudanças que afrouxaram a legislação ambiental do estado.
Desta vez, o governador evitou pedir desculpas ou fazer autocrítica. Com ar impassível, não admitiu um único erro no pacote. E também não anunciou um único recuo para proteger os gaúchos de novas enchentes. Fonte: https://oglobo.globo.com
Analfabetismo assombra o Nordeste
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A região com o pior índice de analfabetismo é também aquela que tem ilhas de excelência na educação, enquanto programas para jovens e adultos são incapazes de frear a disparidade
Um dos retratos mais exemplares e perversos do atraso brasileiro, o analfabetismo é daqueles temas que inspiram análises adversativas, em que uma boa notícia é invariavelmente sucedida por um porém. É esse o caso dos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na semana passada, com base no Censo 2022: naquele ano, 93% dos 163 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais estavam alfabetizados – uma taxa de analfabetismo, portanto, de 7%. Algo positivo se comparado ao índice de 2010 (10%) e notável quando se sabe que, em 1940, quando iniciada a série histórica, chegava a inacreditáveis 56%.
Há um porém nos números apresentados. Vem do Nordeste mais da metade dos 11,4 milhões de analfabetos do Brasil, uma região cuja taxa é simplesmente o dobro da média nacional. Ou seja, mais de 14% da população do Nordeste não sabe ler e escrever uma carta simples. Se é verdade que a curva dos números é descendente (19,1% em 2010; 14,2% em 2022), também é verdade que há uma insistente desigualdade no Brasil, assim como uma inconcebível lentidão na redução do analfabetismo entre nordestinos e pessoas mais velhas.
Chega a ser espantoso que, no Brasil, haja 50 municípios com índices de analfabetismo iguais ou superiores a 30%, dos quais 48 – isso mesmo: 48! – estejam no Nordeste. E o mais surpreendente: trata-se da mesma região que se notabilizou por ilhas de excelência na escola pública, atestada por sucessivos testes de avaliação de âmbito nacional e internacional.
São notórios os bons exemplos e resultados educacionais de municípios do Piauí e de Alagoas, e de Estados como Ceará e Pernambuco – além de Sobral, cidade cearense do ministro da Educação, Camilo Santana. Diferentemente do que sugere o senso comum, a educação básica pública brasileira não é exatamente uma terra arrasada. Há experiências bem-sucedidas em alguns sistemas educacionais, entre Estados e municípios País afora, marcados por ensino de qualidade, boa gestão, capacidade de formação de professores e diretores de escolas e, sobretudo, continuidade das boas políticas – condição essencial para resultados positivos de longo prazo.
De novo, porém, estamos diante de uma análise adversativa: todos os Estados nordestinos tiveram melhora significativa, muitos deles em nível mais acelerado do que outras unidades da Federação – é natural ter avanço em ritmo menor quando a curva já se encontra em patamar melhor. Nenhum desses Estados, contudo, superou a marca de 87% na taxa de alfabetizados. Tal disparidade certamente não começou ontem, e sim é fruto de um histórico de atraso e de intermitência de garantia de recursos para a educação, sobretudo a educação básica e gratuita. (Recursos só foram assegurados à educação a partir da Constituição de 1988 e, mais adiante, com a Lei de Diretrizes e Bases, de 1996.) É também um sinal de que programas voltados para a alfabetização de jovens e adultos não tiveram bons resultados em diferentes governos. Em português ainda mais claro: programas do gênero foram varridos para debaixo do tapete ao longo da história brasileira.
O fato é que sucessivos governos fecharam a torneira do analfabetismo focando na universalização do ensino dos mais jovens. Era um imperativo, mas insuficiente. A alfabetização de adultos pouco avançou no País – tanto que o índice nacional é menor entre a população de 15 a 19 anos (1,5%) e maior entre pessoas acima de 65 anos (20,3%). As faixas etárias mais altas, em síntese, não tiveram acesso à expansão educacional que aconteceu no Brasil a partir do início da década de 1990. As consequências são conhecidas, isto é, pessoas que se inserem no mercado de trabalho em profissões que exigem baixa qualidade. Com isso, a elas não é garantida a expectativa do chamado “bônus educacional” na renda ao eventualmente voltarem para a escola. No caso nordestino, não seria exagero dizer que, na prática, a redução do analfabetismo é favorecida na medida em que as pessoas analfabetas com mais idade vão morrendo.
É um dado sombrio de um país que prometeu erradicar o analfabetismo até este ano. Fonte: https://www.estadao.com.br
Adolescente mata os pais e a irmã em SP por ficar sem computador e celular
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Adolescente mata os pais e a irmã em SP por ficar sem computador e celular
Segundo a polícia, ele usou a arma do pai, que era guarda municipal, e ficou em casa com os corpos no final de semana
Policiais militares e agentes da GCM em rua onde os crimes aconteceram, na zona oeste de SP - Reprodução/TV Globo
SÃO PAULO
Um adolescente de 16 anos matou a tiros os pais adotivos e a irmã depois de uma discussão em família. Ele teria ficado com raiva porque os pais tiraram seu computador e celular. O crime aconteceu na Vila Jaguara, na zona oeste de São Paulo, na sexta-feira (17), mas só foi descoberto na noite de domingo (19), quando o jovem ligou para a polícia e contou o que havia acontecido.
Segundo o boletim de ocorrência, o adolescente relatou que sempre teve desentendimentos com os pais adotivos. Na quinta-feira (16), houve uma nova discussão e, de acordo com o depoimento do jovem, os pais o chamaram de vagabundo e tiraram o celular dele, o que o impediu de fazer uma apresentação da escola. Por isso, planejou as mortes.
O jovem sabia onde o pai —um guarda civil de 57 anos que trabalha no interior de São Paulo— guardava a arma. Ele a pegou e fez um teste atirando na cama dos pais, enquanto estava sozinho em casa, na sexta-feira.
Ainda de acordo com o registro policial, por volta das 13h30, o pai chegou em casa depois de buscar a filha de 16 anos na escola. O jovem, então, o baleou pelas costas na cozinha. Em seguida, foi ao andar superior da casa e atirou na irmã.
O adolescente, em seu relato à polícia, afirma que ainda voltou para a cozinha e almoçou. Na sequência, foi para a academia e retornou para casa para aguardar a chegada da mãe.
O adolescente conta que, por volta das 19h, abriu o portão para a mãe e atirou nela.
Ao longo do final de semana, o adolescente manteve a rotina, saindo para ir à academia e à padaria para comprar comida.
Na noite de domingo (19), o filho ligou para a polícia para comunicar os crimes. O adolescente afirmou que já tinha pensado em matar os pais em outras ocasiões, mas não chegou a elaborar o plano, e que teve de matar a irmã porque ela estava no local.
Segundo o boletim de ocorrência, o adolescente afirmou que não se arrependeu dos crimes.
De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), o caso foi registrado no 33º DP (Pirituba) como ato infracional de homicídio e feminicídio; ato infracional de posse ou porte ilegal de arma de fogo e ato infracional de vilipêndio a cadáver.
O adolescente foi apreendido e encaminhado para a Fundação Casa. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Ônibus são incendiados na região central de Porto Alegre
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PORTO ALEGRE e RIO DE JANEIRO
Dois ônibus foram incendiados em um protesto na noite deste domingo (19) em Porto Alegre, que ainda convive com impactos das enchentes que assolam o estado do Rio Grande do Sul desde o início do mês. As chamas já foram contidas e não há informações sobre vítimas.
"Informações preliminares apontam que aproximadamente 50 pessoas bloquearam a via e lançaram um artefato incendiário, possivelmente um coquetel molotov, com o intuito de inflamar dois ônibus", disse a Secretaria de Segurança Pública.
A ocorrência não tem relação com as cheias da cidade. Trata-se de uma revolta de um grupo diante da morte de Vladimir Abreu de Oliveira, morador do bairro Azenha, onde o protesto aconteceu.
Segundo uma familiar do morto, que não quis se identificar, Oliveira era usuário de drogas, mas não estava envolvido com o tráfico.
O corpo de Oliveira ficou desaparecido por 48 horas, de acordo com a família. A parente afirma que ele foi vítima de violência policial e que o cadáver foi lançado nas águas da enchente.
Procurada pela Folha para comentar as acusações, a secretaria não respondeu até a publicação da reportagem.
O protesto ocorreu na esquina das avenidas Princesa Isabel e João Pessoa, em frente a um conjunto habitacional chamado Residencial Princesa Isabel. Segundo a Rádio Gaúcha, os primeiros policiais a chegarem ao local foram atacados com pedras.
"As chamas foram contidas pelo Corpo de Bombeiros, enquanto a Brigada Militar assumiu a responsabilidade pela segurança da região", continua a nota da secretaria. "A ocorrência ainda está em andamento e a Brigada Militar está coordenando esforços para garantir a integridade e ordem no local." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
ARQUIDIOCESE DE PORTO ALEGRE (RS) MANTÉM PRESENÇA COM AJUDA MATERIAL E ESPIRITUAL EM REALIDADES DE SOFRIMENTO
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A paróquia São Jorge, localizada na zona leste de Porto Alegre, disponibilizou o salão paroquial para abrigo de pacientes oncológicos atingidos pelas enchentes do Rio Grande do Sul, em parceria com diversas entidades que trabalham pelo bem do próximo.
São 60 vagas para pessoas de todo o estado que estão enfrentando, além das enchentes, uma das doenças mais temidas: o câncer. A necessidade de um lugar especial para atender pacientes oncológicos surgiu ao mesmo tempo em que segmentavam abrigos para mulheres e crianças, e foi prontamente acolhida pelo padre Sérgio Belmonte, pároco da Igreja São Jorge, e pela comunidade, que já se voluntariou para atendimento no abrigo.
Nesta segunda-feira, 13 de maio, o Mensageiro da Caridade levou dois carregamentos de donativos para as comunidades da Vila Maria da Conceição e para a Vila Cruzeiro do Sul. Na Maria da Conceição, água, alimentos e ração animal foram entregues na Pequena Casa da Criança.
Um grupo de jovens da comunidade, que foram alunos das oficinas e escola da Pequena Casa, coordenado pelo jovem Bruno Silva, criou uma central de apoio à comunidade e auxílio aos idosos flagelados.
Segundo a assistente social do Mensageiro da Caridade, Marta Bangel, foram destinados para essa unidade cestas básicas, água, produtos de limpeza e roupas. “Esses itens são fundamentais para o atendimento das situações de emergência”.
Na comunidade da Vila Cruzeiro, as doações foram destinadas ao Centro Social Madre Madalena. Essa unidade do Mensageiro da Caridade atende adolescentes e idosos em Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Foram destinadas à comunidade água e alimentos.
A coordenadora do Centro Social, Lucianna Tortorelli, afirmou que muitas famílias não têm água para beber ou preparar alimentos. “Apesar de muita chuva, a água tornou-se um item essencial, principalmente para as famílias que têm crianças e adolescentes em suas casas”. Também foram entregues água e alimentos no Centro Social padre Irineu Brand, na Vila Maria da Conceição, para auxiliar as famílias das crianças atendidas no Centro Social.
O bispo auxiliar da arquidiocese de Porto Alegre, dom Juarez Albino Destro, bispo referencial para o Vicariato de Canoas, visitou comunidades no município. Com o auxílio de um barco, esteve no bairro Rio Branco, onde está localizada a paróquia Imaculada Conceição. Dom Juarez foi recebido pelo vigário, padre Rodrigo Rubi.
O sacerdote recorda que a paróquia chegou a ser um local de abrigo até que as águas avançaram. “A paróquia foi o ponto de resgate para mais ou menos umas mil e duzentas pessoas que começaram a vir até a igreja para encontrarem o resgate de barco”, disse o vigário local. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Sobe para 151 o número de mortos por conta das enchentes no RS
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Mais de duas milhões de pessoas foram afetadas pela catástrofe ambiental
Subiu para 151o número de mortes causadas pelas enchentes que há pelo menos duas semanas afetam todo o Rio Grande do Sul, conforme o balanço divulgado pela Defesa Civil do Estado, na manhã desta quinta-feira. São dois óbitos a mais do que na última atualização, feita no dia de ontem.
O boletim também pelo menos 104 pessoas seguem desaparecidas. Além disso, mais de 2 milhões de pessoas foram diretamente afetadas e 538.134 delas ainda estão desalojadas.
Confira os números completos abaixo:
Municípios afetados: 458
Pessoas em abrigos: : 77.199
Desalojados: 538.164
(Displaced population)
Afetados: 2.281.774
Feridos: 806
Desaparecidos: 104
Óbitos confirmados: 151
Pessoas resgatadas: 76.620
Animais resgatados: 11.932
Efetivo: 27.651
Viaturas: 4.405
Aeronaves: 45
Embarcações: 340
Os mercadores do caos
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Bolsonaristas andam espalhando desinformação em meio à tragédia no RS porque, inimigos da democracia que são, a eles interessa minar a capacidade dos cidadãos de confiar uns nos outros
O bolsonarismo não é uma força política normal. É uma força destrutiva, que só é capaz de prosperar num ambiente de conflagração permanente, desconfiança entre os cidadãos – e entre estes e as instituições – e negação da política como meio de concertação civilizada entre interesses sociais divergentes. Ter esse diagnóstico claro de antemão é fundamental para compreender como e por que bolsonaristas de quatro costados têm agido como mercadores do caos espalhando desinformação em meio à tragédia climática que arrasou o Rio Grande do Sul. Há uma agenda em jogo. E ela não poderia estar mais distante dos interesses nacionais, que dirá dos imperativos morais e humanitários que devem orientar a ação de governos e da sociedade neste momento de amparo aos gaúchos.
A difusão de mentiras e/ou distorções da realidade de forma coordenada entre os bolsonaristas, tal como ocorreu durante a pandemia, não provoca danos na escala dos causados pelas chuvas torrenciais no Estado, mas gera um efeito igualmente devastador: mina o esforço nacional para fazer chegar ajuda vital aos nossos concidadãos gaúchos. “A desinformação é o que mais tem prejudicado o nosso trabalho”, disse ao Estadão o comandante do Exército, general Tomás Paiva. “Ela impede a sinergia entre órgãos governamentais, que é fundamental para ações que são imprescindíveis nesse momento”, lamentou o militar, com toda razão.
A fim de enfraquecer a democracia que tanto desprezam – é disso que se trata –, figuras como os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Gustavo Gayer (PL-GO), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG), Gilvan da Federal (PL-ES), General Girão (PL-RN) e Caroline de Toni (PL-SC), entre outros congressistas – além do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL) –, agem de forma livre e consciente para destruir os laços de solidariedade entre os brasileiros. As mentiras que disseminam da tribuna da Câmara e por meio das redes sociais, a pretexto de criticar supostas omissões do governo federal no enfrentamento da crise, não têm outro objetivo senão o de abalar a capacidade das pessoas de confiarem umas nas outras.
Esse imoral ataque à “verdade dos fatos”, na expressão consagrada por Hannah Arendt, tem como finalidade a instalação de um clima de confusão generalizada no País que seja tóxico o bastante a ponto de, no limite, fazer a democracia soçobrar diante da falta de seu insumo básico: a confiança entre as pessoas, sem a qual não é possível estabelecer consensos mínimos, principalmente o reconhecimento de que adversários políticos, ora vejam, também possuem uma dimensão humana e têm legitimidade para tomar parte no debate público. Sob esse consenso devem permanecer todas as eventuais divergências político-ideológicas que possa haver entre os cidadãos.
Ironicamente, foi esse pacto civilizatório que levou quase toda a chamada classe política a interromper a campanha eleitoral de 2018 a partir do dia 6 de setembro daquele ano, quando o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro sofreu um atentado a faca. Ali ficou claro que a política não é um vale-tudo. Mas, ao que parece, os bolsonaristas ignoraram a lição, pois agora não emitem o mais tênue sinal de constrangimento ao explorar o terrível drama dos gaúchos para auferir, eles mesmos, ganhos político-eleitorais.
Os bolsonaristas têm o direito de criticar o governo federal. Como oposição, estranho seria se não o fizessem. Os bolsonaristas têm até o direito de serem injustos com o presidente Lula da Silva, afirmando que o petista nada tem feito para aliviar o sofrimento dos gaúchos – o que não é verdade. Mas não é de críticas que se está tratando. É de uma desumanização que extrapola as lides políticas entre “direita” e “esquerda”, “conservadores” e “progressistas”. E esse processo há de ser interrompido, a bem do País, não só do Rio Grande do Sul, com mais informações de qualidade e, principalmente, com os genuínos democratas se unindo em defesa da boa política como a expressão mais iluminada da democracia. Fonte: https://www.estadao.com.br
Aumenta para 148 o número de mortos na tragédia no Rio Grande do Sul.
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Segundo a Defesa Civil, 124 pessoas seguem desaparecidas no estado
SÃO PAULO
As fortes chuvas do Rio Grande do Sul causaram ao menos 148 mortes, de acordo com boletim divulgado ao meio-dia desta terça-feira (14). O número pode aumentar nos próximos dias, já que ainda há 124 desaparecidos, segundo a Defesa Civil gaúcha.
As mortes ocorrem em 44 cidades, conforme a Defesa Civil, e há 806 feridos.
No total, 446 municípios foram afetados, sendo que 76.884 pessoas estão desabrigadas e 538.545 ficaram desalojadas.
Quinze dias após o início da tragédia, 267.590 endereços continuam com o fornecimento de energia elétrica interrompido. Outras 159.424 unidades estão sem abastecimento de água. As informações são do governo do estado e constam em boletim divulgado às 9h desta terça.
Segundo a CEEE Equatorial, 128.690 pontos estão sem energia. O que representa 7,1% do seu total de clientes. A RGE Sul, por sua vez, afirmou que 138.900 endereços seguem sem eletricidade. O número representa 4,5% dos clientes da companhia. Na soma, 267.590 estão sem energia no Rio Grande do Sul.
De acordo com a Corsan, 159.424 endereços estão com o abastecimento de água interrompido.
Cinco municípios estão sem serviços de telefonia e internet da Vivo. Uma cidade está sem os serviços da Tim.
Ainda segundo o boletim do governo, 76.884 pessoas estão em abrigos e 538.545 estão desalojadas.
As aulas foram suspensas nas 2.338 escolas da rede estadual e mais de 362 mil alunos foram impactados. Nesta terça, são 1.044 escolas afetadas, 538 danificadas e 83 servindo de abrigo.
A tragédia tem sido comparada ao furacão Katrina, que em 2005 destruiu a região metropolitana de Nova Orleans, na Lousiana (EUA), atingiu outros quatro estados norte-americanos e causou mais de mil mortes.
Profissionais de saúde apontam semelhanças entre as duas tragédias, como falta de prevenção de desastres naturais e inexistência de uma coordenação centralizada de decisões. Colapso nos hospitais, dificuldade de equipes de saúde chegarem aos locais de trabalho e desabastecimento de medicamentos e outros insumos são outras semelhanças apontadas.
SITUAÇÃO NO RS APÓS AS CHUVAS
148 mortes
124 desaparecidos
806 feridos
76.884 desabrigados (quem teve a casa destruída e precisa de abrigo do poder público)
538.545 desalojados (quem teve que deixar sua casa, temporária ou definitivamente, e não precisa necessariamente de um abrigo público –pode ter ido para casa de parentes, por exemplo)
2.124.203 pessoas afetadas no estado
O nível do lago Guaíba em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, subiu 0,42 m em 24 horas e atingiu 5,20 m às 07h15 desta terça-feira (14). O nível do lago estava em 4,78 metros às 7h30 da segunda-feira (13).
A cidade de Porto Alegre viu nesta segunda uma corrida contra o tempo para erguer barreiras contra a água e resgatar moradores que ainda estão em áreas de risco.
Tudo isso porque as chuvas que atingem a capital gaúcha desde o fim de semana tem feito o nível do lago Guaíba voltar a subir, o que pode fazer as inundações chegarem a regiões que não foram alagadas.
A previsão é que o Guaíba chegue a 5,40 m nesta terça, maior nível já registrado —o recorde é de 5,33 m, do último dia 6, segundo o IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Na noite de sábado, o lago estava com 4,56 m, mas desde então tem subido de maneira constante devido à chuva em todo o estado. Às 21h15 desta segunda, o nível estava em 5,11 m.
O nível de alerta do lago é 2,5 m. A inundação ocorre quando o nível chega a 3 m. Os dados são do Sistema Hidro, da ANA (Agência Nacional de Águas), do governo federal.
A previsão é que as chuvas comecem a diminuir a partir desta terça-feira, de acordo com a Climatempo —porém, devem retornar na sexta (17), e prosseguir pelo fim de semana.
SAIBA A DIFERENÇA DOS TERMOS
Afetado: Qualquer pessoa que tenha sido atingida ou prejudicada por um desastre, como feridos, desalojados, desabrigados e pessoas que perderam sua fonte de renda
Desalojado: Pessoa que foi obrigada a abandonar temporária ou definitivamente sua habitação, em função de evacuações preventivas, destruição ou avaria grave, decorrentes do desastre, e que, não necessariamente, carece de abrigo provido pelo sistema
Desabrigado: Desalojado ou pessoa cuja habitação foi afetada por dano ou ameaça de dano e que necessita de abrigo provido pelo Estado
Fonte: Glossário de Defesa Civil Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Médico sai do ES para ajudar vítimas da chuva e é encontrado morto em abrigo no RS
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Uma das suspeitas é a de que Leandro Medice, de 41 anos, tenha sofrido um mal súbito. "Foi para ajudar as pessoas e aconteceu essa tragédia", disse o marido. Ele estava com outros médicos em São Leopoldo.
Médico capixaba Leandro Medice morreu no Rio Grande do Sul, durante viagem para atendimento a vítimas da chuva — Foto: Redes sociais
Por Juirana Nobres,g1 ES
Médico capixaba morre no RS, durante viagem para atendimento a vítimas da chuva
O médico cardiologista Leandro Medice, de 41 anos, foi encontrado morto em um abrigo de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, na manhã desta segunda-feira (13). Uma das suspeitas é a de que ele tenha sofrido um mal súbito. Medice morava em Vila Velha, na Grande Vitória, e estava no Sul do país como voluntário para ajudar as vítimas da chuva.
O marido de Leandro Medice, o acupunturista João Paulo Martins, disse ao g1 que o companheiro não tinha histórico de doenças.
"Ele era muito saudável, sempre cuidou da saúde. Nunca teve histórico nenhum de problemas. Eu ainda não consigo acreditar no que aconteceu. Quando me contaram, pensei que fosse brincadeira. Ele foi para ajudar as pessoas e aconteceu essa tragédia", contou João Paulo.
Segundo o marido, Leandro Medice trabalhou a semana inteira com cirurgias na empresa de estética capilar que tinham juntos, na Praia da Costa, em Vila Velha. Organizou a viagem ao Rio Grande do Sul com um grupo de amigos, também médicos.
"O voo para o Sul estava marcado para às 3h de domingo (12). A intenção era chegar pela manhã e voltar para Vitória na segunda-feira (13) à noite. Ele tinha uma agenda para cumprir na clínica no dia seguinte", explicou o marido.
Leandro contou ainda que, no domingo (12), o médico trabalhou o dia inteiro aferindo pressão e fazendo os primeiros atendimentos básicos para as vítimas da chuva na região.
Ajuda às vítimas
Leandro viajou com outros três médicos para dedicar o tempo e conhecimento às vítimas da chuva no Sul do Rio Grande do Sul. Eles saíram às 3h em um jato particular. O médico fez vídeos falando da ansiedade em chegar ao destino para ajudar.
Médico capixaba morre no RS, durante viagem para atendimento a vítimas da chuva
Por telefone, ele contou ao marido, ainda na noite de domingo, após um dia inteiro de trabalhos, que foi recebido com muito carinho no abrigo. Disse que trabalhou o dia inteiro e que ia dormir para estar pronto para trabalhar nesta segunda-feira.
"Leandro roncava um pouco e, por isso, preferiu dormir mais afastado dos amigos. Me contou que era tudo muito organizado, que conseguiram um colchão muito limpo e que já estava com saudade de mim. Estávamos juntos há seis anos e disse que não lembrava qual tinha sido a última vez que tinha viajado sozinho", contou muito emocionado.
O marido contou ainda que, ao amanhecer, o médico não apareceu no ponto de encontro no horário combinado. "Ele sempre foi muito pontual. As amigas foram até ele e já o encontraram morto", relatou aos prantos.
"Antes de dormir, mostrou o vídeo do nosso casamento às amigas que viajaram com ele e contou como tudo tinha sido maravilhoso. Esse foi o último assunto da noite, segundo as próprias médicas", contou João Paulo.
A primeira formação de Leandro Medice era fisioterapeuta. Em seguida, se formou em Odontologia, fez Medicina e se especialização em Cardiologia, trabalhou como médico intensivista e também se dedicou ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Nos últimos anos, se dedicou na especialidade de estética capilar. Fonte: https://g1.globo.com
Vítimas das chuvas, mãe e filhos precisam tomar remédio controlado e lidar com traumas no RS
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Casos de estresse pós-traumático são diagnosticados em meio à maior tragédia climática do Estado
Jessica com os filhos Maria Eduarda e Henrique em abrigo na Paróquia São Martinho, em Porto Alegre Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
Por Paula Ferreira
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE - “Aqui não vai alagar, se Deus quiser!” A exclamação de Maria Eduarda Garcia, de 6 anos, é uma amostra da herança deixada pelas chuvas às mães atingidas pela tragédia: o trauma gerado em milhares de crianças resgatadas das águas que inundaram o Rio Grande do Sul. Na manhã deste domingo, 12, Maria Eduarda dormia nos braços da mãe, Jessica Garcia, de 33 anos, em um abrigo específico para mulheres em Porto Alegre, antes da conversa com a reportagem do Estadão.
Desde a semana passada, quando precisaram pular do segundo andar da casa em um bote de resgate, Jessica e os dois filhos, Maria Eduarda e Henrique, de 12 anos, precisam tomar remédio para dormir. A medicação foi receitada por psiquiatras do abrigo onde estavam, que diagnosticou o estado de estresse pós-traumático em toda família.
“Deram remédio, porque a sensação é que tu fecha o olho e parece que aquela água está vindo para cima de ti, que você vai morrer afogada”, narrou Jessica.
A família morava na Vila dos Farrapos, em Porto Alegre, e perdeu tudo, inclusive a gata de estimação. Mia morreu afogada, o que, segundo Jessica, abalou ainda mais os filhos. No colo da mãe, usando um vestido de princesa, Maria Eduarda observa atenta a conversa sobre o dia que marcou de tristeza sua memória. Ao lado dela, Henrique, com a perna engessada, fruto de uma queda no abrigo em que estavam anteriormente, abraça a mãe.
“A minha filha teve crise epilética e de choro. Ela está bem depressiva”, lamenta.Jessica decidiu mudar de um abrigo misto para um específico para mulheres e crianças após ouvir histórias sobre estupros e violência nesses locais. A prefeitura criou os abrigos femininos após a prisão de seis pessoas suspeitas de cometerem crimes sexuais nesses locais.
No abrigo da Paróquia São Martinho, as famílias ficam em quartos separados e com banheiro próprio. No local, é permitida a presença de meninos de 12 anos acompanhados das mães. No espaço pequeno, com quatro camas e uma janela com vista para a chuva incessante que cai sobre Porto Alegre, Jessica consegue ter alegria na simples constatação de ter seus filhos perto. “Meu presente é esse aí: estar com eles”, diz emocionada, após contar à reportagem que perdeu tudo.
A manicure conta que a população não foi alertada por autoridades a respeito do risco de inundação. De acordo com ela, não houve sirenes nem avisos para que a população do local deixasse suas casas. Na manhã deste domingo, enquanto o prefeito do município, Sebastião Melo (MDB), visitava o abrigo da Paróquia São Martinho, Jessica não quis nem sair do quarto. Ela conta que o bairro onde mora já vinha sofrendo há algum tempo com as chuvas.
“Já estamos acostumados com a perda, infelizmente. Não é bom acostumar. Primeiro, a água chegou na canela, depois, no joelho, e foi subindo. Assim, a gente sofre com enchente há anos. Todo anos a gente perde alguma coisa”, relata.
Após perder tudo na enchente, Jessica agora precisa lidar com o trauma junto com os seus filhos. Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
A duas portas do quarto de Jessica, a baiana Maria Lídia Oliveira organiza o pequeno espaço que se tornou sua casa e tenta lavar algumas roupas no banheiro. Desempregada, ela se mudou para Porto Alegre há cerca de um ano e recebeu sua filha em casa apenas alguns dias antes da catástrofe. Maria Ísis, de 9 anos, estava com a avó na Bahia até que a mãe conseguisse se estabilizar. O sonho da estabilidade não resistiu às águas do Guaíba, e mãe e filha foram resgatadas por um bote levando consigo apenas a roupa do corpo e a mochila com os materiais escolares da menina, que nem teve a oportunidade de começar a estudar na nova cidade.
Maria conseguiu salvar a família, porque acordou por acaso às 3h da manhã e viu que a água já estava bem alta. Ao seu redor, alguns vizinhos ainda resistiam em deixar suas casa. Ela conta que temeu pela vida da filha e quis sair para garantir que a tragédia não fosse ainda maior. “As pessoas esquecem que o mais precioso é a vida, porque enquanto há vida há esperança”, afirmou.
Ao longo da conversa, a fé de Maria era visível nas palavras. A resignação de quem precisa mais uma vez recomeçar fez com que ela não pensasse duas vezes antes de mudar de abrigo, quando a escola na qual estava alojada começou a desmontar a estrutura. Ainda que para isso tivesse de ficar em um lugar diferente do marido, coisa que tem impedido muitas mulheres de irem para os alojamentos exclusivos, a mulher pegou a mochila da filha e buscou o novo destino. Ao Estadão contou que a filha quer ser médica e, convicta, apesar de todas as dificuldades do caminho, sentenciou: “Não há sonho impossível, se Deus deu poder de a gente sonhar, é porque a gente pode realizar.”
Ao lado da mãe, a serenidade da criança intimida. Na beira da cama, Maria Ísis lia um salmo cujas palavras talvez ainda sejam difíceis demais para sua idade, e a mensagem de gratidão diante das adversidades ainda mais complexa para a compreensão de alguém tão pequena: “Tudo quanto tem fôlego louve ao senhor”. Fonte: https://www.estadao.com.br
Jovem reencontra a mãe e os irmãos após resgate em enchente na Capital
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Isaías conseguiu rever a mãe neste Dia das Mães, depois de quase 9 dias sem notícias da família
Isaías de Brito chorou ao reencontrar a mãe depois de quase 9 dias sem contato.
Vitória Miranda
Neste Dia das Mães, um encontro especial emocionou voluntários e abrigados de um dos 162 abrigos temporários da Capital. Isaías Brito de Lima, de 21 anos, estava há 9 dias sem notícias da família após ter sido resgatado da enchente que tomou a casa onde ele morava, no bairro Humaitá, em Porto Alegre. Isaías, a mãe, o padrasto e os irmãos de 5, 6 e 12 anos pediram socorro no telhado de casa até serem encontrados pelos bombeiros militares. No resgate, porém, eles foram separados. Isaías foi encaminhado para o abrigo temporário na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), na zona sul da Capital, e o restante da família foi levado para um abrigo no CTG Chaleira Preta, em Gravataí.
O jovem chegou no abrigo da AABB no final de semana do dia 4. Desde aquele momento, ficou sem comunicação com a família. Foi então que ele pediu ajuda para a delegada da Polícia Civil, Alice Fernandes, que estava realizando uma visita no abrigo. Segundo Fernandes, a Polícia Civil tem realizado rondas em todos os abrigos para averiguar a situação dos abrigados e tem atendido casos como esse. De acordo com o site da Defesa Civil, já foram 13 reencontros proporcionados pela Polícia Civil até o momento.
“Fiquei agarrada em uma enxada, chorando e pedindo para Deus que não me levasse porque eu tenho meus filhos, tenho filhos pequenos ainda. Tenho o Isaías que mora comigo e meu esposo que depende de mim. Fiquei a noite toda de sábado para domingo na água segurando uma enxada, mas isso me ajudou”, contou Ângela Catarina, 50 anos, sobre os momentos antes do resgate.
O marido de Ângela tem um problema de saúde que afeta as pernas e depende de muletas, o que agravou a preocupação durante o resgate.
O reencontro entre Isaías e a mãe, neste Dia das Mães, foi possível graças a uma pesquisa feita pelos agentes do setor de inteligência do Departamento Estadual de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV), da Polícia Civil, com base nas listas enviadas pelos abrigos. Assim, o sistema da Polícia Civil constatou que um jovem de 21 anos estava em um abrigo na cidade de Porto Alegre, enquanto o restante da família estavam abrigados na cidade de Gravataí.
A família perdeu todos os pertences na enchente. O estabelecimento comercial da mãe e do padrasto, situado no mesmo bairro, também foi completamente alagado. Agora, Ângela Catarina e toda a família vão deixar o abrigo temporário. Eles serão acolhidos na casa do genro, Paulo Antônio Vargas dos Santos, que é representante comercial de calçados e reside no bairro Belém Velho.
Santos relatou que fez uma campanha de arrecadação de roupas para a família de Ângela, com a ajuda de diversos familiares. Segundo o representante comercial, ele mesmo tratou de comprar um colchão e arrecadou doações de roupa de cama e peças de roupas para abrigar as crianças e o casal na casa dele.
“Eu sou forte, tenho que cuidar dos meus filhos. Sempre consegui me levantar e vou conseguir de novo”, relatou Ângela Catarina, que já trabalhou vendendo bala nas ruas para sustentar os filhos e havia construído sua casa e o bar com esforço nos últimos 6 anos.
O abrigo da AABB foi aberto no dia 4 de maio e atualmente tem 91 abrigados, sendo 37 mulheres e 17 crianças, a maioria resgatados do bairro Humaitá. O abrigo temporário foi criado pelo clube privado e possui apoio de voluntários da associação, funcionários e pessoas da comunidade.
No momento, o abrigo está distribuindo excedentes de doações, portanto não há falta de donativos. A AABB também recebe voluntários ou não voluntários da área da saúde, incluindo enfermeiros e psicólogos. “Existe uma equipe de saúde completa de voluntários, médicos, pediatras, psiquiatra, dentista, fisioterapeuta, assistente social, psicóloga, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionista”, afirmou uma das coordenadoras do abrigo. Fonte: https://www.correiodopovo.com.br
Socorro aos gaúchos é o desafio de uma geração
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Não se trata de prestar assistência aos moradores de um bairro ou de uma cidade. É um Estado praticamente inteiro que precisa que o País lhe estenda as mãos para recobrar o prumo
O Brasil está diante de um desafio inaudito em sua história recente: reconstruir uma unidade inteira da Federação, destruída como se tivesse passado por uma guerra. A tragédia climática e humanitária que se abateu sobre o Rio Grande do Sul paralisou a vida de milhões de nossos concidadãos em nada menos que 428 dos 497 municípios gaúchos. Não se trata, portanto, da prestação de socorro pontual aos moradores de um determinado bairro, região ou mesmo de uma cidade, o que já seria delicado. É um Estado, com seus cerca de 11 milhões de habitantes, que agora depende que o País lhe estenda as mãos para recobrar o prumo.
É fundamental que a sociedade tenha a exata compreensão da faina sem precedentes que se avizinha. Será o desafio de uma geração – não de gaúchos, mas de brasileiros.
Embora ainda não sejam plenamente conhecidos, os sacrifícios e as escolhas que precisarão ser feitos para o sucesso do apoio material de que os gaúchos necessitam não serão triviais. O governo federal, por exemplo, anunciou há poucos dias um pacote de medidas de socorro ao Rio Grande do Sul no valor de R$ 50,9 bilhões. Numa primeira estimativa, o governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), calculou que R$ 19 bilhões serão necessários para bancar a reconstrução. Por sua vez, especialistas ouvidos pelo Estadão estimam que os trabalhos não custarão menos que R$ 90 bilhões.
Essa expressiva disparidade entre os números retrata muito bem o ineditismo de uma adversidade dessa dimensão. Hoje, com muitas cidades gaúchas ainda debaixo d’água, não é possível nem sequer identificar todos os danos causados pelas enchentes, que dirá quantificar prejuízos e estimar investimentos necessários para que os cidadãos afetados possam voltar a viver, no mínimo, em condições próximas das que viviam antes que a primeira gota de chuva virasse do avesso a realidade conhecida por eles até então. Tamanha incerteza deve ensejar um preparo para que a gravidade do problema seja ainda maior do que agora está circunscrito apenas à imaginação.
Para começar, não se pode perder de vista que se está tratando da reconstrução de um Estado que representa, sozinho, cerca de 6% do PIB nacional, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Portanto, quanto mais coesa for a aliança pela recuperação do Rio Grande do Sul, mais rápida ela será e, consequentemente, menor será o baque econômico para o Brasil como um todo.
O Estado é um dos mais importantes produtores agropecuários do País, contribuindo muitíssimo para o sucesso do segmento mais pujante da economia brasileira. Ajudar o Rio Grande do Sul, que já seria um imperativo moral, ainda se desvela como uma ação estratégica para o Brasil.
Guardadas as devidas proporções, os desdobramentos das enchentes no Rio Grande do Sul representarão para o Brasil, por muitos anos à frente, o que o furacão Katrina representou não só para a Louisiana, mas para todos os Estados Unidos. Até hoje, passados quase 20 anos, os americanos ainda lidam com consequências da tragédia que devastou Nova Orleans e outras cidades de pelo menos três Estados (Louisiana, Alabama e Mississippi).
Muitos americanos que se veem até hoje desabrigados ou desalojados, a ponto de compor uma rota de êxodo interno incessante pelos Estados Unidos, ainda estão tentando reconstruir suas vidas. Não é improvável que no Rio Grande do Sul um fenômeno semelhante venha a ser observado.
A sociedade precisa ter consciência de que anos muito difíceis virão. Reerguer o Rio Grande do Sul e amparar seu povo não será a missão principal e exclusiva dos atuais governos estadual e federal, mas dos próximos dois ou três. Essa perspectiva, antes de assustar, deve servir de estímulo para que a coragem, a tenacidade e a união do País floresçam nesta hora grave. Há motivos para acreditar nisso.
Quando o resgate de um simples cavalo captura os corações e mentes dos brasileiros, tem-se a esperança de que a recuperação do Rio Grande do Sul, que certamente será custosa, lenta e muito trabalhosa, ao fim será bem-sucedida. Fonte: https://www.estadao.com.br
Aumenta para 126 o número de mortes provocadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul
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Mais de 330 mil pessoas estão desalojadas.
Foto: Marinha do Brasil
Por Redação O Sul | 10 de maio de 2024
Aumentou para 126 o número de mortes provocadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, de acordo com balanço divulgado na noite desta sexta-feira (10) pela Defesa Civil Estadual.
Pelo menos 141 pessoas estão desaparecidas e 756 ficaram feridas. Mais de 400 mil encontram-se desalojadas ou desabrigadas.
No total, 441 municípios do Estado registraram danos em razão dos temporais dos últimos dias. Conforme o boletim da Defesa Civil, mais de 1,95 milhão de pessoas foram afetadas pelas cheias que assolam o RS.
Municípios afetados: 441
Pessoas em abrigos: 71.409
Desalojados: 339.928
Afetados: 1.951.402
Feridos: 756
Desaparecidos: 141
Óbitos confirmados: 126
Pessoas resgatadas: 70.863
Animais resgatados: 9.984
Efetivo: 27.218
Viaturas: 3.466
Aeronaves: 41
Embarcações: 340
Rios às 17h
Lago Guaíba – Porto Alegre – 4,71 metros
Rio dos Sinos – São Leopoldo – 5,98 metros
Rio Gravataí – Passo das Canoas – 5,85 metros
Rio Taquari – Muçum – 4,84 metros
Rio Caí – Feliz – 3,39 metros
Rio Uruguai – Uruguaiana – 11,92 metros (nível de inundação 8,50)
Lagoa dos Patos (Laranjal) – 2,48 metros-dados 07h 10/05 (nível de inundação 1,30)
Energia elétrica, água e telefonia
CEEE Equatorial: Não informado;
RGE Sul: 151.700 pontos sem energia elétrica (4,9% do total de clientes);
Corsan: 315.234 clientes sem abastecimento de água (11% do total de clientes);
Tim: 3 municípios sem serviços de telefonia e internet;
Vivo: 20 municípios sem serviços de telefonia e internet;
Claro: serviço normalizado.
Panorama nas escolas estaduais
Dados das escolas afetadas (danificadas, servindo de abrigo, com problemas de transporte, com problema de acesso e outros):
1.024 escolas
242 municípios
29 CREs
354.500 estudantes impactados
526 escolas danificadas com 215.433 estudantes matriculados
84 escolas servindo de abrigo
Retomada das aulas
CREs que já retomaram as aulas: Uruguaiana (10ª); Osório (11ª); Erechim (15ª); Palmeira das Missões (20ª); Três Passos (21ª); São Luiz Gonzaga (32ª); São Borja (35ª) e Ijuí (36ª); Caxias do Sul (4ª), Santa Cruz do Sul (6ª), Passo Fundo (7ª), Santa Maria (8ª), Cruz Alta (9ª), Bagé (13ª), Santo Angelo (14ª), Bento Gonçalves (16ª), Santa Rosa (17ª); Santana do Livramento (19ª); Vacaria (23ª); Soledade (25ª) e Carazinho (39ª).
CREs com aulas suspensas até sexta-feira (10/5): Pelotas (5ª) e Rio Grande (18ª).
CREs sem previsão de retomada: Porto Alegre (1ª ), São Leopoldo (2ª), Estrela (3ª), Guaíba (12ª), Cachoeira do Sul (24ª) e Canoas (27ª) Gravataí (28).
Alertas
Para aumentar o nível de prevenção, as pessoas podem se cadastrar para receberem os alertas meteorológicos da Defesa Civil estadual. Para isso, é necessário enviar o CEP da localidade por SMS para o número 40199. Em seguida, uma confirmação é enviada, tornando o número disponível para receber as informações sempre que elas forem divulgadas.
Também é possível se cadastrar via aplicativo Whatsapp. Para ter acesso ao serviço, é necessário se registrar pelo telefone (61) 2034-4611. Em seguida, é preciso interagir com o robô de atendimento enviando um simples “Oi”. Após a primeira interação, o usuário pode compartilhar sua localização atual ou qualquer outra do seu interesse para, dessa forma, receber as mensagens que serão encaminhadas pela Defesa Civil estadual. Fonte: https://www.osul.com.br
LIÇÕES E SOLIDARIEDADE
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Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
A catástrofe climática no Rio Grande do Sul, assustadoramente triste, tem força de alerta para a sociedade que, mais uma vez, está chocada. Os cenários são impactantes por sua extensão e proporções. As imagens se congelam no horizonte, tal o peso da catástrofe humanitária, motivando solidária reação nacional: um aceno para novas perguntas e oportunidade para nova postura cidadã, que exige um estilo de vida fruto de lições a serem aprendidas e, mais ainda, praticadas.
A solidariedade como mobilização, gerando atitudes de partilhas entre cidadãos, com forte incidência nas responsabilidades da esfera governamental, é a prática que faz sedimentar a aprendizagem destas novas e imprescindíveis lições. Oportuna, pois, é a pergunta sobre o que acontece na Casa Comum. Não é uma simples repetição de interrogações ou narrativas sobre o tema, ou de uma pressuposição que pode levar ao pensamento de que já se sabe o suficiente e, até mesmo, que no âmbito das impostações sobre o meio ambiente, já se esgotou tudo, não sendo mais necessário retornar a estes temas.
Fecundados pela rede de solidariedade é hora de avançar na aprendizagem de lições capazes de amparar o comprometimento cidadão. O que está acontecendo na Casa Comum é uma interrogação com propriedade para alavancar posturas éticas e sustentáveis. É hora de se estabelecer um adequado processo de conscientização, por exemplo, no entendimento sobre o aquecimento global, sua relação com catástrofes ambientais, apontando parâmetros para um novo estilo de vida.
Há de se avançar, ainda mais celeremente, numa crescente sensibilização e conhecimento a respeito das questões ambientais, tratadas conforme os largos e lúcidos parâmetros da ecologia integral. Há de crescer uma sincera sensibilidade sobre a situação do nosso planeta. O passivo das reparações, desenhando cenários de solidariedades, deve instigar o conjunto da sociedade para este compromisso, por meio de legislações e práticas corretivas.
Como afirma o Papa Francisco, no capítulo primeiro de sua Carta Encíclica Laudato Si’: “o objetivo não é recolher informações ou satisfazer a nossa curiosidade, mas tomar dolorosa consciência, ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece no mundo e, assim, reconhecer a contribuição de cada um.” No verso dos cenários catastróficos, há de se reencontrar a lição preciosa pelo reconhecimento da natureza como um livro esplêndido, ensinamento perene de São Francisco de Assis, por meio do qual Deus fala e transmite algo de sua beleza e bondade.
O mundo não é tão somente um problema a resolver, mas uma oportunidade constante de contemplação e de comprometimento com novas ações solidárias assumidas como estilo de vida, proporcionando a urgente conquista de equilíbrio ecológico. A lição da catástrofe do Rio Grande do Sul, sem perder a referência amarga de tantas outras, é um convite urgente a renovar o diálogo, com inteligência e boa vontade para efetivar propostas e compromissos a respeito do modo como se está construindo o futuro do planeta.
A iluminação que vem da solidariedade, da comoção nacional, somada à exigência de comprometida e efetiva ação governamental, célere e menos burocrática, técnica e exemplar, impulsione o debate que diz respeito ao conjunto da sociedade, porque o desafio ambiental e suas raízes humanas afetam a todos. Ainda, lamentavelmente, constata-se desinteresse cidadão pela temática, considerando-a como uma pauta simplesmente de esferas político-partidárias, distanciando o indivíduo comum de sua corresponsabilidade e urgência de fazer sua esta pertinente pauta ambiental.
As catástrofes e tragédias ambientais são um convite, doloroso, sobre o desafio de aprender e exercitar a proteção à Casa Comum, incluindo a busca pelo desenvolvimento sustentável e integral. Volta a ser forte o apelo para que todos se empenhem na colaboração da construção da Casa Comum, inspirados sempre pelo vigor e exemplaridade daqueles que lutam, cotidianamente, para reverter as consequências das dramáticas degradações ambientais, afetados e comprometidos, particularmente com a vida dos mais pobres.
Não se pode pensar o futuro sem enfrentar o sofrimento das pessoas e a atual grave crise do meio ambiente. Não se pode correr o risco de pensar que a pauta ecológica tenha se esgotado para cidadãos comuns e em muitas instâncias e segmentos, especialmente governamentais e educativos. O desinteresse pela pauta da ecologia integral fortalece a recusa dos poderosos na implantação de novas dinâmicas sustentáveis, incidindo sobre legislações e interpretações empobrecidas e incapazes de criar um novo cenário, facilitando possíveis novas tragédias e catástrofes, mesmo aquelas silenciosas, perpetuando cenários vergonhosos de pobreza, fazendo valer a lógica cega e perversa do mercado.
A solidariedade praticada e o exemplo de governanças, para além de interesses político-partidários, é um horizonte que deve impulsionar o interesse de todos por conhecimento técnico e científico, suficientes para fomentar novas posturas. A terra, Casa Comum de todos, tem se transformado em um grande depósito de lixo. Paisagens maravilhosas de outrora são cenários de degradações, que têm produzido efeitos irreversíveis na saúde das pessoas.
É urgente socializar o conhecimento sobre o funcionamento dos ecossistemas naturais, como caminho educativo na superação da biodegradação. Também, aprender e assumir posturas adequadas a respeito do clima como bem comum, essencial à vida humana. A prática da solidariedade na consideração de emergências e urgências, seja agora a convicção de um novo estilo de vida, como combate ao aquecimento climático. A dolorosa catástrofe no Rio Grande do Sul, assim como outras tragédias da história recente, a exemplo de Brumadinho e Mariana, fecundem pela solidariedade a aprendizagem de novas lições e práticas no horizonte do desenvolvimento integral e sustentável. Fonte: https://www.cnbb.org.br
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