DIA MUNDIAL DOS AVÓS E DOS IDOSOS-2022
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Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
“Dão fruto mesmo na velhice” (Sl 92,15)
Neste domingo, dia 24, a Igreja celebra o Dia Mundial dos Avós e dos idosos. Essa comemoração, instituída pelo Francisco para celebrar os avós e idosos no mês em que a Igreja faz memória de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora e avôs de Jesus, tem o sentido de expressar a atenção, o respeito e o cuidado com aqueles que nos apresentam um caminho de vida cheio de sabedoria.
Desde o ano passado, por decisão do Papa Francisco, é celebrado no último domingo de julho, o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.
O Papa Francisco sempre falou de que é necessário olhar para os idosos com respeito, vendo-os como benção e não como peças a serem descartadas. Na mensagem para esse ano o Papa coloca o acento sobre a velhice. A primeira afirmação do Papa chama a atenção de que a mensagem bíblica, expressa no título de sua mensagem “vai contracorrente relativamente àquilo que o mundo pensa desta idade da vida e também ao comportamento resignado de alguns de nós, idosos, que caminhamos com pouca esperança e sem nada mais esperar do futuro”. O Papa reconhece: “Muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contato”. É uma estação da vida difícil de entender, afirma o Papa. Mas, é preciso não só olhar para o que o mundo apresenta – “planos de assistência”, mas também “projetos de existência”. E é sempre a Palavra de Deus a nos iluminar nesse caminho, um caminho que vê a velhice “não como uma condenação, mas uma bênção”.
O Papa aponta para uma vivência espiritual de uma “velhice ativa”: “cultivando a nossa vida interior através da leitura assídua da Palavra de Deus, da oração diária, do recurso habitual aos Sacramentos e da participação na Liturgia. E, a par da relação com Deus, cultivemos as relações com os outros: antes de mais nada, com a família, os filhos, os netos, a quem havemos de oferecer o nosso afeto cheio de solicitude; bem como as pessoas pobres e atribuladas, das quais nos façamos próximo com a ajuda concreta e a oração”. Os idosos não devem ser considerados inúteis, pelo contrário, fazem parte de “uma estação que continua a dar fruto”. E fruto que contribui para a revolução da ternura, uma necessidade do tempo de hoje: “Neste nosso mundo, queridas avós e queridos avôs, queridas idosas e queridos idosos, estamos chamados a ser artífices da revolução da ternura! Façamo-lo aprendendo a usar cada vez mais e melhor o instrumento mais precioso e apropriado que temos para a nossa idade: a oração. Tornemo-nos, também nós, um pouco poetas da oração: adquiramos o gosto de procurar palavras que nos são próprias, voltando a apoderar-nos daquelas que a Palavra de Deus nos ensina”.
Eis o expresso desejo do Papa para celebrar esse dia: “o Dia Mundial dos Avós e Idosos é uma oportunidade para dizer mais uma vez, com alegria, que a Igreja quer fazer festa juntamente com aqueles que o Senhor – como diz a Bíblia – ‘saciou com longos dias’ (Sl 91,16). Celebremo-la juntos! Convido-vos a anunciar este Dia nas vossas paróquias e comunidades, a visitar os idosos mais abandonados, em casa ou nas residências onde estão hospedados. Procuremos que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e dum primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo!”.
Rezemos neste domingo por todos os avós e idosos. Aprendamos deles a sabedoria da vida e os honremos dignamente. Fonte: https://www.cnbb.org.br
As dores da mulher refugiada
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Olhar com atenção para essas mulheres é uma missão necessária e implementar políticas de acolhimento a elas, uma obrigação.
Andrea Freire, O Estado de S.Paulo
Uma simples lembrança referente à sua tortuosa jornada do Sudão do Sul a Uganda faz Dominica, 30 anos, ir ao choro. Quanto mais ela se recorda dos desafios e das mazelas da guerra em seu país de origem e dos desafios que agora enfrenta como refugiada, mais as suas lágrimas proliferam, em abundância.
Dominica tinha apenas 25 anos quando fugiu da nação mais jovem do mundo, em 2016, buscando segurança e oportunidades econômicas para si e seus quatro filhos, com idades não superiores a cinco anos. Como muitas outras mães solteiras refugiadas, Dominica deixou sua terra natal na esteira da agitação política que levou o Sudão do Sul a uma extensa guerra com seu vizinho Sudão.
A história de Dominica é somente uma entre milhões que existem no mundo todo de mulheres refugiadas que se veem sem escapatória quando guerras e outras tragédias – naturais ou humanas – atingem seus países. O que aconteceu no Sudão do Sul foi visto na Síria, observado no Iêmen e, agora, é testemunhado quase em tempo real na Ucrânia. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), já são 14 milhões de ucranianos que precisaram deixar sua casa em razão do conflito que se instalou no país – o segundo maior da Europa em extensão territorial.
O problema das guerras atinge, claro, todos os que nelas estão envolvidos, independentemente de sexo, religião, classe econômica ou faixa etária. Você pode imaginar que estar próximo de um hospital infantil lhe trará mais segurança, mas vimos na guerra na Ucrânia que não é bem assim; crianças também são vítimas de bombardeios. Ser um bilionário pode gerar um sentimento de conforto e proteção, mas em poucos dias seus bens podem ser congelados e tudo o que você tinha pode virar pó.
Mas, ainda que guerras façam todos sofrer, há aqueles que sofrem mais. Entre estes estão as mulheres. Segundo a ONU, dos cerca de 19,6 milhões de refugiados e 244 milhões de migrantes que existem no mundo, quase metade é mulher.
Em algumas sociedades, mulheres e meninas enfrentam discriminação e violência todos os dias, simplesmente por causa de seu gênero. Atividades comuns como passear na rua, coletar água ou voltar da escola podem colocá-las em risco de estupro ou abuso, o que apenas se intensifica durante conflitos e tragédias.
Dados da Fundação Observatório de Pesquisa (FOP), um think tank global com sede na Índia, mostram que na guerra entre Bangladesh e Paquistão, por exemplo, de 200 mil a 400 mil mulheres foram sistematicamente abusadas sexualmente. O número é assustador, mas não para por aí: na guerra civil de Serra Leoa, nos anos 1990, foram cerca de 60 mil. Na Libéria, 40 mil; cerca de 60 mil na antiga Iugoslávia e algo entre 100 mil e 250 mil no genocídio de Ruanda.
Mulheres vítimas do estupro como arma de guerra carregam complicações físicas e mentais para o resto de sua vida. A FOP, inclusive, destaca um relatório da Anistia Internacional segundo o qual muitas se queixam de traumas no corpo, como sangramentos contínuos, dores, imobilidade e fístula. Muitas testam positivo para infecções sexualmente transmissíveis após serem violentadas. Além disso, privação do sono, ansiedade e sofrimento emocional são comuns entre sobreviventes – e também entre familiares que testemunharam a violência.
Para muitas dessas vítimas, a superação é difícil. A começar pela falta de acesso a sistemas de apoio psicológico e emocional – que, quando existe, é limitado e graças aos esforços de entidades de ajuda humanitária. Para piorar, essas mulheres precisam continuar com sua vida e cuidar de seus filhos, uma vez que seus maridos ou foram lutar na guerra ou foram mortos nela. E tudo isso precisa ser feito, no caso das refugiadas, numa terra estranha e sem uma rede de proteção familiar e financeira.
É por isso que a assistência a migrantes e refugiados é uma empreitada que demanda esforços em múltiplas frentes. Temos visto isso aqui, no Brasil, onde um conjunto de parceiros públicos e privados tem se unido para acolher os venezuelanos que chegam ao País, muitas vezes após caminharem por centenas de quilômetros, deixando para trás tudo o que um dia já tiveram, incluindo bens pessoais, amigos, famílias e sonhos.
No caso específico das mulheres, elas comumente chegam aqui com o desafio adicional de precisarem ser, agora, as provedoras financeiras de suas famílias. Para elas, aprender um ofício e ter uma escola onde seus filhos possam estudar enquanto trabalham é tão essencial quanto arroz, feijão e um copo d’água.
Ter a vida rompida abruptamente é um golpe para qualquer pessoa e, quando acontece na casa dos milhões, como vemos atualmente no mundo, é um problema humanitário de responsabilidade de todos. Olhar com mais atenção para as refugiadas é uma missão necessária e implementar políticas públicas de acolhimento a elas, uma obrigação. Num ano eleitoral, quando mais uma vez a sociedade irá discutir como posicionar o Brasil e o país que queremos, não devemos escapar desse debate.
*GERENTE DE PROGRAMAS DA ONG VISÃO MUNDIAL Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Por que a varíola dos macacos se espalhou agora?
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Cientistas de todo o mundo buscam respostas para o surto recente e repentino de monkeypox, enquanto tentam evitar 'erros do passado' cometidos durante o início da epidemia de HIV com a população LGBT+
João Ker, O Estado de S.Paulo
Desde que extrapolou as fronteiras da África em maio, a varíola dos macacos (monkeypox) já se espalhou por 65 países e infectou quase 10 mil pessoas, diz o relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), da semana passada. No Brasil, já foram contabilizados 449 casos, a maioria em São Paulo – mas especialistas acreditam que o vírus esteja mais espalhado, em meio às dificuldades de teste e diagnóstico. A doença já foi identificada pela ciência desde 1958, mas agora médicos e pesquisadores tentam entender as causas da velocidade do novo surto e debatem a melhor forma para conter essa ameaça sem aumentar o estigma sobre os grupos mais vulneráveis ao vírus. Entre as estratégias, eles defendem campanhas de orientação focadas e vacinas.
A OMS estima que 98% dos casos de varíola dos macacos notificados em todo o mundo sejam entre "homens que se relacionam com homens" (HSH), o que engloba o grupo de gays e bissexuais, mas não se restringe a eles. No Brasil, médicos de São Paulo relatam percepção semelhante e o boletim mais recente do Ministério da Saúde aponta que essa população corresponde a 100% dos pacientes que declararam a orientação sexual na hora do diagnóstico. Ainda não se sabe o motivo de o contágio ser maior nesse grupo.
Origem
Antes, a doença estava mais restrita a áreas rurais da África central e continental. Ainda não há consenso sobre o motivo do contágio mais veloz – a transmissão sexual ainda é investigada pelos pesquisadores. A teoria mais difundida entre cientistas é de que isso ocorreu por causa de uma série de mutações no vírus, que depois encontrou na população HSH um primeiro nicho de disseminação.
Apesar do nome, a varíola dos macacos é mais comum em roedores e se restringia majoritariamente a caçadores africanos, onde é considerada endêmica. "Ela foi descrita assim pela primeira vez porque teve um surto em macacos, que adoeceram assim como nós. Não foram eles que transmitiram a doença para nós", explica Ana Gorini da Veiga, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
"Ainda não sabemos por que esse surto está mais abrangente. Pode ser por uma maior transmissibilidade do vírus, porque hoje temos maior facilidade de transporte e locomoção de pessoas...", aponta Ana. Os primeiros registros dessa nova variante vieram da Espanha e da Bélgica, mas rapidamente os sintomas pipocaram em países como Portugal, Reino Unido e nas Américas.
Um dos principais empecilhos para dimensionar o alcance da monkeypox no Brasil e no mundo tem sido a variedade de manifestações da doença e a subnotificação. Com o período de incubação do vírus podendo variar de 5 a 21 dias, os primeiros sintomas geralmente incluem febre, dor de garganta, de cabeça e no corpo (que em alguns casos leva a uma primeira suspeita de infecção por algum vírus respiratório), além de inchaço dos gânglios. Alguns dias depois, surgem as lesões na pele, com pequenas erupções que podem se espalhar pelos dedos, mãos, braços, pescoço, costas, peito e pernas.
O surgimento dessas feridas nas regiões genital e perineal (entre o ânus e o órgão genital) tem ajudado médicos a confundir a varíola dos macacos com outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis e herpes. Pacientes ouvidos pela reportagem relatam que foram medicados com antibióticos e anti-inflamatórios, na primeira consulta após os primeiros sinais da doença. Com a persistência dos sintomas, a maioria deles só foi novamente testada após insistir em um novo diagnóstico ou se dirigir a outro hospital.
Transmissão sexual?
O fato de a varíola dos macacos causar erupções próximas ao genital e se disseminar tão rapidamente entre homens gays e bissexuais tem levantado a hipótese de que essa forma da doença possa ser sexualmente transmissível. Estudos preliminares na Itália e na Alemanha encontraram vestígios do vírus no sêmen de pacientes, mas os dados ainda são poucos para afirmar se a quantidade de carga viral seria suficiente para uma infecção.
"O fato é que temos uma doença transmitida de roedores para humanos e levada para a Europa, onde se disseminou de maneira muito intensa em encontros sexuais casuais, especialmente de homens. O vírus encontrou um nicho epidemiológico, que tem a possibilidade de transmissão adequada", explica Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, infectologista e pesquisador epidemiologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Por enquanto, médicos e cientistas dizem que é possível afirmar com mais segurança que a principal forma de transmissão da monkeypox é pelo contato direto com lesões ou saliva de pessoas infectadas, e não pela penetração sexual, por exemplo. Nesse sentido, o uso de máscara facial é importante, assim como a higiene constante das mãos e manter distância de quem esteja com sintomas, principalmente os visíveis.
"A transmissão não é pelo ato sexual, mas tem apresentado um comportamento que mimetiza essas características. Já temos casos, por exemplo, de alguém que teve a doença sexualmente e transmitiu para uma segunda pessoa do mesmo domicílio de outra forma", aponta Fortaleza. "Ao mesmo tempo, ignorar que ela tem se comportado como uma IST pode fazer com que a gente não dê as orientações necessárias para determinado grupo prioritário."
Sem erros do passado
Esse comportamento singular da monkeypox e sua associação ao ato sexual têm impulsionado queixas de parte da comunidade LGBT+, que encara os alertas específicos para "homens que se relacionam com homens" como uma forma de renovar o estigma criado há décadas sobre esse mesmo público desde o surgimento do HIV. Entre a comunidade médica e científica, essa mesma preocupação de reforçar estereótipos está "no cerne da questão", como aponta o epidemiologista Fábio Mesquita.
"Não queremos cometer os mesmos erros do HIV. Na época, nossa ignorância era muito grande. Olhamos só para o número de casos como se fosse necessariamente associado a uma comunidade", observa ele, que já foi diretor do então Departamento de Doenças de Transmissão Sexual, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e hoje está baseado em Myanmar como membro do corpo técnico da OMS.
E qual seria a forma correta de alertar a população de risco sem cair na estigmatização ou até culpar a comunidade pelo espalhamento do vírus? "É dizer que, nesse momento, a comunidade precisa ficar atenta, porque está disseminando de forma importante", aponta Mesquita. "Mas também precisamos frisar que não há evidência científica de que a monkeypox ficará restrita a ela (comunidade LGBT+)."
Quem concorda com essa visão é David Uip, infectologista e secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do Estado de São Paulo. Ao Estadão, ele disse acreditar que "informação clara, correta e científica" é o melhor caminho para contornar o preconceito e criar a conscientização necessária tanto no grupo de risco como na população em geral, evitando o que categoriza como "a catástrofe do ponto de vista médico, epidemiológico e social" vista no enfrentamento do HIV.
"Você tem de se prevenir com o que temos de informações disponíveis, sem gerar pânico", aponta Uip, que esteve na linha de frente do combate ao HIV quando a doença explodiu no Brasil, em 1980, e foi inicialmente batizada de "peste gay". "(A monkeypox) não é uma doença letal, pelo menos no momento, mas as pessoas estão muito sintomáticas e sofrendo demais."
Vacinas
Outro paralelo que Uip estabelece entre a monkeypox e o HIV é a falta de vacinas específicas e duradouras para essas doenças. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde a imunização contra a varíola dos macacos já começou, são usadas doses inicialmente desenvolvidas para a varíola humana (smallpox), distribuídas especificamente para a população HSH e com estoque bem aquém do necessário.
"Eu aproveitaria esse momento e encontraria mais informações sobre a monkeypox. Passaram-se 40 anos e ainda não encontramos a vacina para o HIV. O paciente tratado tem outra vida. O que resta, por enquanto, são medicamento e informação", diz.
Por ora, a aquisição de vacinas contra a varíola dos macacos não é uma realidade para o Brasil e nem para a maioria dos países em que a doença já foi encontrada. Questionado ao longo das últimas semanas, o Ministério da Saúde limitou-se a dizer que segue desde maio em tratativas com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a quem atribui a responsabilidade da distribuição de doses. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Violência política
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Violência política
Ao contrário do que muitos sustentaram, no Paraná não houve polarização. Não foi o confronto de petistas e bolsonaristas em igualdade de condições.
Denis Lerrer Rosenfield, O Estado de S.Paulo
O assassinato de um aniversariante petista, ao lado de sua família, por um bolsonarista é um passo perigoso no processo de enfraquecimento das instituições democráticas. A política, entendida como um confronto à morte entre amigos e inimigos, produz, aí, o seu fruto real, por mais aterrador que seja. Bolsonaro orienta-se por ela, sempre à caça de inimigos reais e imaginários: a esquerda, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as vacinas, o teto de gastos, o Supremo Tribunal Federal, os cidadãos pacíficos, as urnas eletrônicas e assim por diante, num acirramento crescente. A justificativa de alguns de que se trata apenas de um excesso de linguagem ou verborragia não se sustenta, pois é ela o guia de suas ações. Instituições democráticas tornam-se o alvo, famílias são divididas, amigos se separam, milícias digitais atacam, milícias reais vão às ruas de moto. Alguns fanáticos mais possuídos por esta narrativa decidem passar à ação concreta: tomam em armas e matam.
É bem verdade que essa concepção da política já foi seguida por Lula e pelos petistas, ao agirem baseados na distinção do “nós contra eles”, criando um clima de confronto, tendo ganho proporções no campo brasileiro. As hordas do MST invadiam com armas brancas e de fogo propriedades rurais, esquartejando o gado, incendiando, infringindo medo aos trabalhadores, disseminando a mais completa insegurança.
Ademais, Lula se comprazia na companhia de ditadores americanos e africanos, justificando a repressão e prisões, como nos casos mais gritantes da Venezuela e de Cuba. Também eles seguiam e seguem a distinção entre amigos e inimigos.
É, também, forçoso reconhecer que o atual candidato petista tem sido muito cauteloso, fazendo movimentos ao centro, escolhendo o ex-governador Alckmin para a posição de vice-presidente e utilizando uma mensagem de concórdia e pacificação em suas publicidade e mídias digitais. Procura, nesse sentido, um desenho democrático, e não autoritário ou totalitário de política.
No entanto, no caso em questão, não houve polarização, ao contrário do que muitos sustentaram. Não foi um confronto entre bolsonaristas e petistas em igualdade de condições, visto que a relação entre o assassino e o assassinado é assimétrica.
Primeiro, não se conheciam. Logo, não se pode tratar desta violência como um crime qualquer, produto de rixa com objeto específico, como desavenças entre vizinhos, traição, dinheiro ou outro motivo qualquer.
Segundo, ao não se conhecerem, a relação torna-se impessoal, remetendo diretamente ao motivo ideológico. O assassino entra à força numa festa, atirando e proclamando: “Aqui é Bolsonaro”. Sim, o presidente estava lá em seu discurso e em sua concepção do inimigo a ser abatido. O objeto de discurso tornou-se um alvo real.
Terceiro, a vítima estava numa festa privada, num salão de festas, comemorando com os seus o seu aniversário. Que homenageie Lula é uma opção privada exclusivamente sua, ninguém tendo nada que ver com isso. É o seu domínio próprio, que não deveria ser invadido por ninguém, por razão nenhuma, muito menos ideológica.
Note-se, ainda, que, no que diz respeito ao porte de armas, ocorre aqui uma inversão de posições. Os bolsonaristas têm defendido o livre porte de armas, inclusive de maior potência, e sem nenhuma forma de fiscalização, baseados no princípio – aliás, legítimo – da autodefesa. Contudo, o assassino não exerceu nenhum direito à autodefesa, mas o arbítrio de matar alguém por discordar de suas posições políticas. Exerceu o “direito” ao ataque, ao uso indiscriminado da violência. Por sua vez, a vítima, ela sim, exerceu o direito à autodefesa, conseguindo ferir o atacante e evitando uma tragédia ainda maior. Curiosa situação: o petista exerce o direito à autodefesa; o bolsonarista, ao ataque e à violência.
Portanto, não se pode falar de uma polarização política, salvo no quadro geral do cenário brasileiro, com a ressalva de que um candidato, preso à sua bolha, continua na perseguição aos seus “inimigos”, enquanto o outro procura sair de sua bolha própria, aproximando-se do centro político. Um guarda a sua matriz ideológica de cunho autoritário/totalitário; o outro procura dela sair, passando a afirmar convicções democráticas. Um patina nas pesquisas de opinião, o outro avança.
Agora, na cena específica do assassinato, há, reitere-se, uma relação assimétrica: o assassino se contrapõe ao assassinado; o culpado, bolsonarista, à vítima, petista; o atacante ao atacado; o agressor ao agredido. Não é possível fazer uma contorção ideológica equalizando dois lados não equalizáveis.
Quando a democracia começa a presenciar tais tipos de eventos, derrapando para soluções autoritárias, abre-se a porta para a violência indiscriminada. Outros fanáticos poderão seguir o mesmo exemplo. A condenação deve ser absoluta e irrestrita, não contemplando nenhuma espécie de relativização. Muito menos colocando o assassino e a vítima na mesma posição. A liberdade agradece!
*PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Jornalismo – a urgente reinvenção
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Jornalismo – a urgente reinvenção
Mais do que nunca, numa sociedade polarizada e intolerante, valores essenciais precisam ser resgatados e promovidos.
Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo
O cenário do consumo de informação preocupa. E muito. Exige reflexão, autocrítica e coragem. Vamos lá: 54% das pessoas evitam ativamente o noticiário no Brasil. Quase metade daqueles que dizem fugir das notícias, no mundo e também aqui, alega que está esgotada do noticiário de política e sobre covid-19. Outra razão apontada pelo público é o impacto emocional negativo que as notícias causam. Só baixo astral.
Os dados estão no artigo da professora Ana Brambilla no Orbis Media Review que disseca o último relatório global sobre jornalismo digital do Reuters Institute. Vale a pena uma leitura atenta. Suscita preocupação, mas também pode abrir uma avenida de oportunidades. Chegou a hora da reinvenção.
A sociedade está cansada do clima de militância que tomou conta da agenda pública. Sobra opinião e falta informação. Os leitores estão perdidos num cipoal de afirmações categóricas e pouco fundamentadas, declarações de “especialistas” e uma overdose de colunismo. Um denominador comum marca o achismo que invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: radicalização e politização.
O jornalismo reclama alguns valores essenciais: amor pela verdade, paixão pela liberdade e uma imensa capacidade de sonhar e de inovar. Eles resumem boa parte da nossa missão e do fascínio do nosso ofício. Hoje, mais do que nunca, numa sociedade polarizada e intolerante, precisam ser resgatados e promovidos.
As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização da sociedade. Suscitam debates, geram polêmicas (algumas com forte radicalização) e exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, as que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de padrões de qualidade, algo que deve estar na essência dos bons jornais.
O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.
Jornalismo independente reclama liberdade. Não temos dono. Nosso compromisso é com a verdade e com o leitor. Mas a reinvenção do jornalismo passa por uma imensa capacidade de sonhar. É preciso vencer comportamentos burocráticos, reconhecer a nossa crise e tratar de virar o jogo. O fenômeno da desintermediação dos meios tradicionais, por exemplo, teve precedentes que poderiam ter sido evitados, não fosse o distanciamento da imprensa dos seus leitores, sua dificuldade de entender o alcance das novas formas de consumo digital da informação e, em alguns casos, sua falta de isenção informativa e certa dose de intolerância.
Os leitores, com razão, manifestam cansaço com o tom sombrio das nossas coberturas. É possível denunciar mazelas com um olhar propositivo. Pensemos, por exemplo, na ignominiosa situação da corrupção. É preciso reverter um quadro que agride a dignidade humana, envergonha o Brasil e torna inviável o futuro de gerações. Não seria uma bela bandeira, uma excelente causa a ser abraçada pela imprensa? Com seriedade e profundidade, e não como consequência do jogo político. Em vez de ficarmos reféns do diz que diz, do blá-blá-blá inconsistente, das intrigas e da espuma que brota nos corredores de Brasília, que não são rigorosamente notícia, mergulhemos de cabeça em pautas que, de fato, ajudem a construir um país que não pode continuar olhando pelo retrovisor.
Não podemos viver de costas para a sociedade real. Isso não significa ficar refém do pensamento da maioria. Mas o jornalismo, observador atento do cotidiano, não pode desconhecer e, mais do que isso, confrontar permanentemente o sentir das suas audiências. A verdade, limpa e pura, é que frequentemente a população tem valores diferentes dos nossos.
A internet, o Facebook, o Twitter e todas as ferramentas que as tecnologias digitais despejam a cada momento sobre o universo das comunicações transformaram a política e mudaram o jornalismo. Queiramos ou não. Precisamos fazer a autocrítica sobre o nosso modo de operar. Não bastam medidas paliativas. É hora de dinamitar antigos processos e modelos mentais. A crise é grave. Mas a oportunidade pode ser imensa.
A violência, a corrupção, a incompetência e a mentira estão aí. E devem ser denunciadas. Não se trata, por óbvio, de esconder a realidade. Mas também é preciso dar o outro lado, o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do túnel. A boa notícia também é informação. A análise objetiva e profunda, sem viés ideológico, é uma demanda dos leitores. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem tornar o jornalismo refém da fácil cultura do negativismo.
Chegou a hora do jornalismo propositivo. Aquele que não se limita a mostrar os problemas, mas vai além: aponta alternativas e soluções.
*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. ';document.getElementById('cloak039b7fefd8ce404c9f06875a9fd596b8').innerHTML += ''+addy_text039b7fefd8ce404c9f06875a9fd596b8+'<\/a>'; Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
A violência estimulada se alastra
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A violência estimulada se alastra
As arengas criminosas e as blasfêmias não respeitam pessoas, instituições do Estado nem algumas religiões e credos.
Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, O Estado de S.Paulo
Antes de ser guilhotinada, Manon Roland afirmou: “Oh, liberdade, quantos crimes se cometem em seu nome!”. Eu me permito perguntar: segurança, quantos crimes e barbaridades têm você como pretexto, desculpa e até aplausos? Até quando se vão matar inocentes ou culpados, não importa. Não se pode matar. Só se pode matar em legítima defesa, circunstância prevista em lei e que justifica a conduta. No entanto, mata-se porque se quer matar. Invade-se uma comunidade, tiros são disparados sem que outros tiros tenham sido desferidos. E as balas atingem não só os alvos desejados, como quem está nas ruas, ou em casa, ou num bar, numa loja, dentro de um carro, seja lá onde for, as balas alcançam qualquer um. Dizem que são balas perdidas. E daí? É pior, pois isso demonstra que as armas foram acionadas a esmo. O atirador assume o risco consciente de matar quantos forem alcançados por seus projéteis. Ele aciona sua arma sabendo que ela poderá ser letal para qualquer um. Isso não o preocupa.
Deve-se ter presente um pensamento do Prêmio Nobel Aleksandr Soljenítsin no sentido de que a violência está sempre acompanhada da mentira. Com efeito, inverdades e invencionices servem para justificar os abusos e inverter as responsabilidades. As vítimas se tornam culpadas.
Aliás, a violência desmotivada, desnecessária, criminosa tem como elemento propulsor um discurso oficial que estimula, incentiva e autoriza a barbárie assassina contra a sociedade. O que desencadeia a conduta predatória dos chamados agentes da lei, que, na verdade, agem contra ela? A luta contra o crime? Sim, admitamos que seja. Mas como e por que as mortes entram nesse combate? A única forma de atacar o crime é matar o criminoso, o suspeito ou o inocente?
Há algumas situações que justificam a ação repressiva, mesmo que eventualmente se ponha em risco a integridade física de terceiros, como, por exemplo, nos casos de trocas de tiros, agressões contra pessoas ou contra a própria polícia, intervenção no curso da prática de um crime, e algumas outras.
Mas como explicar a mortandade quando não há violência desencadeada? Chegar aos locais atirando; executar pessoas depois de já imobilizadas, como ocorreu na comunidade do Fallet, no Rio de Janeiro; partir da mera suposição de que irão atirar contra a polícia e antecipar os disparos, tal qual fizeram no Jacarezinho e na Vila Cruzeiro, constituem ações que não podem ser denominadas de “operações policiais”. Não, isso é chacina, assassinato em massa, crime contra a humanidade.
E mais: não se pense que a barbárie é cometida apenas contra grupos, com o receio de seus integrantes atirarem primeiro. Não, está-se matando no atacado e no varejo. Não faz muito tempo, matou-se alguém num supermercado sufocando-o. Recentemente, no Estado de Sergipe, asfixiou-se um detido já imobilizado dentro de uma viatura, atirando gases dentro do veículo. Há anos houve dois episódios que muito me marcaram em São Paulo. Um motoqueiro, desarmado, foi morto pelas costas porque não parou quando instado a tal. E um casal de velhos japoneses feirantes que foram executados pois também seguiram com sua Kombi, sem perceber que havia uma barreira policial. A memória não ajuda, mas posso afirmar que foram centenas os casos de mortes individuais ou coletivas provocadas por desastrosas ações policiais.
Aliás, crueldades também são cometidas por não policiais. Violências são registradas tendo como autores membros de seguranças privadas.
A violência igualmente está instalada no seio da sociedade, especialmente contra a legião dos desamparados e desvalidos. Até incêndios em corpos vez ou outra são noticiados. Os conflitos provocados pelas diversidades de origem social, cor da pele e opções sexuais vitimam com frequência pobres, negros, indígenas, homossexuais. Somam-se a esse rol as atrocidades contra crianças e mulheres.
A intolerância que é geradora do ódio, atualmente, permeia o relacionamento pessoal. Manifestações antagônicas não mais são marcadas pela compreensão, pela tolerância e pela educação. Na verdade, este autoritarismo de ideias representa a negação da própria democracia e da liberdade de pensamento. Haverá respeito desde que a opinião alheia coincida com a minha.
Os estímulos à violência são constantes e insistentes, divulgados, basicamente, pela palavra falada, tendo como arautos autoridades que num plano hierárquico influenciam os incautos e desavisados. Em regra, seus discursos pregam a discórdia e fazem apologia do povo armado. Mentiras, invencionices, bravatas, vulgarização da linguagem, falas impensadas – e, quando pensadas, mal pensadas – estão sensibilizando obtusos e fanáticos seguidores. As arengas criminosas e as blasfêmias não respeitam pessoas, instituições do Estado nem algumas religiões e credos, inclusive o papa e os defensores dos direitos humanos foram alvos de infâmias.
É imprescindível que incorporemos e divulguemos os valores da civilidade e do humanismo para não nos transformarmos numa sociedade, já injusta e desigual, estigmatizada pelo ódio que inviabiliza a pacífica e harmônica relação entre os homens. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
É preciso desligar a violência
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É preciso desligar a violência
Quero reparar no passo da moça na calçada, na graça do menino que descobre um ninho, no entregador que assovia no seu triciclo desconjuntado
A notícia já era repugnante por escrito: um procurador espancou a colega de trabalho. Não vieram, porém, só palavras, tinha mais: o vídeo registrando de forma explícita a covardia.
Me desculpem, mas, para mim, foi demais.
As notícias abomináveis têm aparecido em sequência: a câmara de gás portátil em Sergipe, o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, o estupro da menor em Santa Catarina. A gente sabe que não vai parar por aí. Como reagir? O quanto podemos tolerar? Quando o vídeo covarde e violento começou, parei no primeiro soco.
Já não consigo.
Sim, sei que a indignação pública é fundamental e que sem ela a Justiça não vai para a frente. Deixar quieto é garantia de impunidade. Também sei que sou um privilegiado, dos que têm contato com a violência muito mais pelas telas do que ao vivo.
Sim, tenho consciência.
Porém, de tão informado, de tantas notícias trágicas nas palmas das mãos e imagens violentas ao alcance dos olhos, de tanto ver o que não gostaria de ter visto, ando querendo desligar a realidade. Ao menos essa da desgraça e dor em 4k e 120Hz. Às vezes me sinto como aquele personagem de “Laranja mecânica”, obrigado a ver cenas violentas até não aguentar mais.
O quanto a gente consegue aguentar? Vale a pena?
Talvez esteja me juntando aos que evitam notícias ruins. São cada vez mais, diz uma pesquisa do Instituto Reuters feita em vários países. Sim, o Brasil está na frente. Talvez não se trate de alienação, muito menos desinteresse, mas de sobrevivência. Buscar abrigo para o excesso de maldade e estupidez. O leitor deve estar se perguntando se funciona, se não é tapar o sol com a peneira ou enterrar a cabeça na areia. É sensato ignorar o horror?
Quando era adolescente e ouvia minha avó reclamar das notícias ruins nas páginas, na TV, achava que isso era uma atitude sem sentido, coisa de velho. Hoje percebo a antiga sabedoria. Não dá para viver cercado de crueldade e selvageria. Mais cedo ou mais tarde você acaba se tornando indiferente à barbárie. Quando se dá conta, virou um daqueles haters que apareceram na coluna da semana passada. Melhor não.
Quero andar tranquilo.
Em vez de passar os dias angustiado com as imagens das atrocidades que se repetem, de ver o que já não consigo desver, melhor desligar a tomada, esquecer o que nunca vai dar certo e sair na rua off-line, despreocupado.
Quero reparar no passo da moça na calçada, na graça do menino que descobre um ninho de bem-te-vi, no entregador que assovia a melodia das ruas no seu triciclo desconjuntado. Rir de uma bobagem inocente e passageira, me comover com um sentimento eterno esquecido em alguma esquina. Quero redescobrir o encanto do cotidiano, do afeto do dia a dia, para escrever sobre o que não aparece nas primeiras páginas.
Acho que não precisa de muito.
É só desligar na hora certa, esquecer o horror das imagens que vão pelas telas e cuidar do que vai pelos cantos da alma, do que me restou dela. Para notar que o inverno está aí, que há dias de frio e outros não, que logo vão começar a florescer os ipês.
É o que anuncia a primavera que vai chegar. Fonte: https://oglobo.globo.com
PF prende ex-ministro da Educação Milton Ribeiro
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Prisão, determinada pela Justiça, ocorre em meio a investigação de esquema para liberação de verbas do MEC. Pastores que intermediavam liberações também são alvo de operação.
Por Márcio Falcão e Wellington Hanna, TV Globo — Brasília
A Polícia Federal prendeu na manhã desta quarta-feira (22) o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Ele é investigado por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência por suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC.
A TV Globo apurou que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura também são alvos da operação deflagrada pela PF nesta quarta. Eles são investigados por atuar informalmente junto a prefeitos para a liberação de recursos do Ministério da Educação.
Em áudio divulgado em março, Ribeiro afirma que o presidente Jair Bolsonaro pediu a ele que os municípios indicados pelos dois pastores recebessem prioridade na liberação de recursos. Prefeitos disseram em depoimento que eles exigiram propina.
Uma fonte da PF em São Paulo disse à TV Tribuna que Milton Ribeiro foi preso em Santos e que ele deve ser levado para Brasília. Segundo o porteiro do prédio em que ele mora, o ex-ministro foi levado por volta das 7h.
Até a última atualização desta reportagem ainda não havia confirmação da prisão dos pastores Santos e Moura.
Investigação
A PF investiga Ribeiro por suposto favorecimento aos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura e a atuação informal deles na liberação de recursos do ministério. Há suspeita de cobrança de propina. O inquérito foi aberto após o jornal "O Estado de S. Paulo" revelar, em março, a existência de um "gabinete paralelo" dentro do MEC controlado pelos pastores. Dias depois, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgou um áudio de uma reunião em que Ribeiro afirmou que, a pedido de Bolsonaro, repassava verbas para municípios indicados pelo pastor Gilmar Silva.
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", disse o ministro no áudio. "Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", complementou Ribeiro.
Após a revelação do áudio, Ribeiro deixou o comando do Ministério da Educação. Em depoimento à PF no final de março, Ribeiro confirmou que recebeu o pastor Gilmar à pedido o presidente Jair Bolsonaro. No entanto, ele negou que tenha ocorrido qualquer tipo favorecimento. Registros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) apontam dezenas de acessos dos dois pastores a gabinetes do Palácio do Planalto.
Em vídeo, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que botava "a cara no fogo" por Ribeiro e que as denúncias contra o ex-ministro eram "covardia". Já nesta quarta, questionado sobre a prisão do ex-ministro pela PF, Bolsonaro afirmou que Ribeiro é quem deve responder por eventuais irregularidades à frente do MEC.
"Ele responde pelos atos dele", afirmou Bolsonaro em entrevista à rádio Itatiaia. O presidente disse ainda que "se a PF prendeu, tem motivo." O caso envolve suspeitas de corrupção. Prefeitos denunciaram pedidos de propina – em dinheiro e em ouro – em troca da liberação de recursos para os municípios. Milton Ribeiro disse que pediu apuração dessas denúncia à Controladoria-Geral da União.
Tráfico de influência
De acordo com apuração da TV Globo, a operação deflagrada nesta quarta investiga a prática de tráfico de influência e corrupção na liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação. Fonte: https://g1.globo.com
Veja possíveis efeitos colaterais com quarta dose de vacina contra Covid
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Bulas indicam que reações leves podem ocorrer em cerca de 10% dos imunizados
Mulher toma dose de vacina contra Covid-19 - Alex Rocha/PMPA
Com a recomendação da quarta dose de vacina contra Covid-19 para os maiores de 40 anos, podem surgir dúvidas acerca de efeitos colaterais dos imunizantes.
Afinal, quais são as reações esperadas para esses produtos? A quarta dose —ou segundo reforço— pode trazer alguma reação específica? Por que os efeitos colaterais ocorrem?
A Folha conversou com especialistas para responder a essas e a outras perguntas comuns.
Quais reações são esperadas quando alguém se vacina contra a Covid?
Os principais efeitos das quatro vacinas utilizadas no Brasil –Coronavac, Janssen, Pfizer e Astrazeneca– são dor no local da aplicação, sensação febril, mal-estar, dor no corpo e quadro gripal. Normalmente, esses sintomas desaparecem em até 24 horas, no máximo podendo durar dois dias.
Reações como essas já são conhecidas para outros imunizantes e remédios. "Sugiro ler a bula de alguns antitérmicos para ver as reações que alguns deles podem causar", afirma Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Além disso, não são todas as pessoas que apresentam esses sintomas. De acordo com a bula dos imunizantes, a maior parte desses sintomas mais leves pode ser sentida em torno de 10% daqueles que utilizam os medicamentos.
"A maioria das pessoas não têm nada, e são reações absolutamente normais e significam simplesmente que o sistema imune está reagindo com a vacina", diz Cristina Bonorino, imunologista e professora titular da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre).
Algumas reações mais incomuns podem ocorrer. Consta da bula da vacina da Pfizer, por exemplo, que de 0,1% a 1% de pessoas que utilizaram o imunizante apresentaram insônia, cansaço físico intenso, suor noturno ou urticária (alergia da pele com forte coceira).
Assim como a Pfizer, as outras três vacinas podem ter reações adversas muito incomuns. "Nenhuma delas causa problemas importantes", afirma Marcos Boulos, professor de infectologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
A quarta dose de uma vacina pode trazer algum efeito colateral diferente de outras aplicações?
Não existem evidências de que uma quarta dose resulte em efeitos diferentes dos que já foram vistos anteriormente. Dessa forma, mantém-se o que já se sabe e é documentado nas bulas dos produtos.
"Normalmente, a cada dose de vacina, não só da Covid, a chance de evento adverso é menor. A primeira dose normalmente é a mais reatogênica", diz Ballallai.
Casos em que esses efeitos podem acontecer em doses adicionais, como na quarta aplicação, são normalmente quando se utiliza uma vacina diferente das outras já aplicadas —esquema chamado de heterólogo.
"O esquema heterólogo pode ter mais eventos adversos, mas são reações leves", acrescenta Ballallai.
Por que as vacinas podem causar efeitos colaterais?
Muitas vezes, entende-se que sentir alguma reação após a vacinação significa que o imunizante está funcionando. A realidade, no entanto, não é tão simples assim.
"O fato de ter um efeito adverso em geral é um indicativo de que a vacina está funcionando, mas, se não sentir isso, não significa que a vacina não funciona", afirma Bonorino.
Ela explica que cada pessoa tem a chamada resposta inata, "que é uma inflamação inicial que precede toda a resposta que vai gerar memória imunológica". Acontece que algumas pessoas podem ter maior sensibilidade a sentir os sintomas e outras nem tanto.
Outro fator que influencia o surgimento de reações é a tecnologia utilizada em cada vacina. Boulos afirma que aquelas com a plataforma de adenovírus –em que se utiliza um vírus que transporta o código genético do Sars-CoV-2, patógeno que causa a Covid-19– são as que podem causar maiores efeitos adversos.
"As pessoas que mais reclamam provavelmente tomaram as vacinas de adenovírus. Elas são aquelas que se injeta um vírus específico, que apesar de ele não causar quase nada, pode ter alguns efeitos colaterais pequenos", afirma o infectologista, reiterando que os efeitos, quando sentidos, ainda são bem leves.
No Brasil, as vacinas da Janssen e da Astrazeneca são produzidas com essa tecnologia. Além da plataforma de adenovírus, existe a tecnologia de RNA mensageiro (Pfizer) e de vírus inativado (Coronavac). Elas também podem apresentar efeitos adversos, mas mesmo assim ainda são muito leves e em grande parte dos casos desaparecem logo.
Existem efeitos colaterais mais graves?
De uma maneira geral, as vacinas utilizadas em doses de reforço têm perfil parecido em causar efeitos adversos comuns e que não duram mais de dois dias. A vacina da Janssen tem um histórico de causar uma rara síndrome relacionada a coágulos sanguíneos potencialmente mortais. Situação parecida já foi documentada para a Astrazeneca.
As ocorrências fizeram com que o FDA (Agência de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos) limitasse o uso da vacina da Janssen no país, mas ela ainda continua disponível para aplicação. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) avaliou que os benefícios do imunizante superam os riscos, que são muito raros.
Na bula da vacina, a Janssen diz que os casos são raramente documentados, mas é importante procurar atendimento médico e informar ao profissional de saúde que tomou a vacina ao sentir sintomas como dores de cabeça fortes ou persistentes, convulsões, alterações do estado mental, visão turva, hematomas inexplicáveis fora do local da vacinação que aparecem em alguns dias, pequenas manchas arredondadas na pele fora do local da vacinação, falta de ar, dor no peito, dor ou inchaço nas pernas ou dor abdominal persistente.
Na bula também é dito que é possível reportar a presença de efeitos colaterais por meio do sistema nacional de notificação.
Para Ballallai, a síndrome é muito rara e a vacina, assim como as outras aprovadas, tem um alto perfil de segurança documentado por meio dos estudos clínicos e também pelas muitas doses que já foram aplicadas.
"Até agora, para todas essas vacinas, o perfil de segurança é excelente com raríssimos casos de eventos adversos que consideramos graves. Não há motivo nenhum para considerar que as vacinas contra a Covid são perigosas", afirma.
Ela também diz que nem todos os efeitos adversos, principalmente os mais graves, têm relação causal com as vacinas. Nestes casos, é importante a realização de investigações a fim de averiguar se tem alguma associação do imunizante com a reação.
Os efeitos colaterais indicam que as vacinas não são seguras?
Como explicado acima, existem algumas razões para o aparecimento de eventos adversos. Uma delas é a tecnologia utilizada pela vacina e outra é a indicação de que o sistema imunológico está reagindo ao imunizante.
Nenhum evento adverso, no entanto, indica que as vacinas não são seguras. Um indício disso são os estudos clínicos feitos que medem a segurança dos imunizantes.
Outro grande indicativo da segurança desses produtos utilizados atualmente contra a Covid-19 é que eles já tiveram uma alta dose de aplicação, mas com pouquíssimos relatos de reações graves. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Ministério da Saúde anuncia nesta segunda-feira a quarta dose contra covid para maiores de 40 anos
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Ministério da Saúde anuncia nesta segunda-feira a quarta dose contra covid para maiores de 40 anos
Recomendação atual vale para público com mais de 50 anos. Reforço na vacinação surge no momento de nova alta de casos no País
Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O Ministério da Saúde vai oficializar, nesta segunda-feira, 20, a ampliação da quarta dose da vacina contra a covid-19 para pessoas acima de 40 anos. Atualmente, a recomendação atende o público com 50 anos ou mais. A nova fase será oficializada com a publicação de uma nota técnica. A pasta marcou uma coletiva às 10 horas para anunciar a ampliação.
A segunda dose de reforço, como é tecnicamente chamada, começou a ser aplicada neste ano no Brasil, já com queda nos índices de casos e mortes pelo novo coronavírus. Nas últimas semanas, porém, os municípios registraram um novo avanço da doença. Somente no sábado, 18, o País notificou 19.810 novos casos com crescimento de 15,6% da média móvel em duas semanas.
O Ministério da Saúde ainda avalia a ampliação da quarta dose para todos os adultos, ou seja, aqueles maiores de 18 anos. Essa extensão, porém, ainda não foi efetivada e depende de conclusões técnicas, de acordo com a pasta. "As regras para a ampliação do público alvo para a segunda dose de reforço serão detalhadas nesta segunda-feira. A inclusão de eventuais novos grupos depende de análise técnica e normatização em Nota Técnica", diz o ministério. Fonte: https://saude.estadao.com.br
Réquiem para dois amigos do Brasil.
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Bruno Pereira e Dom Phillips morreram por ter a coragem de acreditar no valor de seu trabalho para a construção de um mundo melhor, a despeito das ameaças
A Polícia Federal (PF) e a Polícia Civil do Estado do Amazonas investigam as circunstâncias em que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram brutalmente assassinados no Vale do Javari. Conhecer a dinâmica desse crime que entristeceu o mundo é fundamental, mas a verdade é que Bruno e Dom morreram porque ousaram prosseguir com o trabalho que realizavam na região, a despeito das ameaças que recebiam e do absoluto abandono pelo Estado. Malgrado todas as adversidades, ambos seguiram adiante porque acreditavam na relevância do que faziam para a construção de um futuro melhor, para o País e para o mundo. São raros os que têm a coragem que tiveram esses dois amigos do Brasil e das boas causas.
Por ora, tem-se a confissão de Amarildo Oliveira, conhecido como “Pelado”, um pescador envolvido com diversas atividades ilegais no Vale do Javari. Contudo, não se sabe exatamente a motivação para o crime; se “Pelado” agiu por conta própria ou a mando de alguém; se matou e ocultou os corpos sozinho ou se teve a ajuda de comparsas. A Justiça, por sua vez, ainda terá de analisar todas as provas colhidas pelas autoridades policiais e trazidas a julgamento pelo Ministério Público. Ou seja, ainda há um caminho pela frente até que o duplo homicídio seja esclarecido, provado e punido. Mas é certo que Bruno e Dom foram assassinados por lançar luz sobre um Brasil e sobre brasileiros abandonados pelas autoridades. Com destemor e determinação, os dois tentaram mostrar, cada um à sua maneira, que em pleno território nacional há uma espécie de enclave sob o jugo do crime organizado, e não das leis e da Constituição.
Poucas manifestações desse absoluto abandono e descaso com os povos daquela região e com os que se põem a defendê-los foram tão eloquentes quanto as declarações desumanas do presidente Jair Bolsonaro. Fiel à sua natureza, desde a primeira informação sobre o desaparecimento de Bruno e Dom na Amazônia, Bolsonaro atribuiu algum grau de culpa às próprias vítimas por seu infortúnio. Depois, prestou solidariedade às famílias das vítimas, possivelmente orientado por algum assessor preocupado com o desdobramento eleitoral do caso.
Bruno Pereira era um servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), considerado um dos maiores especialistas do Brasil em indígenas isolados e de recente contato. Seu genuíno interesse pelo bem-estar dos povos nativos o fez ser profundamente respeitado pelos indígenas. Seus restos mortais, junto com os de Dom Phillips, dificilmente teriam sido encontrados sem a participação de seus “irmãos de mata” nas buscas.
Como agente do Estado, Bruno coordenou as maiores operações de destruição de dragas de garimpo ilegal no Vale do Javari nos últimos anos. Também realizou operações que implicaram enormes prejuízos aos pescadores ilegais da região. Um servidor público com esse grau de comprometimento deveria ser exaltado, mas Bruno foi punido. Após sofrer retaliações como servidor da Funai, licenciou-se do órgão e, em vez de voltar para o conforto de casa e da família, passou a trabalhar diretamente com os indígenas por meio da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Isso dá a dimensão da entrega à causa que se pôs a defender. Na Univaja, Bruno ensinou aqueles que não sabiam se defender a protegerem suas vidas e suas terras. Pagou com a própria vida por sua abnegação e altruísmo.
Dom Phillips vivia no Brasil havia 15 anos. Aqui fez amigos e construiu uma família. O jornalista também poderia estar na segurança e no conforto de sua terra de origem, em Londres ou nos arredores de Liverpool, onde foi criado. Mas decidiu vir para o País a fim de explicar a Amazônia e seus conflitos para o mundo. Dom estava na floresta em pesquisa para um livro que pretendia escrever sobre a importância da preservação do bioma. Bruno o auxiliava no contato com as fontes.
Em vida, Bruno e Dom foram exemplos de fidelidade à função social do trabalho que realizavam, a despeito dos riscos. Na morte, lembram-nos do valor da coragem de defender o que é certo quando a covardia parece prevalecer. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Perdido
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O sumir é a matéria prima dos milagres e lendas. Do navio fantasma, do Robinson Crusoe...
Roberto DaMatta, O Estado de S.Paulo
Como seres da modernidade, temos dificuldade em aceitar a perda. Como alguém pode sumir com tantos mapas, satélites, aviões, drones, rádios e telefones portáteis?
Com tantos mecanismos de comunicação e meios que permitem achar o que se procura?
Ou será que o “perder” nos traz à consciência o lado mais profundo de nossa existência: a maldade em lugares perigosos como a Amazônia? Muitos grupos tribais foram massacrados e eu mesmo fui admoestado quando um pistoleiro goiano ameaçou o funcionário da Funai que me acompanhava a ir à aldeia para dar uns tiros nos “cabocos” que, para ele, atrapalhavam a criação de gado. Assustei-me, pois lá estava com minha mulher e filhinhos.
Imagine agora quando o que está em jogo é ouro, como parece ser o caso do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista Bruno Araújo Pereira?
Mas mesmo sendo um sumiço programado por bandidos, o “perder-se” acentua o perigo e o simbolismo da floresta. O sumir avisa que não nascemos para a solidão...
O sumir é a matéria-prima dos milagres e lendas. Do navio fantasma, do Robinson Crusoe, do Tintin. E nos faz recordar o caso do coronel inglês Percy Harrison Fawcett que, em 1925, teria saído em busca de uma cidade perdida na selva.
Quem jamais entrou na mata, que até faz parte do meu nome, jamais sentiu o poder de se desnortear e não sabe o que é ser engolido pela floresta que esconde o céu. Fica-se à mercê de um guia. Mas lembre-se que o próprio guia, como o rei, também pode se perder.
Há momentos em que ficamos perdidos e sem rumo, sem planos e sem energia para continuar na senda da perdição final, felizmente desconhecida mas, em muitos casos, anunciada.
Vivi essa experiência de modo pleno duas vezes. Na primeira, aos 9 anos, quando me perdi num parque de diversões; e, na segunda, quando fui caçar com um nativo Gavião e esperei angustiado pelo sinal do guia já que não sabia voltar para a aldeia.
O que senti seria maior do que meu espaço, como posso esquecer de mim mesmo, com uma espingarda em punho, cercado por todos os lados por uma desconhecida floresta que não fazia o menor sentido para mim, exceto sinalizar que, sozinho, eu jamais seria capaz de voltar à aldeia. Parado e perdido, falava apenas com o meu relógio que assinalava e garantia a minha solidão naquela angústia de ver minutos virarem horas. Perder-se é como encontrar uma palavra sem tradução.
PS: Minha total solidariedade aos familiares e amigos de todos os que ainda estão perdidos e aos que estão na busca. Fonte: https://cultura.estadao.com.br
Varíola dos macacos: Minas Gerais investiga suspeita de primeira morte do país
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Seria o primeiro caso do estado e a primeira morte associada à varíola dos macacos no Brasil
Por Evelin Azevedo
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) investiga uma suspeita de morte por varíola dos macacos no estado. Trata-se de uma pessoa residente em Uberlândia e que trabalha em Araguari, no Triângulo Mineiro. A morte suspeita de monkeypox foi notificada no último sábado, informou a SES-MG em nota.
Até o momento, Minas Gerais ainda não tinha registrado nenhum caso de varíola dos macacos. Os três casos confirmados no Brasil foram registrados em São Paulo (2) e no Rio Grande do Sul.
Uma amostra coletada no paciente que morreu foi enviada para análise laboratorial da Fundação Ezequiel Dias, em Belo Horizonte. Segundo a SES-MG, todos os dados clínicos do paciente serão avaliados pela equipe técnica da Secretaria Estadual e do Ministério da Saúde para classificação e encerramento do caso.
A SES-MG, a Secretaria Regional de Saúde (SRS) de Uberlândia e as secretarias municipais de Saúde de Araguari e Uberlândia estão investigando o caso e monitorando os contatos próximos. A secretaria não divulgou mais informações sobre o paciente, a fim de proteger sua identificação.
Casos de varíola dos macacos no Brasil
Até o momento, o Brasil confirmou três casos de varíola dos macacos. Dois em São Paulo — um na capital paulista e outro em Vinhedo, no interior do estado — e o terceiro caso foi detectado no Rio Grande do Sul.
O primeiro caso de varíola dos macacos no Brasil, identificado em São Paulo (capital) na última quinta-feira, foi de um homem de 41 anos com histórico de viagem à Portugal e Espanha. O paciente está internado em isolamento no Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
O segundo caso, identificado em Vinhedo, interior de São Paulo, no último sábado, trata-se de um homem de 29 anos com histórico de viagem à Espanha. O caso foi avaliado por um laboratório espanhol, após o desembarque do homem no Brasil, ocorrido em 8 de junho. Ele está em isolamento domiciliar.
O terceiro caso, confirmado nesta segunda-feira, é de um homem de 51 anos que chegou em Porto Alegre (RS) no dia 10 de junho. A confirmação, feita após exames de laboratório processados em São Paulo, ocorreu após os 21 dias do ciclo da doença. O paciente, portanto, não apresenta mais risco de transmitir o vírus para outras pessoas. O paciente estava em isolamento domiciliar desde que chegou ao Brasil.
O Ministério da Saúde investiga outros seis casos suspeitos de varíola dos macacos no Brasil. Todos seguem em isolados e em monitoramento.
Leia a nota da SES-MG na íntegra
"A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa que, no sábado (11/6), foi notificado um óbito suspeito de monkeypox (varíola do macaco) em Uberlândia. É o primeiro caso em investigação pela doença em Minas Gerais. Trata-se de uma pessoa residente em Uberlândia e que trabalha em Araguari, no Triângulo Mineiro. Dentre os contatos próximos, ainda não há nenhum outro caso sintomático.
Para o diagnóstico laboratorial, a SES-MG orientou que fosse coletada a amostra para a análise pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). Todos os dados clínicos também serão avaliados pela equipe técnica da Secretaria Estadual e do Ministério da Saúde para classificação e encerramento do caso. A SES-MG, a SRS Uberlândia e as secretarias municipais de Saúde de Araguari e Uberlândia estão investigando o caso e monitorando os contatos próximos. Fonte: https://oglobo.globo.com
Intensa massa de ar frio mantém temperaturas baixas nesta semana; veja as previsões
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Por O Globo — Rio de Janeiro
A semana que começa deverá ser de frio, conforme a massa de ar polar que chegou ao país continua a exercer efeito sobre o tempo da região Sul e Sudeste, segundo dados do Instituto Nacional de Meterologia
No estado do Rio de Janeiro, ao longo da semana, a temperatura pode chegar até 13 graus. Em São Paulo, a mínima pode ser de 9 graus.
No Sul, o frio também persiste. No Rio Grande do Sul, os termômetros podem registrar uma mínima de 7 graus, na capital Porto Alegre, ainda nessa segunda-feira. Em Curitiba, no Paraná, a mínima prevista é de 3 graus. Em Florianópolis, as temperaturas devem ficar entre 20 e 10 graus no início da semana.
A tendência é que as temperaturas subam com o avançar dos dias.
O domingo amanheceu com frio intenso e geadas nos três estados da Região Sul do país e no sul de Mato Grosso do Sul. Houve até temperaturas negativas em diversas cidades, como -3,9 graus em General Carneiro (PR); -3,9 graus em São Joaquim (SC) e -2,6 graus em São José dos Ausentes (RS).
O frio é consequência de uma massa de ar polar que continua avançando sobre o centro-sul do país, e há previsão de novos recordes de frio na região Sul. No Sudeste e no Centro-Oeste, apesar da queda de temperatura, o frio mais intenso é previsto para o período da noite.
No entanto, segundo o meteorologista Marcio Cataldi, da Universidade Federal Fluminense (UFF), o mês como um todo deve ser menos frio que maio.
— Teremos uma queda bem acentuada na temperatura, tanto na mínima quanto na máxima. O restante do mês não deve ser tão frio — disse Cataldi.
Além da massa de ar polar, outro fenômeno que intervém no clima neste período do ano é o La Niña. Trata-se do resfriamento das águas do oceano pacífico tropical, influenciando na incidência de chuvas em diversas regiões do Brasil e potencializando a incidência de chuvas nas regiões Norte e Nordeste, mas aumentando o risco de seca ou de chuvas irregulares na Região Sul. Fonte: https://oglobo.globo.com
Farmácias expandem 4ª dose de vacina privada contra Covid para maiores de 18
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Drogarias Pacheco e São Paulo expandem público-alvo e número de unidades com o serviço
A farmacêutica Daiana Zorzo prepara o imunizante na Drogaria Sao Paulo, na avenida Paulista - Rivaldo Gomes - 9.jun.22/Folhapress
As Drogarias Pacheco e São Paulo, do grupo DPSP, começam a oferecer, neste sábado (11), a quarta dose da vacina contra a Covid para clientes maiores de 18 anos com prescrição médica.
As redes já haviam começado, há alguns dias, a aplicar os imunizantes privados da Astrazeneca, porém, para tomar a quarta dose, era preciso ter mais de 50 anos.
Além das unidades em Moema e Paulista em São Paulo, as redes começam a vacinar na capital paulista em regiões como Parque da Mooca, Indianópolis, Bela Vista, Perdizes e Casa Verde e uma em São Caetano do Sul.
Fora do estado, a distribuição fica restrita a três lojas no Rio de Janeiro, uma em Minas Gerais, uma no Espírito Santo e uma em Pernambuco.
Para tomar a quarta dose, será necessário apresentar RG, comprovante de vacinação das doses anteriores, respeitando um intervalo mínimo de quatro meses, além de prescrição médica, para aqueles com menos de 50 anos. O paciente precisará assinar um termo de consentimento.
O agendamento poderá ser feito por Whatsapp, e o valor será de R$ 229,90. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Casa de criança trans é apedrejada na Bahia, após pastor evangélico fundamentalista insuflar a população
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Por @EquipeGN
Um caso envolvendo homofobia uma criança transgênera na pequena cidade de Poções (cerca de 150 quilômetros à esquerda de Porto Seguro, no Sudoeste da Bahia, e que foi liderado por um pastor evangélico homofóbico fundamentalista, teve repercussão nacional neste último final de semana. O caso ganhou repercussão nacional, após o líder evangélico ter insuflado a população, na tentativa de a Câmara de Vereadores não dar prosseguimento em um projeto de lei para garantir que a criança de 12 anos tivesse o seu nome social reconhecido pela escola pública municipal. Insuflada pelo pastor, a população promoveu apedrejamento na casa da criança por três dias consecutivos. Os nomes da mãe e da criança foram omitidos, para evitar a identificação do menor de idade.
A mãe fez várias tentativas nesse sentido, mas a direção da escola se recusa a cumprir uma lei federal que dá essa garantia. Curiosamente, a cidade onde a escola municipal se recusa a cumprir a lei federal é governada pela prefeita Irenilda Cunha de Magalhaes, a dona Nilda do PCdoB, um partido que, nacionalmente, é contrário à homofobia preconizada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). O uso de nome social para menores de 18 anos nas escolas é um direito reconhecido por lei desde 2016, mas que na cidade administrada pelo PCdoB não é respeitada.
Autora da lei que dá permissão e a prefeita que proíbe são do PCdoB
No entanto, para fazer a lei nacional em Poções a vereadora Larissa Laranjeiras, do PCdoB, o mesmo partido da prefeita dona Nilda, apresentou um Projeto de Lei (PL), há um mês, onde propõe que as pessoas transgênero sejam chamadas pelos nomes sociais nas escolas. O projeto nem chegou a ser colocado em votação. Já na noite de 23 de maio, um pastor evangélico iniciou os seus ataques homofóbicos conclamando os moradores de Poções a comparecer na Câmara de Vereadores, para forçar os vereadores a não votar o PL.
“Caso você não tenha o compromisso, traremos um monte de evangélicos na Câmara, para que os vereadores se sintam inibidos a não votar nessa aberração”, disse o evangélico. O convite aos seguidores de sua agremiação “religiosa” surtiu efeito e vários evangélicos foram à Câmara. O homofóbico ficou em um lado do local destinado à presença do público e a criança transgênera, acompanhada de sua mãe, ficou no outro canto da galeria da Câmara Municipal. Diante da forte presença do público “convidado” pelo pastor, alguns vereadores lançaram mão da Bíblia e disseram que são contrários ao projeto de lei municipal.
Aliança Nacional LGBTI+ tem acompanhado o caso
A partir daí foi iniciada a sessão de apedrejamento na casa da mãe da criança, onde as últimas pedradas ocorreram neste sábado (4). Juntamente com a mãe da criança, o presidente nacional da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, emitiu uma nota, narrando o apedrejamento na casa da criança trans na Bahia e que foi distribuída à imprensa nacional: “A Aliança Nacional LGBTI+ tem acompanhado um caso de transfobia envolvendo um jovem adolescente trans de 12 anos em Poções, Bahia.
“A Secretaria Municipal de Educação tem se recusado a instituir o nome social do garoto contrariando o disposto na Resolução 1 de 19 de janeiro de 2018 do MEC. Os gestores foram notificados extrajudicialmente e, caso não adequem os registros até segunda-feira, medidas judiciais serão tomadas. Além disso a família tem sido perseguida por grupos fundamentalistas da cidade, a incitação ao ódio fez inclusive com que a casa fosse apedrejada. A Aliança Nacional LGBTI+ enviou uma notícia crime ao Ministério Público do município para que medidas sejam tomadas, mas, até o momento a promotoria não nos respondeu em relação ao pedido de reunião”, prossegue a nota.
“O uso do nome social é direito de todas as pessoas trans e deve ser respeitado, buscaremos a responsabilização daqueles que praticam a discriminação de forma expressa com ameaças e instigação à discriminação, mas também daqueles que não cumprem os atos normativos que buscam o combate à discriminação, completa a nota enviada por Toni Reis.
Ódio disseminado pelo pastor evangélico
Em entrevista à imprensa local, a mãe da criança de 12 anos disse que não acha que sejam só os evangélicos que agridem a ela e ao seu filho. O ódio plantado pelo pastor contaminou gente já disposta a odiar. E foi a força desse sentimento que quebrou uma das janelas da casa dela, na madrugada da última quarta-feira (2), e aprisionou a ela e ao filho. Antes, os ataques tinham assustado, mas não deixaram provas físicas. A Polícia foi chamada, mas somente chegou na manhã do dia seguinte, depois que os fundamentalistas homofóbicos já tinham ido embora.
Na tarde desse mesmo tinha sido agendada uma reunião na escola onde a criança estuda e, mesmo assustada com a violência, a mãe foi ao encontro. “E foi muito estranho. Foi ali que consegui entender meu filho. Quando a professora dele perguntou: A mãe de A. (nome de batismo de R. ou ‘nome morto’, como pessoas trans chamam o nome ao qual abdicam por não representar suas identidades de gênero) está aí? Pensa numa dor que me deu”, declarou ela à imprensa.
Criança comunicou identidade de gênero há três meses
Ela disse que o seu filho comunicou a sua identidade de gênero há cerca de três meses e ela afirmou que pressentiu que a violência estaria por vir. Falou que não tem parentes em Poções e que buscou grupos de mães de transgêneros que tem atuação na área LGBTQIA+. Ao obter esclarecimentos contou aos jornalistas que recolheu a documentação do filho, seguindo uma orientação do Ministério da Educação (MEC), que autoriza a adoção do nome social de transgêneros e travestis nas escolas, para minimizar uma das faces da violência contra essas pessoas.
De acordo com as orientações do MEC o uso de nome social para menores de 18 anos é simples. Basta os representantes legais de estudantes fazer a solicitação na escola e pedir a alteração do nome. Toni Reis, pós-doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná, participou da formulação do parecer do órgão e disse para a imprensa baiana que a identidade de gênero do filho dessa mãe deve ser respeitada – não só por humanidade, mas porque a lei obriga. Fonte: https://grafittinews.com.br
Missão evangélica
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A conta bancária, por vezes, fala mais alto que as mensagens do Evangelho
Paus. Pedras. Perseguição.
Aconteceu na Bahia.
Casa de menino trans é apedrejada pela população.
Momentos de horror, diz a mãe.
Gritos. Ameaças. Pedras na vidraça.
Avarildo era pastor evangélico.
–Não tive nada a ver com isso.
Ele suspirou.
–Mas, num ato de boa vontade, faço questão de ir até o local.
A noite avançava em silêncio pelas ruas da cidadezinha.
Um grupo de ativistas religiosos já estava na frente da casa do menino.
Avarildo se apresentou.
–O que vocês estão fazendo aqui, meus irmãos?
–Acabar com essa aberração, pastor.
–Não tem polícia aqui?
O cabo da PM Erdoíldo mostrou o distintivo.
–Tem sim. E estamos aqui para arrebentar tudo.
Avarildo fez cara séria.
–Vamos seguir o que disse Jesus.
–O que é que ele disse, exatamente?
–Atira a primeira pedra, pô.
Não foi preciso dar segunda ordem.
A fachada da casa foi atingida por diversos projéteis.
De dentro, uma voz feminina pedia socorro.
Avarildo fez um gesto imperativo.
–Vamos parar um pouco, pessoal. Que eu vou falar com ela.
O pastor entrou na casa de forma respeitosa.
–A senhora… com esse seu filho… bom, eu não vou dizer nada…
–Hã.
–Mas eu tenho uma proposta.
A ideia era simples.
–A senhora me paga o dízimo. E aí tudo bem.
Ele olhou para as modestas dependências da casa ameaçada.
–Vai ver que é pouco…
Avarildo consultou o celular.
–Vamos fazer o seguinte. A senhora arrecada dinheiro para o movimento trans.
Ele ajeitou o nó da gravata.
–E metade fica para a minha igreja.
Avarildo já deu entrada num Audi do ano.
–Blindado, claro. Porque se tem coisa que eu detesto é levar pedrada.
A Bíblia permite muitas interpretações.
Mas com a conta bancária dá para lidar com mais clareza. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
No Dia Mundial dos Oceanos, ONU faz alerta sobre preservação: 'poluição plástica atingiu as ilhas mais remotas'
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Órgão internacional realiza neste mês conferência sobre o tema em Lisboa, Portugal
Por O Globo; Agências Internacionais — Rio de Janeiro
A ONU divulgou nesta quarta-feira uma mensagem por ocasião do Dia Mundial dos Oceanos, data estabelecida para lembrar da importância sobre a preservação desse meio, que produz mais de 50% do oxigênio do planeta. Em comunicado, o secretário-geral Antônio Guterres criticou os níveis insustentáveis da pesca, a destruição dos recifes de corais e o aumento da poluição causada por plástico.
"No mês passado, a Organização Meteorológica Mundial revelou que quatro indicadores climáticos essenciais bateram novos recordes em 2021: subida do nível do mar; temperatura dos oceanos; acidificação e concentrações de gases com efeito de estufa. Torna-se evidente que a tripla crise de alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição ameaçam a saúde dos nossos oceanos, da qual todos nós dependemos", ressaltou.
Guterres destacou ainda que as indústrias que tem suas atividades baseadas nos oceanos empregam cerca de 40 milhões de pessoas, e , ainda assim, os recursos e a biodiversidade estão cada vez mais comprometidos por causa das atividades humanas.
"Mais de um terço dos estoques mundiais de peixes são colhidos a níveis biologicamente insustentáveis. Uma proporção significativa dos recifes de coral foi destruída. A poluição plástica atingiu as ilhas mais remotas e as trincheiras mais profundas nos oceanos. (...) Precisamos urgentemente de uma ação coletiva para revitalizar os oceanos. Trabalhar em conjunto com a natureza, e não contra ela, e construir parcerias inclusivas e diversificadas entre regiões, setores e comunidades para colaborar de forma criativa em soluções para os oceanos".
A ONU vai realizar ainda neste mês a Conferência dos Oceanos, em Lisboa, Portugal. Há expectativa para que o evento que ocorre entre os dias 27 de junho e 1 de julho estabeleça diretrizes do que precisa ser feito para reverter o declínio na saúde dos oceanos. Fonte: https://oglobo.globo.com
33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, mais que há 30 anos, aponta pesquisa
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Situação no país retrocedeu ao patamar dos anos 90, e 6 em cada 10 convivem com insegurança alimentar hoje.
Tiago Bastos de Santana, 24 , pede ajuda em cruzamento no bairro da Mooca -
O ano de 2022 marca o retrocesso da segurança alimentar no Brasil a um patamar de fome ainda pior do que o registrado 30 anos atrás.
Atualmente, 33 milhões de pessoas passam fome no país, segundo resultado de uma nova pesquisa sobre o tema divulgada nesta quarta (8). Em 1993, eram 32 milhões de pessoas nessa situação, segundo dados semelhantes do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) —a população brasileira então era 35% menor que a de hoje.
Naquele ano, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, a primeira grande campanha nacional da sociedade civil sobre o assunto.
"A gente regrediu literalmente 30 anos na luta contra a fome, o que nos assusta muito", diz o atual diretor-executivo da Ação da Cidadania, Kiko Afonso. "Mas o sentimento de indignação da sociedade brasileira hoje diante da fome de 33 milhões de brasileiros está muito aquém da indignação de 1993, diante da fome de 32 milhões. Estamos inertes como sociedade."
O levantamento divulgado nesta quarta, chamado 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, foi feito pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) e executado pelo Instituto Vox Populi. A margem de erro é de 0,9 pontos percentuais, para mais ou para menos.
A pesquisa mostrou que 6 a cada 10 brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar. São 125,2 milhões de pessoas nesta situação, o que representa um aumento de 7,2% desde 2020 e de 60% na comparação com 2018.
O sentimento de indignação da sociedade brasileira hoje diante da fome de 33 milhões de brasileiros está muito aquém da indignação de 1993, diante da fome de 32 milhões. Estamos inertes como sociedade. Kiko Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania
"Não tem nada mais prioritário no Brasil do que combate à fome, independente de ideologia", avalia Afonso. "Sem alimento a pessoa não consegue procurar emprego, estudar ou sair de casa. E tem de se humilhar para sobreviver."
De acordo com a pesquisa, em 2022, 1 de cada 3 brasileiros já fez alguma coisa que lhe causou vergonha, tristeza ou constrangimento para conseguir alimento.
Esses novos indicadores da segurança alimentar apontam que 41% da população tem acesso estável a alimento em quantidade e qualidade adequados, índice que é superior entre brancos (53,2%) e inferior entre pretos e pardos (35%).
No outro extremo, a média dos brasileiros com fome é de 15%. Superam essa marca aquelas pessoas que residem nas regiões Norte (25,7%) e Nordeste (21%), na zona rural (18,6%), e em domicílios chefiados por mulheres (19,3%) ou por pessoas pretas e pardas (18,1%).
"Temos desigualdades históricas do país que nunca foram resolvidas: rural e urbana, homem e mulher, brancos e negros. E essas desigualdades se reproduzem na questão da fome", explica a médica sanitarista Ana Maria Segall, professora aposentada da Unicamp e pesquisadora da Rede Penssan.
"É como se 41% da população estivesse protegida das crises econômica e política que já vinham se arrastando nos últimos ano e também do impacto da pandemia da Covid a partir de 2020", analisa Segall.
"Por outro lado, quase 60% dos brasileiros vive numa situação de instabilidade que é muito afetada tanto pela crise quanto pela pandemia, que pegou essa população já numa condição desfavorável."
Segurança alimentar é a situação em que há acesso pleno e estável a alimentos em qualidade e quantidade adequados.
Já a insegurança é dividida em três categorias: leve (quando o temor de faltar comida leva a família a restringir a qualidade dos alimentos), moderada (sem qualidade, há alimentos em quantidade insuficiente para todos) e grave (quando ninguém acessa alimentos em quantidade suficiente e se passa fome).
A médica destaca que entre 2004 e 2013 houve um incremento "muito significativo" no acesso das famílias a alimentos.
"Depois de 2013, você tem um precipício, e derrocada da segurança alimentar ocorre de maneira muito rápida. Houve uma piora rápida e muito expressiva do acesso a alimentos que continua até hoje e é pior dentro dos grupos que já viviam em algum nível de insegurança alimentar", afirma ela, que fez parte do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), extinto pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).
Em 2018, 5,8% dos brasileiros passavam fome. Em 2020, essa parcela subiu para 9% e, em 2022, chegou a 15,5%.
Isso quer dizer que, no intervalo de um ano, 14 milhões de brasileiros passaram a conviver com a fome em suas casas.
Para Francisco Menezes, consultor da ONG internacional ActionAid e ex-presidente do Consea (2004-2007), três das principais causas do aumento da fome no país são o empobrecimento da população, o desmonte de políticas sociais e de abastecimento, e a crise climática.
"Tivemos uma elevação muito forte do desemprego e um processo de precarização do trabalho com o crescimento da informalidade. Soma-se à perda de renda a inflação dos alimentos, que desde 2020 não arrefece, e atinge itens básicos como arroz, feijão e óleo de soja, além do gás e dos combustíveis", aponta ele, para quem uma política de estoques de alimentos, abandonada pelo governo, é crucial num momento desfavorável.
Ele critica o modelo de acesso a benefícios de transferência de renda, que requer acesso a internet e a um computador ou celular. "Extrema pobreza e aplicativo não são coisas que combinem."
O 2º Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar aponta que o maior percentual de pessoas em insegurança grave ou fome era entre quem solicitou mas não recebeu o auxílio emergencial aprovado pelo Congresso para o primeiro ano da pandemia (63%), seguido pelo grupo de quem sequer conseguiu solicitar o benefício (48,5%).
O levantamento mostra que há fome em 13,5% dos domicílios em que residem apenas adultos, enquanto entre as casas com três ou mais crianças ou jovens de até 18 anos o percentual sobe para 25,7%.
O dado é especialmente preocupante porque aponta para danos futuros. Estudos sugerem que o impacto da fome entre crianças e adolescentes tem efeitos deletérios imediatos na saúde e no bem-estar, com potencial comprometimento das potencialidades desses indivíduos.
Isso é o que mais mexe com Suelen Medeiros, 29, que mora com os quatro filhos na periferia sul da cidade de São Paulo. Desempregada e sem receber pensão do pai de seus filhos, ela conta que chega a ficar dias sem comer para privilegiar as refeições das crianças, que têm entre 2 e 12 anos.
"Eu aguento sentir fome, eles, não", lamenta. "Mas fico tão ansiosa por causa das crianças que até perco a fome", diz ela, que recebe uma cesta básica de doação mensalmente, mas que nem sempre é suficiente. "É muito difícil. Toda vez que meus filhos não têm o que comer, meu mundo desaba. Não ter condições de dar nem um pão de manhã a eles acaba comigo", afirma ela. "Não vejo a hora de arranjar um trabalho."
A pesquisa da Rede Penssan foi baseada em entrevistas realizadas em 12.745 domicílios de áreas urbanas e rurais de 577 municípios dos 26 estados e do Distrito Federal. Trata-se de uma parceria das organizações Ação da Cidadania, ActionAid Brasil, Fundação Friedrich Ebert Brasil, Ibirapitanga, Oxfam Brasil e Sesc. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
A morte
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A morte
O Brasil vive um período delicado. Um jogo político com a morte. A sociedade não pode pactuar com tal tipo de ‘brincadeira macabra’.
Denis Lerrer Rosenfield, O Estado de S.Paulo
A morte é o destino dos seres humanos, ao fim de um ciclo natural de vida, que se apresenta como uma espécie de enigma da condição humana. De toda maneira, as pessoas se acostumam gradativamente com essa ideia através da idade e de doenças sucessivas. Logo, passa a ser tida por normal, embora essa normalidade seja a do corpo inerte tomado por bactérias e vermes. A religião veio a ser uma forma de conforto, graças a ideias como a de “salvação”, “outro mundo” e “vida eterna”, entre outras acepções. Pascal, célebre filósofo católico, dizia que a vida era uma forma de “distração”, de “divertimento”, usufruída pelas pessoas procurando esquecer a morte inexorável.
Estados totalitários, aqui, inovaram. Tiraram a morte do seu ciclo natural e conferiram-lhe uma significação propriamente política, de poder, submetendo agrupamentos humanos por raça, religião ou mera diversidade à violência extrema. No nazismo, seres humanos, como judeus, homossexuais, ciganos e testemunhas de Jeová, considerados como “subumanos”, terminaram, por via de consequência, seus dias em câmaras de gás e nos crematórios. Extirpados da categoria dos humanos, a morte violenta lhes foi imposta.
Os comunistas não ficaram atrás, decretando a morte violenta pela fome orquestrada, imposta pela violência política a aproximadamente 3,2 milhões de ucranianos num evento que passou a ser denominado de Holodomor, morte por inação, num episódio da fome planejada pela polícia política stalinista nos anos 30 do século passado, com homens e mulheres esquálidos, cadáveres ambulantes, tendo o canibalismo como um de seus efeitos.
O processo civilizatório tem se caracterizado por prolongar a vida, por evitar a morte violenta, em sociedades que se organizam pela segurança pública, por sistemas de saúde públicos e privados, pelo avanço científico e tecnológico. As pessoas se sentem assim seguras, reconfortadas e evitam a morte, tida por uma forma arbitrária e injustificada de violência. Coisas tão simples como remédios e vacinas, além da integridade física que estaria ao abrigo do arbítrio, são manifestações deste progresso, considerado, então, como algo normal. O que ocorre, porém, se cenas de violência, patrocinadas inclusive por forças policiais, põem em xeque tal concepção?
Um cidadão normal, chamado Genivaldo, foi gasificado num porta-malas de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal no Estado de Sergipe. O espetáculo do horror introduz a morte violenta patrocinada pelo Estado, cuja função – convém sempre lembrar – consiste em proteger a vida e o patrimônio dos cidadãos. Hobbes já dizia que essa é sua função essencial, sem a qual a sociedade recairia num estado de selvageria, denominado por ele de guerra de todos contra todos. A justificativa inicial utilizada pelo arbítrio foi a de um “mal súbito” sofrido pela vítima, expressão que só pode ser considerada como uma piada macabra. Mal, sim, existe, mas o de uma sociedade que começa a se acostumar com tal tipo de arbitrariedade. Súbito, sim, o descaramento e a ausência de compaixão.
A chacina no Rio de Janeiro, com forças policiais agindo impunemente, matando inocentes no máximo arbítrio, expõe essa faceta de uma sociedade que perde controle de si. A polícia, pilar da organização estatal, abandona sua função, fazendo com que pessoas pereçam pela morte violenta. A segurança dos cidadãos não é mais assegurada de uma forma aberta. Nem o disfarce é utilizado. Se o Estado não cumpre mais sua missão, o que podemos esperar, senão a irrupção da crueldade, da selvageria? Há justificativa para isso?
Em Pernambuco, mais de uma centena de pessoas foi vítima de inundações e desabamentos, em outro teatro do horror que apenas escancara o que já vem acontecendo em outras cidades. Nada disso é normal, na acepção de que seria inevitável. Calamidades naturais fazem parte do mundo, mas o que diferencia um Estado de outro são a prevenção e a forma de enfrentamento desse tipo de fenômeno. Sismógrafos foram inventados para prevenir as consequências desastrosas de terremotos, com operações de defesa civil e afastamento da população atingida para outras regiões. Habitações em zonas de risco podem ser solucionadas por políticas habitacionais e outras ações estatais. Foi mais uma vez desastroso o discurso presidencial, ao considerar as catástrofes como “naturais”. Seus efeitos não o são, se houver políticas sociais ancoradas na ciência e na tecnologia.
O Brasil vive um período particularmente delicado, pois estas formas de “morte social” passam a ser tidas por normais. Nem a compaixão se faz mais presente nas ações governamentais. Se o Estado não se impõe, protegendo os malfeitores e relegando os policiais honestos e conscientes, é porque se encaminha para formas autoritárias. Trata-se, na verdade, de um jogo político com a morte. A sociedade não pode pactuar com tal tipo de “brincadeira macabra”.
* PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
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