Páscoa da Ressurreição (Evangelho: João 20,1-9)
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Só uma coisa a dizer: Ele está vivo! O Cristo ressuscitou! Isso é tudo! Nada há de mais importante! O que importa é dizê-lo! É preciso correr para anunciá-lo, testemunhar o acontecido! É preciso que todos saibam! Está vivo e somos testemunhas disto… Encontramos testemunhas e nos tornamos testemunhas nós também, desde o nosso batismo… Com que presteza nós então anunciamos nesta manhã a Ressurreição do Cristo?
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do Domingo da Páscoa da Ressurreição (20 de abril de 2014). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.
Eis o texto.
Prometidos à vida nova
É preciso voltar a dizer: a Ressurreição é a pedra angular de nossa fé. Pedra sobre a qual esta fé se pode construir, pedra contra a qual ela pode vir a se quebrar. Se o Cristo não ressuscitou, diz Paulo, “vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (1 Coríntios 15,14). Um dia, no caminho de Damasco, Paulo teve a evidência de que aquele que acreditava estar morto, porque o haviam crucificado, esteve sempre, ou mais precisamente, de novo estava vivo. Para ele então tudo se iluminou. Compreendeu que devia passar da religião centrada na moral, na observância da lei, para a religião do amor ativo, do amor a uma pessoa na qual Deus tornou-se visível e ativo, na qual se juntam todos os homens de todos os lugares e de todos os tempos numa só unidade, e da qual o universo tem a sua origem. Ele é o Deus para quem, apesar das aparências, tudo o que existe acaba por convergir.
Assim como o rio que corre para o oceano que é a sua fonte, ainda que meio a tantos desvios, é verdade (a imagem é de Paul Claudel), aí mesmo é onde ele vai morrer, para um novo nascimento. Renascer, e por conseguinte morrer, é necessário para o novo, para se acessar as formas superiores das realidades que vivemos: «Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo», diz Paulo na segunda leitura. Assim ficamos sabendo que o nosso estatuto atual é apenas um esboço, uma promessa, pois somos feitos para, no final de nosso percurso, ser «como Deus».
Crer significa crer na Ressurreição
A Ressurreição está em trabalho por toda parte e desde sempre. Como diz o 6º Prefácio eucarístico, ela “manifestou-se” em Jesus. Daí em diante, todo ser humano que escuta o Evangelho deve pronunciar-se, pois o que até então estava escondido, agora veio à luz. Por isso, para Paulo, crer significa crer na Ressurreição.
Se Abraão é chamado o pai dos crentes, é porque, esquecendo o seu corpo já morto e o corpo de Sara também já morto, acreditou no anúncio do nascimento de seu filho Isaac, «crendo n’Aquele que faz viver os mortos e chama à existência as coisas que não existem» (Romanos 4,17). «Eis por que isto lhe foi levado em conta de justiça (…), mas (é levado em conta) também para nós que cremos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue pelas nossas faltas e ressuscitado para a nossa justificação» (versículos 22-25).
Se ele não nos fez superar a morte, se somos destinados a desaparecer, então a afirmação de que Deus é amor perde todo o sentido. A ressurreição de Cristo nos ensina que vivemos envolvidos no amor e que tudo o que nos pode prejudicar, inclusive o «último inimigo», a morte, não será a razão de uma vida que é dom de Deus.
Novo nascimento
Hoje temos a escolha entre várias leituras dos evangelhos. Por que aquele túmulo, vazio dali para frente, me faz pensar no ventre materno após o parto? Porque a Ressurreição é, sem dúvida, o nascimento para o mundo do homem novo, perfeito e completo. «Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez realidade nova» (2 Coríntios 5,17). E, no entanto, este mundo novo já está aí, no coração do antigo, como uma promessa, um desejo, um dinamismo que proíbe a este coração satisfazer-se com o estado de coisas presente, fazendo-o trabalhar para o mundo novo que vem. A Ressurreição está aqui, no coração escondido do mundo, em toda parte e desde sempre. Paulo explica isso em 1 Coríntios 15,12-16: se não há ressurreição, o Cristo não pode mais ressuscitar. O próprio Jesus, para justificar a fé na ressurreição, cita Êxodo 3,6 onde Deus se apresenta como «o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó».
Ora, ele não pode ser Deus dos mortos, pois, sendo ele mesmo Vida, é Deus dos viventes. Todos diante dele estão vivos. Isto foi com certeza o que o discípulo descobriu quando viu o túmulo vazio e os lençóis dobrados, como se não tivessem sido usados. «Ele viu e acreditou», diz o texto. E o que ele viu? Nada, um lugar vazio. «Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram», havia dito Maria Madalena. Por que, se tinham simplesmente retirado o cadáver, tê-lo-iam despojado dos lençóis da morte? João agora sabe onde é que Jesus foi colocado: na vida de Deus. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Sábado Santo: “ameaçados” de esperança
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“José comprou um lençol de linho, desceu Jesus da Cruz, envolveu-o no lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha; depois, rolou uma pedra na entrada do túmulo” (Mc 15,46). A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, sacerdote jesuíta, comentando o evangelho do Sábado Santo - Ciclo B (31/03/2018) que corresponde aos textos bíblicos de Marcos 15,42-47 e João 19,38-42.
A gravidez é uma metáfora sugestiva e provocadora sobre o Sábado Santo; no silêncio e na obscuridade do sepulcro tem lugar a segunda gestação de Jesus Cristo e o novo parto do homem, da mulher e do cosmos renovados. Assim, o sepulcro é contemplado como o ventre da terra, onde acontecerá o milagre da renovação plena da vida. O amor é mais poderoso que a morte e quem ama não morre nunca, senão que suas sementes são húmus e germe de nova vida, embora não possamos controlar quando nem onde.
É preciso saber acolher este silêncio surdo, que marca a passagem entre duas experiências intensas: a Sexta-feira de dor e o Domingo de Ressurreição. No sepulcro, Jesus se faz solidário com toda a morte humana. E é preciso esperar com Ele. É preciso esperar em nossos projetos e sonhos, na libertação dos povos, em uma nova humanidade. Em nossas vidas teremos muitas sextas-feiras santas de dor e dias de páscoa, mas, teremos muito mais sábados de espera.
Fazer memória do Sábado Santo nos faz compreender que, nos sábados santos da vida não podemos ter a pretensão de querer ver o significado de tudo o que vivemos, no mesmo momento que o vivemos. Muitas vezes, terão que passar muitos anos para poder ver o rosto do Deus vivo em situações vividas de dor e abatimento; além disso, temos que começar a entender que não podemos pretender chegar ao último dia com todas as interrogações resolvidas.
Saber viver neste tom vital é o que nos convida o Sábado Santo.
A partir da experiência sabática, a noite pode espantar, mas também pode ser chance para ver melhor; a morte pode ser ameaçadora, mas ela ensina a viver; o sepulcro vazio pode causar dúvida, mas ele aponta para a ressurreição; o infinito pode suscitar inquietação, mas consegue impulsionar para o além, até acender no coração uma chama persistente: a esperança.
A terra, a humanidade, o cosmos... estão todos grávidos de Ressurreição. Assim começa a ressurreição; assim começa essa experiência que alguns chamam “a outra vida”, mas que na realidade não é a “outra vida”, mas a vida “outra”.
Como nos deixou escrito um jornalista guatemalteco, desaparecido sob a ditadura nos anos 80. “Dizem que estou ‘ameaçado de morte’; nem eu nem ninguém estamos ameaçados de morte. Estamos ameaçados de vida, ameaçados de esperança, ameaçados de amor. Estamos ‘ameaçados’ de ressurreição. Porque Jesus, além do Caminho e da Verdade, é a Vida, embora esteja crucificado no alto do lixão do Mundo...”
Ameaçados de vida, ameaçados de esperança, mesmo que a esperança frequentemente seja uma “esperança enlutada”. Há homens e mulheres que se fizeram “experts” em transitar e esperar na noite. São nossos “mestres e mestras do Sábado Santo”.
O ser humano que espera não tem certeza, não fica seguro, não está satisfeito. Mas a esperança tem fundamento; não é uma ilusão e nem uma utopia; não é um sonho impossível e nem uma lembrança irrecuperável; não é só futuro, mas permanece, disfarçadamente, presente; não é uma morada, mas um sentimento sempre inédito. A esperança evita tropeçar no fracasso, no desânimo, na apatia e no silencioso desespero.
A esperança é caminho e meta, posse e dom, destino e encontro, antecipação e cumprimento, expectativa e busca, risco e proteção, nó e liberdade. A esperança é certa, mas não dá “garantias”.
“O coração do cristão é inquieto, está sempre em busca, em espera: esta é a esperança... porque a esperança é aquela que faz caminhar, faz abrir estradas...” (Massimo Cacciari)
O ser humano-esperança é o peregrino que caminha, é o artífice que tece o existir.
Esperança é força prospectiva que suscita passos para a gênese da nova humanidade. Esperança é o ser humano nômade. Des-loca-se. Des-dobra-se. Inventa-se. Deixa de ser o que era para chegar a ser o que ainda não é. Na noite ela se acende; na impotência, ela vence; na finitude, ela impele a caminhar.
A esperança é brasa, é pés, é caminho, é narrativa, é assombro, é antecipação.
Não há esperança na solidão das próprias seguranças e das próprias expectativas. A esperança se realiza no encontro, que impele a sair, a caminhar, a ir ao encontro, narrar aos outros o fogo que se acendeu por dentro. A esperança é o canto que ativa a coragem nos corredores escuros da história.
Poderíamos acrescentar que uma humanidade, incapaz de cultivar a esperança, não merece ser considerada, porque lhe faltaria a única razão pela qual vale a pena existir. Sem a esperança, a humanidade perde a iniciativa. Embota-se.
A vida sem desafios não é real; mas a vida sem espera, sem desejo, sem paixão, sem esperança, não é vida.
A esperança mora onde a deixamos entrar: onde lutamos, onde convivemos com o outro diferente de nós, onde a fragilidade e a transição podem desorientar, onde as trevas parecem mais fortes que a luz, onde a vida parece ser ameaçada pela morte, onde a violência pensa levar vantagem, onde o caminho é íngreme, onde a espera se confunde com a angústia...
A força da esperança está oculta precisamente na sua impotência e fragilidade.
Mas não basta ter esperança. É preciso ser esperança. O ser humano vive deesperança, acredita na esperança, mas, sobretudo é esperança. A esperança leva a querer algo mais. É “antecipação criadora”; ela tem “rosto novo”. É madrugada e não crepúsculo. Jamais “envelhece”. A esperança pascal antecipa aquilo que ainda não é realidade. É o futuro que ainda pode ser convertido em história nova.
O mal, a injustiça, a violência, o sofrimento, existem em nossa história, mas não tem a última palavra sobre ela. A ternura de Deus é mais poderosa e ela é nossa esperança, ela nos sustenta nos túneis mais escuros da vida a partir de dentro, atravessando-os. Deus é nossa esperança; o Deus da vida que nos ama até o extremo é a esperança que nos ampara contra toda desesperança.
Mas a esperança não é uma propriedade privada, mas um presente comunitário, coletivo, um bem comum, como nos diz o Papa Francisco: “Não vos deixeis roubar a esperança! Talvez a esperança seja como as brasas debaixo das cinzas; ajudemo-nos uns aos outros com a solidariedade, soprando nas cinzas, a fim de que o fogo volte a atear-se mais uma vez. Pois é a esperança que nos faz ir em frente. E isto não é otimismo, mas algo diferente. Todavia, a esperança não é de uma só pessoa, a esperança fazemo-la todos juntos. Temos que alimentar a esperança entre todos, entre todos nós e todos nós que estamos distantes. A esperança é algo vosso e também nosso. É algo que pertence a todos” (Discurso aos trabalhadores de Cagliari – 22/set/2013).
A Cruz permanece em seu lugar, mas o sepulcro fica vazio para sempre! É Ressurreição: vida plena antecipada.
Para meditar na oração
Como muitos mestres e mestras, cujas vidas são testemunhas da esperança, como os discípulos de
Jesus e como as mulheres que o acompanharam até o final, nos perguntamos:
- É possível esperar quando sentimos que a realidade é um “beco sem saída”?
- Como esperar em meio a tanta violência, preconceito, indiferença
- Como esperam os vencidos, os últimos, os excluídos...?
- Como aprendemos a esperar quando nos encontramos tendo que enfrentar situações-limite?
- Qual tem sido nosso suporte e ajuda nesses momentos da vida e como podemos oferecê-lo aos outros?
- Quê aprendizagens vitais fizemos na densidade da noite em nossas vidas?
- Quê e quem nos ajudou a rolar a pedra do sepulcro de nossa vida? Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
SALVADOR: Senhor Morto-03
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''Sou padre católico e 'saí do armário' na festa da Anunciação''
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O dia 25 de março de 2004, Festa da Anunciação, pareceu ser o dia mais longo da minha vida. Naquela noite, eu estava sendo homenageado pela United Way pelas pastorais da minha paróquia junto aos pobres e marginalizados na comunidade. Pouco antes da cerimônia, uma jovem repórter do jornal local me entrevistou. Ela notou que eu falava abertamente sobre muitas questões sociais e apoiava particularmente a comunidade LGBT. Eu sabia que este era o momento para “sair do armário” publicamente como padre gay católico romano. O depoimento é do padre estadunidense Fred Daley, pároco da Igreja de Todos os Santos, em Syracuse, Nova York. O artigo foi publicado por America, 23-03-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A jornada até aquele momento foi longa e muitas vezes dolorosa. Eu sabia que queria ser padre desde que estava no Ensino Médio. Como os padres são chamados ao celibato, devo ter reprimido minha sexualidade plena até o Ensino Médio, o seminário e os primeiros anos de sacerdócio. A sociedade e a Igreja Católica me ensinaram que o sexo antes do casamento era pecaminoso e que a homossexualidade era abominável.
Desde o momento em que fui ordenado, senti-me realizado em minha vocação e amei todos os aspectos do meu ministério: presidir as liturgias, visitar os doentes, ensinar as crianças e aproveitar a vida paroquial. Fui abençoado por ter um pároco que me ensinou que servir ao povo era o coração do sacerdócio.
Depois de alguns anos, no entanto, comecei a notar uma dor dentro de mim. Essa dor se aprofundou quando reconheci o surgimento de uma energia sexual que eu tentara resistir por tanto tempo. Logo, a dor se tornou pavor. Quando comecei a admitir para mim mesmo as minhas atrações a pessoas do mesmo sexo, esse pavor se tornou horror.
Durante um retiro, compartilhei a verdade sobre minha sexualidade pela primeira vez com o padre jesuíta designado como meu diretor espiritual. Eu rezei para que ele me ajudasse a voltar aos trilhos. Eu queria aprender a reprimir esses pensamentos impuros.
Em vez disso, o Pe. Paul explicou que a minha orientação sexual faz parte de quem Deus me criou para ser. Eu fui e sou totalmente amado por Deus.
Pouco a pouco, com a ajuda de alguns aconselhamentos e de orientação espiritual, comecei a me aceitar e, no fim, a me amar como homem gay. Finalmente, entendi o verdadeiro sacrifício do celibato. Embora eu nunca tenha praticado nenhum dos meus desejos, eu precisava me comprometer de novo, conscientemente, com esse modo de vida, a fim de viver como padre, com integridade. Gradualmente, eu disse a alguns amigos e familiares que eu era gay. Mas, em geral, eu fiquei ‘dentro do armário’.
Essa jornada interior de autoaceitação mudou dramaticamente a minha relação com Deus. Eu experimentei o amor incondicional de Deus na minha alma, nas minhas entranhas e na minha cabeça. Esse amor por Deus se transformou em amor pelos meus paroquianos. Minha capacidade de amizade e empatia se aprofundou muito.
Mas eu também comecei a ficar cada vez mais frustrado pelo fato de que ficar “dentro do armário” me impedia de compartilhar minha história de uma maneira que pudesse beneficiar a outros. Eu queria acompanhar e ministrar aos pobres, aos excluídos e aos marginalizados na Igreja e na sociedade, e isso incluía o ministério à comunidade LGBT.
Então, em 2002, o escândalo dos abusos sexuais irrompeu nos Estados Unidos, e várias lideranças da Igreja começaram a culpar os padres gays como a causa da crise. Eu sabia que isso não era verdade. Concluí que, se devia viver com integridade e pregar o Evangelho sem concessões desonrosas, eu precisava “sair do armário” publicamente. Não foi uma decisão impulsiva. Ela foi precedida de oração e foi fortalecida por consultas com o meu diretor espiritual e com o bispo auxiliar. Eu confiei no Espírito Santo para me mostrar o momento certo para “sair”. A entrevista na Festa da Anunciação acabou sendo esse momento.
Eu compartilhei com a repórter que, nos meus anos acompanhando membros da comunidade LGBT, eu reconheci, em sua dor profunda, a minha própria luta de autoaceitação como homem gay.
Esperei o jornal na manhã seguinte com um pouco de medo e tremor. Será que a repórter relataria o que eu disse com precisão? Será que eu seria suspenso pelo bispo? Será que os meus paroquianos me rejeitariam? Será que eu feriria as pessoas que não entendessem?
A manchete na primeira página dizia: “Padre Daley revela que é gay”. Enquanto o título “Padre Daley recebe o prêmio ‘Herói de Verdade’ da United Way por seu trabalho com os pobres” foi relegado a uma seção interna do jornal.
Naquele fim de semana, compartilhei minha história nas liturgias paroquiais. Deparei-me com ovações em pé. Uma das minhas preocupações em discernir se eu devia “sair do armário” ou não era um medo de que eu estivesse ferindo ou confundindo paroquianos que talvez não entendessem. Uma paroquiana irlandesa idosa e muito tradicional – ela odiava “aquelas malditas guitarras na missa” – aliviou meus medos. Mary sempre contava a coleta do ofertório depois da missa dominical das 8h da manhã. Prendendo a respiração, eu bati na porta da secretaria paroquial. Mary se levantou da cadeira, me deu um abraço e disse: “Não se preocupe, padre, eu também gosto de homens!”.
Eu recebi centenas de cartas de todo o país oferecendo apoio. Algumas pessoas enviaram cartas negativas, expressando preocupação com o fato de a minha alma homossexual ir para o inferno – mas até mesmo elas me asseguraram suas orações. Meu bispo na época e seu sucessor me respeitaram e apoiaram meu ministério.
Muitas pessoas me perguntam se eu acho que outros padres gays deveriam “sair do armário”. Dar esse passo é uma decisão muito pessoal e sagrada para cada pessoa. Eu só pediria que meus irmãos padres homossexuais rezassem pela graça de refletir profundamente sobre a questão. Eu posso dizer que, para mim, “sair do armário” foi e continua sendo uma bênção.
As pessoas que estão enfrentando lutas pessoais me percebem como mais acessível, porque sabem que eu também tive lutas pessoais. Qualquer ilusão de estar em um pedestal clerical, felizmente, se desfez.
Sendo uma pessoa pública, tenho muitas oportunidades para combater os preconceitos homofóbicos que ainda existem na nossa Igreja e sociedade. Um dos meus temas espirituais favoritos vem dos escritos e dos ensinamentos do Pe. Henri Nouwen, que disse: “Nós tendemos a ser compassivos na medida em que sofremos a Paixão em nossas próprias vidas”.
Quando olho para trás, para aqueles dias em que estava no “armário”, sou muito grato porque, através do dom do Espírito, aquela porta do armário foi escancarada. Através desse dom, eu pude me tornar a pessoa que Deus pretendia que eu fosse. Se eu tenho algum arrependimento? Nenhum! Nos últimos 14 anos, eu aguardo ansiosamente pelo dia 25 de março, Festa da Anunciação do Senhor, como o dia em que um anjo sussurrou no meu ouvido: “Fred, ‘não tenha medo’”.
Naquele dia, o amor derrotou o medo nas minhas relações com Deus, com meus vizinhos e comigo mesmo. Muitas vezes, com gratidão, eu reflito sobre as palavras: “Estamos tão doentes quanto os nossos segredos”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Papa na Vigília Pascal: em meio ao silêncio, as pedras começam a gritar
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Em sua homilia na celebração da Vigília Pascal, o Papa Francisco nos interpela: "Queremos participar neste anúncio de vida ou ficaremos mudos perante os acontecimentos?”.
Cidade do Vaticano (31/03/2018)
O Papa Francisco presidiu na Basílica Vaticana na noite deste Sábado Santo, à solene celebração da grande Vigília Pascal. Durante a celebração foram batizados oito catecúmenos, provenientes da Albânia, Itália, Peru, Nigéria e Estados Unidos.
A cerimônia teve início no átrio da Basílica, com a celebração da Luz, a bênção do fogo e a preparação do Círio Pascal.
Após a procissão até ao altar da Cátedra, Francisco proclamou solenemente o anúncio da Ressurreição do Senhor, enquanto fiéis, com velas acesas, o acompanhavam o Canto Exultet.
A seguir, com o Canto do Glória e a Liturgia da Palavra, o Santo Padre continuou o rito da Vigília Pascal com a celebração da Santa Missa, durante a qual pronunciou sua homilia.
Francisco partiu do significado da rito pascal, comentando o silêncio dos discípulos de Jesus, pela condenação à morte do seu Senhor, diante da qual ficaram sem palavras, por causa das injustiças, calúnias e falsos testemunhos.
Durante as horas difíceis e dolorosas da Paixão, os discípulos experimentaram, de forma dramática, a sua incapacidade de arriscar e de defender o Mestre, a ponto de renegá-lo e fugir. E o Papa explicou:
“Esta é a noite do silêncio do discípulo que se sente enrijecido e paralisado, sem saber para onde ir diante de tantas situações dolorosas que o oprimem e envolvem. É o discípulo de hoje, emudecido diante de uma realidade que se lhe impõe, diante da qual acredita que nada se pode fazer para vencer as tantas injustiças. O discípulo fica perplexo, emudecido e ofuscado. Em meio aos nossos silêncios, as pedras começam a gritar”.
De fato, disse Francisco, a pedra do sepulcro gritou e, com o seu grito, anunciou a todos um novo percurso: o triunfo da Vida! Ela foi a primeira a entoar um canto de louvor e entusiasmo, de júbilo e esperança, do qual, hoje, todos participamos.
Com as mulheres, discípulas de Jesus, somos chamados, hoje, a contemplar o túmulo vazio e ouvir as palavras do anjo: «Não tenhais medo! Ele ressuscitou!»:
“O túmulo vazio quer desafiar, mover, interpelar, mas, sobretudo, encorajar-nos a crer e confiar que Deus se faz presente em qualquer situação e em qualquer pessoa. Cristo Ressuscitou da morte! A expectativa das mulheres nos tornam partícipes da obra de salvação. O anúncio da Ressurreição sustenta a nossa esperança, transforma as nossas ações, renova a nossa fé, ressurge a nossa esperança cristã”.
A pedra do sepulcro – concluiu Francisco - desempenhou o seu papel e as mulheres fizeram a sua parte. Agora, o convite é dirigido a nós:
“Convite a quebrar os hábitos rotineiros, renovar a nossa vida, as nossas escolhas e a nossa existência; convite que nos é dirigido na situação em que nos encontramos, naquilo que fazemos e somos; com a «quota de poder» que temos. Queremos participar neste anúncio de vida ou ficaremos mudos perante os acontecimentos?”.
“Não está aqui, ressuscitou! – exclamou o Papa ao concluir. E espera por ti na Galileia, convida-te a voltar ao tempo e lugar do primeiro amor, para te dizer: «Não tenhas medo, segue-Me»”. Fonte: http://www.vaticannews.va
Homem invade palco e dá golpe de capacete para salvar 'Jesus' em peça teatral
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Tudo corria bem durante uma encenação da Paixão de Cristo no município de Nova Hartz, no Rio Grande do Sul, até que um "soldado romano" entra em cena e machuca "Jesus Cristo" com uma "lança". Neste momento, para surpresa de todos os presentes, um homem invade o palco e dá um golpe de capacete na nuca do "soldado". O momento inusitado ocorreu na última Sexta-feira Santa, 30.
De acordo com o jornal Panorama, da região do Vale do Paranhana, após a primeira agressão, o invasor ainda trocou socos com outro ator e acabou rendido por outros participantes da peça no próprio palco.
Um irmão do agressor apareceu no local e explicou que ele sofreria de surtos psicóticos e teria acompanhamento de medicamentos. Os atores agredidos registraram um boletim de ocorrências. Fonte: http://www.correio24horas.com.br
SENHOR MORTO: Ritual-01
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SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO EM SALVADOR: Imagens do ritual diante do Senhor Morto na Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo de Salvador- BA. Logo mais às 15h, Celebração da Paixão seguida pela grande procissão pelas ruas do centro histórico.
SEMANA SANTA COM O PAPA: Francisco no cárcere de Regina Caeli: toda pena deve ser aberta à esperança
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Sem transmissão ao vivo, o Pontífice celebrou a Missa da Ceia do Senhor na prisão de Regina Caeli. Após a homilia, Francisco lavou os pés de 12 detentos, entre os quais católicos, muçulmanos, um ortodoxo e um budista.
Cidade do Vaticano
Entre os encarcerados da prisão romana de Regina Caeli o Papa Francisco celebrou nesta Quinta-feira Santa a Missa da Ceia do Senhor, com o rito do Lava-pés.
A cerimônia foi feita em caráter reservado, sem transmissão ao vivo pela televisão.
Antes da celebração, o Papa visitou a enfermaria, para saudar os detentos doentes. Já em sua homilia, Francisco recordou o costume daquele tempo, de os escravos lavarem os pés dos hóspedes antes de entrarem à casa.
“Era o trabalho dos escravos, mas era também um serviço. E Jesus quis fazer este serviço para nos dar um exemplo de como devemos servir uns aos outros.”
Jesus pede aos discípulos que não façam como os chefes das nações, reis e imperadores, que eram servidos pelos escravos. “Entre vocês isso não deve acontecer. Quem comanda deve servir. Jesus inverte o costume histórico, cultural daquela época e também de hoje. Quem comanda, para ser um bom patrão, seja onde estiver, tem que servir. ”
Pensando na história, acrescentou o Papa, se muitos reis, imperadores e chefes de estado tivessem compreendido esse ensinamento de Jesus, muitas guerras teriam sido evitadas.
Serviço
Francisco prosseguiu recordando o modo amoroso de agir de Cristo. Às pessoas que sofrem, descartadas pela sociedade, Jesus vai e diz: você é importante para mim. Jesus aposta em cada um de nós. “Jesus se chama Jesus, não Pôncio Pilatos. Jesus não sabe lavar as mãos, sabe somente arriscar”, afirmou o Pontífice.
“Eu sou pecador como vocês, mas hoje represento Jesus. Sou embaixador de Jesus. Quando eu me ajoelho diante de cada um de vocês, pensem: Jesus apostou neste homem, um pecador, para vir até mim e dizer que me ama. Este é o serviço, este é Jesus. Jamais nos abandona, jamais se cansa de nos perdoar, nos ama muito”.
A Lava-pés
cerimônia prosseguiu com o rito do lava-pés a 12 homens provenientes de sete países: quatro italianos, dois filipinos, dois marroquinos, um moldavo, um colombiano, um nigeriano e um de Serra Leoa.
Oito são de religião católica, dois muçulmanos, um ortodoxo e um budista.
No momento do abraço da paz, o Papa improvisou mais algumas palavras para dizer que em nosso coração vivemos sentimentos contrastantes. É fácil estar em paz com quem queremos bem, mas é mais difícil com que nos ofendeu e a quem ofendemos.
“Peçamos ao Senhor, em silêncio, a graça de dar a todos, bons e maus, o dom da paz”, convidou o Santo Padre.
Esperança
Além da saudação aos doentes e a celebração da missa, a visita ao cárcere de Regina Caeli previa também um encontro com outros detentos e a saudação aos diretores e funcionários.
Como em outras ocasiões, Francisco reiterou que não se pode conceber uma prisão sem a dimensão da esperança, da recuperação e da ressocialização:
“Aqui os hóspedes estão para aprender, para semear esperança: não existe qualquer pena justa – justa! – sem que seja aberta à esperança. Uma pena que não seja aberta à esperança não é cristã, não é humana!”
O Papa falou ainda da pena de morte, que não é humana nem cristã justamente porque a condenação se insere num horizonte de esperança.
“Água de ressurreição, olhar novo, esperança: é isso que desejo a vocês.” Fonte: http://www.vaticannews.va
CARMO DE SALVADOR: Adoração.
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Imagens da Missa da Instituição da Eucaristia e Lava-Pés com Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, na Igreja da Ordem Primeira do Carmo em Salvador- BA. No vídeo, momento de Adoração. Convento do Carmo de Salvador- BA. 29 de março-2018.
SEMANA SANTA-2018: A Morte de Jesus segundo Marcos
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
No Calvário, estamos diante de um ser humano torturado, excluído da sociedade, condenado como herético e subversivo por três tribunais: religioso, civil e militar. Ao pé da cruz, pela última vez, as autoridades religiosas confirmam a sentença: trata-se realmente de um rebelde fracassado, e o renegam publicamente (Mc 15,31-32). Pendurado na cruz, privado de tudo, Jesus grita “Eli, Eli!”. O soldado pensava: “Ele está chamando por Elias!” (Mc 15,35) Os soldados eram todos estrangeiros, mercenários. Não entendiam a língua dos judeus. O homem pensava que Eli fosse o mesmo que Elias. Assim, pendurado na cruz, Jesus está num isolamento total. Mesmo que quisesse falar com alguém, não teria sido possível. Ninguém o entenderia. Seria o mesmo que falar português para quem só entende inglês. Ele ficou totalmente só: Judas o traiu, Pedro o negou, os discípulos fugiram, as autoridades zombam dele, os transeuntes caçoam, e nem a língua que ele fala serve mais para se comunicar.
As mulheres amigas tinham que ficar de longe, observando, sem poder fazer nada (Mc 15,40). Isolado, sem qualquer possibilidade de comunicação humana, Jesus se sente abandonado até pelo Pai: “Meu Deus! Meus Deus! Por que me abandonaste?” (Mc 15, 34). E soltando um grito, ele morre!
É assim que morre o Messias Servo! Foi este o preço que Jesus pagou pela sua fidelidade à opção de seguir sempre pelo caminho do serviço para resgatar seus irmãos e suas irmãs, para que, de novo, pudessem recuperar o contato com Deus e viver na fraternidade. Mas foi exatamente nesta hora da morte, a hora em que tudo desmoronava, que um novo sentido renasceu das cinzas.
A morte de Jesus foi uma vitória! Aquela sua obediência radical até à morte, a morte de cruz, no total abandono de uma Noite Escura sem igual, fez explodir as amarras que escondiam a sua identidade. A cortina do templo, símbolo do poder que condenou Jesus, rasgou de alto a baixo. O sistema que isolava Deus no Templo, longe da vida do povo, estava encerrado. O centurião, um pagão, que fazia a guarda, faz uma solene profissão de fé: “Verdadeiramente, este homem era filho de Deus!” (Mc 15,39) Ele descobre e aceita o que os discípulos não foram capazes de descobrir e de aceitar, a saber, reconhecer a presença do Filho de Deus num ser humano crucificado
Quem quer encontrar, verdadeiramente, o Filho de Deus, não deve procurá-lo no alto, num céu distante, mas deve olhar ao seu lado, para o ser humano excluído, torturado, desfigurado, sem beleza, e para aqueles e aquelas que, como Jesus, doam sua vida pelos irmãos. É lá que o Deus de Jesus se esconde, se revela e nos atrai, e é lá que ele pode ser encontrado. É lá que está a imagem desfigurada do Filho de Deus, dos filhos e filhas de Deus. “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão!”
SEMANA SANTA-2018: Diga não à morte
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Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Superior Geral da Ordem do Carmo
Somos o povo da ressurreição. A ressurreição é o “sim” de Deus à vida. Se queremos dizer “sim” à vida, devemos dizer “não” à morte em todas as suas formas. Dizer “não” à morte começa exatamente quando dizemos “não” a qualquer forma de violência física. Isso requer um profundo compromisso com as palavras de Jesus: “Não julgueis” (Lc 6,37). Requer dizer “não” à toda violência do coração e da mente (Mt 5,22).
O julgamento que faço das pessoas é uma forma de morte moral (Rm 14,4). Quando julgo outros seres humanos, rotulo-os, coloco-os em categorias fixas e mantenho-os à uma distância segura de mim mesmo para que eu não entre num verdadeiro relacionamento humano com eles. Por meus julgamentos divido meu mundo entre aqueles que são bons e aqueles que são maus e, assim, brinco de Deus. Mas todos que brincam de Deus terminam agindo como o diabo. As palavras de Jesus vão direto ao coração de nossa luta: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam” (Lc 6,27-28).
Meu inimigo não merece de mim ira, rejeição, ressentimento ou desprezo, mas o meu amor (Mt 5,44-45). Somente um coração amoroso, um coração que continua a afirmar sempre a vida, pode dizer “não” à morte sem ser corrompido por ela.
O aumento da fome e da pobreza no mundo, as guerras que sempre acontecem nos oferecem muitas razões para temer, até desesperar. Quando ouvimos as vozes da morte ao nosso redor vemos os inúmeros sinais da superioridade dos poderes da morte. Fica difícil acreditar que a vida é realmente mais forte do que a morte. No entanto, deve ter sido difícil acreditar num futuro brilhante naquela primeira Sexta-Feira Santa.
Nosso Deus é um Deus de surpresas. Se dissermos “não” à morte em todas as suas formas, podemos ter a impressão de estar do lado perdedor. Na verdade, às vezes pode parecer que estamos sós, mas não estamos. Existe todo um exército de pessoas sem importância aos olhos do mundo, orando e trabalhando pela paz. Essas pessoas permitem que Deus transforme suas vidas a partir de dentro, para tirar de seus corpos o coração de pedra e substituí-lo por um coração de carne, que é capaz de amar (Ez 11,19). Essas pessoas estão deixando o falso “eu” que se baseia em critérios exteriores, como por exemplo, o sucesso, a riqueza, o poder, o reconhecimento dos outros e assim por diante, e descobrindo o “eu” verdadeiro que se encontra em Deus. O verdadeiro “eu” é criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26-27) e nada pode destruí-lo.
O “eu” verdadeiro não julga os outros nem os rotula, mas vê neles um outro “eu” verdadeiro lutando por libertar-se das correntes do falso “eu”. Esse exército de pessoas pacíficas está tendo um efeito em nosso mundo. Jesus disse, “Felizes os mansos porque herdarão a terra” (Mt 5,4). O poder de nosso Deus é mais forte do que todas as armas humanas (Jz 9,7; Is 40,15). Quando esta promessa se realizará? Não sabemos, mas ela se realizará!
JESUS: PAIXÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Todos já tivemos alguma experiência das etapas ou atitudes que acabamos de percorrer: entusiasmo do início, do primeiro amor (Mc 1,16 a 6,13); momentos de desencontro e de frustração (Mc 1,35 a 8,21); necessidade de revisão, de acolhimento, de instrução e de testemunho (Mc 8,22 a 13,37). Nova e surpreendente, porém, é a última etapa que descreve a história da paixão, morte e ressurreição de Jesus (cap 14 a 16).
Geralmente, lemos a história da paixão e morte, olhando para o sofrimento de Jesus. Nós vamos olhar para saber como os discípulos reagiam diante da cruz. Pois a Cruz é a pedra de toque! Nas comunidades perseguidas da Itália, o povo vivia a sua paixão. Muitos tinham morrido no tempo de Nero, outros tinham abandonado a fé. Outros se perguntavam: “Será que vou aguentar a perseguição? Fico ou não fico na comunidade?” O cansaço estava tomando conta. E dos que tinham abandonado a fé, alguns queriam saber se podiam voltar. Queriam recomeçar a caminhada. Todos eles precisavam de novas motivações para continuar na caminhada. Precisavam de uma renovada experiência do amor de Deus que fosse maior do que a falha humana. A resposta estava no relato da Paixão e morte. Lá, onde se descreve a maior derrota dos discípulos, está escondida também a maior das esperanças!
Vamos olhar no espelho destes capítulos, para ver como os discípulos e as discípulas reagiam diante da Cruz e como Jesus reagia diante das infidelidades e fraquezas dos discípulos. Vamos descobrir, nas linhas e nas entrelinhas, como o evangelista vai animando a fé das comunidades perseguidas e como vai apontando quem é realmente discípulo fiel de Jesus.
Marcos 14,1-2: O pano de fundo: conspiração contra Jesus.
Em Jerusalém, no fim da atividade missionária, Jesus é aguardado pelos que detêm o poder: Sacerdotes, Anciãos, Escribas, Fariseus, Herodianos, Saduceus, Romanos. Eles têm o controle da situação. Não vão permitir que Jesus, um carpinteiro agricultor lá do interior da Galileia, provoque desordem. A morte de Jesus já estava decidida por eles (Mc 11,18; 12,12). Jesus era um homem condenado. Agora vai realizar-se o que ele mesmo tinha anunciado aos discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue e morto” (cf. 8,31; 9,31; 10,33).
Se a história da paixão acentua a derrota e o fracasso dos discípulos, não é para provocar desânimo nos leitores. Não! Mas sim para ressaltar que o acolhimento e o amor de Jesus superam a derrota e o fracasso dos discípulos!
Marcos 14,3-9: Atitude da discípula diante da cruz
Uma mulher, cujo nome não foi lembrado, unge Jesus com um perfume caríssimo (14,3). Os discípulos criticam o gesto dela. Achavam que era um desperdício (14,4-5). Mas Jesus a defende: “Por que vocês aborrecem esta mulher? Ela praticou uma ação boa para comigo. Ela se antecipou a ungir meu corpo para o enterro” (14,6.8). Naquele tempo, quem morria na cruz não costumava ter enterro nem podia ser embalsamado. Sabendo disso, a mulher se antecipou e ungiu o corpo de Jesus antes da condenação e da crucifixão. Com este gesto, ela mostrava que aceitava Jesus como o Messias Servo a ser morto na cruz. Jesus entendeu o gesto dela e o aprovou. Pedro tinha recusado o Messias Crucificado (Mc 8,32). Esta mulher anônima é a discípula fiel, modelo para os discípulos que não tinham entendido nada. É modelo para todos, “em todo mundo” (14,9).
Marcos 14,10-31: Atitude dos discípulos diante da Cruz
Marcos 14,10-11. Judas decide trair Jesus. Em contraste total com a mulher, Judas, um dos doze, resolve trair Jesus e conspira com os inimigos que lhe prometem dinheiro. Ele continua convivendo, mas apenas com o objetivo de achar uma oportunidade para entregar Jesus. Da mesma maneira, na época em que Marcos escrevia o seu evangelho, havia discípulos que apenas aguardavam uma oportunidade para abandonar a comunidade que lhes trazia tanta perseguição. Ou, quem sabe, talvez esperassem obter até alguma vantagem entregando seus companheiros e companheiras. E hoje?
Marcos 14,12-16. Preparação da Ceia Pascal. Jesus sabe que vai ser traído. Apesar da traição por parte do amigo, ele faz questão de confraternizar com os discípulos na última Ceia. Ele deve ter gastado bastante dinheiro para poder alugar “aquela sala ampla, no andar superior, arrumada com almofadas” (Mc 14,15). A cidade estava superlotada de romeiros por causa da festa. Era difícil encontrar um lugar.
Marcos 14,17-21. Anúncio da Traição de Judas. Estando reunido pela última vez, Jesus anuncia que um dos discípulos vai traí-lo, “um de vocês que come comigo!”(14,18). Este jeito de falar de Marcos acentua o contraste. Para os judeus, o comer juntos, a comunhão de mesa, era a expressão máxima de intimidade e de confiança. Assim, nas entrelinhas, Marcos sugere para os leitores: a traição será feita por alguém muito amigo, mas o amor de Jesus é maior que a traição!
Marcos 14,22-25. A celebração da Ceia Pascal. Jesus fez um gesto de partilha. Distribuiu o pão e o vinho como expressão da doação de si e convidou os amigos a tomar o seu corpo e o seu sangue. O evangelista colocou este gesto de doação (Mc 14,22-25) entre o anúncio da traição (Mc 14,17-21) e o da fuga e da negação (Mc 14,26-31). Deste modo, acentuando o contraste entre o gesto de Jesus e o dos discípulos, ele destaca, para as comunidades daquele tempo e para todos nós, a inacreditável gratuidade do amor de Jesus, que supera a traição, a negação e a fuga dos amigos.
Marcos 14,26-28. O anúncio da fuga de todos. Terminada a ceia, saindo com seus amigos para o Horto, Jesus anuncia que todos vão abandoná-lo. Vão fugir e dispersar! Mas desde já ele avisa: “Depois da ressurreição, vou na frente de vocês lá na Galileia!” (14,28) Eles rompem com Jesus, mas Jesus não rompe. Ele continua esperando por eles no mesmo lugar, lá na Galileia, onde, três anos antes, os tinha chamado pela primeira vez. A certeza da presença de Jesus na vida do discípulo é mais forte que o abandono e a fuga! A volta é sempre possível.
Marcos 14,29-31. O anúncio da negação de Pedro. Simão, que tem o apelido de Cefas (pedra), é tudo menos pedra. Ele já foi Satanás para Jesus (Mc 8,33), e agora pretende ser o discípulo mais fiel de todos. “Ainda que todos se escandalizem, eu não o farei!”(Mc 14,29). Mas Jesus avisa: Pedro, você será mais rápido na negação do que o galo no canto!
Marcos 14,32-52: Atitude dos discípulos no Horto
Marcos 14,32-42. A atitude dos discípulos durante a agonia de Jesus. No Horto, Jesus entra em agonia e pede a Pedro, Tiago e João para rezar com ele. Ele está triste, começa a apavorar-se e busca apoio nos amigos. Mas eles dormem. Não foram capazes de vigiar uma hora com ele. E isto por três vezes! Novamente, o contraste entre a atitude de Jesus e a dos discípulos é grande e proposital! É aqui no Horto, na hora da agonia de Jesus, que se desintegra a coragem dos discípulos. Não sobra mais nada!
Marcos 14,43-52. A atitude dos discípulos durante a prisão de Jesus. Na calada da noite, chegam os soldados. Judas na frente. O beijo, sinal de amizade, torna-se o sinal da traição. Judas não teve a coragem de assumir a traição. Disfarçou! Na hora da prisão, Jesus se mantém calmo, senhor da situação. Ele tenta ler o sentido do acontecimento: “É para que se cumpra a Escritura!” (14,49) Mas não adiantou para os discípulos. Todos o abandonaram e fugiram (14,50). Não sobrou ninguém. Jesus ficou só!
Marcos 14,53-15,20: O processo: as visões de Messias.
Marcos 14,53-65. Condenação de Jesus pelo Supremo Tribunal. Jesus é levado para o tribunal dos Sumos Sacerdotes, dos Anciãos e dos Escribas, o Sinédrio. Acusado por falsos testemunhos, ele se cala. Sem defesa, é entregue nas mãos dos seus inimigos. Assim ele realiza o que foi anunciado por Isaías a respeito do Messias Servo, que foi preso, julgado e condenado como uma ovelha sem abrir a boca (cf. Is 53,6-8). Interrogado, Jesus assume ser o Messias: “Eu sou!”, mas o assume sob o título de Filho do Homem (Mc 14,62). E no fim, ele é esbofeteado por pessoas que o ridicularizam como Messias Profeta (Mc 14,65).
Marcos 14,66-72. A negação de Pedro. Reconhecido pela empregada como um dos que estavam no Horto, Pedro nega Jesus. Chegou a negá-lo com juramento e maldição. Nem desta vez ele não foi capaz de assumir Jesus como o Messias Servo que entrega sua vida pelos outros. Mas quando o galo cantou pela segunda vez, ele se lembrou da palavra de Jesus e começou a chorar. É o que acontece a quem tem os pés junto do povo, mas a cabeça perdida na ideologia dos herodianos e fariseus. Provavelmente, era esta a situação de muitos nas comunidades no tempo em que
Marcos escreveu o seu evangelho. E hoje?
Marcos 15,1-20. Condenação de Jesus pelo poder romano. O processo segue o seu rumo. Jesus é entregue ao poder dos romanos e por eles condenado sob a acusação de ser o Messias Rei (Mc 15,2; cf. 15,25). Outros propõem a alternativa de Barrabas, “preso com outros revoltosos” (Mc 15,7). Estes veem em Jesus um Messias Guerrilheiro anti-romano. Depois de condenado, Jesus é cuspido no rosto, mas não abre a boca. Aqui, novamente, aparece o Messias Servo anunciado por Isaías (cf Is 50, 6-8).
Marcos 15,21-39: Diante da Cruz de Jesus no Calvário
Marcos 15,21-22. Simão carrega a cruz. Enquanto Jesus é levado para ser crucificado, Simão de Cirene, um pai de família, é obrigado a carregar a Cruz. Simão é o discípulo ideal que caminha na Estrada de Jesus. Ele, literalmente, carrega a cruz atrás de Jesus até o Calvário.
Marcos 15,23-32. A crucifixão. Jesus é crucificado como um marginal ao lado de dois ladrões. Novamente, o evangelho de Marcos evoca a figura do Messias Servo, do qual Isaías afirma: “Deram-lhe sepultura com os criminosos” (Is 53,9). Como crime é indicado “Rei dos judeus!” (15,25) As autoridades religiosas caçoam de Jesus e dizem: “Desça da cruz, para que vejamos e possamos crer!”(15,32). Eles são como Pedro. Aceitariam Jesus como Messias, se ele não estivesse na Cruz. “Eles queriam um grande rei que fosse forte, dominador, e por isso não creram nele e mataram o Salvador”.
Marcos 15,33-39. A morte de Jesus. Abandonado por todos, Jesus solta um grito e morre. O centurião, um pagão, que fazia a guarda, faz uma solene profissão de fé: “Verdadeiramente, este homem era filho de Deus!” Um pagão descobre e aceita o que os discípulos não foram capazes de descobrir e aceitar, a saber, reconhecer a presença do Filho de Deus num ser humano torturado, excluído e crucificado. Como a mulher anônima no começo destes dois capítulos(14,3-9), assim, agora no fim, aparece um outro discípulo modelo. É o centurião, um pagão!
Marcos 15,40-16,8: Diante do sepulcro de Jesus
Mc 15,40-47. O enterro de Jesus. Um grupo de mulheres fica olhando de longe: Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé. Elas não fugiram. Continuaram fiéis, até o fim. É deste pequeno grupo que vai nascer o novo no domingo de Páscoa. Elas acompanham José de Arimatéia que pediu licença para enterrar Jesus. No fim, duas delas, Madalena e Maria, continuam perto do sepulcro fechado.
Mc 16,1-8. O anúncio da ressurreição. No primeiro dia da semana, bem cedo, as mesmas três foram ungir o corpo de Jesus. Mas encontraram o sepulcro aberto. Um anjo disse que Jesus tinha ressuscitado e lhes deu esta ordem: “Vão dizer aos seus discípulos e a Pedro que ele vai na frente deles na Galileia. Lá vocês vão vê-lo como ele mesmo tinha dito”(16,7). Na Galileia, à beira do lago, onde tudo tinha começado, é lá que vai recomeçar tudo de novo. É Jesus que convida! Ele não desiste, nem mesmo diante da desistência dos discípulos! Chama de novo! Chama sempre!
O Fracasso final como novo apelo
Esta é a história da paixão, morte e ressurreição de Jesus, vista a partir dos discípulos e das discípulas. A frequência com que nela se fala da incompreensão e do fracasso dos discípulos corresponde, muito provavelmente, a um fato histórico. Mas o interesse principal do evangelista não é contar o que aconteceu no passado, mas sim provocar uma conversão nos cristãos do seu tempo e despertar em todos uma nova esperança, capaz de superar o desânimo e a morte.
No Calvário, na hora da morte de Jesus, estamos diante de um ser humano que foi torturado, excluído da sociedade, condenado como herético e subversivo pelo tribunal civil, militar e religioso. Ao pé da cruz, as autoridades religiosas confirmam, pela última vez, que se trata realmente de um rebelde fracassado, e o renegam publicamente (15,31-32). Pendurado na cruz, privado de tudo, Jesus grita “Eli, Eli!”, isto é, “Meu Deus! Meu Deus!”. O soldado pensava: “Ele está chamando por Elias!” (15,35) (Os soldados eram estrangeiros. Não entendiam a língua dos judeus. O homem pensava que Eli fosse o mesmo que Elias.) Isolado e incomunicável na cruz, privado de qualquer tipo de comunicação humana, Jesus se sente abandonado até pelo Pai: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (15, 34). E soltando um grito, ele morre! Lá do Templo Deus ouviu o grito! O véu se rompeu (cf Sl 18,7). Tudo mudou!
É nesta hora da morte, que um novo sentido renasce das cinzas, revelado por um pagão: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (15,39). Se você quiser encontrar, verdadeiramente, o Filho de Deus, não o procure no alto, num céu distante, mas procure-o ao seu lado, no ser humano excluído, torturado, desfigurado, sem beleza. Procure-o naquele que doa sua vida pelos irmãos. É lá que a divindade se esconde e que ela pode ser encontrada. É lá que está a imagem desfigurada de Deus, do Filho de Deus, dos filhos de Deus. “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão!”
É assim que morre o Messias Servo! Foi este o preço que Jesus pagou pela sua fidelidade à opção de seguir sempre pelo caminho do serviço para resgatar seus irmãos. Ele mesmo disse: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (10,45). Aqui alcançamos o ponto de chegada da Estrada de Jesus. Caminhamos na Estrada de Jesus!
Jesus morre como um pobre, gritando, pois sabe que Deus escuta o clamor dos pobres (cf. Ex 2,24; 3,7; 22,22.26; etc). E de fato, “Deus o escutou” (Hb 5,7) e “o exaltou” (Fil 2,9). A ressurreição é a resposta do Pai à fidelidade de Jesus. Pela ressurreição de Jesus o Pai anuncia ao mundo inteiro esta Boa Notícia: “Quem vive a vida servindo como Jesus, é vitorioso e viverá para sempre, mesmo que morra ou que o matem!” Esta é a Boa Nova do Reino que nasce da cruz! Aqui alcançamos o ponto onde recomeça a Estrada de Jesus! Caminhamos na Estrada de Jesus!
A chave para entender este grande mistério da fé e da vida, os primeiros cristãos a encontravam no Antigo Testamento, sobretudo nos escritos de Isaías, onde se descreve a missão do povo que sofre no cativeiro. Isaías já dizia e anunciava:
2 O Servo cresceu diante de Deus como uma destas plantas secas lá do sertão.
Não tinha graça nem beleza
para a gente ficar olhando para ele.
Não era atraente para a gente poder gostar dele.
3 Era desprezado, ninguém gostava de tratar com ele.
Homem das dores, acostumado a sofrer.
A gente desviava o rosto para não vê-lo.
Deixava-o de lado e não fazia caso dele.
4 Mas eram nossas as dores que ele carregava,
nossos os sofrimentos que ele suportava.
E nós o considerávamos como um leproso,
ferido por Deus e humilhado por ele.
5 Na realidade, ele estava sendo castigado por nossos crimes, esmagado por nossas faltas.
O castigo que nos traz a paz caiu sobre ele,
nas suas chagas encontramos nossa cura.
6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas,
cada qual seguindo o seu caminho.
E o Senhor carregou sobre ele os crimes de todos nós.
7 Maltratado resignou-se, e não abria a boca.
Como um cordeiro que se deixa levar ao matadouro.
Como uma ovelha de que se corta a lã,
ele ficava mudo e não abria a boca.
8 Sem defesa e sem julgamento, foi levado embora.
Não havia ninguém para defendê-lo.
Sim, ele foi arrancado do mundo dos vivos,
foi ferido por causa dos crimes do seu povo.
9 Foi enterrado junto com os criminosos,
e recebeu sepultura entre malfeitores,
ele que nunca cometeu crime algum
e que nunca disse uma só mentira!
10 Oh! Senhor,
que o teu Servo, quebrado pelo sofrimento,
possa agradar-te! Aceita a sua vida como resgate!
Que ele possa ver os seus descendentes, ter longa vida,
e que o teu Projeto se realize por meio dele!” (Is 53,2-10)
“Eu vejo Jesus”: as vozes dos jovens autores da Via Sacra no Coliseu
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Entramos na escola Albertelli de Roma, onde estudam alguns dos jovens que o Papa Francisco pediu para escrever as meditações da Via Sacra deste ano. Greta, 18 anos: em Jesus sem roupa, vejo os migrantes que perdem tudo e depois são despojados também de sua dignidade. Andrea Monda, professor de religião: eles precisam de adultos críveis, que saibam escutá-los, mas também que lhes permitam se exprimir”.
Alessandro Di Bussolo, Silvonei José – Cidade do Vaticano
Na Sexta-feira Santa, o Papa Francisco, os fiéis reunidos no Coliseu, e milhões de telespectadores conectados em todo o mundo reviverão a Paixão de Cristo ajudados pelas suas meditações nas 14 estações da Via Sacra: são jovens de 16 a 20 anos coordenados por Andrea Monda, professor de religião jornalista e escritor. Entramos na escola Albertelli de Roma e conversamos com quatro delas, quatro jovens que estão se preparando para a Universidade.
Nos textos da Via Sacra no Coliseu, a interioridade da juventude de hoje
Cecilia Nardini, que escreveu a meditação da sexta estação, “Verônica enxuga o rosto de Jesus”, nos diz que a mulher no Gólgota não presta atenção ao rosto deformado de Cristo, mas o ajuda, enquanto no mundo de hoje as aparências são o que nos fazem julgar uma pessoa. Sofia Russo, a colega que meditou sobre o encontro de Jesus com as mulheres, da oitava estação, conta que não gosta da falta de clareza que existe também entre “nós jovens, enquanto me chama a atenção - disse - como Jesus adverte as mulheres não para julgá-las, mas para trazê-las de volta ao caminho certo”.
Conversamos depois com Greta Giglio, que refletiu sobre a décima estação e sobre Jesus, que é despojado de suas vestes antes da crucificação. Em Jesus privado de tudo, até da roupa, - diz a jovem -, vejo as pessoas que vêm até nós, “muitas vezes privadas de suas casas e de todos os seus bens, e quando chegam aqui, também da dignidade”. Enfim, para Greta Sandri, que meditou sobre Jesus pregado na Cruz, a décima primeira estação, perguntamos o que ela teria feito se realmente estivesse em Jerusalém naquele dia. “Condicionada pela multidão - ela confidencia - acho que também eu o teria condenado, e depois me arrependeria. Talvez não teria a força para ver imediatamente a verdade”.
Na conclusão, falamos também com Andrea Monda, que coordenou o trabalho dos 15 autores, doze moços e três moças. “Eles estão sozinhos em um mundo que os bombardeia com mensagens e imagens - nos diz - e precisam de adultos críveis, que saibam escutá-los, mas também que lhes permitam de se exprimir”. Fonte: http://www.vaticannews.va
SEMANA SANTA COM O PAPA: Lava-pés na prisão: o Papa nos Gólgotas modernos
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Papa Francisco mantém a tradição e celebra a Missa da Ceia do Senhor, com o rito do lava-pés, entre os encarcerados. Ouça o comentário do Pe. Gianfranco Graziola, vice-coordenador da Pastoral Carcerária Nacional.
Cidade do Vaticano
Cárcere para Menores "Casal del Marmo", Novo Pavilhão do Presídio de Rebibbia, Centro para requerentes de Asilo em Castelnuovo di Porto, Casa de Reclusão de Paliano, Prisão de Regina Caeli.
Também este ano a tradição se repete: o Papa celebra a Santa Missa em Coena Domini nos “Gólgotas modernos”, como os define o vice-coordenador da Pastoral Carcerária, Pe. Gianfranco Graziola. O local onde diariamente nossos irmãos e irmãs são crucificados, condenados à morte e executados:
Papa Francisco escolheu realizar novamente o “Lava-pés” num estabelecimento prisional, o de Regina Coeli em Roma. Aparentemente, pode parecer um simples ato que nestes últimos anos faz parte do calendário das celebrações litúrgicas da Semana Santa do Bispo de Roma.
Na realidade, a opção de Francisco continua incomodando e questionando os puritanos da liturgia que não veem com bons olhos este gesto que, em sua profundidade, questiona a liturgia espetáculo no qual infelizmente se transformaram muitas de nossas celebrações, reduzindo a própria mensagem evangélica a individualismo, sentimentalismo, ou como ele próprio frequentemente repete “mundanismo”.
E como não recordar outra opção de Francisco de dar a este momento celebrativo um caráter reservado, limitando ao essencial a presença dos meios de comunicação, reafirmando um princípio importante: o do encontro com a pessoa que, na sua sacralidade, precisa ser respeitada e valorizada.
Mas existe outra mensagem importante na gestualidade e nas opções de Francisco: a de atualizar e encarnar a mensagem evangélica nas realidades periféricas de nosso tempo, e entre elas aquelas que mais questionam, como o caso dos cárceres, os “Gólgotas” modernos, onde diariamente tantos nossos irmãos e irmãs são crucificados, condenados à morte e executados.
Indo a Regina Coeli, o Papa Francisco reafirma e confirma a identidade da Igreja e das comunidades cristãs: a de uma Igreja Samaritana, Cirenea e Verônica, capaz de parar diante do sofrimento da humanidade, de ajudar a carregar o peso da dor e de expressar sua ternura enxugando suas lágrimas e limpando seu rosto ensanguentado.
Ao mesmo tempo, ele anuncia e expressa uma Igreja viva, presente na história da humanidade capaz de manifestar e comunicar ao nosso tempo e à história a vida plena de Jesus Ressuscitado.
Feliz e Santa Páscoa.
Fonte: http://www.vaticannews.va
SEMANA SANTA COM O PAPA: Francisco abre Tríduo Pascal com Missa do Crisma no Vaticano
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Concelebraram com o Pontífice cerca de mil sacerdotes, bispos e cardeais. Os sacerdotes renovaram seu compromisso; os óleos para os batizados e unção dos doentes foram abençoados e o óleo do sacramento da confirmação consagrado.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco abriu o Tríduo Pascal no Vaticano na manhã desta Quinta-feira Santa presidindo a Missa do Crisma. Os sacerdotes renovaram seu compromisso e os óleos dos Catecúmenos (usados nos batizados) e dos Enfermos (para a Unção dos doentes) foram abençoados e o óleo do Crisma (usado no sacramento do Crisma) consagrado.
Evangelizar estando sempre próximo do povo: assim como Jesus – narra o Evangelho de Lucas – o padre de hoje deve assumir este desafio e cumpri-lo. “Ser um pregador de estrada, um mensageiro de boas novas”: em sua homilia, o Papa sugeriu aos padres esta opção, que foi a de Deus:
“ A pedagogia da encarnação, da inculturação; não só nas culturas distantes, mas também na própria paróquia, na nova cultura dos jovens... ”
Estar 'sempre ' e falar com todos
Como definir um padre como “próximo” das pessoas? Para Francisco, ele deve estar “sempre” perto e “falar com todos”: com os grandes, com os pequenos, com os pobres, com aqueles que não creem... assim como o Apóstolo Filipe, pregador de estrada, que ia de terra em terra, anunciando a Boa-Nova da Palavra, inundando as cidades de alegria.
“A proximidade é a chave do evangelizador, porque é uma atitude-chave no Evangelho, mas é também a chave da verdade”, ressaltou o Papa, lembrando que esta é também fidelidade e que não devemos cair na tentação de fazer ídolos com algumas verdades abstratas. Francisco improvisou e falou da 'cultura do ajetivo', um hábito 'feio'...
“Porque a ‘verdade-ídolo’ se mimetiza, usa as palavras evangélicas como um vestido, mas não deixa que lhe toquem o coração. E, pior ainda, afasta as pessoas simples da proximidade sanadora da Palavra e dos Sacramentos de Jesus”.
O modelo da proximidade materna
E quem nos é mais próximo do que a “Mãe”? Segundo o Papa, podemos invocá-La como “Nossa Senhora da Proximidade”, que caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus, a fim de que ninguém se sinta excluído.
Francisco sugeriu para meditação três âmbitos de proximidade sacerdotal que podem ressoar com o mesmo tom materno de Maria no coração das pessoas com quem falamos: o âmbito do acompanhamento espiritual, o da Confissão e o da pregação.
Diálogo, confissão e pregação
No diálogo espiritual, o Papa mencionou modelo o encontro do Senhor com a Samaritana: que soube trazer à luz o pecado sem ensombrar a oração de adoração nem pôr obstáculos à sua vocação missionária.
A passagem da mulher adúltera foi o exemplo citado para a proximidade na Confissão: assim como Jesus, usar o tom da verdade-fiel, que permita ao pecador olhar em frente e não para trás. O tom justo do “não tornes a pecar” é o do confessor que o diz disposto a repeti-lo setenta vezes sete.
Por último, a proximidade do sacerdote no âmbito da pregação: “Quanto estamos próximos de Deus na oração e quão próximo estamos do nosso povo na sua vida diária?”. A resposta do Papa é:
“ Se te sentes longe de Deus, aproxima-te do seu povo, que te curará das ideologias que te entorpeceram o fervor. As pessoas simples te ensinarão a ver Jesus de outra maneira ”
E explicou que “o sacerdote vizinho, que caminha no meio do seu povo com proximidade e ternura de bom pastor (e, na sua pastoral, umas vezes vai à frente, outras vezes no meio e outras vezes ainda atrás), as pessoas não só o veem com muito apreço; mas vão mais além: sentem por ele qualquer coisa de especial, algo que só sente na presença de Jesus”.
A proximidade do 'sim'
Dirigindo-se diretamente aos sacerdotes, Francisco elevou uma prece a Maria, “Nossa Senhora da Proximidade” pedindo que mantenha os sacerdotes unidos no tom, “para que, na diversidade das opiniões, se torne presente a sua proximidade materna, aquela que com o seu «sim» nos aproximou de Jesus para sempre”. Fonte: http://www.vaticannews.va
O que os historiadores dizem sobre a real aparência de Jesus
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Esqueça os cabelos compridos e olhos azuis: para pesquisadores, ele tinha a pele e os olhos escuros e os cabelos curtos.
Foram séculos e séculos de eurocentrismo - tanto na arte quanto na religião - para que se sedimentasse a imagem mais conhecida de Jesus Cristo: um homem branco, barbudo, de longos cabelos castanhos claros e olhos azuis. Apesar de ser um retrato já conhecido pela maior parte dos cerca de 2 bilhões de cristãos no mundo, trata-se de uma construção que pouco deve ter tido a ver com a realidade.
O Jesus histórico, apontam especialistas, muito provavelmente era moreno, baixinho e mantinha os cabelos aparados, como os outros judeus de sua época.
A dificuldade para se saber como era a aparência de Jesus vem da própria base do cristianismo: a Bíblia, conjunto de livros sagrados cujo Novo Testamento narra a vida de Jesus - e os primeiros desdobramentos de sua doutrina - não faz qualquer menção que indique como era sua aparência.
"Nos evangelhos ele não é descrito fisicamente. Nem se era alto ou baixo, bem-apessoado ou forte. A única coisa que se diz é sua idade aproximada, cerca de 30 anos", comenta a historiadora neozelandesa Joan E. Taylor, autora do recém-lançado livro What Did Jesus Look Like? e professora do Departamento de Teologia e Estudos Religiosos do King's College de Londres.
"Essa ausência de dados é muito significativa. Parece indicar que os primeiros seguidores de Jesus não se preocupavam com tal informação. Que para eles era mais importante registrar as ideias e os papos desse cara do que dizer como ele era fisicamente", afirma o historiador André Leonardo Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do livro Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução.
Em 2001, para um documentário produzido pela BBC, o especialista forense em reconstruções faciais britânico Richard Neave utilizou conhecimentos científicos para chegar a uma imagem que pode ser considerada próxima da realidade. A partir de três crânios do século 1, de antigos habitantes da mesma região onde Jesus teria vivido, ele e sua equipe recriaram, utilizando modelagem 3D, como seria um rosto típico que pode muito bem ter sido o de Jesus.
Esqueletos de judeus dessa época mostram que a altura média era de 1,60 m e que a grande maioria deles pesava pouco mais de 50 quilos. A cor da pele é uma estimativa.
Taylor chegou a conclusões semelhantes sobre a fisionomia de Jesus. "Os judeus da época eram biologicamente semelhantes aos judeus iraquianos de hoje em dia. Assim, acredito que ele tinha cabelos de castanho-escuros a pretos, olhos castanhos, pele morena. Um homem típico do Oriente Médio", afirma.
"Certamente ele era moreno, considerando a tez de pessoas daquela região e, principalmente, analisando a fisionomia de homens do deserto, gente que vive sob o sol intenso", comenta o designer gráfico brasileiro Cícero Moraes, especialista em reconstituição facial forense com trabalhos realizados para universidades estrangeiras. Ele já fez reconstituição facial de 11 santos católicos - e criou uma imagem científica de Jesus Cristo a pedido da reportagem.
"O melhor caminho para imaginar a face de Jesus seria olhar para algum beduíno daquelas terras desérticas, andarilho nômade daquelas terras castigadas pelo sol inclemente", diz o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, professor da Universidade Federal de Alagoas e autor do livro O Código da Vinci e o Cristianismo dos Primeiros Séculos.
Outra questão interessante é a cabeleira. Na Epístola aos Coríntios, Paulo escreve que "é uma desonra para o homem ter cabelo comprido". O que indica que o próprio Jesus não tivesse tido madeixas longas, como costuma ser retratado.
"Para o mundo romano, a aparência aceitável para um homem eram barbas feitas e cabelos curtos. Um filósofo da antiguidade provavelmente tinha cabelo curto e, talvez, deixasse a barba por fazer", afirma a historiadora Joan E. Taylor.
Chevitarese diz que as primeiras iconografias conhecidas de Jesus, que datam do século 3, traziam-no como um jovem imberbe e de cabelos curtos. "Era muito mais a representação de um jovem filósofo, um professor, do que um deus barbudo", pontua ele.
"No centro da iconografia paleocristã, Cristo aparece sob diversas angulações: com o rosto barbado, como um filósofo ou mestre; ou imberbe, com o rosto apolíneo; com o pálio ou a túnica; com o semblante do deus Sol ou de humilde pastor", contextualiza a pesquisadora Wilma Steagall De Tommaso, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e do Museu de Arte Sacra de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Teologia e Ciências da Religião.
Imagens
Joan acredita que as imagens que se consolidaram ao longo dos séculos sempre procuraram retratar o Cristo, ou seja, a figura divina, de filho de Deus - e não o Jesus humano. "E esse é um assunto que sempre me fascinou. Eu queria ver Jesus claramente", diz.
A representação de Jesus barbudo e cabeludo surgiu na Idade Média, durante o auge do Império Bizantino. Como lembra o professor Chevitarese, eles começaram a retratar a figura de Cristo como um ser invencível, semelhante fisicamente aos reis e imperadores da época.
"Ao longo da história, as representações artísticas de Jesus e de sua face raras vezes se preocuparam em apresentar o ser humano concreto que habitou a Palestina no início da era cristã", diz o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
"Nas Igrejas Católicas do Oriente, o ícone de Cristo deve seguir uma série de regras para que a imagem transmita essa outra percepção da realidade de Cristo. Por exemplo, a testa é alta, com rugas que normalmente se agrupam entre os olhos, sugerindo a sabedoria e a capacidade de ver além do mundo material, nas cenas com várias pessoas ele é sempre representado maior, indicando sua ascendência sobre o ser humano normal, e na cruz é representado vivo e na glória, indicando, desde aí, a sua ressurreição."
Como a Igreja ocidental não criou tais normas, os artistas que representaram Cristo ao longo dos séculos criaram-no a seu modo. "Pode ser uma figura doce ou até fofa em muitas imagens barrocas ou um Cristo sofrido e martirizado como nas obras de Caravaggio ou Goya", pontua Ribeiro Neto.
"O problema da representação fiel ao personagem histórico é uma questão do nosso tempo, quando a reflexão crítica mostrou as formas de dominação cultural associadas às representações artísticas", prossegue o sociólogo.
"Nesse sentido, o problema não é termos um Cristo loiro de olhos azuis. É termos fiéis negros ou mulatos, com feições caboclas, imaginando que a divindade deve se apresentar com feições europeias porque essas representam aqueles que estão 'por cima' na escala social."
Essa distância entre o Jesus "europeu" e os novos fiéis de países distantes foi reduzida na busca por uma representação bem mais aproximada, um "Jesus étnico", segundo o historiador Chevitarese. "Retratos de Jesus em Macau, antiga colônia portuguesa na China, mostram-no de olhos puxados, com a forma de se vestir própria de um chinês. Na Etiópia, há registros de um Jesus com feições negras."
No Brasil, o Jesus "europeu" convive hoje com imagens de um Cristo mais próximo dos fiéis, como nas obras de Cláudio Pastro (1948-2016), considerado o artista sacro mais importante do país desde Aleijadinho. Responsável por painéis, vitrais e pinturas do interior do Santuário Nacional de Aparecida, Pastro sempre pintou Cristo com rostos populares brasileiros.
Para quem acredita nas mensagens de Jesus, entretanto, suas feições reais pouco importam. "Nunca me ocupei diretamente da aparência física de Jesus. Na verdade, a fisionomia física de Jesus não tem tanta importância quanto o ar que transfigurava de seu olhar e gestos, irradiando a misericórdia de Deus, face humana do Espírito que o habitava em plenitude. Fisionomia bem conhecida do coração dos que nele creem", diz o teólogo Francisco Catão, autor do livro Catecismo e Catequese, entre outros.
Fonte: https://g1.globo.com
Pe. Amaro é levado para mesmo presídio onde mandante do assassinato de Dorothy Stang cumpre pena no Pará
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O religioso deve cumprir prisão preventiva após investigações da Polícia Civil que apontam o envolvimento dele em oito crimes.
Investigado pela Polícia, José Amaro Lopes de Sousa - o Padre Amaro - já ingressou nesta terça-feira (27) no Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRALT), no sudoeste do Pará, onde deve cumprir prisão preventiva expedida pela Justiça. O presídio é o mesmo onde cumpre pena de 30 anos o mandante do assassinato de Dorothy Stang, o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como 'Taradão', preso em setembro de 2017 - 12 anos após o crime.
A Polícia está investigando o envolvimento do religioso, que é liderança da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará, nos crimes de associação criminosa, ameaça, esbulho possessório, extorsão, assédio sexual, importunação ofensiva ao pudor, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.
José Amaro era considerado braço direito da missionária norte americana Stang, assassinada em 2005, e deu prosseguimento ao trabalho em favor dos camponeses depois da execução dela.
Em nota, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs disse que o padre vinha sendo ameaçado de morte por proprietários de terras e que o religioso pode estar correndo risco ao ser conduzido ao mesmo presídio que Regivaldo. A Polícia, no entanto, informou que o padre deve permanecer em cela individual.
Acusações
De acordo com a decisão do juiz da Comarca de Anapu, André Monteiro Gomes, "a medida se justifica para colheita de documentos, objetos e/ou quaisquer outros elementos de prova relacionados com os delitos em apuração".
O documento cita que a prisão foi determinada para que as autoridades policiais possam levantar termos de declarações, vídeos, conversas de whatsapp, relatório de missão e reportagens, dentre outros, a fim de constituir as provas necessárias.
A Polícia suspeita que o padre tenha recebido dinheiro de fazendeiro com a finalidade de proteger uma propriedade. As transferências, que somadas chegam a R$29 mil, foram realizadas, segundo a Polícia, na conta da irmã do padre.
Em depoimento na sede da Superintendência Regional da região do Xingu, o padre disse que não sabe explicar os valores em dinheiro que aparecem em depósitos bancários feitos.
Outra acusação envolve assédio sexual contra uma vítima que, segundo as investigações, apresentou um vídeo pornográfico que teria sido gravado no quarto do padre.
A CPT disse que só vai se pronunciar após ter acesso ao inquérito policial. A advogada disse que o padre negou as acusações em depoimento à polícia e que a defesa deve pedir a revogação da prisão. Fonte: https://g1.globo.com
Prelazia do Xingu repudia acusações contra padre Amaro, preso em Anapu
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O bispo da Prelazia do Xingu (PA), dom João Muniz Alves, divulgou uma nota nesta quarta-feira, 28, manifestando “fraterna solidariedade” ao padre José Amaro Lopes de Sousa, preso na manhã de ontem. O texto, que também é assinado pelo bispo emérito do Xingu, dom Erwin Kräutler, denuncia que o sacerdote, “incansável defensor dos direitos humanos, defensor da regularização fundiária, da reforma agrária e dos assentamentos de sem-terra”, há anos é alvo de ameaças e agora “vítima de difamação para deslegitimar todo o seu empenho em favor dos menos favorecidos”.
Leia o texto na íntegra:
“O servo não é maior do que o seu senhor. Se a mim perseguiram, também vos perseguirão.” Jo 15,20
A Semana Santa começou com grande sofrimento para a Prelazia do Xingu. Fomos surpreendidos na manhã do dia 27 de março com a notícia da prisão de nosso Padre José Amaro Lopes de Sousa, pároco da paróquia de Santa Luzia de Anapu.
Manifestamos nossa fraterna solidariedade a esse incansável defensor dos direitos humanos, defensor da regularização fundiária, da reforma agrária e dos assentamentos de sem-terra. Há anos alvo de ameaças, Padre Amaro agora é vítima de difamação para deslegitimar todo o seu empenho em favor dos menos favorecidos.
Repudiamos as acusações de ele promover invasões de terras que são reconhecidas pela Justiça como terras públicas, destinadas à reforma agrária, mas se concentram ainda nas mãos de pessoas economicamente poderosas.
Padre Amaro atua desde 1998 na Paróquia Santa Luzia. É líder comunitário e coordenador da Pastoral da Terra (CPT). O assassinato da Irmã Dorothy em 12 de fevereiro de 2005 no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) “Esperança”, não mais o deixou quieto e o fez continuar a missão daquela Irmã mártir.
Acompanhamos apreensivos a investigação e elucidação dos fatos e insistimos que a verdade seja apurada com justiça e total transparência.
A Semana Santa nos recorda a Paixão e Morte do Senhor na cruz, muito mais ainda a Ressurreição de Jesus. Na Páscoa celebramos a vitória da Vida sobre a morte, mas também da Verdade sobre todas as mentiras.
Altamira, 28 de março de 2018
Dom João Muniz Alves, bispo do Xingu
Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu.
Fonte: cnbb.net.br
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