*ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: 0 Carmelo hoje
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Frei Emanuele Boaga, O. Carm.
Uma história espiritual, não se constrói exclusivamente, por mãos humanas, ainda que nela se deva empenhar totalmente o ser humano. A aventura espiritual é o resultado, apesar de não ser sempre compreensível e visível, da ação de Deus na vida de pessoas e de comunidades, ao longo dos tempos. Sua construção envolve dois parceiros em cada um dos momentos críticos, decisivos ou gozosos de seu caminho.
É Deus que vai suscitando, alimentando, conduzindo, fazendo sempre renascer sua criação:
Fendeu rochedos pelo deserto
e deu-lhes a beber em caudais de água.
Da PEDRA fez brotar torrentes
e as águas desceram em mananciais;
da rocha fez jorrar torrentes,
fez correr a água como rios. (SI 78,15).
Outro parceiro é o ser humano que, situado no tempo e no espaço, vai atuando, abrindo pistas, descortinando horizontes novos, entrevistando novos céus e novas terras, e pondo-se a seu encalço de mil formas ... em busca da Jerusalém celeste, mesmo quando ignore esta meta...
Assim acontece com a nossa história: a história do nosso Carmelo! Nascido no Monte Carmelo situado na terra do Senhor (Palestina), revela, ao longo de sua caminhada a PRESENÇA do SENHOR e o esforço de pessoas decididas a construírem o coração humano -templo santo que deve se tornar a habitação de Deus.
Cada Carmelita, cada Comunidade Carmelitana, cada geração, em cada canto do mundo, tem importante papel nesta construção, seja contribuindo para seu início, expansão e consolidação, projetando-a nas diversas épocas, seja conservando-a devidamente, renovando-a... garantindo-lhe futuro.
A Família Carmelitana se compõe de três Ordens clássicas, conforme a estrutura característica entre os Mendicantes (Fraternidades de vida apostólica, ou seja que vivem a imitação da vida dos Apóstolos no seguimento do Senhor Jesus Cristo). Em particular temos:
1 Ordem: formada pelos padres ou religiosos (os frades);
II Ordem: formada pelas monjas de estrita clausura;
III Ordem: formada por grupos variados: Congregações religiosas (as irmãs), Institutos seculares (leigos consagrados), a OTC (os terciários) e outros movimentos leigos.
Cada um destes grupos, segundo a sua própria índole, inspira-se na Regra do Carmo e é unido ao Carmelo por vínculos de amor fraterno, de espiritualidade, de esforço comum na busca do Reino de Deus e sua Justiça, em comunhão dos bens espirituais.
Podemos representar graficamente a Familia do Carmelo com o seguintes esquema:
As Ordens são grupos que vivem na osmose carismática, desenvolvendo o espírito da Regra, em seus valores e estruturas de vida. Quanto à Ordem III é preciso fazer uma distinção. Há a Ordem III Regular, aquela cujos membros vivem em conventos, fazem os votos religiosos, seguindo a orientação do Direito Canônico e do Direito Próprio (Constituição) e têm a organização da própria vida orientada pelas estruturas da mesma Regra (vida de oração, de fraternidade, vivendo em comunidade; de diaconia, no serviço aos irmãos). E comum, orientam a caminhada espiritual pelos valores e estruturas adaptadas da Regra do Carmo. A Ordem III Secular tem a formação voltada para a vida secular, com o desenvolvimento de uma espiritualidade que deve levar à encarnação de Deus nas suas estruturas de trabalho, família, lazer. Têm também os compromissos de vida orientados pela Regra do Carmo, porém levando-se em conta sua índole secular. Os votos são permitidos, mas não com as mesmas exigências e compromissos propostos aos religiosos.
Os inscritos nas Confrarias têm orientação própria à sua vida de simpatizantes do Carmelo, assumindo alguns dos valores da Família Carmelitana, especialmente a veneração e imitação de Nossa Senhora, através do uso e difusão do Escapulário.
O espírito com que foram criadas no mundo antigo estas três Ordens, e que devemos retomar espiritualmente, é o de comunhão, tal como existe no seio da Trindade e não de hierarquia, como podem sugerir os números colocados para distinção da missão de cada Ordem. Assim todos devem viver, não com espírito de superioridade ou em busca de status, mas cada categoria deve procurar compreender, aprofundar e ser fiel à própria especificidade, compreendendo e respeitando as demais, comungando, partilhando, sendo solidário no mesmo ideal. O Prior Geral deve ser o elo de unidade em toda a Família.
*DO LIVRO; COMO PEDRAS VIVAS.... para ler a HISTÓRIA e a VIDA do CARMELO. Roma 1989.
Sexta-feira 7. 1ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Despertai, Senhor, vosso poder e vinde, para que vossa proteção afaste os perigos a que nossos pecados nos expõem e a vossa salvação nos liberte. Vos que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 9, 27-31)
Naquele tempo, 27Partindo Jesus dali, dois cegos o seguiram, gritando: Filho de Davi, tem piedade de nós! 28Jesus entrou numa casa e os cegos aproximaram-se dele. Disse-lhes: Credes que eu posso fazer isso? Sim, Senhor, responderam eles. 29Então ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: Seja-vos feito segundo vossa fé. 30No mesmo instante, os seus olhos se abriram. Recomendou-lhes Jesus em tom severo: Vede que ninguém o saiba. 31Mas apenas haviam saído, espalharam a sua fama por toda a região. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
Novamente, o evangelho de hoje coloca diante de nós o encontro de Jesus com a miséria humana. Jesus não se retrai nem se esquiva. Ele acolhe as pessoas e na sua acolhida cheia de ternura revela o amor de Deus.
* Dois cegos seguem Jesus e gritam: “Filho de Davi, tem piedade de nós!”. Jesus não gostava muito deste título Filho de Davi. Ele chegou a criticar o ensinamento dos escribas que diziam que o Messias devia ser filho de Davi: “Se o próprio Davi o chama Senhor, como pode ser seu filho? (Mc 12,37).
* Chegando em casa, Jesus pergunta aos cegos: “Vocês acreditam que eu possa fazer isso?” Eles respondem: “Sim, Senhor!” Uma coisa é ter a doutrina correta na cabeça, outra é ter a fé correta no coração e nos pés. A doutrina dos dois cegos não era muito correta, pois eles chamam Jesus de Filho de Davi. Mas Jesus não se importa se o chamam assim. Ele quer saber se eles tem a fé correta.
* Ele toca nos olhos e diz: “Aconteça conforme a fé de vocês!” Imediatamente, os olhos se abriram. Apesar de não terem a doutrina correta, os dois cegos tinham uma fé correta. Hoje muita gente está mais preocupada com a doutrina correta do que com a fé correta.
* Vale a pena anotar um pequeno detalhe de hospitalidade. Jesus chega em casa e os dois cegos também entram com ele na casa dele, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eles se sentem em casa na casa de Jesus! E hoje? Uma religiosa dizia: “Hoje, a situação do mundo é tal que fico desconfiada até dos pobres!” Mudou muito, de lá para cá!
* Jesus pede para não divulgar o milagre. Mas a proibição não adiantou muito. Os dois saíram e espalharam a Boa Notícia. Anunciar o Evangelho, isto é, a Boa Notícia, é partilhar com os outros o bem que Deus nos faz na vida.
4) Para um confronto pessoal
1-Será que tenho alguma Boa Notícia de Deus na minha vida a partilhar com os outros?
2-Em que ponto eu insisto mais: em ter doutrina correta ou em ter a fé correta?
5) Oração final
Vou cantar para sempre a bondade do SENHOR; anunciarei com minha boca sua fidelidade de geração em geração. (Sal 88, 1)
ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: SOBRE O SILÊNCIO NA REGRA DO CARMO
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O silêncio no Carmelo
Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
A simplicidade falou, o amor foi escutar, era a brisa do Carmelo, com o Profeta a contemplar.
1- Zelo zelatus sum, pro Domino Deo exercituum/ Eu me consumo de zelo, dia e de noite, pelo Senhor (bia)
2- No barulho da grande cidade, na agitação do metrô/ Quem caminha sem o silêncio, jamais encontra, o meu Senhor. (bis)
3-Tem gente que grita aqui, fala alto em todo lugar/ Esse não é o carmelita, aqui o silêncio veio habitar. (bis)
4-Deus não está surdo, não adianta jamais gritar/ Ele ouve a nossa prece, atende o clamor, do pobre a chorar. (bis)
5-No rádio e na tv, no jornal ou no celular/São palavras e mais palavras, e o vazio, sempre a reinar. (bis)
6- Com Teresa e Teresinha, eu quero silenciar/ Com Madalena de Pazzi, buscando essa paz, eu vou me encontrar. (bis)
Frei Carlos Mesters, O. Carm
- Na solidão do Monte Carmelo, onde viviam os primeiros carmelitas, reinava um grande silêncio. Não havia barulho, a não ser os ruídos da própria natureza que convidam ao silêncio. Mesmo assim, a Regra recomenda com muita insistência o silêncio. Numa cidade barulhenta tem sentido insistir que se faça silêncio. Mas pedir que se faça silêncio naquela serra imensa do Carmelo, cheia de solidão, qual o sentido? Parece o mesmo que carregar água para o mar! Qual o silêncio que a Regra pede daqueles primeiros carmelitas do Monte Carmelo e, através deles, de todos nós da Família Carmelitana?
- Há muitos tipos de silêncio: o silêncio de uma sala de estudo ou de uma biblioteca; o silêncio que se pede num hospital; o silêncio da noite ou da madrugada; o silêncio da natureza, o silêncio da morte; o silêncio que precede à tempestade; o silêncio do medo; o silêncio do censurado e do povo silenciado e amordaçado; o silêncio do aluno que não sabe a resposta; o silêncio do fulano frustrado ou do jovem abafado; o silêncio do lutador derrubado; o silêncio de Deus que nunca aparece; o silêncio do místico; o silêncio da quebra interior: tudo que a pessoa tinha imaginado e planejado até àquele momento cai no vazio e se desintegra. Parece que não valeu nada. Tantos silêncios! .... Qual o silêncio que a Regra pede e recomenda? Vejamos:
- O texto da Regra sobre o Silêncio
O apóstolo recomenda o silêncio, quando manda que se trabalhe em silêncio. Do mesmo modo, o profeta afirma: "A justiça é cultivada pelo silêncio". E em outro lugar diz: “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força”.
Por isso, determinamos que, após a recitação do completório, guardem silêncio até depois da oração da manhã do dia seguinte. Quanto às demais horas, embora não tenha de ser observado um silêncio tão rigoroso, abstenham-se cuidadosamente do muito falar, porque conforme está escrito e não menos a experiência o ensina: “No muito falar não faltará o pecado; e quem fala sem refletir sentirá um mal-estar, e ainda quem fala muito prejudica sua alma. E o o Senhor no Evangelho: de toda palavra inutil que a gente disser, dela terá que dar conta no dia do juizo.
Portanto, cada um ponha moderação nas suas palavras e coloque um freio na sua boca, para não escorregar e tropeçar na língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Como diz o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua e procure diligentemente observar o silêncio, pelo qual se cultiva a justiça.
- Um pouco de história: Os motivos do silêncio invocados pela Regra
- Na Regra o silêncio é uma arma a mais a ser usada na luta espiritual. E é uma das armas mais importantes. Pois, dentro do conjunto da Regra, o capítulo sobre o silêncio (Rc 21) é como que o ponto de chegada, após as longas recomendações sobre a luta (Rc 18-19) e o trabalho (Rc 20). É o topo do Monte Carmelo, onde se chega após longa e dolorosa subida. É através do silêncio que todos os valores da vida carmelitana, aos poucos, vão sendo assimilados e encarnados na vida.
- Todas as religiões, de uma ou de outra forma, recomendam a prática do silêncio como condição necessária para o encontro com Deus. O silêncio é importante, não só para o nosso relacionamento com Deus, mas também para o relacionamento com o próximo, conosco mesmos, com a natureza e com as coisas. É importante, inclusive, para a saúde mental e corporal das pessoas.
- Silêncio é muito mais do que ausência de barulho. É o espaço onde se refaz a síntese final, onde a pessoa se possui a si mesma, onde ela conversa com Deus, onde ela se prepara para poder falar e conversar. Sem silêncio não há conversa, nem com o irmão e a irmã, nem com Deus. Pois a condição para a conversa verdadeira é saber escutar o outro. Palavras verdadeiras nascem é do silêncio.
- Silêncio é saber escutar e fazer à outra pessoa sentir que, no momento da conversa, ela, e só ela, é o absoluto diante do qual todo o resto é relativo. Isto exige uma ascese muito grande. Sobretudo, saber escutar as pessoas que sempre foram silenciadas, os pobres, tanto na sociedade como na igreja.
- Resumindo:
- O silêncio favorece a comunicação: fazer silêncio para aprender a escutar. É ascese dura: fazer silenciar tudo para dar atenção ao outro, ao pobre, ao povo, a Deus.
- O silêncio é o caminho para a maturidade. Evita a superficialidade, pois exige o recolhimento e concentração das forças da gente.
- O domínio da língua é condição para o domínio da mente e para a consciência crítica que nos revela as situações de morte que ameaçam a vida.
- O silêncio deve ter uma expressão concreta e comunitária, para que lembre a todos que o objetivo da vida fraterna é a busca de Deus e do irmão.
- O silêncio é como a solidão e a cela: não vale em primeiro lugar pelo não falar, mas pelo silêncio interior que por ele deve ser gerado.
- O ponto de partida: o controle da língua que conduz ao silêncio profético
O número 21 da Regra sobre o silêncio tem três partes: 1) Descreve o valor do silêncio; 2) Organiza o silêncio; 3) Recomenda a prática do silêncio.
(1) O Valor do silêncio:
Na primeira parte, usando frases da Bíblia, a Regra recomenda o silêncio. Ela começa lembrando a recomendação do apóstolo Paulo a respeito do trabalho em silêncio (Rc 20). Em seguida, para descrever o valor do silêncio, ela cita por inteiro duas frases do profeta Isaías: "A justiça é cultivada pelo silêncio", e “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força. Isto significa que o silêncio recomendado pela Regra tem a ver com a Bíblia: a sua origem está nos profetas. É um silêncio profético! Trata-se de um silêncio que é muito mais do que só ausência de barulho ou de falatório. Conforme as duas fraes do profeta, o silêncio tem a ver com a prática da justiça, com a esperança e a resistência (força). Para nós, carmelitas, o silêncio profético evoca imediatamente o profeta Elias.
Este silêncio profético tem dois aspectos, expressos nas duas frases de Isaías. A primeira frase diz que o cultivo do silêncio gera justiça. Isaías compara a prática do silêncio com o trabalho do agricultor que cultiva sua roça para ter boa colheita. Esta primeira frase indica o esforço ativo nosso que visa atingir um determinado resultado. A segunda frase do profeta sugere o contrário. Em vez de esforço ativo em busca de um resultado, aqui a prática do silêncio é vista como a atitude de espera de algo que deve acontecer, mas que não depende do nosso esforço. Depende de Deus.
(2) A Institucionalização do silêncio
A segunda parte do número 21 da Regra descreve a organização do silêncio. Se o silêncio é um valor tão importante, ele deve ter a sua expressão na vida do Carmelo. Na Regra, a organização ou institucionalização do silêncio é adaptada ao ritmo diferente do dia e da noite. A noite, ela por si mesma, é silenciosa. O silêncio da noite nos envolve e nos faz silenciar. Produz uma certa passividade. Acalma as pessoas. Acontece, independente de nós. O dia já é mais barulhento. Em vez de silêncio, produz distração. Agita as pessoas. Exige um esforço interior maior para fazer silêncio. Por isso, a Regra pede um tipo de silêncio mais estrito para a noite e um silêncio menos estrito para durante o dia. Insistindo para que o silêncio seja institucionalizado conforme o ritmo diferente do dia e da noite, a Regra, por assim dizer, cria canais concretos através dos quais o silêncio possa atingir as pessoas para gerar nelas a justiça, a esperança e a resistência (força) de que fala o profeta Isaías. Através da observância do ritmo do silêncio de dia e de noite, a pessoa vai assimilando dentro de si os valores do silêncio profético.
(3) A recomendação do silêncio
A terceira parte consta de dois momentos. Num primeiro momento, a Regra descreve como a pessoa deve fazer para cultivar o silêncio que gera a justiça. Este cultivo consiste sobretudo no controle da língua. Citando frases da Bíblia, Alberto aponta os perigos do muito falatório. Ele diz: No muito falar não faltará o pecado; e quem fala sem refletir sentirá um mal-estar, e ainda quem fala muito prejudica sua alma. E o Senhor no Evangelho: de toda palavra inútil que as pessoas disserem, dela terão que prestar conta no dia do juízo.
Em seguida, num segundo momento, citando novamente frases da Bíblia, a Regra passa a recomendar o cultivo do silêncio ou o controle da língua, como sendo o caminho para se chegar ao silêncio mais profundo que é o silêncio profético. A Regra diz: Portanto, cada um faça uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente, não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Que, com o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe, com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça. De um lado, o pecado, a morte. Do outro lado, a justiça, a vida. O muito falatório conduz ao pecado e à morte. O controle da língua conduz à justiça e à vida.
No fim, a Regra retoma a frase inicial sobre a justiça que é fruto do silêncio e diz: Cada um procure diligentemente observar o silêncio, pelo qual se cultiva a justiça. No começo e no fim, a insistência na prática do silêncio como caminho para a justiça. É o silêncio profético!
- Ponto de chegada: o silêncio profético que enfrenta a morte e conduz à vida
- Hoje em dia, o fluxo de palavras, de imagens e de falatório que nos envolvem é tanto, que impede as pessoas de perceberem o que está acontecendo de fato. Envolve-nos de tal maneira, que acabamos achando normal aquilo que, na realidade, é uma situação de morte. Por exemplo, anos atrás, o povo se revoltava diante de assassinatos e diante da violência. Hoje em dia, a violência tornou-se uma coisa tão freqüente e tão presente, que já nos acostumamos. A miséria crescente do povo, a injustiça impune, o sofrimento dos que nunca cometeram algum mal, o abandono, o desemprego, a exclusão, a doença, a solidão, o desamor...! Vivemos numa situação de morte, e já não nos damos conta. Além disso, muitas vezes, o consumismo mata qualquer esforço de consciência crítica
- O primeiro passo do silêncio profético está expresso na primeira citação de Isaías que diz: A justiça é cultivada pelo silêncio. Este cultivo consiste num trabalho ativo nosso que faz silenciar tudo dentro de nós, para que a realidade possa aparecer do jeito que ela é em si mesma e não como aparece desfigurada através do muito falatório, do barulho da moda, do diz-que-diz, ou através dos meios de comunicação, da ideologia dominante. Este trabalho ativo da prática do silêncio produz, aos poucos, o desmantelo das falsas idéias, da ideologia dominante ou dos preconceitos que tínhamos na cabeça. Faz nascer a visão justa das coisas. Gera em nós a justiça.
- Na hora em que se desmantela dentro da cabeça da gente o arcabouço ideológico que nos dava uma visão falsa e artificial da realidade, nesse momento é como se levássemos uma pancada forte. Como que de repente, despertamos do sono e somos confrontados com a situação de morte sem saída em que estamos vivendo e que grita por mudança e conversão. Nesse momento, tudo silencia dentro da gente. O falatório acabou, emudecemos. Perdemos os argumentos que nos sustentavam. É o momento da crise. Este momento do confronto com a situação de morte que faz silenciar, é o primeiro passo do silêncio profético, de que fala a Regra. É fruto do esforço ativo nosso de fazer silenciar o muito falatório da propaganda, da ingenuidade sem consciência crítica.
- O silêncio profético coloca o dedo na ferida escondida. Ele denuncia os caminhos sem saída em que estávamos caminhando e dos quais achávamos que fossem caminhos de vida, quando, na realidade, nos conduziam para a morte. O profeta aponta a morte, não porque gosta da morte, mas sim para que a vida possa manifestar-se. Agindo assim, ele dá pancada, faz silenciar. Faz silêncio para que possamos escutar e experimentar a morte e, passando pela morte, reencontrar a vida. É a caminhada da Noite Escura, de que fala São João da Cruz. É uma exigência da vida que sejam apontados os falsos e ilusórios caminhos da morte, para que possam provocar mudança e conversão, tanto na vida pessoal como na convivência social, e, assim, gerar justiça.
- O segundo passo do silêncio profético está expresso na segunda citação do profeta Isaías: No silêncio e na esperança está a força de vocês. O silêncio produzido em nós pelo confronto com a situação de morte, apesar de doloroso, é fonte de esperança e produz a força da resistência. Dá força para a gente agüentar a situação de morte, porque acreditamos que da morte do trigo caído na terra vai brotar vida nova. Faz cantar. Como diz o poeta: Faz escuro mas eu canto. Canta a Noite Escura do povo, porque dentro dela já se articula a madrugada da ressurreição.
- Este segundo passo, fruto da ação de Deus, aparece em muitos lugares na Bíblia e de várias maneiras. Trata-se da experiência mística. Por exemplo:
* Salmo 37,7 diz: Descansa em Javé e nele espera. Literalmente se diz: Esvazia-te diante de Javé e agüenta firme. A palavra esperar (agüentar), sugere a atitude da mulher em dores de parto. Ela agüenta firme, porque sabe que vai nascer vida nova, apesar das muitas dores.
* Lamentação 3,26 diz: É bom esperar em silêncio a salvação de Javé. É a mesma experiência da certeza que vem de Deus. Não sai de frente de Deus, porque sabe que vai ser atendido.
* Este mesmo silêncio foi acontecendo na vida do profeta Elias na caminhada para o Monte Horeb (1Rs 19). Disto falaremos no subsídio do Círculo 18.
* O mesmo silêncio aconteceu na vida de Maria e na vida dos Santos e Santas Carmelitas. Sobre isto meditaremos no subsídio do Círculo 19.
- Resumindo. O silêncio profético recomendado pela Regra tem dois aspectos, expressos pelas duas frases de Isaías. O primeiro aspecto é fruto do esforço nosso, do cultivo, do trabalho. Exige disciplina e controle, estudo e reflexão, para que a gente possa perceber os mecanismos da opressão e da ideologia, dos preconceitos e das propagandas. É fruto da partilha, da troca de experiências, do trabalho comunitário. O segundo aspecto do silêncio profético é fruto da ação do Espírito de Deus em nós. Desobstruído o acesso à fonte pelo esforço ativo nosso, a água brota de dentro de nós e inunda o nosso ser.
- O silêncio profético na vida do profeta Elias
- Elias parecia forte e invencível no confronto com os profetas de Baal (1Rs 18,20-40). Mas diante da ameaça de Jezabel, ele aparece como é na realidade: fraco e vulnerável, "igual a nós" (Tg 5,17). Com medo de ser morto, foge do país, vai para o deserto (1Rs 19,1-3). Cego, sem enxergar, não percebe o anjo de Deus que lhe traz comida. Ele só quer comer, beber, dormir e ficar longe de tudo (1Rs 19,5). Está desanimado. Quer morrer: Não sou melhor que meus pais! Mas Deus não desiste. O anjo volta uma segunda vez (1Rs 19,7). Finalmente, Elias desperta e, alimentado por Deus, recupera sua força e, no silêncio do deserto, caminha quarenta dias e quarenta noites até o Horeb (Sinai), a Montanha de Deus (1Rs 19,8). Ele busca reencontrar Deus no mesmo deserto onde, séculos antes, na época do êxodo, havia nascido o povo.
- Mas a busca parece não estar bem orientada. Alguma coisa não está dando certo. Ele diz ter muito zelo, mas, na realidade, está fugindo com medo de morrer (1Rs 19,10.14). Diz que ficou sozinho, mas havia sete mil que não tinham dobrado o joelho diante de Baal (1Rs 19,18). Elias tem a visão limitada. Ele acha que é o único a defender a causa de Deus! (1Rs 19,14) Deus o manda sair da gruta e ficar na entrada, pois "Deus vai passar" (1Rs 19,11). Elias sai da gruta, mas a gruta não sai dele. Ele continua com a mesma visão limitada, achando que é ele quem defende a Deus! (1Rs 19,14)
- Deus vai passar! A nova experiência de Deus desintegra o mundo de Elias. Primeiro, um furacão! Depois, um terremoto! Depois, um fogo! No passado, ao concluir a Aliança com o povo naquela mesma Montanha Horeb ou Sinai, Deus tinha se manifestado no furacão, no tremor da montanha e nos raios de fogo (Ex 19,16). Eram os sinais tradicionais da presença atuante de Deus no meio do povo. Eram estes os critérios que orientavam a Elias na sua busca de Deus. Ele mesmo tinha experimentado a presença de Deus no fogo quando, no Monte Carmelo, enfrentou os profetas de Baal (1Rs 18,36-38).
- Elias estava fazendo uma coisa certa. Ele buscava Deus voltando às origens do povo. Ele voltou à experiência de Deus no êxodo. Mas os critérios da sua busca estavam desatualizados. Ele vivia no passado. Encerrou Deus dentro dos critérios! Queria obrigar Deus a ser como ele, Elias, o imaginava e desejava. Por isso acontece o inesperado, a surpresa total: Deus não estava mais no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo que tinha sido sinal da presença de Deus, pouco antes, no Monte Carmelo! Parece até um refrão que volta três vezes: Javé não estava no furacão! Javé não estava no terremoto! Javé não estava no fogo!
- É a desintegração do mundo de Elias. A crise mais violenta e mais dolorosa que se possa imaginar! Cai tudo! Pois se Deus não está aqui nestes sinais de sempre, então Ele não está em canto nenhum! É o silêncio de todas as vozes! É a escuridão da noite! E é neste momento, que se abre para Elias um novo horizonte. É no silêncio de todas as vozes que a voz de Deus se manifesta a Elias.
- Este silêncio total, a língua hebraica expressa-o dizendo: “voz de calmaria suave”, (qôl demamáh daqqáh). As traduções costumam dizer: “Murmúrio de uma brisa suave” A palavra hebraica, demamáh, usada para indicar a calmaria, vem da raiz DMH que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa suave indica algo, uma experiência, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar. Esvazia a pessoa, para que Deus possa entrar e ocupar o lugar. Ou melhor, Deus entrando provoca o vazio e o silêncio. Silêncio sonoro, solidão povoada! Vacare Deo diziam os antigos carmelitas, isto é, esvaziar-se para Deus!
- Elias cobriu o rosto com o manto (1Rs 19,13). Sinal de que tinha experimentado a presença de Deus exatamente naquilo que parecia ser a ausência total de Deus! A escuridão se iluminou por dentro e a noite ficou mais clara que o dia. É a libertação de Elias. Reencontrando-se com Deus, ele se reencontra consigo mesmo. Não é ele, Elias, que defende a Deus, mas é Deus quem defende a Elias. Libertado por Deus, ele é livre para libertar os outros!
- A experiência de Deus reconstroi a pessoa e lhe revela a sua missão (1Rs 19,15-18). Refeito pelo encontro com Deus, Elias redescobre sua missão (1Rs 19,15-18) e se preocupa em dar-lhe continuidade, indicando Eliseu como sucessor (Rs 19,19-21). Antes, ele queria morrer. Já não via mais sentido no que fazia. Agora, a nova experiência de Deus mudou tudo. Ele volta para o lugar onde queriam matá-lo. Já não tem mais medo. Em vez de querer morrer, quer que sobreviva a sua missão. Sinal de que novamente crê no que faz e deve fazer.
- Maria, a Virgem do silêncio
- De Maria se fala pouco na Bíblia, e ela mesma fala menos ainda. Os textos da Bíblia sobre Maria são todos dos evangelhos, menos três (Gl 4,4; At 1,13; Ap 12,1-17). Segue aqui uma chave de leitura para os textos dos três evangelhos que falam sobre Maria: Mateus, Lucas e João.
- Chave de leitura para os textos do evangelho de Mateus sobre Maria:
- Nos textos do evangelho de Mateus em que Maria é mencionada, tudo é centrado em torno da pessoa de José. Maria aparece como a esposa de José. Ela mesma não fala.
- Na genealogia de Jesus, Maria aparece silenciosa em companhia de quatro outras mulheres. Esta Companhia de Maria merece uma atenção especial. São Tamar, Raab, Betsabea e Rute.
- Tamar, uma cananéia, viúva, se vestiu de prostituta para obrigar Judá a ser fiel à lei e dar-lhe um filho (Gn 38,1-30).
- Raab, uma cananéia, prostituta de Jericó, fez aliança com os israelitas. Ajudou-os a entrar na Terra Prometida e professou a fé no Deus libertador do Exodo (Js 2,1-21).
- Betsabea, uma hitita, mulher de Urias, foi seduzida, violentada e engravidada pelo rei Davi, que, além disso, mandou matar o marido dela (2 Sm 11,1-27).
- Rute, uma moabita, viuva pobre, optou para ficar do lado de Noemi e aderiu ao Povo de Deus (Rt 1,16-18).
- As quatro mulheres são estrangeiras e irregulares. Não agem nem vivem dentro dos padrões da lei. Mesmo assim, suas iniciativas pouco convencionais deram continuidade à linhagem de Jesus e trouxeram a salvação de Deus para todo o povo. Foi através delas que Deus realizou seu plano e enviou o Messias prometido.
- Uma irregularidade semelhante existe em Maria. A sua gravidez acontece antes de ela conviver com José. Se José tivesse agido conforme as exigências das leis da época, deveria ter denunciado Maria, e ela poderia ser apedrejada. Mas José, por ser justo, não obedeceu às exigências das leis de pureza. A justiça de José era maior e o levou a defender a vida tanto de Maria como de Jesus. Mais tarde, Jesus irá dizer: "Se a justiça de vocês não for maior que a dos escribas e fariseus, não poderão entrar no Reino do céu" (Mt 5,20).
- Chave de leitura para os textos do evangelho de Lucas sobre Maria:
É no evangelho de Lucas que Maria aparece mais. Mesmo assim, ela fala pouco: com o anjo Gabriel, com Isabel e com Jesus no Templo de Jerusalém. Ela canta, usando os salmos. Lucas, quando fala de Maria, pensa nas Comunidades. Ele apresenta Maria como modelo para a vida das comunidades. É na maneira de Maria relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê a maneira mais correta para a comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Maria nos orienta na escuta e no uso da palavra.
- Chave de leitura para os textos do evangelho de João sobre Maria:
A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27), e pronuncia apenas duas frases: "Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3) e: "Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5). Nos dois casos, em Caná e ao pé da Cruz, Maria representa o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria é o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, é ela, a mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, que percebe os limites do Antigo: "Eles não têm mais vinho!" E é ela que dá os passos para que o Novo possa chegar, dando o grande conselho: "Fazei tudo que ele vos disser!" Na hora da morte, é novamente Maria, a Mãe de Jesus, que acolhe o "Discípulo Amado". O Discípulo Amado é a Comunidade do Novo Testamento que cresceu ao redor de Jesus. Ele é o filho que nasceu do Antigo Testamento. A pedido de Jesus, o Novo Testamento, recebe o Antigo Testamento, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos. Pois o Novo não se entende sem o Antigo. Mãe não se entende sem filho, e filho não se entende sem mãe. Seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem fruto.
EDITH STEIN: A TEMPESTADE SE APROXIMA
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Frei Cláudio van Balen, O. Carm., do Convento do Carmo de Belo Horizonte-MG.
Em 1936, morre sua mãe, o que possibilita que sua irmã Rosa venha unir-se a ela, em Colônia. Há tempo, ela desejava ser batizada, mas resolveu poupar sua mãe desse sofrimento. O batismo acontece na véspera do Natal, na presença de Edith. No ano seguinte, festa de 300 anos do mosteiro, a religiosa escreve: “Vamos ao encontro de grandes mudanças. Na expectativa das mesmas, temos como dever apoiar com nossa oração todos que já estão envolvidos na luta”. Em 1938, 21 de abril, ela faz a Profissão Perpétua. Nesse ano, os alemães são convocados duas vezes para se pronunciar a respeito do Führer, mas Edith perdeu seu direito de voto. Na primeira votação, dois senhores se apresentam para colher informações sobre a ausência da Dra Stein. Ela assume sua condição de não ariana, e responde à priora que lhe pergunta o que decide fazer: “Se estes senhores apreciam tanto meu não, eu não o posso negar a eles”.
Na segunda vez, a maioria das irmãs resolve omitir-se para não votar contra Hitler. Edith acha isso um absurdo. Uma delegação vem buscar os bilhetes das religiosas e elas são convocadas. No fim, a superiora tem de explicar a ausência de duas irmãs. Resposta: a irmã Ana é doente mental e não tem condições. E quando, insistindo, perguntam pela Dra Stein, a superiora responde: ”Ela não é ariana”. A declaração é anotada e os homens se despedem apressados. Edith resolve deixar o país. Na noite de 9 de novembro (Kristallnacht), em 1938, os nazistas vingam a morte de um companheiro, Ernest von Rath que, em Paris, é assassinado por um rapaz judeu, Herschel Grynszpan, cujos pais tinham sido deportados. A explosão anti-semita resultou na profanação e destruição de todas as quase 1000 sinagogas do país que foram incendiadas. E 7.500 estabelecimentos comerciais de judeus foram saqueados e 30.000 judeus são brutalmente jogados em campos de concentração, sendo que milhares são assassinados. Livros judaicos são queimados e decretos raciais instituem a discriminação. Iniciou-se a destruição do judaísmo na Alemanha. Na sociedade e na religião, faltaram gestos de protesto.
O mundo está consternado e Edith carrega uma dor que a esmaga. “É a sombra da cruz que cai sobre meu povo”, escreve. Perseguir judeus é perseguir a humanidade de Jesus. “Ai da cidade, do país, das pessoas sobre quem a ira divina vai manifestar-se, devido a tantos crimes cometidos contra os judeus”. Ela tentou ir para a Palestina, o Carmelo de Belém, mas lhe negaram a permissão. Na noite de 31 de dezembro de 1938, ela foge para o Carmelo de Echt, na Holanda. Para lá, tinham fugido as irmãs alemãs nos anos de 1871-1878, durante a “Kulturkampf” de Bismarck contra os católicos alemães, e a maioria das religiosas ainda era alemã. No verão de 1940, sua irmã Rosa veio unir-se a ela naquela comunidade. Quando em setembro daquele ano, foi eleita a nova priora, esta a encarregou de escrever algo sobre São João da Cruz, por ocasião do 4o Centenário do grande Santo Carmelita.
Trata-se do livro “A Ciência da Cruz”, iniciado em 1941 e escrito de uma vez. Nele, ela apresenta um tipo de auto-biografia espiritual, registrando também seu protesto contra a ideologia racista do nazismo.
De fato, o que escreve nessas páginas tem tudo a ver com o que ela mesma está passando. No símbolo da cruz, morte e vida estão inseparavelmente interligadas; e Edith externa a certeza absoluta da vitória da luz sobre as trevas. Melhor ainda, transmite a convicção de que a luz surge das profundezas da escuridão, embora ela tivesse de esperar para completar corporalmente o que permaneceu incompleto no livro. Nunca ela insinuou encontrar-se em um esconderijo, atrás dos muros do mosteiro, dos quais disse com senso de humor: “Deus não se obrigou de deixar-nos para sempre ali dentro”. Em 1935, já respondera a uma amiga que ali a julgava segura: “Não tenha isto como uma certeza! Certamente eles vão me procurar aqui. E eu não acredito de forma alguma que vou ser poupada”. Na noite do domingo da Paixão, em 1939, ela escreve um bilhete para a Priora: “Querida Madre: por favor, permita-me Vossa Reverendíssima me oferecer ao Coração de Jesus como instrumento eficaz pela paz autêntica: que o poder do mal se derrube e, se for possível, sem uma nova guerra mundial, que se possa instaurar uma nova ordem de coisas. Desejaria fazê-lo hoje”.
Quinta-feira, 6. 1ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Despertai, ó Deus, o vosso poder e socorrei-nos com a vossa força, para que vossa misericórdia apresse a salvação que nosso pecados retardam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 7, 21.24-27)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. 24Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. 26Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. 27Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz a parte final do Sermão da Montanha. O Sermão da Montanha é uma nova leitura da Lei de Deus. Começa com as bem-aventuranças (Mt 5,1-12) e termina aqui com a casa na rocha.
* Trata-se de adquirir a verdadeira sabedoria. A fonte da sabedoria é a Palavra de Deus expressa na Lei de Deus. A verdadeira sabedoria consiste em ouvir e praticar a Palavra de Deus (Lc 11,28). Não basta dizer “Senhor, Senhor!” O importante não é falar bonito sobre Deus, mas sim fazer a vontade do Pai e, desse modo, ser uma revelação do seu amor e da sua presença no mundo.
* Quem ouve e pratica a palavra constrói a casa sobre a rocha. A firmeza da casa não vem da casa em si, mas vem do terreno, da rocha. O que significa a rocha? É a experiência do amor de Deus que se revelou em Jesus (Rom 8,31-39). Tem gente que pratica a palavra para poder merecer o amor de Deus. Mas amor não se compra nem se merece (Cnt 8,7). O amor de Deus se recebe de graça. Praticamos a Palavra não para merecer, mas para agradecer o amor recebido. Este é o terreno bom, a rocha, que dá segurança à casa. A segurança verdadeira vem da certeza do amor de Deus! É a rocha que nos sustenta na hora das dificuldades e das tempestades.
* O evangelista encerra o Sermão da Montanha (Mt 7,27-28) dizendo que a multidão ficou admirada com o ensinamento de Jesus, pois "ele ensinava com autoridade, e não como os escribas". O resultado do ensino de Jesus é a consciência crítica do povo com relação às autoridades religiosas da época. Admirado e agradecido, o povo aprovava os ensinamentos tão bonitos e tão diferentes de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
- Sou dos que dizem “Senhor, Senhor”, ou dos que praticam a palavra?
- Observo a lei para merecer o amor e a salvação ou para agradecer o amor e a salvação de Deus?
5) Oração final
Dá, Senhor, tua salvação! Dá, Senhor, tua vitória Bendito o que vem em nome do Senhor! (Sal 117, 25-26a)
Quarta-feira, 5. 1ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Senhor Deus, preparai os nossos corações com a força da vossa graça, para que, ao chegar o Cristo, vosso Filho, nos encontre dignos do banquete da vida eterna
e ele mesmo nos sirva o alimento celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 15, 29-37)
Naquele tempo, 29Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da Galiléia. Subiu a uma colina e sentou-se ali. 30Então numerosa multidão aproximou-se dele, trazendo consigo mudos, cegos, coxos, aleijados e muitos outros enfermos. Puseram-nos aos seus pés e ele os curou, 31de sorte que o povo estava admirado ante o espetáculo dos mudos que falavam, daqueles aleijados curados, de coxos que andavam, dos cegos que viam; e glorificavam ao Deus de Israel. 32Jesus, porém, reuniu os seus discípulos e disse-lhes: Tenho piedade esta multidão: eis que há três dias está perto de mim e não tem nada para comer. Não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho. 33Disseram-lhe os discípulos: De que maneira procuraremos neste lugar deserto pão bastante para saciar tal multidão? 34Pergunta-lhes Jesus: Quantos pães tendes? Sete, e alguns peixinhos, responderam eles. 35Mandou, então, a multidão assentar-se no chão, 36tomou os sete pães e os peixes e abençoou-os. Depois os partiu e os deu aos discípulos, que os distribuíram à multidão. 37Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que restaram, encheram sete cestos. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de cada dia é como o sol que se levanta. Sempre o mesmo sol, todos os dias, a alegrar a vida e a fertilizar as plantas. O maior perigo é a rotina. A rotina mata o evangelho, e apaga o sol da vida.
* São sempre os mesmos elementos que compõem o quadro do evangelho: Jesus, a montanha, o mar, a multidão, os doentes, os necessitados, os problemas da vida. Apesar de já bem conhecidos, como o sol de cada dia, estes mesmos elementos sempre trazem uma nova mensagem.
* Como Moisés, Jesus sobe a montanha e o povo reúne ao redor. Eles trazem consigo seus problemas: os doentes, os coxos, aleijados, cegos, mudos, tantos... Não são os grandes, mas os pequenos. Eles são o começo do novo povo de Deus que se reúne ao redor do novo Moisés. Jesus cura a todos.
* Jesus chama os discípulos. Ele sente compaixão do povo que não têm o que comer. Para os discípulos, a solução deve vir de fora: “Onde conseguir pão para tanta gente?” Para Jesus, a solução deve vir de dentro do povo: “Quantos pães vocês têm?” –“Sete e uns peixinhos”. Com este pouco Jesus matou a fome de todos, e ainda sobrou. Se houvesse partilha hoje, não haveria fome no mundo. Sobrava, e muito! Realmente, um outro mundo é possível!
* A narração da multiplicação dos pães evoca a eucaristia e dela revela o valor, ao dizer: “Jesus tomou o pão em suas mãos, deu graças, o partiu e deu aos seus discípulos”.
4) Para um confronto pessoal
- Jesus teve compaixão. Existe compaixão em mim pelos problemas da humanidade? Faço algo?
- Os discípulos esperam a solução de fora. Jesus desperta para a solução de dentro. E eu?
5) Oração final
O Senhor nosso Deus chegará com poder e encherá de luz os seus fiéis. (Is 40,10; cf. 34,5)
GUADALUPE E O POVO MEXICANO-03
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Segunda-feira, 3. 1ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Senhor nosso Deus, dai-nos esperar solícitos a vinda do Cristo, vosso Filho. Que ele, ao chegar, nos encontre vigilantes na oração e proclamando o seu louvor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 8, 5-11)
Naquele tempo, 5Entrou Jesus em Cafarnaum. Um centurião veio a ele e lhe fez esta súplica: 6Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre muito. 7Disse-lhe Jesus: Eu irei e o curarei. 8Respondeu o centurião: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado. 9Pois eu também sou um subordinado e tenho soldados às minhas ordens. Eu digo a um: Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem; e a meu servo: Faze isto, e ele o faz... 10Ouvindo isto, cheio de admiração, disse Jesus aos presentes: Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel. 11Por isso, eu vos declaro que multidões virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão no Reino dos céus com Abraão, Isaac e Jacó, - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O Evangelho de hoje é um espelho. Ele evoca em nós as palavras que dizemos durante a Missa na hora da comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”. Olhando no espelho deste texto, ele sugere o seguinte:
* A pessoa que procura Jesus é um pagão soldado do exército romano que dominava e explorava o povo. Não é a religião nem o desejo de Deus, mas sim a necessidade e o sofrimento que o levam a procurar Jesus. Jesus não tem preconceito. Não faz exigência prévia, mas acolhe e atende ao pedido do oficial romano.
* A resposta de Jesus surpreende o centurião, pois ela ultrapassa a expectativa. O centurião não esperava que Jesus fosse até à casa dele. Ele se sente indigno: “Não sou digno!” Sinal de que considerava Jesus como uma pessoa muito superior.
* O centurião expressa sua fé em Jesus dizendo: “Diga só uma palavra e o meu empregado estará curado”. Ele crê que a palavra de Jesus possa fazer a cura. De onde ele tirou esta fé tão grande? Da sua experiência profissional como centurião! Pois quando um centurião dá suas ordens, o soldado obedece. Deve obedecer! Assim ele imagina Jesus: basta Jesus dizer uma palavra, e as coisas acontecem conforme a palavra. Ele crê que a palavra de Jesus tem força criadora.
* Jesus ficou admirado e elogiou a fé do centurião. A fé não consiste em aceitar, repetir e decorar uma doutrina, mas sim em crer e confiar na pessoa de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
- Colocando-me na posição de Jesus: como atendo e acolho as pessoas de outra religião?
- Colocando-me na posição do centurião: qual a experiência pessoal que me leva a crer em Jesus?
5) Oração final
Lembra-te de mim, Senhor, pelo amor do teu povo, visita-me com teu auxílio salvador; para eu sentir a felicidade dos teus eleitos, e me alegrar com a alegria do teu povo e me gloriar com tua herança. (Sal 105, 4-5)
DIA DE ESPIRITUALIDADE NA OTC DE CARMO DE MINAS-MG. (1º de dezembro-2018)... Oração
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TEMA: A ORAÇÃO NAS ORIGENS E NA REGRA DO CARMELO.
O Beato Titus Brandsma, Mártir da 2ª Guerra mundial, escreveu que a oração é vida, não um oásis no deserto da vida. A oração é uma parte essencial do carisma carmelitano. Espera-se que sejamos homens de oração e que formemos comunidades orantes. O Carmelo é certamente símbolo da oração para a maioria das pessoas em todo mundo.
Necessitamos escutar atentamente de modo que sejamos capazes de ouvir a voz de Deus em meio a outras vozes e poder discernir o que Deus quer nos dizer. Nossos sentidos espirituais necessitam afinar-se constantemente e isto acontece através do nosso modo de viver com fé os valores da Regra meditando na lei do Senhor dia e noite e velando em oração.
Como abelhas do Senhor
Na base da oração-contemplação vivida no Carmelo encontramos a experiência e o modo de entendê-la dos eremitas que, no final do século XII e nos primeiros decênios do século seguinte, viviam à imitação do Profeta Elias, no Monte Carmelo, perto da fonte chamada de Elias, - “Em pequenas celas, semelhantes a alvéolos, como abelhas do Senhor, recolhendo o mel divino da doçura espiritual” (Jacques de Vitry) - esforçando-se continuamente para assimilar o modo de ser de Cristo.
Esta atitude dos primeiros carmelitas vem codificada na Vitae Formula (depois Regra do Carmo), pelo santo Patriarca de Jerusalém,
Perspectiva cristocêntrica
O fundamento de todo o discurso albertino é a colocação do Absoluto da experiência humana em Jesus Cristo. Nele adquire sentido a expressão de conotação bíblica (cf. 2Cor 10,5), “Viver em obséquio de Jesus Cristo” (RC, n. 2), aplicado conforme a mentalidade da época medieval: colocando realmente Cristo como início e fim de toda a realidade e de toda a vida carmelitana.
O centro vital da proposta é a Eucaristia (cf. RC, n. 14), compreendida não como simples rito, mas como realidade que constrói a Igreja, cujo significado está expresso no simbolismo do convergir quotidano para a capela ou oratório, construído no meio das celas. O discurso sobre a oração no Carmelo não pode ser compreendido sem esta sua característica cristocêntrica e sem a referência eclesial do mesmo.
A estrutura dinâmica da oração segundo a Regra
Indicações e prescrições sobre a oração na Regra, no contexto do primeiro grupo carmelitano encontramos mais que evidente o seu caráter cristológico que unifica o empenho concreto (estrutura e formas de oração) e exige a encarnação na realidade onde está se formando a Igreja, corpo místico e total de Cristo. Em todo o discurso feito, através do estudo da Regra sobre a oração, é possível individuar a estrutura dinâmica que vem proposta ao carmelita como caminho - itinerário de crescimento em direção à plenitude de vida e a comunhão com Deus e o seu mistério.
São elementos desta estrutura dinâmica:
A atitude dialógica de escuta e de acolhimento da Palavra (RC, nn. 10, 11, 14, 24); A busca de Deus no quotidiano, baseada na interiorização (RC, nn.18-19; cf. também a espiritualidade do caminho-peregrinação); Entre a contemplação e a ação. Fica claro em todo o conjunto do “discurso” que esta é problemática mais tardia na vida da Ordem;
A atitude dinâmica do “Vacare Deo”
Na Regra Carmelitana a oração, antes de ser um precioso exercício, constitui-se numa postura dinâmica no sentido do “Vacare Deo”, com seu caráter de continuidade, conduzindo a uma dependência de Deus, buscado na própria vida, em cada situação e aspecto da realidade quotidiana.
- Por isto, segundo a Regra, o carmelita deve concretizar a oração numa atitude vital, tornando-se sempre disponível ao encontro com o Senhor, deixando-se tomar e conduzir por Ele, saboreando sua presença, buscada e experimentada na realidade da vida, nas várias circunstâncias que formam o seu quotidiano.
O “Vacare Deo” produz, como consequência, o desenvolvimento mais profundo da dimensão contemplativa do ser humano, levando-o à total transformação de seu mundo relacional: sair dos próprios esquemas mentais para, em Deus, ver a realidade com os seus “olhos” e amá-la com o seu “coração”, em cada um dos momentos da vida que se tornam momentos de salvação, doados a cada um, “enquanto espera o retorno definitivo do Senhor” (Regra, n. 24).
CARMO DE MINAS: Assembleia da OTC
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DIA DE ESPIRITUALIDADE NA OTC DE CARMO DE MINAS-MG. (1º de dezembro-2018).
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1º TEMA: O CARISMA DO CARMELO: Traços principais.
Texto de Frei Egídio Palumbo O. Carm (Tradução por Frei Pedro Caxito O.Carm).
Adaptação para Ordem Terceira do Carmo, Frei Petrônio de Miranda, O. Carm
1º- COMUNIDADE.
Nas origens do Carmelo não encontramos uma pessoa isolada como Fundador, mas sim uma comunidade. Ela está provavelmente vivendo uma certa evolução interna: de pessoas mais ou menos isoladas rumo a um grupo; pede ajuda e discernimento ao Patriarca de Jerusalém, Alberto, a fim de que (a nível não apenas jurídico, mas também teológico-espiritual) consolide e codifique o projeto de vida deles que a seguir, com o discernimento do Papa, adquirirá o status de Regra.
Além disso, aquela expressão, que aparece mais vezes nas Primeiras Constituições e em outros escritos medievais sintetiza tanto o discernimento feito pelo Patriarca Alberto como a fisionomia dos primeiros irmãos do Carmelo.
Podemos, então, dizer que Fundadores do Carmelo foi aquela primeira comunidade de fratres do Monte Carmelo, não outros. Eles devem permanecer o ponto de referência constante, original do carisma e da missão do Carmelo.
2º- O ESPÍRITO MISSIONÁRIO DO CARMELO.
Em 1247, com a Bula PAGANORUM INCURSUS de Inocêncio IV as primeiras gerações de frades carmelitas, que nesta época tinham emigrado da Palestina para o novo contexto sócio-eclesial da Europa, viveram a primeira evolução da sua história: a Bula do Papa dava a possibilidade de transformar a sua forma de vida prevalentemente contemplativa em vida "contemplativa e ativa ao mesmo tempo", de orientar-se, portanto, para um modo de vida capaz "de ser de utilidade para a salvação própria e do próximo".
Ao longo dos séculos esta consciência missionária, ainda que às vezes dilacerada por um falso dilema ação-contemplação, sempre foi cultivada no Carmelo, assumindo formas e linguagem diversas conforme o contexto sócio- cultural e eclesial.
Contemplando o passado e o presente, podemos dizer que na Família do Carmelo o espírito missionário é vivido como:
-Testemunho-irradiação do estilo de vida: criar novas "colmeias" para recolher o divino mel da contemplação, como se diz em alguns escritos da Idade-Média; ser "espelho", testemunho da divina presença do Deus-Trindade, escrevem nossos místicos.
- Proposta de itinerários mistagógicos até à experiência de Deus: é a forma de serviço privilegiada pelos nossos místicos (em particular João da Cruz, João de São Sansão, Miguel de Santo Agostinho, Isabel da Trindade).
-Solidariedade para com os pobres: Ângelo Paoli chamado "Pai-Caridade"; dizia: "Quem ama a Deus deve procurá-lo entre os pobres"; e ainda Maria Ângela Virgili chamada "Mãe-Caridade" e os nossos Institutos Apostólicos Femininos.
- Promoção da justiça, da paz e do encontro ecumênico: recordemos Pedro Tomás, André Corsini, Aloísio Rabatà, Tito Brandsma.
3-O CARMELO ENQUANTO CASA DE ACOLHIMENTO
O projeto de vida da Regra do Carmo, no seu capítulo VI, delineia uma fraternidade aberta ao mundo num estilo de acolhimento carinhoso e disponibilidade total, mas amadurecido no discernimento, tendo como motivo bíblico inspirador a hospitalidade acolhedora de Abraão assentado junto à entrada da sua tenda (Gn 18,1-4; Hb 13,2). Juntamente com esta observação não se pode esquecer de que na tradição dos frades o convento é o lugar do convenire, do encontro familiar, da "koinonia" que é aberta e irradiante etc.
Pois bem; as comunidades carmelitas, ao menos aquelas que têm estruturas e meios adequados, poderiam estar abertas ao acolhimento de todos os que pretendem fazer experiência de oração, de escuta orante da Palavra, de tempos de deserto. Trata-se de oferecer, com a força do testemunho e comunicação da fé, os frutos mais amadurecidos do nosso estar todos os dias diante de Deus como fraternidade contemplativa e em oração.
4-O CARMELO PROMOTOR DA JUSTIÇA E DA PAZ
A Regra do Carmo propõe o exercício da correção fraterna mediante a caridade (Capítulo XI) como método único, não-violento para resolver os conflitos e recuperar o irmão para a "koinonia" fraternal; a outros métodos que recorram a castigos ou a excomunhões a Regra, segundo o meu parecer, não faz nenhum aceno, nem explícito nem implícito. Exorta, além disto, a revestirmo-nos das "armas espirituais", para podermos desarmar o "adversário" e, com a fé, a esperança e o amor, testemunharmos o Evangelho da Paz (Capítulo XIV).
Quanto ao mais é necessário observar que nunca faltaram ao Carmelo figuras exemplares de solidariedade para com os últimos, como, por exemplo, Ângelo Paoli chamado "Pai-Caridade", Maria Ângela Virgili chamada "Mãe dos Pobres"; os próprios modelos bíblicos - Maria e Elias - são às vezes contemplados como inspiradores da solidariedade: Maria de Nazaré, como mulher humilde, capaz de caminhar com os pobres da terra; Elias Profeta, como homem da solidariedade em defesa da justiça.
Nem sequer faltam ao Carmelo figuras modelares de testemunho ou de dedicação em favor da paz: alguns autores medievais contam-nos, com efeito, o martírio dos primeiros carmelitas nas mãos dos sarracenos invasores da Terra Santa e, falando de martírio, como não recordar o trabalho e o testemunho não-violento e de paz do Beato Tito Brandsma martirizado em Dachau
5-O CARMELO ENQUANTO ESCOLA DE ORAÇÃO-CAMINHO.
Uma das características da espiritualidade carmelitana é a de se propor como "espiritualidade do caminho", como itinerário mistagógico para uma experiência de Deus mais autêntica e amadurecida.
Esta dimensão mistagógica nós a encontramos presente na maior parte dos escritos carmelitas, em particular nos escritos dos nossos místicos: pensemos, por exemplo, na Instituição dos primeiros monges, onde vem delineado um itinerário espiritual com o Profeta Elias; no Caminho da Perfeição de Teresa de Ávila, no qual a experiência contemplativa se faz itinerário de oração; na Subida do Monte Carmelo, na Noite Escura e no Cântico Espiritual de São João da Cruz, que traçam um itinerário espiritual, onde o fiel aprende a amar como Deus ama; em Miguel de Santo Agostinho, que propõe um itinerário místico de "vida marieforme", intermediação da presença da Mãe do Senhor; no "pequeno caminho" de Teresa de Lisieux; em Isabel da Trindade, que redige para uma mãe de família um pequeno escrito: Como se pode encontrar o Céu na terra.
São apenas alguns exemplos suficientes para nos recordar a grande herança pedagógica, que o Carmelo adquiriu no acompanhamento espiritual dos fiéis; até mesmo podemos dizer que neste setor quase se constituiu em ponto de referência obrigatório, uma espécie de "magistério", que possui autoridade. Hoje, portanto, o Carmelo não pode deixar de sentir-se chamado a reconsiderar esta outra "indiscutível" diaconia-serviço.
VENERÁVEL OTC DE CARMO DE MINAS-MG. TEMA: O Poder de Governar no Carmelo
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Frei Carlo Cicconetti, O. Carm. Roma.
Adaptação para a Ordem Terceira do Carmo, Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, Delegado Provincial. (1º de dezembro-2018)
Contexto sociocultural e Autoridade
A Autoridade, sem dúvida alguma, é um conceito dissonante para a nossa mentalidade, principalmente para a realidade corrupta e corrompida do poder da política no Brasil. Na Bíblia e na espiritualidade carmelitana o poder-autoridade é qualificado como graça de Deus e vocação desde as primeiras linhas espirituais da primeira comunidade cristã e da Regra da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventura Virgem Maria do Monte Carmelo.
A relação tradicional superior- súdito, é posta diante do visor do julgamento pela mentalidade caraterística da nossa época, que se caracteriza pela forte acentuação que se põe sobre a liberdade da pessoa e no desejo de reencontrar no indivíduo as últimas raízes do seu agir evitando qualquer formalismo. Por outra parte, cresceu no indivíduo a consciência da sua interdependência com relação aos outros seres humanos, não somente no pequeno mundo, onde estava acostumado a viver, mas também num mundo mais amplo, globalizado, no diálogo entre as culturas, as classes sociais, as nações, as economias.
(O Poder aprofunda as suas raízes no Ágape Divino e é expressão de amor. Ef 4,7.11-16)).
O "Poder Sagrado" na Igreja, mistério de comunhão
A Autoridade ou o poder de dar uma ordem, de pretender que seja cumprida, na Igreja e, portanto, em um Sodalício da Ordem Terceira do Carmo, tem uma componente mística, que está relacionada com o Mistério da Igreja e em última análise, com o Mistério do Deus-Trindade.
Dentro de um Sodalício, e em conformidade com o carisma carmelitano, a autoridade de superior procede do Espírito do Senhor em união com a hierarquia (Prior, Delegado Provincial, Padre Provincial e Prior Geral da Ordem do Carmo).
O ofício de governar ou organizar um Sodalício traz consigo a exigência de competência e responsabilidade do Prior e seu conselho, de fazer convergir as suas ações, os seus dons e seus projetos comuns de vida espiritual e de missão da comunidade. É um ofício de unidade, de comunhão, mesmo no sentido da visibilidade e da real eficiência, seja embora a nível dos indivíduos, da comunidade, mas também da Paróquia, Diocese ou da Província Carmelitana de Santo Elias
A Autoridade no Carmelo
O grupo de eremitas, "moradores do Monte Carmelo junto à Fonte", apresenta-se logo sob o signo da Autoridade-Obediência: estão sob a obediência de Brocardo e desejam exprimir a sua voluntária e total "obediência" a Cristo Jesus, reconhecendo-Lhe a "Soberania" universal (Regra 1 e 2), sacramentalmente manifestada na sua Igreja e nos seus Pastores. Desde o início procuram a aprovação da Igreja. "Alberto, por graça de Deus chamado a ser Patriarca da Igreja de Jerusalém, aos amados filhos Brocardo e outros eremitas, que vivem debaixo da sua obediência junto à Fonte, no Monte Carmelo, saúde no Senhor e bênção do Espírito Santo" (Regra 1).
Nos três ramos carmelitas; Ordem Primeira, Ordem Segunda e Ordem Terceira, a Autoridade está orientada para o bem e o serviço da própria Igreja e, mais diretamente, para o serviço daqueles fiéis que com a profissão religiosa abraçam a vida e a santidade da Igreja na Forma de Vida carmelita, aprovada canonicamente pela própria Igreja. (Regra da OTC Nº 12)
Homem da Unidade e do Carisma da Ordem.
Santo Inácio da Antioquia na sua Carta aos Cristãos de Filadélfia chamava o responsável por uma Comunidade pelo nome de "Homem determinado à Unidade", governado pela preocupação com a unidade. Homem da unidade, seja das pessoas, seja das várias instâncias e funções da comunidade - no nosso caso, da comunidade do Sodalício.
O bem do Sodalício, que é a primeira e indispensável contribuição para a missão da Igreja, é o Carisma Carmelitano vivido e testemunhado na cidade de Angra dos Reis pelos irmãos e irmãs que, livremente-repito- LIVREMENTE- através dos Votos Perpétuos ou Solenes (OTC-Regra Nº 14) assumem publicamente viver a espiritualidade sob a orientação ou autoridade de um Prior ( a ). Em outras palavras, viver em comunidade é, na verdade, viver todos juntos a vontade de Deus seguindo a orientação do dom do Carisma carmelitano sob a autoridade do Prior e seu Conselho. Portanto, a autoridade consolida a unidade da Ordem Terceira do Carmo em cada um dos 37 Sodalícios é baseada sobre a caridade e a cooperação harmoniosa na luta pelo ideal que nos propusemos através da nossa consagração pelos votos.
O Prior da Ordem Terceira do Carmo (a ) não é o guardião do status quo, que procura não incomodar os irmãos que estão dormindo ou que se limita a atender eventuais iniciativas de cada um em particular. Ele, consciente de que ao centro da comunidade está presente Cristo com o seu Evangelho, coloca-se ao serviço da vontade de Deus e dos irmãos, guiando-os à obediência a Cristo por meio do diálogo e oportuno discernimento, embora deixando firme a sua autoridade de decidir e ordenar o que se deve fazer. O Prior é no Sodalício estímulo a viver o nosso Carisma e é sinal e estímulo de união.
Estilo de exercício da Autoridade: Um olhar Bíblico sobre o Poder. (1Cor 12,4-11. 28).
A teologia da Autoridade tem as suas consequências quanto ao estilo de exercício: é o estilo de Deus, manifestado em Cristo Jesus. "Fazer as vezes de Deus", ser dóceis à sua vontade, expressar o amor paternal de Deus defronte aos religiosos confiados aos nossos cuidados pessoais, isto é um compromisso ascético-místico de conformação com a caridade de Deus Pai, que trata como a "filhos", no seu modo de respeitar a dignidade e a liberdade do homem (Câns. 617-619- Cân. 617 - Os Superiores desempenhem seu ofício e exerçam seu poder de acordo com o direito universal e com o direito próprio- Pode-se mesmo pensar numa "Espiritualidade da Autoridade".
Perguntas para reflexão.
1- Que lugar o Carisma Carmelita ocupa no exercício da minha relação com a autoridade do Sodalício?
2- Estou consciente da importância e da missão do prior e seu concelho no Sodalício?
3- Após este olhar sobre o poder a partir da Bíblia, dos Documentos da Igreja e da Espiritualidade Carmelitana, quem melhor representa para ser o futuro prior ( a ) ou conselheiro ( a ) para este Sodalício?
O CARISMA DO CARMELO: Os fundadores
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Frei Egídio Palumbo O. Carm. (Tradução por Frei Pedro Caxito O.Carm).
Tendo presente a perspectiva hermenêutica da fidelidade dinâmica ao carisma do fundador, vejamos nas suas linhas essenciais o Carisma do Carmelo.
NAS ORIGENS, UMA COMUNIDADE.
Nas origens do Carmelo não encontramos uma pessoa isolada como Fundador, mas sim uma comunidade. Ela está provavelmente vivendo uma certa evolução interna: de pessoas mais ou menos isoladas rumo a um grupo; pede ajuda e discernimento ao Patriarca de Jerusalém, Alberto, a fim de que (a nível não apenas jurídico, mas também teológico-espiritual) consolide e codifique o projeto de vida deles, o seu "propositum", numa "vitæ formula", que a seguir, com o discernimento do Papa, adquirirá o status de Regra.
Confirmação do que dizemos nos vem antes de tudo do próprio texto da Regra - ou melhor do dinamismo e dos valores do projeto de vida que ela propõe - enquanto mediação para transmitir a "experiência do Espírito" do Fundador ou do carisma de fundação.
Além disso, aquela expressão, que aparece mais vezes nas Primeiras Constituições e em outros escritos medievais - "(...) Albertus Ierosolymitanæ ecclesiæ Patriarcha in unum collegium congregavit, scribendo eis Regulam(...)" - sintetiza tanto o discernimento feito pelo Patriarca Alberto como a fisionomia dos primeiros irmãos do Carmelo.
Podemos, então, dizer que Fundadores do Carmelo foi aquela primeira comunidade de fratres do Monte Carmelo, não outros. Eles devem permanecer o ponto de referência constante, original e originante do carisma e da missão do Carmelo. A questão, pois, de Elias e de Maria como "fundadores" do Carmelo, no meu parecer, precisa de uma releitura na ótica do "modelo de vida" fortemente personalizado, em sintonia com toda a tradição monástica e, além disso, com a carmelitana.
CARMELO: A Diaconia do acompanhamento espiritual.
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Frei Egídio Palumbo O. Carm. (Tradução por Frei Pedro Caxito O.Carm).
Uma das características da espiritualidade carmelitana é a de se propor como "espiritualidade do caminho", como itinerário mistagógico para uma experiência de Deus mais autêntica e amadurecida.
Esta dimensão mistagógica nós a encontramos presente na maior parte dos escritos carmelitas, em particular nos escritos dos nossos místicos: pensemos, por exemplo, na Institutio primorum monachorum, onde vem delineado um itinerário espiritual com o Profeta Elias; no Caminho da Perfeição de Teresa de Ávila, no qual a experiência contemplativa se faz itinerário de oração; na Subida do Monte Carmelo, na Noite Escura e no Cântico Espiritual de São João da Cruz, que traçam um itinerário espiritual, onde o fiel aprende a amar como Deus ama; em Miguel de Santo Agostinho, que propõe um itinerário místico de "vida marieforme", intermediação da presença da Mãe do Senhor; no "pequeno caminho" de Teresa de Lisieux; em Isabel da Trindade, que redige para uma mãe de família um pequeno escrito: Como se pode encontrar o Céu na terra. São apenas alguns exemplos suficientes para nos recordar a grande herança pedagógica, que o Carmelo adquiriu no acompanhamento espiritual dos fiéis; até mesmo podemos dizer que neste setor quase se constituiu em ponto de referência obrigatório, uma espécie de "magistério", que possui autoridade.
Hoje, portanto, o Carmelo não pode deixar de sentir-se chamado a reconsiderar esta outra "indiscutível" Diaconia, revitalizando-a de forma renovada e criativa: quer propondo itinerários de fé adequados à situação do homem contemporâneo, quer aplicando uma acentuada dimensão mistagógica ao trabalho pastoral e à orientação vocacional.
Novo Prior e Conselheiros na Ordem Terceira do Carmo de Ouro Preto-MG.
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No último domingo 25, esteve em Ouro Preto-MG o Padre Provincial, Frei Evaldo Xavier, O. Carm, para coordenar a eleição da nova mesa administrativa daquele sodalício. Assim ficou constituída;
Prior
Gustavo
Conselheiros (a)
Carlos Alberto
Lucia Silva
Dalva
RETIRO ESPIRITUAL COM SANTA TERESINHA: A verdadeira união com Deus tem repercussão apostólica (Ms C, ff. 34r-36v).
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FREI EMANUELE BOAGA O.Carm. e AUGUSTA DE CASTRO COTTA C.D.P.
Jesus deu-me certa manhã, em minha ação de graças, um meio simples de cumprir minha missão. Fez-me compreender a palavra dos Cantares: "Atrai-me, correremos ao odor de vossos perfumes" . Jesus, nem sequer se torna necessária uma explicação: "Quando me atrairdes, atraí também as almas que amo!" Basta a simples palavra: "Atraí-me!" Compreendo, Senhor, que ao deixar-se a alma prender pelo inebriante odor de vossos perfumes, não conseguiria correr sozinha. Todas as almas que ela ama, são empuxadas a segui-la. Isto acontece sem coação, sem esforço. É conseqüência natural de sua atração para vós. Como a torrente, lançando-se com ímpeto no oceano, arrasta após si tudo quanto encontra de passagem, assim também, ó meu Jesus, a alma que imerge no ilimitado oceano de vosso amor, arrebata consigo todos os tesouros que possui... Senhor, vós o sabeis, não tenho outros tesouros senão as almas que vos aprouve unir à minha.[...].
Noto que quanto mais o fogo do amor me abrasar o coração, tanto mais exclamarei: Atraí-me! - tanto mais, também, as almas que se achegarem de mim (pobre e minúsculo argueiro de ferro inútil, se me arredar do divino braseiro), correrão lépidas ao odor dos perfumes de seu Bem-Amado, pois a alma abrasada de amor não consegue permanecer inativa. Como Santa Madalena, conserva-se indubitavelmente aos pés de Jesus, a escutar-lhe a palavra doce e ardente. Parecendo não dar nada, dá muito mais do que Marta, a qual se atormentava com muitas cousas, e queria que a irmã a imitasse.
Não são as ocupações de Marta que Jesus censura. A tais ocupações, sua divina Mãe humilde se sujeitou toda a sua vida, pois tinha que preparar as refeições para a Sagrada Família. Queria apenas morigerar o açodamento de sua ardorosa hospedeira. [...]
Não foi na oração que os santos Paulo, Agostinho, João da Cruz, Tomás de Aquino, Francisco, Domingos, e tantos outros ilustres amigos de Deus hauriram a ciência divina, que arrebata os maiores gênios? Disse um Sábio: "Dai-me uma alavanca, um ponto de apoio, que levantarei o mundo de seus eixos". O que Arquimedes não pôde alcançar, porque sua solicitação não se dirigia a Deus e se colocava num ponto de vista material, obtiveram-nos os Santos em toda a sua plenitude. Como ponto de apoio, deu-lhes o Todo-poderoso a SI MESMO, E SÓ A SI MESMO; como alavanca: a oração, que incandesce com o fogo do amor, e foi desta maneira que soergueram o mundo. Assim é que os Santos ainda militantes o soerguem, e os Santos vindouros o soerguerão, e até o fim do mundo.
TEXTOS BÍBLICOS
A verdadeira pregação - 1Cor 1,10-31.
O Corpo Místico - Ef 4,15-16; 1Cor 12,12-29.
Igreja vinha do Senhor - Jo 15,1-8.
AUTO-AVALIAÇÃO
1-Como a Igreja (local e além fronteiras) está presente em seu projeto de vida? De que forma acompanha suas lutas?
2-O que faz para que a Igreja se beneficie do carisma carmelitano?
3-“O amor abrange todas as vocações, o amor é tudo, alcança todos os tempos e todos os lugares” (ST). Examinar-se: seu amor é assim? O que falta nele? Tem alguém fora dele?
MOMENTO DE DECISÃO
3-Procure falar a Deus, espontaneamente como ST o fazia, colocando em seu coração de Pai, suas reflexões, temores, anseios, expectativas, enfim sua vida.
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