Papa: o Evangelho não é reservado a poucos eleitos, Deus prepara seu banquete para todos
- Detalhes
A Igreja é chamada a ir até as encruzilhadas de hoje, isto é, às periferias geográficas e existenciais da humanidade (...). Trata-se de não se acomodar nas formas cômodas e usuais de evangelização e de testemunho da caridade, mas de abrir a todos as portas do nosso coração e das nossas comunidades, porque o Evangelho não é reservado a poucos eleitos". Deus prepara para todos seu banquete: "justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos."
Jackson Erpen – Vatican News
“O Evangelho não é reservado a poucos eleitos. Também aqueles que estão à margem”, os “rejeitados e desprezados pela sociedade, são considerados por Deus dignos do seu amor. Para todos Ele prepara seu banquete: justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos.”
A parábola do banquete nupcial descrita no Evangelho de São Mateus, proposto para este XXVIII Domingo do Tempo Comum, inspirou a reflexão do Papa no Angelus, que recordou, que “não basta aceitar o convite para seguir o Senhor, é preciso estar disponível para um caminho de conversão, que muda o coração. A veste da misericórdia, que Deus nos oferece incessantemente, é um dom gratuito do seu amor, é graça. E requer ser acolhido com estupor e alegria.”
Dirigindo-se aos presentes na Praça São Pedro em um domingo chuvoso, Francisco começou explicando que com a parábola, “Jesus traça o projeto que Deus concebeu para a humanidade. O rei que "preparou a festa de casamento do seu filho" é a imagem do Pai que organizou para toda a família humana uma maravilhosa festa de amor e comunhão ao redor de seu Filho unigênito”.
Ele manda seus servos chamarem os convidados que, por estarem ocupados com outros afazeres, recusam o convite, "não querem ir à festa", como nós muitas vezes fazemos, ao darmos preferência “aos nossos interesses e coisas materiais, em vez do Senhor que nos chama”.
Ninguém é excluído da casa de Deus
“Mas o rei da parábola não quer que a sala fique vazia, porque deseja doar os tesouros de seu reino” - explica o Papa - e diz aos seus servos para irem às encruzilhadas dos caminhos para convidar aqueles que encontrarem.
“É assim que Deus se comporta: quando ele é recusado, em vez de desistir, repropõe e convida a chamar todos aqueles que estão na encruzilhada dos caminhos, sem excluir ninguém. Ninguém é excluído da casa de Deus”
Evangelho não é reservado a poucos eleitos
É para essa humanidade das encruzilhadas – enfatiza o Pontífice - que o rei da parábola envia seus servos, “na certeza de encontrar pessoas dispostas a sentarem-se à mesa. Assim, a sala de banquetes enche-se de "excluídos", aqueles que estão "fora", daqueles que nunca pareceram dignos de participar de uma festa, de um banquete de casamento. Antes pelo contrário, o rei diz aos mensageiros" para chamarem todos, "bons e maus, todos. Deus chama também os maus (..). Jesus, Deus não tem medo de nosso alma ferida de tanta maldade, porque nos ama, nos convida":
“E a Igreja precisamente é chamada a ir até as encruzilhadas de hoje, isto é, às periferias geográficas e existenciais da humanidade, aqueles lugares à margem, aquelas situações em que se encontram acampados e vivem migalhas de humanidade sem esperança. Trata-se de não se acomodar nas formas cômodas e usuais de evangelização e de testemunho da caridade, mas de abrir a todos as portas do nosso coração e das nossas comunidades, porque o Evangelho não é reservado a poucos eleitos. Também aqueles que estão à margem marginalizados, mesmo aqueles que são rejeitados, aqueles desprezados pela sociedade, são considerados por Deus dignos do seu amor. Para todos Ele prepara seu banquete: justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos.”
Telefonema ao padre Júlio Lancelotti
Neste contexto, Francisco fala de seu telefonema ao padre Júlio Lancelotti na tarde de sábado, ele que trabalha com o Povo da Rua:
“Ontem à tarde, consegui telefonar para um padre italiano idoso, missionário da juventude no Brasil, mas sempre trabalhando com os excluídos, com os pobres. E vive essa velhice em paz: "queimou" a sua vida com os pobres. Esta é a nossa Mãe Igreja, este é o mensageiro de Deus que vai às encruzilhadas dos caminhos.”
A gratuidade da graça e da misericórdia
Todavia – continuou o Papa – o Senhor coloca uma condição: usar o traje de festa, uma “espécie de capa que cada convidado recebia de presente na entrada, pois "as pessoas iam como estavam vestidas, como podiam se vestir, não usavam roupas de gala.” Mas ao entrar na sala repleta e saudar os “convidados de último hora”, o rei observa que um deles está sem as vestes. Como rejeitou o presente gratuito, “se auto excluiu. Assim, não restou ao rei que jogá-lo fora. Mas, "por quê?", pergunta Francisco, que explica:
“Porque não aceitava o dom. Porque o chamado de Jesus é um dom. É um presente, é uma graça. Este homem aceitou o convite, mas decidiu que não significava nada para ele: era uma pessoa autossuficiente, que não tinha o desejo de mudar ou de se deixar transformar pelo Senhor. O traje de festa - aquele manto que é um dom, um presente - simboliza a misericórdia que Deus nos dá gratuitamente. A graça. O convite de Deus que te leva à festa, é uma graça. Sem a graça tu não podes dar um passo na vida cristã. Tudo é graça. Não basta aceitar o convite para seguir o Senhor, é preciso estar disponível para um caminho de conversão, que muda o coração. A veste da misericórdia, que Deus nos oferece incessantemente, é um dom gratuito do seu amor, é precisamente a graça. E requer ser acolhido com estupor e alegria: "Obrigado Senhor por me ter dado este dom".”
Sair das visões estreitas
Que Maria Santíssima – pediu o Francisco ao concluir - nos ajude a imitar os servos da parábola do Evangelho, no sair de nossos esquemas e de nossas visões estreitas, anunciando a todos que o Senhor nos convida ao seu banquete, para nos oferecer a graça que salva, para dar-nos o dom. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa Francisco cita Vinicius de Moraes em nova encíclica
- Detalhes
Texto que critica neoliberalismo e populismo inclui trecho da letra da música 'Samba da Bênção'
A primeira página do jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano mostra o Papa Francisco com sua última encíclica intitulada "Fratelli Tutti" Foto: REMO CASILLI / REUTERS
Ansa e El País
ROMA - Em meio a um forte discurso de apelo social e político, a nova encíclica do Papa Francisco, "Todos Irmãos" ("Fratelli Tutti", no original em italiano), traz uma citação do poeta e compositor brasileiro Vinicius de Moraes (1913-1980).
No sexto capítulo do texto, dedicado ao "diálogo" e à "amizade social", Francisco menciona uma passagem da letra da música "Samba da Bênção": "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".
Em seguida, Francisco escreve que "várias vezes" já convidou a fazer crescer "uma cultura do encontro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro". "É um estilo de vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas faces, muitos lados, mas todos compõem uma unidade rica de matizes, porque o todo é superior à parte", diz o Papa.
A necessidade de diálogo é um dos principais temas da terceira encíclica assinada pelo Papa em quase oito anos de Pontificado. No documento, o Pontífice mergulha na definição de conceitos como populismo e neoliberalismo, rejeitando-os abertamente, e defende uma concepção de mundo com valores próximos aos de um socialismo democrático.
Desde o seu título, a encíclica é dedicada a a São Francisco de Assis, tendo sido publicada no dia do seu nome. Ela foi assinada no sábado no mosteiro onde viveu o monge de quem o Papa tomou o nome após o conclave de 2013. A cerimônia foi sua primeira saída de Roma em sete meses, devido à pandemia.
As ideias políticas que Francisco expõe não são novas, e a maioria faz parte de seus discursos públicos. "Todos Irmãos", basicamente, funciona como uma síntese de seu programa político. O Papa ataca o consumismo, a globalização implacável, o liberalismo econômico, a tirania da propriedade privada sobre o direito aos bens comuns, a falta de empatia com os imigrantes e até o controle que as empresas digitais exercem sobre a população e a informação.
O neoliberalismo e as formas menos compassivas de capitalismo são mais uma vez objeto de críticas abertas na proposta política detalhada pelo Papa. Há também críticas à falta de aprendizado após a última crise econômica, que não serviram para que a "atividade financeira especulativa e a riqueza fictícia" fossem regulamentadas. “O mercado sozinho não resolve tudo, embora mais uma vez eles queiram que acreditemos neste dogma da fé neoliberal. É um pensamento pobre e repetitivo, que sempre propõe as mesmas receitas diante de qualquer desafio que surja ”, afirma. “Existem regras econômicas que foram eficazes para o crescimento, mas não para o desenvolvimento humano integral”, insiste o texto.
"Todos Irmãos", cujo título foi criticado antes de sua publicação por associações de mulheres cristãs por se referir somente a metade dos fiéis, começou a ser escrita durante a pandemia. O Papa inspirou-se, em parte, nas desigualdades e falhas do sistema que o período pandêmico explicitava, ele explica numa introdução pessoal.
“Além das várias respostas dadas pelos diferentes países, ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estar hiperconectado, houve uma fragmentação que dificultava a solução dos problemas que afetam a todos. [...] O mundo avançava implacavelmente para uma economia que, com os avanços tecnológicos, buscava reduzir os 'custos humanos', e alguns querem que acreditemos que mercados livres bastam para que tudo esteja garantido. Mas o duro e inesperado golpe desta pandemia descontrolada obrigou-nos pela força a pensar de novo no ser humano, em todos, mais do que em benefício de alguns ”.
Radicalmente social, o postulado revisita ensinamentos de São Francisco de Assis em um mundo em crise, mas não encontrou apoio claro em uma Igreja profundamente dividida durante esses anos. A tentativa de construir pontes entre mundos diferentes — também em ambientes leigos e não católicos, onde às vezes é mais bem recebida — tem sido arriscada e muitas vezes malsucedida. A encíclica fornece alguns elementos para melhor compreender seu roteiro de todos esses anos.
Francisco defende o direito às migrações e cobra uma reforma da Organização das Nações Unidas (ONU) e do sistema financeiro mundial. Além de Vinicius, Francisco também cita Martin Luther King, Desmond Tutu e Mahatma Mohandas Gandhi. Anteriormente, o argentino já havia publicado as encíclicas "Lumen Fidei" ("Luz da Fé"), iniciada por Bento XVI, e "Laudato Si'" ("Louvado Sejas"), a primeira na história da Igreja Católica dedicada à ecologia. Fonte: https://oglobo.globo.com
Publicada “Fratelli tutti”, a Encíclica social do Papa Francisco
- Detalhes
Fraternidade e amizade social são os caminhos indicados pelo Pontífice para construir um mundo melhor, mais justo e pacífico, com o compromisso de todos: pessoas e instituições. Reafirmado com vigor o não à guerra e à globalização da indiferença.
Vatican News
Quais são os grandes ideais mas também os caminhos concretos para aqueles que querem construir um mundo mais justo e fraterno nas suas relações quotidianas, na vida social, na política e nas instituições? Esta é a pergunta à qual pretende responder, principalmente, “Fratelli tutti”: o Papa define-a como uma "Encíclica Social" (6) que toma o seu título das "Admoestações" de São Francisco de Assis, que usava essas palavras "para se dirigir a todos os irmãos e irmãs e lhes propor uma forma de vida com sabor do Evangelho" (1). A Encíclica tem como objetivo promover uma aspiração mundial à fraternidade e à amizade social. No pano de fundo, há a pandemia da Covid-19 que - revela Francisco - "irrompeu de forma inesperada quando eu estava escrevendo esta carta". Mas a emergência sanitária global mostrou que "ninguém se salva sozinho" e que chegou realmente o momento de "sonhar como uma única humanidade", na qual somos "todos irmãos". (7-8).
No primeiro de oito capítulos, intitulado "As sombras dum mundo fechado", o documento debruça-se sobre as muitas distorções da época contemporânea: a manipulação e a deformação de conceitos como democracia, liberdade, justiça; o egoísmo e a falta de interesse pelo bem comum; a prevalência de uma lógica de mercado baseada no lucro e na cultura do descarte; o desemprego, o racismo, a pobreza; a desigualdade de direitos e as suas aberrações como a escravatura, o tráfico de pessoas, as mulheres subjugadas e depois forçadas a abortar, o tráfico de órgãos (10-24). Estes são problemas globais que requerem ações globais, sublinha o Papa, apontando o dedo também contra uma "cultura de muros" que favorece a proliferação de máfias, alimentadas pelo medo e pela solidão (27-28).
A muitas sombras, porém, a Encíclica responde com um exemplo luminoso, o do bom samaritano, a quem é dedicado o segundo capítulo, "Um estranho no caminho". Nele, o Papa assinala que, numa sociedade doente que vira as costas à dor e é "analfabeta" no cuidado dos mais frágeis e vulneráveis (64-65), somos todos chamados a estar próximos uns dos outros (81), superando preconceitos e interesses pessoais. De fato, todos nós somos corresponsáveis na construção de uma sociedade que saiba incluir, integrar e levantar aqueles que sofrem (77). O amor constrói pontes e nós "somos feitos para o amor" (88), acrescenta o Papa, exortando em particular os cristãos a reconhecerem Cristo no rosto de cada pessoa excluída (85). O princípio da capacidade de amar segundo "uma dimensão universal" (83) é também retomado no terceiro capítulo, "Pensar e gerar um mundo aberto": nele, Francisco exorta cada um de nós a "sair de si mesmo" para encontrar nos outros "um acrescentamento de ser" (88), abrindo-nos ao próximo segundo o dinamismo da caridade que nos faz tender para a "comunhão universal" (95). Afinal – recorda a Encíclica - a estatura espiritual da vida humana é medida pelo amor que nos leva a procurar o melhor para a vida do outro (92-93). O sentido da solidariedade e da fraternidade nasce nas famílias que devem ser protegidas e respeitadas na sua "missão educativa primária e imprescindível" (114).
O direito a viver com dignidade não pode ser negado a ninguém, afirma ainda o Papa, e uma vez que os direitos são sem fronteiras, ninguém pode ser excluído, independentemente do local onde nasceu (121). Deste ponto de vista, o Papa lembra também que é preciso pensar numa "ética das relações internacionais" (126), porque cada país é também do estrangeiro e os bens do território não podem ser negados àqueles que têm necessidade e vêm de outro lugar. O direito natural à propriedade privada será, portanto, secundário em relação ao princípio do destino universal dos bens criados (120). A Encíclica também coloca uma ênfase específica na questão da dívida externa: embora se mantenha o princípio de que toda a dívida legitimamente contraída deve ser paga, espera-se, no entanto, que isto não comprometa o crescimento e a subsistência dos países mais pobres (126).
Ao tema das migrações é, ao invés, dedicado em parte o segundo e todo o quarto capítulo, "Um coração aberto ao mundo inteiro": com as suas "vidas dilaceradas" (37), em fuga das guerras, perseguições, catástrofes naturais, traficantes sem escrúpulos, arrancados das suas comunidades de origem, os migrantes devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Nos países destinatários, o justo equilíbrio será entre a proteção dos direitos dos cidadãos e a garantia de acolhimento e assistência aos migrantes (38-40). Especificamente, o Papa aponta algumas "respostas indispensáveis" especialmente para aqueles que fogem de "graves crises humanitárias": incrementar e simplificar a concessão de vistos; abrir corredores humanitários; oferecer alojamento, segurança e serviços essenciais; oferecer possibilidade de trabalho e formação; favorecer a reunificação familiar; proteger os menores; garantir a liberdade religiosa. O que é necessário acima de tudo" - lê-se no documento -, é uma legislação (governance) global para as migrações que inicie projetos a longo prazo, indo além das emergências individuais, em nome de um desenvolvimento solidário de todos os povos (129-132).
O tema do quinto capítulo é "A política melhor", ou seja, a que representa uma das formas mais preciosas da caridade porque está ao serviço do bem comum (180) e conhece a importância do povo, entendido como uma categoria aberta, disponível ao confronto e ao diálogo (160). Este é o popularismo indicado por Francisco, que se contrapõe ao "populismo" que ignora a legitimidade da noção de "povo", atraindo consensos a fim de instrumentalizar ao serviço do seu projeto pessoal (159). Mas a melhor política é também a que protege o trabalho, "uma dimensão indispensável da vida social" e procura assegurar que cada um tenha a possibilidade de desenvolver as suas próprias capacidades (162). A verdadeira estratégia contra a pobreza, afirma a Encíclica, não visa simplesmente a conter os necessitados, mas a promovê-los na perspectiva da solidariedade e da subsidiariedade (187). A tarefa da política, além disso, é encontrar uma solução para tudo o que atenta contra os direitos humanos fundamentais, tais como a exclusão social; tráfico de órgãos, e tecidos humanos, armas e drogas; exploração sexual; trabalho escravo; terrorismo e crime organizado. Forte o apelo do Papa para eliminar definitivamente o tráfico de seres humanos, "vergonha para a humanidade", e a fome, porque é "criminosa" porque a alimentação é "um direito inalienável" (188-189).
A política da qual há necessidade, sublinha ainda Francisco, é aquela centrada na dignidade humana e que não está sujeita à finança porque "o mercado por si só, não resolve tudo": os "estragos" provocados pela especulação financeira mostraram-no (168). Assumem, portanto, particular relevância os movimentos populares: verdadeiros "torrentes de energia moral", devem ser envolvidos na sociedade, de uma forma coordenada. Desta forma - afirma o Papa -, pode-se passar de uma política "para" os pobres para uma política "com" e "dos" pobres (169). Outro desejo presente na Encíclica diz respeito à reforma da ONU: perante o predomínio da dimensão econômica, de fato, a tarefa das Nações Unidas será dar uma real concretização ao conceito de "família de nações", trabalhando para o bem comum, a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos humanos. Recorrendo incansavelmente à "negociação, aos mediadores e à arbitragem" - afirma o documento pontifício - a ONU deve promover a força da lei sobre a lei da força (173-175).
Do sexto capítulo, "Diálogo e amizade social", emerge também o conceito de vida como "a arte do encontro" com todos, também com as periferias do mundo e com os povos originais, porque "de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo" (215). Particular, então, a referência do Papa ao "milagre da amabilidade", uma atitude a ser recuperada porque é "uma estrela na escuridão" e uma "libertação da crueldade, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência distraída" que prevalecem em época contemporânea (222-224). Reflete sobre o valor e a promoção da paz, o sétimo capítulo, intitulado "Percursos dum novo encontro", no qual o Papa sublinha que a paz é "proativa" e visa formar uma sociedade baseada no serviço aos outros e na busca da reconciliação e do desenvolvimento mútuo. A paz é uma "arte" em que cada um deve desempenhar o seu papel e cuja tarefa nunca termina (227-232). Ligado à paz está o perdão: devemos amar todos semexceção - lê-se na Encíclica -, mas amar um opressor significa ajudá-lo a mudar e não permitir que ele continue a oprimir o seu próximo (241-242). Perdão não significa impunidade, mas justiça e memória, porque perdoar não significa esquecer, mas renunciar à força destrutiva do mal e da vingança. Nunca esquecer "horrores" como a Shoah, os bombardeamentos atómicos em Hiroshima e Nagasaki, perseguições e massacres étnicos - exorta o Papa - devem ser sempre recordados, novamente, para não nos anestesiarmos e manterem viva a chama da consciência coletiva. E também é importante fazer memória do bem. (246-252).
Parte do sétimo capítulo se detém, então, sobre a guerra: "uma ameaça constante", que representa a "negação de todos os direitos", "o fracasso da política e da humanidade", "a vergonhosa rendição às forças do mal". Além disso, devido às armas nucleares, químicas e biológicas que afetam muitos civis inocentes, hoje já não podemos pensar, como no passado, numa possível "guerra justa", mas temos de reafirmar fortemente "Nunca mais a guerra! A eliminação total das armas nucleares é "um imperativo moral e humanitário"; em vez disso - sugere o Papa - com o dinheiro do armamento deveria ser criado um Fundo Mundial para acabar de vez com a fome (255-262). Francisco expressa uma posição igualmente clara sobre a pena de morte: é inadmissível e deve ser abolida em todo o mundo. "O homicida não perde a sua dignidade pessoal - escreve o Papa – e o próprio Deus Se constitui seu garante" (263-269). Ao mesmo tempo, a necessidade de respeitar "a sacralidade da vida" (283) é reafirmada onde "partes da humanidade parecem sacrificáveis ", tais como os nascituros, os pobres, os deficientes, os idosos (18).
No oitavo e último capítulo, o Pontífice se detém sobre "Religiões ao serviço da fraternidade no mundo" e reitera que o terrorismo não se deve à religião, mas a interpretações erradas de textos religiosos, bem como a políticas de fome, pobreza, injustiça e opressão (282-283). Um caminho de paz entre a religiões é, portanto, possível; por isso, é necessário garantir a liberdade religiosa, direito humano fundamental para todos os crentes (279). Uma reflexão, em particular, a Encíclica faz sobre o papel da Igreja: ela não relega a sua missão à esfera privada e, embora não fazendo política, não renuncia à dimensão política da existência, à atenção ao bem comum e à preocupação pelo desenvolvimento humano integral, segundo os princípios evangélicos (276-278).
Enfim, Francisco cita o "Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum", assinado por ele mesmo em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi, junto com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyib: desta pedra miliar do diálogo inter-religioso, o Pontífice retoma o apelo para que, em nome da fraternidade humana, o diálogo seja adoptado como caminho, a colaboração comum como conduta, e o conhecimento mútuo como método e critério (285).
Fonte: Vatican News Service – IP - SP
Papa: encontrar a cura também para os grandes vírus humanos e socioeconômicos
- Detalhes
"Um pequeno vírus continua causando feridas profundas e desmascara as nossas vulnerabilidades físicas, sociais e espirituais. Mostrou a grande desigualdade que reina no mundo: desigualdade de oportunidades, de bens, de acesso aos cuidados médicos, de tecnologia, educação, milhões de crianças não podem ir à escola, e assim por diante", disse Francisco na Audiência Geral.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“Curar o mundo. Preparar o futuro junto com Jesus que salva e cura.” Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (30/09), realizada no Pátio São Dâmaso, dedicada ao tema da pandemia de coronavírus.
O Pontífice recordou que “nas últimas semanas, à luz do Evangelho, refletimos juntos sobre como curar o mundo que sofre de um mal-estar que a pandemia realçou e acentuou”. “O mal-estar já existia. A pandemia o acentuou e aumentou. Percorremos os caminhos da dignidade, da solidariedade e da subsidiariedade, caminhos indispensáveis para promover a dignidade humana e o bem comum”, sublinhou Francisco.
Na qualidade de discípulos de Jesus, começamos a seguir os seus passos optando pelos pobres, repensando o uso dos bens e cuidando da Casa comum. No meio da pandemia que nos aflige, ancoramo-nos nos princípios da Doutrina Social da Igreja, deixando-nos guiar pela fé, esperança e caridade. Aqui encontramos uma ajuda sólida para ser agentes de transformação que sonham alto, não se detêm nas mesquinharias que dividem e magoam, mas encorajam a gerar um mundo novo e melhor.
O Papa frisou que gostaria que este percurso continuasse quando terminar suas catequeses sobre o tema da pandemia, que possamos continuar caminhando juntos, «mantendo o nosso olhar fixo em Jesus», que salva e cura o mundo.
O Evangelho nos mostra que “Jesus curou doentes de todos os tipos, restituiu a visão aos cegos, a palavra aos mudos, a audição aos surdos. Quando curava doenças e enfermidades físicas, curava também o espírito, perdoando os pecados, porque Jesus perdoa sempre, assim como as “dores sociais”, incluindo os marginalizados. Jesus, que renova e reconcilia cada criatura, nos concede os dons necessários para amar e curar como Ele sabia fazer, para cuidar de todos sem distinção de raça, língua ou nação”.
Segundo Francisco, “para que isto aconteça realmente, temos necessidade de contemplar e apreciar a beleza de cada ser humano e de cada criatura. Fomos concebidos no coração de Deus. «Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário». Além disso, toda criatura tem algo a dizer-nos sobre Deus Criador. Reconhecer esta verdade e dar graças pelos laços íntimos da nossa comunhão universal com todas as pessoas e todas as criaturas ativa «um cuidado generoso e cheio de ternura». Ajuda-nos também a reconhecer Cristo presente nos nossos irmãos e irmãs pobres e sofredores, a encontrá-los e a ouvir o seu grito e o grito da terra que lhe faz eco”. A seguir, acrescentou:
Mobilizados interiormente por estes gritos que exigem de nós outro rumo, exigem mudanças, poderemos contribuir para a cura das relações com os nossos dons e capacidades. Poderemos regenerar a sociedade e não voltar à chamada “normalidade”, que é uma normalidade doente, que estava doente antes da pandemia. A pandemia a acentuou. Agora voltamos à normalidade. Não, isso não é bom. Esta normalidade era doente de injustiça, desigualdade e degradação ambiental.
O Papa observou que “a normalidade a que somos chamados é a do Reino de Deus, onde «os cegos veem, os coxos caminham, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres...». Ninguém se faça de bobo olhando para o outro lado! Na normalidade do Reino de Deus o pão chega a todos e sobeja, a organização social baseia-se em contribuir, partilhar e distribuir, não em possuir, excluir e acumular. Estes dois gestos, certo? Este, o gesto que faz uma sociedade, uma família, um bairro, uma cidade, todos, continuar: dar-se, dar, que não é dar esmola, não: é dar do coração. E não o gesto que puxa para trás com egoísmo, a ansiedade de possuir. A forma cristã de fazer isto não é uma forma mecânica: é uma forma humana. Não poderemos sair da crise, evidenciada pela pandemia, mecanicamente: com novos aparelhos... que são muito importantes! “Eh, Padre, há inteligência artificial...”: é importante, nos faz ir adiante. Não tenha medo dessas coisas, mas sabendo que nem mesmo os meios mais sofisticados podem fazer uma coisa: eles podem fazer muitas coisas, mas não podem fazer uma coisa: a ternura. E a ternura é o sinal da presença de Jesus, o aproximar-se ao próximo para fazer com que vá adiante, para curar, ajudar, sacrificar-se pelo outro. Não se esqueçam disso”.
Um pequeno vírus continua causando feridas profundas e desmascara as nossas vulnerabilidades físicas, sociais e espirituais. Mostrou a grande desigualdade que reina no mundo: desigualdade de oportunidades, de bens, de acesso aos cuidados médicos, de tecnologia, educação, milhões de crianças não podem ir à escola, e assim por diante. Estas injustiças não são naturais nem inevitáveis. São obra do homem, provêm de um modelo de crescimento desligado dos valores mais profundos. O desperdício de alimento. O desperdício do alimento que sobra. Com esse desperdício é possível dar de comer a todos! E isto fez com que muitas pessoas perdessem a esperança e aumentou a incerteza e a angústia. É por isso que, para sairmos da pandemia, temos que encontrar a cura não só para o coronavírus, mas também para os grandes vírus humanos e socioeconômicos. E certamente não podemos esperar que o modelo econômico subjacente ao desenvolvimento injusto e insustentável resolva os nossos problemas. Não o fez e não o fará, porque não pode fazê-lo, embora certos falsos profetas continuam prometendo o “efeito dominó” que nunca chega. Vocês já ouviram falar do teorema do copo: o importante é que o copo se encha e depois transborda sobre os pobres e outros, e eles recebem as riquezas. Mas existe um fenômeno: o copo começa a encher e quando está quase cheio, o copo cresce e cresce e nunca transborda, nunca. Fiquem atentos!
Segundo o Pontífice, “temos que trabalhar urgentemente para gerar boas políticas, para conceber sistemas de organização social que recompensem a participação, o cuidado e a generosidade, e não a indiferença, a exploração e os interesses particulares. Temos de ir adiante com ternura. Uma sociedade solidária e equitativa é uma sociedade mais saudável. Uma sociedade participativa, onde os “últimos” são considerados como os “primeiros”, fortalece a comunhão. Uma sociedade onde a diversidade é respeitada é muito mais resistente a qualquer tipo de vírus”.
O Papa concluiu sua catequese, convidando a colocar “este caminho de cura sob a proteção da Virgem Maria, Nossa Senhora da Saúde. Ela, que carregou Jesus no seu ventre, nos ajude a ser confiantes. Animados pelo Espírito Santo, podemos trabalhar juntos para o Reino de Deus que Cristo inaugurou neste mundo, vindo entre nós. Um reino de luz no meio das trevas, de justiça no meio de tantos ultrajes, de alegria no meio de tanta dor, de cura e salvação no meio da doença e da morte. Deus nos conceda “viralizar” o amor e globalizar a esperança à luz da fé”.
Nas pegadas de São Jerônimo
Após a catequese, o Pontífice lembrou que hoje assinou a Carta Apostólica «Sacrae Scripturae affectus», no 16º centenário da morte de São Jerônimo. “Que o exemplo deste grande doutor e Padre da Igreja, que colocou a Bíblia no centro de sua vida, desperte em todos um amor renovado pela Sagrada Escritura e o desejo de viver em diálogo pessoal com a Palavra de Deus”. Fonte: https://www.vaticannews.va
24º Domingo do Tempo Comum: “Nem tudo se resolve com a justiça, é preciso perdoar para ser perdoado”. Francisco.
- Detalhes
"No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, enquanto o comportamento humana se limita à justiça. Jesus exorta-nos a abrirmo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça.", disse o Papa no Angelus, ressaltando que temos necessidade desse amor misericordioso de Deus e devemos aplicá-lo em todas as relações humanas.
Jackson Erpen – Vatican News
"Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar (...). Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida!”.
Inspirado na passagem de São Mateus (Mt 18, 21-35), proposta pela liturgia do dia, o Papa dedicou sua reflexão no Angelus deste XXIV Domingo do Tempo Comum ao perdão, enfatizando que devemos "aplicar o amor misericordioso nas relações humanas."
Dirigindo-se a um número sempre maior de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro para o tradicional encontro dominical, Francisco pediu que a intercessão da Mãe de Deus sempre nos recorde do quanto somos devedores de Deus: “se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.”
Patrão indulgente e compassivo
O cerne da parábola do rei misericordioso contada por Jesus é a indulgência que o patrão demonstra para com o servo com a dívida maior.
A súplica "Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo" é encontrada duas vezes na parábola, começou explicando o Papa:
“A primeira vez é pronunciada pelo servo que deve a seu patrão dez mil talentos, uma soma enorme, hoje seriam milhões de euros. A segunda vez é repetida por outro servo do mesmo patrão. Ele também está em dívida, não com seu senhor, mas com o mesmo servo que tem uma dívida enorme. E a dívida dele é muito pequena, talvez como o salário de uma semana.”
O patrão – conforme descrito pelo evangelista – teve compaixão - nunca esquecer esta palavra. Jesus teve compaixão - , deixou o servo ir embora, perdoando sua dívida. Como a dívida era enorme, o perdão também o foi.
Mas o servo, por sua vez, após perdoado, mostra-se implacável com seu companheiro que lhe devia uma soma modesta, e manda-o para a prisão até que este quite a sua pequena dívida. O patrão fica indignado ao saber, chama o servo malvado e faz com que seja condenado: "Mas eu te perdoei tanto e és incapaz de perdoar este pouco?"
No comportamento divino, justiça é permeada pela misericórdia
Francisco explica que na Parábola encontramos duas atitudes diferentes: a de Deus - representado pelo rei, que perdoa tanto, porque Deus perdoa sempre - e a do homem:
“No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, enquanto o comportamento humano se limita à justiça. Jesus exorta-nos a abrirmo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça, sabemos disso.”
De fato, “há necessidade desse amor misericordioso”, que é também a base da resposta do Senhor à pergunta de Pedro sobre quantas vezes deve perdoar um irmão que peca contra ele.
Aplicar o amor misericordioso nas relações humanas
O “setenta vezes sete”, na linguagem simbólica da Bíblia, “significa que somos chamados a perdoar sempre”:
“Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida! Mesmo em família. Quantas famílias desunidas, que não sabem se perdoar, quantos irmãos e irmãs que têm este rancor. É necessário aplicar o amor misericordioso em todas as relações humanas: entre os cônjuges, entre os pais e os filhos, nas nossas comunidades, na Igreja e também na sociedade e na política.”
Perdoar é uma luta contínua contra o rancor
O Papa recordou então da Missa celebrada pela manhã, quando ficou profundamente tocado por uma frase do Livro do Eclesiástico: "Lembra-te de teu fim, e deixa de odiar", exortando ao exercício contínuo do perdão:
“Bela frase! Mas pense no fim! Pense que estarás em um caixão e levarás o ódio para lá. Pense no final, deixe de odiar! Deixe do rancor. Pensemos nesta frase tão tocante: “Lembre-se do teu fim e deixa de odiar”. E não é fácil perdoar, porque nos momentos tranquilos alguém diz: “Sim, mas eles ou ele me aprontaram de tudo, mas também eu aprontei tantas. Melhor perdoar para ser perdoado”. Mas então o ressentimento volta, como uma mosca incômoda no verão que vai e vem e volta ... Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar.”
Assim - completou o Papa - esta parábola “ajuda-nos a compreender plenamente o sentido daquela frase que recitamos na oração do Pai-Nosso: «Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido»:
“Essas palavras contêm uma verdade decisiva. Não podemos pretender o perdão de Deus para nós se, por sua vez, não concedermos perdão ao nosso próximo. É uma condição: pense no fim, no perdão de Deus e deixe de odiar, mande embora o rancor, aquela mosca incômoda que volta e volta e volta. Se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.”
Confiemo-nos à materna intercessão da Mãe de Deus: que ela nos ajude a perceber o quanto somos devedores a Deus e a recordá-lo sempre, para assim ter o coração aberto à misericórdia e à bondade. Fontehttps://www.vaticannews.va
Papa Francisco: 'Prazer sexual serve para embelezar o amor'
- Detalhes
Papa Francisco: 'Prazer sexual serve para embelezar o amor'
Em entrevista a Carlo Petrini, criador do movimento Slow Food, pontífice falou sobre sexualidade e sobre gastronomia. Para ele, 'o prazer é simplesmente divino'
O papa Francisco é torcedor do time argentino San Lorenzo de Almagro Foto: Getty Images
O Papa Francisco chama os prazeres culinário e sexual de algo "simplesmente divino", em um livro de entrevistas publicado nesta quarta-feira (9) na Itália.
"A Igreja condenou os prazeres desumanos, grosseiros, vulgares, mas por outro lado sempre aceitou os prazeres humanos, sóbrios, morais", estima o papa argentino quando questionado por Carlo Petrini, escritor e gourmet italiano.
"O prazer vem diretamente de Deus, não é católico, nem cristão, nem nada parecido, é simplesmente divino", enfatiza o pontífice.
"O prazer de comer serve para manter uma boa saúde, da mesma forma que o prazer sexual serve para embelezar o amor e garantir a continuidade da espécie", disse Francisco.
O Papa se opõe categoricamente a uma "moralidade abençoada" que rejeita a noção de prazer, como aconteceu na história da Igreja Católica, porque "é uma interpretação errônea da mensagem cristã".
Esta visão "causou enormes danos, que ainda são perceptíveis em alguns casos", acrescentou. O papa também destaca sua admiração pelo filme "A Festa de Babette", que se passa em uma comunidade protestante dinamarquesa ultrapuritana do século XIX e que é uma homenagem à gastronomia.
"Para mim é um hino à caridade cristã, ao amor", considera o Papa. Fonte: https://oglobo.globo.com
Francisco: pandemia, podemos sair melhores dela se todos juntos buscarmos o bem comum
- Detalhes
"A resposta cristã à pandemia e às consequentes crises socioeconômicas se baseia no amor, antes de tudo, no amor de Deus que sempre nos precede", disse o Papa na Audiência Geral desta quarta-feira.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“Curar o mundo”. Amor e bem comum. Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (09/09), realizada no Pátio São Dâmaso, situado dentro do Vaticano.
Nesta segunda Audiência Geral pública desde o início da pandemia de coronavírus, Francisco ressaltou que “a crise que estamos vivendo por causa da pandemia afeta a todos. Podemos sair melhores dela se todos juntos buscarmos o bem comum. Pelo contrário, sairemos piores”.
Infelizmente, estamos assistindo ao surgimento de interesses de parte. Por exemplo, há quem deseje apropriar-se de possíveis soluções, como no caso das vacinas, e depois vendê-las a outros. Algumas pessoas se aproveitam da situação para fomentar divisões: para procurar vantagens econômicas ou políticas, gerando ou aumentando os conflitos. Outros simplesmente não se importam com o sofrimento dos outros, passam adiante e seguem o seu caminho. São devotos de Pôncio Pilatos. Lavam as mãos.
Resposta cristã à pandemia
Segundo o Pontífice, “a resposta cristã à pandemia e às consequentes crises socioeconômicas se baseia no amor, antes de tudo, no amor de Deus que sempre nos precede. Ele nos ama por primeiro. Ele sempre nos precede no amor e nas soluções. Ele nos ama incondicionalmente, e quando aceitamos este amor divino, podemos responder de forma semelhante”.
Amo não só aqueles que me amam: a minha família, os meus amigos, o meu grupo, mas também aqueles que não me amam, amo também aqueles que não me conhecem, ou que são estrangeiros, e também aqueles que me fazem sofrer ou que considero inimigos. Esta é a sabedoria cristã, este é o ensinamento de Jesus. O ponto mais alto da santidade é amar o inimigo, mas não é fácil. Não é fácil. Claro, amar todos, inclusive os inimigos, é difícil, diria que é uma arte! Mas é uma arte que pode ser aprendida e melhorada. O verdadeiro amor, que nos torna fecundos e livres, é sempre expansivo e inclusivo. Este amor cuida, cura e faz bem. Muitas vezes uma carícia faz mais bem do que muitos argumentos, uma carícia de perdão e não muitos argumentos para se defender. É o amor inclusivo que cura.
O amor é inclusivo, social, familiar e político
O Papa disse ainda que “o amor não se limita às relações entre duas ou três pessoas, amigos, ou família. Inclui as relações cívicas e políticas, incluindo a relação com a natureza. Sendo nós seres sociais e políticos, uma das mais altas expressões de amor é o amor social e político, que é decisivo para o desenvolvimento humano e para enfrentar qualquer tipo de crise".
“Sabemos que o amor fecunda famílias e amizades; mas é bom lembrar que também fecunda relações sociais, culturais, econômicas e políticas, permitindo-nos construir uma “civilização do amor”, como gostava de dizer São Paulo VI e, na sua esteira, São João Paulo II.”
"Sem esta inspiração, a cultura do egoísmo, da indiferença, do descarte, prevalece, a cultura da indiferença, o descarte, ou seja, descartar quem eu não quero bem, aquele que não posso amar ou aqueles que me parecem ser inúteis na sociedade. Hoje, na entrada, um casal me disse: "Reze por nós, pois temos um filho deficiente". Eu perguntei: "Quantos anos ele tem?" "Muitos". "O que fazem?" "Nós o acompanhamos, nós o ajudamos". Toda uma vida inteira de pais por aquele filho deficiente. Isso é amor. Os inimigos, os adversários políticos, mesmo no nosso parecer, parecem ser deficientes políticos, sociais. Parecem ser. Somente Deus sabe se eles são ou não. Nós devemos amá-los, devemos dialogar, devemos construir esta civilização do amor, esta civilização política, social, de unidade de toda a humanidade. Pelo contrário, haverá guerras, divisões, invejas, até mesmo guerras na família. O amor é inclusivo, é social, é familiar, é político. O amor permeia tudo."
O coronavírus nos mostra que o verdadeiro bem para cada um é um bem comum, não somente individual e, vice-versa, o bem comum é um verdadeiro bem para a pessoa. Se uma pessoa busca apenas o seu próprio bem, ela é egoísta. Ao invés disso, a pessoa é mais, é mais nobre, quando o seu próprio bem a abre a todos, e o compartilha. A saúde não é apenas individual, mas também um bem público. Uma sociedade saudável é aquela que cuida da saúde de todos, de todos.
O verdadeiro amor não conhece a cultura do descarte
“Um vírus que não conhece barreiras, fronteiras, distinções culturais nem políticas deve ser enfrentado com um amor sem barreiras, fronteiras nem distinções. Este amor pode gerar estruturas sociais que nos encorajam a partilhar em vez de competir, que nos permitem incluir os mais vulneráveis em vez de os descartar, e que nos ajudam a expressar o melhor da nossa natureza humana e não o pior. O verdadeiro amor não conhece a cultura do descarte. Não sabe o que é”, sublinhou Francisco.
Segundo o Papa, “quando amamos e geramos criatividade, confiança e solidariedade, então emergem iniciativas concretas para o bem comum. E isto é verdade tanto a nível de pequenas e grandes comunidades como a nível internacional. O que se faz na família, no bairro, nos vilarejos, nas grades cidades e internacionalmente é a mesma coisa. É a mesma semente que cresce, cresce e dá fruto. Se você na família, no bairro começa com a inveja, com a luta, será guerra no final. Ao invés, se você começar com amor, compartilhando amor, perdão, será amor e perdão para todos. A seguir, acrescentou:
Pelo contrário, se as soluções para a pandemia tiverem a marca do egoísmo, quer de pessoas, empresas ou nações, talvez consigamos sair do coronavírus, mas certamente não da crise humana e social que o vírus evidenciou e acentuou. Portanto, atenção a não construir sobre areia! Para construir uma sociedade saudável, inclusiva, justa e pacífica, devemos fazê-lo sobre a rocha do bem comum. O bem comum é uma rocha. E esta é a tarefa de todos, e não apenas de alguns especialistas. Santo Tomás de Aquino disse que a promoção do bem comum é um dever de justiça que recai sobre todos os cidadãos. Todo cidadão é responsável pelo bem comum. E, para os cristãos, é também uma missão. Como ensina Santo Inácio de Loyola, orientar os nossos esforços diários para o bem comum é uma forma de receber e difundir a glória de Deus.
Uma boa política é possível
“Infelizmente”, disse ainda Francisco, “a política muitas vezes não goza de boa reputação, e nós sabemos porquê. Isso não significa que os políticos sejam todos maus, não, não estou dizendo isso. Estou dizendo que, infelizmente, a política muitas vezes não tem uma boa reputação".
“Mas não nos devemos resignar a esta visão negativa, mas reagir demonstrando com fatos que uma boa política é possível, aliás, indispensável, aquela que coloca no centro a pessoa humana e o bem comum.”
"É possível na medida em que cada cidadão e, em particular, aqueles que assumem compromissos e encargos sociais e políticos, enraízam as suas ações em princípios éticos e os animam com amor social e político. Os cristãos, especialmente os fiéis leigos, são chamados a dar bom testemunho disso e podem fazê-lo através da virtude da caridade, cultivando a sua intrínseca dimensão social."
O Papa concluiu sua catequese, afirmando que “chegou o momento de aumentar o nosso amor social, contribuindo todos, começando pela nossa pequenez. O bem comum requer a participação de todos. Se cada um contribuir com a sua parte, e se ninguém for excluído, podemos regenerar boas relações no âmbito comunitário, nacional e internacional e também em harmonia com o meio ambiente. Assim, nos nossos gestos, mesmo os mais humildes, algo da imagem de Deus que levamos dentro de nós se tornará visível, porque Deus é Trindade. Deus é amor. Esta é a mais bonita definição de Deus que está na Bíblia, dada a nós pelo apóstolo João que tanto amava Jesus: Deus é amor. Com a sua ajuda, podemos curar o mundo trabalhando juntos para o bem comum, não apenas para o meu bem, mas para o bem comum de todos”. Fonte: https://www.vaticannews.va
23º Domingo do Tempo Comum: “A fofoca é uma peste pior que a Covid”. Francisco.
- Detalhes
Francisco volta a falar no Angelus sobre a fofoca: "por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar". A passagem do Evangelho deste domingo fala da correção fraterna, e convida-nos a refletir sobre a dupla dimensão da existência cristã: a dimensão comunitária e a dimensão pessoal.
Silvonei José – Vatican News
“As fofocas fecham o coração à comunidade, impedem a unidade da Igreja. O grande fofoqueiro é o diabo, que sempre sai dizendo coisas ruins dos outros, porque ele é o mentiroso que tenta desunir a Igreja, afastar os irmãos e não fazer comunidade. Por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar. A fofoca é uma peste pior que a Covid, pior: foi o que disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo, 23º do Tempo Comum, na Praça São Pedro, acrescentando: "O ensinamento de Jesus nos ajuda muito, porque pensemos num exemplo: quando nós vemos um erro, um defeito, um escorregão de um irmão ou de uma irmã, normalmente a primeira coisa que fazemos é contar aos outros, fofocar".
A passagem do Evangelho deste domingo comentado pelo Papa fala da correção fraterna, e convida-nos a refletir sobre a dupla dimensão da existência cristã: a dimensão comunitária, que exige a proteção da comunhão, e a dimensão pessoal, que exige atenção e respeito por cada consciência individual.
"Para corrigir o irmão que cometeu um erro, Jesus sugere uma pedagogia de recuperação, articulada em três etapas. Primeiro diz: "Avisa-o entre você e ele sozinho", ou seja, não coloque o seu pecado em praça pública. É uma questão de ir ao irmão com discrição, não para o julgar, mas para o ajudar a perceber o que fez", salienta Bergoglio, "contudo, pode acontecer que, apesar das minhas boas intenções, a primeira intervenção falhe. Neste caso é bom não desistir, que se arranje, eu lavo as minhas mãos, não, isso não é cristão, mas recorrer ao apoio de algum outro irmão ou irmã".
Jesus diz: "se ele não ouvir, leve consigo um ou duas pessoas novamente para que tudo se resolva com a palavra de duas ou três testemunhas. As duas testemunhas solicitadas não são para acusarem e julgar, mas para ajudar, para a recuperação", continua o Pontífice. "Também o amor de dois ou três irmãos pode ser insuficiente. Neste caso - acrescenta Jesus -, "dizê-lo à comunidade", ou seja, à Igreja. Em algumas situações, toda a comunidade está envolvida. Há coisas que não podem deixar indiferentes os outros irmãos: é necessário um amor maior para recuperar o irmão. Mas por vezes até isto pode não ser suficiente. Jesus diz: "Se nem mesmo à comunidade ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano”. Esta expressão, aparentemente tão desdenhosa - disse o Papa Francisco -, convida-nos de fato a colocar o nosso irmão de volta nas mãos de Deus: "só o Pai poderá demonstrar um amor maior do que o de todos os irmãos juntos. É o amor de Jesus, que acolheu os publicanos e pagãos, escandalizando as pessoas bem pensantes da época".
Francisco disse que “não é fácil pôr em prática este ensinamento de Jesus, por várias razões. Há o medo de que o irmão ou irmã reaja mal; por vezes não há confidência suficiente com ele ou ela... E outras razões.
"Não se trata de uma questão de condenação sem apelo, mas do reconhecimento de que por vezes as nossas tentativas humanas podem falhar, e que só estando sozinho perante Deus pode colocar o nosso irmão perante a sua própria consciência e a responsabilidade pelos seus atos".
Francisco encerrou a sua alocução pedindo a Nossa Senhora que “nos ajude a fazer da correção fraterna um hábito saudável, para que nas nossas comunidades possam sempre ser estabelecidas novas relações fraternas, baseadas no perdão recíproco e sobretudo no poder invencível da misericórdia de Deus”. Fonte: https://www.vaticannews.va
22º Domingo do Tempo Comum: “Cada um de nós deve tomar a própria cruz” Papa Francisco
- Detalhes
“Se quisermos ser seus discípulos, somos chamados a imitá-Lo, entregando nossas vidas sem reservas por amor a Deus e ao próximo”, palavras do Papa Francisco ao falar sobre o compromisso de cada um de nós de “tomar a nossa própria cruz”
Jane Nogara – Vatican News
Na oração do Angelus deste domingo (30/08) o Santo Padre refletiu sobre o compromisso de cada um de nós de “tomar a própria cruz”. Francisco discorreu sobre o Evangelho de Mateus quando Jesus pela primeira vez falou aos seus discípulos sobre o final que o espera na Cidade Santa:
“Diz que terá que ‘sofrer muito por parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia’”
A reação dos discípulos a esta predição é considerada imatura por Jesus: “Ainda têm uma fé imatura e muito ligada à mentalidade deste mundo”. Eles não querem que Jesus passe por isso.
“Para Pedro e os outros discípulos - mas também para nós! - a cruz é um ‘escândalo’, enquanto Jesus considera um ‘escândalo’ fugir da cruz, o que significaria fugir da vontade do Pai, da missão que Ele lhe confiou para nossa salvação”
Tomar a própria cruz
Jesus, continua Francisco, aponta o caminho do verdadeiro discípulo mostrando duas atitudes: “A primeira é ‘renunciar a si mesmo’, o que não significa uma mudança superficial, mas uma conversão, uma inversão de valores. A outra atitude é tomar a própria cruz” Explicando que “não se trata apenas de suportar pacientemente as tribulações diárias, mas de carregar com fé e responsabilidade aquela parte do esforço e do sofrimento que a luta contra o mal implica”.
“Façamos com que a cruz pendurada na parede de casa, ou a pequena que usamos no pescoço, seja um sinal de nosso desejo de nos unirmos a Cristo no serviço a nossos irmãos com amor, especialmente os pequenos e mais frágeis”
Jesus crucificado, verdadeiro Servo do Senhor
Em seguida recorda ainda que a cruz é sinal sagrado do Amor de Deus e do Sacrifício de Jesus, e não deve ser reduzida a um objeto de superstição ou uma joia ornamental.
“Toda vez que fixamos o olhar na imagem de Cristo crucificado, pensamos que Ele, como verdadeiro Servo do Senhor, cumpriu Sua missão dando a vida, derramando Seu sangue para a remissão dos pecados”
Por fim ensina que “se quisermos ser seus discípulos, somos chamados a imitá-Lo, entregando nossas vidas sem reservas por amor a Deus e ao próximo”. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: a desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas
- Detalhes
“Perante a pandemia e as suas consequências sociais, muitos correm o risco de perder a esperança. Neste tempo de incerteza e angústia, convido todos a aceitarem o dom da esperança que vem de Cristo”: convidou o Papa na audiência geral. É Cristo “que nos ajuda a navegar nas águas tumultuosas da doença, da morte e da injustiça, que não têm a última palavra sobre o nosso destino final”. A economia está doente, devemos sair melhores da pandemia, disse
Raimundo de Lima - Vatican News
“No mundo de hoje, muito poucas pessoas ricas possuem mais do que o resto da humanidade. É uma injustiça que clama aos céus!” Foi o que disse o Papa Francisco na audiência geral desta quarta-feira (26/08), na Biblioteca do Palácio Apostólico, no Vaticano, dando prosseguimento a suas reflexões nesta série de catequeses intitulada “Curar o Mundo” dedicada à pandemia. A catequese de hoje, a quarta da série, teve como tema “O destino universal dos bens e a virtude da esperança”.
“Perante a pandemia e as suas consequências sociais, muitos correm o risco de perder a esperança. Neste tempo de incerteza e angústia, convido todos a aceitarem o dom da esperança que vem de Cristo”, foi o convite inicial do Santo Padre, que completou: “É Ele que nos ajuda a navegar nas águas tumultuosas da doença, da morte e da injustiça, que não têm a última palavra sobre o nosso destino final”.
Pandemia evidenciou e agravou problemas sociais
Francisco prosseguiu afirmando que a pandemia pôs em evidência e agravou os problemas sociais, especialmente a desigualdade. “Alguns podem trabalhar de casa, enquanto para muitos outros isto é impossível. Algumas crianças, apesar das dificuldades, podem continuar a receber uma educação escolar, enquanto para muitas outras houve uma brusca interrupção. Algumas nações poderosas podem emitir moeda para enfrentar a emergência, enquanto que para outras isso significaria hipotecar o futuro.”
Estes sintomas de desigualdade revelam uma doença social, frisou o Papa, “é um vírus que provém de uma economia doente. É o resultado de um crescimento econômico desigual, que é independente dos valores humanos fundamentais. No mundo de hoje, muito poucas pessoas ricas possuem mais do que o resto da humanidade. É uma injustiça que clama aos céus!”
O Pontífice chamou a atenção para o fato que este modelo econômico é indiferente aos danos infligidos à casa comum:
“Estamos perto de superar muitos dos limites do nosso maravilhoso planeta, com consequências graves e irreversíveis: desde a perda de biodiversidade e alterações climáticas ao aumento do nível dos mares e à destruição das florestas tropicais. A desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas e têm a mesma raiz: a do pecado de querer possuir e dominar os irmãos e irmãs, a natureza e o próprio Deus. Mas este não é o desígnio da criação.”
Deus confiou a terra e seus recursos à gestão comum
Dito isso, o Papa lembrou que Deus confiou a terra e os seus recursos à gestão comum da humanidade, para que dela cuidasse. Deus pediu-nos que dominássemos a terra em Seu nome, cultivando-a e cuidando dela como se fosse um jardim, o jardim de todos.
Francisco destacou que “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar, “guardar” significa proteger..., preservar. Em seguida, fez uma advertência: “cuidado para não interpretar isto como uma carta branca para fazer da terra aquilo que se quer.
“Existe ‘uma relação responsável de reciprocidade’ entre nós e a natureza. Recebemos da criação e damos por nossa vez. Cada comunidade pode tirar da bondade da terra o que precisa para a sua sobrevivência, mas também tem o dever de a proteger.”
Propriedade privada e destino universal dos bens
O Santo Padre evocou alguns elementos bíblicos e conceitos contidos no Catecismo da Igreja Católica (CIC) e documentos conciliares que dão embasamento ao princípio do “destino universal dos bens” da terra.
A terra precede-nos e foi-nos dada, foi dada por Deus “a toda a humanidade” (CIC, 2402). “E por isso é nosso dever assegurar que os seus frutos cheguem a todos, e não apenas a alguns. Este é um elemento-chave da nossa relação com os bens terrenos. Como recordaram os padres do Concílio Vaticano II, ‘quem usa desses bens, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros’ (Const. past. Gaudium et spes, 69).”
“A propriedade dum bem faz do seu detentor um administrador da providência de Deus, com a obrigação de o fazer frutificar e de comunicar os seus benefícios aos outros (CIC, 2404).”
A “subordinação da propriedade privada ao destino universal dos bens é uma ‘regra de ouro’ do comportamento social, e o primeiro princípio de toda a ordem ético-social”, asseverou o Papa Francisco.
Propriedade e dinheiro, instrumentos para a missão
“A propriedade e o dinheiro são instrumentos que podem servir para a missão. Mas transformamo-los facilmente em fins individuais ou coletivos. E quando isto acontece – observou Francisco –, os valores humanos essenciais são minados. O homo sapiens deforma e torna-se uma espécie de homo oeconomicus - num sentido menor - individualista, calculista e dominador.”
“Esquecemos que – continuou o Pontífice –, sendo criados à imagem e semelhança de Deus, somos seres sociais, criativos e solidários, com uma imensa capacidade de amar. De fato, somos os seres mais cooperadores entre todas as espécies, e florescemos em comunidade, como se pode ver na experiência dos santos.”
“Quando a obsessão de possuir e dominar exclui milhões de pessoas dos bens primários; quando a desigualdade econômica e tecnológica é tal que rasga o tecido social; e quando a dependência do progresso material ilimitado ameaça a casa comum, então não podemos ficar de braços cruzados assistindo. Não, isso é desolador.”
Cristo partilhou tudo conosco
Com o olhar fixo em Jesus “e com a certeza de que o seu amor opera através da comunidade dos seus discípulos, devemos agir em conjunto – foi a exortação do Santo Padre – na esperança de gerar algo diferente e melhor. A esperança cristã, enraizada em Deus, é a nossa âncora. Sustenta a vontade de partilhar, fortalecendo a nossa missão como discípulos de Cristo, que partilhou tudo conosco”. Francisco ressaltou que isso foi compreendido pelas primeiras comunidades cristãs, que, como nós, viveram tempos difíceis.
“Estamos passando por uma crise. A pandemia nos colocou a todos em crise. Mas lembrem-se: não se pode sair de uma crise da mesma forma, ou saímos melhores, ou saímos piores. Esta é a nossa opção. Após a crise, continuaremos com este sistema econômico de injustiça social e desprezo pelo meio ambiente, pela criação, pela casa comum? Pensemos nisso”, frisou o Pontífice.
Recordando que nas primeiras comunidades cristãs seus membros tinham tudo em comum, dando testemunho da graça de Cristo, o Papa concluiu com uma premente exortação:
“Que as comunidades cristãs do século XXI recuperem esta realidade, dando assim testemunho da Ressurreição do Senhor. Se cuidarmos dos bens que o Criador nos concede, se partilharmos o que possuímos para que ninguém sinta a sua falta, então de fato podemos inspirar a esperança de regenerar um mundo mais saudável e mais justo.”
Depois da crise pandêmica devemos sair melhores
“E para concluir – disse Francisco –, pensemos nas crianças. Leiam as estatísticas: quantas crianças, hoje, morrem de fome por uma má distribuição da riqueza, por um sistema econômico como disse antes; e quantas crianças, hoje, não têm direito à escola, pelo mesmo motivo? Que seja esta imagem, de crianças necessitadas por causa da fome e da falta de instrução, que nos ajude a entender que depois desta crise devemos sair melhores!”
Ao término da catequese, na saudação aos fiéis, dirigindo-se aos de língua portuguesa fez-lhes votos de uma fé grande para ver a realidade com o olhar de Deus e uma grande caridade para aproximar-se das pessoas com coração misericordioso.
Igreja na Polônia celebra Nossa Senhora de Czestochowa
Saudando os de língua polonesa o Papa lembrou que hoje a Igreja na Polônia celebra a solenidade de Nossa Senhora Negra de Czestochowa. E recordando sua visita àquele Santuário mariano, quatro anos atrás, por ocasião da JMJ, disse unir-se hoje aos milhares de peregrinos que ali se reúnem, junto ao Episcopado polonês, para confiar a si mesmos, as famílias, a nação e toda a humanidade à sua materna proteção.
Francisco exortou-os a pedir à Mãe Santíssima que interceda por todos nós, e sobretudo por aqueles que de diferentes modos sofrem por causa da pandemia, trazendo-lhes um conforto.
Quinta e sexta-feira, Santa Mônica e Santo Agostinho
Saudando os de língua italiana, exortou-os a serem, em todos os ambientes, testemunhas da gratuidade do amor de Deus e lembrou que amanhã e depois de amanhã (quinta e sexta-feira), a liturgia recorda dois grandes Santos, Santa Mônica e seu filho Santo Agostinho, unidos na terra por vínculos familiares e no céu pelo mesmo destino de glória. “Que o exemplo deles e intercessão impelem cada um a uma busca sincera da Verdade evangélica”, foi a exortação final do Papa. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa: Igreja segue em frente na fé de Pedro. Fé é vida
- Detalhes
"É indispensável e louvável que a pastoral de nossas comunidades esteja aberta às muitas pobrezas e emergências. A caridade é sempre o principal caminho da perfeição. Mas é preciso que as obras de solidariedade, as obras de caridade, não desviem o contato com o Senhor Jesus."
Jackson Erpen – Vatican News
"E vós, quem dizes que eu sou?". A passagem do Evangelho de Mateus em que Pedro professa a sua fé em Jesus como Messias e Filho de Deus, inspirou a reflexão do Papa no Angelus deste XXI Domingo do Tempo Comum. A nossa profissão de fé em Jesus – observou Francisco – longe de ser uma resposta teórica, envolve toda a nossa existência e dá sentido pleno à nossa caridade.
A cada domingo, um maior número de fiéis e turistas participa da tradicional oração na Praça São Pedro, mesmo com o forte calor, atenuado pela sombra sob as Colunas de Bernini, um boné e muita água. E foi a eles que o Papa começou saudando, para então apresentar a leitura proposta pela liturgia do dia, em que Pedro professa sua fé em Jesus, que por sua vez - reconhecendo a pronta correspondência de Simão à inspiração da graça – diz que sobre ele – a pedra – edificará a sua Igreja.
Caminho de educação na fé
A intenção de Jesus ao interpelar os apóstolos sobre quem Ele era – explica o Papa – é “conduzir os seus discípulos a dar o passo decisivo na sua relação com Ele”, pois “todo o caminho de Jesus com aqueles que o seguem, especialmente com os Doze, é um caminho de educação de sua fé.”
Talvez boa parte dos apóstolos compartilhasse da opinião da maior parte dos homens, isto é, que Jesus era um profeta. Mas quando Jesus lhes faz a mesma pergunta - "Mas vós, quem dizeis que sou - eles hesitam, paira um silêncio no ar. "O mesmo sucederia se eu perguntasse para vocês agora: "Para ti, quem é Jesus?". Haverá um pouco de hesitação", ilustra o Papa.
Confessar Jesus é uma graça do Pai
No entanto, em um impulso, é o Apóstolo mais mencionado nos escritos no Novo Testamento – bem 171 vezes – que os tira do embaraço afirmando: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo".
“Uma resposta “tão plena e luminosa, não lhe vem de um impulso, por mais generoso que fosse - Pedro era generoso - mas é fruto de uma graça particular do Pai celeste”, observou Francisco.
De fato, o próprio Jesus lhe diz: "Nem a carne nem o sangue te revelaram isso, isto é, na cultura, no que estudaste (...). Te-lo revelou meu Pai que está nos Céus. Confessar Jesus é uma graça do Pai. Dizer que Jesus é o Filho de Deus vivo, que é o Redentor, é uma graça que nós devemos pedir: "Pai, dá-me esta graça de confessar Jesus".
Resposta de fé
E em tom solene acrescenta: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la":
Com esta afirmação, Jesus faz compreender a Simão o significado do novo nome que lhe deu, "Pedro": a fé que acaba de manifestar é a "pedra" inquebrantável sobre a qual o Filho de Deus quer construir a sua Igreja, ou seja, sua Comunidade. E a Igreja vai em frente sempre na fé de Pedro, naquela fé que Deus reconhece, que Jesus reconhece e o faz chefe da Igreja:
“Hoje, ouvimos dirigida a cada um de nós a pergunta de Jesus: "E vós, quem dizes que eu sou?". A cada um de nós! E cada um de nós deve dar uma resposta não teórica, mas que envolve a fé, ou seja, a vida, porque fé é vida! "Para mim tu és..." e confessar Jesus.”
Jesus no centro, o verdadeiro caminho da caridade cristã
Uma resposta que requer também de nós, como dos primeiros discípulos, a escuta interior da voz do Pai e a consonância com o que a Igreja reunida em torno de Pedro, o que a Igreja continua a proclamar. Trata-se de compreender quem é Cristo para nós: se Ele é o centro da nossa vida, se Ele é a meta de todo o nosso compromisso na Igreja, de nosso compromisso na sociedade. "Quem é Cristo para mim? Quem é Jesus Cristo para ti, para ti, para ti? Uma resposta que nós deveríamos dar a cada dia. Mas estejam atentos":
“[ É indispensável e louvável que a pastoral de nossas comunidades esteja aberta às muitas pobrezas e emergências que estão por tudo. A caridade é a via mestra do caminho da fé, da perfeição da fé. Mas é necessário que as obras de solidariedade, as obras de caridade que nós fazemos, não desviem o contato com o Senhor Jesus. A caridade cristã não é simples filantropia, mas, por um lado, é olhar o outro com os próprios olhos de Jesus e, por outro, é ver Jesus no rosto do pobre. E este é o caminho verdadeiro da caridade cristã, com Jesus no centro, sempre.]”
Que Maria Santíssima – disse o Santo Padre ao concluir - bem-aventurada porque acreditou, seja para nós guia e modelo no caminho da fé em Cristo e nos torne conscientes que a confiança nele dá sentido pleno à nossa caridade e a toda a nossa existência. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa exorta a curar as epidemias causadas pelos pequenos vírus e pelas grandes injustiças sociais
- Detalhes
“A pandemia é uma crise e de uma crise não se sai iguais: ou saímos melhores ou saímos piores. Nós deveríamos sair melhores, para melhorar as injustiças sociais e a degradação ambiental. Hoje temos uma oportunidade de construir algo diferente.", disse Francisco em sua catequese, afirmando que seria triste se uma vacina contra a Covid-19 "se tornasse propriedade desta ou daquela nação e não universal para todos."
Jackson Erpen – Vatican News
O Papa deu continuidade nesta quarta-feira na Biblioteca do Palácio Apostólico a sua série de catequeses dedicadas à pandemia, uma situação que nos oferece "a oportunidade para construir algo diferente". "Pandemia é uma crise e de uma crise não se sai iguais. Deveríamos sair melhores". No entanto, "se o vírus voltar a se intensificar em um mundo injusto em relação aos pobres e vulneráveis", devemos mudar este mundo. "Devemos agir agora para curar as epidemias causadas por pequenos vírus invisíveis, e para curar as que são provocadas pelas grandes e visíveis injustiças sociais", tendo como critério, o amor de Deus.
Curar um grande vírus, o da injustiça social
“A pandemia – ressaltou o Pontífice logo ao iniciar - acentuou a situação dos pobres e a grande desigualdade que reina no mundo. E o vírus, sem excluir ninguém, encontrou grandes desigualdades e discriminações no seu caminho devastador. E aumentou-as!” Diante deste quadro, é necessária uma dupla resposta:
“Por um lado, é essencial encontrar uma cura para um pequeno mas terrível vírus que põe o mundo inteiro de joelhos. Por outro, temos de curar um grande vírus, o da injustiça social, desigualdade de oportunidades, marginalização e falta de proteção para os mais vulneráveis. Nesta dupla resposta de cura há uma escolha que, segundo o Evangelho, não pode faltar: é a opção preferencial pelos pobres. E isso não é uma opção política, não é uma ideologia, nem de partido, não. A opção preferencial pelos pobres está no centro do Evangelho. Jesus foi o primeiro a fazê-la. Sendo rico, se fez pobre, para nos enriquecer, fez-se um de nós.”
Critério-chave da autenticidade cristã
Recordando a forma como Jesus viveu sua vida terrena - despojando-se e fazendo-se semelhante aos homens, vivendo sem privilégios na condição de servo, nascido numa família humilde e tendo trabalhado como artesão, estando no meio dos doentes, leprosos, dos pobres e dos excluídos, mostrando-lhes o amor misericordioso de Deus,– o Papa observou que se reconhece os seguidores de Jesus “pela sua proximidade aos pobres, aos pequeninos, aos doentes, aos presos, aos excluídos, aos esquecidos, a quantos estão sem comida e sem roupa. É o protocolo pelo qual seremos julgados" (Mateus 25). E este – acentuou Francisco - é um critério-chave de autenticidade cristã.
O Pontífice observa que “alguns pensam erroneamente que este amor preferencial pelos pobres é uma tarefa para poucos, mas na realidade é a missão de toda a Igreja”, como afirmou São João Paulo II em sua Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis. “Cada cristão e cada comunidade - afirmou, citando a Evangelii Gaudium - são chamados a ser instrumentos de Deus para a libertação e promoção dos pobres”.
Trabalhar em conjunto para curar as estruturas sociais doentes
“A fé, a esperança e o amor impulsionam-nos necessariamente para esta preferência pelos mais necessitados, que vai além da assistência necessária”, acrescentou, explicando:
“Trata-se de caminhar juntos, deixando-se evangelizar por eles, que conhecem bem Cristo sofredor, deixando-nos “contagiar” pela sua experiência de salvação, sabedoria e de sua criatividade. Partilhar com os pobres significa enriquecer-se uns aos outros. E se existem estruturas sociais doentes que lhes impedem de sonhar com o futuro, devemos trabalhar em conjunto para curá-las, para mudá-las. E a isto conduz o amor de Cristo, que nos amou ao extremo e chega até aos confins, às margens, às fronteiras existenciais. Trazer as periferias para o centro significa centrar as nossas vidas em Cristo, que «se fez pobre» por nós, a fim de nos enriquecer «através da sua pobreza».”
Deveríamos sair melhores da crise
Há uma expectativa para retomar as atividades econômicas e voltar à normalidade. As consequências sociais da pandemia preocupam a todos, "todos!" No entanto – chama a atenção o Papa – esta “normalidade” “não deve incluir injustiça social e degradação ambiental”:
“A pandemia é uma crise e de uma crise não se sai iguais: ou saímos melhores ou saímos piores. Nós deveríamos sair melhores, para melhorar as injustiças sociais e a degradação ambiental. Hoje temos uma oportunidade de construir algo diferente. Por exemplo, podemos fazer crescer uma economia de desenvolvimento integral dos pobres e não de assistencialismo. Com isso não quero condenar o assistencialismo, as obras assistenciais são importantes. Pensemos no voluntariado, que é uma das estruturas mais belas que tem a Igreja italiana. Isto sim, faz o assistencialismo, mas devemos ir além, resolver os problemas que nos levam a fazer o assistencialismo. Uma economia que não recorra a remédios que na realidade envenenam a sociedade, tais como rendimentos dissociados da criação de empregos dignos. Este tipo de lucro é dissociado da economia real, aquela que deveria beneficiar as pessoas comuns e é também por vezes indiferente aos danos infligidos à casa comum.”
A vacina contra a Covid-19 e os quatro critérios de ajuda às indústrias
A opção preferencial pelos pobres – reitera o Santo Padre - esta necessidade ética e social que vem do amor de Deus, “dá-nos o estímulo para pensar e conceber uma economia onde as pessoas, e especialmente as mais pobres, estejam no centro. E também nos encoraja a projetar o tratamento dos vírus, privilegiando quem tem mais necessidade”:
“Seria triste se essa vacina contra a Covid-19 fosse dada a prioridade aos mais ricos! Seria triste se esta vacina se tornasse propriedade desta ou daquela nação e não universal para todos. E que escândalo seria se toda a assistência econômica que estamos a observar - a maior parte dela com dinheiro público - se concentrasse no resgate das indústrias que não contribuem para a inclusão dos excluídos, para a promoção dos últimos, para o bem comum ou para o cuidado da criação. São critérios para escolher quais são as indústrias a serem ajudadas: aquelas que contribuem para a inclusão dos excluídos, para a promoção dos últimos, para o bem comum e com o cuidado da criação. Quatro critérios!”
Mudar o mundo a partir do amor de Deus
Se o vírus se voltar a intensificar num mundo injusto em relação aos pobres e vulneráveis, devemos mudar este mundo, enfatiza o Pontífice. Neste sentido, a exemplo de Jesus, médico do amor divino integral, isto é, da cura física, social e espiritual - devemos agir agora para curar as epidemias causadas por pequenos vírus invisíveis, e para curar as que são provocadas pelas grandes e visíveis injustiças sociais.
Proponho – disse Francisco ao concluir - que isto seja feito a partir do amor de Deus, colocando as periferias no centro e os últimos em primeiro lugar. "Não esquecer o protocolo pelo qual todos seremos julgados, Mateus, capítulo 25. Coloquemo-lo em prática nesta retomada da pandemia. E, a partir deste amor concreto - como diz o Evangelho - , ancorado na esperança e fundado na fé, será possível um mundo mais saudável. Do contrário, sairemos piores da crise. Que o Senhor nos ajude, nos dê a força para sairmos melhores, respondendo às necessidades do mundo de hoje. Obrigado!". Fonte: https://www.vaticannews.va
A Solenidade da Assunção de Maria dissipa os temores da pandemia
- Detalhes
Durante o período de quarentena, por causa do Covid-19, a devoção a Maria aumentou no mundo inteiro. Este dia 15 de agosto, Solenidade da Assunção de Maria, que no Brasil é celebrado neste domingo, torna-se o ponto culminante de um percurso, no qual se elevaram ardentes e carinhosas invocações de ajuda mariana dos quatro Continentes. Padre Geraldo de Paolo, reitor do Santuário mariano do Amor Divino, em Roma, reflete sobre o tema: "A Assunção de Maria indica ao homem qual o seu destino eterno".
Federico Piana/Manoel Tavares - Vatican News
À luz do período difícil e incerto, que a humanidade está atravessando, devido à pandemia, que já causou cerca de 760 mil vítimas no mundo, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao Céu, que se celebra neste sábado, 15 de agosto, reveste-se de uma importância bem mais intensa. As normas contra o contágio obrigaram as comunidades cristãs, no mundo inteiro, a celebrar seus ritos, procissões e festas, de forma mais contida e restrita. Hoje, a Solenidade mariana representa o ponto alto de um percurso de amor e devoção marianos, intensificados no período de quarentena. Com efeito, naqueles dias, multiplicaram-se, nos cinco Continentes, as devotas invocações a Maria, mediante a oração do terço, coletivo online, as procissões virtuais e os atos de consagração ao seu Coração Imaculado.
A virgem, nossa Mãe
“Maria sempre esteve presente na prática da piedade popular - afirma o Padre Geraldo de Paolo, reitor do Santuário romano de Nossa Senhora do Amor Divino -. Desde as origens, os fiéis dedicavam uma atenção amorosa à Mãe de Jesus. Com o tempo, esta devoção mariana se concretizou com os Dogmas da Igreja, proclamados ao longo da história, confirmando a sua fé no Filho de Maria: Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Por que nos dirigimos à intercessão de Nossa Senhora? Porque ela é a Mãe, a nossa Mãe”.
O Dogma da Assunção A Assunção ao Céu indica o destino do homem
de Maria ao Céu, de corpo e alma, foi proclamado pelo Papa Pio XII, durante o Ano Santo de 1950, com a Constituição apostólica “Munificentissimus Deus”. “Sabemos – explica o Padre Geraldo - que este foi o quarto e último dos Dogmas marianos, além dos da Imaculada Conceição, de Maria Mãe de Deus e da Virgindade perpétua de Maria, antes, durante e depois do parto. Para nós cristãos, a afirmação de que Maria foi elevada ao Céu, de corpo e alma, tem um significado muito importante: Maria é uma criatura humana e nos indica o nosso destino”.
Revelação do profundo significado da existência
Para constatar a certeza da nossa esperança, o Padre Geraldo de Paolo cita a Constituição dogmática sobre a Igreja, “Lumen Gentium”, do Concílio Vaticano II, que diz: “Maria é um sinal de esperança segura para o Povo de Deus, que peregrina na história'. Por isso, olhando a Maria, vislumbramos nosso destino final. Assim, a Solenidade de hoje nos oferece um dom seguro, que alimenta a nossa esperança na vida, que o Senhor preparou para todos os que nele creem”. Enfim, a Solenidade deste dia 15 de agosto, leva-nos a compreender o verdadeiro e pleno sentido da nossa existência.
O abraço de Maria
O reitor do Santuário de Nossa Senhora do Divino Amor não pode deixar de expressar seu pesar pela impossibilidade de oferecer a Maria a tradicional peregrinação, que os milhares de fiéis romanos sempre fizeram a pé ao seu Santuário, às vésperas da Solenidade da Assunção. “Desde o sábado após a Páscoa até o último sábado de outubro - diz o reitor – fazemos as tradicionais peregrinações noturnas a pé. Este ano, ainda não pudemos fazer. A peregrinação da Assunção é uma das mais importantes. No entanto, decidimos fazer celebrações ao ar livre, neste dia mariano, de manhã até à noite. Depois da quarentena, notamos um aumento crescente da visita de fiéis ao Santuário. Aqui, fazemos a experiência de um verdadeiro abraço!” Certamente, o abraço de uma Mãe. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa no Angelus da Assunção: o Senhor faz maravilhas com os pequenos
- Detalhes
Segundo Francisco, “Maria se reconhece pequena e exalta as “grandes coisas” que o Senhor fez para ela.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco rezou a oração mariana deste sábado (15/08), Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, com alguns fiéis reunidos na Praça São Pedro. No Brasil, a Solenidade da Assunção de Maria ao Céu é celebrada no domingo (16/08).
Na alocução que precedeu a oração, Francisco recordou uma frase que ficou famosa quando o homem pôs os pés na lua: «Este é um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade.» A seguir acrescentou:
A humanidade tinha atingido um marco histórico. Hoje, na Assunção de Maria ao Céu, celebramos uma conquista infinitamente maior. Nossa Senhora colocou os pés no paraíso: ela foi lá não só em espírito, mas também com seu corpo. Este passo da pequena Virgem de Nazaré foi o grande salto pra frente da humanidade. De pouco adianta ir à lua se não vivermos como irmãos na Terra.
“Que um de nós vive no céu com o corpo nos dá esperança: entendemos que somos preciosos, destinados a ressurgir. Deus não deixará que o nosso corpo desapareça no nada. Com Deus nada será perdido”, disse ainda o Papa.
Em Maria a meta foi alcançada e nós temos diante de nossos olhos o motivo pelo qual caminhamos: não para conquistar as coisas aqui em baixo, que desaparecem, mas a pátria lá em cima, que é para sempre. E Nossa Senhora é a estrela que nos orienta. Ela, como ensina o Concílio, “brilha como sinal de esperança segura e consolo para o Povo de Deus a caminho”.
A seguir, Francisco fez a seguinte pergunta: “O que a nossa Mãe nos aconselha?” “Hoje, no Evangelho”, disse o Papa, “a primeira coisa que ela nos diz é: ‘A minha alma engrandece ao Senhor’. Acostumados a ouvir estas palavras, talvez não prestemos mais atenção ao seu significado”.
Engrandecer literalmente significa “tornar grande”, aumentar. Maria “engrandece ao Senhor”: não os problemas, que não lhe faltaram naquele momento, mas o Senhor. Quantas vezes, nos deixamos dominar pelas dificuldades e nos deixamos absorver pelos medos! Nossa Senhora não, porque ela coloca Deus como a primeira grandeza da vida. Daqui nasce o Magnificat, daqui nasce a alegria: não da ausência de problemas, que mais cedo ou mais tarde chegam, mas a alegria nasce da presença de Deus que nos ajuda e está perto de nós. Porque Deus é grande e olha para os pequenos. Somos a sua fraqueza de amor: Deus olha e ama os pequenos.
Segundo o Papa, “Maria se reconhece pequena e exalta as “grandes coisas” que o Senhor fez para ela. Quais? Primeiramente, o dom inesperado da vida: Maria é virgem e fica grávida; e Isabel, que era idosa, também está esperando um filho.”
“O Senhor faz maravilhas com os pequenos”, disse ainda o Pontífice, “com quem não pensa ser grande, mas dá um grande espaço para Deus na vida. Ele estende a sua misericórdia sobre aquele que confia Nele e eleva os humildes. Maria louva a Deus por isso”.
“E nós, podemos nos perguntar, nos lembramos de louvar a Deus? Agradecemos a Ele pelas grandes coisas que Ele faz por nós? Por todos os dias que ele nos doa, porque nos ama e nos perdoa sempre, por sua ternura? E por nos ter dado sua Mãe, pelos irmãos e irmãs que Ele coloca em nosso caminho, porque abriu para nós o Céu?”, perguntou o Papa.
Segundo Francisco, “se esquecemos o bem, o coração diminui. Mas se, como Maria, nos lembrarmos das grandes coisas que o Senhor faz, se pelo menos uma vez por dia o engrandecermos, então damos um grande passo em frente. Uma vez por dia dizer: “Eu louvo ao Senhor”. Dizer “Bendito seja o Senhor”, que é uma pequena oração de louvor. Isso é louvar a Deus. O coração se dilatará com essa pequena oração, a alegria aumentará”. Peçamos a Nossa Senhora, a porta do céu, a graça de começar cada dia levantando nosso olhar para o céu, para Deus, para dizer-lhe obrigado, como dizem os pequenos aos grandes”, concluiu Francisco. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa: não queremos ser indiferentes ou individualistas, duas atitudes contra a harmonia
- Detalhes
Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco enfatizou que a pandemia de coronavírus evidenciou a nossa vulnerabilidade e mostrou também que estamos todos interligados. “Se não nos preocuparmos uns com os outros, a começar pelos últimos, por aqueles que são mais atingidos, incluindo a criação, não podemos curar o mundo”, frisou o Papa.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a pandemia de coronavírus, na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (12/08), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.
O Pontífice enfatizou que a pandemia evidenciou a nossa vulnerabilidade e mostrou também que estamos todos interligados. “Se não nos preocuparmos uns com os outros, a começar pelos últimos, por aqueles que são mais atingidos, incluindo a criação, não podemos curar o mundo”, frisou o Papa.
Pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas
Francisco lembrou o compromisso de “muitas pessoas que nestes meses estão demonstrando amor humano e cristão pelo próximo, dedicando-se aos doentes, arriscando a própria saúde”. “Eles são heróis”, disse o Papa, acrescentando:
No entanto, o coronavírus não é a única doença a ser combatida, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas. Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional. Por vezes consideramos os outros como objetos, objetos para serem usados e descartados. Na realidade, este tipo de olhar cega e fomenta uma cultura do descarte individualista e agressiva, que transforma o ser humano num bem de consumo.
“Contudo, à luz da fé sabemos que Deus olha para o homem e para a mulher de outro modo”, disse ainda o Pontífice, enfatizando que Deus “nos criou não como objetos, mas como pessoas amadas e capazes de amar, nos criou à sua imagem e semelhança. Desta forma, deu-nos uma dignidade única, convidando-nos a viver em comunhão com Ele, em comunhão com os nossos irmãos e irmãs, com respeito por toda a criação. Em comunhão, em harmonia, podemos dizer. A criação é uma harmonia para a qual somos chamados a viver. Nesta comunhão, nesta harmonia que é comunhão, Deus nos doa a capacidade de procriar e preservar a vida, trabalhar e cuidar da terra. Entendemos que não é possível procriar e preservar a vida sem harmonia. Será destruída”.
Nos Evangelhos, temos um exemplo desse olhar individualista, “que não é harmonia, no pedido feito a Jesus pela mãe dos discípulos Tiago e João. Ela gostaria que os seus filhos pudessem sentar-se à direita e à esquerda do novo rei. Mas Jesus propõe outro tipo de visão: a de servir e dar a vida pelos outros, e confirma isso, restituindo a vista a dois cegos e tornando-os seus discípulos".
“Procurar fazer carreira na vida, ser superior aos outros destrói a harmonia. É a lógica do domínio, de dominar os outros. A harmonia é outra coisa, é serviço.”
A harmonia nos leva a reconhecer a dignidade humana
O Papa disse ainda que devemos pedir “ao Senhor que nos conceda um olhar atento aos irmãos e irmãs, especialmente aos que sofrem”.
Audiência Geral de 12 de agosto de 2020
Como discípulos de Jesus, não queremos ser indiferentes ou individualistas, duas atitudes feias contra a harmonia. Indiferente: olho para o outro lado. Individualista: só para mim, olhar apenas para os próprios interesses. A harmonia criada por Deus nos pede para olharmos para os outros, para as necessidades dos outros, para os problemas dos outros, estar em comunhão. Queremos reconhecer em cada pessoa a dignidade humana, qualquer que seja a sua raça, língua ou condição. A harmonia nos leva a reconhecer a dignidade humana, essa harmonia criada por Deus, não é verdade? O homem no centro.
“O Concílio Vaticano II evidencia que esta dignidade é inalienável, porque «foi criada à imagem de Deus»”, frisou ainda Francisco, citando uma passagem da Constituição Pastoral Gaudium et spes.
Ela é a base de toda a vida social e determina os seus princípios operacionais. Na cultura moderna, a referência mais próxima ao princípio da dignidade inalienável da pessoa é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que São João Paulo II definiu «uma pedra miliária, posta na longa e difícil caminhada do gênero humano», e como «uma das mais altas expressões da consciência humana». Os direitos não são apenas individuais, mas também direitos sociais dos povos e das nações. Com efeito, o ser humano, na sua dignidade pessoal, é um ser social, criado à imagem do Deus Uno e Trino.
“Nós somos sociais, precisamos viver nesta harmonia social, mas quando há egoísmo, o nosso olhar não vai para os outros, para a comunidade, mas volta para nós mesmos e isso nos torna feios, maus, egoístas. Destrói a harmonia.”
Contrastar a indiferença
Segundo Francisco, “esta consciência renovada pela dignidade de cada ser humano tem sérias implicações sociais, econômicas e políticas”, e acrescentou:
Olhar para o irmão e para toda a criação como uma dádiva recebida do amor do Pai suscita um comportamento de atenção, cuidado e admiração. Assim o fiel, contemplando o seu próximo como um irmão e não como um estranho, olha para ele com compaixão e empatia, não com desprezo ou inimizade. E contemplando o mundo à luz da fé, se esforça por desenvolver, com a ajuda da graça, a sua criatividade e entusiasmo para resolver os dramas da história. Ele concebe e desenvolve as suas capacidades como responsabilidades que fluem da fé, como dons de Deus a serem postos ao serviço da humanidade e da criação.
“Ao trabalharmos para curar um vírus que atinge indistintamente todos, a fé nos exorta a comprometermo-nos séria e ativamente a contrastar a indiferença pelas violações da dignidade humana. Essa cultura da indiferença que acompanha a cultura do descarte”, disse
ainda o Papa. “A fé exige sempre que nos deixemos curar e converter do nosso individualismo, tanto pessoal quanto coletivo. Um individualismo partidário, por exemplo”, frisou ele
Francisco concluiu a sua catequese, pedindo ao Senhor para que nos “restitua a vista” a fim de que possamos “redescobrir o que significa sermos membros da família humana e que este olhar se traduza em ações concretas de compaixão e respeito por cada pessoa e de cuidado e tutela pela nossa Casa comum”. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa visita Santa Maria Maior na festa da Dedicação da Basílica
- Detalhes
Por volta das 16h locais, Francisco deteve-se em oração diante da imagem da Salus Popoli Romani.
Benedetta Capelli, Silvonei José – Vatican News
Na tarde desta quarta-feira (06/08), por volta das 16h locais, Francisco foi a Santa Maria Maior, no centro de Roma, por ocasião da festa da Dedicação da Basílica, uma das quatro Basílicas papais romanas, onde rezou diante da imagem da Salus Populi Romani. Uma imagem que o Pontífice venera particularmente e à qual confia sempre as suas viagens apostólicas, prestando homenagem antes da sua partida e depois do seu retorno.
O Papa se deteve em oração, - comunica a Sala de Imprensa da Santa Sé -, confiando a Nossa Senhora tantas situações de dor que lhe preocupa, incluindo a do Líbano, que ele recordou esta manhã durante a Audiência Geral.
Pouco depois das 16h35, o Santo Padre regressou ao Vaticano.
A Festa da Basílica
Na manhã desta quarta-feira às 10h locias ( 5 da manhã, hora de Brasília), a Missa Pontifical, presidida pelo cardeal Stanislaw Rylko, arcipreste da Basílica. Durante o canto do Glória, a tradicional chuva de flores em recordação da queda de neve de 358 quando, segundo a tradição, a Virgem apareceu num sonho ao Papa Libério e ao patrício Giovanni, pedindo para construir uma igreja no local que ela indicaria. Na manhã de 5 de agosto, o bairro do Esquilino acordou com neve. Às 16h15 a recitação do Santo Rosário, seguida das Solenes Segundas Vésperas presididas por monsenhor Piero Marini, com uma nova chuva de flores durante o Magnificat. Às 18h, finalmente, a missa de encerramento da festa, presidida por Dom Francesco Canalini. Fonte: https://www.vaticannews.va
O Papa no Angelus: a lógica de Deus é cuidar do outro e não lavar as mãos
- Detalhes
No primeiro Angelus dominical de agosto, Francisco nos exorta a seguir a lógica de Deus, que nos leva a "cuidar do outro". O convite é de aproximar-se do Sacramento da Eucaristia com confiança no Senhor e sem esquecer nossos irmãos e irmãs que estão privados "do que é necessário".
Silvonei José – Vatican News
"Compaixão" pelas necessidades dos outros, confiança no amor "providente" do Pai e “corajosa” partilha. No Angelus de um domingo muito quente de agosto na Praça São Pedro, com a presença de muitos fiéis, entre os quais um grupo de religiosas brasileiras com bandeiras do Brasil, o Papa Francisco recorda as atitudes de Jesus com a multidão da passagem evangélica deste domingo, dedicada ao "prodígio da multiplicação dos pães", e exorta a seguir a lógica de Deus, que nos leva a "cuidar do outro". O convite é a "fraternidade", aproximando-se do Sacramento da Eucaristia sem esquecer os irmãos e irmãs "privados do necessário" e usando precisamente a "compaixão" e a "ternura" de Jesus: Ele - para aqueles que o seguem e que, "para estar com ele", se esqueceram de fazer provisões - não demonstrou "sentimentalismo" mas sim, explica, a manifestação "concreta" do amor que "assume" as necessidades das pessoas.
A lógica de Deus
O Papa recordou que a cena descrita pelo evangelista Mateus se desenvolve em um lugar deserto onde Jesus, tendo se retirado ali com seus discípulos, é alcançado por pessoas que querem "ouvi-lo e serem curados": "suas palavras e seus gestos - acrescenta - curam e dão esperança".
Ao entardecer, a multidão ainda estão lá, e os discípulos, homens práticos, convidam Jesus a se despedir deles para que possam ir procurar o que comer. Mas Ele responde: "Vocês mesmos dêem-lhes de comer". Imaginemos os rostos dos discípulos! Jesus sabe muito bem o que está prestes a fazer, mas quer mudar a atitude deles: não diz "deixem que se arranjem", mas "o que a Providência nos oferece para compartilhar? Duas atitudes opostas. E Jesus quer levá-los à segunda atitude, porque na primeira proposta, é uma proposta de um homem prático, mas não generoso: "deixem-os ir, que vão procurar, que se arranjem. E Jesus pensa de outra forma.
Jesus, através desta situação, quer educar seus amigos de ontem e de hoje para a lógica de Deus: a lógica de cuidar do outro.
E qual é a lógica de Deus que vemos aqui? A lógica de cuidar do outro. A lógica de não lavar as mãos, a lógica de não olhar para o outro lado. Não. A lógica de cuidar do outro. Eles que se arranjem não faz parte do vocabulário cristão.
Jesus nutre com Sua Palavra
Jesus toma os cinco pães e os dois peixes "em suas mãos", "levanta os olhos para o céu, recita a bênção e começa a dividir e dá as porções aos discípulos para distribuir": esses pães e esses peixes - recorda Francisco - não terminam, são suficientes e sobram para milhares de pessoas".
“Com este gesto Jesus manifesta seu poder, não de forma espetacular, mas como sinal de caridade, da generosidade de Deus Pai para com seus filhos cansados e necessitados. Ele é imerso na vida de seu povo, ele compreende seu cansaço e suas limitações, mas não deixa que ninguém se perca ou seja excluído: nutre com sua Palavra e dá alimento abundante para o sustento”.
O pão cotidiano
No relato evangélico o Pontífice observa a evidente referência à Eucaristia, "especialmente onde ele descreve a bênção, o partir do pão, a entrega aos discípulos, a distribuição ao povo".
“Deve-se notar quão estreita é a ligação entre o pão eucarístico, alimento para a vida eterna, e o pão cotidiano, necessário para a vida terrena. Antes de oferecer-se como Pão da salvação, Jesus cuida do alimento para aqueles que O seguem e que, para estar com Ele, se esqueceram de fazer provisões. Às vezes se contrapõem espírito e a matéria, mas na realidade o espiritualismo, como o materialismo, é alheio à Bíblia. Não é uma linguagem da Bíblia”.
A compaixão
A compaixão, a ternura que Jesus demonstrou para com a multidão – continuou o Papa - não é sentimentalismo, mas a manifestação concreta do amor que cuida das necessidades das pessoas. Somos chamados a nos aproximar da mesa eucarística com estas mesmas atitudes de Jesus: compaixão pelas necessidades dos outros…esta palavra que se repete no Evangelho quando Jesus vê um problema, uma doença ou estas pessoas sem alimento... "Ele teve compaixão". A compaixão não é um sentimento puramente material; a verdadeira compaixão é partire con, assumir as dores dos outros. Talvez nos faça bem – disse Francisco - nos perguntar hoje: tenho compaixão quando leio as notícias de guerras, fome, pandemias? Tantas coisas... Tenho compaixão daquelas pessoas? Tenho compaixão das pessoas que estão próximas de mim? Sou capaz de sofrer com eles ou dirijo o meu olhar para o outro lado, ou digo "que eles se arranjem"? Não se esqueça desta palavra "compaixão", que é confiança no amor providente do Pai e significa corajosa partilha.
Fraternidades para enfrentar a pobreza e o sofrimento
Antes das saudações, Francisco invocou Maria Santíssima para que "nos ajude a percorrer o caminho" que nos foi indicado pelo Senhor.
“É o caminho da fraternidade, que é essencial para enfrentar as pobrezas e os sofrimentos deste mundo, e que nos projeta para além do próprio mundo, especialmente neste grave momento, porque é um caminho que começa com Deus e retorna a Deus".
Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa Francisco: procuremos o contágio do amor, transmitido de coração a coração
- Detalhes
O Papa Francisco escreveu o prefácio do livro organizado pelo cardeal Walter Kasper “Comunhão e esperança”. Testemunhar a fé em tempo de coronavírus. Francisco recorda que a pandemia “é um momento de provação e escolha para que possamos dirigir nossas vidas a Deus de uma maneira renovada
Vatican News
O Papa Francisco escreveu o prefácio do livro "Comunhão e esperança". Testemunhar a fé em tempo de coronavírus organizado pelo cardeal Walter Kasper e o sacerdote palotino George Augustin. Publicado pela Libreria Editrice Vaticana – Dicastério para a Comunicação, como indica o subtítulo, o trabalho do Cardeal Presidente Emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e do sacerdote palotino que fundou e dirige o instituto com o nome do cardeal seu compatriota, recolhe contribuições sobre como "testemunhar a fé em tempo do coronavírus". A seguir o Prefácio escrito pelo Papa Francisco.
"A crise do coronavírus surpreendeu a todos como uma tempestade repentina, mudando de repente e em todos os lugares do mundo a nossa vida familiar, o nosso trabalho e a vida pública. Muitos lamentam a morte de parentes e amigos próximos. Muitas pessoas se encontram em dificuldades financeiras ou perderam seus empregos. Em vários países, justamente na Páscoa, a principal solenidade do cristianismo, não foi possível celebrar a Eucaristia de maneira comunitária e pública e receber a força e consolo dos sacramentos.
Esta dramática situação tornou evidente toda a vulnerabilidade, inconsistência e necessidade de redenção de nós homens e colocou em questão muitas certezas nas quais confiamos em nossa vida diária para nossos planos e projetos. A pandemia levanta questões fundamentais sobre a felicidade em nossas vidas e o tesouro de nossa fé cristã.
Deus, nosso apoio e nossa meta
Esta crise é um sinal de alarme para refletir sobre onde se apoiam as raízes mais profundas que nos sustentam na tempestade. Nos lembra que esquecemos e ignoramos algumas coisas importantes da vida e nos faz refletir sobre o que é realmente importante e necessário e o que é menos importante ou o seja só na aparência. É um momento de provação e escolha para que possamos dirigir nossas vidas a Deus, que é nosso apoio e nossa meta, de uma maneira renovada. Esta crise nos mostrou que precisamente em situações de emergência dependemos da solidariedade dos outros e nos convida a colocar nossas vidas ao serviço dos outros de uma nova maneira. Ela deve nos fazer agir contra da injustiça global para que possamos despertar e ouvir o grito dos pobres e de nosso planeta tão gravemente doente.
"Contágio" do amor
Em meio à crise do coronavírus, celebramos a Páscoa e ouvimos a mensagem da Páscoa da vitória da vida sobre a morte. Esta mensagem sublinha que, como cristãos, não devemos nos permitir a ficar paralisados pela pandemia. A Páscoa nos dá esperança, confiança e coragem, ela nos fortalece na solidariedade. Nos diz para superar as rivalidades do passado e nos reconhecermos como membros de uma grande família que vai além de todas as fronteiras e na qual cada um carrega o fardo do outro. O perigo de ser infectado por um vírus deve nos ensinar outro tipo de "contágio", o do amor, que é transmitido de coração para coração. Sou grato pelos muitos sinais de prontidão para ajuda espontânea e pelo compromisso heróico dos profissionais da saúde, médicos e sacerdotes. Nessas semanas sentimos a força que vinha da fé.
Jejum eucarístico
A primeira fase da crise do coronavírus, na qual as celebrações públicas da Eucaristia não foram possíveis, representou para muitos cristãos um tempo de doloroso jejum eucarístico. Muitos experimentaram que o Senhor está presente em todos os lugares, onde dois ou três estão reunidos em Seu nome. A transmissão das celebrações eucarísticas pela mídia foi uma solução de emergência pela qual muitos ficaram gratos. Mas a transmissão virtual não pode substituir a presença real do Senhor na celebração eucarística. Portanto, me alegro porque agora podemos voltar à vida litúrgica normal. A presença do Senhor Ressuscitado em sua Palavra e na celebração eucarística nos dará a força necessária para enfrentar os difíceis problemas que nos esperam após a crise.
Meu desejo e minha esperança é que as reflexões teológicas contidas neste livro inspirem reflexão e despertem em muitas pessoas uma nova esperança e uma nova solidariedade. Como com os dois discípulos no caminho de Emaús, também no futuro o Senhor nos acompanhará pelo caminho com sua Palavra e, repartindo o Pão eucarístico, nos dirá: 'Não tenhais medo! Eu venci a morte'". Fonte: https://www.vaticannews.va
Angelus. O Papa: Jesus é o tesouro escondido que dá sentido à nossa vida
- Detalhes
“Jesus, que é o tesouro escondido e a pérola de grande valor, só pode suscitar alegria, toda a alegria do mundo: a alegria de descobrir um sentido para a própria vida, a alegria de senti-la comprometida com a aventura da santidade”, disse o Papa Francisco no Angelus, comentando duas parábolas sobre o Reino dos Céus contidas no Evangelho deste XVII Domingo do Tempo Comum
“O Reino dos Céus é o contrário das coisas supérfluas que o mundo oferece, é o contrário de uma vida banal: é um tesouro que renova a vida a cada dia e a expande em direção a horizontes mais amplos.” Foi o que disse o Papa Francisco no Angelus ao meio-dia deste XVII Domingo do Tempo Comum, falando da janela do palácio apostólico que dá para a Praça São Pedro aos fiéis e peregrinos que com o Santo Padre rezaram a oração mariana.
A reflexão do Pontífice concentrou-se no Evangelho do dia (Mt 13,44-52), que corresponde aos últimos versículos do capítulo que Mateus dedica às parábolas do Reino dos Céus. O trecho compreende três parábolas brevemente acenadas e muito curtas: a do tesouro escondido no campo, a da pérola preciosa e a da rede lançada ao mar.
Na alocução que precedeu à oração mariana Francisco deteve-se sobre as duas primeiras nas quais o Reino dos Céus é assimilado a duas diferentes realidades “preciosas”, ou seja, o tesouro no campo e a pérola de grande valor.
A construção do Reino exige disponibilidade ativa do homem
“A reação daquele que encontra a pérola ou o tesouro é praticamente igual”, observou: “o homem e o mercante vendem tudo para adquirir aquilo mais têm a peito”.
“Com essas duas semelhanças, Jesus se propõe envolver-nos na construção do Reino dos Céus, apresentando uma característica essencial do mesmo: aderem plenamente ao Reino aqueles que estão dispostos a arriscar tudo”, ressaltou:
“De fato, tanto o homem quanto o mercante das duas parábolas vendem tudo aquilo que possuem, abandonando assim suas seguranças materiais. Disso se entende que a construção do Reino exige não somente a graça de Deus, mas também a disponibilidade ativa do homem.”
Abandonar o pesado fardo de nossas seguranças mundanas
Os gestos daquele homem e do mercante que vão em busca, privando-se de seus bens, para comprar realidades mais preciosas, são gestos decididos e radicais. “E, sobretudo – observou –, feitos com alegria, porque ambos encontraram o tesouro.”
“Somos chamados a assumir a atitude destes dois personagens evangélicos, tornando-nos também nós saudáveis buscadores irrequietos do Reino dos Céus. Trata-se de abandonar o pesado fardo de nossas seguranças mundanas que nos impedem de buscar e construir o Reino: a ganância pela posse, a sede de lucro e de poder, o pensar somente em nós mesmos.”
Em nossos dias, prosseguiu o Papa, “a vida de alguns pode resultar medíocre e sem brilho porque provavelmente não foram em busca de um verdadeiro tesouro: contentaram-se com coisas atraentes, mas efêmeras, cintilantes, mas ilusórias, porque depois deixam na escuridão.”
Amar Deus, os outros e verdadeiramente a nós mesmos
Ressaltando que o Reino dos Céus “é um tesouro que renova a vida a cada dia e a expande em direção a horizontes mais amplos”, o Pontífice acrescentou que “quem encontrou este tesouro tem um coração criativo e em busca, que não repete, mas inventa, traçando e percorrendo novos caminhos, que nos levam a amar Deus, a amar os outros, a amar verdadeiramente a nós mesmos”.
“Jesus, que é o tesouro escondido e a pérola de grande valor, só pode suscitar alegria, toda a alegria do mundo: a alegria de descobrir um sentido para a própria vida, a alegria de senti-la comprometida com a aventura da santidade.”
“Que a Santíssima Virgem nos ajude a buscar todos os dias o tesouro do Reino dos Céus, a fim de que em nossas palavras e em nossos gestos se manifeste o amor que Deus nos deu através de Jesus”, disse o Santo Padre dirigindo-se a Nossa Senhora antes de recitar a oração do Angelus. Fonte: https://www.vaticannews.va
Festa de Nossa Senhora do Carmo: Mensagem do Papa Francisco. “Nossa Senhora do Carmo nos ajude a ter um coração puro”.
- Detalhes
Os Carmelitas difundiram no povo cristão a devoção à Bem-Aventurada Virgem do Monte Carmelo, indicando-a como modelo de oração, de contemplação e de dedicação a Deus.
Bianca Fraccalvieri - Vatican News
“Nossa Senhora do Carmo, nossa mãe, ajuda-nos a ter mãos inocentes e um coração puro, a não pronunciar uma mentira e a não falar em detrimento de outras pessoas. Assim poderemos subir o monte do Senhor e obter sua bênção, sua justiça, sua salvação.”
Com esta mensagem no Twitter, o Papa Francisco recorda hoje a festa litúrgica de Nossa Senhora do Carmo, mãe da Ordem Carmelita.
Modelo de oração, contemplação e dedicação
Venerada desde o século XIII, o nome de Nossa Senhora do Carmo está ligado à região do Monte Carmelo, alto promontório que se eleva na costa oriental do mar Mediterrâneo, precisamente na altura da Galileia. Em hebraico, “carmo” significa vinha; e “elo” significa senhor; portanto, “Vinha do Senhor”.
O Carmelo tem nas suas ladeiras numerosas grutas naturais, preferidas pelos eremitas. O mais célebre destes homens foi o grande profeta Elias que, no século IX a. C., defendeu estrenuamente da contaminação dos cultos idolátricos, a pureza da fé no Deus único e verdadeiro. Inspirando-se precisamente na figura de Elias, nasceu a Ordem contemplativa dos "Carmelitas", família religiosa que entre os seus membros enumera grandes Santos, como Teresa de Ávila, João da Cruz, Teresa do Menino Jesus e Teresa Benedita da Cruz (no século, Edith Stein).
Os Carmelitas difundiram no povo cristão a devoção à Bem-Aventurada Virgem do Monte Carmelo, indicando-a como modelo de oração, de contemplação e de dedicação a Deus.
O Escapulário também ajudou na difusão desta devoção mariana em todo o mundo, sinal de cuidado materno. Carregando sobre o peito, o escapulário nos recorda a misericórdia de Deus para conosco e nos convida a viver segundo a sua Santa Palavra. Fonte: https://www.vaticannews.va
Pág. 646 de 664