Sexta-feira, dia 14. 2ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Ó Deus onipotente, dai ao vosso povo esperar vigilante a chegada do vosso Filho, para que, instruídos pelo próprio Salvador, corramos ao seu encontro como nossas lâmpadas acesas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 11, 16-19)
Naquele tempo disse Jesus: 16 “Com quem vou comparar esta geração? É parecida com crianças sentadas nas praças, gritando umas para as outras: 17 ‘Tocamos flauta para vós, e não dançastes. Entoamos cantos de luto e não chorastes!’ 18 Veio João, que não come nem bebe, e dizem: ‘Tem um demônio’. 19 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘É um comilão e beberrão, amigo de publicanos e de pecadores’. Mas a sabedoria foi reconhecida em virtude de suas obras”.conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
3) Reflexão
* Os líderes, os sábios, não gostam quando alguém os critica ou questiona. Isto acontecia no tempo de Jesus e acontece hoje, tanto na sociedade, como na igreja. João Batista veio, criticou, e não foi aceito. Diziam:”tem o demônio!” Jesus veio, criticou e não foi aceito. Diziam: -“Beberão!”. –“Louco!” (Mc 3,21) -“Tem o diabo!” (Mc 3,22) -“É um samaritano!” (Jo 8,48) -“Não é de Deus!” (Jo 9,16). Hoje acontece o mesmo. Há pessoas que se agarram ao que sempre foi ensinado e não aceitam outra maneira de explicar e viver a fé. Logo inventam motivos e pretextos para não aderir: -“É marxismo!” -“É contra a Lei de Deus!” -“É desobediência à tradição e ao magistério!”
* Jesus se queixa da falta de coerência do seu povo. Eles inventavam sempre algum pretexto para não aceitar a mensagem de Deus que Jesus lhes trazia. De fato, é relativamente fácil encontrar argumentos e pretextos para refutar os que pensam diferente de nós.
* Jesus reage e mostra a incoerência deles. Eles se consideravam sábios, mas não passavam de crianças que querem divertir o povo na praça e que reclamam quando o povo não brinca conforme a música que eles tocam. Os que se diziam sábios não têm nada de realmente sábio. Apenas aceitavam o que combinava com as idéias deles. E assim eles mesmos pela sua atitude incoerente se condenavam a si mesmos.
4) Para um confronto pessoal
1) Até onde sou coerente com a minha fé?
2) Tenho consciência crítica com relação ao sistema social e eclesiástico que, muitas vezes, inventa motivos e pretextos para legitimar a situação e impedir qualquer mudança?
5) Oração final
Feliz quem não segue o conselho dos maus, não anda pelo caminho dos pecadores nem toma parte nas reuniões dos zombadores, mas na lei do Senhor encontra sua alegria e nela medita dia e noite. (Sal 1, 1-2)
PADRE PROVINCIAL: São João da Cruz.
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AO VIVO- FREI EVALDO XAVIER, O.CARM. Missa de Santa Luzia/RJ. Direto da Igreja do Carmo da Lapa, RJ.
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PADRE PROVINCIAL: Aniversário do Frei Sílvio.
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O Padre Provincial dos Carmelitas- Província Carmelitana de Santo Elias- Frei Evaldo Xavier, O. Carm, parabeniza o Frei Sílvio Ferrari, O. Carm, pela passagem de Aniversário de Ordenação Sacerdotal neste dia de Santa Luzia.
Quinta-feira, dia 13. 2ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
1) Oração
Despertai, ó Deus, os nossos corações, a fim de prepararmos os caminhos do vosso Filho, para que possamos, pelo seu advento, vos servir de coração purificado. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 11, 11-15)
Naquele tempo, disse Jesus as multidão: 11Em verdade vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele. 12Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam. 13Porque os profetas e a lei tiveram a palavra até João. 14E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar. 15Quem tem ouvidos, ouça. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* No evangelho de hoje, Jesus dá uma opinião sobre João Batista. Comparado com as pessoas do Antigo Testamento, não há ninguém maior que João. João é o maior de todos: maior que Jeremias, maior que Abraão, maior que Isaías! Mas comparado com o Novo Testamento, João é inferior a todos. O menor no Reino é maior que João. Como entender esta qualificação aparentemente contraditória que Jesus fez de João?
* Pouco antes, João tinha mandado perguntar a Jesus: “É o senhor, ou devemos esperar por outro?” (Mt 11,3). João parecia ter dúvidas a respeito a Jesus. Pois Jesus não correspondia à idéia que ele, João, se fazia do messias. João imaginava o messias como um juiz severo que devia vir realizar o julgamento da condenação e da chegada da ira (Mt 3,7). Devia cortar as árvores pela raiz (Mt 3, 10), limpar a área e jogar a palha seca no fogo (Mt 3,12). Mas Jesus, em vez de ser um juiz severo, era amigo de todos, “manso e humilde de coração” (Mt 11,29), que acolhia os pecadores e comia com eles (Mc 2,16).
* Jesus respondeu a João citando o profeta Isaias: “Vão contar para João o que estão vendo e ouvindo: cegos vêem, coxos andam, leprosos são limpos, surdos ouvem, mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a Boa Nova. E feliz quem não se escandalizar comigo!” (Mt 11,5-6; cf. Is 33,5-6;29,18). Resposta dura. Jesus manda João analisar melhor as Escrituras para ele poder mudar a visão errada que tinha do messias.
* João foi grande! O maior de todos! Mas o menorzinho no Reino dos céus é maior que João! João é o maior, porque ele era o último elo do AT. Foi João que, pela sua fidelidade, pôde, finalmente, apontar o messias para o povo: “Eis o cordeiro de Deus!” (Jo 1,36), e a longa história desde Abraão alcançou o seu objetivo. Mas João por si mesmo não foi capaz de entender todo o alcance da presença do Reino de Deus em Jesus. Ele estava na dúvida: “É o senhor ou devemos esperar por outro?” A história antiga, ela sozinha, não comunica luz suficiente para a pessoa poder entender toda a novidade da Boa Notícia de Deus que Jesus nos trouxe. O Novo não cabe no Antigo. Santo Agostinho dizia: “Novum in Vetere latet, Vetus in Novo patet”. Traduzido significa: “O Novo já está escondido no Antigo. Mas o Antigo só revela seu sentido pleno é no Novo”. Quem está com Jesus e convive com ele recebe dele uma luz que lhe dá olhos novos para descobrir um significado mais profundo no Antigo. E qual é esta novidade?
* Jesus oferece uma chave: “A lei e os profetas anunciaram o Reino até João. E se quiserem saber João é Elias que deve vir!” Jesus não explica, mas dá a dica: “Quem tem ouvidos ouça” Elias devia vir para preparar a vinda do Messias e refazer a comunidade: “Reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais” (Mal 3,24). João anunciou o Messias e tentou refazer a comunidade (Lc 1,17). Mas o mistério mais profundo da vida em comunidade, lhe escapava. Foi só Jesus que o comunicou anunciando que Deus é Pai e, portanto, somos todos irmãos e irmãs. Este anúncio traz uma força nova que nos torna capazes de superar as divergências e criar comunidade.
* São estes os violentos que conseguem conquistar o Reino. O Reino não é uma doutrina, mas é um novo modo de conviver como irmãos e irmãs a partir do anúncio que Jesus fez de que Deus é Pai de todos
4) Para um confronto pessoal
1) O Reino é dos violentos, isto é, é dos que, como Jesus, têm a coragem de criar comunidade. Você tem?
2) Jesus ajudou João a entender melhor os fatos por meio da Bíblia. A Bíblia me ajuda a entender melhor os fatos da minha vida?
5) Oração final
Ó Deus, meu rei, quero exaltar-te e bendizer teu nome eternamente e para sempre, Quero bendizer-te todo dia, louvar teu nome eternamente e para sempre. (Sal 144, 1-2)
Beato João Soreth, fundador da Ordem Terceira do Carmo.
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(A Origem da Ordem Segunda do Carmo e a Bula CumNulla)
O século XV quando a Ordem do Carmo já havia atingido uni estado estável na Europa, contando, com a existência de inúmeros conventos, foi uma época muito importante na história da Ordem do Carmo, quando estava à sua frente a figura do Beato João Soreth, eleito Prior Geral no ano de 1451, a ele é que se deve a Fundação das Ordens Terceira Secular do Carmo.
O Beato João Soreth nasceu em Caen, na Normandia/França em 1394. Atraído pelo Carmelo, nele ingressou e tendo completado com brilhantismo os estudos teológicos, ordenou-se sacerdote em 1417 e aos 46 anos de idade foi eleito Superior Provincial dos Carmelitas na França e aos 57 anos, foi eleito Superior Geral dos Carmelitas, na Assembléia Geral de Avinhão na França. O seu governo da Ordem foi muito trabalhoso e sofrido, mas de grande sucesso, graças a sua cultura intelectual e profunda piedade. Seu maior empenho na Ordem foi a reforma da vida religiosa dos Frades. Os séculos XIII, XIV e XV foram de muita convulsão política, social e no campo religioso ele teve que enfrentar também sérias dificuldades.
O flagelo da Peste Negra na Europa fez com que os conventos religiosos fossem reduzidos em mais de 40% de seus efetivos. Para repovoar os conventos, os superiores locais foram aceitando candidatos sem muita formação e a disciplina da observância religiosa baixou muito de nível, provocando a decadência dos costumes até dentro dos claustros e reverter esse quadro não foi fácil. Mas, o Beato João Soreth, com muita paciência e zelo foi visitando todos os Conventos da Europa (Alemanha, Bélgica, França, Inglaterra, Itália, etc) enfrentando toda espécie de dificuldades, andando muitas vezes a pé, nem sempre bem recebido pelos religiosos, mas conseguiu restabelecer a observância religiosa, o retorno à vida conventual, à prática da oração, e conseguiu ainda perfeito equilíbrio entre a vida contemplativa e apostólica; reunificou as Províncias da Alemanha, graças à sua humildade, paciência, prudência e caridade, aplicando até a justiça com medidas enérgicas quando necessárias. Soreth foi um grande Reformador, direcionando a Ordem do Carmo a seu antigo esplendor na observância regular, naquela época de grandes crises políticas, sociais e religiosas.
2 - Um dos maiores empreendimentos do Beato João Soreth foi sem dúvida, a Fundação das Ordens
Segunda e Terceira do Carmo.
O governo deste Pe. Geral durou 20 anos: de 1451 a 1471. No seu governo, já havia em diversas partes da Europa (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda e Itália) pessoas ou grupos vivendo e convivendo com os religiosos Carmelitas procurando imbuir-se do espírito e do carisma do Carmelo; tais pessoas ou grupos residiam em suas próprias casas ou até mesmo em casas de propriedade da Ordem do Carmo; tais pessoas eram homens e/ou mulheres, casados, solteiros ou viúvos; nesses grupos, predominava o elemento feminino, que na Itália, elas se chamavam Mantelatae, ou Pinzocherae na Bélgica e na Holanda Beguinas e na Espanha Beatas. Essas pessoas procuravam imitar os religiosos Carmelitas na prática dos exercícios de piedade, nas orações, nos costumes e até mesmo no uso do hábito monacal e da capa branca (Mantelatae), igual aos Carmelitas.
No tempo do Beato João Soreth, não existiam nem se pensava nas três categorias: Ordem Primeira, Ordem Segunda e da Ordem Terceira dos Carmelitas. Essa distinção passou a existir depois de 1452. Diante dessa realidade de tantas pessoas ligadas espiritualmente ao Carmelo, o Provincial de Florença, Itália, teve a feliz idéia de ir a Roma e de pedir ao Papa Nicolau V (1447 - 1455) um documento que facultasse a existência jurídica daqueles grupos.. E o Papa Nicolau V deu-lhe uma Bula que se chamou Cum Nulla datada de 1 de outubro de 1452, e foi desse documento oficial da Igreja que o Beato João Soreth se serviu para dar um caráter jurídico aos grupos; foi assim que nasceu a Ordem Segunda do Carmo ou seja a Ordem Carmelita das Monjas de Clausura, de vida reclusa, afiliadas à Ordem do Carmo mediante a profissão dos votos de pobreza, obediência e castidade; assim os Mosteiros Carmelitas de Monjas de Clausura ficaram jurisdicionadas à Ordem Primeira do Carmo. A partir de então sucederam-se as Fundações das Monjas Carmelitas de Clausura na Europa.
CARMELITAS: A REFORMA TERESIANA
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A aprovação da Forma de Vida transformada em Regra da Ordem do Carmo foi uma semente que nasceu vigorosa e cresceu e desenvolveu-se prodigiosamente em toda a Europa, tornando-se uma Ordem de muita influência no contexto de Igreja mas em meio a erva daninha do cisma de Martinho Lutero que, dividiu a Igreja em muitos países da Europa, divisão que afetou profundamente a vida das Ordens Religiosas provocando forte enfraquecimento da disciplina moral e religiosa. Mas há males que vêm para o bem! Foram surgindo indisciplina da vida religiosa através de diversas Reformas que desenvolveram às Ordens Religiosas o antigo vigor.
A Ordem do Carmo- A Reforma Teresiana e a Reforma Turonense! Essas duas Reformas tiveram características bem comuns: impuseram obediência, humildade e amor ao silêncio, meditação e busca do Ideal Contemplativo do Carmelo! Outros resultados das Reformas: vida mais simples e frugal, amor à pobreza evangélica.
Teresa de Jesus ou DÁviIa, nasceu em 1515; aos 20 anos fugiu de casa e ingressou no Carmelo da Encarnação em Ávila. A comunidade número das Irmãs era da fidalguia espanhola; muitas delas tinham até amas particulares para servi-las; havia muito indisciplina que as agradou Teresa; ela conquistou a simpatia de algumas companheiras e partiram para a fundação de um convento pobre e mal cuidad( José. O ideal de Teresa era voltar à austeridade original da Regra do Carmelo. Esta empresa não foi fácil; ela sofreu muito, mas por fim Carmelitas: João Batista Rossi; isso foi em 1567. O Padre Geral encorajou a continuar a sua obra de Reforma. A Divina Providência cc muitas qualidades e mais ainda de muitas virtudes: foi o Carmelita Frei João de São Matias e juntos, lançaram-se a essa grande empresa de Reforma da Ordem do Carmo.
Enfrentando toda a sorte de dificuldades e de contratempos fundaram os Mosteiros tanto das Monjas como dos Frades. Além do pequeno Mosteiro de São José, Teresa com o apoio de Frei João Matias, fundou, espalhados pela Espanha mais de 16 Mosteiro e o Frei João de São Matias, que depois se chamou João da Cruz, fundou em Duruelo o primeiro Mosteiro dos Frades.
As aventuras de Sta. Teresa estão escritas em sua obra: O livro das Fundações. Teresa faleceu em Alba de Tormes a 04 de outubro de 1582. A obra da Reforma Teresiana estava consolidada mas faltava o reconhecimento oficial da Ordem do Carmo. Isso aconteceu numa Assembléia Geral da Ordem do Carmo em junho de 1593, 11 anos após a morte de Sta Teresa. E a 29 de dezembro de 1593 o Papa Clemente VIII com um documento oficial, a Constituição Apostólica Pastoralis Oficio confirmou o decreto da Assembléia da Ordem realizada em Cremona/ltália. Assim se constituiu uma Ordem do Carmo independente que se chamou a ORDEM DOS CARMELITAS DECALÇOS ficando a mesma sob a jurisdição de um Superior Geral com o nome de Preposto Geral.
Esse foi o desfecho final da Reforma idealizada por Sta. Teresa de Jesus e São João da Cruz, ambos considerados os fundadores da Ordem dos Carmelitas Descalços chamados também de Teresianos. Ë bom que se entenda que a Espiritualidade e o Carisma dos dois ramos em nada diferem um do outro; a diferença está exatamente na Constituição de duas estruturas de governo; cada Ordem do Carmo com o seu governo próprio, e as duas com residência em Roma. Todos nós, Carmelitas Calçados e Descalços somos Igreja, somos uma só Família, somos todos Irmãos!
A Ordem do Carmo a reforma de turonense.
Além da Reforma Teresiana, houve outras Reformas na Ordem do Carmo: a de Albí/França, a de Mãntua/ltalia e a de Turaine/França, sendo que esta foi a mais importante e duradoura. Recordemo-la! Já vimos a importância da atuação do Pe. Geral o Beato João Soreth na fundação das Monjas de Clausura e da Ordem Terceira do Carmo, no seu empenho de reformar as comunidades, levando-as à observância mais rigorosa da Regra da Ordem do Carmo, na restauração da vida comum, na implantação de um estilo de vida mais simples, pobre e frugal. O século XVI foi de grande desenvolvimento da Ordem do Carmo na Europa. A Reforma implantada por Sta. Teresa de Jesus e 5. João da Cruz, espalhou-se na França e em outros países da Europa. Na França, entretanto, a Ordem do Carmo estava em crise no fim do século XVI. Havia religiosos que levavam uma vida edificante, mas havia também aqueles que não correspondiam à sua vocação de Carmelitas. A Comunidade de Angers não andava bem até que nela entrou Felipe Thibaut nela professando. Felipe Thibaut, muito inteligente, dotado de grande capacidade, chegou até a pensar em ingressar na Ordem dos Cartuxos e mesmo em abraçar a Reforma Teresiana, mas o seu ideal era implantar na sua Província uma Reforma diversa à de Sta. Teresa de Jesus; ele não queria se separar da Ordem do Carmo. Seu ideal era implantar a experiência fundante do carisma Carmelitano, a experiência da comunhão intima com Deus e tinha como lema: Mais união menos perfeição, convencido de que a união e a fraternidade dariam uma base mais sólida para a Reforma do que as práticas externas. Ele não queria uma Ordem independente e buscava também garantias econômicas para favorecer novas fundações. Com bom senso diplomático resumiu ao mínimo conflitos com aqueles religiosos que não aceitavam a sua Reforma e assim ele foi conquistando até os estudantes, os Irmãos Leigos, e os religiosos à simpatia da Reforma como ele idealizava. Assim concretizou-se a Reforma Turonense que exerceu grande influência em toda a Europa.
Em 1603 o Pe. Geral Henrique SíIvio promulgou os Estatutos da Reforma Turonense. O Carmelita Pierre Behout, grande amigo de Thibaut, foi nomeado Prior do Convento de Rennes que, 1605 se tornou a base da Reforma Turonense. Um religioso que muito contribuiu para a consolidação da Reforma Turonense foi o Irmão Leigo Jean de Moulin que na profissão tomou o nome de Frei ~João de São Sansão. A linha espiritual planejada por Felipe Thibaut foi implantada nas comunidades: Thibaut foi eleito Prior do Convento de Rennes em 1608, que já estava com 50 religiosos; essa Comunidade foi a base, a força primeira da Reforma Turonense.
SÍNTESE DA ESPIRITUALIDADE IMPLANTA POR THIBAUT
-Meditação periódica e individual feita em Comunidade;
-Oração aspirativa implantada por Frei João de São Sansão;
-Métodos vários de exercícios da Presença de Deus.
Com estes elementos de Espiritualidade os Religiosos Carmelitas voltaram à vida de oração, à solidão, ao silêncio, enfim à Contemplação, que tinha caracterizado o Carmelo desde a sua origem. Em 1635 as Constituições da Reforma Turonense foram aprovadas pela Ordem do Carmo e oficialmente reconhecidas pelo Papa Urbano VII em 1639.
As Reformas implantadas na Espanha, na França, em toda a Europa despertaram Religiosos e Leigos ao seguimento de Cristo Senhor Nosso, Filho de Deus e da Virgem Maria, a Glória e o Esplendor do Carmelo.
A ORDEM DO CARMO DO BRASIL
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(Foto: Dom Gabriel e Frei Serapião, O. Carm)
A nossa História no Brasil começou em 1580 quando aqui chegaram, vindos de Portugal, quatro Religiosos Carmelitas liderados por Frei Bernardo Pimentel Ord. Carm. Sucederam-se então as fundações dos nossos conventos: em 1584 o Convento de Olinda/PE, em 1589 o de Santos/SP, em 1590 o do Rio de Janeiro/RJ, em 1594 ode São Paulo/SP, em 1608 ode Angra dos Reis/RJ, em 1627 o de Mogi das Cruzes/SP, em 1622 o de Vitória/ES, e em 17180 de ltú/SP.
Até aqui, esses conventos pertenceram como Vice-Província à Província Carmelitana de Portugal e somente em 1720 constituiu-se a Província Carmelitana Fluminense que em 1963 passou a chamar-se Província Carmelitana de Santo Elias.
A Ordem do Carmo no Brasil cresceu muito, chegamos até a ter três Províncias: a do Rio de Janeiro, a da Bahia e a de Pernambuco e ainda uma Vigararia, a do Maranhão. As atividades apostólicas dos Carmelitas estenderam-se por todo o litoral de São Luís do Maranhão até a cidade de Santos e, as suas atividades missionários se estenderam até o Pará e o Amazonas.
Há uma tradição de que o imenso convento de Salvador chegou a abrigar até 100 Religiosos. Entretanto, nas épocas de Brasil-Colônia e Brasil-Império a Ordem do Carmo passou momentos sombrios, tenebrosos, de muitos conflitos com o envolvimento de Vice-reis, da Rainha D. Maria 1, das autoridades eclesiásticas, etc. Um dos momentos mais dolorosos de nossa História foi a proibição de aceitar Noviços, resultado de uma circular do Ministro da Justiça e de sua Majestade o Imperador (D. Pedro II), que cassava a licença de entrada de Noviços nas Ordens Religiosas. Com esta medida governamental a Ordem do Carmo experimentou os estentores da agonia. Em 1881 havia na nossa Província apenas quatro Religiosos nos conventos da Lapa, de Angra dos Reis e de Mogi das Cruzes. Os conventos de Belém do Pará, Itu, Santos e Vitória estavam sem Carmelitas. A situação era tão dramática e desoladora que o Papa Leão XIII em 1891 submeteu as Ordens Religiosas do Brasil à inteira dependência dos Prelados Diocesanos tanto no temporal como no espiritual. Foi então que o internúncio apostólico confiou aos Beneditinos Belgas a restauração dos mosteiros Beneditinos do Brasil; aos Franciscanos da Alemanha a restauração dos conventos Franciscanos e aos Carmelitas Espanhóis a restauração dos conventos Carmelitas: A 15 de novembro de 1889 aconteceu a Proclamação da República no Brasil, D.Pedro II e a Família Real retornaram a Portugal. Foi decretada a separação entre a Igreja e o Estado e as Ordens Religiosas receberam a autorização do governo de fundar conventos, abrir noviciados e administrar os seus próprios bens.
Em 1892 governava o Brasil o Marechal Floriano Peixoto de quem herdamos este feliz pronunciamento: Não é nem pode ser intenção do Governo da República apossar-se dos bens que a piedade dos fiéis doou as Ordens Religiosas, mas não lhe pode ser indiferente vera decadência em que se acham; trate a Santa Sé de reformá-las e conte com o meu apoio! Com estas palavras o Marechal Floriano Peixoto deu um belo testemunho de bom senso de Magistrado do Governo Brasileiro. Em 1893, iniciaram-se os entendimentos entre o Pe. Geral Aloísio Maria Galli e o Provincial espanhol Frei Anastácio Borras. Deste entendimento resultou a vinda da Espanha de seis Religiosos Carmelitas, liderados por Frei Joaquim Maria Guarch; isso aconteceu a 08 de agosto de 1894. Além deste primeiro grupo, sucederam-se outros grupos Religiosos espanhóis entre sacerdotes, professos e irmãos leigos, totalizando 21 Religiosos es~anhóis que muito se empenharam em restaurar o Carmelo Brasileiro nas três Províncias: a Fluminense, a da Bahia e a de Pernambuco.De 1894 a 1904, muita coisa aconteceu no Carmelo Brasileiro; dificuldades inúmeras de relações em que estiveram envolvidos: a Santa S~, a Província Espanhola, os Religiosos Carmelitas do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco, etc. Até que em abril de 1904, num Capítulo Provincial da Espanha foi resolvido que os Carmelitas espanhóis deixariam o Rio de Janeiro e a Bahia e iriam a Recife. Em junho de 1904, iniciaram-seosentendimentosentreoPe. Geral Frei Pio Mayer e o Provincial holandês Frei Lamberto Smeets; ficou decidido que a Província Carmelita da Holanda iria assumir a Missão de continuar a restauração da Província Fluminense. A 31 de outubro de 1904 seis sacerdotes e dois irmãos leigos, tendo como superior o Frei Cirilo Thewes, embarcaram em Antuérpia, Bélgica, num vapor alemão; quatro deles desembarcaram em Salvador e alguns dias depois seguiram para o Rio de Janeiro e na madrugada do dia 27 de novembro, os outros quatro aportaram no Rio de Janeiro. No mesmo dia, 27 de novembro de 1904, Frei Eliseu Duran por delegação do Pe. Geral, Frei Pio Mayer, entregou a Província Carmelitana Fluminense aos Carmelitas holandeses que, com muita dedicação se atiraram à penosa missão de dar continuidade ao zeloso trabalho iniciado pelos Carmelitas espanhóis: restaurar a Província Carmelitana Fluminense. A 27 de novembro a Província Carmelitana de Santo Elias procederá à abertura do Centenário de Restauração de nossa Província.
Terça-feira, dia 11. 2ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Ó Deus, que manifestastes o vosso Salvador até os confins da terra, dai-nos esperar com alegria a glória do seu natal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 18,12-14)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:12Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se desgarra. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se desgarrou? 13E se a encontra, sente mais júbilo do que pelas noventa e nove que não se desgarraram. 14Assim é a vontade de vosso Pai celeste, que não se perca um só destes pequeninos. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* Uma parábola não é um ensinamento a ser recebido passivamente e a ser decorado de memória, mas é um convite para participar na descoberta da verdade. Jesus começa perguntando: “O que vocês acham?” Uma parábola é uma pergunta com resposta não definida. A resposta vai depender da nossa reação e participação como ouvintes. Então, vamos buscar a resposta desta parábola da ovelha perdida.
* Jesus conta uma história muito breve e muito simples: um pastor tem 100 ovelhas, perde uma, deixa as 99 nas montanhas e vai em busca da ovelha perdida. E Jesus pergunta: “O que vocês acham?” Ou seja: “Vocês fariam o mesmo?” Qual terá sido a resposta dos pastores e das outras pessoas que ouviram Jesus contar esta história? Fariam a mesma coisa? Qual a minha resposta à pergunta de Jesus? Pense bem antes de responder.
* Se você tivesse 100 ovelhas e perdesse uma, o que faria? Não esqueça de que as montanhas são lugares de difícil acesso, cheios precipícios, onde rondam animais perigosos e onde ladrões e assaltantes se escondem. E lembre-se que você perdeu apenas uma única ovelha. Você continua na posse de 99 ovelhas. Perdeu pouco! Você iria abandonar as 99 naquelas montanhas? Será que uma pessoa com um pouco de bom senso faria o que fez o pastor da parábola de Jesus? Pense bem!
* Os pastores que escutaram a história de Jesus, devem ter pensado e comentado: “Só um pastor sem juízo age desse jeito!” Eles devem ter perguntado a Jesus: “Jesus, desculpe, mas quem é esse pastor de que o senhor está falando? Fazer o que ele fez é uma loucura total!”
* Jesus responde: “Esse pastor é Deus, nosso Pai, e a ovelha perdida é você!” Com outras palavras, esta loucura, quem a comete é Deus por causa do seu grande amor para com os pequenos, os pobres, os excluídos! Só mesmo um amor muito grande é capaz de cometer uma loucura assim. O amor com que Deus nos ama é maior que a prudência e o bom senso humano. O amor de Deus comete loucuras. Graças a Deus! Senão fosse assim, estaríamos perdidos!
4) Para um confronto pessoal
1) Coloque-se na pele da ovelha perdida e anime a sua fé e sua esperança. Você é essa ovelha!
2) Coloque-se na pele do pastor e verifique se o seu amor para com os pequenos é verdadeiro.
5) Oração final
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome, anunciai dia após dia a sua salvação. (Sal 95, 1-2)
ÁLBUM DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO DA LAPA/RJ, NA CELEBRAÇÃO DOS 108 ANOS.
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ORDEM TERCEIRA DO CARMO: 108 Anos.
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Segunda-feira, dia 10. 2ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Cheguem à vossa presença, ó Deus, as nossas orações suplicantes, e possamos celebrar de coração puro o grande mistério da encarnação do vosso Filho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Luca 5, 17-26)
17 Num desses dias, ele estava ensinando na presença de fariseus e mestres da Lei, que tinham vindo de todos os povoados da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. O poder do Senhor estava nele para fazer curas. 18 Vieram alguns homens carregando um paralítico sobre uma maca. Eles tentavam introduzi-lo e colocá-lo diante dele. 19 Como não encontras- sem um modo de introduzi-lo, por causa da multidão, subiram ao telhado e, pelas telhas, desceram o paralítico, com a maca, no meio, diante de Jesus. 20 Vendo a fé que tinham, ele disse: “Homem, teus pecados são perdoados”. 21 Os escribas e os fariseus começaram a pensar: “Quem é este que fala blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?” 22 Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou: “Que estais pensando no vosso íntimo? 23 Que é mais fácil, dizer: ‘Teus pecados são perdoados’, ou: ‘Levanta-te e anda?’ 24 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem poder de perdoar pecados na terra, – e dirigiu-se ao paralítico – eu te digo: levanta-te, pega tua maca e vai para casa”. 25 No mesmo instante, levantando-se diante de todos, pegou a maca e foi para casa, glorificando a Deus. 26 Todos ficaram admirados e glorificavam Deus, cheios de temor, dizendo: “Vimos hoje coisas maravilhosas”.
3) Reflexão
* Sentado, Jesus ensinava. O povo gostava de ouvi-lo. Qual era o assunto do ensino de Jesus? Ele sempre falava de Deus, seu Pai, mas dele falava de um jeito novo e atraente, diferente dos escribas e fariseus (Mc 1,22.27). Jesus apresentava Deus como a grande Boa Notícia para a vida humana; um Deus Pai/Mãe que ama e acolhe as pessoas, e não um Deus que nos ameaça e condena.
* Um paralítico é carregado por quatro pessoas. Jesus é a única esperança deles. Vendo a fé, ele diz ao paralítico: Teus pecados estão perdoados! Naquele tempo, o povo achava que defeitos físicos (paralisia, etc) fossem castigo de Deus por algum pecado. Por isso, os paralíticos e tantos outros deficientes físicos sentiam-se rejeitados e excluídos por Deus! Jesus ensinava o contrário. A fé tão grande do paralítico era um sinal evidente de que ele e seus carregadores estavam sendo acolhidos por Deus. Por isso, Jesus declara: Teus pecados estão perdoados! Ou seja: “Você não está afastado de Deus!”
* A afirmação de Jesus não combinava com a idéia que os doutores da lei tinham de Deus. Por isso, eles reagem: Ele blasfema! Conforme o ensinamento deles, só Deus podia perdoar os pecados. E só o sacerdote podia declarar uma pessoa perdoada e purificada. Como é que Jesus, homem sem estudo, um leigo, podia declarar o paralítico como perdoado e purificado dos pecados? Pois, se um simples leigo podia perdoar os pecados, os doutores e os sacerdotes perderiam o seu poder e também a sua fonte de renda! Por isso reagem e se defendem.
* Jesus justifica a sua ação: O que é mais fácil. dizer: ‘Teus pecados estão perdoados!’ ou dizer: ‘Levanta-te e anda!’? Evidentemente, é muito mais fácil dizer: “Teus pecados estão perdoados”. Pois ninguém pode verificar se, de fato, o pecado foi ou não foi perdoado. Mas se eu digo: “Levanta-te e anda!”, aí todos poderão verificar se tenho ou não esse poder de curar. Por isso, para mostrar que, em nome de Deus, tinha o poder de perdoar os pecados, Jesus disse ao paralítico: ”Levanta-te, toma teu leito e vá para casa!” Curou o homem! Provou que a paralisia não é um castigo de Deus pelo pecado, e mostrou que a fé dos pobres é uma prova de que Deus os acolhe no seu amor.
4) Para um confronto pessoal
- Colocando-me na posição dos carregadores: será que eu seria capaz de carregar o doente, subir no telhado e fazer o que os quatro fizeram? Será que eu tenho tanta fé?
- Qual a imagem de Deus que está em mim e que se irradia nos outros? A dos doutores ou a de Jesus? Deus compassivo ou ameaçador?
5) Oração final
Vem, Senhor, visitar-nos com a tua paz: a tua presença nos enche de alegria. (cf. Sal 106, 4-5; Is 38, 3)
DOMINGO 9. II- Domingo do Advento: "Preparai o caminho"
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Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa.
(Ano Litúrgico-C. 9 de dezembro-2018)
A Liturgia desse segundo domingo do Advento nos faz um forte apelo à CONVERSÃO. Convida-nos a eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens.
Na 1a leitura, Deus garante preparar o caminho do regresso: "Abaixará os montes, encherá os vales, aplainará o chão, a fim de que Israel caminhe com segurança. (Br 5,1-9)
O Profeta Baruc dirige ao povo sofrido no exílio uma profecia cheia de esperança e vibrante alegria. Apresenta o regresso à pátria como um novo "Êxodo", da terra da escravidão para a nova Jerusalém.
* Advento é um tempo favorável também para o nosso "êxodo". Devemos nos desfazer das cadeias que impedem a ação libertadora de Deus e o regresso à cidade nova da alegria e da liberdade.
- Quais são as escravidões que ainda nos prendem e nos impedem de acolher o Senhor que vem?
No Evangelho, João Batista prepara os caminhos do Senhor. (Lc 3.1-6). O Caminho de Jesus começou com João, no deserto. Ele é o grande pregador do Advento, que ainda hoje nos ensina a preparar o Caminho de Jesus para o Natal.
Convém aprofundar alguns detalhes desse texto:
- Lucas faz uma longa introdução HISTÓRICA: A pregação de João Batista é um fato concreto, não é fantasia... A intervenção de Deus na história da humanidade aconteceu num momento determinado e num lugar bem definido...
- "A PALAVRA DE DEUS desceu sobre João".
Deus rompeu um longo silêncio de 300 anos sem profetase enviou o último profeta do Antigo Testamento: João Batista.
- Tudo começou no DESERTO...
O "Deserto", na História de Israel, lembrava muitas coisas: Libertação... Purificação... Aliança... Esperança da Terra Prometida... No tempo de Jesus, era para o deserto que se dirigia quem queria repetir a experiência espiritual dos antepassados.
- "Ele percorria toda a região do JORDÃO..."
Jordão era a fronteira... por onde entraram na Terra Prometida... No batismo de João, cada um repetia o gesto de entrar, através do Jordão, na Terra da Liberdade... Queria preparar o povo para entrar na verdadeira Terra Prometida.
+ O ANÚNCIO DE JOÃO BATISTA:
- Um apelo de conversão:
"Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas... todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixados..."
* Esse processo de conversão é um verdadeiro êxodo, que nos transportará da terra da opressão para a terra nova da liberdade, da graça e da paz. Só quem aceita percorrer esse "caminho" experimentará a "salvação de Deus".
- Um anúncio de esperança: "Todos verão a salvação de Deus..."
* A salvação é oferecida para todos os homens, também para nós...
+ O TESTEMUNHO DE JOÃO BATISTA:
- Preparou-se no "deserto":
O barulho das festas não é ambiente propício para anunciar nem para ouvir o convite à penitência. Para escutar a voz de Deus, é necessário criar um clima de silêncio, de escuta:
* Que tal no advento, desligar a TV e dar espaço maior ao silêncio?
- Temos momentos de "deserto"?
- Desprendimento: manifestado na sobriedade no comer e no vestir: vestindo pele de camelo e comendo gafanhotos e mel silvestre...
* Temos o mesmo espírito de João Batista?
+ O CAMINHO A SEGUIR:
- Endireitar as Estradas: Nem sempre seguimos o caminho reto,indicado por Cristo: do amor, da doação, do serviço...
* João Batista nos convida a endireitar as estradas tortuosas e percorrer o caminho reto que nos leva a Deus.
- Preencher os Vales: Revendo nossa vida, descobrimos muitos vazios: muitos gestos, palavras, serviços, que deixamos de fazer...
* João Batista nos convida a preencher esses vazios, esses vales...
- Aplainar os Montes: Abaixar nosso orgulho, nossa auto-suficiência...
* João Batista nos convida a sermos mais simples e humildes, não nos julgar superiores e estar sempre dispostos a escutar.
+ Baruc e João Batista foram mensageiros de Deus para preparar os caminhos do Senhor aos homens do seu tempo...
à Deus não poderia se servir também de nós para preparar os homens de hoje para a vinda de Cristo no Natal desse ano?
MORRE O PRIOR DA VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DO CARMO DE SERRO-MG
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NOTA: MORRE O PRIOR DA VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DO CARMO DE SERRO-MG, Sr. Geraldo ( 8 de dezembro-2018).
*ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: 0 Carmelo hoje
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Frei Emanuele Boaga, O. Carm.
Uma história espiritual, não se constrói exclusivamente, por mãos humanas, ainda que nela se deva empenhar totalmente o ser humano. A aventura espiritual é o resultado, apesar de não ser sempre compreensível e visível, da ação de Deus na vida de pessoas e de comunidades, ao longo dos tempos. Sua construção envolve dois parceiros em cada um dos momentos críticos, decisivos ou gozosos de seu caminho.
É Deus que vai suscitando, alimentando, conduzindo, fazendo sempre renascer sua criação:
Fendeu rochedos pelo deserto
e deu-lhes a beber em caudais de água.
Da PEDRA fez brotar torrentes
e as águas desceram em mananciais;
da rocha fez jorrar torrentes,
fez correr a água como rios. (SI 78,15).
Outro parceiro é o ser humano que, situado no tempo e no espaço, vai atuando, abrindo pistas, descortinando horizontes novos, entrevistando novos céus e novas terras, e pondo-se a seu encalço de mil formas ... em busca da Jerusalém celeste, mesmo quando ignore esta meta...
Assim acontece com a nossa história: a história do nosso Carmelo! Nascido no Monte Carmelo situado na terra do Senhor (Palestina), revela, ao longo de sua caminhada a PRESENÇA do SENHOR e o esforço de pessoas decididas a construírem o coração humano -templo santo que deve se tornar a habitação de Deus.
Cada Carmelita, cada Comunidade Carmelitana, cada geração, em cada canto do mundo, tem importante papel nesta construção, seja contribuindo para seu início, expansão e consolidação, projetando-a nas diversas épocas, seja conservando-a devidamente, renovando-a... garantindo-lhe futuro.
A Família Carmelitana se compõe de três Ordens clássicas, conforme a estrutura característica entre os Mendicantes (Fraternidades de vida apostólica, ou seja que vivem a imitação da vida dos Apóstolos no seguimento do Senhor Jesus Cristo). Em particular temos:
1 Ordem: formada pelos padres ou religiosos (os frades);
II Ordem: formada pelas monjas de estrita clausura;
III Ordem: formada por grupos variados: Congregações religiosas (as irmãs), Institutos seculares (leigos consagrados), a OTC (os terciários) e outros movimentos leigos.
Cada um destes grupos, segundo a sua própria índole, inspira-se na Regra do Carmo e é unido ao Carmelo por vínculos de amor fraterno, de espiritualidade, de esforço comum na busca do Reino de Deus e sua Justiça, em comunhão dos bens espirituais.
Podemos representar graficamente a Familia do Carmelo com o seguintes esquema:
As Ordens são grupos que vivem na osmose carismática, desenvolvendo o espírito da Regra, em seus valores e estruturas de vida. Quanto à Ordem III é preciso fazer uma distinção. Há a Ordem III Regular, aquela cujos membros vivem em conventos, fazem os votos religiosos, seguindo a orientação do Direito Canônico e do Direito Próprio (Constituição) e têm a organização da própria vida orientada pelas estruturas da mesma Regra (vida de oração, de fraternidade, vivendo em comunidade; de diaconia, no serviço aos irmãos). E comum, orientam a caminhada espiritual pelos valores e estruturas adaptadas da Regra do Carmo. A Ordem III Secular tem a formação voltada para a vida secular, com o desenvolvimento de uma espiritualidade que deve levar à encarnação de Deus nas suas estruturas de trabalho, família, lazer. Têm também os compromissos de vida orientados pela Regra do Carmo, porém levando-se em conta sua índole secular. Os votos são permitidos, mas não com as mesmas exigências e compromissos propostos aos religiosos.
Os inscritos nas Confrarias têm orientação própria à sua vida de simpatizantes do Carmelo, assumindo alguns dos valores da Família Carmelitana, especialmente a veneração e imitação de Nossa Senhora, através do uso e difusão do Escapulário.
O espírito com que foram criadas no mundo antigo estas três Ordens, e que devemos retomar espiritualmente, é o de comunhão, tal como existe no seio da Trindade e não de hierarquia, como podem sugerir os números colocados para distinção da missão de cada Ordem. Assim todos devem viver, não com espírito de superioridade ou em busca de status, mas cada categoria deve procurar compreender, aprofundar e ser fiel à própria especificidade, compreendendo e respeitando as demais, comungando, partilhando, sendo solidário no mesmo ideal. O Prior Geral deve ser o elo de unidade em toda a Família.
*DO LIVRO; COMO PEDRAS VIVAS.... para ler a HISTÓRIA e a VIDA do CARMELO. Roma 1989.
Sexta-feira 7. 1ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Despertai, Senhor, vosso poder e vinde, para que vossa proteção afaste os perigos a que nossos pecados nos expõem e a vossa salvação nos liberte. Vos que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 9, 27-31)
Naquele tempo, 27Partindo Jesus dali, dois cegos o seguiram, gritando: Filho de Davi, tem piedade de nós! 28Jesus entrou numa casa e os cegos aproximaram-se dele. Disse-lhes: Credes que eu posso fazer isso? Sim, Senhor, responderam eles. 29Então ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: Seja-vos feito segundo vossa fé. 30No mesmo instante, os seus olhos se abriram. Recomendou-lhes Jesus em tom severo: Vede que ninguém o saiba. 31Mas apenas haviam saído, espalharam a sua fama por toda a região. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
Novamente, o evangelho de hoje coloca diante de nós o encontro de Jesus com a miséria humana. Jesus não se retrai nem se esquiva. Ele acolhe as pessoas e na sua acolhida cheia de ternura revela o amor de Deus.
* Dois cegos seguem Jesus e gritam: “Filho de Davi, tem piedade de nós!”. Jesus não gostava muito deste título Filho de Davi. Ele chegou a criticar o ensinamento dos escribas que diziam que o Messias devia ser filho de Davi: “Se o próprio Davi o chama Senhor, como pode ser seu filho? (Mc 12,37).
* Chegando em casa, Jesus pergunta aos cegos: “Vocês acreditam que eu possa fazer isso?” Eles respondem: “Sim, Senhor!” Uma coisa é ter a doutrina correta na cabeça, outra é ter a fé correta no coração e nos pés. A doutrina dos dois cegos não era muito correta, pois eles chamam Jesus de Filho de Davi. Mas Jesus não se importa se o chamam assim. Ele quer saber se eles tem a fé correta.
* Ele toca nos olhos e diz: “Aconteça conforme a fé de vocês!” Imediatamente, os olhos se abriram. Apesar de não terem a doutrina correta, os dois cegos tinham uma fé correta. Hoje muita gente está mais preocupada com a doutrina correta do que com a fé correta.
* Vale a pena anotar um pequeno detalhe de hospitalidade. Jesus chega em casa e os dois cegos também entram com ele na casa dele, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eles se sentem em casa na casa de Jesus! E hoje? Uma religiosa dizia: “Hoje, a situação do mundo é tal que fico desconfiada até dos pobres!” Mudou muito, de lá para cá!
* Jesus pede para não divulgar o milagre. Mas a proibição não adiantou muito. Os dois saíram e espalharam a Boa Notícia. Anunciar o Evangelho, isto é, a Boa Notícia, é partilhar com os outros o bem que Deus nos faz na vida.
4) Para um confronto pessoal
1-Será que tenho alguma Boa Notícia de Deus na minha vida a partilhar com os outros?
2-Em que ponto eu insisto mais: em ter doutrina correta ou em ter a fé correta?
5) Oração final
Vou cantar para sempre a bondade do SENHOR; anunciarei com minha boca sua fidelidade de geração em geração. (Sal 88, 1)
ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: SOBRE O SILÊNCIO NA REGRA DO CARMO
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O silêncio no Carmelo
Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.
A simplicidade falou, o amor foi escutar, era a brisa do Carmelo, com o Profeta a contemplar.
1- Zelo zelatus sum, pro Domino Deo exercituum/ Eu me consumo de zelo, dia e de noite, pelo Senhor (bia)
2- No barulho da grande cidade, na agitação do metrô/ Quem caminha sem o silêncio, jamais encontra, o meu Senhor. (bis)
3-Tem gente que grita aqui, fala alto em todo lugar/ Esse não é o carmelita, aqui o silêncio veio habitar. (bis)
4-Deus não está surdo, não adianta jamais gritar/ Ele ouve a nossa prece, atende o clamor, do pobre a chorar. (bis)
5-No rádio e na tv, no jornal ou no celular/São palavras e mais palavras, e o vazio, sempre a reinar. (bis)
6- Com Teresa e Teresinha, eu quero silenciar/ Com Madalena de Pazzi, buscando essa paz, eu vou me encontrar. (bis)
Frei Carlos Mesters, O. Carm
- Na solidão do Monte Carmelo, onde viviam os primeiros carmelitas, reinava um grande silêncio. Não havia barulho, a não ser os ruídos da própria natureza que convidam ao silêncio. Mesmo assim, a Regra recomenda com muita insistência o silêncio. Numa cidade barulhenta tem sentido insistir que se faça silêncio. Mas pedir que se faça silêncio naquela serra imensa do Carmelo, cheia de solidão, qual o sentido? Parece o mesmo que carregar água para o mar! Qual o silêncio que a Regra pede daqueles primeiros carmelitas do Monte Carmelo e, através deles, de todos nós da Família Carmelitana?
- Há muitos tipos de silêncio: o silêncio de uma sala de estudo ou de uma biblioteca; o silêncio que se pede num hospital; o silêncio da noite ou da madrugada; o silêncio da natureza, o silêncio da morte; o silêncio que precede à tempestade; o silêncio do medo; o silêncio do censurado e do povo silenciado e amordaçado; o silêncio do aluno que não sabe a resposta; o silêncio do fulano frustrado ou do jovem abafado; o silêncio do lutador derrubado; o silêncio de Deus que nunca aparece; o silêncio do místico; o silêncio da quebra interior: tudo que a pessoa tinha imaginado e planejado até àquele momento cai no vazio e se desintegra. Parece que não valeu nada. Tantos silêncios! .... Qual o silêncio que a Regra pede e recomenda? Vejamos:
- O texto da Regra sobre o Silêncio
O apóstolo recomenda o silêncio, quando manda que se trabalhe em silêncio. Do mesmo modo, o profeta afirma: "A justiça é cultivada pelo silêncio". E em outro lugar diz: “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força”.
Por isso, determinamos que, após a recitação do completório, guardem silêncio até depois da oração da manhã do dia seguinte. Quanto às demais horas, embora não tenha de ser observado um silêncio tão rigoroso, abstenham-se cuidadosamente do muito falar, porque conforme está escrito e não menos a experiência o ensina: “No muito falar não faltará o pecado; e quem fala sem refletir sentirá um mal-estar, e ainda quem fala muito prejudica sua alma. E o o Senhor no Evangelho: de toda palavra inutil que a gente disser, dela terá que dar conta no dia do juizo.
Portanto, cada um ponha moderação nas suas palavras e coloque um freio na sua boca, para não escorregar e tropeçar na língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Como diz o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua e procure diligentemente observar o silêncio, pelo qual se cultiva a justiça.
- Um pouco de história: Os motivos do silêncio invocados pela Regra
- Na Regra o silêncio é uma arma a mais a ser usada na luta espiritual. E é uma das armas mais importantes. Pois, dentro do conjunto da Regra, o capítulo sobre o silêncio (Rc 21) é como que o ponto de chegada, após as longas recomendações sobre a luta (Rc 18-19) e o trabalho (Rc 20). É o topo do Monte Carmelo, onde se chega após longa e dolorosa subida. É através do silêncio que todos os valores da vida carmelitana, aos poucos, vão sendo assimilados e encarnados na vida.
- Todas as religiões, de uma ou de outra forma, recomendam a prática do silêncio como condição necessária para o encontro com Deus. O silêncio é importante, não só para o nosso relacionamento com Deus, mas também para o relacionamento com o próximo, conosco mesmos, com a natureza e com as coisas. É importante, inclusive, para a saúde mental e corporal das pessoas.
- Silêncio é muito mais do que ausência de barulho. É o espaço onde se refaz a síntese final, onde a pessoa se possui a si mesma, onde ela conversa com Deus, onde ela se prepara para poder falar e conversar. Sem silêncio não há conversa, nem com o irmão e a irmã, nem com Deus. Pois a condição para a conversa verdadeira é saber escutar o outro. Palavras verdadeiras nascem é do silêncio.
- Silêncio é saber escutar e fazer à outra pessoa sentir que, no momento da conversa, ela, e só ela, é o absoluto diante do qual todo o resto é relativo. Isto exige uma ascese muito grande. Sobretudo, saber escutar as pessoas que sempre foram silenciadas, os pobres, tanto na sociedade como na igreja.
- Resumindo:
- O silêncio favorece a comunicação: fazer silêncio para aprender a escutar. É ascese dura: fazer silenciar tudo para dar atenção ao outro, ao pobre, ao povo, a Deus.
- O silêncio é o caminho para a maturidade. Evita a superficialidade, pois exige o recolhimento e concentração das forças da gente.
- O domínio da língua é condição para o domínio da mente e para a consciência crítica que nos revela as situações de morte que ameaçam a vida.
- O silêncio deve ter uma expressão concreta e comunitária, para que lembre a todos que o objetivo da vida fraterna é a busca de Deus e do irmão.
- O silêncio é como a solidão e a cela: não vale em primeiro lugar pelo não falar, mas pelo silêncio interior que por ele deve ser gerado.
- O ponto de partida: o controle da língua que conduz ao silêncio profético
O número 21 da Regra sobre o silêncio tem três partes: 1) Descreve o valor do silêncio; 2) Organiza o silêncio; 3) Recomenda a prática do silêncio.
(1) O Valor do silêncio:
Na primeira parte, usando frases da Bíblia, a Regra recomenda o silêncio. Ela começa lembrando a recomendação do apóstolo Paulo a respeito do trabalho em silêncio (Rc 20). Em seguida, para descrever o valor do silêncio, ela cita por inteiro duas frases do profeta Isaías: "A justiça é cultivada pelo silêncio", e “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força. Isto significa que o silêncio recomendado pela Regra tem a ver com a Bíblia: a sua origem está nos profetas. É um silêncio profético! Trata-se de um silêncio que é muito mais do que só ausência de barulho ou de falatório. Conforme as duas fraes do profeta, o silêncio tem a ver com a prática da justiça, com a esperança e a resistência (força). Para nós, carmelitas, o silêncio profético evoca imediatamente o profeta Elias.
Este silêncio profético tem dois aspectos, expressos nas duas frases de Isaías. A primeira frase diz que o cultivo do silêncio gera justiça. Isaías compara a prática do silêncio com o trabalho do agricultor que cultiva sua roça para ter boa colheita. Esta primeira frase indica o esforço ativo nosso que visa atingir um determinado resultado. A segunda frase do profeta sugere o contrário. Em vez de esforço ativo em busca de um resultado, aqui a prática do silêncio é vista como a atitude de espera de algo que deve acontecer, mas que não depende do nosso esforço. Depende de Deus.
(2) A Institucionalização do silêncio
A segunda parte do número 21 da Regra descreve a organização do silêncio. Se o silêncio é um valor tão importante, ele deve ter a sua expressão na vida do Carmelo. Na Regra, a organização ou institucionalização do silêncio é adaptada ao ritmo diferente do dia e da noite. A noite, ela por si mesma, é silenciosa. O silêncio da noite nos envolve e nos faz silenciar. Produz uma certa passividade. Acalma as pessoas. Acontece, independente de nós. O dia já é mais barulhento. Em vez de silêncio, produz distração. Agita as pessoas. Exige um esforço interior maior para fazer silêncio. Por isso, a Regra pede um tipo de silêncio mais estrito para a noite e um silêncio menos estrito para durante o dia. Insistindo para que o silêncio seja institucionalizado conforme o ritmo diferente do dia e da noite, a Regra, por assim dizer, cria canais concretos através dos quais o silêncio possa atingir as pessoas para gerar nelas a justiça, a esperança e a resistência (força) de que fala o profeta Isaías. Através da observância do ritmo do silêncio de dia e de noite, a pessoa vai assimilando dentro de si os valores do silêncio profético.
(3) A recomendação do silêncio
A terceira parte consta de dois momentos. Num primeiro momento, a Regra descreve como a pessoa deve fazer para cultivar o silêncio que gera a justiça. Este cultivo consiste sobretudo no controle da língua. Citando frases da Bíblia, Alberto aponta os perigos do muito falatório. Ele diz: No muito falar não faltará o pecado; e quem fala sem refletir sentirá um mal-estar, e ainda quem fala muito prejudica sua alma. E o Senhor no Evangelho: de toda palavra inútil que as pessoas disserem, dela terão que prestar conta no dia do juízo.
Em seguida, num segundo momento, citando novamente frases da Bíblia, a Regra passa a recomendar o cultivo do silêncio ou o controle da língua, como sendo o caminho para se chegar ao silêncio mais profundo que é o silêncio profético. A Regra diz: Portanto, cada um faça uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente, não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Que, com o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe, com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça. De um lado, o pecado, a morte. Do outro lado, a justiça, a vida. O muito falatório conduz ao pecado e à morte. O controle da língua conduz à justiça e à vida.
No fim, a Regra retoma a frase inicial sobre a justiça que é fruto do silêncio e diz: Cada um procure diligentemente observar o silêncio, pelo qual se cultiva a justiça. No começo e no fim, a insistência na prática do silêncio como caminho para a justiça. É o silêncio profético!
- Ponto de chegada: o silêncio profético que enfrenta a morte e conduz à vida
- Hoje em dia, o fluxo de palavras, de imagens e de falatório que nos envolvem é tanto, que impede as pessoas de perceberem o que está acontecendo de fato. Envolve-nos de tal maneira, que acabamos achando normal aquilo que, na realidade, é uma situação de morte. Por exemplo, anos atrás, o povo se revoltava diante de assassinatos e diante da violência. Hoje em dia, a violência tornou-se uma coisa tão freqüente e tão presente, que já nos acostumamos. A miséria crescente do povo, a injustiça impune, o sofrimento dos que nunca cometeram algum mal, o abandono, o desemprego, a exclusão, a doença, a solidão, o desamor...! Vivemos numa situação de morte, e já não nos damos conta. Além disso, muitas vezes, o consumismo mata qualquer esforço de consciência crítica
- O primeiro passo do silêncio profético está expresso na primeira citação de Isaías que diz: A justiça é cultivada pelo silêncio. Este cultivo consiste num trabalho ativo nosso que faz silenciar tudo dentro de nós, para que a realidade possa aparecer do jeito que ela é em si mesma e não como aparece desfigurada através do muito falatório, do barulho da moda, do diz-que-diz, ou através dos meios de comunicação, da ideologia dominante. Este trabalho ativo da prática do silêncio produz, aos poucos, o desmantelo das falsas idéias, da ideologia dominante ou dos preconceitos que tínhamos na cabeça. Faz nascer a visão justa das coisas. Gera em nós a justiça.
- Na hora em que se desmantela dentro da cabeça da gente o arcabouço ideológico que nos dava uma visão falsa e artificial da realidade, nesse momento é como se levássemos uma pancada forte. Como que de repente, despertamos do sono e somos confrontados com a situação de morte sem saída em que estamos vivendo e que grita por mudança e conversão. Nesse momento, tudo silencia dentro da gente. O falatório acabou, emudecemos. Perdemos os argumentos que nos sustentavam. É o momento da crise. Este momento do confronto com a situação de morte que faz silenciar, é o primeiro passo do silêncio profético, de que fala a Regra. É fruto do esforço ativo nosso de fazer silenciar o muito falatório da propaganda, da ingenuidade sem consciência crítica.
- O silêncio profético coloca o dedo na ferida escondida. Ele denuncia os caminhos sem saída em que estávamos caminhando e dos quais achávamos que fossem caminhos de vida, quando, na realidade, nos conduziam para a morte. O profeta aponta a morte, não porque gosta da morte, mas sim para que a vida possa manifestar-se. Agindo assim, ele dá pancada, faz silenciar. Faz silêncio para que possamos escutar e experimentar a morte e, passando pela morte, reencontrar a vida. É a caminhada da Noite Escura, de que fala São João da Cruz. É uma exigência da vida que sejam apontados os falsos e ilusórios caminhos da morte, para que possam provocar mudança e conversão, tanto na vida pessoal como na convivência social, e, assim, gerar justiça.
- O segundo passo do silêncio profético está expresso na segunda citação do profeta Isaías: No silêncio e na esperança está a força de vocês. O silêncio produzido em nós pelo confronto com a situação de morte, apesar de doloroso, é fonte de esperança e produz a força da resistência. Dá força para a gente agüentar a situação de morte, porque acreditamos que da morte do trigo caído na terra vai brotar vida nova. Faz cantar. Como diz o poeta: Faz escuro mas eu canto. Canta a Noite Escura do povo, porque dentro dela já se articula a madrugada da ressurreição.
- Este segundo passo, fruto da ação de Deus, aparece em muitos lugares na Bíblia e de várias maneiras. Trata-se da experiência mística. Por exemplo:
* Salmo 37,7 diz: Descansa em Javé e nele espera. Literalmente se diz: Esvazia-te diante de Javé e agüenta firme. A palavra esperar (agüentar), sugere a atitude da mulher em dores de parto. Ela agüenta firme, porque sabe que vai nascer vida nova, apesar das muitas dores.
* Lamentação 3,26 diz: É bom esperar em silêncio a salvação de Javé. É a mesma experiência da certeza que vem de Deus. Não sai de frente de Deus, porque sabe que vai ser atendido.
* Este mesmo silêncio foi acontecendo na vida do profeta Elias na caminhada para o Monte Horeb (1Rs 19). Disto falaremos no subsídio do Círculo 18.
* O mesmo silêncio aconteceu na vida de Maria e na vida dos Santos e Santas Carmelitas. Sobre isto meditaremos no subsídio do Círculo 19.
- Resumindo. O silêncio profético recomendado pela Regra tem dois aspectos, expressos pelas duas frases de Isaías. O primeiro aspecto é fruto do esforço nosso, do cultivo, do trabalho. Exige disciplina e controle, estudo e reflexão, para que a gente possa perceber os mecanismos da opressão e da ideologia, dos preconceitos e das propagandas. É fruto da partilha, da troca de experiências, do trabalho comunitário. O segundo aspecto do silêncio profético é fruto da ação do Espírito de Deus em nós. Desobstruído o acesso à fonte pelo esforço ativo nosso, a água brota de dentro de nós e inunda o nosso ser.
- O silêncio profético na vida do profeta Elias
- Elias parecia forte e invencível no confronto com os profetas de Baal (1Rs 18,20-40). Mas diante da ameaça de Jezabel, ele aparece como é na realidade: fraco e vulnerável, "igual a nós" (Tg 5,17). Com medo de ser morto, foge do país, vai para o deserto (1Rs 19,1-3). Cego, sem enxergar, não percebe o anjo de Deus que lhe traz comida. Ele só quer comer, beber, dormir e ficar longe de tudo (1Rs 19,5). Está desanimado. Quer morrer: Não sou melhor que meus pais! Mas Deus não desiste. O anjo volta uma segunda vez (1Rs 19,7). Finalmente, Elias desperta e, alimentado por Deus, recupera sua força e, no silêncio do deserto, caminha quarenta dias e quarenta noites até o Horeb (Sinai), a Montanha de Deus (1Rs 19,8). Ele busca reencontrar Deus no mesmo deserto onde, séculos antes, na época do êxodo, havia nascido o povo.
- Mas a busca parece não estar bem orientada. Alguma coisa não está dando certo. Ele diz ter muito zelo, mas, na realidade, está fugindo com medo de morrer (1Rs 19,10.14). Diz que ficou sozinho, mas havia sete mil que não tinham dobrado o joelho diante de Baal (1Rs 19,18). Elias tem a visão limitada. Ele acha que é o único a defender a causa de Deus! (1Rs 19,14) Deus o manda sair da gruta e ficar na entrada, pois "Deus vai passar" (1Rs 19,11). Elias sai da gruta, mas a gruta não sai dele. Ele continua com a mesma visão limitada, achando que é ele quem defende a Deus! (1Rs 19,14)
- Deus vai passar! A nova experiência de Deus desintegra o mundo de Elias. Primeiro, um furacão! Depois, um terremoto! Depois, um fogo! No passado, ao concluir a Aliança com o povo naquela mesma Montanha Horeb ou Sinai, Deus tinha se manifestado no furacão, no tremor da montanha e nos raios de fogo (Ex 19,16). Eram os sinais tradicionais da presença atuante de Deus no meio do povo. Eram estes os critérios que orientavam a Elias na sua busca de Deus. Ele mesmo tinha experimentado a presença de Deus no fogo quando, no Monte Carmelo, enfrentou os profetas de Baal (1Rs 18,36-38).
- Elias estava fazendo uma coisa certa. Ele buscava Deus voltando às origens do povo. Ele voltou à experiência de Deus no êxodo. Mas os critérios da sua busca estavam desatualizados. Ele vivia no passado. Encerrou Deus dentro dos critérios! Queria obrigar Deus a ser como ele, Elias, o imaginava e desejava. Por isso acontece o inesperado, a surpresa total: Deus não estava mais no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo que tinha sido sinal da presença de Deus, pouco antes, no Monte Carmelo! Parece até um refrão que volta três vezes: Javé não estava no furacão! Javé não estava no terremoto! Javé não estava no fogo!
- É a desintegração do mundo de Elias. A crise mais violenta e mais dolorosa que se possa imaginar! Cai tudo! Pois se Deus não está aqui nestes sinais de sempre, então Ele não está em canto nenhum! É o silêncio de todas as vozes! É a escuridão da noite! E é neste momento, que se abre para Elias um novo horizonte. É no silêncio de todas as vozes que a voz de Deus se manifesta a Elias.
- Este silêncio total, a língua hebraica expressa-o dizendo: “voz de calmaria suave”, (qôl demamáh daqqáh). As traduções costumam dizer: “Murmúrio de uma brisa suave” A palavra hebraica, demamáh, usada para indicar a calmaria, vem da raiz DMH que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa suave indica algo, uma experiência, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar. Esvazia a pessoa, para que Deus possa entrar e ocupar o lugar. Ou melhor, Deus entrando provoca o vazio e o silêncio. Silêncio sonoro, solidão povoada! Vacare Deo diziam os antigos carmelitas, isto é, esvaziar-se para Deus!
- Elias cobriu o rosto com o manto (1Rs 19,13). Sinal de que tinha experimentado a presença de Deus exatamente naquilo que parecia ser a ausência total de Deus! A escuridão se iluminou por dentro e a noite ficou mais clara que o dia. É a libertação de Elias. Reencontrando-se com Deus, ele se reencontra consigo mesmo. Não é ele, Elias, que defende a Deus, mas é Deus quem defende a Elias. Libertado por Deus, ele é livre para libertar os outros!
- A experiência de Deus reconstroi a pessoa e lhe revela a sua missão (1Rs 19,15-18). Refeito pelo encontro com Deus, Elias redescobre sua missão (1Rs 19,15-18) e se preocupa em dar-lhe continuidade, indicando Eliseu como sucessor (Rs 19,19-21). Antes, ele queria morrer. Já não via mais sentido no que fazia. Agora, a nova experiência de Deus mudou tudo. Ele volta para o lugar onde queriam matá-lo. Já não tem mais medo. Em vez de querer morrer, quer que sobreviva a sua missão. Sinal de que novamente crê no que faz e deve fazer.
- Maria, a Virgem do silêncio
- De Maria se fala pouco na Bíblia, e ela mesma fala menos ainda. Os textos da Bíblia sobre Maria são todos dos evangelhos, menos três (Gl 4,4; At 1,13; Ap 12,1-17). Segue aqui uma chave de leitura para os textos dos três evangelhos que falam sobre Maria: Mateus, Lucas e João.
- Chave de leitura para os textos do evangelho de Mateus sobre Maria:
- Nos textos do evangelho de Mateus em que Maria é mencionada, tudo é centrado em torno da pessoa de José. Maria aparece como a esposa de José. Ela mesma não fala.
- Na genealogia de Jesus, Maria aparece silenciosa em companhia de quatro outras mulheres. Esta Companhia de Maria merece uma atenção especial. São Tamar, Raab, Betsabea e Rute.
- Tamar, uma cananéia, viúva, se vestiu de prostituta para obrigar Judá a ser fiel à lei e dar-lhe um filho (Gn 38,1-30).
- Raab, uma cananéia, prostituta de Jericó, fez aliança com os israelitas. Ajudou-os a entrar na Terra Prometida e professou a fé no Deus libertador do Exodo (Js 2,1-21).
- Betsabea, uma hitita, mulher de Urias, foi seduzida, violentada e engravidada pelo rei Davi, que, além disso, mandou matar o marido dela (2 Sm 11,1-27).
- Rute, uma moabita, viuva pobre, optou para ficar do lado de Noemi e aderiu ao Povo de Deus (Rt 1,16-18).
- As quatro mulheres são estrangeiras e irregulares. Não agem nem vivem dentro dos padrões da lei. Mesmo assim, suas iniciativas pouco convencionais deram continuidade à linhagem de Jesus e trouxeram a salvação de Deus para todo o povo. Foi através delas que Deus realizou seu plano e enviou o Messias prometido.
- Uma irregularidade semelhante existe em Maria. A sua gravidez acontece antes de ela conviver com José. Se José tivesse agido conforme as exigências das leis da época, deveria ter denunciado Maria, e ela poderia ser apedrejada. Mas José, por ser justo, não obedeceu às exigências das leis de pureza. A justiça de José era maior e o levou a defender a vida tanto de Maria como de Jesus. Mais tarde, Jesus irá dizer: "Se a justiça de vocês não for maior que a dos escribas e fariseus, não poderão entrar no Reino do céu" (Mt 5,20).
- Chave de leitura para os textos do evangelho de Lucas sobre Maria:
É no evangelho de Lucas que Maria aparece mais. Mesmo assim, ela fala pouco: com o anjo Gabriel, com Isabel e com Jesus no Templo de Jerusalém. Ela canta, usando os salmos. Lucas, quando fala de Maria, pensa nas Comunidades. Ele apresenta Maria como modelo para a vida das comunidades. É na maneira de Maria relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê a maneira mais correta para a comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Maria nos orienta na escuta e no uso da palavra.
- Chave de leitura para os textos do evangelho de João sobre Maria:
A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27), e pronuncia apenas duas frases: "Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3) e: "Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5). Nos dois casos, em Caná e ao pé da Cruz, Maria representa o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria é o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, é ela, a mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, que percebe os limites do Antigo: "Eles não têm mais vinho!" E é ela que dá os passos para que o Novo possa chegar, dando o grande conselho: "Fazei tudo que ele vos disser!" Na hora da morte, é novamente Maria, a Mãe de Jesus, que acolhe o "Discípulo Amado". O Discípulo Amado é a Comunidade do Novo Testamento que cresceu ao redor de Jesus. Ele é o filho que nasceu do Antigo Testamento. A pedido de Jesus, o Novo Testamento, recebe o Antigo Testamento, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos. Pois o Novo não se entende sem o Antigo. Mãe não se entende sem filho, e filho não se entende sem mãe. Seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem fruto.
EDITH STEIN: A TEMPESTADE SE APROXIMA
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Frei Cláudio van Balen, O. Carm., do Convento do Carmo de Belo Horizonte-MG.
Em 1936, morre sua mãe, o que possibilita que sua irmã Rosa venha unir-se a ela, em Colônia. Há tempo, ela desejava ser batizada, mas resolveu poupar sua mãe desse sofrimento. O batismo acontece na véspera do Natal, na presença de Edith. No ano seguinte, festa de 300 anos do mosteiro, a religiosa escreve: “Vamos ao encontro de grandes mudanças. Na expectativa das mesmas, temos como dever apoiar com nossa oração todos que já estão envolvidos na luta”. Em 1938, 21 de abril, ela faz a Profissão Perpétua. Nesse ano, os alemães são convocados duas vezes para se pronunciar a respeito do Führer, mas Edith perdeu seu direito de voto. Na primeira votação, dois senhores se apresentam para colher informações sobre a ausência da Dra Stein. Ela assume sua condição de não ariana, e responde à priora que lhe pergunta o que decide fazer: “Se estes senhores apreciam tanto meu não, eu não o posso negar a eles”.
Na segunda vez, a maioria das irmãs resolve omitir-se para não votar contra Hitler. Edith acha isso um absurdo. Uma delegação vem buscar os bilhetes das religiosas e elas são convocadas. No fim, a superiora tem de explicar a ausência de duas irmãs. Resposta: a irmã Ana é doente mental e não tem condições. E quando, insistindo, perguntam pela Dra Stein, a superiora responde: ”Ela não é ariana”. A declaração é anotada e os homens se despedem apressados. Edith resolve deixar o país. Na noite de 9 de novembro (Kristallnacht), em 1938, os nazistas vingam a morte de um companheiro, Ernest von Rath que, em Paris, é assassinado por um rapaz judeu, Herschel Grynszpan, cujos pais tinham sido deportados. A explosão anti-semita resultou na profanação e destruição de todas as quase 1000 sinagogas do país que foram incendiadas. E 7.500 estabelecimentos comerciais de judeus foram saqueados e 30.000 judeus são brutalmente jogados em campos de concentração, sendo que milhares são assassinados. Livros judaicos são queimados e decretos raciais instituem a discriminação. Iniciou-se a destruição do judaísmo na Alemanha. Na sociedade e na religião, faltaram gestos de protesto.
O mundo está consternado e Edith carrega uma dor que a esmaga. “É a sombra da cruz que cai sobre meu povo”, escreve. Perseguir judeus é perseguir a humanidade de Jesus. “Ai da cidade, do país, das pessoas sobre quem a ira divina vai manifestar-se, devido a tantos crimes cometidos contra os judeus”. Ela tentou ir para a Palestina, o Carmelo de Belém, mas lhe negaram a permissão. Na noite de 31 de dezembro de 1938, ela foge para o Carmelo de Echt, na Holanda. Para lá, tinham fugido as irmãs alemãs nos anos de 1871-1878, durante a “Kulturkampf” de Bismarck contra os católicos alemães, e a maioria das religiosas ainda era alemã. No verão de 1940, sua irmã Rosa veio unir-se a ela naquela comunidade. Quando em setembro daquele ano, foi eleita a nova priora, esta a encarregou de escrever algo sobre São João da Cruz, por ocasião do 4o Centenário do grande Santo Carmelita.
Trata-se do livro “A Ciência da Cruz”, iniciado em 1941 e escrito de uma vez. Nele, ela apresenta um tipo de auto-biografia espiritual, registrando também seu protesto contra a ideologia racista do nazismo.
De fato, o que escreve nessas páginas tem tudo a ver com o que ela mesma está passando. No símbolo da cruz, morte e vida estão inseparavelmente interligadas; e Edith externa a certeza absoluta da vitória da luz sobre as trevas. Melhor ainda, transmite a convicção de que a luz surge das profundezas da escuridão, embora ela tivesse de esperar para completar corporalmente o que permaneceu incompleto no livro. Nunca ela insinuou encontrar-se em um esconderijo, atrás dos muros do mosteiro, dos quais disse com senso de humor: “Deus não se obrigou de deixar-nos para sempre ali dentro”. Em 1935, já respondera a uma amiga que ali a julgava segura: “Não tenha isto como uma certeza! Certamente eles vão me procurar aqui. E eu não acredito de forma alguma que vou ser poupada”. Na noite do domingo da Paixão, em 1939, ela escreve um bilhete para a Priora: “Querida Madre: por favor, permita-me Vossa Reverendíssima me oferecer ao Coração de Jesus como instrumento eficaz pela paz autêntica: que o poder do mal se derrube e, se for possível, sem uma nova guerra mundial, que se possa instaurar uma nova ordem de coisas. Desejaria fazê-lo hoje”.
Quinta-feira, 6. 1ª Semana do Advento: Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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Frei Carlos Mesters, O.Carm
1) Oração
Despertai, ó Deus, o vosso poder e socorrei-nos com a vossa força, para que vossa misericórdia apresse a salvação que nosso pecados retardam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 7, 21.24-27)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. 24Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. 26Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. 27Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz a parte final do Sermão da Montanha. O Sermão da Montanha é uma nova leitura da Lei de Deus. Começa com as bem-aventuranças (Mt 5,1-12) e termina aqui com a casa na rocha.
* Trata-se de adquirir a verdadeira sabedoria. A fonte da sabedoria é a Palavra de Deus expressa na Lei de Deus. A verdadeira sabedoria consiste em ouvir e praticar a Palavra de Deus (Lc 11,28). Não basta dizer “Senhor, Senhor!” O importante não é falar bonito sobre Deus, mas sim fazer a vontade do Pai e, desse modo, ser uma revelação do seu amor e da sua presença no mundo.
* Quem ouve e pratica a palavra constrói a casa sobre a rocha. A firmeza da casa não vem da casa em si, mas vem do terreno, da rocha. O que significa a rocha? É a experiência do amor de Deus que se revelou em Jesus (Rom 8,31-39). Tem gente que pratica a palavra para poder merecer o amor de Deus. Mas amor não se compra nem se merece (Cnt 8,7). O amor de Deus se recebe de graça. Praticamos a Palavra não para merecer, mas para agradecer o amor recebido. Este é o terreno bom, a rocha, que dá segurança à casa. A segurança verdadeira vem da certeza do amor de Deus! É a rocha que nos sustenta na hora das dificuldades e das tempestades.
* O evangelista encerra o Sermão da Montanha (Mt 7,27-28) dizendo que a multidão ficou admirada com o ensinamento de Jesus, pois "ele ensinava com autoridade, e não como os escribas". O resultado do ensino de Jesus é a consciência crítica do povo com relação às autoridades religiosas da época. Admirado e agradecido, o povo aprovava os ensinamentos tão bonitos e tão diferentes de Jesus.
4) Para um confronto pessoal
- Sou dos que dizem “Senhor, Senhor”, ou dos que praticam a palavra?
- Observo a lei para merecer o amor e a salvação ou para agradecer o amor e a salvação de Deus?
5) Oração final
Dá, Senhor, tua salvação! Dá, Senhor, tua vitória Bendito o que vem em nome do Senhor! (Sal 117, 25-26a)
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