OLHAR DEVOCIONAL: Novena do Carmo.
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O Papa Francisco está refletindo sobre o futuro do Motu Proprio Summorum Pontificum
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O Papa Francisco, que está ciente das tensões provocadas pela possibilidade de sacerdotes escolherem seu rito, poderia aproveitar o acordo com os lefebvrianos para reservar o antigo rito exclusivamente à Prelazia Pessoal. A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por La Croix, 07-07-2017. A tradução é de André Langer.
Nos corredores do Vaticano, o Summorum Pontificum já é algo do passado. Mais importantes parecem ser hoje as discussões com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, para quem o texto de Bento XVI não foi necessariamente uma boa notícia: saindo do debate da questão litúrgica, o Papa alemão tinha, na verdade, permissão para ir ao fundo das divergências teológicas.
De acordo com a Comissão Ecclesia Dei, encarregada em Roma do diálogo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, essas divergências poderiam ser, atualmente, eliminadas. Faltaria apenas a assinatura de dom Bernard Fellay no documento apresentado já alguns anos. “Se não assinarem o documento, eles são realmente muito bestas, porque lhes foi estendida uma ponte de ouro”, comenta um observador que leu o texto. O superior geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X deveria assiná-lo após convencer os mais recalcitrantes da Fraternidade. E, provavelmente, antes do verão de 2018, data do próximo capítulo geral no qual o seu mandato será colocado em jogo. Ser nomeado para um cargo vitalício à frente da prelazia evitaria uma reeleição complicada.
O sacerdote não deve escolher o seu rito
Para Francisco, trata-se em primeiro lugar de um gesto de unidade: partidário de uma “diversidade reconciliada” e não de uma Igreja uniforme, ele está persuadido de que, no momento em que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X se diz católica, ela tem seu lugar na Igreja. Resta saber se os lefebvrianos encontrarão seu lugar na Igreja plural de Francisco. “Diante disso, o que os bispos farão nas dioceses com a prelazia lefebvriana?”, pergunta um observador.
Especialista em liturgia, o teólogo Andrea Grillo recorda-se também como, na época da sua publicação, o Summorum Pontificum colocou os bispos em apuros, sentindo-se, de repente, espremidos entre os padres escolhendo o antigo rito e uma Comissão Ecclesia Dei fazendo uma leitura muito ampla do texto. “Ao introduzir uma escolha subjetiva do rito pelo sacerdote, o motu proprio fragilizou a unidade litúrgica da Igreja e criou, às vezes, Igrejas paralelas até nas próprias paróquias. É uma ruptura da tradição”, diz ele.
Próximo ao Papa, ele recorda que, como arcebispo de Buenos Aires, o cardeal Bergoglio pediu a um sacerdote, contrário à forma extraordinária, para que celebrasse para os fiéis tradicionalistas, precisamente para salientar que o padre não deve escolher seu rito.
“Isso não é o comum da Igreja”
Porque, ao mesmo tempo, o Papa argentino compartilha com seu predecessor uma visão muito pragmática do antigo rito. Como Bento XVI falou do “pequeno círculo daqueles que utilizam o antigo missal”, Francisco estima que seu predecessor “fez um gesto justo e generoso para ir ao encontro de uma certa mentalidade de alguns grupos e pessoas nostálgicas e que estavam afastadas”.(1) Mas, ele estima que se trata de uma “exceção” e que “o comum da Igreja não é isso”. “O Vaticano II e a Sacrosanctum Concilium devem ser promovidos assim como são”, afirma o Papa que recusa qualquer ideia de “reforma da reforma”.
De acordo com Andrea Grillo, Francisco contempla inclusive, eventualmente, a abolição do Summorum Pontificum a partir do momento em que o antigo rito seja preservado na Prelazia Pessoal oferecida à Fraternidade Sacerdotal São Pio X. “Mas ele não tomará essa decisão enquanto Bento XVI estiver vivo”, prevê imediatamente.
Enquanto isso, esse Papa – para quem as demandas de alguns, “jovens demais para conhecerem a liturgia pré-conciliar”, escondem uma “rigidez defensiva” – está se preparando para iniciar um novo ciclo de catequese das quartas-feiras, precisamente sobre a liturgia. “Isso mostra a sua disposição de levar esse assunto a sério, afirma Andrea Grillo. Mas será uma oportunidade para falar mais do conteúdo da liturgia do que da sua forma e das rubricas”.
Nota:
1. Entrevista com o Pe. Antonio Spadaro na introdução do seu livro Nei tuoi occhi è la mia parola [Nos teus olhos está a minha palavra]. Rizzoli, 2016. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Igreja Universal estreia no metro quadrado mais caro do país
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Foram 15 minutos de pregação para que o demônio fosse embora da vida dos dez fiéis que erguiam as mãos em louvor na altura dos ombros e depois sobre a cabeça, na quinta (6). Vem o pedido de dízimo. Então, o pastor fala por cerca de 40 minutos sobre a importância do sacrifício. Ele mostra o vídeo de uma fiel que doou o ouro roubado do próprio filho, que era traficante e estava preso. A reportagem é de Mariliz Pereira Jorge, publicada por Folha de S. Paulo, 09-07-2017.
O moço se regenerou. Seria mais um culto na Igreja Universal do Reino de Deus, não fosse o novo endereço um dos metros quadrados mais caros do Brasil, o Leblon. Nem o bairro escapou da profusão de placas de aluga-se e vende-se que tomou o Rio. Mas isso não parece ter sido problema quando a Universal decidiu que era hora de expandir seus domínios na região mais glamourosa da cidade.
O antigo inquilino era o restaurante Fronteira, que não conseguiu renovar o contrato de aluguel (R$ 80 mil, mais R$ 2.000 de condomínio e R$ 8.000 de IPTU). Após seis meses de portas fechadas, a igreja do bispo Edir Macedo e do prefeito Marcelo Crivella fechou negócio num valor estimado em R$ 50 mil mensais. O espaço tem 630 m² e ocupa loja e sobreloja de um prédio na avenida Ataulfo de Paiva. No piso inferior, o cheiro é de obra fresquinha, com cadeiras perfiladas que devem acomodar até 200 pessoas. Tem ar condicionado, filtro de água e placa que pede para que os presentes desliguem celulares. No andar superior, auditório e escola bíblica.
Não fossem o terno, a verve religiosa e o fato de conduzir um culto dentro de uma igreja, o jovem em frente à audiência poderia ser confundido com qualquer outro filho de família tradicional do Leblon, daqueles que batem ponto no Brigite's para tomar dry martinis, ver e ser visto.
Na plateia, apenas dois homens. A maioria das mulheres é de senhorinhas com roupas muito simples, cabelos presos em coques com grampos ou piranhas, bolsas surradas nos ombros. Elas sentam espalhadas, o que aumenta a sensação de vazio. Na primeira fila, uma jovem loira de salão, bem vestida, ostenta uma bolsa da marca francesa Goyard (cerca de R$ 4.500). Longe do palco, um casal com cara e figurino de quem deixou as pranchas de surf do lado de fora.
Assim que o contrato foi firmado a vizinhança torceu o nariz, principalmente os moradores do prédio My Rose, que abriga o imóvel da Universal. Diziam: vai descaracterizar o bairro, vai ter multidão na porta, vai ter gritaria. Por enquanto reina a paz.
Os cultos seguem sem movimento, com exceção dos domingos, quando chegam ônibus com fiéis trazidos da periferia da cidade, segundo o porteiro do My Rose, José Soares Lima, 65. Ele diz que os novos vizinhos não têm incomodado, que nunca teve nada contra, mas frequenta outra igreja, a católica, localizada a uma quadra de distância. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Gazeta contrata padre sertanejo para concorrer com Faustão
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O padre Alessandro Campos, conhecido como "padre sertanejo", assinou contrato com a TV Gazeta nesta segunda-feira (3). O apresentador terá um programa de auditório aos domingos a partir de 6 de agosto, às 18h, e concorrerá com "Domingão do Faustão", da Globo, "Hora do Faro", da Record, e "Eliana", do SBT. A informação é publicada por portal Uol, 03-07-2017.
O programa de Alessandro Campos levará seu nome e será gravado às segundas-feiras no auditório da Gazeta, que volta a ter um programa com plateia aos domingos.
Alessandro Campos também está no ar na Rede Vida e na Rede Século 21 e ficará nas duas emissoras até 21 de dezembro. Ele ficou mais conhecido em outra TV católica, a Aparecida, onde apresentou o programa "Aparecida Sertaneja" durante dois anos. O padre pediu demissão no fim de 2015.
Na TV Aparecida, Alessandro protagonizou uma gafe lembrada até hoje na internet. Em maio de 2015, ele soltou um palavrão ao vivo após perder a paciência porque o microfone da dupla sertaneja As Galvão não funcionava direito. "Vem arrumar logo essa merda aqui", disse para um produtor. O vídeo viralizou nas redes sociais.
O padre, que ganhou o apelido depois de apresentar trechos de clássicos sertanejos em suas missas também faz sucesso na música. Foi o artista recordista em vendas de sua gravadora em 2014. No ano seguinte, vendeu mais de 610 mil cópias pela Som Livre.
Alessandro também enfrenta brigas judiciais. Em 2015, o ex-empresário dele o processou por uma dívida de quebra contratual de R$ 9,6 milhões. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
*14º Domingo do Tempo Comum – Ano A: Vinde a mim, todos vós que estais cansado.
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A liturgia deste domingo ensina-nos onde encontrar Deus. Garante-nos que Deus não se revela na arrogância, no orgulho, na prepotência, mas sim na simplicidade, na humildade, na pobreza e na pequenez.
No Evangelho, Jesus louva o Pai porque a proposta de salvação que Deus faz aos homens (e que foi rejeitada pelos “sábios e inteligentes”) encontrou acolhimento no coração dos “pequeninos”. Os “grandes”, instalados no seu orgulho e auto-suficiência, não têm tempo nem disponibilidade para os desafios de Deus; mas os “pequenos”, na sua pobreza e simplicidade, estão sempre disponíveis para acolher a novidade libertadora de Deus.
EVANGELHO DE MATEUS 11, 25-30: Atualização para a nossa vivência.
Na verdade, os critérios de Deus são bem estranhos, vistos de cá de baixo, com as lentes do mundo… Nós, homens, admiramos e incensamos os sábios, os inteligentes, os intelectuais, os ricos, os poderosos, os bonitos e queremos que sejam eles (“os melhores”) a dirigir o mundo, a fazer as leis que nos governam, a ditar a moda ou as ideias, a definir o que é correto ou não é correto. Mas Deus diz que as coisas essenciais são muito mais depressa percebidas pelo “pequeninos”: são eles que estão sempre disponíveis para acolher Deus e os seus valores e para arriscar nos desafios do “Reino”.
Quantas vezes os pobres, os pequenos, os humildes são ridicularizados, tratados como incapazes, pelos nossos “iluminados” fazedores de opinião, que tudo sabem e que procuram impor ao mundo e aos outros as suas visões pessoais e os seus pseudo-valores… A Palavra de Deus ensina: a sabedoria e a inteligência não garantem a posse da verdade; o que garante a posse da verdade é ter um coração aberto a Deus e às suas propostas (e com frequência, com muita frequência, são os pobres, os humildes, os pequenos que “sintonizam” com Deus e que acolhem essa verdade que Ele quer oferecer aos homens para os levar à vida em plenitude).
Como é que chegamos a Deus? Como percebemos o seu “rosto”? Como fazemos uma experiência íntima e profunda de Deus? É através da filosofia? É através de um discurso racional coerente? É passando todo o tempo disponível na igreja a mudar as toalhas dos altares? O Evangelho responde: “conhecemos” Deus através de Jesus. Jesus é “o Filho” que “conhece” o Pai; só quem segue Jesus e procura viver como Ele (no cumprimento total dos planos de Deus) pode chegar à comunhão com o Pai.
Há católicos que, por terem feito catequese, por irem à missa ao domingo e por fazerem parte do conselho pastoral da paróquia, acham que conhecem Deus (isto é, que têm com Ele uma relação estreita de intimidade e comunhão)… Atenção: só “conhece” Deus quem é simples e humilde e está disposto a seguir Jesus no caminho da entrega a Deus e da doação da vida aos homens. É no seguimento de Jesus – e só aí – que nos tornamos “filhos” de Deus.
Cristo quis oferecer aos pobres, aos marginalizados, aos pequenos, a todos aqueles que a Lei escravizava e oprimia, a libertação e a esperança. Os pobres, os débeis, os marginalizados, aqueles que não encontram lugar à mesa do banquete onde se reúnem os ricos e poderosos, continuam a encontrar – no testemunho dos discípulos de Jesus – essa proposta de libertação e de esperança? A Igreja dá testemunho da proposta libertadora de Jesus para os pobres? Como é que os pequenos e humildes são acolhidos nas nossas comunidades? Como é que acolhemos aqueles que têm comportamentos social ou religiosamente incorretos?
EXEMPLOS DE ONTEM QUE NOS FALA HOJE... (Frei Petrônio de Miranda, O. Carm).
1-Maria de Nazaré era mais uma “MARIA”, entre várias Marias de rostos anônimos. Ela era inexpressiva, o seu povoado-lugarejo não tinha importância política ou econômica nenhuma. Hoje é impossível falar na história da salvação e em Jesus Cristo sem lembrar da “inexpressividade” da jovem de Nazaré. Aliás, a verdade é que nenhum profeta nunca tinha dito que Jesus viria de Nazaré e muito menos que tal local geográfico tivesse expressividade.
2-Quando a irmã Teresinha do Menino Jesus morreu, uma freira que morava em seu convento falou: “O que a madre vai falar dessa feira no futuro, ela não fez nada. Nada! ”. Hoje, esta freira que “não fez nada”, é Doutora da Igreja e Padroeira das Missões.
3-Na madrugada do dia 6 de maio desse ano (2017), morreu aqui na Lapa, Rio de Janeiro, a travesti Luana Muniz. Ela era conhecida por acolher travestis, transexuais, portadores de HIV, prostitutas e pessoas em situação de rua em um casarão na Rua Mem de Sá.
4-São João Maria Vianney, o “cura D'Ars”- Padroeiro dos Párocos- foi enviado para um pequeno povoado francês justamente por ser considerado um padre sem grandes expressividades ou, em outras palavras, pouco inteligente. Lá, justamente lá, naquele povoado atraiu multidões para a confissão e orientação espiritual.
5- Quem “botava fé” no então eleito Papa João XXIII? No entanto, foi com esse “João ninguém” que a igreja virou de cabeça baixo com o chamado Vaticano II. E O Papa Francisco- O Papa do “fim do mundo”? Quanta inovação e transformação nos métodos e no olhar da Igreja para temas polêmicos do nosso dia a dia?
*LEIA A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. CLIQUE NO LINK AO LADO- EVANGELHO DO DIA.
Escândalos no Vaticano: o que a crise no governo do Papa Francisco nos ensina
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Os 100 dias entre março e julho 2017 representam a primeira crise no governo do Papa Francisco. Muitos casos se acumularam em rápida sucessão. A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 05-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A renúncia de Marie Collins da Comissão para a Proteção dos Menores, em março, o adeus repentino de um profissional de primeiro nível como Libero Milone do seu cargo de Auditor Geral das contas do Vaticano, o caso do neocardeal de Mali, Jean Zerbo, incapaz de explicar o destino de 12 milhões depositados em seu nome em bancos suíços, o brusco afastamento (que ninguém acredita ter sido provisório) do cardeal George Pell – membro do conselho da coroa dos nove cardeais que aconselham o papa e responsável pela Secretaria econômica da Santa Sé –, forçado a viajar para a Austrália para responder a acusações de abuso, a inesperada remoção do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Ludwig Müller, a sua substituição à frente do ex-Santo Ofício pelo jesuíta Luis Ladaria, que se revelou signatário de um documento que convidava o bispo de Lucera a não escandalizar os fiéis com a notícia da renúncia do estado sacerdotal do padre pedófilo Gianni Trotta (que, aproveitando-se do silêncio, se tornaria treinador de um time juvenil de futebol, cometendo novos crimes).
É uma sobreposição de casos tão delicados que não podem ser tratados como episódios individuais que requeiram apenas uma manutenção de rotina. Chama a atenção que, nesse emaranhado, emergem duas questões cruciais, que atraíram imediatamente a atenção da opinião pública católica ou não, no início do pontificado, quando Franciscodeu a entender que devia haver tolerância zero no que diz respeito aos abusos e total transparência nas questões financeiras. Os eventos, embora diferentes, de Collins, Pelle Ladaria remetem à questão de uma rigorosa estratégia de combate a abusos e conivências e às carências que se manifestaram nesse campo.
Os casos totalmente diferentes de Milone e Zerbo remetem à necessidade de uma política de transparência total nos assuntos econômicos não só do Vaticano, mas também das Igrejas católicas locais.
O caso Müller, no entanto, toca outra questão importante: a exigência de que, na Cúria, haja uma equipe para apoiar o “aggiornamento” defendido pelo pontífice argentino.
O ponto é que, no conjunto dos casos, surgiram disfunções no campo da gestão, e, portanto, é preciso uma reviravolta nas decisões papais.
Não há dúvida de que o caso Pell foi mal conduzido. Há muito tempo, levantaram-se rumores para que se evitasse que uma personalidade tão em vista do conselho restrito do papa fosse abalada por uma nova onda de acusações relacionadas com abusos encobertos ou cometidos. Em meados de junho, era conhecida nas altas esferas vaticanas a sua posição periclitante. “Pell tem esqueletos no armário nada insignificantes”, confidenciava-me um empregado vaticano.
Avisar os jornalistas às 4h da manhã sobre uma coletiva de imprensa a ser realizada no início da manhã mostra um modo de gerir “amadorístico”, escreveu a vaticanista Isabelle de Gaulmyn, do jornal católico francês La Croix. “A Igreja se move porque a justiça (estatal) se move.” Em vez disso, deveria ser o contrário. Não estava em jogo, aqui, o princípio da presunção de inocência, mas sim o princípio de precaução, que foi desatendido.
Mas a pergunta principal, também à luz do afastamento de Müller, diz respeito agora ao futuro próximo. Será feito ou não aquele tribunal especial ao qual podem se dirigir as vítimas de abuso quando houver bispos locais negligentes que não persigam os padres-predadores? E se dará ou não um papel eficaz à Comissão para a Proteção dos Menores, que não pode continuar sendo uma irmandade de reflexões, mas cujo único objetivo real deveria ser o de elaborar diretrizes obrigatórias para aquelas Conferências Episcopais que continuam enfrentando o problema da pedofilia com uma calma que beira a indiferença?
Segundo ponto, o dinheiro. Pell – na sua versão de supervisor dos orçamentos das administrações vaticanas – pode até ter sido um mau caráter. Mas ele tinha claramente na cabeça o objetivo de limpar a selva de comportamentos arbitrários, às vezes ilegais, na gestão financeira em curso nos vários setores da Santa Sé. Agora que foi embora o auditor geral das contas, Milone, como se pretende realizar uma linha de rigor e transparência?
Não esqueçamos que, há dois anos, descobriu-se que, na Apsa (que internacionalmente tem o papel de um banco central de Estado), foram encontradas contas cifradas em nome de um financista, à disposição de operações obscuras. Não esqueçamos que é inútil que a Autoridade de Informação Financeira traga à luz graves irregularidades, se, depois, quase nenhum dos autores é processado pelos tribunais vaticanos.
São pontos nodais que cabe a Francisco dissolver rapidamente. Pontos nodais que requerem soluções claras e eficazes, se se quiser dar novamente um impulso à ação reformadora sobre temas extremamente sensíveis.
E há uma última questão. A remoção de Müller, que sistematicamente era o contraponto à linha pastoral do Papa Bergoglio, traz novamente à tona a exigência de que o pontífice crie na Cúria uma equipe homogênea de reformadores em todos os níveis.
Até agora – em nome da máxima inclusão possível e do máximo respeito possível pelas nomeações feitas no seu tempo por Bento XVI – deixaram-se as cúpulas curiais em grande parte como estavam formadas na era de Wojtyla e Ratzinger. Mas uma Igreja a caminho, como Bergoglio quer, precisa de uma patrulha de condução animada pelos mesmos objetivos. Essas escolhas também cabem agora a Francisco.
Caso contrário, a máquina trava. E é possível ver com quais resultados. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Papa envia áudio mensagem para inauguração da Rádio "Cristo dos Favelados", na Argentina.
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Cidade do Vaticano (RV) - “Envio uma afetuosa saudação acompanhada de minha bênção a todos os que idealizaram, trabalham e ouvem a Rádio ‘Cristo dos Favelados’, a todos meus irmãos da Paróquia São João Bosco, de Vila la Cárcova, Vila 13 de julho, Vila Curita de José León Suarez.”
São palavras do Papa Francisco numa áudio mensagem por ocasião da inauguração, este domingo (2 de julho), da Rádio “Cristo dos Favelados” em Vila Cárcova, na localidade buenairense de José León Suarez em Buenos Aires-Argentina, por iniciativa do Pe. José “Pepe” Di Paola, conhecido por seu trabalho junto aos moradores de favelas.
“Obrigado pelo trabalho que estão fazendo, por se dedicarem a coisas boas, por construírem pontes e não levantar muros. Obrigado por não se destruírem com divisões, mas aproximar-se com a mão estendida. Continuem assim, comuniquem-se desse modo: assim se constrói um país de irmãos, assim se constrói um mundo de irmãos. Que Deus os abençoe e rezem por mim”, pediu Francisco. “Vou rezar por vocês e vou fazê-lo de coração. Sigam adiante e façam-no com entusiasmo. Que Jesus os abençoe e a Virgem Maria os proteja”, acrescentou. (RL). Fonte: http://br.radiovaticana.va
O QUE RESTA DO PADRE?
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Padre Armando Matteo, padre da diocese de Catanzaro-Squillace, Itália, é docente de Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Urbaniana.
“Será que isso que estamos vivendo ainda é um tempo para nós? Para nós, que abraçamos a vocação sacerdotal? Não são, na verdade, muitos os sinais indicativos de que nesta época em que temos que viver lentamente, mas com bastante seriedade, esteja como que perdendo valor e significado o ministério sacerdotal ao qual decidimos dedicar nossas vidas? Será que isso que estamos vivendo ainda é um tempo para nós? Para nós, que abraçamos a vocação sacerdotal? Não são, na verdade, muitos os sinais indicativos de que nesta época em que temos que viver lentamente, mas com bastante seriedade, esteja como que perdendo valor e significado o ministério sacerdotal ao qual decidimos dedicar nossas “vidas?”, pergunta Armando Matteo, padre da diocese de Catanzaro-Squillace, é docente de Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Urbaniana. De 2005 a 2011 foi assistente nacional da Federação Universitária Católica Italiana (FUCI), em artigo publicado na revista Presbyteri, e reproduzida por Settimana News, nos dias 04, 10 e 13 de junho de 2017. A tradução é de Ramiro Mincato.
Eis o artigo.
Premissa
Será que isso que estamos vivendo ainda é um tempo para nós? Para nós, que abraçamos a vocação sacerdotal? Não são, na verdade, muitos os sinais indicativos de que nesta época em que temos que viver lentamente, mas com bastante seriedade, esteja como que perdendo valor e significado o ministério sacerdotal ao qual decidimos dedicar nossas vidas?
Os dados estatísticos acerca das novas vocações ao sacerdócio, ao menos no Ocidente desenvolvido, não requerem muitos comentários: são cada vez menos os jovens que entram nas fileiras do clero, que já é medianamente velho, e, para não poucos casos, muito velho. Será que ainda teremos padres italianos, franceses e europeus, em geral, daqui a algumas décadas? Difícil não perguntar-se.
Mesmo quando ainda não tomados pelos cuidados de saúde do próprio corpo, que se enferma e envelhece, os padres maduros parecem estar sempre preocupados, em reserva: literalmente, nunca têm tempo, tantas as tarefas que lhes competem, incluindo sagradas e profanas, a que dedicam seu tempo. Há quem nem consiga preparar a homilia como o Papa Francisco recomenda.
Mais ainda: não é verdade também que muitos padres não imprimem um mínimo de entusiasmo ao seu trabalho pastoral e que, ao contrário, vivem o ministério num ciclo de produção ininterrupta, quase insignificante para sua própria existência? O que sobrou dos anos de seminário, do impulso da primeira hora, da prontidão com que deram seu sim ao Senhor Jesus?
E o que dizer diante daqueles que pelas razões mais desesperadas - mas que sempre tem a ver com sexo e dinheiro - acabam nas páginas dos jornais, ou sob o holofote daquele tipo de jornalismo popular que tanto ama entreter seu público com esses temas?
A maior provação, talvez, que enfrentamos hoje, e que nos questiona profundamente sobre a nossa presença na sociedade, tem a ver com um sentimento de mal-estar mais geral: o inconveniente de não sermos capazes de nos comunicar com aquela parte vital da população que gravita em torno das nossas paróquias e comunidades. Penso nos muitos jovens que estão longe dos nossos locais; penso ainda nas mulheres jovens adultas ou adultas, mães e trabalhadoras, que, terminado o caminho da catequese de iniciação de seus filhos, parecem não ter mais tempo, nem interesse para o que nós padres dizemos e celebramos; penso também nos homens e mulheres de cultura ou de instituições públicas importantes, que, mesmo respeitando a realidade eclesial e seus representantes, escondem, no fundo, a ideia de que nós e nosso trabalho não passam de um pequeno souvenir de um mundo que já passou. Você pode encontrá-los nalgum batizado, casamento ou funeral, e quase nenhum deles lembra sequer quando é hora de levantar-se ou de sentar-se.
E o que pensar daqueles que ainda vem à Igreja? Não se esconderia em algum lugar do nosso coração a pergunta: realmente estão nos ouvindo? Seriam capazes de aceitar para suas vidas cotidianas os parâmetros que vêm das belas mas exigentes palavras de Jesus que lhes pregamos todos os domingos? Não parece, no entanto, também neste caso, que no final das contas, o que de fato importa para essas pessoas, são elas mesmas que decidem: qual e quanto Evangelho pôr em prática? E nós, então, para que servimos?
Restam, é claro, os pobres, que muitas vezes vêm bater à nossa porta: a solidariedade está fora de questão, mas o fato de eles voltarem tantas vezes, e com aqueles da primeira hora vão se juntando outros continuamente, pois quase ninguém consegue sair desta imensa corrente humana de pessoas que simplesmente lutam para colocar a mesa almoço e jantar. Também isso é fator de tristeza. Quanta pobreza é gerada neste tempo. Poder-se-á encontrar algum equilíbrio nesta estranha economia que governa o mundo?
Talvez este seja o lugar onde encontramos, nesta reflexão, um primeiro ponto de síntese: o tempo em que vivemos é para nós padres, sobretudo, um momento de pobreza; sim, nós também lutamos para colocar juntos as Laudes e as Completas, porque vivemos num momento histórico em que perdemos as coordenadas culturais e sociais que deram, até dias não muito distantes dos nossos, um contexto, um charme e uma fisionomia clara ao nosso ser padre. E é daqui, talvez, que se deva partir para responder à pergunta: como continuar a ser padre neste tempo?
O que perdemos
Este, que vivemos, é um tempo de pobreza para nós padres. Somos chamados ao ministério do anúncio do Evangelho e de guias das comunidades a nós confiadas, sem poder contar com nenhum dos apoios que foram de grande importância num passado recente: somos padres, mas não dispomos mais daquela linguagem comum entre a experiência de viver e aquela de crer, nem desfrutamos mais daquela credibilidade pessoal e grupal que inspirava confiança em quem se aproximava, e sem poder apoiar nossa autoridade específica em arquétipos e imaginários difusos, e, enfim, sem saber por quanto tempo ainda os recursos econômicos até agora colocados à nossa disposição nos ajudarão a manter de pé e “em boa forma” as tantas estruturas e iniciativas sobre as quais fazemos girar a vida da comunidade. Tentemos, pois, ver alguns detalhes desse novo cenário em que hoje se decide nosso empenho sacerdotal.
Todos sabemos e dizemos que a cristandade acabou. Estamos, de fato, na época da chamada pós-modernidade, que não é simplesmente uma época de mudança, mas uma verdadeira e própria mudança de época. Tal evento não poupou a figura e o papel do padre, entendido aqui sobretudo como anunciador do Evangelho. Quando se diz que a cristandade acabou, trata-se de tomar consciência de que aquela unidade de cultura e aquela cultura da unidade vigente no Ocidente até a revolução cultural de Sessenta e Oito, não existe mais. Não só: trata-se então de compreender que não há mais referencia ou osmose alguma entre as instruções para viver e aquelas para crer. Neste sentido, a mudança de época que vivemos, e que anuncia o fim da cristandade, faz com que haja muito mais distância no modo de entender o humano entre eu e meu avô, do que entre o meu avô e qualquer um dos cidadãos da Idade Média.
Para melhor visualizar uma tal mudança, tenha-se presente o fato de que nos tornamos humanos e cidadãos num determinado tempo, assumindo como nossa a linguagem humana em geral, e mais especificamente a linguagem daquele determinado contexto histórico e cultural, que traduz e indica uma ordem das coisas do mundo e do mundo das coisas. A linguagem é o lugar onde se sedimenta o imaginário comum, que determina a apreensão do real, isto é, o que nós definimos como valores de fundo. Assim, nas últimas décadas, com o impor-se da cultura pós-moderna, assistimos uma mutação de palavras e de sua ordem, com o eclipse de umas e a emergência de outras. Até os anos Oitenta do século passado as palavras decisivas na vida humana eram eternidade, paraíso, verdade natureza, lei natural, fixidez, maturidade, idade adulta, espírito, masculinidade, sobriedade, sacrifício, renúncia, autoridade, direito, tradição. Hoje, ao centro da sensibilidade imediata de ser habitante deste tempo e espaço cultural, encontramos as palavras finitude, alteridade, pluralismo, tolerância, sentimento, técnica, saúde, mudança, atualização, corporeidade, mulher, consumo, bem-estar, juventude, longevidade, singularidade, sexualidade, democracia, convicção, comunicação, participação.
Exatamente isto provoca - e este é o ponto – a ruptura da cristandade, isto é, da unidade entre cultura e fé, entre existência e oração, entre cotidiano e santo, que, não sem nenhuma sombra como é natural que seja, favoreceu muito o trabalho da Igreja e de nós padres: em casa, na escola, pela estrada os códigos linguísticos – humano e de fé – passavam facilmente de um lado ao outro. Isto não acontece mais. Assistimos, ao contrário, a um cristianismo que se tornou estranho ao homem comum; em geral, a própria questão de Deus não aparece mais como decisiva para uma vida humana bem sucedida, e, enfim, quase ninguém de nós consegue encontrar o estilo certo e a frequência certa para transmitir a fé às novas gerações.
Vivemos num tempo que nos despe daquela aura de credibilidade derivante das nossas escolhas que sempre pareciam fortes e contracorrentes em relação a vida ordinária das pessoas: a obediência, a pobreza e a castidade. Mas foram tantos os escândalos que se abateram sobre a inteira categoria nos últimos anos. Quantas feridas recebeu e continuamente recebe a credibilidade da imagem do padre. Num tempo em que não se crê mais na graça, na ação do Espírito Santo, na força da oração, e muito mais naturalmente se inspira na potencia da psicologia, os padres arriscam cair sob suspeição exatamente por essas escolhas fortes e rígidas, porque são os últimos que não se renderam, ao menos como escolha de fundo, à invasividade do discurso do sexo, do dinheiro e da autodeterminação. Que estranha parábola, pois, temos que viver: de um tempo em que exatamente porque castos, pobres e obedientes inspirávamos tanta confiança, para um tempo em que exatamente porque castos, pobres e obedientes somos constantemente submetidos a um tipo permanente de controle de qualidade que gera inevitavelmente desconfiança e ressentimento.
Ainda mais profundamente devemos reconhecer que o que nos faz sofrer é o desaparecimento, na nossa cultura, do “discurso do padre”, a perda de credibilidade da autoridade, a diminuição da qualidade adulta do humano. Pais e educadores são, por assim dizer, invadidos pela ânsia do cuidado, da preocupação, do controle, da manutenção indolor e ascética da vida daqueles que lhes são confiados, resultando tão incapazes de assimetria, de conflitos, de generatividade. Desaparece a ideia de que querer bem a alguém, a nós confiado, significa sempre conjugar com querer o seu bem: isto é, querer seu crescimento, sua emancipação da nossa órbita, sua capacidade de estar com suas próprias pernas diante do mundo e da história, certo, graças a nós, mas sobretudo, sem nós. Onde poderemos encontrar apoio, hoje, no imaginário difuso, para sermos “o mais velho” (tradução literal de presbítero), o mais sábio, o mais adulto, num tempo em que os adultos não querem mais ser adultos, em que não estão mais dispostos a renunciar ao próprio ego para poder assumir o encargo dos outros, sempre com a finalidade de deixa-los crescer em autonomia e por isso sabendo dar espaço também ao lado “áspero”, que também faz parte do gesto educativo? Não há o risco que também o padre se transforme, para nossas crianças e jovens, como suas mães e pais, numa espécie de amigo, de “falso jovem”, de pobre cretino caído sob a pressão do discurso do mercado? E se, ao invés, assumir seriamente o papel de adulto, não terá o padre que encontrar a coragem necessária para enfrentar os tantos “falsos jovens” com quem deve partilhar a responsabilidade educativa das novas gerações? Percebe-se claramente aqui que as tão amadas alianças casa-escola-oratório devem ser completamente repensadas e reestruturadas.
Merece ainda um aceno a questão econômica. Vimos de tempos de vacas gordas, e talvez ainda estejamos neste tempo, mas são anunciadas sombras neste horizonte e provavelmente, entre a diminuição das ofertas privadas e a redução dos financiamentos estatais, será necessário repensar como realizar a gestão das estruturas, muitas vezes realmente enormes. Em muitos países, no norte da Europa, já é questão do dia a dia a venda de edifícios sacros por causa da falta de fundos para sua manutenção, além da falta de pessoal eclesial a quem destiná-los. Como começar a repensar tudo isso? O que será realmente essencial conservar e do que se poderia, ao contrário, desfazer-se? Como evitar que o trabalho da procura de recursos econômicos não absorva e contamine a liberdade do nosso ministério pastoral e a força da nossa palavra profética?
E finalmente, como não enfrentar o aumento da vida média das populações e, portanto, também a do clero? Conseguiremos, com a aposentadoria, fazer frente às tantas novidades que a condição longeva da humanidade põe diante de nós? Será realmente possível permanecer fiel à nossa escolha de sermos padres por um período tão longo de anos?
O que ainda não entendemos
Não seria completa a descrição do cenário em que vivemos hoje nossa aventura sacerdotal, se não levarmos em conta as tantas oportunidades que, exatamente este tempo, que tanto nos põe à prova, nos oferece.
A primeira delas é certamente a coragem que nos vem do recente magistério petrino. Penso aqui na centralidade do tema da nova evangelização e da atenção aos jovens, em São João Paulo II, penso ainda na centralidade da questão da fé, em Bento XVI e penso, enfim, ao apelo do Papa Francisco ao tema da criatividade pastoral, mesmo com risco de alguma queda ou algum acidente de percurso.
Gosto, assim, de sublinhar a palavra criatividade que retorna diversas vezes na Evangelii Gaudium (11, 28, 134, 145, 156, 278), e é, no fundo, um convite a imaginar percursos diferentes e propostas inovadoras. É alguma coisa da qual todos estamos convencidos, pois sentimos na pele: muitos gestos de fé que propomos não funcionam mais tão bem como gostaríamos. Basta pensar aos percursos da iniciação cristã ou ao empenho pela pastoral juvenil. É exatamente por isso que o Papa Francisco nos convida a não ter medo de mudar, dando vida também a um curioso neologismo: “Primeirear – tomar a iniciativa”.
O nosso é, então, o tempo para a criação de uma palavra nova, de uma nova imaginação evangelizadora, de uma nova estação da vida paroquial. Faço eco a duas expressões bastante concretas do Papa Francisco: a primeira, no n. 73 da Evangelii Gaudium, onde, lembrando as grandes mudanças ocorridas na cidade, pede para “imaginar espaços de oração e de comunhão com características inovadoras, mais atraentes e significativas para as populações urbanas”; a segunda diz respeito a bela defesa da paróquia, sempre na Evangelii Gaudium (n. 28), mas com a indicação que esta “requer a docilidade e a criatividade missionária do pastor e da comunidade”: a paróquia é dotada de “grande plasticidade” e “pode assumir formas muito diferentes”. E quem deveria tomar a iniciativa em tudo isso se não exatamente nós, os padres?
A segunda oportunidade que este tempo nos oferece é aquela de sermos quase os últimos guardiães e profetas daquele humanismo do cuidado adulto das relações privadas e públicas, das quais se está perdendo demasiado rapidamente os traços e a memória. Nossa condição de soleira em relação ao jogo, até demasiadamente pegajoso das estratégias educativas, e em relação as contorções individualistas e narcisistas do discurso sócio-político, nos permite relançar o verdadeiro desafio da nossa sociedade: precisamos de adultos, adultos verdadeiros, capazes de controlar as pulsões do próprio eu e de colocar no centro da própria existência o cuidado dos outros, seja em termos de emancipação dos filhos, seja em termos de sustentabilidade do seu direito de simplesmente nos suceder, na cadeia das gerações humanas.
A terceira oportunidade dada por este tempo que nos toca viver consiste no fato de que, por quanto esmagados e em parte desmotivados, ao menos como categoria, podemos ainda fazer valer o direito de Deus de ser Deus. Nada de humano, por mais que seus recursos estejam voltados ao infinito, poderá substituir a Deus. Penso aqui à sexualidade, ao trabalho exasperado, ao acumulo de dinheiro, às ilusões da bioengenharia, ao poder exercitado até a própria morte. O que é terrestre, permanece terrestre, mesmo que camuflado com paramentos divinos. E, talvez, exatamente por causa dos tantos escândalos desencadeados por alguns dos nossos coirmãos, descobrimos ainda mais que enquanto padres, nunca pretendemos ser outra coisa que simples referências, links, mediadores, pequenos “pontífices”, literalmente, construtores de pontes: de sermos simplesmente dedos que indicam a lua sem nunca pensar que somos a lua. Assim, nossa tarefa é, e permanecerá sempre aquela de recordar ainda a palavra última de toda autêntica salvação: é Deus que nos absolve da necessidade e terrível ilusão de salvar a nós mesmos, os outros e o mundo.
A quarta oportunidade dos dias de hoje, para nós padres, é possivelmente aquela de fazer as contas com os nossos investimentos econômicos, que talvez não sejam simplesmente econômicos. Nos serve ainda uma Igreja como “instituição total” dentro de um quarteirão ou de um pequeno centro da periferia; uma Igreja que se ocupa de tudo, do berço ao cemitério? Precisamos ainda de tantas estruturas? E se, ao contrário, hoje nos fosse pedido simplesmente de ensinar aos homens e às mulheres a antiga arte de rezar e de relacionar-se com os outros com liberdade e confiança?
Para concluir
A pergunta final não poderia ser esta: o que resta do padre hoje? Qual o núcleo irrenunciável da sua presença e da sua missão nesse nosso mundo, que parece sempre mais dispensar o Deus do Evangelho e da Igreja? Parece-me que o que sobrou do padre seja a função de representar algo que falta neste mecanismo quase absoluto de singularidades autorreferenciais, mais ou menos infelizmente mantidas juntas pelo mecanismo de produção e classificação das mercadorias. Em tal contexto, a missão parece ser aquela de recordar a grande “utilidade” do sentimento de falta no interior da estrutura humana: o vazio de cada existência humana entorno ao qual orbita aquela precariedade originária com a qual todos fomos modelados.
O homem, de fato, não vive somente daquilo que possui e que segura apertado com suas mãos, mas também daquilo que lhe falta, daquilo que não tem. Eis, então, o que resta do padre hoje: ele é aquele que, com o seu corpo e com suas escolhas ainda tão impopulares, com o seu estilo de vida, recorda o que hoje corre o risco de faltar mais, e que talvez fizesse todos mais humanos: a carência. Fonte: http://www.franciscanossantacruz.org.br
PAPA FRANCISCO: São Pedro e São Paulo- Festa.
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“Os Padres da Igreja amavam comparar os Santos Apóstolos Pedro e Paulo a duas colunas, sobre as quais se apoia a construção visível da Igreja. Eles sigilaram com o próprio sangue o testemunho de Cristo com a pregação e o serviço à comunidade cristã nascente. Este testemunho é evidenciado nas leituras bíblicas da liturgia de hoje, que indicam o motivo pelo qual a sua fé, confessada e anunciada, foi coroada com a prova suprema do martírio.”
O Livro dos Actos dos Apóstolos, prosseguiu Francisco, conta o evento da prisão e libertação de Pedro. "Ele experimentou a aversão ao Evangelho em Jerusalém onde foi preso por Herodes que tinha a intenção de apresentá-lo ao povo, mas foi salvo de forma milagrosa e pode levar a termo a sua missão evangelizadora, primeiro na Terra Santa e depois em Roma, dedicando todas as suas forças ao serviço da comunidade cristã."
Paulo também experimentou hostilidades e foi libertado pelo Senhor. Enviado por Jesus à várias cidades junto às populações pagãs, “ele, reiterou o Papa, encontrou resistências fortes por parte dos seus correligionários e também da parte das autoridades civis. Escrevendo ao discípulo Timóteo, reflecte sobre a própria vida, o percurso missionário e também sobre as perseguições sofridas por causa do Evangelho”.
“Estas duas libertações, de Pedro e de Paulo, revelam o caminho comum dos dois Apóstolos que foram enviados por Jesus a anunciar o Evangelho em ambientes difíceis e em certos casos hostis. Ambos, com as suas vidas pessoais e eclesiais, nos mostram e nos dizem, hoje, que o Senhor está sempre ao nosso lado, caminha connosco, nunca nos abandona. Especialmente no momento da provação, Deus nos estende a mão, nos ajuda e nos liberta das ameaças dos inimigos. Devemos por isso lembrar que o nosso inimigo verdadeiro é o pecado, e o maligno nos empurra para isso.”, disse o Santo Padre.
Segundo o Papa, “quando nos reconciliamos com Deus, especialmente no Sacramento da Penitência, recebemos a graça do perdão, somos libertados dos vínculos do mal e aliviados do peso dos nossos erros. Assim, podemos continuar o nosso percurso de anunciadores alegres e testemunhas do Evangelho, mostrando que nós recebemos, por primeiro, a misericórdia”.
“A nossa oração hoje à Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, é sobretudo pela Igreja que vive em Roma e por esta cidade que tem como padroeiros os Santos Pedro e Paulo. Que eles obtenham para essa cidade o bem-estar espiritual e material. A bondade e a graça de Deus sustente todo o povo romano para que viva em fraternidade e concórdia, fazendo resplandecer a fé cristã, testemunhada com coragem pelos Santos Apóstolos Pedro e Paulo”, concluiu dizendo Francisco. Fonte: http://pt.radiovaticana.va
*Mensagem do Papa Francisco na alocução do Ângelus.
Diáconos permanentes, sua missão
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Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta, RS
Lembrei na semana anterior que o diácono permanente tem seu lugar único na Igreja, por ser um sacramento de Cristo Servo e manifestação da Igreja servidora. Compreendemos, a partir disso, sua missão, como bem o expressou nosso Papa Francisco: “O diácono é o guarda do serviço na Igreja. […] Vós sois os guardas do serviço na Igreja: o serviço à Palavra, o serviço no Altar, o serviço aos Pobres. E a vossa missão, a missão do diácono, e o seu contributo consistem nisto: em recordar a todos nós que a fé, nas suas diversas expressões — a liturgia comunitária, a oração pessoal, as diversas formas de caridade — e nos seus vários estados de vida — laical, clerical, familiar — possui uma dimensão essencial de serviço. O serviço a Deus e aos irmãos” (Papa Francisco, 25 de março de 2017).
Historicamente, as funções dos diáconos variaram. Sempre, porém, elas são marcadas pelo “caráter de sacramento da caridade de Cristo preferencialmente aos pobres e excluídos” (Diretrizes para o diaconado permanente da Igreja no Brasil, n. 48). Não são os diáconos os únicos a exercerem sua missão marcada pelo serviço, pois todos os ministérios na Igreja devem trazer esta identidade. Assim motivados, serão apóstolos em suas famílias, em seus trabalhos, nas comunidades e na missão. Especificamente, “fortalecidos pela graça sacramental, os diáconos servem ao povo de Deus pela diaconia da liturgia, da Palavra e da caridade, em comunhão com o bispo e o seu presbitério” (LG 29).
Sua primeira missão é a caridade: “Ele é apóstolo da caridade com os pobres, envolvido com a conquista de sua dignidade e de seus direitos econômicos, políticos e sociais. Está próximo da dor do mundo. Deixa-se tocar e sensibilizar pela miséria e pelas provações da vida” (Diretrizes,n. 58). Na diaconia da Palavra, antes de tudo é ser um humilde acolhedor, deixando-se continuamente guiar por ela. É ser anunciador na presidência da celebração da Palavra, na homilia da celebração eucarística, nos sacramentos do batismo e matrimônio, nas celebrações de exéquias, nos grupos de reflexão, nos cursos de formação, retiros, nas atividades missionárias… Exercem, também, uma missão própria na celebração eucarística.
Enfim, sua missão está profundamente ligada à evangelização, em comunhão com os padres das paróquias. Hoje, quando surgem novos desafios para a evangelização, abre-se a possibilidade da atuação dos diáconos em lugares e setores específicos, como a cultura, a comunicação, a saúde ou a justiça. Ou, então, diáconos com missão em colégios, universidades, condomínios, zonais rurais afastadas, etc.
Ressaltamos que os diáconos não são ordenados para se colocarem acima dos leigos ou para lhes tirar seu lugar. Não desejamos esvaziar a missão do leigo, mas somar forças, na comunhão diocesana a partir do Plano de Ação Evangelizadora. Partilham, na corresponsabilidade eclesial, a única missão evangelizadora, com os padres, os religiosos e os leigos. Importante que atuem sempre em comunhão com o bispo e o presbitério, animados pelo ardor missionário, comprometidos com uma “Igreja em saída”. Os ministérios leigos e os diáconos “são duas vocações diferentes, ainda que complementares, dentro da ministerialidade da Igreja” (Diretrizes, n. 52). Sem dúvidas, os diáconos permanentes são uma esperança para nossa Igreja diocesana. Oremos ao Senhor da Messe que nos envie estes operários de que tanto necessitamos. Fonte: www.cnbb.net.br
DOMINGO, 2 DE JULHO: Solenidade de São Pedro e São Paulo – Ano A.
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Este ano, o 13º Domingo Comum coincide com a Solenidade dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo. A liturgia convida-nos a refletir sobre estas duas figuras e a considerar o seu exemplo de fidelidade a Jesus Cristo e de testemunho do projeto libertador de Deus.
O Evangelho convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-no como “o Messias, Filho de Deus”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro.
A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.
A primeira leitura mostra como Deus cauciona o testemunho dos discípulos e como cuida deles quando o mundo os rejeita. Na ação de Deus em favor de Pedro – o apóstolo que é protagonista, na história que este texto dos Atos hoje nos apresenta – Lucas mostra a solicitude de Deus pela sua Igreja e pelos discípulos que testemunham no mundo a Boa Nova da salvação.
A segunda leitura apresenta-se como o “testamento” de Paulo. Numa espécie de “balanço final” da vida do apóstolo, o autor deste texto recorda a resposta generosa de Paulo ao chamamento que Jesus lhe fez e o seu compromisso total com o Evangelho. É um texto comovente e questionante, que convida os crentes de todas as épocas e lugares a percorrer o caminho cristão com entusiasmo, com entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo.
MATEUS 16, 13-19: ATUALIZAÇÃO
Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos veem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros veem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns veem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenômeno; outros, ainda, veem em Jesus um revolucionário, ingênuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “statu quo”.
Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excecional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?
Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Defini-l’O dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é, apenas, uma proposta de “um homem” bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim.
A diferença entre o “homem bom” e o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.
“E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir… Quem é Cristo para mim?
É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?
A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para o testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contatamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?
A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.
(Leia a reflexão na íntegra da liturgia desse domingo. Clique AO LADO no link: EVANGELHO DO DIA)
Papa remove do estado clerical o Pe. Mauro Inzoli, sacerdote do Comunhão e Libertação condenado por pedofilia
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Há um ano, Mauro Inzoli – por 30 anos, líder carismático do Comunhão e Libertação em Cremona, na Itália, e fundador do Banco de Alimentos – teve que ressarcir com 25 mil euros cinco vítimas dos seus abusos sexuais. Na manhã dessa quarta-feira, 28, foi divulgada a notícia de que o papa o reduziu ao estado laical. A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 28-06-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A notícia que repercutiu imediatamente na web foi fornecida diretamente pelo bispo de Crema – a diocese onde o ex-sacerdote estava incardinado –, Dom Daniele Gianotti, mediante uma carta aos fiéis publicada no site da diocese. É a primeira vez que um bispo anuncia aos fiéis, em total transparência, o tipo de procedimento tomado pela Santa Sécontra um sacerdote tão falado.
Para entender o porte do gesto do bispo, basta pensar que a Conferência Episcopal Italiana não fornece (nem mesmo aos jornalistas) o número exato daqueles padres que, ao longo dos anos, foram reduzidos ao estado laical por abusos ou problemas relativos a comportamentos inadequados com crianças.
“Caríssimos e caríssimas, nos últimos dias, a Congregação para a Doutrina da Féme comunicou a decisão, tomada pelo Papa Francisco em 20 de maio com sentença definitiva, de demitir o Pe. Mauro Inzoli do estado clerical”, escreve o bispo, que acrescenta: “Não podemos pensar que o papa chegou a uma decisão tão grave sem ter avaliado atentamente diante de Deus todos os elementos em jogo, para chegar a uma escolha que fosse pelo bem da Igreja e, ao mesmo tempo, pelo bem do Pe. Mauro: porque nenhuma pena, na Igreja, pode ser infligida senão em vista da salvação das almas, que pode passar também por uma pena tão grave, a mais grave que pode ser infligida a um sacerdote. Portanto, acolhamos com plena docilidade ao papa essa decisão, conservando-a, acima de tudo, no santuário da oração.”
Em junho de 2016, o Pe. Inzoli havia sido condenado por pedofilia pelo tribunal de Cremona a quatro anos e nove meses e à proibição de se aproximar de locais frequentados por menores. O sacerdote já estava suspenso pela Congregação para a Doutrina da Fé.
“Peço a mim e a todos vocês – escreve ainda o bispo de Crema – que acompanhemos este momento em verdadeiro espírito de fé, trazendo na nossa oração, acima de tudo, os nossos irmãos que foram vítimas dos comportamentos que levaram o papa a essa decisão. A eles e às suas famílias, vai, mais uma vez, toda a solidariedade minha e da nossa Igreja, que não pode deixar de sentir uma profunda dor pelo mal cometido por um dos seus padres. Rezo para que o mal sofrido não afaste esses nossos irmãos da amizade com Deus e da comunhão com a Igreja, e para que possam experimentar a graça fiel de Deus, capaz de transfigurar em bem até mesmo os sofrimentos mais graves”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA: O PAI
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O CRIADOR
- «No princípio, Deus criou o céu e a terra» (Gn 1, 1). É com estas palavras solenes que começa a Sagrada Escritura. E o Símbolo da fé retoma-as, confessando a Deus, Pai todo-poderoso, como «Criador do céu e da terra» ([1]), «de todas as coisas, visíveis e invisíveis» ([2]). Vamos, portanto, falar primeiro do Criador, depois da sua criação, e, finalmente, da queda do pecado, de que Jesus, Filho de Deus, nos veio Libertar.
- A criação é o fundamento de «todos os desígnios salvíficos de Deus», «o princípio da história da salvação» ([3]), que culmina em Cristo. Por seu lado, o mistério de Cristo derrama sobre o mistério da criação a luz decisiva; revela o fim, em vista do qual «no princípio Deus criou o céu e a terra» (Gn 1, 1): desde o princípio, Deus tinha em vista a glória da nova criação em Cristo ([4]).
- É por isso que as leituras da Vigília Pascal, celebração da nova criação em Cristo, começam pela narrativa da criação. Do mesmo modo, na liturgia bizantina, a narrativa da criação constitui sempre a primeira leitura das vigílias das grandes festas do Senhor. Segundo o testemunho dos antigos, a instrução dos catecúmenos para o Batismo segue o mesmo caminho ([5]).
A catequese sobre a criação
- A catequese sobre a criação reveste-se duma importância capital. Diz respeito aos próprios fundamentos da vida humana e cristã, porque torna explícita a resposta da fé cristã à questão elementar que os homens de todos os tempos têm vindo a pôr-se: «De onde vimos?» «Para onde vamos?» «Qual a nossa origem?» «Qual o nosso fim?» «Donde vem e para onde vai tudo quanto existe?» As duas questões, da origem e, do fim, são inseparáveis. E são decisivas para o sentido e para a orientação da nossa vida e do nosso proceder.
- A questão das origens do mundo e do homem tem sido objeto de numerosas investigações científicas, que enriqueceram magnificamente os nossos conhecimentos sobre a idade e a dimensão do cosmos, a evolução dos seres vivos, o aparecimento do homem. Tais descobertas convidam-nos, cada vez mais, a admirar a grandeza do Criador e a dar-Lhe graças por todas as suas obras, e pela inteligência e saber que dá aos sábios e investigadores. Estes podem dizer com Salomão: «Foi Ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, a fim de conhecer a constituição do Universo e a força dos elementos [...], porque a Sabedoria, que tudo criou, mo ensinou» (Sb 7, 17-21).
- O grande interesse atribuído a estas pesquisas é fortemente estimulado por uma questão de outra ordem, que ultrapassa o domínio próprio das ciências naturais. Porque não se trata apenas de saber quando e como surgiu materialmente o cosmos, nem quando é que apareceu o homem; mas, sobretudo, de descobrir qual o sentido de tal origem: se foi determinada pelo acaso, por um destino cego ou uma fatalidade anônima, ou, antes, por um Ser transcendente, inteligente e bom, chamado Deus. E se o mundo provém da sabedoria e da bondade de Deus, qual a razão do mal? De onde vem ele? Quem é por ele responsável? E será que existe uma libertação do mesmo?
- Desde os princípios que a fé cristã teve de defrontar-se com respostas, diferentes da sua, sobre a questão das origens. De fato, nas religiões e nas culturas antigas encontram-se muitos mitos relativos às origens. Certos filósofos disseram que tudo é Deus, que o mundo é Deus, ou que a evolução do mundo é a evolução de Deus (panteísmo): outros disseram que o mundo é uma emanação necessária de Deus, brotando de Deus como duma fonte e a Ele voltando; outros, ainda, afirmaram a existência de dois princípios eternos, o bem e o mal, a luz e as trevas, em luta permanente (dualismo, maniqueísmo). Segundo algumas destas concepções, o mundo (pelo menos o mundo material) seria mau, produto duma decadência e, portanto, objeto de repúdio ou de superação (gnose); outras admitem que o mundo tenha sido feito por Deus, mas à maneira dum relojoeiro que, depois de o ter feito, o abandonou a si mesmo (deísmo); outras, finalmente, rejeitam qualquer origem transcendente do mundo e vêem nele o puro jogo duma matéria que teria existido sempre (materialismo). Todas estas tentativas dão testemunho da permanência e universalidade do problema das origens. É uma busca própria do homem.
- Não há dúvida de que a inteligência humana é capaz de encontrar uma resposta para a questão das origens. Com efeito, a existência de Deus Criador pode ser conhecida com certeza pelas suas obras, graças à luz da razão humana ([6]), mesmo que tal conhecimento muitas vezes seja obscurecido e desfigurado pelo erro. E é por isso que a fé vem confirmar e esclarecer a razão na compreensão exata desta verdade: «Pela fé, sabemos que o mundo foi organizado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê provém de coisas invisíveis» (Heb 11, 3).
- A verdade da criação é tão importante para toda a vida humana que Deus, na sua bondade, quis revelar ao seu povo tudo quanto é salutar conhecer-se a esse propósito. Para além do conhecimento natural, que todo o homem pode ter do Criador ([7]), Deus revelou progressivamente a Israel o mistério da criação. Deus, que escolheu os patriarcas, que fez sair Israel do Egito e que, escolhendo Israel, o criou e formou ([8]) revela-Se como Aquele a quem pertencem todos os povos da terra e toda a terra, como sendo o único que «fez o céu e a terra» (Sl 115, 15; 124, 8; 134, 3).
- Assim, a revelação da criação é inseparável da revelação e da realização da Aliança de Deus, o Deus Único, com o seu povo. A criação é revelada como o primeiro passo para esta Aliança, como o primeiro e universal testemunho do amor onipotente de Deus ([9]). Por isso, a verdade da criação é expressa com vigor crescente na mensagem dos profetas ([10]), na oração dos salmos ([11]) e da liturgia, na reflexão da sabedoria ([12]) do Povo eleito.
- Entre tudo quanto a Sagrada Escritura nos diz sobre a criação, os três primeiros capítulos do Gênesis ocupam um lugar único. Do ponto de vista literário, estes textos podem ter diversas fontes. Os autores inspirados puseram-nos no princípio da Escritura, de maneira a exprimirem, na sua linguagem solene, as verdades da criação, da sua origem e do seu fim em Deus, da sua ordem e da sua bondade, da vocação do homem, e enfim, do drama do pecado e da esperança da salvação. Lidas à luz de Cristo, na unidade da Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja, estas palavras continuam a ser a fonte principal para a catequese dos mistérios do «princípio»: criação, queda, promessa da salvação.
[1] Símbolo dos Apóstolos: DS 30.
[2] Símbolo Niceno-Constantinopolitano: DS 150.
[3] Cf. Sagrada Congregação do Clero, Directorium catechisticum generale, 51: AAS 64 (1972) 128.
[4] Cf. Rm 8, 18-23.
[5] Cf. Egria, Itinerarium seu Peregrinatio ad loca sancta 46, 2: SC 296, 308: PLS 1, 1089-1090: Santo Agostinho. De catechizandis rudibus 3, 5: CCL 46. 124 (PL 40, 313).
[6] Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Fillius, De Revelatione. canon I: DS 3026.
[7] Cf. At 17, 24-29; Rm 1, 19-20.
[8] Cf. Is 43, 1.
[9] Cf. Gn 15, 5; Jr 33, 19-26.
[10] Cf. Is 44, 24.
[11] Cf. S1 104.
[12] Cf. Pr 8. 22-31.
*“La Interpretación de la Biblia en la Iglesia”: Pontificia Comisión Bíblica.
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(International Congress on Dei Verbum)
Uso de la Biblia en la Liturgia
Desde los comienzos de la Iglesia, la lectura de las Escrituras ha formado parte de la liturgia cristiana, parcialmente heredera de la liturgia sinagogal. Hoy, todavía, es sobre todo en la liturgia donde los cristianos entran en contacto con las Escrituras, en particular en ocasión de la celebración eucarística dominical.
En principio, la liturgia, y especialmente la liturgia sacramental, de la cual la celebración eucarística es su cumbre, realiza la actualización más perfecta de los textos bíblicos, ya que ella sitúa su proclamación en medio de la comunidad de los creyentes reunidos alrededor de Cristo para aproximarse a Dios. Cristo está entonces "presente en su palabra, porque es él mismo quien habla cuando las Sagradas Escrituras son leídas a la Iglesia" (Sacrosanctum Concilium, 7) El texto escrito se vuelve así, una vez más, palabra viva.
La reforma litúrgica decidida por el Concilio Vaticano II se ha esforzado en presentar a los católicos un más rico alimento bíblico. Los tres ciclos de lecturas de las misas dominicales otorgan un lugar privilegiado a los evangelios, para poner a la luz el misterio de Cristo como principio de nuestra salvación. Al poner en relación, regularmente, un texto del Antiguo Testamento con el texto del evangelio, este ciclo sugiere frecuentemente el camino tipológico para la interpretación de la Escritura. Como se sabe ésta no es la única lectura posible.
La homilía, que actualiza explícitamente la Palabra de Dios, forma parte de la liturgia. Volveremos a hablar de ella a propósito del ministerio pastoral.
El leccionario surgido de las directivas del Concilio (Sacrosanctum Concilium, 35), debía permitir una lectura de la Sagrada Escritura "más abundante, más variada y más adaptada". En su estado actual, no responde sino en parte a esta orientación. Sin embargo, su existencia ha tenido felices efectos ecuménicos. En algunos países, ha permitido, además, medir la falta de familiaridad de los católicos con la Escritura.
La liturgia de la Palabra es un elemento decisivo en la celebración de cada sacramento de la Iglesia. No consiste en una simple sucesión de lecturas, sino que debe incluir igualmente tiempos de silencio y de oración. Esta liturgia, en particular la Liturgia de las Horas, acude como fuente al libro de los Salmos para hacer orar a la comunidad cristiana. Himnos y oraciones están impregnados del lenguaje bíblico y de su simbolismo. Esto sugiere la necesidad de que la participación en la liturgia esté preparada y acompañada por una práctica de lectura de la Escritura.
Si en las lecturas "Dios dirige su palabra a su pueblo" (Misal Romano, n. 33), la liturgia de la Palabra exige un gran cuidado, tanto para la proclamación de las lecturas como para su interpretación. Es, pues, deseable que la formación de futuros presidentes de asambleas y de aquéllos que los acompañan, tenga en cuenta las exigencias de una liturgia de la Palabra de Dios fuertemente renovada. Así, gracias a los esfuerzos de todos, la Iglesia continuará la misión que le ha sido confiada, "de tomar y repartir a sus fieles el pan de vida que ofrece la mesa de la Palabra de Dios y del Cuerpo de Cristo" (Dei Verbum, 21).
*Discurso* de su Santidad el Papa Juan Pablo II Sobre la Interpretación de la Biblia en la Iglesia.
(Este discurso fue pronunciado en la mañana del viernes 23 de abril de 1993, durante una audiencia conmemorativa de los 100 años de la Encíclica " Providentissimus Deus" de León XIII y de los cincuenta años de la Encíclica " Divino Afflante Spiritu" de Pío Xll, ambas dedicadas a los estudios bíblicos. La audiencia tuvo lugar en la sala Clementina del Vaticano. Participaron en ella los miembros del Colegio cardenalicio, del Cuerpo Diplomático acreditado ante la Santa Sede, los de la Pontificia Comisión Bíblica y el profesorado del Pontificio Instituto Bíblico. Durante la audiencia, el Cardenal J. Ratzinger presentó al Santo Padre el documento de la Comisión Bíblica sobre la interpretación de la Biblia en la Iglesia)
DOM FRAGOSO: Um Profeta do Sertão-03.
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Documentário/Filme do NUDOC-Núcleo de Documentação Cinematográfica- da UFPB. do cineasta Francis Vale, sobre Dom Antônio Batista Fragoso, primeiro bispo de Crateús, no Ceará. DIVULGAÇÃO: www.olharjornalistico.com.br
ROMA NESTA TERÇA, 27: 25 Anos de ordenação episcopal do Francisco- O Papa.
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O Papa Francisco celebrou os seus 25 anos de ordenação episcopal com uma Missa concelebrada com os Cardeais presentes em Roma na Capela Paulina, do Vaticano. De brasileiros, estavam presentes os Cardeais João Braz de Aviz, Cláudio Hummes, Raymundo Damasceno Assis e Sérgio da Rocha.
Na sua homilia, comentando a primeira leitura, o Pontífice falou de três imperativos inseridos no diálogo entre Deus e Abraão: levantar-se, olhar e esperar. Expressões que marcam não só o caminho que Abraão deve percorrer, mas também a sua atitude interior.
Levantar-se significa não ficar parado, realizar a missão em caminho e o símbolo é a tenda. Olhar é fixar o horizonte, cuja mística consiste em estar cada vez mais distante enquanto se avança. Esperar é a força de ir avante, com o ânimo de um “escoteiro”. “A esperança não tem muros”, disse o Papa.
“O Senhor hoje nos diz o mesmo: levante-se, olhe e espere. Essa palavra de Deus vale também para nós, que temos quase a mesma a idade de Abraão”, brincou Francisco, que pediu aos Cardeais não fechem a sua vida e a sua história:
“Quem não nos quer bem, diz: ‘somos a gerontocracia da Igreja’. É uma zombaria, não sabe o que diz. Não somos gerontes, somos avós. E se não sentimos isso, devemos pedir a graça de senti-lo. Avôs para quais os netos olham e esperam de nós a experiência sobre o sentido da vida. Avôs não fechados. Para nós, ‘levante-se, olhe e espere’ se chama sonhar. Somos avôs chamados a sonhar e dar o nosso sonho à juventude de hoje, que necessita disso, porque tirarão dos nossos sonhos a força para profetizar e levar avante a sua missão.”
O Senhor, acrescentou o Papa, pede aos avôs da Igreja que tenham a vitalidade para dar aos jovens, sem se fechar, para oferecer à juventude o melhor, para levar avante a profecia e o trabalho.
“Peço ao Senhor que dê a todos nós esta graça, também para quem ainda não é avô, como o presidente do Brasil (referindo-se ao presidente da CNBB, Dom Sérgio da Rocha), que é um jovenzinho, mas você chegará lá. A graça de ser avós, a graça de sonhar e dar esse sonho aos nossos jovens, eles precisam disso.”
Antes da bênção final, o Papa Francisco agradeceu aos Cardeais “por esta oração comum neste aniversário”, pedindo o perdão pelos seus pecados e a perseverança na fé, na esperança e na caridade.
Ordenação em Buenos Aires
O Padre Jorge Mario Bergoglio soube que seria Bispo Auxiliar de Buenos Aires no 13 de maio de 1992, notícia que foi aprovada oficialmente por João Paulo II uma semana depois, no dia 20.
No dia 27 de junho daquele mesmo ano, 1992, recebeu a ordenação episcopal na Catedral de Buenos Aires das mãos do Cardeal Antonio Quarracino, então Arcebispo da capital argentina. (BS/SJ). Fonte: http://pt.radiovaticana.va
CNBB manifesta apoio ao Cimi e denuncia desrespeito a direitos conquistados
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Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), as acusações recebidas pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) são infundadas e injustas. Em nota divulgada pela presidência da entidade nesta quinta-feira, 22, a Conferência manifesta seu total apoio e solidariedade ao Cimi, alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito denominada CPI da Funai e Incra, que indiciou mais de cem pessoas, entre lideranças indígenas, antropólogos, procuradores da República e ligadas ao próprio organismo. No texto, aprovado pelo Conselho Permanente, os bispos ressaltam aumento da violência no campo no período de funcionamento da CPI.
NOTA DA CNBB EM DEFESA DOS DIREITOS INDÍGENAS E DO CIMI
O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunido em Brasília-DF, nos dias 20 a 22 de junho de 2017, manifesta seu total apoio e solidariedade ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) diante das infundadas e injustas acusações que recebeu da Comissão Parlamentar de Inquérito, denominada CPI da Funai e Incra, encerrada no último mês de maio. A CNBB repudia o relatório desta Comissão que indicia mais de uma centena de pessoas: lideranças indígenas, antropólogos, procuradores da república e aliados da causa indígena, entre eles, missionários do CIMI.
Criado há 45 anos, o CIMI inspira-se nos princípios do Evangelho. Por isso, põe-se ao lado dos povos indígenas, defendendo sua vida, sua dignidade, seus direitos e colaborando com sua luta por justiça, no respeito à sua história e à sua cultura. O indiciamento de missionários do CIMI é uma evidente tentativa de intimidar esta instituição tão importante para os indígenas, e de confundir a opinião pública sobre os direitos dos povos originários.
Em seu longo processo, a CPI desconsiderou dezenas de requerimentos de alguns de seus membros, não ouviu o CIMI e outras instituições citadas no relatório, mostrando-se, assim, parcial, unilateral e antidemocrática. Revelou, dessa forma, o abuso da força do poder político e econômico na defesa dos interesses de quem deseja a todo custo inviabilizar a demarcação das terras indígenas e quilombolas, numa afronta à Constituição Federal. São inadmissíveis iniciativas como o estabelecimento do marco temporal, a mercantilização e a legalização da exploração de terras indígenas por não índios, ferindo o preceito constitucional do usufruto exclusivo e permanente outorgado aos povos.
Chama a atenção que o aumento da violência no campo coincida com o período de funcionamento da CPI da Funai e Incra. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2016 foram registrados 61 assassinatos em conflitos no campo, um aumento de 22% em relação a 2015. As atrocidades ocorridas em Colniza (MT) e Pau D’Arco (PA) elevaram para 40 o número de assassinatos no campo, só neste primeiro semestre de 2017. Levadas adiante, as proposições da CPI podem agravar ainda mais esses conflitos. É preciso que os parlamentares considerem isso ao votarem qualquer questão que tenha incidência na vida dos povos indígenas e demais populações do campo.
Tenha-se em conta, ainda, que as proposições da CPI se inserem no mesmo contexto de reformas propostas pelo governo, especialmente as trabalhista e previdenciária, privilegiando o capital em detrimento dos avanços sociais. Tais mudanças apontam para o caminho da exclusão social e do desrespeito aos direitos conquistados com muita luta pelos trabalhadores e trabalhadoras.
Ao se colocar na defesa da vida dos povos indígenas, ao lado do CIMI e dos missionários, a CNBB o faz com a convicção de que o “serviço pastoral à vida plena dos povos indígenas exige que anunciemos Jesus Cristo e a Boa Nova do Reino de Deus, denunciemos as situações de pecado, as estruturas de morte, a violência e as injustiças internas e externas” (Documento de Aparecida, 95) que ameaçam os primeiros habitantes desta Terra de Santa Cruz.
O Deus da justiça e da misericórdia ilumine o CIMI e venha em auxílio de nossos irmãos e irmãs indígenas, quilombolas e trabalhadores e trabalhadoras do campo, cuja vida confiamos à proteção de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de Deus e Padroeira do Brasil.
Brasília, 22 de junho de 2017.
Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB
Dom Murilo S. R. Kriger, SCJ
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner, OFM
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: www.cnbb.net.br
O Papa nomeou bispo um padre que protegeu em 1975
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Trata-se de Enrique Martínez Ossola. Bergoglio o aceitou em seu seminário a pedido de Enrique Angelelli. A reportagem é de Sergio Rubin, publicada por Clarín, 21-06-2017. A tradução é de André Langer.
Corria o tumultuado ano de 1975 no país, prelúdio da sangrenta ditadura que se abateria no ano seguinte, quando três jovens seminaristas provenientes de La Rioja eram admitidos no Colégio Máximo, de San Miguel, na Região Metropolitana de Buenos Aires, pelo então superior dos jesuítas, o padre Jorge Bergoglio. Aparentemente, eram rapazes que estavam se encaminhando para o sacerdócio que, a pedido do bispo de La Rioja, Enrique Angelelli, iriam aprofundar seus estudos teológicos no reputado centro de estudos da Companhia de Jesus. Até que no ano seguinte, após o assassinato, camuflado de acidente de carro, de Angelelli, deram-se conta de que, na realidade – como tinha sido o verdadeiro propósito do seu agora morto bispo, estavam sendo protegidos do impiedoso embate dos repressores em La Rioja, uma proteção assumida pelo padre Bergoglio.
A história destes três seminaristas é a mesma de cerca de 20 religiosos que estiveram na mira dos militares e que Bergoglio abrigou no Colégio Máximo sob o falso pretexto de “aprofundar os estudos teológicos” ou de “fazer longos retiros espirituais” que, na realidade, buscava proteger. E ganhou notoriedade esta semana após se ficar sabendo que um daqueles seminaristas, Enrique Martínez Ossola – os outros dois eram Miguel La Civita e Carlos González – foi nomeado bispo pelo Papa Francisco. Martínez Ossola era vigário-geral da diocese de La Rioja, com uma trajetória em paróquias que lhe valeram um grande apreço dos fiéis e o confirmaram como “pastor com cheiro de ovelha”, como gosta o pontífice.
No livro A lista de Bergoglio [São Paulo: Edições Loyola, Paulinas, Paulus, 2013], do jornalista italiano Nello Scavo, Martínez Ossola relatou como foi aquela passagem pelo Colégio Máximo. “No Colégio, fomos recebidos por um padre jovem, muito cordial. Ele era o padre provincial, a autoridade máxima da Companhia de Jesus na Argentina, mas no começo não nos havíamos dado conta do verdadeiro motivo da transferência. Desde o início ele intuiu a nossa preocupação e, de modo nada formal, estabeleceu conosco uma relação fraterna. Ele e seus irmãos nos deixaram a máxima liberdade, não nos impuseram nem mesmo os horários para o almoço e a janta”, disse.
No dia do assassinato de Angelelli, no dia 04 de agosto de 1976, Bergoglio encontrava-se no Peru e assim que recebeu a notícia voltou para San Miguel. Foi diretamente encontrar os três seminaristas e, ao vê-los, pediu-lhes com severidade: “Vocês jamais devem se separar, devem andar sempre juntos e deslocar-se com prudência. Se estiverem juntos, será mais difícil para eles sequestrarem os três ao mesmo tempo”. Foi apenas então que os três se deram conta de qual era o verdadeiro motivo de estarem no Colégio Máximo.
Finalmente, os três seminaristas voltaram para La Rioja e Bergoglio participou de suas ordenações sacerdotais. Em 2013, ao ser eleito papa, Francisco recebeu uma afetuosa carta de Martínez Ossola que se apressou a respondê-la com o mesmo afeto. “Bergoglio continua o mesmo”, comprovou o agora novo bispo. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
12º Domingo do Tempo Comum – Ano A
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As leituras deste domingo põem em relevo a dificuldade em viver como discípulo, dando testemunho do projeto de Deus no mundo. Sugerem que a perseguição está sempre no horizonte do discípulo… Mas garantem também que a solicitude e o amor de Deus não abandonam o discípulo que dá testemunho da salvação.
No Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os avisa para a inevitabilidade das perseguições e das incompreensões; mas acrescenta: “não temais”. Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo.
Um olhar para o Evangelho- Atualização: (Mt 10, 26-33)
O projeto de Jesus, vivido com radicalidade e coerência, não é um projeto “simpático”, aclamado e aplaudido por aqueles que mandam no mundo ou que “fazem” a opinião pública; mas é um projeto radical, questionante, provocante, que exige a vitória sobre o egoísmo, o comodismo, a instalação, a opressão, a injustiça… É um projeto capaz de abalar os fundamentos dessa ordem injusta e alienante sobre a qual o mundo se constrói. Há um certo “mundo” que se sente ameaçado nos seus fundamentos e que procura, todos os dias, encontrar formas para subverter e domesticar o projeto de Jesus.
Quem quer seguir um Jesus oba oba e light, descomprometido com a realidade, é melhor ficar em casa e esquecer a verdadeira mensagem cristológica que exige tomada de posição. Ou seja, impossível falar de Jesus de Nazaré e ficarmos em cima do muro ou de braços cruzados diante de um mundo consumista, desumano, violento e injusto.
A nossa época inventou formas (menos sangrentas, mas certamente mais refinadas do que as de Domiciano) de reduzir ao silêncio os discípulos: ridiculariza-os, desautoriza-os, calunia-os, corrompe-os, massacra-os com publicidade enganosa de valores efêmeros… Como a comunidade de Mateus, também nós andamos assustados, confusos, desorientados, interrogando-nos se vale a pena continuar a remar contra a maré… A todos nós, Jesus diz: “não temais”.
O medo - de parecer antiquado, de ficar desenquadrado em relação aos outros, de ser ridicularizado, de ser morto – não pode impedir-nos de dar testemunho. A Palavra libertadora de Jesus não pode ser calada, escondida, escamoteada; mas tem de ser vivamente afirmada com palavras, com gestos, com atitudes provocatórias e questionantes. Em outras palavras, ser cristão não é um passaporte para o ibope ou o aumento da conta bancária, mas sujarmos as mãos na mudança que “AINDA” é possível, mesmo que para tal tenhamos que passar pelas noites escuras da vida.
Viver uma fé “morninha” (instalada, cômoda, que não faz ondas, que não muda nada, que aceita passivamente valores, esquemas, dinâmicas e estruturas desumanizantes), não chega para nos integrar plenamente na comunidade de Jesus. A Boa Nova de Jesus Cristo não é doce de coco ou suco de maracujá. Às vezes é amarga como jiló.
De resto, o valor supremo da nossa vida não está no reconhecimento público, mas está nessa vida definitiva que nos espera no final de um caminho gasto na entrega ao Pai e no serviço aos homens; e Jesus demonstrou-nos que só esse caminho produz essa vida de felicidade sem fim que os donos do mundo não conseguem roubar.
A Palavra de Deus que nos foi hoje proposta convida-nos também a fazer a descoberta desse Deus que tem um coração cheio de ternura, de bondade, de solicitude. Se nos entregarmos confiadamente nas mãos desse Deus, que é um pai que nos dá confiança e proteção e é uma mãe que nos dá amor e que nos pega ao colo quando temos dificuldade em caminhar, não teremos qualquer receio de enfrentar os homens.
Enfim, temos que ter a mesma convicção do apóstolo Paulo (Romanos 8, 35-39 e dizer: “Quem vai nos separar do amor de Cristo? O desemprego? Os corruptos do Brasil? As balas perdidas do Rio de Janeiro, os assaltos e a violência em nossas cidades? A depressão? A infidelidade matrimonial? As incompreensões no trabalho, na família e na Igreja?... Não, não. Nada, eu disse NADA! poderá nos separar do amor de Cristo.
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