Fiéis interrompem celebrações e acusam padres de pedirem votos para a esquerda
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Depois de manifestantes protestarem contra a Basílica se Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro, ao menos outros três casos circulam nas redes sociais
Por O GLOBO — Rio de Janeiro
Interrupções de bolsonaristas durante missas da Igreja Católica têm se multiplicado nos últimos dias Brasil afora. Além dos protestos na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro, foram registradas ao menos outras três ocasiões desde então em que fiéis levantaram a voz contra padres durante uma celebração. Entre os motivos alegados, estão acusações de que seus discursos seriam, na verdade, palanque político para a esquerda.
Na Igreja São João Batista, em Jacareí, no interior do estado de São Paulo, um padre teve sua missa interrompida no domingo porque citou o nome da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, além de Bruno Pereira e Dom Phillips. Uma mulher que acompanhava a celebração disse que ele não poderia falar da ex-parlamentar carioca porque ela era “homossexual” e porque, segundo ela, tinha ligação com o “tráfico de drogas”.
— O senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus. O senhor não vai falar de Marielle Franco, uma homossexual, uma envolvida com o tráfico de drogas, o senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus. Uma esquerdista do PSOL, uma homossexual, que quer a ideologia de gênero dentro da escola das crianças — disse a mulher, acompanhada de outra fiel que questionou o padre se ele também defendia o aborto.
Em outro templo católico, na cidade paranaense de Campo do Tenente, uma mulher que vestia camisa com o rosto de Bolsonaro, e a frase “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, também criticou a postura do padre e, aos gritos, disse que só havia “mentira nessa igreja”.
“O Deus da vida é a favor do aborto?”
Na última quarta-feira, outro padre foi hostilizado durante missa na Paróquia Nossa Senhora da Luz, da Comunidade Nossa Senhora do Carmo, em Fazenda Rio Grande (PR). Depois de falar que "o Deus da vida nunca vai pactuar com as forças da violência, nunca vai estar do lado daquele que prega o armamentismo, porque Deus é amor, solidariedade", o padre Edson foi interrompido por uma mulher que o questionou: "O Deus da vida é a favor do aborto, padre?". O padre negou.
A mulher continuou gritando: "Ele é a favor da ideologia de gênero?". O padre negou novamente. "O senhor está pedindo voto para o Lula (PT)", ela falou, em tom afirmativo. O padre negou, mais uma vez. Pessoas aplaudiram.
O padre tentou seguir com a missa e foi interrompido novamente, agora por um homem, que tentou o intimidar, em um tom de ordem, falando para que ele se atenha à palavra de Deus.
Em nenhum momento, no entanto, o padre “pediu votos” ou ao menos citou o nome de qualquer candidato à Presidência. No Facebook, a Paróquia retirou de sua página principal todos os vídeos com as transmissões de missas que contavam com comentários desse tipo.
Casos têm sido recorrentes
O cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, 7º Arcebispo Metropolitano de São Paulo, foi alvo de bolsonaristas no Twitter por usar uma roupa vermelha em sua foto de perfil, cor tradicionalmente associada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Os internautas traziam como argumento para os ataques um suposto apoio do Cardeal ao comunismo e ao ex-presidente Lula (PT). Uma publicação de 2019 mostra que esse tipo comentário já circulava nas redes na época.
Em 2018, conforme informação divulgada pela revista Veja à época, o cardeal criticou o uso político do ato religioso em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, organizado pelo ex-presidente e atual presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em uma rede social, o cardeal teria lamentado a “instrumentalização política” da cerimônia.
Também no último 12 de outubro, no mesmo dia do ocorrido na Paróquia Nossa Senhora da Luz, no Paraná, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) compareceu à missa em Aparecida. O evento contou com uma confusão causada por bolsonaristas que fizeram ofensas e tentativas de agressão a uma equipe da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo na região, segundo a repórter Daniela Lopes. O grupo utilizava palavras de ordem e pulava ao redor das câmeras de gravação.
Motivado pelos ataques por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) dirigidos a ele, ao Papa Francisco e à Igreja Católica, o padre Zezinho, da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, publicou um desabafo em sua página no Facebook onde confessa estar cansado de dar espaço para os fiéis "super politizados, irados e insatisfeitos" e que, por isso, ficará sem se manifestar no ambiente virtual até o dia seguinte ao segundo turno. Fonte: https://oglobo.globo.com
Eleições 2022: 'Perseguição contra cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da igreja'
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Eleições 2022: 'Perseguição contra cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da igreja'
Como pressão de pastores por votos em Bolsonaro leva evangélicos a expulsão ou abandono de igrejas em diferentes partes do Brasil.
Por BBC
"A gente se sentiu descartável." "É como se nós, cristãos, estivéssemos vivendo a própria ditadura dentro do templo." "Não reconheço mais a Igreja hoje." "O pastor abandonou a Bíblia pra falar de comunismo." "É triste ver um lugar sagrado sendo corrompido." "A perseguição contra os cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da própria igreja."
Uma pesquisa do Datafolha sugere que seis em cada dez evangélicos brasileiros pretendem votar em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno. As frases acima foram ditas por cristãos que não fazem parte deste grupo majoritário.
Apesar de representarem parte expressiva da comunidade evangélica — quatro em cada dez, segundo o levantamento mais recente do instituto —, aqueles que discordam do presidente raramente têm chance de expressar sua opinião.
Principalmente dentro das igrejas, eles contam.
À BBC News Brasil, eles dizem que, enquanto muitos de seus irmãos de fé apoiam Bolsonaro por medo de enfrentarem episódios futuros de intolerância religiosa no Brasil, a perseguição contra cristãos já existiria no país.
Nas palavras dos entrevistados, ela acontece dentro dos próprios templos, puxada principalmente por líderes religiosos que ameaçam com castigo divino ou punição dentro da própria igreja aqueles que discordam da fusão entre política e religião que tem marcado estas eleições.
A BBC News Brasil pediu esclarecimentos a todas as igrejas citadas nesta reportagem: Igreja Quadrangular, Igreja Batista, Assembleia de Deus e Santuário católico de São Miguel Arcanjo. Nenhuma respondeu às solicitações de comentários.
Enquanto pastores influentes como André Valadão e Silas Malafaia dizem que igrejas devem ter posição política clara e fazem campanha pela reeleição do atual presidente, a BBC News Brasil recebeu mais de 100 relatos de cristãos, principalmente evangélicos, que narram episódios de pressão ou intimidação dentro dos templos na reta final da eleição.
Muitos pediram anonimato, com medo de consequências para si próprios ou suas famílias dentro das igrejas. Outros já sofreram consequências.
'Queimar quem vota em Lula'
Alisson Santos diz ter sido expulso junto à esposa da igreja evangélica que frequentava desde 2019 em Aracaju (SE). Até o início de outubro, ambos trabalhavam como evangelizadores de jovens no templo.
Em entrevista à BBC News Brasil, ele diz que o apoio de pastores a Bolsonaro e seus aliados sempre existiu, mas se intensificou no segundo semestre, quando um dos pastores se candidatou a deputado estadual.
"A partir daí, em todas as reuniões a gente tinha que orar por esse pré-candidato e fazia reuniões para falar sobre isso", ele conta. "Diziam que Bolsonaro é o único candidato que defende a liberdade religiosa, o único que vai manter igrejas abertas. E que, se Lula for eleito, ele vai fechar as igrejas, queimar as igrejas".
Ele conta que viu frequentadores da igreja sendo expostos no altar por discordarem dos candidatos apoiados pela igreja.
"Ele (o pastor), antes do culto, procurou pessoas para perguntar em quem elas votariam. Algumas pessoas disseram que votariam num candidato diferente do dele. Na hora do culto ele usou essas pessoas como exemplo do que não fazer", ele diz.
"Ele fez isso durante a Palavra, duas semanas antes da eleição."
Para o jovem, o tom violento adotado em alguns cultos contradiz o propósito dos templos religiosos.
"Teve um culto em que o pastor chegou e falou que se o candidato Lula fosse eleito e fossem queimar as igrejas, ele ia mandar queimar primeiro quem votou nele. Isso não foi fora da igreja, não foi nos corredores, foi na frente da igreja toda", ele diz.
'Minha esposa só chora'
Após semanas evitando se posicionar na frente de pastores, Alisson compartilhou no status do WhatsApp um trecho de uma entrevista de Bolsonaro à revista IstoÉ Gente, em fevereiro de 2000.
Questionado na ocasião sobre sua opinião em relação ao aborto, que hoje condena veementemente, o então deputado respondeu: "Tem que ser uma decisão do casal".
Alisson também compartilhou um vídeo gravado em 2017, quando Bolsonaro discursou dentro de um templo da maçonaria — entidade criticada pelos evangélicos.
Ambas as imagens viralizaram recentemente nas redes sociais e foram usadas por opositores para ilustrar mudanças no discurso religioso de Bolsonaro ao longo das últimas duas décadas.
"Foi justamente por esse vídeo que eles marcaram uma reunião da diretoria", conta o jovem.
"Ele (o pastor) disse: 'Se vocês que não querem seguir o posicionamento da igreja, procurem outro lugar'. E isso pra mim foi um absurdo. E não foi nem particularmente, foi em frente a toda a diretoria."
Os dois deixaram seus cargos e não frequentam mais a igreja desde então.
"É muito triste. Minha esposa só chora desde o ocorrido. Ela só chora porque é o lugar que sempre nos acolheu", afirma. "A perseguição contra os cristãos já começou no Brasil. Só que dentro da própria igreja."
'Perseguição dentro do templo'
Marta vive numa capital nordestina. Muito religiosa, ela também diz que se viu obrigada a deixar a igreja que frequentava há décadas por discordar da pressão de pastores por apoio ao presidente.
"Sinceramente, eu me senti pressionada. Fiquei muito triste, decepcionada primeiramente. E, sinceramente, não tenho vontade de retornar para o templo mais porque Jesus não é isso. Ele não veio para fazer pressão", diz.
"Você passa a ser perseguido dentro do próprio templo pelos irmãos, na fé e pelos próprios pastores. Porque, se você não obedece, se você não segue aquele político que eles escolheram para votar, você não é cristão. A sua fé, ela está sendo colocada à prova."
Durante toda a entrevista, Marta cita trechos e ensinamentos da Bíblia.
"Não é assim que Jesus nos ensinou, que a gente fosse agressivo, que a gente que se armasse e partisse para cima do nosso adversário. Não é isso que a palavra do Senhor ensina. A Palavra de Deus diz que a gente tem que mostrar o amor, a misericórdia, a bondade", afirma. " Jesus, ele é amor, é bondade. Ele veio para curar, salvar e libertar, e não para colocar medo nas pessoas."
Mãe de uma criança pequena e de um adolescente, ela conta que a pressão política e o consequente afastamento da Igreja abalou toda a família.
"Isso mexe muito com a família, porque temos uma base religiosa, uma base cristã. Você fala para os seus filhos, você prega para os seus filhos sobre a sua doutrina que você crê. E, de repente, o seu filho pergunta 'Mãe, que Cristo é esse'? 'Que doutrina é essa'? 'Que religião é desse jeito? Sobre pressão, sobre ditadura, sobre não poder escolher?'"
'Ninguém se importou com a nossa saída'
Quase 3 mil quilômetros separam Marta de Deloana, uma assistente social de Osasco que frequentava a Assembleia de Deus há 12 anos. A história, no entanto, se repete.
"Sinto que perdi uma referência. De verdade. Sempre acreditei em Deus. Sempre gostei de ficar na igreja. Sempre gostei de participar dos grupos. Era realmente algo que fazia parte da minha vida", ela conta por videoconferência.
"E eu sinto que isso se perdeu. Não reconheço mais a Igreja hoje como a que conheci há dez anos. Por mais que a Igreja sempre tenha tido um posicionamento conservador, tenha a questão da doutrina, eu vejo as coisas hoje de forma muito violenta. Se penso de forma diferente, vem uma palavra de condenação. É como se eu pudesse ser punida por um pensamento que seja contrário."
A punição, na prática, aconteceu. Tudo começou quando seu marido, que frequentava a igreja desde criança, procurou um presbítero após um culto após se sentir ofendido por algumas de suas falas.
"Meu esposo terminou o ensinamento dos adolescentes e os levou para o final da aula para adultos. Esse homem estava finalizando a aula. Ele começou a passar alguns slides, colocando como se fosse o antes e depois dos jovens que entram nas universidades públicas. Era uma espécie de alerta para os pais que estavam ali", ela conta.
As imagens, segundo Deolana, mostravam um "antes e depois" de jovens que entram em universidades públicas. "O jovem todo arrumado em um primeiro momento, e depois ele fazendo uso de droga ou se 'tornando homossexual' dentro da universidade e coisas desse tipo. Querendo deixar bem claro que a universidade pública era um ambiente perigoso para os jovens."
Eles disseram ao religioso que aquele discurso era inapropriado e que o próprio marido de Deolana estuda em uma universidade pública.
"Ele já se alterou bastante, pelo que eu entendi, por ter sido questionado por uma fala. Como se ele já não admitisse ser questionado. E aí chegou o momento de ele falou: 'Estou vendo que você é de esquerda e sinto muito por você'", conta a assistente social.
"E ele falou como se fosse um posicionamento que fosse trazer uma condenação para a gente, como se fosse algo absurdo. Em momento algum o meu marido falou dessa questão de política, de esquerda e de direita. Ele estava querendo focar na fala dele em relação a universidade em si, e aí ele misturou vários assuntos."
O casal não conseguiu mais ir à Igreja depois do episódio.
"A gente se sentiu descartável, né? Ficamos com essa visão de que é um ambiente em que a gente não vai ser bem-vindo por causa da forma que a gente pensa. O que me chateou mais a gente foi essa intolerância. Que o pensamento contrário seja colocado dessa forma, como se fosse pecado ou coisas do tipo", ela diz.
"E com isso a gente não retornou mais, nem ninguém procurou a gente. Então, ninguém se importou, essa é a verdade, com a nossa saída."
Santinhos
João* e a esposa moram em São Paulo e, diferente de Alisson, Marta e Deloana, vão continuar frequentando a igreja, apesar da pressão pelo voto em Bolsonaro — em quem o casal não pretende votar.
"O nome de Bolsonaro é citado normalmente (nos cultos). Os irmãos, eles se dirigem ao presidente como o candidato correto. É o candidato do bem. E os demais candidatos, todos, independente da ideologia, são os adversários. São candidatos do mal, digamos."
Ele conta que, além do voto para presidente, pastores chegaram a indicar nomes e números de candidatos a cargos legislativos no primeiro turno dentro do templo.
"Geralmente a gente tem essa parte dos avisos no final dos cultos. Então, o pastor comentou que alguns irmãos tinham perguntado para ele alguma sugestão de candidatos para deputados de senadores (…) Então ele falou que, para quem quisesse, estava sendo montada uma lista de candidatos de deputados de que fosse, que seria disponibilizada para os irmãos que procurassem."
Frequentes nos comentários ouvidos pela reportagem, os relatos sobre indicações de votos dentro e fora de templos não vem só de evangélicos.
Católica, a paranaense Paula Izidro diz que essa foi a gota d'água.
"Eu tinha o costume de participar de uma caminhada com peregrinos da região ao Santuário de São Miguel Arcanjo. E na porta do santuário estava entregando o santinho de um candidato. Toda aquela coisa da peregrinação de fé acabou para mim ali", ela diz.
"Aquilo me deixou indignada, porque eles usaram o santuário de palanque. O padre fala abertamente sobre engajar na eleição, posta foto com Bolsonaro, e isso me deixa muito, muito deprimida. Logo ele que defende tortura, pena de morte, que não se importou com as pessoas na pandemia e tudo mais. Não condiz com o contexto religioso", ela diz.
'Perdi minha fé. Não tenho mais religião'
Enquanto muitos dos cristãos ouvidos pela reportagem contam que decidiram se afastar de suas igrejas e buscar outras opções, onde sua posição política seja respeitada, Luiz Fernando, que vive no interior da Bahia e era evangélico desde os 12 anos, tomou decisão mais drástica.
"Durante todos os anos que eu estive na Igreja, passamos por eleições presidenciais, por eleições municipais e nunca, até 2018, foi abordada essa questão de 'vote em tal candidato'. Era uma coisa que deixava todo mundo muito à vontade. Você não sabia se o seu irmão da cadeira da frente era a favor do partido A ou do partido B. Não sabia se a pessoa ao seu lado era a favor de partido A ou partido B. Tinha essa liberdade de voto e ninguém era recriminado por isso", ele lembra.
"Em 2018, eleição presidencial em que Jair Bolsonaro apareceu como o candidato cristão, que levantava a bandeira da família, da religiosidade, aquela coisa toda, eu percebi que a entonação dos cultos, o direcionamento dos cultos da igreja modificou. O pastor líder, em culto, no púlpito, falou: 'Vamos como cristãos votar em Jair Bolsonaro, pois ele representa a família e ele representa a nós cristãos. Aí, naquele momento eu entendi e falei 'não'. A política entrou na Igreja."
"Aí eu simplesmente eu percebi que tudo o que eu tinha vivido, aquela coisa de paz, de amor ao próximo, de tentar conquistar através do amor, foi tudo por água abaixo, porque eu vi o ódio e vi o ódio presente nas pessoas, nos meus amigos que eram da igreja. Eu vi essa coisa de guerra. Então eu falei: 'não, não dá mais, me desiludi com a religião. Eu simplesmente deixei de ir'."
A decepção o levou a, pela primeira vez na vida, se declarar "sem religião".
"Depois desse governo que se diz cristão, eu não consigo mais me relacionar com Deus intimamente. Na última pesquisa do IBGE, eu já me declarei que não tenho fé. (Perguntaram) 'Você é crente, você é católico, qual é a sua religião?' Eu falei: 'Não, não tenho religião'. Então não sei o que eles colocaram. Se agnóstico ou ateu, alguma coisa assim. Mas eu já não me coloquei mais como cristão, não me representa. Isso já não me representa mais.
"Eu percebi que para eu voltar a ter um relacionamento com Deus, a Igreja precisa mudar. E eu vejo que a Igreja não quer mudar." *Nome alterado a pedido do entrevistado. Fonte: https://g1.globo.com
Jornalismo – a hora de virar o jogo
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Jornalismo – a hora de virar o jogo
A sociedade está cansada do clima de militância que tomou conta da agenda pública. Sobra opinião e falta informação.
Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo
Escrevo esta coluna no campus da Universidade de Navarra, Espanha. Estou participando do VII Encontro Internacional do Programa de Graduados Latino-Americanos (PGLA). Um evento formidável, com muitos colegas de prestígio no mundo da comunicação.
O cenário do consumo de informação preocupa. E muito. Exige reflexão, autocrítica e coragem. Todos, sem exceção, percebem que chegou para o jornalismo a hora da reinvenção.
A sociedade está cansada do clima de militância que tomou conta da agenda pública. Sobra opinião e falta informação. Os leitores estão perdidos num cipoal de afirmações categóricas e pouco fundamentadas, declarações de “especialistas” e uma overdose de colunismo. Um denominador comum marca o achismo que invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: radicalização e politização. Trata-se de um fenômeno generalizado.
O jornalismo reclama alguns valores essenciais: amor pela verdade, paixão pela liberdade e uma imensa capacidade de sonhar e de inovar. Eles resumem boa parte da nossa missão e do fascínio do nosso ofício. Hoje, mais do que nunca, numa sociedade polarizada e intolerante, precisam ser resgatados e promovidos.
As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização da sociedade. Suscitam debates, geram polêmicas (algumas com forte radicalização) e exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, as que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de padrões de qualidade, algo que deve estar na essência dos bons jornais.
O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.
Jornalismo independente reclama liberdade. Não temos dono. Nosso compromisso é com a verdade e com o leitor. Mas a reinvenção do jornalismo passa por uma imensa capacidade de sonhar. É preciso vencer comportamentos burocráticos, reconhecer a nossa crise e tratar de virar o jogo. O fenômeno da desintermediação dos meios tradicionais, por exemplo, teve precedentes que poderiam ter sido evitados, não fosse o distanciamento da imprensa dos seus leitores, sua dificuldade de entender o alcance das novas formas de consumo digital da informação e, em alguns casos, sua falta de isenção informativa e certa dose de intolerância.
Os leitores, com razão, manifestam cansaço com o tom sombrio das nossas coberturas. É possível denunciar mazelas com um olhar propositivo. Pensemos, por exemplo, na ignominiosa situação da corrupção. É preciso reverter um quadro que agride a dignidade humana, envergonha o Brasil e torna inviável o futuro de gerações. Não seria uma bela bandeira, uma excelente causa a ser abraçada pela imprensa?
Com seriedade e profundidade, e não como consequência do jogo político. Em vez de ficarmos reféns do diz-que-diz, do blá-blá-blá inconsistente, das intrigas e da espuma que brota nos corredores de Brasília, que não são rigorosamente notícia, mergulhemos de cabeça em pautas que, de fato, ajudem a construir um país que não pode continuar olhando pelo retrovisor.
Não podemos viver de costas para a sociedade real. Isso não significa ficar refém do pensamento da maioria. Mas o jornalismo, observador atento do cotidiano, não pode desconhecer e, mais do que isso, confrontar permanentemente o sentir das suas audiências. A verdade, limpa e pura, é que frequentemente a população tem valores diferentes dos nossos.
A internet, o Facebook, o Twitter e todas as ferramentas que as tecnologias digitais despejam a cada momento sobre o universo das comunicações transformaram a política e mudaram o jornalismo. Queiramos ou não. Precisamos fazer a autocrítica sobre o nosso modo de operar. Não bastam medidas paliativas. É hora de dinamitar antigos processos e modelos mentais ideológicos. A crise é grave. Mas a oportunidade pode ser imensa.
A violência, a corrupção, a incompetência e a mentira estão aí. E devem ser denunciadas. Não se trata, por óbvio, de esconder a realidade. Mas também é preciso dar o outro lado, o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do túnel. A boa notícia também é informação. A análise objetiva e profunda, sem viés ideológico, é uma demanda dos leitores. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem tornar o jornalismo refém da fácil cultura do negativismo.
A imprensa de qualidade, séria e independente, é essencial para a democracia. E tudo isso, tudo mesmo, depende da nossa coragem e da nossa humildade para fazer a urgente e necessária autocrítica.
Chegou a hora do jornalismo propositivo. Aquele que não se limita a mostrar os problemas, mas vai além: aponta alternativas e soluções.
*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Aparecida tem alvoroço com Bolsonaro, recados de arcebispo e tensão eleitoral na basílica.
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Jair Bolsonaro (PL), ao lado de Tarcísio de Freitas (Republicanos), em missa no santuário de Aparecida nesta quarta - Eduardo Knapp/Folhapress
APARECIDA (SP), SÃO PAULO, BELO HORIZONTE, RIO DE JANEIRO e BRASÍLIA
O presidente Jair Bolsonaro (PL), em campanha pela reeleição, causou alvoroço ao participar de missa pelo Dia de Nossa Senhora Aparecida, nesta quarta-feira (12), no santuário dedicado à santa. A passagem por Aparecida (SP) foi marcada por recados desfavoráveis de representantes da Igreja Católica e aplausos e vaias de eleitores.
O rival dele no segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), manteve a decisão anunciada de evitar a mistura entre eleição e religião e, também nesta quarta, fez atos no Rio de Janeiro e em Salvador.
Um dia antes da visita de Bolsonaro a Aparecida, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), principal entidade da igreja no país, lamentou em nota "a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno". Sem citar nomes, a CNBB disse que "momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos".
O arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, afirmou na manhã desta quarta, antes da chegada de Bolsonaro na basílica, que "é preciso vencer os dragões do ódio e da mentira". Na fala, durante a homilia da principal missa do dia, ele mencionou ainda os desafios do desemprego, da fome e da incredulidade.
A frase foi dirigida a uma multidão de católicos que lotou o templo. Parte dos romeiros acompanhou a celebração do lado de fora. A festa em homenagem à padroeira do Brasil voltou, depois de dois anos de pandemia, a receber o público sem restrições de circulação ou capacidade.
Depois, questionado em entrevista coletiva sobre a presença na festividade religiosa do mandatário e de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato do bolsonarismo ao Governo de São Paulo, em uma das missas no santuário nesta quarta, o arcebispo expressou certo incômodo.
"Não podemos julgar, mas precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Precisamos ser fiéis à nossa identidade católica, mas, seja qual for a intenção, vai ser bem recebido, porque é o nosso presidente", afirmou o sacerdote à imprensa.
Bolsonaro esteve na manhã desta quarta em Belo Horizonte para a inauguração de um templo da igreja evangélica Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago. Junto ao governador reeleito Romeu Zema (Novo), que o apoia, o mandatário acompanhou uma sessão de cura e ouviu Valdemiro pedir jejum de 12 horas até o dia da eleição, pela "nação, pelo presidente e pela primeira-dama".
O ambiente e as falas na capital mineira foram favoráveis à reeleição e aos discursos de campanha do político, mas a Folha ouviu de uma fiel a reclamação de que, se soubesse que haveria campanha eleitoral no templo, não teria ido até lá. A frequentadora não conseguiu entrar no local.
O presidente, que se diz católico, mas transita entre evangélicos e detém o apoio de líderes do segmento, fez um discurso em que exaltou o Brasil como um país majoritariamente cristão e disse respeitar todas as religiões.
À tarde, sob vaias e aplausos, Bolsonaro chegou ao Santuário Nacional de Aparecida (a 180 km de SP) acompanhado de Tarcísio e de outros aliados, como o senador eleito Marcos Pontes (PL-SP), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e a deputada federal Bia Kicis (PL-DF).
Com o tumulto, o padre Eduardo Ribeiro, que conduzia a cerimônia, pediu silêncio para iniciar a celebração. "Silêncio na basílica. Prepare o seu coração, viemos aqui para rezar", afirmou. Parte do público também soltou gritos de "mito" na direção do presidente.
A missa transcorreu de forma serena, sem a presença de Bolsonaro no altar —nas celebrações do ano passado, o presidente foi encarregado de fazer a primeira leitura. Na homilia, o pároco Eduardo Catalfo pediu paz para a nação e enalteceu Nossa Senhora Aparecida como mulher negra e a representação do povo brasileiro.
Do lado de fora do templo, um jovem que vestia camiseta vermelha foi alvo de uma multidão enfurecida que gritava "mito" enquanto a comitiva do presidente estava em uma tenda de peregrinos. O homem, inicialmente, ficou encurralado em um círculo e, depois, quando tentou fugir, foi perseguido aos gritos de "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão" e "a nossa bandeira jamais será vermelha".
A hostilidade dos bolsonaristas só acabou quando o homem de vermelho sumiu entre os corredores da igreja, sem ser agredido fisicamente.
A comitiva presidencial não viu a cena. "E pensar que aqui é a casa de Deus", falou uma mulher assustada, com uma camiseta de romaria de São José dos Campos (SP).
Após a missa, o presidente foi convidado para rezar um rosário na basílica antiga, a primeira construída em devoção à santa. A atividade foi organizada pelo Centro Dom Bosco, organização de católicos conservadores que não tem ligação com o santuário nacional, cujo administrador é dom Orlando Brandes.
"Não é uma iniciativa nem do santuário nem da arquidiocese, mas as pessoas são livres", disse o arcebispo.
Bolsonaro não compareceu à basílica antiga, mas o anúncio de sua possível ida atraiu centenas de apoiadores ao local e houve princípio de confusão, com xingamentos e intimidações. Apoiadores do presidente partiram para cima de uma equipe de jornalistas da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo.
Segundo a repórter Daniela Lopes, que trabalha na TV, houve ofensas verbais e tentativa de agressão, mas um segurança que acompanhava interveio. Ela também disse à Folha que a confusão começou após um homem, com uma camiseta com a frase "fora, Bolsonaro", se aproximar do cinegrafista.
Depois que Bolsonaro deixou a igreja antiga, o padre Camilo Júnior disse durante uma pregação que o dia deveria ser dedicado à santa católica, e não a eleições. "Parabéns a você que está aqui dentro e está rezando, porque hoje não é dia de pedir voto, hoje é dia de pedir bênção", afirmou, sob aplausos.
Os organizadores da missa devem divulgar o total de público nesta quinta (13). Há, entre eles, a certeza de que havia muito mais pessoas que os cerca de 70 mil fiéis do ano passado, mas ainda menos que os 160 mil de 2019, antes da Covid-19.
É a terceira vez em que Bolsonaro, na condição de presidente, visita o Santuário Nacional de Aparecida. A primeira foi em 2019. Em 2021, dom Orlando fez alertas sobre o armamento da população, o discurso de ódio e a propagação de fake news —as falas foram entendidas como recados ao governante.
Também no ano passado, com a pandemia de Covid-19 em um momento mais crítico, o arcebispo defendeu a ciência e discursou sobre a importância da vacinação contra o coronavírus, indo na contramão do comportamento de Bolsonaro durante a crise mundial de saúde.
A volta do mandatário ao templo católico é mais um passo na maratona dele em busca de votos dos religiosos. Desde o dia 4, Bolsonaro participou de dois cultos da igreja evangélica Assembleia de Deus e usou o Círio de Nazaré, uma das maiores celebrações religiosas mais populares do país, para fazer campanha.
Em uma unidade da Assembleia de Deus na capital paulista, o presidente e a primeira-dama Michelle Bolsonaro subiram ao púlpito e falaram aos fiéis. Ela, que é evangélica, não esteve em Belo Horizonte nem em Aparecida nesta quarta.
No Pará, o presidente sofreu críticas da igreja e ficou isolado durante a festividade. A Arquidiocese de Belém afirmou que não convidou o mandatário e que não desejava nem permitia "qualquer utilização de caráter político ou partidário" do evento religioso. O Planalto disse à Folha que ele participou do Círio como chefe de Estado.
As atividades de Lula no feriado foram desvinculadas da celebração religiosa. O petista, que também mira os públicos evangélico (que majoritariamente apoia Bolsonaro) e católico, participou pela manhã de uma caminhada no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, onde prometeu avanços na economia para a população mais pobre.
Antes do ato, o ex-presidente ergueu uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que lhe foi entregue por uma moradora. Durante o percurso, feito sobre um carro de som, estendeu uma bandeira do Brasil.
O petista também esteve em uma caminhada em Salvador. Na capital baiana, ele acusou o adversário de tentar tirar proveito eleitoral de eventos religiosos e disse que ele "usa o nome de Deus em vão".
O petista fez ainda alusão aos episódios em Aparecida: "Hoje [quarta] arrumou briga em Aparecida do Norte, onde também foi sem ser convidado, tentando tirar proveito de religião".
Na semana passada, Lula disse que não gosta de fazer nenhum gesto "que possa parecer" que esteja "utilizando a religião para fazer política". "Gosto de professar a minha fé e demonstrar a minha religião na minha intimidade. Não gosto de ficar fazendo Carnaval", afirmou.
Lula foi convidado pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para participar do Círio de Nazaré, mas declinou. Fonte: www1.folha.uol.com.br
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Paulo Dantas (MDB) é investigado por suspeitas de desvio de dinheiro público
BRASÍLIA
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) afastou Paulo Dantas (MDB) do cargo de governador de Alagoas. Ele é um dos alvos de uma operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (11).
A determinação judicial atendeu a um pedido da PF. Segundo investigadores, os fatos apurados são da época que Dantas era deputado estadual e, também, do período em que já ocupava o cargo de governador.
Entre as suspeitas apuradas está a prática de uso de funcionários fantasmas em seu gabinete.
A operação cumpre 31 mandados de busca e apreensão. Entre os endereços estão a Assembleia Legislativa e a sede do governo.
Além do afastamento do governador e das buscas, a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, autorizou o sequestro de bens e valores que alcançam R$ 54 milhões. Entre os bens sequestrados estão dezenas de imóveis em nome dos alvos.
A ação foi batizada de operação Edema e, diz a PF, apura a "prática sistemática de desvios de recursos públicos que ocorre desde o ano de 2019 no âmbito do Poder Público do Estado de Alagoas."
Os alvos são suspeitos das práticas dos crimes de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Eles estão proibidos de manter contatos entre si e frequentar os órgãos públicos.
"A necessidade e a urgência das medidas cautelares cumpridas na manhã de hoje –que incluem busca e apreensão, sequestro de bens, afastamentos de função pública, dente outras medidas– foram amplamente demonstradas nos autos da investigação policial e corroborada pelo Ministério Público Federal, o que subsidiou a decisão judicial", afirma a PF em nota.
A PF pediu as medidas inicialmente em 8 de agosto, mas no dia 31 do mesmo mês aditou a solicitação. O MPF se manifestou em 8 de setembro e a decisão da ministra autorizando as buscas e o afastamento é de 5 de outubro.
O emedebista virou governador em maio, para um mandato tampão, após Renan Filho (MDB) deixar o cargo para disputar uma vaga ao Senado. A ministra do caso é Laurita Vaz. O afastamento do político tem prazo de 180 dias.
Dantas está no segundo turno da eleição para governador de Alagoas. Ele recebeu 46,64% dos votos válidos, enquanto seu adversário, Rodrigo Cunha (União), apoiado por Arthur Lira (PP), teve 26,74%.
O emedebista é apoiado apoiado pelo ex-presidente Lula e pela família de Renan Calheiros. Alagoas é o estado onde Lula teve a vitória mais apertada no primeiro turno —o petista obteve 57% dos votos válidos, ante 36% de Jair Bolsonaro (PL) e 4% de Simone Tebet (MDB).
Alagoas é o estado em que a maior parcela da população passa fome no Brasil, com 36,7% —número que é duas vezes a média nacional. Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, que divulgou informações sobre segurança alimentar por estado.
Por causa das eleições, Renan Filho renunciou ao seu mandato como governador em abril. Seu vice-governador, Luciano Barbosa, deixou o cargo nas eleições de 2020, assumindo a Prefeitura de Arapiraca.
O próximo na linha sucessória seria o presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Marcelo Victor (MDB), que preferiu não assumir o governo e concorrer à reeleição, convocando eleições indiretas.
Após imbróglios na Justiça, travados entre Arthur Lira e Renan Calheiros, Paulo Dantas foi eleito para um mandato até 31 de dezembro.
Sua campanha se baseia no que foi feito durante a gestão de Renan Filho, citando obras realizadas no período ou que estão sendo concluídas durante seu período no governo.
Dantas foi prefeito do município de Batalha durante dois mandatos e, em 2018, se tornou deputado estadual. Sua esposa, Marina Thereza Cintra Dantas (MDB), é a atual prefeita da cidade. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Foi ameaçado ou recebeu promessa em troca de voto? Conte para a Folha
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Entidades pedem que eleitores denunciem assédio eleitoral
AMERICANA (SP)
O caso de um empresário que apareceu em vídeo coagindo funcionários para que votassem em Jair Bolsonaro (PL) chamou a atenção para o assédio eleitoral às vésperas das eleições 2022.
No vídeo, o dono da empresa Cerâmica Modelo, em São Miguel do Guamá (PA), prometia R$ 200 para os empregados em caso de vitória de Bolsonaro e dizia que mais da metade das empresas do município fechariam se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhasse.
Após investigação, Maurício Lopes Fernandes Júnior fechou um acordo com o Ministério Público do Trabalho em que teve que gravar um vídeo pedindo desculpas, pagar pagar indenização de R$ 2 mil para cada um dos funcionários, assinar a carteira de trabalho dos que não tinham registro, fornecer EPI’s (equipamentos de proteção individual) e desembolsar R$ 150 mil por dano moral coletivo.
A coação ou assédio para influenciar o voto podem ser enquadrados no artigo 301 do Código Eleitoral. A legislação prevê pena de até quatro anos de reclusão e pagamento de multa para quem "usar de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido".
A Folha quer saber se você, leitor, passou por uma experiência semelhante. Foi ameaçado ou recebeu promessas em troca de seu voto em determinado candidato?
Conte para nós neste formulário. Será possível anexar fotos ou documentos que comprovem o caso. Fonte: www1.folha.uol.com.br
Eleitores do Nordeste sofrem ataques criminosos após votação em massa em Lula
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Bolsonaro tenta associar vitória de Lula na região ao analfabetismo; petista rebate
Luiz Inácio Lula da Silva discursa em Marcolândia, no Piauí, em 2017 - Bruno Santos-1.set.17/Folhapress
João Pedro PitomboJosé Matheus Santos
SALVADOR e RECIFE
Em um hoje longínquo 2010, uma estudante paulista disse que eleitores do Luiz Inácio Lula da Silva não eram gente e deveriam ser afogados. A postagem feita após a vitória de Dilma Rousseff (PT) para a Presidência ganhou repercussão e resultou em uma condenação na Justiça Federal de São Paulo por crime de racismo.
Doze anos e três eleições presidenciais depois, o preconceito que na época foi encarado como um caso isolado não só se repete, mas ganhou escala e contornos de ataques massivos após o resultado do primeiro turno da eleição deste ano.
A larga margem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que obteve 67% dos votos válidos no Nordeste, desencadeou uma onda de ataques contra eleitores nordestinos que partiram de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Um dos ataques após a eleição veio do próprio presidente, nesta quarta-feira (6). Em uma transmissão nas redes sociais, Bolsonaro associou o analfabetismo à vitória de Lula no Nordeste e culpou o PT por índices negativos na área na região.
"Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste", disse.
A afirmação foi rebatida nesta quinta (6) por Lula, que buscou trazer o tema para o centro do debate eleitoral: "Quem tem uma gota de sangue nordestino não pode votar nesse sujeito. Os nordestinos estão em todo o Brasil, trabalham e constroem esse país. Que Bolsonaro busque o voto da turma da rachadinha do Queiroz."
Nas redes sociais e aplicativos de mensagem, os ataques começaram com o avançar da contabilização dos votos no domingo (2).
Em áudio apócrifo que viralizou, um homem afirma que os eleitores do Nordeste deveriam morrer. "Esses nordestinos têm que morrer metade, aonde é que se viu, os caras... 66% para o Lula, esses caras não merecem. [...] Esses nordestinos tem que morrer tudo de fome [sic], tem que desmembrar o Nordeste do Brasil".
Mas as mensagens não ficaram apenas no anonimato. Em Uberlândia, cidade do Triângulo Mineiro, a advogada e vice-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na cidade, Flávia Moraes, postou um vídeo em tom ofensivo contra os eleitores do Nordeste.
Ao lado de duas amigas e com uma taça de vinho na mão, atacou: "Nós geramos empregos, pagamos impostos e gastamos nosso dinheiro lá no Nordeste. Não vamos mais ao Nordeste dar nosso dinheiro para quem vive de migalhas. Vamos gastar no Sudeste, no Sul ou até fora do país."
A OAB Uberlândia alegou que a fala não reflete o posicionamento da instituição, mas disse que não se manifesta sobre declarações de cunho pessoal de seus inscritos. Também informou que a advogada pediu licença do cargo.
Em Ouro Preto do Oeste, em Rondônia, uma dentista postou um vídeo em uma rede social no qual critica o voto dos eleitores do Nordeste em Lula e afirma que os demais estados sustentam a região.
"Sobre o Nordeste votar ainda no Lula, eu acho que o Nordeste deveria parar para pensar que quem vai lá e sustenta o turismo somos nós brasileiros que trabalha [sic] de verdade", afirmou.
Na sequência, associou a região à miséria e à exploração sexual infantil: "Nós vamos lá ‘turistar’ e gastar para aquelas famílias que vivem na miséria sobreviver [sic]. Quem já foi ‘turistar’ lá no Nordeste, vocês já viram como eles vivem, já viram a prostituição infantil?"
Uma advogada de Bragança Paulista (SP) também fez ataques aos nordestinos em um grupo em um aplicativo de mensagens: "Não conheço o Nordeste e nem quero conhecer. Deus me livre desse lugar de gente horrorosa". O caso está sendo apurado pela OAB da cidade.
Uma das postagens que ganhou maior relevância veio do comentarista Rodrigo Constantino. Em uma rede social, ele exibiu um mapa do Brasil destacando a região Nordeste como "Cuba do Sul". "Temos uma conclusão clara nessas eleições: a parte do país que mais recebe assistencialismo decide sobre a parte do país que mais produz para o PIB", escreveu.
A mesma imagem foi publicada uma rede social do Colégio São Marcos, de São Luís (MA). O colégio apagou a publicação e alegou que a postagem foi feita de maneira equivocada por um funcionário na conta institucional do colégio.
Presidente da seccional Pernambuco da OAB, Fernando Ribeiro Lins, classifica os casos como crime de xenofobia, que é equiparado ao de racismo na legislação penal. Por isso, qualquer pessoa nordestina alvo de ofensas pode ingressar com uma representação junto ao Ministério Público Federal, segundo ele.
"Racismo é um crime inafiançável. Admitindo uma condenação, não é possível pagar fiança para se livrar. Qualquer pessoa que pratique está sujeita a uma pena dura."
O Conselho Federal da OAB e os presidentes das seccionais da ordem nos estados da região também repudiaram os ataques ao Nordeste.
Na avaliação de especialistas, os ataques revelam desconhecimento sobre o Nordeste e seu papel na história, economia e cultura brasileiras. Também reforçam estigmas e tentam diminuir os eleitores de uma região onde vivem 53 milhões de brasileiros.
O historiador Severino Vicente, da Universidade Federal de Pernambuco, classifica a xenofobia como uma doença social.
"É querer negar ao outro o direito de ser o que ele é, é a tentativa de reduzir o outro e dizer que só interessa aquilo que é parecido comigo. O preconceito é filho da deseducação, daquele que não abre a cabeça e observa o mundo", diz.
O historiador também destaca o papel do Nordeste na construção de cidades como Brasília e para o avanço econômico de municípios, como o caso de São Paulo, que tem diversos imigrantes nordestinos: "o Brasil é filho do Nordeste e construímos as bases da nacionalidade".
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas e professor da Universidade de Federal de Minas Gerais, Camilo Aggio destaca que os discursos de ódio, preconceito e xenofobia já existem na sociedade, mas tendem a ser alimentados e potencializados em ecossistemas digitais.
"Existe um adensamento de grupos sociais com a construção de tribos com epistemologias próprias. Por isso, tantos grupos se sentem autorizados a propagar discurso de ódio. Eles se sentem amparados por um agrupamento", explica.
Na avaliação de Aggio, o próprio presidente Jair Bolsonaro incita ataques, além de possuir um discurso que dá segurança e proteção a quem ataca: "Há uma aposta na inimputabilidade, como foi no caso do indulto ao [ex-deputado] Daniel Silveira".
Senador eleito pelo Maranhão, Flávio Dino (PSB) diz que, além de estimular preconceitos contra o Nordeste, Bolsonaro virou as costas para a região durante o seu mandato: "Nós, aqui no Nordeste, votamos de modo consciente." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Compra de votos explícita
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Ao propor 13.º para o Auxílio Brasil, Bolsonaro expõe convicção de que o voto das mulheres vulneráveis está à venda
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
O presidente Jair Bolsonaro decidiu aumentar o lance no leilão pelo voto dos mais pobres. Passado o primeiro turno, o governo não esperou um dia sequer para anunciar a antecipação do calendário de pagamentos do Auxílio Brasil. Até então, as transferências estavam programadas para serem encerradas no dia 31 de outubro, depois, portanto, da segunda etapa da disputa eleitoral. Não foi – nem será – a única investida. O governo prometeu um 13.º benefício para os 16,7 milhões de famílias chefiadas por mulheres. Antes, havia regulamentado uma modalidade criminosa de crédito consignado que tem tudo para expor os vulneráveis ao superendividamento.
É um feito impressionante. O arremedo de programa social que o governo inventou para substituir o bem-sucedido Bolsa Família paga mais, alcança um número maior de pessoas e não cobra qualquer contrapartida dos beneficiários, como o cumprimento do calendário vacinal ou a presença escolar obrigatória de seus filhos. E, a despeito do escancarado uso da máquina pública, cujo peso é muito maior que o Fundo Eleitoral, o presidente/candidato permanece na segunda posição com possibilidades reais de derrota. Para enquadrar o Auxílio Brasil ao Orçamento-Geral da União, o governo violou o teto de gastos, mas fez um esforço para criar um discurso social minimamente crível a justificar essa opção. Se nunca houve preocupação genuína com o bem-estar dos mais pobres, antes havia um mínimo de pudor, agora completamente abandonado.
Como nada disso gerou o efeito esperado, o governo se converteu em um puxadinho da campanha bolsonarista e compactua com seus devaneios sem qualquer empenho para manter a credibilidade. A proposta formal para o Orçamento de 2023 desmente a si própria e promete manter o piso em R$ 600 sem reservar os R$ 52,5 bilhões extras para custeá-la. A ela se junta o 13.º benefício às mulheres, cujo custo é estimado em R$ 10 bilhões. Não houve – nem haverá – qualquer explicação sobre a fonte de recursos para bancar a medida, tampouco sobre sua necessidade. Afinal, há algumas semanas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ser impossível que milhões de pessoas estivessem passando fome no País, dando a entender que o piso era suficiente para garantir todas as necessidades e despesas fixas de uma família. O que mudou para justificar a criação do 13.º benefício?
Há algo em comum a tudo que envolve o Auxílio Brasil desde sua concepção. Todas as discussões sobre o programa sempre foram superficiais e centradas unicamente no valor final a ser pago aos beneficiários, expondo a profunda convicção do presidente e de sua equipe de ministros de que o voto dos mais vulneráveis, de forma geral, e das mulheres mais pobres, em particular, está à venda. Quando era deputado federal, Bolsonaro chamou o Bolsa Família de bolsa farelo e chegou a compará-lo à prática do voto de cabresto. Sua opinião, evidentemente, não se alterou. A diferença é que agora ele espera colher frutos adotando uma estratégia que sempre condenou. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Advogada que fez declaração de xenofobia contra nordestinos é exonerada pela OAB; defensoria de MG pede indenização de R$ 100 mil
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Após vídeo dizendo que 'não vai mais alimentar quem vive de migalhas', Flávia Aparecida Rodrigues Moraes, que era vice-presidente da Comissão da Mulher Advogada, pediu licença do cargo. Em nota, a advogada informou que sua conduta não se encontra tipificada como crime.
Por Carolina Portilho e Luís Fellipe Borges, g1 Triângulo e Alto Paranaíba — Uberlândia
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Uberlândia se posicionou na noite desta quinta-feira (6) sobre as declarações de xenofobia da advogada Flávia Aparecida Rodrigues Moraes. Em vídeo publicado das redes sociais, ela afirmou que "não vai mais alimentar quem vive de migalhas", se referindo à população nordestina
No posicionamento, o presidente da OAB Uberlândia, José Eduardo Batista, informou que o órgão decidiu por exonerar Flávia do cargo de vice-presidente da Comissão da Mulher Advogada. Ela já havia pedido licença do posto após o vídeo circular nas redes sociais.
"Reiteramos que não compactuamos com os lamentáveis fatos veiculados nas redes sociais, nem com as expressões usadas pela advogada", declarou o presidente.
Também nesta quinta, a Defensoria Pública de Minas Gerais propôs uma ação civil pública contra Flávia. O órgão pede que a advogada pague R$ 100 mil em danos morais.
Ao g1, por meio de uma assessora de imprensa, Flávia declarou que se arrepende do que disse, mas que a conduta, embora reprovável, "não se encontra tipificada como crime em qualquer dispositivo legal vigente". Confira o posicionamento na íntegra mais abaixo.
Posicionamento da OAB
Além de exonerar a advogada da comissão, a OAB Uberlândia afirmou, em nota, que também determinou a abertura de processos éticos-disciplinares pelo Conselho de Ética e Disciplina da Subseção e pelo Tribunal de Ética Regional, em atenção aos pedidos de representação disciplinar protocoladas por advogados e autoridades de Uberlândia e região.
"Apresentamos nossas sinceras desculpas ao povo nordestino e em especial à advocacia nordestina e advocacia brasileira pelas manifestações ofensivas da referida advogada, postadas nas redes sociais", completa a nota.
Ação civil pública
Em nota enviada à imprensa, o defensor público Evaldo Gonçalves da Cunha afirmou que a indenização será destinada a entidades de combate ao preconceito, racismo e xenofobia. A advogada também deverá se retratar das declarações pelas vias adequadas.
"A ré propaga falas preconceituosas e discriminatórias, causando um constrangimento ao povo nordestino de magnitude imensurável", escreveu.
No texto da ação, a Defensoria Pública declara que o objetivo do processo é "o reconhecimento dos direitos de milhões de brasileiros nordestinos, sejam os lá residentes ou os que de lá se originam, de terem respeitada a sua identidade, como corolário da dignidade da pessoa humana".
O órgão indica que a advogada teria explicitamente incitado a discriminação do povo nordestino, o que configura o crime de "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional".
Quando cometido em um meio de comunicação social, como a internet, a pena prevista para o crime é reclusão de dois a cinco anos e multa.
"Em que pese o direito de liberdade de expressão ser constitucionalmente garantido, tal direito não é absoluto e deve ser exercido em observância à proteção à dignidade da pessoa humana", aponta a ação.
Entenda o caso
Flávia Aparecida Moraes publicou um vídeo em uma rede social dizendo que "não vai mais alimentar quem vive de migalhas", se referindo aos moradores da região Nordeste do Brasil.
Vestidas com as cores verde e amarela, ela e mais duas mulheres não identificadas fazem um brinde enquanto deixam claro que não irão mais àquela região turística do Brasil e que preferem gastar o dinheiro no Sul e Sudeste ou até fora do país.
Na descrição do vídeo, Flávia ainda escreveu: "Lamentavelmente mais necessário, precisamos ser racionais. Democracia é democracia (sic)".
Na publicação, o áudio da advogada é quase encoberto pela música ao fundo, mas é possível identificar o que ela diz:
"A todos aqueles brasileiros que a partir de hoje têm que ser muito inteligente. Nós geramos empregos, nós pagamos impostos e sabe o que que a gente faz? A gente gasta o nosso dinheiro lá no Nordeste. Não vamos fazer isso mais. Vamos gastar dinheiro com quem realmente precisa, com quem realmente merece. A gente não vai mais alimentar quem vive de migalhas. Vamos gastar o nosso dinheiro aqui no Sudeste, ou no Sul ou fora do país, inclusive porque fica muito mais barato. Um brinde a gente que deixa de ser palhaço a partir de hoje", disse Flávia Moraes.
Segundo a 13ª Subseção da OAB, a advogada pediu licença do cargo que ocupava na entidade para se dedicar pessoalmente sobre o assunto. Já a OAB-MG informou, na quarta-feira (5), que vai tomar as providências cabíveis no âmbito ético disciplinar.
"A OAB repudia de forma veemente as expressões utilizadas que materializam preconceito e discriminação contra o povo nordestino. Caracteriza um tipo de xenofobia regional intolerável, inadmissível. A OAB MG recomenda à OAB de Uberlândia que independente da licença requerida pela colega a destitua do cargo porque ela não tem condições de participar desta gestão", disse o presidente da ordem mineiro, Sérgio Leonardo em vídeo publicado em rede social.
O que disse Flávia
"Em razão de manifestação pessoal publicada em minhas redes sociais, venho a público me desculpar por compreender a infelicidade do que foi falado, uma vez que é totalmente incompatível com meus valores. Minha conduta, embora reprovável, não se encontra tipificada como crime em qualquer dispositivo legal vigente.
A exposição da minha fala foi feita por terceiros, sem o meu consentimento, e fez com que eu siga atacada com as mais diversas formas de violência contra a mulher, tendo que blindar a mim e minha família. A infelicidade da minha fala não pode autorizar ou justificar a prática de crimes graves contra a minha pessoa, que vão desde injúria e difamação, até mesmo a apologia ao estupro. Em um Estado Democrático de Direito os fins não justificam os meios.
Lamento pela repercussão desta infeliz colocação e me arrependo profundamente pelo ocorrido, desculpando-me com todas as pessoas de origem nordestina que tenham se sentido ofendidas, retratando-me completamente." Fonte: https://g1.globo.com
TV pública de MG não exibe entrevista de Guilherme Boulos no Roda Viva; emissora volta atrás depois de repercussão
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Exibida pela TV Cultura nessa segunda-feira (3), entrevista não foi retransmitida pela Rede Minas, conforme costuma acontecer.
Por Rodrigo Salgado, g1 Minas — Belo Horizonte
A emissora pública de televisão "Rede Minas" não retransmitiu nesta segunda-feira (3) a entrevista que Guilherme Boulos (Psol), deputado federal eleito e coordenador da campanha presidencial de Lula (PT), concedeu ao "Roda Viva", da TV Cultura. Ela sempre exibe o programa da emissora paulista.
Porém, depois da repercussão no estado, o governo de Minas Gerais voltou atrás e irá exibir a entrevista nesta quinta-feira (6).
O caso foi divulgado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJP-MG), que acusou o governo de Minas Gerais de ter "censurado a entrevista" e relacionou a decisão ao apoio do governador Romeu Zema (Novo) ao candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).
No lugar da entrevista com Boulos, a emissora pública mineira exibiu uma reprise da edição com a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, originalmente apresentada em junho de 2021.
Em nota, a Rede Minas alegou haver um "propósito de se manter isenta durante as eleições de 2022 e em observância às restrições do período eleitoral" e que, por isso, não exibiu a entrevista com Guilherme Boulos, bem como também não retransmitiu as sabatinas com os candidatos à Presidência da República.
Disse, ainda, que a Rede Minas "não foi convidada pelo comando da TV Cultura para participar das discussões sobre a linha editorial das citadas entrevistas", mas que voltou atrás da decisão de não retransmitir a sabatina após "parecer favorável do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)".
A "TV Cultura", emissora que produz o programa "Roda Viva" em São Paulo e que tem parte da programação retransmitida pela Rede Minas no estado de Minas Gerais, informou que a iniciativa partiu da TV pública mineira. Alega, ainda, que, quando questionada pelo canal paulista, a emissora de Minas não soube justificar o motivo de não ter havido a retransmissão, como normalmente acontece.
A Rede Minas não informou qual a programação para o Roda Viva em MG nas próximas semanas. A TV Cultura já anunciou uma sabatina dupla com os candidatos ao governo de SP, Tarcísio Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) para o dia 17.
Em nota, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, responsável pela Empresa Mineira de Comunicação, reafirmou que "ao tomar conhecimento da não exibição do programa" encaminhou o tema para "análise jurídica devido à vedação eleitoral", recebendo o aval do TSE para que a exibição aconteça.
O Ministério Público Eleitoral informou que ainda não recebeu nenhuma denúncia ou representação oficial a respeito do caso.
O deputado eleito Guilherme Boulos diz, em nota, ser "inaceitável que o governador Zema use uma emissora pública para fortalecer seu próprio projeto pessoal de poder" e que se trata de uma "tentativa de impedir o acesso da população mineira a opiniões diferentes daquelas "permitidas" pelos bolsonaristas". Fonte: https://g1.globo.com
Campanha do PT reage a fake news que incendiou redes bolsonaristas ligando Lula ao satanismo
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Grupos pró-Bolsonaro replicaram informações distorcidas a partir de vídeo de influencer satanista que 'previa' vitória do PT no primeiro turno
Por Johanns Eller
Em uma prévia da agressividade esperada na disputa do segundo turno, um vídeo de um influencer que se intitula satanista “prevendo” a vitória de Lula no primeiro turno causou um rebuliço nas redes bolsonaristas e colocou o PT na defensiva. A campanha do ex-presidente divulgou na noite desta segunda-feira uma nota afirmando que não há “qualquer relação” entre o petista e o satanismo.
O insólito comunicado, publicado nas redes de Lula e no site oficial de sua campanha, veio à tona após um vídeo do TikTok se espalhar em grupos a favor de Jair Bolsonaro como um rastilho de pólvora.
Nele, o influencer Vicky Vanilla, que se identifica como “sacerdote da igreja luciferiana”, descreve diante de uma bandeira de Lula uma suposta união de diferentes religiões com segmentos satanistas e do ocultismo para, de alguma forma, garantir a vitória do petista no primeiro turno.
O conteúdo foi publicado na última sexta-feira no perfil de Vicky, que tem quase 1 milhão de seguidores, e começou a se espalhar em grupos bolsonaristas no Telegram já na noite de domingo, quando o segundo turno já havia sido matematicamente confirmado, com recortes e abordagens descontextualizadas. Apoiadores de Bolsonaro, em forte tom religioso, passaram a denunciar uma suposta conspiração “das trevas” contra o presidente.
A repercussão foi tão intensa ao longo da madrugada e manhã desta segunda-feira que o senador eleito Cleitinho (PSC-MG), um dos integrantes da “bancada Bolsonaro” que saiu das urnas no último domingo, gravou um vídeo para apelar aos eleitores cristãos que não compareceram ao pleito ou votaram nulo ou em branco que votem pela reeleição de Bolsonaro.
“Cristão, se levanta! Não fique em cima do muro. O Estado é laico mas mais de 90% da população é cristã”, esbravejou o mineiro. “Viraliza esse vídeo no WhatsApp, chama aquela pessoa que está em dúvida, que para presidente é Bolsonaro, o presidente é um homem temente a Deus, é um homem cristão”.
A campanha de Lula sentiu o estrago. No comunicado desta segunda, intitulado “A verdade sobre Lula e o satanismo”, a campanha lulista enfatiza que o ex-presidente é cristão (Lula é católico) e reitera que o petista “não tem pacto nem jamais conversou com o diabo”. Foi produzida, ainda, uma imagem para ser compartilhada em aplicativos de mensagem.
A campanha de Lula justificou o posicionamento oficial sobre a fake news por conta do alcance do material. “O vídeo circulou em muitos canais do Telegram e grupos de WhatsApp e comprova como os apoiadores de Bolsonaro abusam da boa-fé de das pessoas”, diz trecho da nota.
Mas era tarde. No grupo B-38, que reúne quase 60 mil pessoas, bolsonaristas orientavam seus pares a compartilharem o vídeo de Vicky nos grupos de suas igrejas e famílias a fim de desmotivar o voto no PT no segundo turno. O tom era de chamamento, como se estivessem em uma espécie de batalha final do bem contra o mal.
“Deus desmantela e destrói toda obra de feitiço arquitetada do mal contra nossa nação”, escreveu uma bolsonarista horrorizada. “Acabamos de ver um satanista falando que eles estavam este tempo todo fazendo trabalhos fortes para nos derrubar, mandou-nos para aquele lugar e falou que vamos ter que aguentá-los agora. Oremos forte, o mal e as portas do inferno não prevalecerão”, disse outra apoiadora do presidente.
No PT, há o temor de que o vídeo tenha circulado em aplicativos de mensagem entre sexta-feira e domingo, justamente na reta final antes do primeiro turno, trazendo prejuízos a Lula no eleitorado evangélico.
O segmento, que apoia majoritariamente Bolsonaro, é um dos calcanhares-de-aquiles do petista nesta eleição.
Após a repercussão, Vicky, o influencer satanista, gravou outro vídeo afirmando não votar em Lula. Ele diz ser alvo de ameaças após a divulgação de seu vídeo em grupos bolsonaristas e acusa os militantes do presidente de tirá-lo do contexto. “O vídeo está sendo espalhado como uma fake news tanto a meu respeito quanto a respeito do candidato Lula, que não tem qualquer ligação com a nossa casa espiritual”, declarou.
A disseminação do material nos grupos pró-Bolsonaro foi um sinal para que conteúdos antigos e descontextualizados envolvendo encontros de Lula com representantes de religiões afrobrasileiras, que não têm ligação com o satanismo, começassem a ser espalhados nesta segunda.
Em um deles, muito compartilhado nos grupos pró-Bolsonaro, uma mulher relata ao petista um ritual sagrado dedicado a Exu, entidade da Umbanda e do Candomblé. Na legenda, em claro sinal de intolerância religiosa, uma eleitora do presidente denunciou a comunhão de Lula com “demônios”. Fonte: https://oglobo.globo.com
O governo explora os mais pobres
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O governo explora os mais pobres
Quando até bancos se recusam a oferecer linha de crédito gestada pelo governo, é porque há algo de errado com ela
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Às vésperas das eleições, o presidente Jair Bolsonaro lançou a última “bala de prata” para tentar arregimentar votos da parcela mais vulnerável da população. Quando ninguém mais esperava, o governo regulamentou o empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, medida que tem tudo para dar errado. A exemplo de várias outras políticas da administração bolsonarista, trata-se de uma iniciativa que não esconde a pretensão de explorar a miséria de uma forma inédita e indecorosa.
Até propor a linha de crédito via medida provisória, em março, e sancionar a proposta, em agosto, não havia passado pela cabeça de nenhuma autoridade do Executivo a ideia de definir critérios mínimos para as operações – nem mesmo a imposição de um teto para os juros de uma modalidade para pessoas que literalmente dependem de um programa de transferência de renda para se alimentar.
Entidades jurídicas e de defesa do consumidor pediram ao governo que realizasse estudos e ouvisse especialistas e a sociedade civil antes de regulamentar a proposta. Em um manifesto, elas alertaram que a concessão de crédito sem a análise real da capacidade de pagamento dos beneficiários era irresponsável e contrária ao ordenamento jurídico.
O governo poderia ter aproveitado a campanha para deixar a proposta morrer no esquecimento. Decidiu, no entanto, fixar um limite para os juros de 3,5% ao mês, ou 51,11% ao ano, maior que as taxas praticadas em consignados para trabalhadores do setor privado, do setor público, aposentados e pensionistas. Limitou, também, o comprometimento da renda dos beneficiários a 40% do valor permanente do Auxílio Brasil – ou seja, R$ 400, e não os R$ 600 que valerão somente até o fim do ano.
Para o diretor executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, a linha de crédito continua a ser uma “temeridade”. Da forma como foi regulamentada, ela não resguarda nem mesmo o mínimo existencial, instituído por decreto publicado em julho para conter o superendividamento, que estabelece que uma renda de 25% do salário mínimo, ou R$ 303, deve ser preservada aos credores em qualquer renegociação de empréstimo.
O que chamou a atenção nesse arremedo de política pública não foram as críticas da Anefac e do Idec, que eram até esperadas, mas o desinteresse dos maiores bancos desde o momento em que a linha de crédito foi lançada. Quando até instituições financeiras, que pautam sua atuação pelo lucro, se recusam a aderir a uma proposta gestada pelo governo, é porque há algo muito errado com ela. Essa postura não se deu em razão da baixa remuneração ou temor de um calote. Ao contrário do governo, elas não quiseram assumir o risco reputacional de ofertar uma linha que explora sem pudor a parcela mais vulnerável da população. Como bem definiu o economista Ricardo Paes de Barros, um dos criadores do Bolsa Família, o consignado do Auxílio Brasil é mais uma evidência a corroborar o quanto o Estado se afastou dos mais pobres. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
ESCLARECIMENTO: CNBB SE PRONUNCIA SOBRE CANDIDATO CONHECIDO COMO PADRE KELMON
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Em atenção aos fiéis que enviaram perguntas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esclarecemos:
1- O senhor Kelmon Luís da Silva Souza, candidato que se apresenta como “padre Kelmon”, não é sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana, sem qualquer vínculo com a Igreja sob o magistério do Papa Francisco.
2- Oportuno ressaltar que, conforme vigência na Lei Canônica, os padres da Igreja Católica, em pleno exercício do ministério sacerdotal, não disputam cargos políticos, nem se vinculam a partidos. Fonte: https://www.cnbb.org.br
Padre Kelmon faz uso indevido de vestimentas religiosas; entenda
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Candidato à presidência pelo PTB, baiano utiliza acessórios associados a funções de liderança na igreja, além de touca que não faz parte de tradição
Por Gustavo Cunha — Rio de Janeiro
"Tem candidatos aqui que vestem uma roupagem para te enganar", afirmou Padre Kelmon (PTB), durante o debate no SBT entre candidatos a presidente da República, na última semana. Em eventos públicos — como o debate da TV Globo, nesta quinta-feira (29) —, o baiano de 45 anos sempre aparece com batina, touca e crucifixo. Especialistas explicam que as vestimentas não são compatíveis com a figura de um padre, de acordo com as convenções religiosas.
Kelmon se diz padre ortodoxo, mas nunca foi sacerdote das igrejas da comunhão ortodoxa no Brasil, como revelou a colunista do GLOBO Malu Gaspar. Se fosse, de fato, padre ou sacerdote — e se seguisse corretamente as diretrizes eclesiásticas —, Kelmon não utilizaria alguns dos acessórios que costuma ostentar publicamente. Tradicionalmente, os chapéus são usados por figuras de hierarquia superior. Os colares longos com um crucifixo (ou "cruz peitoral", como costumam ser chamados) também são elementos associados à função hierárquica de bispo ou cardeal.
Especialistas apontam que o uso indevido da cruz peitoral e do chapéu — ou de uma touca estampada com cruzes, acessório que não é reconhecido por cristãos ortodoxos no país — acaba criando a falsa imagem de liderança religiosa.
— Parece-me que esses elementos estão sendo usados de modo não convencional — afirma Rodrigo Coppe, historiador e professor do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. — Kelmon usa símbolos de hierarquias mais altas. E sobre o chapeuzinho, não dá para saber o que ele quer mostrar com isso.
Touca representa enigma
Entre adeptos da igreja ortodoxa, não há registros da utilização de toucas de pano como as utilizadas por Kelmon. Normalmente, os sacerdotes usam um chapéu em formato cilíndrico, de cor preta, com um pequeno véu que recai sobre as costas. Essa é a tradição.
— Nunca tinha visto um chapéu como o que ele usa. Esse é um acessório que não é conhecido — explica Coppe. — A tradição diz que esse chapéu era usado por monges da Antiguidade, do século IV ou V, quando se apareceu o que é chamado de "padre do deserto".
Símbolo de diferenciação nas igrejas, a batina — outra vestimenta usada por Kelmon — representa a negação para a vida terrena e secular. A roupa que se estende até os pés é marcada por 33 botões, número que representa a idade que Jesus Cristo teria quando foi morto.
— Essa vestimenta, junto com todos os acessórios, relembra aspectos eclesiásticos da Igreja Católica ou mesmo da Igreja Ortodoxa para quem tem funções de comando e liderança — acrescenta Coppe. — O máximo que um padre usa hoje é uma roupa preta com um celérrima, aquele detalhe branco no pescoço. Um padre não usa uma cruz. E também não usa uma touca. Fonte: https://oglobo.globo.com
A intolerável ameaça de Bolsonaro
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A poucos dias da eleição, o presidente continua ameaçando descumprir a vontade do eleitor. O País não pode ser refém do golpismo. As instituições têm os instrumentos para puni-lo
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
O presidente da República, Jair Bolsonaro, manifestou mais uma vez sua disposição de não respeitar a vontade do eleitor caso esta lhe seja desfavorável. Este jornal, que considera a alternância no poder e o respeito às instituições como algumas das mais preciosas bases da democracia, entende que é inaceitável que qualquer candidato, sobretudo na condição de presidente da República, lance suspeitas infundadas sobre o processo eleitoral e sobre a lisura da Justiça Eleitoral, tentando, assim, deslegitimar o resultado das urnas.
No Jornal da Record, quando o repórter lhe perguntou se aceitará o resultado das eleições caso seja derrotado, Bolsonaro respondeu: “Olha, eu vou esperar os resultados”. Na sequência, ainda levantou suspeitas sobre a imparcialidade da Justiça Eleitoral. Escancaram-se, assim, suas pretensões golpistas. As instituições precisam estar em alerta máximo.
Seguindo a cartilha do mau perdedor, Bolsonaro começou já em 2020 suas agressões ao sistema eleitoral, afirmando que as urnas eletrônicas eram suscetíveis de fraude. Depois, foi além, e, sem nenhum indício digno de nota, muito menos prova, disse que as eleições de 2014 e as de 2018 foram fraudadas.
Bolsonaro afirma que as urnas não são auditáveis. Mentira: elas têm 10 camadas de auditoria e seu código-fonte é aberto à inspeção das instituições. Afirma que as urnas são vulneráveis a ataques de hackers. Mentira: elas não entram em rede nem são acessíveis remotamente.
Se é lamentável que as instituições e as inúmeras demonstrações de integridade das urnas não tenham contido a estratégia sediciosa do presidente da República, é também um sinal do fracasso do bolsonarismo que ele não tenha logrado arrastar o mundo-político institucional para suas teses – e práticas – conspiratórias. Nenhum ator político relevante – nem sequer seus asseclas do Centrão –, nenhum dos Poderes da República, nenhuma instituição da sociedade civil corrobora sua desconfiança. Ainda assim, o presidente incitou o Ministério da Defesa, na tentativa de implicar as Forças Armadas, a realizar uma “apuração paralela” e flagrantemente inconstitucional das urnas. Chegou ao absurdo de convocar embaixadores internacionais para declarar que nossa democracia é fraudulenta.
É paradigmático que em 2021, quando o coronavírus ainda dizimava a vida de milhares de brasileiros e fustigava a economia do País, Bolsonaro tenha sequestrado a agenda do Congresso para uma pauta natimorta e sem nenhum clamor popular: o voto impresso. “Vai ter voto impresso em 2022 e ponto final”, disse na ocasião em mais um arroubo autoritário. “Se não tiver voto impresso, é sinal de que não vai ter eleição.” Nada exprime melhor, quase que literalmente, a cortina de fumaça ininterruptamente regurgitada pelo Palácio do Planalto para disfarçar o seu desgoverno que a fuligem preta dos blindados mobilizados por Bolsonaro para intimidar o Parlamento no dia da votação sobre o voto impresso.
A ex-presidente Dilma Rousseff exprimiu os sentimentos de muitos políticos – incluindo o do próprio clã Bolsonaro – ao afirmar que “pode fazer o diabo quando é hora das eleições”. O presidente vai além, e se mostra disposto a fazer o diabo para subvertê-las. Bolsonaro, que encerrou sua carreira militar com ameaças de bombas a quarteis, agora ameaça implodir o resultado das urnas.
É inaceitável que paire, após três décadas de redemocratização, o fantasma do golpe sobre as eleições. Ainda que Bolsonaro reedite com estonteante frequência suas acusações fraudulentas, não é tolerável normalizar esta atmosfera de exceção.
Mas só notas de repúdio não bastam. Há meios legais para punir eventuais atentados ao processo eleitoral. Há a legislação eleitoral, há a Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito e há a Lei dos Crimes de Responsabilidade. Bolsonaro já é investigado pelo TSE por difundir informações falsas sobre o processo eleitoral. A Constituição legou ao Ministério Público, à Polícia Federal, ao Judiciário e ao Congresso todos os instrumentos necessários para impedir que as ameaças de Bolsonaro à liberdade política dos brasileiros e seus crimes contra a vontade do eleitor não fiquem impunes. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Repúdio a Lula e à esquerda leva a expurgo de pastores e até a fiel baleado
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Polarização nas igrejas evangélicas tem gerado apreensão na minoria de crentes progressistas
Anna Virginia BalloussierMaurício Meireles
SÃO PAULO
No dia 11 de agosto, a Congregação Cristã no Brasil, uma das igrejas pentecostais mais antigas do país, sem um histórico de engajamento político relevante, divulgou uma circular.
Assinada por sua cúpula, o Conselho dos Anciães Mais Antigos do Brasil, a nota desaconselhava o voto em candidatos ou partidos contrários "aos valores e princípios cristãos" ou que "proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher".
Foi por causa dessa orientação que o irmão de Davi Augusto de Souza bateu boca com um pregador em Goiânia. Disse que igreja é para falar de Deus, não de política.
Duas semanas depois, um PM que tomou as dores do líder esbarrou com o parente do desafeto e disparou um tiro que atravessou suas duas pernas. Davi tinha ido à igreja naquele dia para tocar na banda.
Ele conta que tirou várias veias no que calcula terem sido umas sete cirurgias desde então. As dores intensas persistem. A carne ainda não cicatrizada é também um símbolo das feridas abertas que esta eleição tem deixado entre evangélicos.
A perseguição acontece sobretudo com crentes que manifestam simpatia a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou à esquerda em geral. A animosidade já levou ao expurgo de pastores desalinhados à maioria bolsonarista na liderança dos templos.
O saneamento ideológico atingiu três pastores que foram ao primeiro encontro da campanha lulista com esse segmento cristão.
Paulo Marcelo Schallenberger tinha moral no Gideões Missionários da Última Hora, congresso pentecostal sediado em Santa Catarina que projetou nomes como o deputado Marco Feliciano (PL-SP) —seu amigo, aliás. Em 2020, Paulo Marcelo chegou a ser candidato a vereador pelo Podemos, partido insuspeito de canhotismo político, que na época abrigava Feliciano. Também já foi filiado ao conservador PSC.
Em 2011, pregou no centenário da Assembleia de Deus no país, honra que dividiu com o pastor Silas Malafaia. Em fevereiro, após a Folha publicar reportagem mostrando sua aproximação com Lula, a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, a mais poderosa das alas assembleianas, emitiu nota dizendo que Paulo Marcelo não era membro dela. Ele diz que a integrava desde 2004.
"Há pastores sendo excluídos de denominações, irmãos crentes proibidos de tocar na banda [da igreja], de tomar a Santa Ceia", diz o hoje candidato a deputado federal pelo Solidariedade, partido na coligação de Lula. "Vão passar muitos anos para a igreja evangélica no Brasil se curar desse mal."
Sergio Dusilek foi chamado de "ridículo" e "falso profeta" na semana em que renunciou à presidência da Convenção Batista Carioca. Estava sob pressão depois de afirmar que os evangélicos deveriam pedir perdão ao ex-presidente.
Aponta um "histórico de semeadura anti-esquerda" para explicar o comportamento dos pares batistas. E brinca: está até "pensando em virar petista, o que nunca fui".
Oliver Goiano, do Núcleo de Evangélicos do PT, diz que, em seu caso, o acossamento precedeu a chegada de Jair Bolsonaro (PL) no poder.
"Em 2018, recebi um telefonema de um amigo pedindo que eu me sentasse. ‘Você foi desligado da Ordem dos Pastores Batistas do Rio.’" Ele pastoreava na maior igreja batista de Maricá (RJ).
O estranhamento, segundo Goiano, começou quando o então prefeito da cidade, do PT, o procurou para falar sobre um seminário teológico. "Muitos pastores não podem falar que votam em Lula. É como se estivessem na Idade Média. Querem a cabeça, querem fogueira."
"Há um clima de intolerância, de desrespeito à opinião", diz Ed René Kivitz, teólogo e pastor da paulistana Igreja Batista de Água Branca. Ele foi alvo de polêmica própria, ao ser desligado da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil após dizer que a Bíblia precisava ser atualizada por conter trechos homofóbicos. A tônica da fala fez dele um pária entre colegas.
Demandas progressistas também provocaram rachas entre presbiterianos. Em julho, o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil proibiu mulheres de pregar, e um grupo veio a público criticar "a violência simbólica que nos foi imposta", esculpida a partir de "interpretações machistas" da Bíblia. A igreja já tinha ensaiado publicar um repúdio ao "pensamento de esquerda", mas recuou.
Aliado de Bolsonaro, Malafaia diz que "você nunca vai ver um líder grande, e estou falando a liderança top", dizer que um crente não pode ser esquerda. "Isso aí é pastor, sabe, de um nível menor."
"Nunca vou dizer na minha igreja, ‘olha, você não vota em Lula’. Eu só mostro o que a esquerda pensa e o que nós pensamos, e quem é que pensa como nós pensamos?"
Segundo o pastor, o que há são "esquerdopatas" que "vêm com essa historinha de vitimização porque um cara teve uma briga". Incidentes como o de Goiás, diz, são raros num contingente tão grande de pessoas. "Num universo de mais de 60 milhões, isso não é nada."
Para Ed René, essa adesão ao conservadorismo que Bolsonaro soube capitalizar tão bem é favorecida por algumas teologias que circulam entre religiosos. Uma delas é a teologia da batalha espiritual.
"Justamente essa noção da luta do bem contra o mal, da luz contra as trevas. Esta linguagem bélica, que transforma o seu próximo não no seu divergente, mas no seu inimigo, alguém a ser eliminado."
A opinião da liderança, irradiada para a base da pirâmide, reforça essa ideia de que há forças demoníacas para derrubar. O pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, é um bom exemplo. Além de fazer parte de um clã de tradição no segmento, ele é o que podemos chamar de influencer evangélico.
Quando um seguidor quis saber se votar em Lula é pecado, respondeu em seu Instagram: "Não. É só falta de conhecimento da seriedade do mal e ideologia maligna por trás da esquerda".
"Quando a pessoa está determinada em te enviar para o inferno, ela vai até as últimas consequências", diz Luciana Pettersen, que vive na mineira São João Del-Rei. Ela se posiciona como feminista negra "e com posições políticas muito claras", o que "costumava ser um problema dentro de algumas igrejas".
"Lembro de uma em especial onde os jovens sempre me atacavam muito, principalmente no pós-culto, falando que eu ia para o inferno por acreditar nas coisas que eu acreditava."
A agressividade extrapolou as palavras no caso do fiel baleado em Goiás. Na cadeira de rodas, Davi ainda não sabe quando vai conseguir voltar após o ataque que sofreu num lugar onde as pessoas se chamam de irmão e irmã.
"Fui beber água, cumprimentei os amigos, esse rapaz estava lá. Cumprimentei e ele já me olhou diferente, sabe? Jogou água no meu rosto, me xingou de vagabundo, sacou a arma e já meteu bala em mim."
Davi diz que o policial que atirou nele sabia que sua família era petista. "Nem todos são. Alguns torcem pro Bolsonaro, outros pro Ciro [Gomes]. Eu sou petista, voto no PT. E vou votar de novo." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Violência política contra a mulher
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A iniciativa da Lei n.º 14.192, de 4 de agosto de 2021, foi muito boa, mas devemos ficar atentos ao seu fiel cumprimento.
Luiza Nagib Eluf, O Estado de S.Paulo
Ninguém há de negar que o Brasil é um país violento contra as mulheres. Os números referentes aos feminicídios são elevados e estamos em 5.º lugar, no mundo, entre as culturas que mais desrespeitam a vida feminina, conforme dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh). Além disso, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021, o País teve, em 2020, 3.913 homicídios contra mulheres; 230.160 casos de lesão corporal dolosa por violência doméstica; e 1.350 feminicídios (crime de morte praticado contra mulheres pelo simples fato de serem mulheres).
Não bastassem esses dados, neste momento eleitoral brasileiro em que há várias mulheres candidatas a cargos públicos, inclusive à Presidência da República, a violência política contra elas parece ter explodido, a ponto de ser criada uma lei para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher (Lei n.º 14.192, de 4 de agosto de 2021). A situação é vergonhosa e trágica, mas, acima de tudo, é inadmissível.
Diante desta realidade nacional, a Lei n.º 14.192, de 4/8/2021, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher em nosso país, dispõe sobre os crimes de divulgação de fato ou vídeo com conteúdo inverídico no período da campanha eleitoral, criminalizando a violência política contra a mulher e assegurando a participação feminina em debates eleitorais, proporcionalmente ao número de candidatas nas eleições.
A iniciativa foi muito boa, mas, como brasileira que conhece o Brasil, creio que devemos ficar atentos ao fiel cumprimento da lei e à garantia de que os direitos e deveres nela previstos serão observados.
O artigo 3.º da lei em tela define “violência política contra a mulher” como sendo toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir seus direitos políticos. Da mesma forma, estão proibidas a divulgação de fatos ou atos que depreciem a condição de sexo feminino e as ofensas em relação à sua cor, raça ou etnia, bem como distribuir ou divulgar vídeos inverídicos ou assediar sexualmente as candidatas.
As penas impostas pela nova lei vão de 1 ano a 4 anos de reclusão e multa, mas elas podem ser majoradas em um terço se o crime é cometido contra gestante, idosa ou pessoa com deficiência.
Em resumo, a nova lei proíbe o menosprezo ou a discriminação à condição de mulher.
Diante do que está escrito no papel, torna-se imperioso lutar para que as determinações contidas na nova lei se transformem rapidamente em realidade. Estamos em pleno período eleitoral e as agressões se multiplicam rapidamente. Surgem grandes quantidades de informações falsas, acusações sem fundamento e até ataques à sexualidade feminina pela concorrência masculina. As mulheres sofrem desrespeito quando são jovens e quando são idosas; quando são feias e quando são lindas; quando são espertas e quando são tímidas; quando são inteligentes e quando são despreparadas. No entanto, é fácil de perceber que, se o Brasil fosse governado por mulheres, nós estaríamos muito melhores. Não que os homens todos mereçam nossa desconfiança – longe disso –, mas renovar os cargos de comando elegendo pessoas que se preocupam verdadeiramente com o bem comum seria uma experiência merecedora de aplausos.
Se queremos um Brasil pacificado, nada pode ser resolvido a tapa ou a bala. As agressões que vêm se repetindo entre partidários de tais ou quais grupos políticos são demonstrações vergonhosas de desrespeito aos direitos da cidadania, evidenciando a selvageria à qual se submete nossa sociedade. Além disso, pouco importa saber o quanto determinado candidato é potente ou viril, isso não pode interferir nas qualidades exigidas de um postulante a presidente da República. Da mesma forma, é impossível manter o respeito ao pleito eleitoral se a comunidade, dividida em grupos belicosos, continuar agredindo, insultando e até matando adversários.
Cabe ao povo brasileiro fazer uma revisão de costumes. Além de respeitar religiosamente os direitos humanos de todas e todos, será preciso buscar a convivência harmônica e pacífica mesmo diante daqueles que pensam diferente, sem jamais radicalizar nas ideias tentando impor um conceito próprio a terceiros, muito menos na base da agressão.
Tudo isso pode parecer óbvio, mas não é. Basta prestar atenção na forma como as mulheres são tratadas para entender que não existe respeito humano no Brasil. Como suportamos tanto ódio? A misoginia torna-se mais evidente quando se trata de mulher com pretensão a cargo público ou outra posição de poder, como concurso público de alto escalão e presidência de grandes empresas ou bancos. Evidentemente, nada disso é justificável.
A Lei n.º 14.192, de 4/8/2021, que pretende evitar a violência política contra a mulher, nem precisaria ter sido escrita, se nossa população tivesse noções mínimas de direitos humanos e de respeito ao próximo.
*ADVOGADA, É PROCURADORA DE JUSTIÇA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SP APOSENTADA. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Jovem é agredida com paulada na cabeça após discussão com apoiador de Bolsonaro no RJ
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Por Letícia França
Confusão aconteceu nesta sexta-feira, 23, no centro de Angra dos Reis; a vítima foi socorrida para o hospital, onde recebeu sete pontos no ferimento
Uma jovem de 19 anos foi agredida por um apoiador de Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, 23, na cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. A denúncia foi feita pela irmã da vítima, que também estava no local da discussão. De acordo com o relato, o agressor utilizou um pedaço de madeira para atingir Estéfane de Oliveira Laudano.
De acordo com a 166ª Delegacia Policial de Angra dos Reis, todos os envolvidos já prestaram depoimento. O autor foi autuado por lesão corporal e o caso foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).
A confusão teria começado após discordância política. “Estávamos em um bar entre amigos e comentamos sobre a publicação de um colega que dizia ‘Minha bandeira é verde e amarela. Meu voto é 13′. Achei engraçado e comentei em voz alta que não tinha amigo bolsonarista”, contou Esther de Oliveira Laudano, irmã da vítima. Segundo ela, após ouvir o comentário, um outro frequentador do bar se aproximou do grupo e gritou palavras de apoio a Bolsonaro. “Nós continuamos conversando e o ignoramos, mas ele seguiu com as provocações”, acrescentou.
Conforme o relato de Esther, o homem teria insistido nos insultos e ofensas contra ela e a irmã. “A dona do bar pediu para ele ir embora porque estava causando um alvoroço desnecessário no local”, explica. A jovem complementa que o homem chegou a se afastar, mas voltou pouco tempo depois com um pedaço de madeira e afirmando que elas “iriam apanhar igual a um homem”. “Minha irmã estava usando uma peruca. Ele a tirou, jogou no chão, segurou os braços dela e a acertou com a madeira”, relembra Esther.
Estéfane de Oliveira foi atingida na cabeça. A irmã conta que chegou a avançar sobre o agressor e desferir socos contra ele, mas parou no momento em que viu a caçula ensanguentada. A vítima foi socorrida para um hospital próximo ao bar, na região central de Angra dos Reis. Na unidade, ela precisou levar sete pontos na cabeça. Agora, já recebeu alta e segue em recuperação em casa.
Logo após a confusão, a irmã foi até a 166ª Delegacia Policial de Angra dos Reis para fazer a denúncia. Ela conta que os policiais fizeram uma ronda na região e conseguiram prender o suspeito da agressão. “Os próprios moradores seguraram ele na rua”, explica Esther. O homem foi levado para a delegacia para os procedimentos cabíveis. /COLABOROU JESSICA BRASIL SKROCH. Fonte: https://www.estadao.com.br
Polêmica racial envolvendo ACM Neto causa reviravolta na eleição da Bahia
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Polêmica racial envolvendo ACM Neto causa reviravolta na eleição da Bahia
Declaração de ex-prefeito de Salvador é alvo de sátiras de internautas e tem sido usada pela campanha do PT no horário eleitoral
'Bronzeamento' de ACM Neto em entrevista repercutiu nas redes sociais Reprodução
A corrida eleitoral para o governo da Bahia sofreu uma reviravolta nos últimos dias por causa de uma polêmica racial. Depois de meses em larga vantagem nas pesquisas, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) perdeu 5 pontos percentuais no último levantamento do Datafolha, enquanto o petista Jerônimo Rodrigues subiu 12 pontos.
Se confirmado o viés de queda, a eleição, que caminhava para ser decidida no primeiro turno, com vitória do ex-prefeito, agora pode vir a ter uma segunda rodada.
Observadores da política local atribuem a guinada a um movimento politicamente desastroso: depois de se declarar pardo à Justiça Eleitoral, ACM Neto compareceu a uma entrevista na TV local exageradamente bronzeado e questionou os critérios do IBGE para classificação de raça no Brasil.
Desde que se declararam pardos à Justiça eleitoral, em agosto, ACM Neto e a vice, a empresária Ana Coelho (Republicanos), vinham sendo acusados de fraude.
Embora não haja cotas ou fundos especiais para negros, como os partidos tradicionalmente privilegiam homens e brancos no rateio dos recursos, colocar uma candidatura competitiva de um governador “negro” em um dos maiores colégios eleitorais do País pode servir à narrativa de que aquela legenda cumpriu o critério racial e não escanteou negros na divisão do dinheiro.
ACM Neto já havia se declarado pardo em 2016, mas na ocasião não houve polêmica a respeito. Desta vez, a vice Ana Coelho recuou e mudou sua declaração de cor para branca, mas ACM Neto manteve o status de pardo, que buscou justificar na entrevista concedida à TV Globo local na segunda-feira (12).
A emenda, porém, saiu pior do que o soneto. Além de surgir com um bronzeado destoante do seu tom de pele natural – o que levou os adversários a acusarem o ex-prefeito de ter feito bronzeamento artificial para aparecer na TV – , ele se enrolou ao dizer que jamais se consideraria negro.
“Eu me considero pardo. Você pode me colocar ao lado de uma pessoa branca, há uma diferença bem grande. (Agora) Negro, não. Não diria isso, jamais”, declarou ACM.
Só que, pelos critérios do IBGE, são considerados negros os pardos e pretos. Questionado sobre isso pelos jornalistas, ACM respondeu: “Então é erro do IBGE, não é meu. Simplesmente isso”.
Um detalhe: o DEM, partido que deu origem à União Brasil na fusão com o PSL, foi autor de uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra as cotas raciais em universidades públicas, o que também tem sido explorado contra o adversário.
A Bahia é o estado com a maior proporção de negros no Brasil. Em Salvador, cidade em que ACM Neto tem mais força eleitoral, 80% dos habitantes se declaram negros.
Até a entrevista, o episódio vinha sendo explorado pelo PT e outros adversários, mas sem grande repercussão. Depois, as declarações de ACM Neto se tornaram o assunto dominante na campanha.
O nome do ex-prefeito ficou nos trending topics do Twitter por três dias consecutivos, e as imagens da entrevista – especialmente as que ressaltam o tom do bronzeado – se tornaram alvo de memes e vídeos satíricos.
“É o ACM Negro deliberando melanina com a chave de Wakanda na mão”, ironiza um dos vídeos, em referência ao país fictício no qual é ambientado o filme Pantera Negra.
Outro vídeo faz paródia de um material institucional da prefeitura soteropolitana. “Para entender melhor sua descendência africana, pesquise no site da prefeitura o nosso projeto ‘ACM: Black or White?’, que explica que o que importa é o que você acha e pau no c* do IBGE!”, brinca o humorista Daniel Ferreira.
Três dias após a entrevista, a coligação do candidato petista passou a exibir uma peça de propaganda no horário eleitoral em que populares criticam a postura de ACM Neto.
Nela, o ex-prefeito é acusado de “apropriação racial”, de “impedir que pessoas negras entrem na política” e de ser “um homem branco, cheio de privilégios”. “Você acha isso correto?”, provoca o narrador do vídeo petista.
A ofensiva levou a campanha do União Brasil a acionar três vezes o Tribunal Regional Eleitoral baiano para retirar o vídeo do ar, mas todos os pedidos foram negados.
Nós procuramos a equipe de ACM Neto, que enviou uma nota negando ter tido qualquer prejuízo com a polêmica racial. “A campanha faz diversos grupos qualitativos em todo o estado e nada leva a crer que a população tenha sido impactada por esse ataque da oposição, que inclusive levou o tema para a propaganda eleitoral.”
A nota, porém, não explica o que teria provocado a queda no Datafolha. Pelo contrário. De acordo com ela, as pesquisas têm oscilado de acordo com o instituto, mas todas mostram ACM vencendo com “aproximadamente 60% dos votos válidos” – não é o caso do Datafolha.
Já o PT considera que o episódio será seu passaporte para a vitória, e por isso pretende continuar explorando a alegada negritude de ACM Neto em seus programas eleitorais.
Levantamento digital feito por adversários de ACM Neto aponta que, no universo de menções à entrevista, 93% dos comentários foram negativos, 5% neutros e apenas 2% positivos. Os termos mais associados ao ex-prefeito de Salvador foram “bronzeamento facial”, “piada”, “pardo”, “oportunismo” e “IBGE”. Fonte: https://oglobo.globo.com
'Mito'
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Movimentos fascistas costumam se escorar na farsa do 'escolhido por Deus'
Fábio Tofic Simantob
Advogado criminalista, é mestre em direito penal pela USP e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim)
Apesar de Jair Bolsonaro ser filho da velha política, o fenômeno bolsonarista não é. O fenômeno nasce a partir da ideia de "mito", que em nada condiz com a do medíocre deputado federal que fora até 2018. É a ideia de "mito" que o catapulta ao posto mais importante da República.
Sucede que "mito é uma narrativa", escreve o professor Everardo Rocha na sua contribuição para a coleção "Primeiros Passos", da Editora Brasiliense, na década de 1980. Prossegue ele: "O mito não fala diretamente, ele esconde alguma coisa (...) O mito é uma coisa inacreditável, algo sem realidade, é uma mentira; sua verdade, consequentemente, deve ser procurada num outro nível, talvez outra lógica".
Bolsonaro mais de uma vez se disse escolhido por Deus para presidir o Brasil. Os movimentos de cunho fascista costumam se ancorar nessa premissa. Usam termos que remetem a uma escolha divina, a um poder ancestral. Por isso seus líderes recebem designações como mito, "führer", "duce".
Em uma obra pouco conhecida ("Aspectos do Drama Contemporâneo"), que analisa aspectos psicológicos do fenômeno do nazismo na Alemanha, Carl Jung considera que a sociedade foi acometida por uma epidemia psíquica a partir do momento em que o inconsciente coletivo do povo alemão foi capturado por Hitler e seus asseclas.
Jung traça um perfil psicológico de Hitler, considerando-o uma manifestação simbólica do antigo deus germânico Wotan.
De fato, ninguém melhor do que um representante de Deus para conseguir dialogar com os demônios que a razão não consegue dominar. As formas racionais e pacíficas de solução de conflitos são encaradas como covardia e permissividade, típicas de um homem fraco, rendido às peias do comunismo cultural.
Daí a repulsa desses movimentos a tudo que vem da ciência e da razão. Tudo que tenta racionalizar e de alguma forma aplacar as manifestações puras que brotam da alma são tentativas de manipular a mente do povo.
Os movimentos fascistoides são contra o que Bolsonaro e seus seguidores gostam de chamar de "intelectualismo". Preferem a superfície dos sentimentos primitivos às construções do pensamento filosófico que, ao longo dos séculos, sedimentaram os valores da civilização.
Em "Minha Luta", Hitler atacava o bolchevismo judaico, ao mesmo tempo em que acusava os judeus capitalistas americanos de quererem dominar o mundo (uma cópia fajuta de "Os Protocolos dos Sábios de Sião", talvez a primeira fake news do mundo moderno). Ou seja, teses absolutamente contraditórias, que não operavam com a razão, nem com a lógica, e muito menos com a verdade, mas com o ódio ancestral do povo alemão pela imagem de um judeu medieval que só existia em seu inconsciente atávico. O judeu alemão era uma minoria insignificante, já em grande parte assimilada à sociedade alemã.
Bolsonaro toca no mesmo diapasão. Acusa empresários de globalistas por financiarem causas sociais e progressistas mundo afora —como é o caso de George Soros, mais de uma vez alvo de ataques de filhos do presidente em redes sociais.
Assim como a Alemanha e o mundo eram vítimas de um plano judaico para dominar o planeta, agora é a vez de progressistas —banqueiros ou sindicalistas, jornalistas ou políticos, não importa— serem acusados de usar métodos sub-reptícios para capturar todos os âmbitos da vida nacional. Vão se infiltrando na imprensa, nas universidades e nas escolas porque querem conquistar tudo com sua ideologia pagã. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
As pessoas tendem a achar que o que define o nazismo é Auschwitz. Auschwitz foi o nazismo levado às últimas consequências. O nazismo, como fenômeno político, pode se reproduzir em maior ou menor grau em outros momentos e outros lugares, ainda que sem a violência do nazismo alemão.
Se é verdade que a história se repete como farsa, Bolsonaro é o produto mais bem acabado dessa história —ou dessa farsa, se preferirem.
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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