Democracia na UTI – reagir é preciso
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Democracia na UTI – reagir é preciso
A História mostra que projetos construídos de costas para a política terminam em decepção ou autoritarismo
Recente editorial do jornal O Estado de S. Paulo precisa ser lido e refletido por todos aqueles que, sinceramente, prezam a democracia. O espectro do niilismo político é o título da nota publicada no sábado, 24 de agosto, data que evoca o suicídio do presidente Getúlio Vargas, político e estadista que marcou fortemente a história deste país.
O editorialista fez uma análise preocupante a respeito da eleição municipal da maior cidade brasileira. Radicalização e extrema polarização são, mais uma vez, os ingredientes que vão sendo aquecidos no caldeirão da ausência de propostas, incapacidade de diálogo e morte da política.
O editorialista foca sua lente num personagem novo, mas que traz no seu DNA o velho veneno de demonização da política: Pablo Marçal. Dizendo barbaridades, não apresentando propostas sérias e apostando no conflito radical, Marçal tenta cativar o eleitorado de Jair Bolsonaro. Nada disso, no entanto, justifica a indevida censura judicial que lhe foi imposta.
Bolsonaro, embora entranhado no sistema (foi deputado em várias legislaturas), cresceu à sombra da descrença na política e da defesa de valores conservadores. Marçal, como bem frisou o editorialista, “usa a impopularidade da esquerda como pretexto para atacar seu verdadeiro alvo: a política”. Tem o perfil de um aventureiro.
Os aventureiros são sedutores, bons encantadores de serpentes. Mas a História mostra que projetos construídos de costas para a política terminam em decepção ou no autoritarismo dos pretensos salvadores da pátria.
Vamos, amigo leitor, fazer um exercício retrospectivo. Em 1964, sob o pretexto de preservar a democracia, os militares tomaram o poder. E o que se anunciava como intervenção transitória, com ânimo de devolver o poder aos civis, se transformou numa longa ditadura. A imprensa foi amordaçada. Lideranças foram suprimidas. Muitas injustiças foram cometidas em nome da democracia. Lembro-me da decepção de um primo-irmão de minha mãe, o professor Antonio Barros de Ulhôa Cintra, ex-reitor da Universidade de São Paulo e ex-secretário da Educação do Estado. Seu espírito liberal e independente, incompatível com a mentalidade de pensamento único que então prevalecia, provocou a ira dos donos do poder. Como ele inúmeros brasileiros, cultos e intelectualmente inquietos, escorregaram para o limbo do regime. Resistiram empunhando as armas da inteligência e da autoridade moral que não cede à sedução do poder.
A atual situação do Brasil preocupa. E muito. O desencanto da população é imenso. Os Poderes da República, isolados no bem-bom da Ilha da Fantasia, vivem de costas para a cidadania.
O Congresso Nacional, com exceções que devem ser registradas, está de costas para a sociedade. Está “se lixando” para a opinião pública. O abuso das emendas parlamentares, que o ministro Flávio Dino tentou, corretamente, dar um freio de arranjo, acabou vencendo a parada.
A política brasileira está podre. Ela é movida a dinheiro e poder. Dinheiro compra poder e poder é ferramenta poderosa para obter dinheiro. É disso que se trata. O poder arrecada o dinheiro que vai alçar os candidatos ao poder. Saiba que, atualmente, você faz pouca diferença quando aperta o botão verde de alguma urna eletrônica para apoiar aquele candidato que, quem sabe, possa virar o jogo. No Brasil, não importa o Estado, a única coisa que vira o jogo é uma avalanche de dinheiro. O jogo é comprado, vence quem paga mais.
O sistema eleitoral brasileiro está bichado e só será reformado se a sociedade pressionar para valer. Hoje, teoricamente, as eleições são livres, embora o resultado seja bastante previsível. Não se elegem os melhores, mas os que têm mais dinheiro para financiar campanhas sofisticadas e boa performance no mundo digital. A máquina de fazer dinheiro para perpetuar o poder tem engrenagens bem conhecidas no mundo político: emendas parlamentares, convênios fajutos e licitações com cartas marcadas.
As classes dirigentes estão entupidas de privilégios. Os partidos são balcões de negócios. O Executivo gasta muito e mal. Promove a jogatina, uma verdadeira tragédia moral, para faturar com impostos. E agora nos brinda com o maior IVA do mundo. O Judiciário está insensível e politizado. A Corte Suprema é hoje uma das instituições de menor credibilidade. O fato de que um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) não possa ir a um restaurante com tranquilidade é muito preocupante. Mas mais preocupante é a ausência de uma autocrítica que tente entender as razões de tamanha rejeição.
O cenário é desanimador? Sim. Mas quem escreve esta coluna, por paradoxal que possa parecer, é um otimista. Acredito no Brasil e na democracia. Como bem sublinhou o editorial do Estadão, “não se pode abafar o grito de desespero nem menosprezar a revolta do eleitorado. Há algo de podre na democracia brasileira. Mas não se reformará a democracia destruindo a democracia”. Diante de manifestações tão formidáveis de antipolítica, é preciso valorizar ainda mais a política, o diálogo e as posturas propositivas.
O Brasil não pode continuar refém de aventureiros. Precisa de estadistas que sejam capazes de descortinar sonhos e projetos do tamanho deste país continental.
*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Ônibus que tombou em rodovia com fiéis de uma igreja do Leblon teve o pneu furado antes do acidente
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Uma vítima relatou que o motorista tentou trocar de veículo para voltar de Aparecida e seguir viagem: 'os socorristas disseram que poderíamos ter morrido'
Marlene Silva de Oliveira, uma das vítimas, relatou que o motorista tentou trocar de veículo para voltar de Aparecida e seguir viagem: 'os socorristas disseram que poderíamos ter morrido' — Foto: Divulgação
Por Lívia Neder
— Rio de Janeiro
O ônibus que transportava 46 fiéis da Paróquia dos Santos Anjos, no Leblon, que voltavam de Aparecida do Norte (SP), e tombou no KM Zero da BR 465 (antiga Rio-São Paulo), na altura de Nova Iguaçu, na noite deste sábado (31), teve o pneu furado antes do acidente. Uma vítima relatou que o motorista tentou trocar o veículo para seguir viagem, mas, sem sucesso, resolveu o problema em um borracheiro na estrada.
Muito assustada com tudo que passou, Marlene Silva de Oliveira esteve na paróquia, na manhã deste domingo (1°), para buscar seus pertences que ficaram no ônibus. Moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ela ganhou a viagem de presente da patroa, que é moradora do Leblon e paroquiana. O ônibus saiu de São Paulo às 15h e o acidente aconteceu por volta das 21h50.
—A gente estava meio que cochilando na hora do acidente. Logo no início da viagem, o pneu tinha furado e o motorista disse que pediu para trocarem o ônibus, mas ninguém chegou. Parece que avisaram que era melhor ele procurar um borracheiro. Ele procurou, deu um jeito, e a gente continuou a viagem. Não sei exatamente como aconteceu o acidente. A gente acordou no susto, parecia cena de guerra, todo mundo desesperado, caído. Machuquei um pouco o ombro, mas precisei ser forte porque tinha gente pior e muito mais nervosa, então tentei acalmar as colegas. Eram muitas senhoras e crianças. Foi um susto muito grande — relatou a vítima.
Segundo Marlene, os socorristas disseram que, pela forma que foi o acidente, todo mundo poderia ter morrido:
—Foi um livramento. Graças a Deus todos estavam de cinto, porque poderia ter sido muito pior.
De acordo com a Arquidiocese do Rio, 20 pessoas que estavam no ônibus e apresentaram ferimentos leves chegaram a receber atendimento médico no Hospital Geral de Nova Iguaçu e foram liberadas. O padre Thiago Azevedo, pároco da Paróquia dos Anjos, foi ao hospital acompanhar as vítimas durante a madrugada.
A missa deste domingo foi celebrada pelo padre Wagner, que agradeceu o "livramento":
—Rezamos essa missa agradecendo pelo livramento e pedindo pronta recuperação para os feridos do acidente. As vítimas viraram a noite no hospital e o padre Thiago chegou aqui na igreja às 7h, mas já está todo mundo em casa, graças a Deus.
A Polícia Civil informa que o caso foi registrado na 48ª Delegacia de Polícia (Seropédica). Testemunhas estão sendo ouvidas e diligências estão em andamento para apurar as circunstâncias do acidente e esclarecer todos os fatos. https://oglobo.globo.com
Como ajudar quem tem depressão e pânico.
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Doenças mentais não se curam com trabalho, chá de camomila, sono ou reza
Jornalista e roteirista de TV.
Estávamos na porta de casa, prontos para sair e curtir uma noite de Rock in Rio. Entradas VIP, com uma porção de mordomias que fazem diferença num festival que recebe milhares de pessoas a cada dia. A programação era ótima e ainda passaríamos a noite com amigos queridos. Antes de cruzar o batente, olhei para o meu marido e disse "não consigo". Comecei a tremer só de imaginar aquele mar de gente, música alta e fui engolida pelo medo de ter uma crise de pânico naquele tipo de condição.
O que eu recebi em troca foi um abraço. Ouvi dele que estava tudo bem, que poderíamos ver os shows em casa, tinha cerveja na geladeira, ele pediria pizza. Foi uma rotina nos meus dois primeiros anos de diagnóstico de Síndrome do Pânico, quando eu ainda não entendia quais eram os sinais de uma crise e tinha medo de que ela voltasse a acontecer como já havia, dentro de um restaurante, num baile de Carnaval, no provador de uma loja.
Certa vez tive que me deitar no chão do banheiro do aeroporto, encostar o rosto no piso frio e esperar que o remédio fizesse efeito e o sentimento de quase morte me abandonasse. Diante disso, muitas vezes, escolhia ficar em casa.
E tinha a depressão que me causava um vazio de sentimentos, nenhuma disposição de interagir, nenhum estímulo era suficiente para me comover. Mas o que eu me lembro de todo esse tempo é que tive apoio, empatia, carinho, amor, mesmo quando fui incapaz de retribuir.
Ajudar quem tem doenças psicológicas não é fácil, longe de ser. Mas um bom começo é aceitar e acreditar. Depressão não é frescura, não é preguiça, não é falta de fé, não é falta de louça para lavar, não é doença de rico. Sempre que escrevo sobre o assunto, recebo dezenas de mensagens de pessoas que não tem apoio das pessoas mais próximas, que minimizam o problema e adoram dar soluções mágicas. Depressão não se cura com trabalho, chá de camomila, sono ou reza.
Quando olho para meu marido, minha família e amigos próximos, não sei como eles aguentaram os meus períodos mais barra-pesada, quando eu só queria me recolher dentro de mim mesma, dormir ou beber, qualquer coisa que anestesiasse meus sentimentos.
O que eles me ofereceram foi presença. Estiveram sempre com uma mão estendida para quando eu tentasse me agarrar a alguma esperança de ficar bem. Não significa que eu não tenha me sentido sozinha ou revoltada. Hoje, entendo que esses sentimentos eram todos sobre a doença, que eu mesma demorei a aceitar. Eu tinha sido abandonada pela alegria, sentia raiva da dor que me afligia e eu não conseguia entender. Mas as pessoas que estavam no meu entorno formaram uma rede que me protege de mim mesma quando não consigo ser quem sempre fui.
Meu marido e meus pais jamais tentaram atropelar o tempo da minha recuperação. Nunca me forçaram a fazer nada ou trataram a depressão como a maioria ainda faz, como uma doença menor que pode ser resolvida com uma noite de sono, um banho de mar, exercício físico, um pouco de sol, boas companhias. Tudo isso pode ajudar, mas essa crença pelo paliativo apenas reforça o preconceito.
Embora cada pessoa precise de tratamento individualizado e reaja de forma distinta aos estímulos que recebe, se você convive com alguém que tem depressão ou/e pânico ou que demonstre sintomas de doenças psicológicas, ofereça apoio. Converse sobre os tratamentos, pergunte sobre os resultados, sobre os médicos. Mostre-se interessado e confiante no processo. Comente sobre as coisas que lê sobre o assunto, sem que seja o único assunto.
Você não terá a solução, talvez nem as melhores palavras. Nem sempre sabemos o que dizer diante do sofrimento alheio. Diga que está disponível, ofereça colo, consolo, companhia. Não deixe de estimular pequenas coisas no dia a dia ou convidar para programas mais elaborados, mas sem pressão. Dê espaço para que o outro respire, se recupere, mas sem se ausentar tanto para que ele possa se sentir abandonado e sem importância.
Apoie o Setembro Amarelo, uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2013. O mês foi escolhido porque desde 2003 o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
A tragédia do carisma
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A tragédia do carisma
Biden, ao reconhecer que a idade avançada não lhe facultaria disputar a reeleição, desistiu da empreitada. Lula poderia mirar-se nesse exemplo?
Por Paulo Roberto de Almeida
Certos líderes políticos possuem carisma, outros, não. Pode-se perder o carisma original e recuperá-lo. Mas existem características únicas no fenômeno, o que o torna intransmissível a outrem, ainda que discípulo do detentor original.
Winston Churchill adquiriu carisma como jornalista e voluntário nas forças britânicas que lutaram no Sudão e na África do Sul. Tornou-se lorde do Almirantado na Grande Guerra, mas perdeu o cargo no desastre de Dardanelos. Recuperou o prestígio ao se engajar nas forças britânicas que lutavam contra as tropas do império alemão na França. Foi ministro do Tesouro em 1925, mas a insistência em retomar o padrão-ouro na paridade de 1914 levou à crise de 1926, que provocou sua queda. Ficou no ostracismo, clamando contra os totalitarismos da época: só voltou ao poder no desastre de 1940 e na guerra contra o nazismo. A despeito do carisma perdeu as eleições de 1945 para o Labour.
Franklin Roosevelt conduziu os Estados Unidos na depressão dos anos 1930 e na guerra em duas frentes a partir de 1941, mas não transmitiu nenhum carisma a seu sucessor, Harry Truman. Dwight Eisenhower não tinha carisma, mas sim prestígio, como comandante das forças aliadas contra o domínio nazista na Europa. John Kennedy, em contrapartida, adquiriu um prestígio extraordinário por ser o mais jovem presidente da história americana, adquirindo carisma sobretudo ao confrontar os soviéticos no episódio dos mísseis soviéticos em Cuba.
O vice-presidente Lyndon Johnson, político tradicional do Texas, não tinha nenhum carisma; a guerra do Vietnã demoliu sua imagem, tanto que optou por não disputar novo mandato. O vencedor na disputa de 1968, Richard Nixon, adquiriu prestígio ao reinserir a China comunista no sistema mundial, mas perdeu ao se tornar um vulgar larápio no escândalo do Watergate. Ronald Reagan tinha prestígio vindo de Hollywood; ganhou carisma ao lograr, junto com Margaret Thatcher, implodir a União Soviética; seu vice, Bush pai, foi derrotado na tentativa de reeleição pelo carismático Bill Clinton, um grande animal político (a despeito das escapadas). Barack Obama tinha grande carisma, o que não impediu a vitória de um bizarro outsider, Donald Trump. Seu sucessor em 2020, Joe Biden, vice de Obama, desistiu da reeleição em 2024, pelo peso da idade.
No Brasil, Getúlio Vargas construiu seu carisma pelo controle da máquina de propaganda do Estado Novo. Juscelino Kubitschek ganhou o seu, ao fazer o Brasil crescer “50 anos em 5″, com democracia. O carisma de Jânio Quadros, um populista dos mais notáveis, sobreviveu à renúncia aos seis meses de governo e conseguiu preservar capital político para retornar como prefeito da maior cidade do País. Não se pode dizer que os presidentes militares tenham exibido qualquer carisma, o que tampouco foi o caso do presidente da redemocratização, José Sarney, embora o candidato eleito, Tancredo Neves, tivesse enorme prestígio político ao encerrar 21 anos de ditadura militar. Fernando Collor, o primeiro eleito por voto direto desde 1960, começou com grande sucesso ao dar início a importantes reformas econômicas, mas soçobrou ao serem revelados os negócios obscuros de um assessor.
Não se pode dizer que Itamar Franco, alçado presidente, tenha tido carisma, mas o sucesso do Plano Real levou seu ministro da Fazenda pouco carismático a vencer duas eleições no primeiro turno. Finalmente, chegamos a uma figura política de fato carismática, Lula da Silva, embora eleito apenas na quarta tentativa, depois de esconder seus instintos intervencionistas; reforçou seu lado populista na enorme expansão dos programas sociais criados por Fernando Henrique Cardoso. Saiu ungido por 80% de aprovação popular, o que lhe garantiu prestígio suficiente para retornar ao poder em 2023, a despeito de ter presidido o mais vasto esquema de corrupção da história do País.
No intervalo, uma administradora medíocre, Dilma Rousseff, sem qualquer carisma, conseguiu produzir a maior recessão da história econômica do Brasil. Jair Bolsonaro, por sua vez, era mais um fenômeno fabricado pela manipulação das redes sociais do que um movimento político organizado. A polarização contra o lulopetismo preservou-lhe inusitado prestígio, mesmo em presença de fraudes, malversações e até golpismo. Tal cenário pode suscitar novo embate entre petismo e antipetismo em 2026.
Lula continua com carisma, mais disseminado entre os beneficiários da assistência pública do que entre eleitores de regiões avançadas; os mapas eleitorais do PT confirmam que, dos anos 2000 à atualidade, ele se transformou no partido dos “grotões”. A tragédia do carisma de Lula, que é a de todos os carismas, é o fato de o fenômeno não ser transmissível a qualquer sucessor designado; mas o próprio Lula encarregou-se de sabotar eventuais discípulos dotados de voo próprio.
Biden, ao reconhecer que a idade avançada não lhe facultaria disputar a reeleição, desistiu da empreitada. Lula, que também enfrenta o peso da idade e um carisma declinante, poderia mirar-se nesse exemplo para optar por não enfrentar nova difícil disputa em 2026?
*DIPLOMATA E PROFESSOR
Fonte: https://www.estadao.com.br
Ladrão de carro arranca aliança de vítima com os dentes
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Vítima foi rendida em São Cristóvão por 6 bandidos. Um deles assumiu a direção, perdeu o controle do carro e acabou batendo. Na fuga, criminoso exigiu que professor colocasse o dedo na boca para tirar o anel à força.
Por Jefferson Monteiro, Bom Dia Rio
Professor teve aliança arrancada do dedo a dentadas — Foto: Reprodução/TV Globo
Um professor foi assaltado por ladrões de carro na manhã desta terça-feira (27) em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Um dos bandidos exigiu que ele entregasse a aliança, mas, como o anel não saía, o criminoso arrancou, com os dentes, a joia do dedo da vítima.
O ataque foi por volta das 6h40, nas imediações da Quinta da Boa Vista, e testemunhas acreditavam ser um arrastão. O professor vinha de Teresópolis, na Região Serrana, dirigindo um Volkswagen Nivus com a filha no carona quando foi fechado por um Honda HR-V, onde havia 6 bandidos.
Pelo menos 5 saltaram armados de pistolas e renderam o motorista. Ele não reagiu e deixou o automóvel. Um criminoso assumiu a direção do Nivus, mas, como era câmbio automático, perdeu o controle e bateu no HR-V. Esses 2 veículos acabaram abandonados pela quadrilha.
Enquanto comparsas rendiam um Jeep Renegade para fugir, um ladrão exigiu a aliança do professor — foi quando, diante da dificuldade de retirá-la, ele deu a ordem para que a vítima colocasse o dedo em sua boca e, a dentadas, conseguiu arrancar. No fim, o professor ainda foi agredido com uma coronhada. Celulares e carteiras também foram levados.
A polícia descobriu que o HR-V constava como roubado e foi adulterado, circulando com outra placa. Fonte: https://g1.globo.com
O pequeno país com a taxa de suicídios mais alta do mundo
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A BBC conversou com uma mãe que perdeu um filho, uma assistente social e um parlamentar para descobrir o que está por trás das estatísticas em Lesoto
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Tlohang falou com a mãe sobre seus problemas de saúde mental - BBC
Da estrada principal até a casa de Matlohang Moloi, de 79 anos, há uma subida íngreme pelas montanhas que fazem de Lesoto um dos países com a altitude mais elevada do mundo.
Esta mãe de 10 filhos me recebe em sua casa bem cuidada —e me mostra fotos da família numerosa. Estou aqui para conversar com ela sobre um de seus filhos: o primogênito, Tlohang.
Aos 38 anos, ele se tornou parte de uma estatística sombria. Lesoto, apelidado de "reino no céu" devido à sua altitude, tem a taxa de suicídios mais alta do mundo. "Tlohang era um bom filho. Ele me contou sobre seus problemas de saúde mental", diz Moloi.
"Ele veio até mim e disse: 'Mãe, um dia você vai ouvir que tirei minha vida'." "A morte dele me doeu muito. Eu realmente gostaria que ele pudesse ter explicado com mais detalhes o que estava acontecendo com ele. Mas ele tinha receio de que, se contasse às pessoas, pensariam que ele era uma pessoa fraca, incapaz de resolver seus próprios problemas."
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 87,5 pessoas por 100 mil habitantes tiram a própria vida todos os anos em Lesoto. Este número é mais que o dobro do registrado pelo próximo país da lista, a Guiana, na América do Sul, onde a taxa de suicídio é de pouco mais de 40 por 100 mil habitantes.
Também é quase dez vezes a média global, que é de nove suicídios para cada 100 mil pessoas. Esta é uma estatística que ONGs, como a HelpLesotho, estão determinadas a mudar, munindo os jovens com as habilidades necessárias para gerenciar sua saúde mental.
Terapia de grupo
Na cidade de Hlotse, a cerca de duas horas de carro da capital Maseru, participei de uma das sessões regulares de terapia de grupo para mulheres jovens, dirigidas pela assistente social Lineo Raphoka.
"As pessoas pensam que isso vai contra os nossos princípios, as nossas experiências culturais, a nossa espiritualidade como africanos e como comunidade em geral", diz Patience, de 24 anos, ao grupo.
"Mas também estamos escondendo o que está acontecendo. Perdi três amigos por suicídio. Eu mesma tentei." Todos aqui já tiveram pensamentos suicidas ou conhecem alguém que cometeu suicídio.
Ntsoaki, de 35 anos, se emociona ao compartilhar sua história com o grupo. Ela foi estuprada no hospital. "O médico me disse que eu era muito atraente. Aí ele sacou uma arma, e me disse que queria ter prazer comigo, e que se eu não deixasse, me mataria."
"Pensei em suicídio, e que era a única solução. Não consegui, não tive forças para fazer isso. A única coisa que me manteve em movimento ou viva foi o rosto dos meus irmãos. Eles acham que sou forte, mas sou fraca", relatou.
O grupo garante que ela é forte por dividir seus sentimentos. Quando a sessão termina, todas as mulheres conversam e sorriem, dizendo que estão se sentindo melhor por terem compartilhado suas histórias.
As razões pelas quais as pessoas tiram a própria vida são muitas vezes complicadas - e é difícil isolar uma única causa.
Padrões que ajudam a entender
Apesar disso, Raphoka diz que vê padrões que explicam por que o Lesoto tem uma taxa de suicídio tão alta. "Na maioria das vezes, são pessoas que passam por situações como estupro, desemprego, perda de um ente querido. Fazem uso abusivo de drogas e álcool."
De acordo com um relatório de 2022 do World Population Review, 86% das mulheres em Lesoto sofrem violência de gênero. Enquanto isso, o Banco Mundial afirma que dois em cada cinco jovens não têm emprego nem formação.
"Não recebem apoio suficiente de suas famílias, amigos ou de qualquer tipo de relacionamento que tenham", acrescenta Raphoka.
É algo que você ouve com frequência em Lesoto. As pessoas dizem repetidamente que não se sentem à vontade para falar sobre sua saúde mental - e que outros podem julgá-las.
Uma noite, sentado em um bar em Hlotse, onde a clientela masculina bebe cerveja local e conversa sobre política enquanto assiste a uma partida de futebol na TV, mudo o assunto para saúde mental.
"Nós conversamos sobre isso, dizemos: 'vamos nos abrir'", afirma Khosi Mpiti. Alguns receiam que, se revelarem demais, isso possa gerar fofocas sobre eles. Apesar disso, Mpiti diz que as coisas estão melhorando.
"Como grupo [de amigos], nos apoiamos muito. Se tenho um problema, eu conto ao grupo, e nos apoiamos mutuamente."
No entanto, quando as pessoas buscam ajuda profissional, enfrentam dificuldades no sistema público de saúde. A única unidade psiquiátrica do país foi criticada no ano passado pelo ombudsman, funcionário cuja função é zelar pelos interesses públicos, por não ter um psiquiatra desde 2017.
Ele também destacou abusos generalizados, incluindo "condições que violam os direitos humanos". Tampouco havia uma política nacional de saúde mental para lidar com a crise, embora o governo, eleito em outubro de 2022, diga que está em processo de elaboração de uma.
"O problema de saúde mental se tornou uma epidemia", admite Mokhothu Makhalanyane, parlamentar que dirige uma comissão voltada para questões de saúde.
"Estamos nos certificando de que a mensagem chegue a todos, desde escolas primárias até escolas secundárias, e locais onde os jovens se reúnem, como torneios de futebol", disse ele à BBC.
"A política também será específica em termos de tratamento, e permitirá que as pessoas afetadas se submetam à reabilitação." Segundo ele, Lesoto pode aprender com sua luta contra o HIV, vírus causador da Aids.
Falar abertamente
Em 2016, Lesoto se tornou o primeiro país a introduzir uma estratégia de "teste e ensaio", o que significa que as pessoas podem iniciar o tratamento assim que forem diagnosticadas. As taxas de infecção pelo vírus diminuíram constantemente.
"A experiência que tivemos é que falar abertamente, e não culpar nem criticar as pessoas pela situação, ajudou a mudar as coisas." De volta às montanhas, Moloi faz uma curta caminhada até chegar ao túmulo do filho.
A morada final de Tlohang está localizada em um terreno com uma vista impressionante, repleta de riachos, vegetação e pequenas casas. Moloi é uma entre várias pessoas em Lesoto que estão enfrentando a dor de perder alguém por suicídio.
Enquanto admiramos a vista, ela diz que tem uma mensagem para aqueles que se encontram na mesma situação mental que o filho estava.
"Eu diria às pessoas que tirar a própria vida nunca é uma solução. O que você precisa fazer é conversar com as pessoas ao seu redor para que possam ajudá-lo." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Por que somos atraídos pela tragédia?
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Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'
Você consegue passar por um acidente de trânsito sem desacelerar o carro para dar uma "olhadinha"? Consegue passar reto por uma briga de casal sem se sentir atraído por uma estranha curiosidade? Fica ligado nos detalhes de um acidente aéreo e mergulha nas histórias pessoais das vítimas?
Para o filósofo Thomas Hobbes, esse fenômeno poderia reforçar a teoria de que o homem nasce essencialmente mau e é fundamentalmente egoísta —por isso, depende de um estado autoritário para ditar-lhe normas de convivência.
Existe, porém, uma explicação mais simples do que uma suposta tendência mórbida: fisiologicamente, nosso instinto humano —ou animal— é atraído por infortúnios, tragédias e catástrofes.
Um avião modelo ATR 72-500, da companhia aérea Voepass, que saiu de Cascavel (PR), e seguia para Guarulhos (SP), caiu dentro de um condomínio residencial no município de Vinhedo, interior de São Paulo, deixando 62 mortos - Bruno Santos/Folhapress
Uma inquietação emerge, surge um desejo instintivo de desvendar as complexidades do extraordinário. Uma parte de nós parece ficar inebriada pela ânsia de buscar mais informações e detalhes, o que nos faz vivenciar um sofrimento ao enfrentar a efemeridade da nossa existência, mas com o conforto de não estarmos diretamente afetados.
Eventos como esses nos afastam do mundano, do familiar e da garantia do amanhã. Somos convocados a usar as vestes emocionais dos aflitos (e se fosse comigo?), mergulhar nas nossas profundezas (quem somos nós diante de eventos que desafiam a compreensão?) e confrontar os nossos medos através das histórias dos outros. É, ao mesmo tempo, uma sensação perturbadora causada pela dor dos outros e um alívio por estarmos a salvo.
Cada reviravolta trágica é um chamado para o terreno do desconhecido, um enigma que desafia os limites da nossa compreensão, que chacoalha a sensação de estabilidade que a normalidade nos faz acreditar.
Encontramos mais significado nos acontecimentos negativos do que positivos (não é à toa que se vendem mais notícias ruins do que boas). Na psicologia evolutiva existe a ideia de que "o mal é mais forte do que o bem", porque a nossa sobrevivência histórica depende muito mais da capacidade de reagir a ameaças do que de aproveitar as oportunidades.
Passamos a vida fugindo da única certeza que temos: a nossa finitude. É o único jeito de tornar a vida suportável. Viver com uma consciência incessante no dia a dia da nossa fragilidade e insignificância, seria pesado, triste, insustentável. Por isso, é justamente nos momentos em que somos tocados por infortúnios alheios, que devemos nos fortalecer e reforçar a nossa significância.
Tragédias têm o poder de transformar momentaneamente a atmosfera social, como se déssemos uma pausa aos ressentimentos e às reclamações ranhetas. A desolação comum une as pessoas pela dor, os sons da animosidade diminuem, as pessoas ficam mais gentis, valorizam os abraços e os afetos. É como se precisássemos de tragédias para nos tolerar uns aos outros.
Uma dose secreta de Schadenfreude (prazer que se sente ao ver o infortúnio de outra) faz parte de todos nós, desde os tempos em que nos divertíamos com as puxadas de tapete da dupla Tom e Jerry no desenho animado ou ríamos do amigo que escorregava numa casca de banana.
Há um episódio de "Os Simpsons" em que Ned Flanders, o vizinho irritantemente perfeito de Homer, resolve abrir uma loja. Tomado pelo Schadenfreude, Homer fantasia que o negócio de Ned entra em colapso. Primeiro imagina a loja sem clientes, depois, o vizinho empobrecendo, e depois uma fila de credores batendo na sua porta. Só quando Homer imagina o túmulo de Flanders e seus filhos chorando ao seu redor, que ele se detém. "Longe demais", ele diz. A loja falida era suficiente.
Se conseguirmos moderar essa "alegria dos impotentes", como definiu Nietzsche, e aprender a ter um olhar compassivo, poderemos evoluir com os fatos, bons e ruins, que nos cercam.
Só não vale ficar indiferentes; a indiferença é o maior desperdício da vida. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
A fascinante descoberta de pequeno tesouro junto a casal morto em Pompeia
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Erupção do Vesúvio os levou a se refugiarem num pequeno cômodo que se tornaria seu
BBC
Um casal que tentou escapar da erupção do Vesúvio há quase 2.000 anos, acabou se refugiando —e ficando preso— em um pequeno cômodo.
Cientistas encontraram os restos mortais do homem e da mulher, que guardavam um pequeno tesouro, durante uma escavação arqueológica em Pompeia, a antiga cidade romana destruída pela erupção vulcânica em 79 d.C., localizada no sul da Itália.
As descobertas foram reveladas nesta semana.
Segundo artigo publicado no E-Journal of the Pompeii Excavations, a casa onde o casal estava tinha um pequeno cubículo que estava sendo usado provisoriamente como quarto, enquanto uma reforma era feita no restante do imóvel.
Quando a erupção do Vesúvio começou em 79 d.C., os dois se refugiaram no pequeno cômodo, enquanto a tempestade de cinzas e material vulcânico caía do lado de fora.
Mas, em determinado momento, as pedras vulcânicas acabaram bloqueando a única porta disponível.
"Presos no cômodo pequeno e estreito, eles morreram quando os fluxos piroclásticos os alcançaram", explicou o Parque Arqueológico de Pompeia em comunicado.
A violenta erupção do Vesúvio —que ocorreu numa noite de agosto ou outubro de 79 d.C., algo que os cientistas ainda debatem— pegou de surpresa as cidades de Pompeia, Herculano e Estábia. Quase 20 mil pessoas morreram, deixando para trás seus restos mortais nestas cidades do sul da Itália.
Moedas e joias
Em escavações recentes, os cientistas se depararam com o pequeno cômodo em que jazia o casal, na ínsula dez, um dos sítios de exploração arqueológica de Pompeia.
O esqueleto da mulher foi encontrado sobre uma cama, em que ela guardava "um pequeno tesouro de moedas de ouro, prata e bronze", explicaram os pesquisadores.
Também havia algumas joias, como brincos de ouro e pérolas. Os restos mortais do homem estavam caídos aos pés da cama.
Um dos dois esqueletos utilizados em pesquisa para avaliar o efeito de terremoto na destruição de Pompeia, na Itália Pompeii Archaeological ParkMais
Fora do pequeno cômodo, os arqueólogos também encontraram pistas de como era aquela casa.
"Vestígios nas cinzas permitiram reconstruir o mobiliário e identificar sua localização exata no momento da erupção: uma cama, uma arca, um candelabro de bronze e uma mesa com tampo de mármore, com os móveis de bronze, vidro e cerâmica ainda em seus devidos lugares", indica o artigo.
Esses trabalhos ajudam os cientistas a obter "dados arqueológicos muito valiosos" sobre o cotidiano dos moradores de Pompeia da época, afirmou o diretor do Parque Arqueológico, Gabriel Zuchtriegel. Fonte: https://www.folha.uol.com.br
Sequestro e libertação da beleza atlética
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A narrativa da abertura dos Jogos Olímpicos submergiu a presença epifânica dos movimentos corporais numa nova cartilha de educação moral e cívica
Por Marcos Lopes
Em suas Confissões, Santo Agostinho criticava o teatro por despertar as paixões na alma do espectador. A compaixão do público pelo sofrimento da personagem produziria efeitos semelhantes ao de alguns fármacos que causam dependência. Narrando seu processo de conversão, ele indicava que a vida religiosa e a arte do espetáculo (circos, teatros e anfiteatros) seriam conflitantes. O prazer dramático, além de excitar as emoções, poderia se tornar compulsivo ou um vício, distanciando a pessoa da verdade espiritual.
A crítica de Agostinho permitiria, por contraste, entender a crença atual nos benefícios sociais do espetáculo. Na visão cristã, o pecado, ruptura da criatura com o criador, explicaria sua consequência: o sofrimento e a maldade. Recuperar aquela unidade primordial exigiria da humanidade um longo périplo pelo vale de lágrimas. Sofrimento e compaixão eram vivenciados na alma de cada fiel e não apenas na contemplação do padecimento alheio. Mas todas essas metáforas tornaram-se vazias. São fósseis linguísticos que sobrevivem como fantasmas em nossa imaginação. Pelo menos é o que nos fez crer o espetáculo de abertura da Olimpíada de Paris. Em um mundo que reduziu a religião a um fenômeno da “cultura”, tornando-a uma “mercadoria” à disposição das preferências pessoais, as noções de pecado, alma e salvação são anacrônicas. Substituímos a história da salvação pela da exibição, e a ascese pela encenação.
A ética das sociedades ocidentais contemporâneas teve sua síntese na abertura dos Jogos Olímpicos. A beleza atlética foi sequestrada pelos imperativos da diversidade cultural. O princípio de emulação esportiva deu lugar à emancipação política. A narrativa dos organizadores do espetáculo e a cobertura dos comentaristas submergiram a presença epifânica dos movimentos corporais numa nova cartilha de educação moral e cívica. O esporte tornou-se um detalhe.
De todo modo, após a cerimônia e seu rosário de boas intenções, iniciaram-se as competições, como sempre marcadas por risos, lágrimas, quebras de recordes, bons e maus perdedores, momentos de glória e de excelência atlética. A comemoração do surfista Gabriel Medina, após realizar uma manobra quase perfeita, seu “voo” com o braço apontado para cima e a prancha simétrica ao corpo captam com mais energia nossa atenção do que o esforço da cerimônia em sua pregação cívica. Os jabs, cruzados e a dança da boxeadora Bia Ferreira, ao ser proclamada vencedora em sua primeira luta, são a celebração de uma disciplina corporal, mais do que a subversão das relações do poder patriarcal.
A excelência coreográfica de Medina e os golpes implacáveis de Ferreira são resíduos de uma possível transcendência, em oposição a uma horizontalidade mundana, marcada por niilismo e pela crença no poder performático da linguagem. Tal crença estimula o comentário excessivo, que suplanta o próprio acontecimento esportivo e sequestra a graça do movimento corporal em proveito da comunicação hiperinflacionada. Pouco valor semântico é agregado às práticas esportivas quando isso ocorre. Diante da grandeza e da beleza dos gestos, todo discurso se torna excessivo.
A foto de Medina, capturada pelo francês Jerome Brouillet, nos faz olhar para a substância do evento esportivo: a graça do corpo em movimento. O instante imóvel da imagem detém, por alguns momentos, o excesso de palavras. Cultiva a esperança e o silêncio ao invés da euforia e do ruído. O instantâneo fotográfico liberta a beleza atlética do cativeiro dos discursos bem-intencionados. A tensão entre instante (a imagem fotográfica) e duração (o discurso sobre o evento) pode ser pensada a partir de uma célebre passagem do livro IV das Confissões de Agostinho.
Segundo ele, as coisas, “no exato momento em que nascem e começam a existir, quanto mais rapidamente crescem para o ser, tanto mais correm para o não ser”. Tal condição lhes foi imposta por Deus, por serem elas partes daquilo que não existe simultaneamente. “São coisas que, desaparecendo e sucedendo-se umas às outras, compõem o universo.” Um exemplo disso seria a fala, através de sinais sonoros. “E o discurso não seria completo, se cada palavra, depois de pronunciada, não morresse para deixar lugar a outra.”
A sucessão de instantes compõe a duração de uma vida. Mas todos os instantes se equivalem? Para Agostinho, a vida que escoa inexoravelmente só pode ser detida e transformada pelo instante da graça. Haveria algum paralelo entre esse instante e o da beleza atlética? A dimensão da fé, como aposta na transcendência, seria vivência da presença divina no aqui e agora da existência, assim como o atleta, em seu jogo, faz do movimento corporal a encarnação de sua crença na vitória. Em ambas as apostas (religião e esporte), a transcendência é presença real e não mais a repetição interminável de um ciclo biológico. Perder ou ganhar seria apenas parábola dessa curta e contingente vida terrena.
*PROFESSOR DE LITERATURA GERAL E COMPARADA NA UNICAMP Fonte: https://www.estadao.com.br
O que é e como reconhecer uma pessoa narcisista? Entenda o transtorno de personalidade.
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Narciso pintado por Caravaggio entre 1597 e 1599 Foto: Galleria Nazionale d'Arte Antica
Condição é rara e pode causar sofrimento tanto ao paciente quanto às pessoas ao seu redor
Por André Bernardo
Se ganhasse um dólar toda vez que alguém lhe pedisse para descrever um narcisista, Sarah Davies já estaria rica. Por essa razão, a psicóloga britânica decidiu escrever Como se libertar de um narcisista: Aprenda a reconhecer um relacionamento tóxico, se livrar da manipulação e recuperar sua autoestima (Sextante).
No livro, para facilitar o entendimento, ela reconta a fábula do escorpião e do sapo. Para quem não conhece a história, o escorpião pede ao sapo que o ajude a atravessar um rio. O sapo hesita: tem medo porque sabe do que os escorpiões são capazes. O escorpião explica que não seria louco de atacá-lo. Se fizer isso, os dois morrerão afogados. Apesar de relutante, o sapo concorda. No meio da travessia, o que temia acontece. “Por que você me picou?”, perguntou um. “Sou um escorpião…”, respondeu o outro. “E escorpiões picam”.
“É da natureza de um escorpião picar. Todo mundo sabe disso. O sapo também sabia. Como ele poderia esperar algo diferente?”, indaga a psicóloga, que viveu uma situação de abuso narcisista.
O livro de Davies não é o único sobre o transtorno a chegar às livrarias brasileiras. O outro é A nova ciência do narcisismo – Compreenda um dos maiores desafios psicológicos da atualidade e descubra como superá-lo (Cultrix), de W. Keith Campbell.
O psicólogo americano estuda o assunto desde 1999, quando soube que os atiradores de Columbine, massacre em uma escola do Colorado que terminou com 15 mortos, queriam que fosse feito um filme a respeito deles. Não satisfeitos, ainda queriam que o tal filme fosse dirigido pelo cineasta Steven Spielberg.
Narcisistas existem muitos. Pessoas com TPN, sigla para Transtorno de Personalidade Narcisista, nem tanto. Segundo estimativas, não passa de 1% da população. Mas há lugar para todos no espectro do narcisismo, de namorados tóxicos a líderes megalomaníacos. Nem algumas mães estão livres de apresentar sintomas do transtorno, como mania de grandeza, necessidade de atenção e falta de empatia. Quem garante é a psicóloga brasileira Michele Engelke. Ela é autora do livro digital Prisioneiras do espelho – Um guia de liberdade pessoal para filhas de mães narcisistas (2016) e editora do site Filhas de Mães Narcisistas.
“Se você acha que sua mãe é narcisista, a probabilidade de você estar certa é muito grande. Não há melhor especialista em narcisismo materno do que filhas de mães narcisistas”, explica no site. Para as filhas de mães narcisistas, há duas notícias: uma boa e outra ruim. A boa é que há tratamento para o TPN. A ruim é que, dificilmente, um narcisista procura atendimento. “Quando o convívio é prejudicial à saúde mental ou provoca impacto negativo na qualidade de vida, o contato zero torna-se uma opção”, pondera Engelke.
1-O que é narcisismo?
É um traço de personalidade que envolve a autoestima. Todos nós, em algum grau, somos narcisistas.
“O narcisismo nos ajuda a enfrentar desafios, confiar em nossas habilidades e buscar reconhecimento por nossas conquistas”, explica o psiquiatra Eduardo Martinho Júnior, coordenador do Ambulatório para o Desenvolvimento dos Relacionamentos e das Emoções do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da FMUSP.
“Não há cura para o que não é doença”, ressalta o psicólogo Rodrigo Acioli, do Conselho Federal de Psicologia (CFP). “A personalidade narcisista, por si só, não gera transtornos para a vida do indivíduo”.
O narcisismo se torna problemático quando é extremo e inflexível. Ou, ainda, quando traz prejuízos e provoca danos na vida afetiva, familiar, social, acadêmica ou profissional do narcisista.
Quando isso acontece, o que era traço de personalidade vira transtorno psiquiátrico.
2-O que é Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN)?
É o tipo clínico ou psiquiátrico do narcisismo. Está previsto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) desde 1982.
“É uma condição de saúde mental caracterizada por dificuldade persistente tanto na regulação da autoestima quanto no relacionamento com os outros”, define Martinho Júnior.
“As pessoas com TPN podem experimentar flutuações significativas na autoestima: ora são extremamente superiores, ora são profundamente inseguras. Isso pode levar a comportamentos aparentemente arrogantes e insensíveis, mas que, na verdade, são tentativas de lidar com dor emocional e medo de rejeição”.
A personalidade narcisista é caracterizada por uma admiração excessiva por si mesmo, acrescenta o psiquiatra Cláudio Martins, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “Se preocupam apenas com os seus interesses e as suas necessidades”.
No ambiente de trabalho, pessoas com TPN têm dificuldade para trabalhar em equipe, obedecer ordens ou receber críticas. “Acham que suas ideias e opiniões são melhores que as dos outros”, ilustra Martins.
3-Qual é a prevalência do TPN?
É relativamente raro, avalia Keith Campbell. Afeta cerca de 1% da população. No Brasil, seria algo em torno de 2,1 milhões de pessoas com TPN.
É mais comum em homens do que em mulheres. E em jovens do que em adultos.
4-Quem foi Narciso?
Um personagem da mitologia grega. “Era um caçador belo e carismático que tinha a reputação de partir corações por rejeitar o amor dos outros”, descreve Davies.
Reza a lenda greco-romana que, como punição, a deusa Nêmesis lançou um feitiço sobre Narciso: se apaixonar pela primeira pessoa que visse.
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Num dia quente, Narciso, exausto após a caçada, decide descansar à beira de um lago. É quando, ao beber um pouco de água, se vê refletido na superfície e cai de amores por si mesmo.
“Apaixonado pelo próprio reflexo, termina morrendo afogado”, conclui Campbell. “O amor por si mesmo acaba por matá-lo”.
O mito já inspirou, entre outras manifestações artísticas, poema do inglês John Keats, pintura do italiano Caravaggio e letra do compositor Caetano Veloso.
5-Qual é a origem do TPN?
É multifatorial, ou seja, não há uma única causa. É uma combinação de fatores genéticos, biológicos e ambientais.
Entre os fatores ambientais, Martins destaca “experiências traumáticas na infância”.
Martinho Júnior acrescenta mais três exemplos: relações de apego na infância, estilo de criação e educação, e necessidade de autoestima elevada.
“Se a criança percebe que só é valorizada quando conquista algo e não pode demonstrar fraqueza, começa a acreditar que ter sucesso na vida é tudo o que importa”, observa o psiquiatra da USP.
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6-Narcisista é tudo igual ou há diferentes tipos?
Há três tipos: o grandioso, o vulnerável e um misto dos dois.
O grandioso é o tipo clássico: ambicioso, extrovertido e carismático. Tem autoestima elevada, quer ser o centro das atenções e não demonstra empatia. Também é manipulador, direto e arrogante. “É o tipo que você mais verá na vida: vai trabalhar para ele, sair com ele e se divertir com ele”, avisa Campbell.
Tony Stark, de Homem de Ferro; Gilderoy Lockhart, de Harry Potter, e Miranda Priestly, de O Diabo Veste Prada, são exemplos de narcisistas da ficção.
O vulnerável é mais sutil: inseguro, introvertido e deprimido. Diz que tem baixa autoestima, mas pensa que merece tratamento especial. É carente, dissimulado e tímido. “Serão mais difíceis de aparecer. São narcisistas enrustidos”, brinca Campbell.
Um bom exemplo de narcisista vulnerável na ficção é George Costanza, da série Seinfeld, ou a maioria dos personagens de Woody Allen, como em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. Enquanto os grandiosos são ofensivos, os vulneráveis são defensivos.
O terceiro tipo é uma combinação dos dois primeiros. É, por um lado, ambicioso e extrovertido e, por outro, defensivo e introvertido. Segundo Campbell, vive numa “zona intermediária”, sendo ao mesmo tempo grandioso e vulnerável.
7-Como se diagnostica o TPN?
São nove os critérios de diagnóstico:
1-Grandiosidade – Superestima suas habilidades e exagera suas realizações.
2-Fantasia – Vive uma vida ilusória de fama, status e poder. Não tem limites.
3-Especial – Se acha superior, original ou especial. A última bolacha do pacote, diriam alguns.
4-Admiração – Quer ser admirado por todos o tempo inteiro.
5-Noção de ter direitos – Seus desejos têm que ser sempre atendidos.
6-Exploração – Explora os outros para conseguir o que quer.
7-Falta de empatia – Não consegue se colocar no lugar do outro.
8-Inveja – Tem inveja dos outros. E acha que os outros têm inveja dele.
9-Arrogância – É pretensioso até dizer chega.
Se o indivíduo apresenta cinco dos nove critérios acima, em contextos diferentes e a partir da idade adulta, é forte candidato a ter TPN.
8-Como identificar uma pessoa com TPN?
É um transtorno de difícil identificação. “Atribuem a si mesmos uma importância além do normal”, explica Campbell. Mas, não basta supervalorizar a si mesmo, é preciso desvalorizar os outros.
Davies compara o relacionamento amoroso com um narcisista a um passeio na montanha-russa. “É empolgante e divertido em alguns momentos, e terrível e assustador em outros”, descreve. “E se o passeio durar tempo demais, você acaba passando mal”.
Num primeiro momento, os parceiros narcisistas jogam charme, dão presentes, rasgam elogios. Fazem o que podem e o que não podem para conquistar suas vítimas. É o que Davies chama de “bombardeio de amor”. Passado algum tempo, o romantismo exacerbado cede espaço ao abuso emocional.
Já mães narcisistas são imaturas emocionalmente. “O tempo passou e elas não amadureceram”, descreve Michele Engelke. Entre outras características, têm mania de grandeza, não demonstram empatia, são o centro das atenções, não assumem seus erros e valorizam a aparência.
9-Quais são as frases que mais gostam de repetir?
Depende do tipo de narcisista.
No caso do grandioso, vai falar o que sua vítima quiser ouvir até ele próprio conseguir o que quer. Depois, sobe o tom. Contrariado, costuma soltar farpas como: “Por que está tão estressada?”, “Você anda muito sensível” ou “Não sabe com quem está se metendo”.
No caso do vulnerável, vai se fazer de vítima e dizer que a culpa não é dele. “Isso não é justo!”, “Por que está fazendo isso comigo?” e “Você me deve desculpas”, costumam dizer num arroubo de coitadismo.
No caso das mães narcisistas, alguns lugares-comuns são: “Você não é digna de ser amada!”, “Você não passa de uma incompetente!” ou “Você não é boa o suficiente!”.
10-Tem cura?
Não tem cura, mas tem tratamento.
Opções não faltam, garante Martinho Júnior: Terapia Cognitivo Comportamental, Terapia Comportamental Dialética, Terapia do Esquema, Psicoterapia Focada na Transferência e Terapia Baseada na Mentalização. “Elas ajudam os pacientes a entender seus pensamentos e comportamentos narcisistas e a modificá-los”, observa o psiquiatra.
“O difícil é convencer o narcisista de que ele precisa de tratamento”, pondera Campbell. “Em geral, ele pensa que a culpa é dos outros”.
Davies concorda. Tratamento há, mas é difícil. “O narcisista não demonstra remorso ou arrependimento. Na cabeça dele, não há por que ou do que se tratar”.
E tão comum quanto resistir ao tratamento é abandoná-lo antes do previsto, advertem os especialistas.
Tampouco há remédio para o TPN. Apenas em casos de comorbidade, como depressão e ansiedade, é prescrito medicamento.
“É importante tratar do assunto com empatia e compreensão”, afirma Martinho Júnior. “Só assim vamos reduzir o estigma e encorajar aqueles que sofrem a procurar tratamento”. Fonte: https://www.estadao.com.br
Vítima de estupro no banco dos réus
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Comparar a mulher que pratica o aborto a uma homicida é irracional, teratológico e denota uma insensibilidade humana extraordinária
Por Antonio Cláudio Mariz de Oliveira
É incrível como os combatentes do aborto, obstinados combatentes, possuem uma visão míope, reta, sem lateralidade, pois não conseguem sequer discutir circunstâncias e aspectos que são inerentes à grave e tormentosa questão. Não querem tomar conhecimento dos motivos que levam à opção da mulher e muitas e muitas vezes apoiada pelo homem de interromper a gravidez. Nem as razões de caráter subjetivo e nem aquelas objetivas ditadas pelas teias armadas pela vida são levadas em consideração.
Agora, estão dando um claro exemplo de sua cegueira, da sua insensibilidade e da evidente redução de sua capacidade intelectiva. Passaram a defender um projeto de lei que equipara o aborto ao homicídio, tendo esse sido realizado após a 22.ª semana de gravidez, mesmo que a mulher tenha engravidado em razão de um estupro.
Ela foi estuprada e engravidou. Passadas 22 semanas, se abortar, estará praticando homicídio. Não cogitaram sequer na hipótese de a gravidez passar desapercebida pela mulher ou pela menina. Não, isso pouco importa, os que se dizem defensores da vida não se incomodam com a vida que o fruto do estupro terá e com o sofrimento da mãe estuprada e do filho não desejado, que poderá se tornar um adulto desajustado e problemático.
Abro um parêntese: todos esses justiceiros e paladinos de uma ética própria, obtusa e que nega o mundo real, são favoráveis à pena de morte. Absoluta irrespondível e insuperável incoerência, pois, ao mesmo tempo que se dizem a favor da vida e contra o aborto, pregam a execução daqueles que cometeram crimes. Dessa forma não são tão favoráveis à vida como apregoam.
Setenta e sete países possuem, uns na sua Carta Constitucional e outros em suas leis, normas que permitem o aborto. Portanto, enquanto ele está legalizado no mundo, no Brasil não só é criminalizado como ainda os pseudoapóstolos do bem e da verdade querem transformá-lo em homicídio. Trata-se de um preocupante retrocesso civilizatório, que poderá dar ensejo a incursões retrógradas em outras áreas do pensamento tacanho e negacionista.
Quero dizer que sou também a favor da vida, mas sou rigorosamente contra a criminalização do aborto. Por razões filosóficas, jurídicas, mas principalmente de cunho social, acho que nesse terreno deve prevalecer a vontade da mulher, e não a do Estado que criminaliza a conduta. A vontade especialmente da mulher pobre. Ela, premida por circunstâncias adversas que a vida lhe impõe e com sua injusta situação social agravada, opta pelo aborto e o realiza em condições tenebrosas, de elevado risco para a sua saúde e dignidade pessoal. É significativo o número de mulheres que vão a óbito nessas circunstâncias.
Alguém dirá que elas correm risco porque querem. Bastaria que seguissem com a gravidez. Argumento leviano e cínico, pois despreza as razões que conduzem milhares de mulheres ao aborto. As suas cruéis e trágicas carências fatalmente acompanharão os filhos caso venham a tê-los.
Não se tenha dúvidas de que a maternidade representava para essas mulheres um sonho a ser concretizado. No entanto, a miséria desfez o sonho e o substituiu pelo terror dos martírios decorrentes da pobreza.
Ao lado das mulheres pobres, há aquelas que não possuem razões de ordem material para abortar, mas abortam. A sua opção é censurável, mas não constitui um crime. A sua escolha está no âmbito de seu arbítrio cuja liberdade o Estado deve respeitar. A reprovação social, de ordem moral e ética, sim, mas não é concebível que o poder público ingresse no âmbito exclusivamente pessoal de suas decisões e a encarcere por haver abortado.
É preciso, inclusive, levar-se em conta múltiplos fatores de ordem emocional, psicológica, fatores relacionados às circunstâncias da realidade de vida que as fazem negar a maternidade.
Voltando à deplorável inovação legislativa que se pretende, comparar a mulher que pratica o aborto a uma homicida é irracional, teratológico e denota uma insensibilidade humana extraordinária. O grave da proposta que tramita na Câmara é que os seus autores e defensores estão movidos exclusivamente por razões de engajamento político-ideológico, sem nenhuma consideração sobre os aspectos sociais, econômicos e humanos que envolvem o aborto. Parece que simplesmente obedecem a uma palavra de ordem por onde navega o conservadorismo e o pensamento da extrema direita, sem orientação de uma bússola indicativa da real vontade da sociedade.
Note-se que tanto o filho da mulher sem recursos quanto o da abastada, se nascerem contra sua vontade, como já dito, se tornarão filhos não desejados, possivelmente não amados e, ainda, sujeitos até ao abandono. Como advogado testemunhei inúmeras rejeições filiais que acarretaram graves consequências.
A questão do filho não querido é colocada para se mostrar que o aborto reúne uma grande gama de circunstâncias e situações humanas que não podem ser relegadas ao esquecimento e nem reduzidas à fórmula do “sou contra o aborto e ponto final”. O radicalismo e o maniqueísmo são incompatíveis com um problema de tamanha magnitude. Fonte: https://www.estadao.com.br
*ADVOGADO
Acidente com ônibus em rodovia no interior de SP tem 10 mortos
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Colisão foi na madrugada desta sexta-feira, 5, na Rodovia Prof. Francisco da Silva Pontes, próximo a Itapetininga; veículo tinha 48 ocupantes, segundo o Corpo de Bombeiros
Pelo menos 10 pessoas morreram em um grave acidente envolvendo um ônibus na madrugada desta sexta-feira, 5, em Itapetininga, região de Sorocaba, interior de São Paulo. Motorista do veículo diz que perdeu o controle da direção e atingiu uma pilastra de concreto Foto: Reproducao /TV Globo
Por Giovanna Castro
Um ônibus de turismo colidiu com uma pilastra de concreto na madrugada desta sexta-feira, 5, na Rodovia Professor Francisco da Silva Pontes, deixando 10 mortos e pelo menos 16 com ferimentos graves ou moderados. O acidente aconteceu por volta da meia-noite, no sentido norte do km 171 da rodovia, que fica próximo a Itapetininga, no interior de São Paulo.
De acordo com a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), o motorista do ônibus relatou que trafegava normalmente quando, “por motivos a serem esclarecidos, o veículo apresentou uma pane mecânica, travando a direção”. Neste momento, ele teria perdido o controle do ônibus, chocando com um pilar do viaduto Jornalista José Carlos Tallarico.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o ônibus tinha 48 ocupantes no momento da colisão. Dez delas morreram, 16 foram socorridas e encaminhadas a hospitais de Itapetininga e Sorocaba e as demais foram atendidas por equipes médicas do SAMU; da concessionária CCR, que administra a rodovia; ou ambulâncias de municípios vizinhos.
Até a última atualização da Artesp, feita às 7h desta sexta, a perícia ainda estava no local investigando o acidente e os procedimentos de retirada do ônibus da rodovia estão sendo executados. O tráfego na rodovia segue congestionado do km 177 ao km 171, com todo o sentido norte bloqueado e uma faixa bloqueada no sentido sul.
A Defesa Civil do Estado informou que, neste momento, não há mais vítimas no local. Todas foram encaminhadas para hospital, serviço funerário ou liberadas. De acordo com o órgão, compareceram ao local, além do Corpo de Bombeiros, o SAMU, a concessionária da rodovia (CCR), a Polícia Técnico Científica e o Policiamento Rodoviário (CPRv). Fonte: https://www.estadao.com.br
Por que as pessoas acreditam em ‘fake news’? Psicólogo Steven Pinker responde
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Em congresso no Rio, professor de Harvard diz que isso tem a ver com tribalismo político: acreditamos naquilo que faz nossa tribo parecer bem, mesmo que fatos não comprovem a ideia
Steven Pinker discursa no Brain Congress, no Rio de Janeiro Foto: Leandro Martins/Brain Congress
Por Leon Ferrari
ENVIADO ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO*
O psicólogo e linguista canadense Steven Pinker decidiu que queria ensinar e escrever sobre racionalidade humana. A ideia era falar sobre ferramentas como lógica, probabilidade, estatística, teoria da escolha racional, teoria dos jogos, correlação e causalidade. No entanto, as pessoas estavam interessadas em outra coisa. “Elas queriam saber por que o mundo estava enlouquecendo”, conta ele, que é professor da Universidade Harvard, autor do best-seller Enlightenment Now: The Case for Reason, Science, Humanism, and Progress (O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo, no título em português) e já foi considerado, mais de uma vez, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time.
“Por que as pessoas acreditam em teorias da conspiração? Notícias falsas? Em tratamentos médicos malucos, como a homeopatia, mas ao mesmo tempo negam as vacinas? Por que as pessoas acreditam em percepção extra-sensorial? Clarividência? Ver o futuro e vidas passadas? É nisso que as pessoas estão realmente interessadas, não tanto em por que somos ruins em probabilidade e estatísticas”, disse ele neste sábado, 29, durante participação no Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções, realizado no Rio de Janeiro entre os dias 26 e 29 de junho.
Ele segue aconselhando que as pessoas se dediquem às ferramentas básicas, no entanto, lançou-se ao desafio das questões com as quais foi confrontado. “São vários motivos, não apenas um”, fala.
Entre eles, algumas crenças ou “intuições” humanas, como dualismo (“acreditamos que cada humano tem um corpo e uma mente”), essencialismo (“pensamos que os seres vivos têm algum tipo de substância invisível ou química neles que os torna vivos, que lhes dá forma e poderes”) e teleologia (tudo o que fazemos tem uma razão/propósito), mas, para Pinker, o mais importante é o que ele chama de tribalismo político.
“Poucas pessoas mudam de opinião por causa das notícias falsas. As notícias falsas reforçam os preconceitos políticos delas”, afirma. “As pessoas se dividem em setores, tribos ou coalizões, e as ideias que acreditam não são as ideias que são verdadeiras, mas as ideias que fazem a coalizão delas parecer mais inteligente, mais competente, mais moral e nobre do que as outras tribos.”
E é por isso que ele lança o seguinte desafio, que pode parecer óbvio, mas, segundo ele, contra intuitivo para a natureza humana: “você deve acreditar apenas em coisas para as quais há evidências, para as quais há uma boa razão para acreditar que são verdadeiras”.
“Cheguei à conclusão de que essa é a ideia mais radical na história humana”, afirma. “É uma boa lição moral para os jovens: a ideia de que você pode estar errado. Você deve deixar os fatos dizerem o que é certo e errado. Esta é uma ideia muito estranha, exótica, não natural, mas é uma ideia importante, e acho que temos que apoiar a ideia de que somos ignorantes sobre a maioria das coisas.”
“A única maneira de estar certo é tentar testar nossas ideias, tentar ver o que as tornaria falsas, ver se elas sobrevivem a testes de falsificação. Este é, basicamente, a mentalidade da revolução científica, mas não penetrou toda a população, nem mesmo toda a população de cientistas.”
Negacionismo
A exacerbação desse tribalismo é o que, para Pinker, nos colocou cara a cara com a negação da ciência. Mas como chegamos até aqui?
Ele sugere duas respostas. A primeira é de que as redes sociais fazem as pessoas viverem em bolhas. “Elas são uma máquina para reforçar o tribalismo.” No entanto, ele acha que esse fenômeno não responde por completo, nem mesmo é a mais importante explicação. Pinker avalia que, ao longo das últimas décadas, houve um aumento significativo da “segregação por educação e classe”.
“Cada vez mais pessoas com diplomas universitários vivem próximas em áreas urbanas centrais. Pessoas que não são tão graduadas vivem nos subúrbios mais distantes ou nas áreas rurais”, pontua. “As pessoas são muito mais propensas a apenas viver com pessoas que têm as mesmas crenças. É mais fácil demonizar as pessoas que você nunca conheceu.”
‘É preciso despolitizar a ciência’
Alguns, diz Pinker, avaliam que, para enfrentar o negacionismo científico, o ideal seria ensinar mais ciência às pessoas. Ele não acha que essa seja a solução.
“A maioria dos cientistas tem a teoria errada sobre por que as pessoas negam a ciência. Eles pensam que as pessoas que negam a mudança climática, vacinas ou a evolução humana são ignorantes. Na verdade, se você der testes de alfabetização científica a eles, como ‘o que é maior: um átomo ou um elétron?’, vão ter as mesmas pontuações do que aqueles que acreditam.”
Isso nos leva de volta ao tribalismo. Para ele, é preciso, então, tirar a ciência dessa polarização, despolitizando-a. “Precisamos tornar as questões científicas não alinhadas com um lado político ou outro, e restaurar a confiança nos cientistas, nas agências governamentais, jornalistas e estatísticos.”
Como? “Temos que admitir quando somos ignorantes, e mudar de opinião à medida que as evidências mudam.”
“Não somos anjos, não somos deuses, apenas fazemos o nosso melhor”, aponta. “A ciência realmente descobriu algumas coisas. Existem realmente células. Há realmente algo chamado DNA. Mas nunca estamos 100% certos.”
Esse raciocínio, claro, pode nos levar ao completo ceticismo. No entanto, Pinker destaca que o consenso é importante. É assim, por exemplo, que determinamos e aplicamos políticas públicas. O psicólogo aponta o melhor caminho para chegarmos até ele.
“Muitas vezes haverá discordância, mas você realmente tem que dizer sim ou não. Por exemplo, no caso de um paciente com alguns sintomas e alguns exames médicos, você nunca tem 100% de certeza se ele tem uma doença ou não. Opera ou não opera? Dá o remédio ou não dá?”
Aí, segundo ele, precisamos acionar a teoria da decisão estatística. “Você analisa quão ruim seria estar errado em cada direção. Ou seja, quão ruim se ela não tiver a doença, um falso positivo, em que o paciente poderia passar por uma cirurgia desnecessária, e quão ruim seria se você estivesse errado, um falso negativo, se for um câncer, talvez ele cresça rapidamente.”
“Você junta essas coisas e, pelo menos, isso lhe dá uma base racional para tomar uma decisão quando não pode ter certeza da verdade.” Fonte: https://www.estadao.com.br
*O repórter viajou a convite do Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções
Vítimas que morreram após carro bater em caminhão eram pai, mãe e filho bebê.
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Vítimas que morreram após carro bater em caminhão eram pai, mãe e filho bebê
Os três morreram no local do acidente. Batida aconteceu no distrito de Marcianópolis, em Goiatuba.
Acidente deixa mortos na GO-319, em Goiatuba — Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros
Por Thauany Melo, g1 Goiás
As três pessoas que morreram em um acidente de carro na GO-319, em Goiatuba, no sul de Goiás, eram da mesma família, segundo o perito do Instituto Médico Legal (IML) Tiago Fernandes. O bebê de três meses e os pais morreram após o carro em que estavam bater contra um caminhão.
O acidente aconteceu a 10 km do distrito de Marcianópolis, por volta das 3h de sábado (29). As vítimas de acidente são: Bruno Bittencourt, Bianca Gomes e o filho deles, Anthony Gabriel.
Conforme o Corpo de Bombeiros, a família estava em um veículo do modelo saveiro, que bateu na traseira do caminhão.
Segundo a corporação, os três já estavam mortos, presos às ferragens, quando a equipe chegou ao local. Os bombeiros fizeram o desencarceramento e os corpos foram levados pelo Instituto Médico Legal (IML). Fonte: https://g1.globo.com
Projeto de lei que impõe regras e multa para doar comida em SP é aprovado em 1ª votação
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ONG fundada por Betinho diz que dificultar doação de alimentos é desumano; veja o que diz o PL
Moradores da favela de Paraisópolis (SP) aguardam para receber marmita distribuída pela Associação de Moradores da Comunidade - Lalo de Almeida/Folhapress
SÃO PAULO
Doar alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade social na cidade de São Paulo poderá ficar mais difícil e render multa de R$ 17.680. Os vereadores paulistanos aprovaram, em primeira votação nesta quarta-feira (26), projeto de lei que cria regras para ONGs e pessoas físicas que combatem a fome na cidade.
O PL 445/223, do vereador Rubinho Nunes (União), estabelece a necessidade de autorização prévia da Secretaria Municipal de Subprefeituras e da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.
A aprovação aconteceu três dias após a abertura do inquérito da Polícia Civil de São Paulo para apurar eventual delito de abuso de autoridade que estaria sendo praticado pelo vereador contra o padre Júlio Lancellotti. Nunes é o autor da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que mira o pároco e ONGs que atuam na região da cracolândia, no centro da capital paulista.
Segundo o projeto de lei, que ainda passará por segunda votação na casa e aprovação do prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP), entidades devem fazer o cadastro de seus voluntários, além de disponibilizar tendas, mesas, cadeiras, talheres e guardanapos e manter limpa a área onde será distribuída a refeição.
O PL determina ainda o agendamento prévio, junto a ambas as secretarias, da ação social, "de forma a garantir a segurança e o bem-estar dos beneficiários".
Já aqueles que recebem as doações —pessoas em situação de rua, em abrigos temporários, em situação de pobreza extrema ou em qualquer outra condição que evidencie falta de recursos— devem estar cadastrados na Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, "garantindo uma abordagem mais organizada e efetiva das ações assistenciais".
ONGs e pessoas físicas que descumprirem a lei poderão ser multadas em R$ 17.680 e descredenciados por três anos junto às secretarias.
"O político que toma a decisão de restringir o trabalho de organizações sérias está seriamente comprometido em extinguir a existência das 10,6 milhões de pessoas que vivem no estado de São Paulo e hoje não conseguem fazer todas as refeições como deveriam", afirma Rodrigo ‘Kiko’ Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.
A ONG fundada por Betinho, que combate a fome há 30 anos no país, acusa o deputado de impor barreiras burocráticas a um trabalho que deveria ser atribuição do poder público.
"Proibir e dificultar a doação de comida não só é desumano, como também vai contra tudo o que acreditamos e pelo que lutamos diariamente", afirma ‘Kiko’ Afonso. "Precisamos combater o retrocesso daqueles que insistem na legitimação da fome."
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que o PL "segue em discussão na Câmara Municipal de São Paulo e será analisado pelo prefeito caso seja aprovado em segunda votação."
Em suas redes sociais, o padre Júlio Lancelotti fez publicações contra o projeto de lei. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Um país em guerra contra seus jovens
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‘Atlas da Violência’ reafirma o fracasso brasileiro na proteção de crianças e jovens e mostra que é preciso mais compromisso e ação onde hoje há indignação de alguns e indiferença de muitos
A nova edição do Atlas da Violência – produzido anualmente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública – traz dados estarrecedores que escancaram o fracasso brasileiro na proteção da vida de crianças e jovens. Com dados referentes a 2022, descobre-se que praticamente metade (49,2%) dos 46,4 mil homicídios registrados no Brasil teve como vítimas pessoas entre 15 e 29 anos. Naquele ano, de cada cem mortes de jovens, um terço (34) se deu por homicídio – e grande parte deles por arma de fogo. Visto de outra forma, a cada dia, 62 jovens foram assassinados no País. Em dez anos, foram mais de 321 mil vítimas de violência letal, a maioria homens negros.
O Atlas também mapeou a extensão dos casos de violência sexual. Meninas até 14 anos são, proporcionalmente, as maiores vítimas de agressão sexual, uma das formas mais comuns de violência doméstica e familiar. Dito com outras palavras, quase metade (49,6%) da violência contra meninas de 10 a 14 anos tem caráter sexual. Seis em cada dez vítimas têm no máximo 13 anos. São números obtidos com base nos registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, criado pelo Ministério da Saúde para notificar, compulsoriamente, qualquer caso suspeito ou confirmado de diferentes formas de violência, como doméstica/intrafamiliar e sexual, e contra mulheres e homens de todas as idades. Isso significa admitir que o levantamento é composto apenas pelos casos oficialmente registrados – e não há razão para duvidar que a realidade é ainda pior do que os números publicados.
Pouca gente há de questionar a premissa de que o Brasil vem falhando na proteção de crianças e adolescentes, não só nos efeitos da violência, mas também no cuidado da educação básica, sem o que é impossível imaginar um futuro minimamente digno para eles. Com incômoda frequência, no entanto, a divulgação de números e balanços, como esses expostos no Atlas, ajuda a dar contornos ainda mais dramáticos a uma realidade perturbadora – e que muitos acabam ignorando ou deixando em segundo plano diante de outras mazelas. Há um círculo vicioso do qual precisamos escapar: a falta de preparo do jovem leva-o ao desemprego e subemprego; a falta de ocupação e perspectivas leva-o ao desespero; a falta de esperança leva-o à droga e à captura pelo crime organizado. E assim se fecha um ciclo de miséria, delinquência e violência que condena o presente e o futuro de boa parte do País.
É como se o Brasil estivesse numa guerra, situação em que jovens soldados são enviados para matar e morrer, mas a guerra que vitima os jovens brasileiros é do País consigo mesmo. A título de comparação, os EUA perderam 58 mil soldados em 20 anos de Guerra do Vietnã. Ou seja, no Brasil ocorreram cinco guerras do Vietnã em uma década.
Ademais, como afirmou Samira Bueno, uma das coordenadoras do Atlas, são os jovens a mão de obra preferencial do crime organizado. Uma vez aliciados pelo mundo do crime, evadem da escola muito cedo e não veem oportunidades senão na engenharia das organizações criminosas.
Se há cooptação sobre os jovens meninos, há muito mais do que coação sobre as meninas. Os números do Atlas são confirmados por outras pesquisas, como o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado também pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, segundo o qual houve 75 mil estupros em 2023. O perfil demográfico das vítimas diz muito sobre nossas iniquidades e sobre nossa miséria moral e institucional: 88,7% são mulheres, 61,4% são menores de 14 anos e 10,4% têm menos de quatro anos de idade. Na maioria dos casos seus algozes são familiares.
Por vezes os números não dão conta da dramaticidade do mundo real e de suas histórias. Mas são fundamentais para dar a dimensão do problema e produzir gritos de alerta, de modo que o País reaja com o devido vigor. Não está escrito nas estrelas, porém, que tais números se manterão assim, como se não houvesse caminho alternativo para dar algum alento à grande maioria das crianças e dos jovens brasileiros. Mas mudá-los vai requerer muito mais compromisso e ação do que a indignação de alguns e a indiferença de muitos. Fonte: https://www.estadao.com.br
Desastre climático no Sul e os verdadeiros responsáveis
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Além de entes estatais, grandes emissores podem ser acionados judicialmente
Gabriel Wedy
Juiz federal, é professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da Unisinos (RS); autor de "Curso de Direito Climático" (ed. Revista dos Tribunais)
Mestre e doutora em direito, é desembargadora no TRF-3
O desastre climático ocorrido no Rio Grande do Sul exigirá, em breve, a discussão sobre medidas para reparação dos danos materiais e morais causados.
No ano de 2015, relatório da Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul e do governo da França já apontava que as chuvas, dentro de poucos anos, aumentariam entre 5% e 10% em território gaúcho. O atual desastre confirma que os entes estatais nada ou pouco fizeram desde o referido estudo —aliás, foi aprovado em 2020 um novo Código Estadual Ambiental profundamente desidratado em matéria de tutela do meio ambiente.
É possível discutir se seria justo a União, o estado e os municípios sucateados arcarem integralmente com a reparação civil dos seus cidadãos, do meio ambiente e das estruturas públicas e privadas danificadas e destruídas pelo temporal —e, com isso, os contribuintes arcarem duas vezes por ações e omissões estatais, sendo que a origem do aquecimento global tem como os maiores responsáveis as indústrias do petróleo e do carvão e, no plano geopolítico, a China e os Estados Unidos, como os maiores emissores.
Na perspectiva brasileira, de um país que tem sofrido consequências desproporcionais em decorrência de desastres gerados por alterações climáticas, é válido levar adiante o debate.
Há exemplos ao redor do mundo. O caso Dutch Shell é um "leading case", julgado em maio de 2021, no qual o poder judiciário holandês emitiu decisão para que a Royal Dutch Shell acelerasse o seu objetivo de redução das emissões de carbono.
Em janeiro de 2023, a Colômbia e o Chile ingressaram na Corte Interamericana de Direitos Humanos com um Pedido de Parecer Consultivo sobre Emergência Climática e Direitos Humanos. Em sua justificativa para a provocação à corte interamericana, os Estados requerentes justificaram que "os efeitos da mudança climática não são experimentados de maneira uniforme na comunidade internacional. De fato, eles já estão sendo sentidos por parte das comunidades mais vulneráveis em razão de sua geografia, condições climáticas, socioeconômicas e infraestrutura, incluindo vários países das Américas". Esse procedimento está em andamento.
No caso do RS, embora União, estado e municípios possam, em tese, ser responsabilizados por questão de justiça climática, seria importante se houvesse um amadurecimento na análise sobre a conveniência de ajuizamento de demandas climáticas em defesa do povo gaúcho. Essas demandas colocariam nos bancos dos réus indústrias do petróleo, do carvão e grandes emissores de gases de efeito estufa, além de envolver os países que abrigam essas indústrias em seus territórios.
Há aporte teórico e experiências em cortes estrangeiras para embasar ações judiciais dessa natureza. Não é mais aceitável a irresponsabilidade climática de alguns países, que assumem posições contraditórias e contrárias ao Acordo de Paris e que violam os direitos humanos de pessoas que vivem em nações que não causam desequilíbrio climático relevante, mas sofrem com desastres devastadores. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
A violência contra os mais velhos mora dentro das nossas casas
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'Mirian, para de escrever sobre velhos, por favor. Escreve sobre a rebimboca da parafuseta', me pediu um leitor
Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"
"Mirian, posso te dar um conselho de amigo: para de escrever sobre velhos, por favor. Não gosto de ficar lendo sobre velhofobia, etarismo, violência contra os velhos. Não quero ficar pensando sobre a minha própria velhice. Gosto mais quando você escreve sobre traição, sexo e temas mais leves. Você escreve tão bem que eu iria adorar até se você escrevesse sobre a rebimboca da parafuseta. Pode escrever sobre qualquer coisa, menos sobre velhos."
Não sei quantas vezes eu escutei nas últimas três décadas: "Mirian, para de escrever sobre velhos. Que assunto chato! Escreve sobre um tema mais leve". Mas foi a primeira vez que um leitor sugeriu que eu escrevesse sobre a "rebimboca da parafuseta".
Apesar das críticas, conselhos e sugestões para mudar de tema, nunca parei de pesquisar sobre envelhecimento, autonomia e felicidade, nem de escrever sobre os meus melhores amigos nonagenários.
E vou continuar escrevendo, e até mesmo gritando, para denunciar e combater a violência física, verbal e psicológica que os mais velhos sofrem dentro das próprias casas e famílias. É o propósito da minha vida.
Nos seis primeiros meses de 2024, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania registrou 74.620 denúncias de violência contra idosos. A realidade é muito mais assustadora, pois a maioria tem vergonha e medo de denunciar seus agressores: os próprios filhos na maior parte dos casos; e também os netos, cônjuges, genros e noras. Entre os abusos mais comuns estão:
Negligência - quando deixam de oferecer cuidados básicos ao idoso, como higiene, saúde, medicamentos, proteção contra frio ou calor;
Abandono - quando há ausência ou omissão dos familiares ou responsáveis, governamentais ou institucionais, de prestarem socorro a um idoso que precisa de proteção;
Violência física - quando é usada a força para obrigar o idoso a fazer o que não deseja, ferindo, provocando dor, incapacidade ou até a morte;
Violência psicológica ou emocional - comportamentos que prejudicam a autoestima ou o bem-estar do idoso, como xingamento, susto, constrangimento, impedimento de que vejam amigos e familiares, tortura psíquica;
Violência financeira ou material - a exploração ou o uso não consentido de seus recursos financeiros e patrimoniais.
O "Junho Violeta", criado pela ONU, é o mês de prevenção e de conscientização da violência contra a pessoa idosa. Dia 15 de junho é o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2011, com o objetivo de chamar a atenção para a existência de violações dos direitos dos idosos e divulgar formas de denunciá-las e combatê-las.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, por meio da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, lançou uma campanha com o slogan "Respeito não tem prazo de validade", com o objetivo de "conscientizar a sociedade sobre a necessidade da garantia de direitos, dignidade e combate à violência contra pessoas idosas".
O último Censo mostrou a tendência de envelhecimento da população brasileira: somos 32 milhões de brasileiros de 60 anos ou mais.
O Estatuto da Pessoa Idosa, lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, dispõe que a pessoa idosa goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, garantindo-lhe todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
A lei dispõe que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar à pessoa idosa, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação a esta lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.
Tudo muito lindo, mas será que o Estatuto da Pessoa Idosa tem sido respeitado dentro das nossas próprias casas e famílias? Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Mãe é presa após jogar filha da janela de apartamento em caixa de gato na Alemanha
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Segundo autoridades locais, a criança ficou 'gravemente ferida', mas 'não corre risco de vida'
Mãe é presa após jogar filha da janela de apartamento em caixa de gato na Alemanha — Foto: Reprodução
Por O Globo com agências internacionais — Berlim
Uma bebê de 1 ano e 9 meses foi arremessada do terceiro andar de uma casa por sua própria mãe, em Berlim, na Alemanha. A vítima sofreu ferimentos graves após ter sido jogada pela janela em uma caixa para transportar gatos. A mãe, de 41 anos, foi presa pelo crime e encaminhada para uma clínica psiquiátrica. O caso aconteceu na segunda-feira.
Uma mulher que passava nos fundos do prédio, viu a caixa de gatos no chão e encontrou a bebê, que estava chorando. Com isso, o Corpo de Bombeiros e a polícia local foram acionados. A vítima foi levada ao hospital e teria quebrado o braço e as pernas. As informações são do jornal alemão B.Z.
“A menina foi imediatamente levada ao hospital pelas equipes de resgate para tratamento hospitalar com ferimentos significativos por queda”, informou o policial ao jornal alemão.
A bebê teria sido jogada de um apartamento no terceiro andar, em uma altura de pelo menos dez metros. Já dentro do apartamento, outra criança, de 9 anos, foi encontrada e encaminhada pelas autoridades para a Secretaria de Assistência à Juventude. O caso aconteceu no bairro de Altglienicke, próximo ao aeroporto de Berlim.
Segundo os vizinhos, a mulher têm cinco filhos e nasceu na República Checa. Ainda de acordo com eles, a mulher é solteira e descrita como "simpática e amorosa".
A polícia investiga o caso e ainda não há informações sobre a motivação do crime. Testes foram realizados, mas não foram encontrados indícios de uso de droga por parte da mulher. Ainda segundo o jornal B.Z, a mãe compareceu ao juízo nesta terça-feira e será internada em um centro psiquiátrico por suspeita de tentativa de homicídio. Fonte: https://oglobo.globo.com
Não faz sentido privatizar praias
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Não tem sentido nenhum, neste momento em que o mundo vive uma mudança climática violenta, mexer com este projeto de privatização das praias no Brasil
Por Merval Pereira
Não tem sentido nenhum, neste momento em que o mundo vive uma mudança climática violenta, mexer com este projeto de privatização das praias no Brasil. Aliás, o nome do projeto já diz tudo e cria um clima muito ruim. Se for para fazer, é para melhorar. Não se pode mexer em questões delicadas como esta sem estudo, sem projeto cuidadoso, que veja as consequências que possa trazer.
Não vejo nenhuma razão para permitir especulação imobiliária na beira do mar. É o momento de estudar as maneiras de protegermos as cidades contra as marés que estão subindo devido às geleiras que se derretem. Animais do mar precisam ser preservados.
A PEC visa o Brasil inteiro e não é hora para uma especulação imobiliária tão grande, porque a. Privatizar praia é um absurdo. Tem ainda um aspecto social; praia é um lugar onde se pode conviver sem desigualdade, é uma maneira de dar um lazer gratuito a quem não tem condições. A praia é de graça.
No Rio, se privatizar, será uma tragédia social. Difícil imaginar que alguém esteja pensando nisso. A especulação imobiliária tem que ser contida; não só na beira da praia, mas em todo lugar. Fonte: https://oglobo.globo.com
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