1) Oração

Ó Deus, que nos alegrais todos os anos com a solenidade da ressurreição do Senhor, concedei-nos, pelas festas que celebramos nesta vida, chegar às eternas alegrias. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Lucas 24, 13-35)

13Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos iam para um povoado, chamado Emaús, a uns dez quilômetros de Jerusalém. 14Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido. 15Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles. 16Os seus olhos, porém, estavam como vendados, incapazes de reconhecê-lo. 17Então Jesus perguntou: “O que andais conversando pelo caminho?” Eles pararam, com o rosto triste, 18e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: “És tu o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes dias?” 19Ele perguntou: “Que foi?” Eles responderam: “O que aconteceu com Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e diante de todo o povo. 20Os sumos sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. 21Nós esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel; mas, com tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram! 22É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos assustaram. Elas foram de madrugada ao túmulo 23e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que ele está vivo. 24Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. A ele, porém, ninguém viu”. 25Então ele lhes disse: “Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! 26Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na sua glória?” 27E, começando por Moisés e passando por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, as passagens que se referiam a ele. 28Quando chegaram perto do povoado para onde iam, ele fez de conta que ia adiante. 29Eles, porém, insistiram: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” Ele entrou para ficar com eles. 30Depois que se sentou à mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu- o e deu a eles. 31Neste momento, seus olhos se abriram, e eles o reconheceram. Ele, porém, desapareceu da vista deles. 32Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” 33Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os Onze e os outros discípulos. 34E estes confirmaram: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” 35Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir o pão.

 

3) Reflexão Luca 24,13-35

O evangelho de hoje traz o episódio tão conhecido da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús. Lucas escreve nos anos 80 para as comunidades da Grécia que na sua maioria eram de pagãos convertidos. Os anos 60 e 70 tinham sido muito difíceis. Houve a grande perseguição de Nero em 64. Seis anos depois em 70, Jerusalém foi totalmente destruída pelos romanos. Em 72, em Massada no deserto de Judá, foi o massacre dos últimos judeus revoltosos. Nesses anos todos, os apóstolos, testemunhas da ressurreição, foram desaparecendo. O cansaço ia tomando conta da caminhada. Onde encontrar força e coragem para não desanimar? Como descobrir a presença de Jesus nesta situação tão difícil? A narração da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús procura ser uma resposta para estas perguntas angustiantes. Lucas quer ensinar as comunidades como interpretar a Escritura para poder redescobrir a presença de Jesus na vida.

Lc 24,13-24: 1º Passo: partir da realidade.  Jesus encontra os dois amigos numa situação de medo e de descrença. As forças de morte, a cruz, tinham matado neles a esperança. Era a situação de muita gente no tempo de Lucas e continua sendo a situação de muitos hoje em dia. Jesus se aproxima e caminha com eles, escuta a conversa e pergunta: "De que estão falando?" A ideologia dominante, isto é, a propaganda do governo e da religião oficial da época, impedia-os de enxergar. "Nós esperávamos que ele fosse o libertador, mas...".  Qual é hoje a conversa do povo que sofre?

O primeiro passo é este: aproximar-se das pessoas, escutar sua realidade, sentir seus problemas; ser capaz de fazer perguntas que ajudem as pessoas a olhar a realidade com um olhar mais crítico.

Lc 24,25-27: 2º Passo: usar a Bíblia para iluminar a vida.  Jesus usa a Bíblia e a história do povo de Deus para iluminar o problema que fazia sofrer os dois amigos, e para esclarecer a situação que eles estavam vivendo. Usa-a também para situá-los dentro do conjunto do projeto de Deus que vinha desde Moisés e os profetas. Ele mostra assim que a história não tinha escapado da mão de Deus. Jesus usa a Bíblia não como um doutor que já sabe tudo, mas como o companheiro que vem ajudar os amigos a lembrar o que estes tinham esquecido. Jesus não provoca complexo de ignorância nos discípulos, mas procura despertar neles a memória: “Como vocês demoram para entender o que os profetas anunciaram!”.

O segundo passo é este: com a ajuda da Bíblia, ajudar as pessoas a descobrir a sabedoria que já existe dentro delas mesmas, e transformar a cruz, sinal de morte, em sinal de vida e de esperança. Aquilo que as impedia de caminhar, torna-se agora força e luz na caminhada. Como fazer isto hoje?

  1. Lc 24,28-32: 3º Passo: partilhar na comunidade. A Bíblia, ela por si, não abre os olhos. Apenas faz arder o coração. O que abre os olhos e faz enxergar, é a fração do pão, o gesto comunitário da partilha, rezar juntos, a celebração da Ceia. No momento em que os dois reconhecem Jesus, eles renascem e Jesus desaparece. Jesus não se apropria da caminhada dos amigos. Não é paternalista. Ressuscitados, os discípulos são capazes de caminhar com seus próprios pés.

    O terceiro passo é este: saber criar um ambiente de fé e de fraternidade, de celebração e de partilha, onde possa atuar o Espírito Santo. É ele que nos faz descobrir e experimentar a Palavra de Deus na vida e nos leva a entender o sentido das palavras de Jesus (Jo 14,26; 16,13).

  1. Lc 24,33-35: O resultado: Ressuscitar e voltar para Jerusalém. Os dois criam coragem e voltam para Jerusalém, onde continuavam ativas as mesmas forças de morte que tinham matado Jesus e que tinham matado neles a esperança. Mas agora tudo mudou. Se Jesus está vivo, então nele e com ele está um poder mais forte do que o poder que o matou. Esta experiência os faz ressuscitar! Realmente tudo mudou! Coragem, em vez de medo! Retorno, em vez de fuga! Fé, em vez de descrença! Esperança, em vez de desespero! Consciência crítica, em vez de fatalismo frente ao poder! Liberdade, em vez de opressão! Numa palavra: vida, em vez de morte! Em vez da má noticia da morte de Jesus, a Boa Notícia da sua Ressurreição! Os dois experimentam a vida, e vida em abundância! (Jo 10,10). Sinal do Espírito de Jesus atuando neles!

 

4) Para um confronto pessoal

  1. Os dois disseram: “Nós esperávamos, mas….!” Você já viveu uma situação de desânimo que o levou a dizer: “Eu esperava, mas...!”?
  2. Como você lê, usa e interpreta a Bíblia? Já sentiu arder o coração ao ler e meditar a Palavra de Deus? Lê a Bíblia sozinho ou faz parte de algum grupo bíblico?

 

5) Oração final

Celebrai o SENHOR, invocai seu nome, manifestai entre as nações suas grandes obras. Cantai em sua honra, tocai para ele, recordai todos os seus milagres. Gloriai-vos do seu santo nome, alegre-se o coração dos que buscam o SENHOR. (Sl 104, 1-3)

 

O Papa Francisco aceitou, nesta quarta-feira, 3 de abril, a renúncia ao ofício de arcebispo de Maceió (AL) apresentada por dom Antônio Muniz Fernandes, tendo em vista cuidados com sua saúde. Foi nomeado como sucessor no pastoreio da arquidiocese alagoana o até então arcebispo coadjutor de Maceió, dom Carlos Alberto Breis Pereira. Agora, ele torna-se arcebispo emérito. A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou saudação a dom Beto e agradecimento a dom Antônio.

 

Agradecimento a Dom Antônio Muniz Fernandes

Estimado irmão, Dom Antônio Muniz Fernandes,

Ao recebermos a notícia de que o Santo Padre, o Papa Francisco, acolheu o seu pedido de renúncia ao governo pastoral da Arquidiocese de Maceió, em Alagoas, unimo-nos em agradecimento a Deus por sua vocação e pelos 25 anos dedicados ao pastoreio do povo de Deus em Guarabira e em Maceió.

Sua dedicação na construção de uma Igreja comprometida com o anúncio do Evangelho e atenta às realidades que precisam da caridade cristã são motivos de louvor ao ressuscitado. Com o salmista, exultamos ao Senhor na alegria pascal e cantamos as maravilhas que tem realizado também por meio de seu ministério episcopal.

Seja esta nova etapa repleta de saúde e de alegrias, Naquele que vos chamou.

Em Cristo,

 

Saudação a Dom Carlos Alberto Breis Pereira

Renovamos hoje nossa saudação ao senhor, desta vez pela nova missão que assumirá a partir desta nomeação como Arcebispo da Arquidiocese de Maceió, em Alagoas. Rogamos a Deus que tenha um frutuoso ministério nesta centenária arquidiocese.

Sob a intercessão de Nossa Senhora dos Prazeres, cuja alegria da ressurreição de seu divino Filho celebramos nesta Oitava Pascal, rogamos que seja sempre renovado o pedido e o desejo que os discípulos de Emaús fazem ao Cristo ressuscitado no Evangelho de hoje: “Fica conosco, Senhor”.

Em Cristo,

Dom Jaime Spengler 
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Presidente da CNBB

Dom João Justino de Medeiros Silva 
Arcebispo de Goiânia (GO)
Primeiro Vice-presidente da CNBB

Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa 
Arcebispo eleito de Olinda e Recife (PE)
Segundo Vice-presidente da CNBB

Dom Ricardo Hoepers 
Bispo Auxiliar de Brasília (DF)
Secretário-geral da CNBB

 

Dom Antônio Muniz Fernandes, OCarm

Frade da Ordem do Carmo, dom Antônio é natural de Princesa Isabel, na Paraíba. Nasceu em 11 de agosto de 1952. Foi ordenado presbítero em 24 de maio de 1980, em sua cidade natal.
Antes do episcopado, foi mestre dos noviços, reitor de colégio, provincial e professor de Bíblia. Também atuou como membro da Comissão Econômica internacional da Ordem Carmelita e foi vigário cooperador em Recife (PE).

Em 4 de fevereiro de 1998, foi nomeado bispo de Guarabira (PB), e ordenado em 24 de maio, em Recife. Ele atuou na diocese de 1998 até 2006, quando foi nomeado arcebispo Maceió. A posse foi no dia 22 de novembro de 2006.

Em seu governo na sede de Maceió, dom Antônio definiu a Pastoral Social como um imperativo. Instituiu as Missas pela Paz, celebradas mensalmente na Catedral, frente à escalada da violência no estado. Outra iniciativa do arcebispo foi a fundação da Fazenda da Esperança Santa Teresinha, como forma de enfrentamento ao avanço do narcotráfico e a recuperação de dependentes químicos. Também foram projetos levados à frente por ele a Casa do Servo Sofredor, e a dinamização do Secretariado de Assistência Social Juvenópolis. Ele também se dedicou ao trabalho de evangelização e educação da fé do Povo de Deus com a realização das Missões Populares em todas as paróquias da arquidiocese.

De 2007 a 2011, dom Antônio foi presidente do Regional Nordeste 2 da CNBB.

 

Dom Carlos Alberto Breis Pereira, OFM

Catarinense de São Francisco do Sul, dom Beto, como é carinhosamente chamado, nasceu em 16 de setembro de 1965 e é frade menor franciscano desde a década de 1980. Ele ingressou na Província Franciscana da Imaculada Conceição e fez o noviciado. Depois, se transferiu para a Província de Santo Antônio do Brasil, no Nordeste, onde emitiu a profissão religiosa como frade menor franciscano, em 10 de janeiro de 1987.

Os estudos de Filosofia foram realizados no Instituto de Teologia do Recife (Iter), entre 1988 e 1989. E a Teologia foi cursada no Instituto Franciscano de Teologia de Olinda (IFTO), de 1990 a 1993. A ordenação presbiteral foi em 20 de agosto de 1994. Dom Beto licenciou-se, ainda, em Teologia Espiritual na Pontifícia Universidade Antonianum de Roma entre 2005 e 2007.

No âmbito da sua ordem religiosa, desempenhou diversas funções, como mestre dos professores temporários; secretário provincial da formação e estudos; guardião e definidor provincial; vigário provincial; moderador da formação permanente; coordenador do serviço de formação da Conferência dos Frades Menores no Brasil; e ministro provincial da Província de “Santo Antônio”, com sede em Recife. Também desempenhou a função de pároco durante o ministério presbiteral.

Em fevereiro de 2016, foi nomeado bispo coadjutor de Juazeiro (BA). Em 7 de setembro do mesmo ano, tomou posse como o quarto bispo da diocese. No quadriênio de 2019 a 2023, foi membro da Comissão para a Doutrina da Fé da CNBB e vice-presidente do Regional Nordeste 3 da Conferência. Em 2023, foi eleito presidente do Regional, cargo que desempenhou até o início de 2024, quando assumiu o ofício de arcebispo coadjutor de Maceió, em 6 de janeiro. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br

Só em 2023 morreram 8.565, enquanto o discurso anti-imigração ganha força na Europa e nos EUA

 

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), vinculada à ONU, constatou que 8.565 pessoas morreram ou desapareceram em 2023 durante suas desesperadas jornadas para escapar de conflitos, da violência e de perseguições em seus lugares de origem – ou para superar a falta de perspectiva de uma vida melhor. O ano revelou-se o mais mortal desde 2014, quando a OIM iniciou sua série estatística.

Há uma grave, antiga e bem conhecida crise humanitária por trás desses números. As razões para milhões de pessoas abandonarem seus lares a cada ano envolvem situações de brutalidade recorrente e de expectativas mínimas de sobrevivência – não contornadas pelas autoridades locais e muito menos pela comunidade internacional. No entanto, a adoção de políticas imigratórias mais restritivas nos últimos anos pelos principais países de destino, sobretudo os da Europa e os Estados Unidos, expõe os migrantes a trilhas irregulares e de maior perigo. Isso explica, segundo a OIM, a escalada do total de mortes em 2023, em sua maioria por afogamento e acidentes.

As estatísticas da OIM mostram que o total de mortes no ano passado superou o registrado em 2015 e em 2016, o auge da crise migratória do Oriente Médio para a Europa, via Mediterrâneo. Os conflitos historicamente empurram contingentes humanos a jornadas de alto risco. Assim foi quando migrantes árabes, sobretudo da Síria, se lançaram em precárias embarcações rumo à Grécia e à Itália na década passada.

Não é diferente agora. Na África, guerras e golpes de Estado têm empurrado seus cidadãos a empreitadas arriscadas através do Deserto do Saara, do mesmo Mediterrâneo e do entorno das Ilhas Canárias. Em 2023, 1.866 pessoas morreram nessas travessias. Perseguições políticas, étnicas e religiosas estão igualmente na raiz de fluxos migratórios. Na Ásia, 2.138 perderam suas vidas no ano passado, sobretudo afegãos em fuga da opressão do regime Taleban e rohingyas perseguidos pelo regime de Mianmar.

O caminho trilhado por latino-americanos e caribenhos, inclusive do Brasil, até a fronteira do México com os Estados Unidos levou 1.275 migrantes à morte – dos quais 87 eram crianças. O que os move a desafiar as barreiras de Washington à imigração, a ação de cartéis de tráfico humano e os riscos da travessia por desertos e florestas é a perspectiva de melhores condições de vida.

A estatística da OIM reforça o quão distante as nações estão de cumprir as premissas básicas de direitos humanos consagradas pelas Nações Unidas. A proteção aos civis é sumariamente negligenciada nos países marcados por conflito. Na outra ponta, o endurecimento de regras imigratórias pelas economias avançadas, onde a intolerância tornou-se peça-chave em processos eleitorais, demonstra inegável descaso humanitário.

A aversão à imigração estará explícita nas eleições presidenciais nos EUA e para o Parlamento Europeu deste ano e dificilmente será contrariada pelos seus candidatos. O fato de 512 migrantes terem morrido até fevereiro não gera nem mesmo compaixão na maioria do eleitorado – muito menos senso de responsabilidade dos Estados. É como se a morte de cada migrante se devesse exclusivamente à sua ambição por uma vida mais segura. Fonte: www.estadao.com.br

 

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz

Bispo de Campos (RJ) 

Na vivência integral da Páscoa entendemos porque Dom Gueranguer afirmava categoricamente que o cristão era um Aleluia dos pés a cabeça. Entendemos porque Mariategui chamava os cristãos de homens e mulheres da manhã. Sim porque Cristo o Sol da justiça ressuscitou e sua Luz esplendorosa banha e ilumina todas as criaturas e todas as coisas.  

Não estamos mais submetidos aos caprichos da morte ou da fortuna, romperam-se todas as cadeias que nos aprisionavam e nos deixavam inertes e paralisados. Cristo Ressuscitado nos chama para a verdadeira liberdade, para uma emancipação total e sem limitações. Instauram-se entre as pessoas novos relacionamentos, alicerçados na fraternidade e amizade selada com o Sangue do Cordeiro.  

Mas é importante destacar o que se escancara nos ícones bizantinos da Ressurreição, a natureza inteira vibra a vida nova e abundante da ressurreição. Como o Cristo da esperança que surge e emerge de toda a Criação como apreciamos na Sala Auditório São Paulo VI no Vaticano, percebemos a alegria e o gozo em todo ser vivo.  

Experimentar hoje a Páscoa é sentir-nos profundamente vivos e presentes, descobrindo a beleza inefável da graça e da luz que anima e colore todo o mundo sanando e esperançando todas as nossas angústias e buscas, fragilidades e paixões.  

Ao desejar-nos mutuamente a Páscoa compartilhamos sonhos e propósitos de transformação e renovação que aproximem e concretizem o Reino de paz, e fartura, de plenitude e equidade, que o Ressuscitado abre e prepara na Nova Jerusalém que já. Sejamos, pois, ardorosos e entusiastas mensageiros da Páscoa do Senhor, testemunhas do que vimos e ouvimos, amigos da luz e da terra renovada. Deus seja louvado! Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

Dom Leomar Antônio Brustolin 

Arcebispo de Santa Maria (RS)

A maior festa do calendário cristão é a Páscoa de Jesus Cristo. Ela é celebrada como Mistério da passagem de Cristo da morte à vida. Por isso, quando os cristãos se reúnem, em qualquer celebração do ano, para recordar uma festa ou mistério de sua fé, celebram a Eucaristia, o sacramento da Páscoa de seu Salvador. O que aconteceu de uma vez por todas (Hb 7, 27) é atualizado todas as vezes que a comunidade cristã, obedecendo ao mandato de Jesus, se reúne para celebrar ritualmente o dom da Sua vida, morte e ressurreição. Esse dom é antecipado na última Ceia e encontrará realização plena na cruz do Calvário. Os primeiros cristãos, portanto, celebravam a Páscoa todos os domingos. Todas as semanas celebravam a Páscoa semanal que é o domingo, e a Páscoa anual era celebrada então somente no Tríduo Pascal: os três dias da Páscoa. 

A riqueza da festa da Páscoa merece três dias para destacar em cada um algum aspecto particular do Mistério. Na quinta-feira Santa, é a Páscoa do Pão, na qual Cristo se entrega totalmente aos seus irmãos em seu Corpo e Sangue celebrados no Pão e no Vinho consagrados. Na Sexta-feira Santa se celebra a Páscoa da Cruz. Foi morrendo que Jesus destruiu a nossa morte e revelou o infinito amor de Deus pela humanidade. O Sábado Santo celebra a vitória da vida sobre a morte, a ressurreição de Cristo. Cristo ressuscita dos mortos para que todos que nele crerem, tenham a vida em plenitude. Assim, a Páscoa é celebrada em três dias: Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. 

A riqueza de símbolos, ritos e palavras celebradas nestes dias, não tem comparação com nenhuma outra ritualidade. São símbolos cristológicos do fogo e da luz, da palavra e da água, do Pão e do Vinho. Quem acredita em Cristo, segue sua luz e torna-se ele mesmo luz para o mundo, antecipando o que no Reino de Deus ocorrerá, quando não precisaremos mais de lâmpadas nem da luz do sol, porque toda luminosidade virá do Crucificado Ressuscitado (Ap 21, 23). 

Celebrar a Páscoa é ter a sabedoria de passar o tempo com os olhos fixos na eternidade, perceber que tudo passa, somente Deus basta. É reconhecer que não caminhamos para a morte, mas para a vida eterna. Fonte: https://www.cnbb.org.br

A riqueza de detalhes e o ritmo de novela da narrativa exigem boa dose de criatividade

 

Atores da série "The Chosen" durante as gravações da quarta temporada - Divulgação

 

Que o leitor me perdoe pela cabeça de católico, mas para este escriba a tentação de abordar temas bíblicos na Semana Santa é quase impossível de vencer. Eis a razão pela qual gostaria de aproveitar o espaço, desta vez, para uma brevíssima análise histórica de "The Chosen" ("Os Escolhidos"), a popular série de streaming americana que está recontando a trajetória de Jesus de Nazaré e seus apóstolos. Por enquanto, estamos na quarta temporada (de um total projetado de sete).

A riqueza de detalhes e o ritmo de novela da narrativa exigem boa dose de criatividade, em especial no que diz respeito aos detalhes da personalidade e da história pregressa dos discípulos do Nazareno —coisas a respeito das quais os Evangelhos do Novo Testamento, em geral, silenciam. Os textos canônicos dizem, por exemplo, que Pedro tinha uma sogra (ou seja, era ou tinha sido casado) e que ela foi curada por Jesus, mas não fazemos a menor ideia de como era a relação dele com a esposa ou mesmo o nome dela.

Outro ponto interessante a destacar é que, ao tentar criar uma trama única a partir dos quatro Evangelhos, cada um dos quais com sua própria história e perspectiva sobre Cristo, "The Chosen" retoma uma tradição cristã muito antiga, cujo representante mais famoso leva o sonoro nome de "Diatessáron" (algo como "a partir de quatro" em grego). Composta por volta do ano 170 d.C. por Taciano, um erudito cristão da Assíria (atual norte do Iraque, grosso modo), a obra tenta eliminar personagens aparentemente duplicados e juntar os acontecimentos citados por Mateus, Marcos, Lucas e João numa ordem considerada lógica. (Na maioria das igrejas cristãs, a ideia acabou não pegando, e Taciano chegou até a ser considerado suspeito de heresia.)

Na aparência dos personagens, a série traz uma bem-vinda ruptura diante da velha mania de Hollywood de retratar os habitantes da Judeia e da Galileia como americanos ou europeus de olhos azuis. Jonathan Roumie, intérprete de Jesus e filho de um egípcio de origem síria e uma irlandesa, muito provavelmente não ficaria deslocado na Nazaré do ano 30 d.C. Um pouco mais dúbia historicamente é a presença de atores negros e de origem indiana, mas sabemos que o alcance "globalizado" do judaísmo é um fenômeno muito antigo, bem como as conexões de longa distância do Império Romano (moedas de Roma já foram achadas até no Vietnã, por exemplo).

Curiosamente, porém, talvez o grande tropeço das primeiras temporadas tenha a ver justamente com os romanos e com o papel do vilão Quintus (Brandon Potter). Pouca gente sabe que, como habitante da Galileia, Jesus não cresceu sob ocupação romana direta. A terra da família de Cristo tinha seu próprio governante independente de origem judaica, Herodes Antipas (20 a.C.-39 d.C.).

A situação era diferente na Judeia e sua capital, Jerusalém, essas sim ocupadas por governadores romanos, como o célebre Pilatos. Na Galileia, porém, os soldados que Jesus e seus discípulos encontravam podiam muito bem não ter nada a ver diretamente com Roma, sendo mercenários de regiões vizinhas, como a Síria, ou até de lugares mais distantes (Herodes, o Grande, pai de Herodes Antipas, tinha guarda-costas gauleses, por exemplo —"bárbaros" vindos da atual França).

Quanto ao apóstolo Mateus, um publicano ou cobrador de impostos, faz menos sentido imaginá-lo com soldados romanos em seu cangote do que como funcionário de uma "empresa terceirizada" cobrando as dívidas de alguém com um banco. Era basicamente assim que funcionava a cobrança de impostos naquele contexto —havia um valor exigido por Roma, e o resto do dinheiro ficava nas mãos dos "empresários" que tinham conseguido aquela concessão. Era, óbvio, a receita perfeita para cenas de corrupção e extorsão.

Um último ponto: apesar das incertezas históricas que cercam os Evangelhos, faz bastante sentido imaginar que a pregação de Jesus e suas parábolas adotavam uma linguagem simples e direta, que dialogava diretamente com o cotidiano de seus ouvintes. Quanto a isso, "The Chosen" acerta em cheio. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 

Dom João Santos Cardoso

Arcebispo de Natal (RN)

 

Na Sexta-Feira Santa, revivemos o mistério da paixão, crucificação e morte de Jesus. Este é o único dia do ano em que a Igreja Católica não celebra a Eucaristia nem os demais sacramentos, com exceção da Penitência e da Unção dos Enfermos. O ato litúrgico mais significativo deste dia é a Celebração da Paixão do Senhor, às 15 horas, que se compõe de três partes: a liturgia da Palavra, a adoração da Cruz e a Sagrada Comunhão. A espiritualidade cristã inclui também a celebração da Via-Sacra, a recitação do Ofício da Paixão, a procissão do Senhor Morto e outras práticas de piedade ligadas às tradições locais. É muito importante também santificar esse dia com jejum e penitência e, no silêncio e na oração, contemplar o mistério da Paixão do Senhor. 

A Sexta-Feira da Paixão direciona nosso olhar para a Cruz do Senhor, expressão do amor de Deus por nós, marco de uma nova aliança entre Ele e a humanidade, selada pelo sacrifício redentor de seu Filho. A cruz não apenas simboliza a humanidade de Deus, que assumiu as dores e tragédias humanas para nos salvar do pecado, mas também nos convoca à solidariedade e à transformação pessoal, unindo nossos sofrimentos aos de Cristo para alcançar a redenção. 

A morte de Cristo na cruz nos faz lembrar dos sofrimentos e males que afligem o ser humano em todos os tempos: o peso esmagador da morte, o ódio e a violência que ainda hoje ensanguentam a terra. Embora a Sexta-Feira Santa seja um dia repleto de tristeza, é também uma oportunidade propícia para despertar nossa fé, fortalecer nossa esperança e coragem a fim de carregar nossa cruz com humildade, confiando em Deus e em sua vitória. 

A morte de Cristo nos interpela profundamente. Quando foi preso, Ele poderia ter resistido com uma legião de anjos, mas escolheu não reagir por meio da violência, recusando-se a usá-la como meio de defesa. Na noite após a celebração da última ceia, traído por Judas, o Senhor foi levado à prisão. Na mesma noite, foi julgado pelo Sinédrio. Na manhã de sexta-feira, o Sinédrio o submeteu a um novo julgamento, acusando-o de blasfêmia. Por fim, foi condenado à morte, pois o Senhor não pôde negar que realmente é o Filho de Deus. 

Após ser condenado pelo Sinédrio, que não tinha autoridade para executar penas de morte, Jesus foi levado a Pôncio Pilatos pelos líderes judeus, os quais solicitaram sua execução. Pilatos, não encontrando culpa em Jesus, propôs torturá-lo e, em seguida, conceder-lhe o indulto de Páscoa e libertá-lo. No entanto, eles rejeitaram a proposta e influenciaram a multidão a pedir a liberdade para Barrabás e a pena de morte para Jesus. Pilatos, renunciando à sua responsabilidade, “lava as mãos” e cede à pressão popular, condenando Jesus à morte, apesar de sua inocência. Esse fato nos faz refletir sobre como a justiça pode ser distorcida pela pressão da opinião de uma massa manipulada e, movida pelo espetáculo, transformar-se em vingança, condenando alguém à morte sem dar-lhe a ampla possibilidade de defesa. 

A morte de Cristo na cruz é um grande mistério, difícil de compreender. Jesus, embora sendo Deus, optou por não usar suas prerrogativas divinas e seu poder. Ao contrário, “despojou-se de si mesmo”, assumindo radicalmente, exceto o pecado, a frágil condição humana até o extremo da morte humilhante numa cruz (Fl 2, 6-11). Essa escolha não foi um acidente, mas uma decisão deliberada de seguir o plano salvífico de Deus Pai. 

São Paulo interpreta esse acontecimento à luz da fé. À arrogância e desobediência de Adão, ele contrapõe a humildade e obediência de Jesus. Embora sendo Deus e sem pecado, ao tornar-se homem, assumiu nossas debilidades, fez penitência em nosso lugar, carregando sobre seus ombros nossos pecados. Submeteu-se a tudo por amor a nós, até a morte humilhante na cruz. Por amor, “despojou-se de si mesmo” e tornou-se nosso irmão, compartilhando nossa condição humana. Por sua obediência, Deus o exaltou à sua direita, para que, “ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua proclame: ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 10-11). 

Reviver o mistério da Paixão de Cristo significa também buscar significado para os acontecimentos dolorosos de nossa história pessoal e coletiva. Por isso, devemos ter em mente, neste dia da Paixão do Senhor, as situações dramáticas que afligem tantos irmãos nossos no Brasil e em todas as partes do mundo, mostrando solidariedade e empatia com os sofredores e vítimas da maldade humana, da injustiça e da violência. Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

Dom Carmo João Rhoden

Bispo emérito de Taubaté (SP)

 

Quinta feira da Semana Santa 28/03/24 (Jo 13, 1-15) 

Texto referencial: Jesus disse aos discípulos: “compreendeis o que acabo de fazer? Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois Eu o Sou. Portanto, se Eu, o Senhor e Mestre vos lavei os pés, também, vós deveis lavar os pés uns dos outros”.  (Jo 13, 12-14) 

Com a ressureição do Senhor, a Quinta feira Santa, é o dia mais significativo de Jesus, de sua vida e missão, como maior servidor, como sumo sacerdote e profeta de cujo ministério, todos nós, pelo batismo, participamos. Na Quinta feira Santa, Jesus brindou sua Igreja com o Sacramento dos Sacramentos – a Eucaristia, pois Dela, todos os outros partem e, para Ela, todos levam. A Eucaristia é, pois, o dom dos dons de Jesus. Para no-la deixar, criou o novo, e definitivo sacerdócio: o da Igreja. Para tudo isso poder acontecer, fê-lo preceder do novo mandamento- o seu. “Que vos ameis como Eu vos amei”, não como Moisés mandou. Eu vos amei, servindo-vos, lavando vossos pés. O cristianismo será, sempre, a religião do amor-serviço, através da vivência da fé. Infelizmente, e com razão, devemos confessá-lo: esquecemos tudo isso muito cedo. Aprendemos a mandar, a exigir, a apresentar condições; que diferença… 

Quinta feira Santa, foi a noite dos dons, mas, também, a da maior injustiça, do maior escândalo: o de Judas, o discípulo traidor. Nele, o demônio achou guarida: seu maior colaborador, além de traidor. Traiu. Como? Com um beijo. Mas, não é este um dos sinais mais sagrados de amor, respeito e gratidão? Sim. Mas, ali está, justamente, o maior sacrilégio. Foi a pior noite que já houve na história. 

Quanto tempo levaremos, ainda, para entender, melhor, a grandeza do amor de Deus, sua misericórdia para com os homens e a obtusidade e ingratidão destes, como o maior Benfeitor? Que a graça de Deus nos ajude a entendê-lo.  Feliz a santa quinta feira! Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá (PA)

 

Na missa do lava-pés, na quinta-feira santa, a segunda leitura (cf. 1 Cor 11,23-26) fala da ceia do Senhor segundo a tradição que São Pulo recebeu dos apóstolos e também da comunidade dos cristãos e das cristãs, na qual o apóstolo escreveu aos Coríntios, deixando como um grande testamento feito pelo Senhor, em relação ao pão e vinho, seu corpo e seu sangue, para fazerem memória dele junto aos discípulos até a consumação dos séculos. São João Crisóstomo1, bispo de Constantinopla, séculos IV e V deu uma importante interpretação de modo que a seguir ver-se-á a sua doutrina sobre a eucaristia, como pão que prepara o povo de Deus em Jesus, rumo à casa do Pai.  

 

A lembrança dos mistérios

São João Crisóstomo teve presentes a lembrança dos mistérios, fator importante na vida das pessoas, pois o Senhor dignou-se fazer com que todos participassem da mesma mesa. O apóstolo Paulo falou da noite em que o Senhor Jesus foi entregue (cf. 1 Cor 11,23), cujo sentido e valor entregou-se Ele à humanidade para a sua salvação. O bispo colocou o tempo em Jesus, pois naquele fim de tarde estiveram em conjunto a negação de Pedro e traição de Judas.  

 

A condição do Senhor

A sua condição em relação à sua alma estava Ele triste até a morte(cf. Mt 26,38), no entanto ele estava em companhia com o Pai, com os discípulos, pelo fato de que foi traído, preso, arrastado e julgado até a morte de cruz, na qual ele foi se apartando da terra e de todo o luxo2. O fato era que o Senhor entregou-se a si mesmo de modo que a pessoa que segue a Jesus e à Igreja é chamada a fazer o mesmo ajudando a quem mais precisa dela3. 

 

O Apóstolo e o Senhor

São Paulo disse que ele recebeu do Senhor as coisas realizadas na última ceia (cf. 1 Cor 11,23). Ele não pertencia ao grupo dos apóstolos, mas ele viveu a alegria da conversão de modo que recebeu do Senhor a sua entrega pelo pão e o vinho dados para a salvação do mundo. Ele recebeu a última iniciação ao mistério e na mesma noite que ia ser imolado, Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: Tomai, comei. Isto é o meu corpo, que é dado por vós (1 Cor 1,23-24)4. Foi a unidade do Apóstolo Paulo com Jesus e Jesus com o Apóstolo Paulo. 

 

A eucaristia e a vida 

São João Crisóstomo afirmou que a eucaristia vai junto com a vida. Se pessoa se aproxima da eucaristia a sua vida anda bem de modo a não praticar indignidade na Ceia, como não ter vergonha das pessoas, não desprezar o faminto, não se embriagar, nem injuriar a Igreja5. É preciso se aproximar da Eucaristia dando graças pelo dom que a pessoa recebeu e por conseguinte retribuir ao Senhor o dom recebido, de modo que não será possível se apartar do seu próximo. O fato é que Cristo deu-se em alimento para todos ao dizer: Tomai, comei (cf. Mt 1,23). Assim o seguidor e a seguidora do Senhor ajudam aos outros com o pão material para se unir a Jesus, o pão espiritual6.  

 

O cálice e a nova aliança

Do mesmo modo, após a Ceia, também tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim(1 Cor 11, 25). O bispo de Constantinopla falou que não seria possível, uma pessoa celebrar a memória de Cristo, e ao mesmo tempo desprezasse os pobres, porque ela está em comunhão com as pessoas necessitadas. O sangue da Nova Aliança é o sangue do Senhor Jesus dado para todas as pessoas. Os discípulos receberam do próprio Cristo a vítima de doação do Senhor7.  

 

Comer do pão e beber do cálice

Pois todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha(1 Cor 11, 26). O Senhor pede segundo São João Crisóstomo, a realização da comida com o pão e da bebida com o cálice, anunciando a morte do Senhor, porque seria a sua entrega total ao Pai e à humanidade por amor infinito. Assim Jesus disse sobre o pão e o cálice: Fazei-o em memória de mim, (cf. 1 Cor 11,25) revelando aos seus discípulos e discípulas o motivo da instituição do mistério, declarando com os outros, também este é suficiente fundamento para a piedade8. A sua memória é de uma pessoa que amou a todas as pessoas com infinito amor.  

 

A morte e a sua vinda

São Paulo também afirmou pela determinação do Senhor Jesus: Todas as vezes que comeis.. anunciais a sua morte. São João disse que aquela Ceia constou estes dados fundamentais para a vida eucarística do povo de Deus. O fato é que ela realiza-se pelos seus discípulos até a consumação dos séculos, segundo o desejo e a Palavra de Jesus, de modo que foi dito: Até que ele venha (1 Cor 11,26)9.  

São Paulo recebeu da tradição dados da última ceia na qual o Senhor entregou o seu corpo e o seu sangue, pelo pão e o vinho dados para os discípulos, sinais da Nova Aliança até a consumação dos tempos e feitos em seu nome, memória de Jesus. Para São João Crisóstomo a eucaristia leva a pessoa a amar Jesus Cristo nos pobres, nos necessitados, porque a pessoa une-se a Cristo, aos irmãos e irmãs no geral e com aquelas pessoas mais necessitadas e pobres, para um dia a pessoa se unir com o Senhor, pela vida eterna. Fonte: https://www.cnbb.org.br 

 

1) Oração

Ó Deus, que fizestes vosso Filho padecer o suplício da cruz, para arrancar-nos à escravidão do pecado, concedei aos vossos servos a graça da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (Mateus 26, 14-25)

14Um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15e disse: “Que me dareis se eu vos entregar Jesus?” Combinaram trinta moedas de prata. 16E daí em diante, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo. 17No primeiro dia dos Pães sem fermento, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa?” 18Jesus respondeu: “Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a ceia pascal em tua casa, junto com meus discípulos’”. 19Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a ceia pascal. 20Ao anoitecer, Jesus se pôs à mesa com os Doze. 21Enquanto comiam, ele disse: “Em verdade vos digo, um de vós me vai entregar”. 22Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a perguntar-lhe: “Acaso sou eu, Senhor?” 23Ele respondeu: “Aquele que se serviu comigo do prato é que vai me entregar. 24O Filho do Homem se vai, conforme está escrito a seu respeito. Ai, porém, daquele por quem o Filho do Homem é entregue! Melhor seria que tal homem nunca tivesse nascido!” 25Então Judas, o traidor, perguntou: “Mestre, serei eu?” Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes”. Palavra da salvação.

 

3) Reflexão

Ontem o evangelho falou da traição de Judas e da negação de Pedro. Hoje, fala novamente da traição de Judas. Na descrição da paixão de Jesus do evangelhos de Mateus acentua-se fortemente o fracasso dos discípulos. Apesar da convivência de três anos, nenhum deles ficou para tomar a defesa de Jesus. Judas traiu, Pedro negou, todos fugiram. Mateus conta isto, não para criticar ou condenar, nem para provocar desânimo nos leitores, mas para ressaltar que o acolhimento e o amor de Jesus superam a derrota e o fracasso dos discípulos! Esta maneira de descrever a atitude de Jesus era uma ajuda para as Comunidades na época de Mateus. Por causa das freqüentes perseguições, muitos tinham desanimado e abandonado a comunidade e se perguntavam: "Será que é possível voltar? Será que Deus nos acolhe e perdoa?" Mateus responde sugerindo que nós podemos romper com Jesus, mas Jesus nunca rompe conosco. O seu amor é maior do que a nossa infidelidade. Esta é uma mensagem muito importante que colhemos do evangelho durante a Semana Santa.

Mateus 26,14-16: A Decisão de Judas de trair Jesus. Judas tomou a decisão, depois que Jesus não aceitou a crítica dos discípulos a respeito da mulher que gastou um perfume caríssima só para ungir Jesus (Mt 26,6-13). Ele foi até os sacerdotes e perguntou: “Quanto vocês me pagam se eu o entregar?” Combinaram trinta moedas de prata. Mateus evoca as palavras do profeta Zacarias para descrever o preço combinado (Zc 11,12). Ao mesmo tempo, a traição de Jesus por trinta moedas evoca a venda de José pelos seus próprios irmãos, avaliado pelos compradores em vinte moedas (Gn 37,28). Evoca ainda o preço de trinta moedas a ser pago pelo ferimento a um escravo (Ex 21,32).

Mateus 26,17-19: A Preparação da Páscoa.  Jesus era da Galiléia. Não tinha casa em Jerusalém. Ele passava as noites no Horto das Oliveiras (cf. Jo 8,1). Nos dias da festa de páscoa a população de Jerusalém triplicava por causa da quantidade enorme de peregrinos que vinham de toda a parte. Não era fácil para Jesus encontrar uma sala ampla para poder celebrar a páscoa junto com os peregrinos que tinham vindo com ele desde a Galiléia. Ele manda os discípulos encontrar uma pessoa em cuja casa decidiu celebrar a Páscoa. O evangelho não oferece ulteriores informações e deixa que a imaginação complete o que falta nas informações. Era um conhecido de Jesus? Um parente? Um discípulo? Ao longo dos séculos, a imaginação dos apócrifos soube completar a falta de informação, mas com pouca credibilidade.

Mateus 26,20-25: Anúncio da traição de Judas. Jesus sabe que vai ser traído. Apesar de Judas fazer as coisas em segredo, Jesus está sabendo. Mesmo assim, ele faz questão de se confraternizar com o círculo dos amigos, do qual Judas faz parte. Estando todos reunidos pela última vez, Jesus anuncia quem é o traidor. É "aquele que põe a mão no prato comigo". Esta maneira de anunciar a traição acentua o contraste. Para os judeus a comunhão de mesa, colocar juntos a mão no mesmo prato, era a expressão máxima da amizade, da intimidade e da confiança. Mateus sugere assim que, apesar da traição ser feita por alguém muito amigo, o amor de Jesus é maior que a traição!

O que chama a atenção é a maneira de Mateus descrever estes fatos. Entre a traição e a negação ele colocou a instituição da Eucaristia (Mt 26,26-29): a traição de Judas, antes (Mt 25,20-25); a negação de Pedro e a fuga dos discípulos, depois (Mt 25,30-35). Deste modo, ele destaca para todos nós a inacreditável gratuidade do amor de Jesus, que supera a traição, a negação e a fuga dos amigos. O seu amor não depende do que os outros fazem por ele.

 

4) Para um confronto pessoal

1) Será que eu seria capaz de ser como Judas e de negar e trair a Deus, a Jesus, aos amigos e amigas?

2) Na semana santa é importante eu reservar algum momento para compenetrar-me da inacreditável gratuidade do amor de Deus por mim.

 

5) Oração final

Quero louvar com um cântico o nome de Deus e exaltá-lo com ações de graças; “Vede, humildes e alegrai-vos! Vós que buscais a Deus, vosso coração reviva! Pois o SENHOR atende os pobres, não despreza os seus cativos. (Sl 68, 31.33-34)

 

1) Oração

Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos celebrar de tal modo os mistérios da paixão do Senhor, que possamos alcançar vosso perdão. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho  (João 13, 21-33.36-38)

21Depois de dizer isso, Jesus ficou interiormente perturbado e testemunhou: “Em verdade, em verdade, vos digo: um de vós me entregará”. 22Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem estava falando. 23Bem ao lado de Jesus estava reclinado um dos seus discípulos, aquele que Jesus mais amava. 24Simão Pedro acenou para que perguntasse de quem ele estava falando. 25O discípulo, então, recostando- se sobre o peito de Jesus, perguntou: “Senhor, quem é?” 26Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der um bocado passado no molho”. Então, Jesus molhou um bocado e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27Depois do bocado, Satanás entrou em Judas. Jesus, então, lhe disse: “O que tens a fazer, faze logo”. 28Mas nenhum dos presentes entendeu por que ele falou isso. 29Como Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus estava dizendo: “Compra o que precisamos para a festa”, ou que desse alguma coisa para os pobres. 30Então, depois de receber o bocado, Judas saiu imediatamente. Era noite. 31Depois que Judas saiu, Jesus disse: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, Deus também o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33Filhinhos, por pouco tempo eu ainda estou convosco. Vós me procurareis, e agora vos digo, como eu disse também aos judeus: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’. 36Simão Pedro perguntou: “Senhor, para onde vais?” Jesus respondeu-lhe: “Para onde eu vou, não podes seguir-me agora; mais tarde me seguirás”. 37Pedro disse: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Eu darei minha vida por ti!” 38Jesus respondeu: “Darás tua vida por mim? Em verdade, em verdade, te digo: não cantará o galo antes que me tenhas negado três vezes. Palavra da salvação

 

3) Reflexão

Estamos na terça feira da Semana Santa. Os textos do evangelho destes dias nos confrontam com os fatos terríveis que levaram à prisão e à condenação de Jesus. Os textos não trazem só as decisões das autoridades religiosas e civis contra Jesus, mas também relatam as traições e negações dos próprios discípulos que possibilitaram a prisão de Jesus pelas autoridades e contribuíram enormemente para aumentar o sofrimento de Jesus. 

João 13,21: O anúncio da traição.  Depois de ter lavado os pés dos discípulos (Jo 13,2-11) e de ter falado da obrigação que temos de lavar os pés uns dos outros (Jo 13,12-16), Jesus se comoveu profundamente. E não era para menos. Enquanto ele estava fazendo aquele gesto de serviço e de total entrega de si mesmo, ao lado dele um discípulo estava tramando a maneira de como traí-lo naquela mesma noite. Jesus expressa a sua comoção e diz: “Em verdade lhes digo: um de vocês vai me trair!” Não diz: “Judas vai me trair”, mas “um de vocês”. É alguém do círculo da amizade dele que vai ser o traidor”.

João 13,22-25: A reação dos discípulos.  Os discípulos levam susto. Não esperavam por esta declaração tão séria de que um deles seria o traidor. Pedro faz um sinal a João para ele perguntar a Jesus qual dos doze iria cometer a traição. Sinal de que eles nem sequer desconfiavam quem pudesse ser o traidor. Ou seja, sinal de que a amizade entre eles ainda não tinha chegado à mesma transparência de Jesus para com eles (cf. Jo 15,15). João se inclinou para perto de Jesus e perguntou: “Quem é?”

João 13,26-30: Jesus indica Judas.  Jesus disse: é aquele a quem vou dar um pedaço de pão umedecido no molho. Ele pegou um pedaço de pão, molhou e deu a Judas. Era um gesto comum e normal que os participantes de uma ceia costumavam fazer entre si. E Jesus disse a Judas: “O que você tem que fazer, faça logo!” Judas tinha a bolsa comum. Era o encarregado de comprar as coisas e de dar esmolas para os pobres. Por isso, ninguém percebeu nada de especial no gesto e na palavra de Jesus. Nesta descrição do anúncio da traição está uma evocação do salmo em que o salmista se queixa do amigo que o traiu: “Até o meu amigo, em quem eu confiava e que comia do meu pão, é o primeiro a me trair” (Sl 41,10; cf. Sl 55,13-15). Judas percebeu que Jesus estava sabendo de tudo (Cf. Jo 13,18). Mesmo assim, não voltou atrás, e manteve a decisão de trair Jesus. É neste momento que se opera a separação entre Judas e Jesus. João diz que o satanás entrou nele. Judas levantou e saiu. Ele entrou para o lado do adversário (satanás). João comenta: “Era noite”. Era a escuridão.

João 13,31-33: Começa a glorificação de Jesus.   É como se a história tivesse esperado por este momento da separação entre a luz e as trevas. Satanás (o adversário) e as trevas entraram em Judas quando ele decidiu de executar o que estava tramando. Neste mesmo momento se fez luz em Jesus que declara: “Agora o Filho do Homem foi glorificado, e também Deus foi glorificado nele. Deus o glorificará em si mesmo e o glorificará logo!”  O que vai acontecer daqui para frente é contagem regressiva. As grandes decisões foram tomadas, tanto da parte de Jesus (Jo 12,27-28) e agora também da parte de Judas. Os fatos se precipitam. E Jesus já dá o aviso: “Filhinhos, é só mais um pouco que vou ficar com vocês”. Falta pouco para que se realize a passagem, a Páscoa.

João 13,34-35: O novo mandamento.  O evangelho de hoje omite estes dois versículos sobre o novo mandamento do amor e passa a falar do anúncio da negação de Pedro.

João 13,36-38: Anúncio da negação de Pedro. Junto com a traição de Judas, o evangelho traz também a negação de Pedro. São os dos dois fatos que mais contribuíram para o sofrimento de Jesus. Pedro diz que está disposto a dar a vida por Jesus. Jesus o chama à realidade: “Você dar a vida por mim? O galo não cantará sem que me renegues três vezes”. Marcos tinha escrito: “O galo não cantará duas vezes e você já me terá negado três vezes” (Mc 14,30). Todo mundo sabe que o canto do galo é rápido. Quando de manhã cedo o primeiro galo começa a cantar, quase ao mesmo tempo todos os galos estão cantando. Pedro é mais rápido na negação do que o galo no canto.

 

4) Para um confronto pessoal

1) Judas, amigo, torna-se traidor. Pedro, amigo, torna-se negador. E eu?

2) Colocando-me na situação de Jesus: como enfrenta negação e traição, o desprezo e a exclusão?

 

5) Oração final

És tu, Senhor, a minha esperança, és minha confiança, SENHOR, desde a minha juventude. Sobre ti me apoiei desde o seio materno, desde o colo de minha mãe és minha proteção; em ti está sempre o meu louvor. (Sl 70, 5-6)

 

1) Oração

Concedei, ó Deus, ao vosso povo, que desfalece por sua fraqueza, recobrar novo alento pela Paixão do vosso Filho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (João 12, 1-11)

1Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde morava Lázaro, que ele tinha ressuscitado dos mortos. 2Lá, ofereceram-lhe um jantar. Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. 3Maria, então, tomando meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. A casa inteira encheu-se do aroma do perfume. 4Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que entregaria Jesus, falou assim: 5“Por que este perfume não foi vendido por trezentos denários para se dar aos pobres?” 6Falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas, porque era ladrão: ele guardava a bolsa e roubava o que nela se depositava. 7Jesus, porém, disse: “Deixa-a! que ela o guarde em vista do meu sepultamento. 8Os pobres, sempre os tendes convosco. A mim, no entanto, nem sempre tereis”. 9Muitos judeus souberam que ele estava em Betânia e foram para lá, não só por causa dele, mas também porque queriam ver Lázaro, que Jesus tinha ressuscitado dos mortos. 10Os sumos sacerdotes, então, decidiram matar também Lázaro, 11pois por causa dele muitos se afastavam dos judeus e começaram a crer em Jesus.

 

3) Reflexão

Estamos entrando na Semana Santa, a semana da páscoa de Jesus, da sua passagem deste mundo para o Pai (Jo 13,1). A liturgia de hoje coloca diante de nós o início do capítulo 12 do evangelho de João, que faz a ligação entre o Livro dos Sinais (cc 1-11) e o Livro da Glorificação (cc.13-21). No fim do "Livro dos Sinais", apareceram com clareza a tensão entre Jesus e as autoridades religiosas da época (Jo 10,19-21.39) e o perigo que Jesus corria. Várias vezes tentaram matá-lo (Jo 10,31; 11,8.53; 12,10). Tanto assim, que Jesus era obrigado a levar uma vida clandestina, pois podia ser preso a qualquer momento (Jo 10,40; 11,54).

João 12,1-2: Jesus, perseguido pelos judeus, vai à Betânia. Seis dias antes da páscoa, Jesus vai à Betânia na casa das suas amigas Marta e Maria e de Lázaro. Betânia significa Casa da Pobreza. Ele estava sendo perseguido pela polícia (Jo 11,57). Queriam matá-lo (Jo 11,50). Mesmo sabendo que a polícia estava atrás de Jesus, Maria, Marta e Lázaro receberam Jesus em casa e ofereceram um jantar para ele. Acolher em casa uma pessoa perseguida e oferecer-lhe um jantar era perigoso. Mas o amor faz superar o medo

João 12,3: Maria unge Jesus. Durante o jantar, Maria unge os pés de Jesus com meio litro de perfume de nardo puro (cf. Lc 7,36-50). Era um perfume cheiroso, caríssimo, de trezentos denários. Em seguida, ela enxuga os pés de Jesus com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume. Em todo este episódio, Maria não fala. Só age. O gesto cheio de simbolismo fala por si mesmo. Lavando os pés, Maria se faz servidora. Jesus vai repetir o gesto na última ceia (Jo 13,5).

João 12,4-6: Reação de Judas. Judas critica o gesto de Maria. Acha que é um desperdício. De fato, trezentos denários eram o salário de trezentos dias! O salário de quase um ano inteiro foi gasto de uma só vez! Judas acha que o dinheiro deveria ser dado aos pobres. O evangelista comenta que Judas não tinha nenhuma preocupação com os pobres, mas que era um ladrão. Tinha a bolsa comum e roubava dinheiro. Julgamento forte que condena Judas. Não condena a preocupação com os pobres, mas sim a hipocrisia que usa os pobres para se promover e se enriquecer. Nos seus interesses egoístas, Judas só pensava em dinheiro. Por isso não percebeu o que estava no coração de Maria. Jesus enxerga o coração e defende Maria.

João 12,7-8: Jesus defende a mulher. Judas olha o gasto e critica a mulher. Jesus olha o gesto e defende a mulher: “Deixa-a! Ela o conservou para o dia da minha sepultura!"  Em seguida, Jesus diz: "Pobres sempre tereis, mas a mim nem sempre tereis!"  Quem dos dois vivia mais perto de Jesus: Judas ou Maria? Como discípulo,Judas convivia com Jesus há quase três anos, vinte e quatro horas por dia. Fazia parte do grupo. Maria só o encontrava uma ou duas vezes ao ano, por ocasião das festas, quando Jesus vinha a Jerusalém e visitava a casa dela. Só a convivência sem o amor não faz conhecer. Tolhe o olhar. Judas era cego. Muita gente convive com Jesus e até o louva com muito canto, mas não o conhece de verdade nem o revela (cf. Mt 7,21). Duas afirmações de Jesus merecem um comentário mais detalhado: (1) “Pobres sempre tereis”, e (2) “Ela guardou o perfume para me ungir no dia do meu sepultamento”.

1. “Pobres sempre tereis” Será que Jesus quis dizer que não devemos preocupar-nos com os pobres, visto que sempre vai haver gente pobre? Será que a pobreza é um destino imposto por Deus? Como entender esta frase? Naquele tempo, as pessoas conheciam o Antigo Testamento de memória. Bastava Jesus citar o começo de uma frase do AT, e as pessoas já sabiam o resto. O começo da frase dizia: “Vocês vão ter sempre os pobres com vocês!” (Dt 15,11a). O resto da frase que o povo já conhecia e que Jesus quis lembrar, era este: “Por isso, eu ordeno: abra a mão em favor do seu irmão, do seu pobre e do seu indigente, na terra onde você estiver!” (Dt 15,11b). Conforme esta Lei, a comunidade deve acolher os pobres e partilhar com eles seus próprios bens. Mas Judas, em vez de “abrir a mão em favor do pobre” e de partilhar com ele seus próprios bens, queria fazer caridade com o dinheiro dos outros! Queria vender o perfume de Maria por trezentos denários e usá-los para ajudar os pobres. Jesus cita a Lei de Deus que ensinava o contrário. Quem, como Judas, faz campanha com o dinheiro da venda dos bens dos outros, não incomoda. Mas aquele que, como Jesus, insiste na obrigação de acolher os pobres e de partilhar com eles os próprios bens, este incomoda e corre o perigo de ser condenado.

2. "Ela guardou esse perfume para me ungir no dia do meu sepultamento" A morte na cruz era o castigo terrível e exemplar, adotado pelos romanos para castigar os subversivos que se opunham ao império. Uma pessoa condenada à morte de cruz não recebia sepultura e não podia ser ungida, pois ficava pendurada na cruz até que os animais comessem o cadáver, ou recebia sepultura rasa de indigente. Além disso, conforme a Lei do Antigo Testamento, ela devia ser considerada como "maldita por Deus" (Dt 21, 22-23). Jesus ia ser condenado à morte de cruz, conseqüência do seu compromisso com os pobres e da sua fidelidade ao Projeto do Pai. Não ia ter enterro. Por isso, depois de morto, não poderia ser ungido. Sabendo disso, Maria se antecipa e o unge antes de ser crucificado. Com este gesto, ela mostra que aceitava Jesus como Messias, mesmo crucificado!  Jesus entende o gesto dela e o aprova.

João 12,9-11: A multidão e as autoridades. Ser amigo de Jesus pode ser perigoso. Lázaro corre perigo de morte por causa da vida nova que recebeu de Jesus. Os judeus decidiram matá-lo. Um Lázaro vivo era prova viva de que Jesus era o Messias. Por isso, a multidão o procurava, pois o povo queria experimentar de perto a prova viva do poder de Jesus. Uma comunidade viva corre perigo de vida porque é prova viva da Boa Nova de Deus!

 

4) Para um confronto pessoal

1) Maria foi mal interpretada por Judas. Você já foi mal interpretada alguma vez? Como você reagiu?

2) O que nos ensina o gesto de Maria? Que alerta nos traz a reação de Judas?

 

5) Oração final

O SENHOR é minha luz e minha salvação; de quem terei medo? O SENHOR é quem defende a minha vida; a quem temerei? Ele me dá abrigo na sua tenda no dia da desgraça. Esconde-me em sua morada, sobre o rochedo me eleva. (Sl 26, 1.5)

 

Dom Leomar Antônio Brustolin  

Arcebispo de Santa Maria (RS)

 

No domingo anterior ao da Páscoa, a Igreja Católica celebra o Domingo de Ramos, ou mais propriamente o Domingo da Paixão de Cristo. A celebração tem início com os fiéis reunidos à porta da igreja com ramos de oliveira para serem abençoados. É proclamado o Evangelho da entrada de Jesus em Jerusalém, quando é aclamado Rei Messiânico pelo povo da cidade. Nesta entrada triunfal, Ele é aclamado com Hosanas, palavra hebraica que significa “salve-nos, vos pedimos”. A narrativa nos conta que as pessoas cortavam galhos de árvores para aclamar a passagem de Cristo enquanto outros estendiam seus mantos para Jesus passar, montado num jumento. Era típica a situação em que grandes líderes da época adentrassem nas cidades montados em cavalos brancos para expressar seu poder e dominação. Jesus subvertendo essa expressão de poder, prefere entrar em Jerusalém montado num jumento para significar sua humildade e diferente versão sobre o poder, bem compreendido como serviço. 

Na celebração os ramos são aspergidos com água benta e é realizada uma procissão com a cruz, recordando aquela entrada de Jesus em Jerusalém. No mesmo ato litúrgico, faz-se a leitura do Evangelho da Paixão de Jesus Cristo, segundo um dos evangelistas do ano. O ano de 2024 é São Marcos. A Leitura da Paixão permite compreender que tipo de Rei e Messias é Jesus: o servo sofredor que se entrega à morte para revelar seu amor pela humanidade. Merece atenção alguns traços característicos do Evangelho de Marcos relativos à Paixão de Cristo. O Evangelista dá relevo particular a figura de São Pedro. Ele acentua como Jesus foi abandonado por todos na hora da Paixão. Tanto o relato da entrada triunfal de Jesus quanto a narrativa da Sua Paixão, indicam aos seus seguidores de todos os tempos que a glória de Cristo significa humildade e capacidade de transformar a dor em amor. Também ensina o valor da oração dirigida ao Pai, que sustenta na hora da provação, mesmo quando não somos capazes de entender o que está acontecendo em nossa história. 

Todos os dias recebemos anúncios de mortes, atentados e guerras. É diante da morte que o enigma da condição humana mais se intensifica. Para o cristão, contudo, a cruz de Cristo é um luminoso sinal de que a morte foi vencida e que todos os que associarem a esse mistério pascal serão capazes de entender a força na fraqueza, a glória na humilhação, a vida na morte (São Leão Magno). Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

Dom Carmo João Rhoden

Bispo Emérito de Taubaté (SP) 

 

Domingo de Ramos ou da Paixão do Senhor: (24/03/24) 

Jesus, entrando em Jerusalém, é ovacionado, no entanto, Ele mesmo, se comovendo, chora sobre a cidade profética (a sua), da qual, não ficará pedra sobre pedra. 

Hoje, não seria tanto de escrever, mas de ficar estarrecido, por um lado e de religiosamente impactado, diante da grandeza da vida e da paixão do Senhor. Vejamos: 1.1- Ele é traído por um dos seus discípulos, julgado pifiamente pelos homens do templo ou do sistema religioso de então, e, executado pelo poder dominante: o romano. Para estes, o lema era: “Fiat justitia etsi pereat mundus” (Faça-se justiça, mesmo que pereça o mundo). Mas, no caso, onde, se deveria admitir: “Justitia semper suprema lex esto”, infelizmente, aconteceu o contrário, se tornou a suprema injustiça. Como? Fizeram Jesus carregar a cruz para o Calvário. Inocentemente, trocando-O por um assassino, no caso, Barrabás. Traído por Judas (um dos apóstolos). Como? Mediante um sinal. Qual? O do beijo. Gesto convencional de amor e de respeito, de gratidão, no caso, infelizmente – da pior traição. Repito: vergonhosamente, traído por Judas e imitado pelos demais, chegando um mesmo, a fugir nú (Marcos?). E Pedro? Este, despudoradamente, se envergonhou do Mestre, diante de uma inofensiva empregadinha (não é bulling). E dos sumos pontífices, que direi? Grandes patifes desalmados. Contudo, a natureza gemeu de dor: o véu do templo se rasgou de alto a baixo e muitos mortos ressuscitaram. O galo cantou, envergonhado, três vezes, diante da nada patética atitude de Pedro, afirmando: “Não conheço este homem”.  

De outro lado, vemos Jesus: calado, amoroso, com toda a sua dignidade, chegando a suar sangue, além de carregar uma coroa de espinhos. 

Mas, quem está, de fato, atrás de tudo isto? Nós! Os pecadores de todos os tempos. Nós, os salvando, de hoje, de ontem e de sempre. Repito: o Mestre não acusa e nem usa seu poder. Cala. Pede ao Pai clemência, garantindo ao ladrão arrependido, a obtenção da salvação (ainda hoje estarás comigo no Paraíso). 

Mais uma vez, afirmo: diante do que vimos e ouvimos, não nos cabe fazer longos discursos, mas recorrer à introspecção. Para a conversão, assumindo, assim, mais e melhor nossa vocação e missão. 

O que o Domingo de Ramos ou da Paixão nos tem a dizer, hoje? A exigir? A pergunta é minha, a resposta é de todos. Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

Jornalista italiano Fabio Marchese Ragona foi incumbido de fazer o líder da Igreja Católica revisitar o próprio passado e resgatar memórias e reflexões construídas ao longo de quase nove décadas

 

Por Renato Vasconcelos — São Paulo

Entre abril e fevereiro deste ano, o jornalista Fabio Marchese Ragona manteve contato quase diário com o Papa Francisco. Às vésperas do 11º ano do pontificado de Francisco (completados em 13 de março), o vaticanista italiano foi incumbido de fazer o líder da Igreja Católica revisitar o próprio passado e resgatar memórias e reflexões construídas ao longo de quase nove décadas. As conversas acabaram se tornando um trabalho de escrita a quatro mãos, com lançamento previsto nas livrarias brasileiras em abril, sob o título "Vida: Minha história através da História" (Ed. HarperCollins).

Em entrevista ao GLOBO — brevemente atrasada por questões tecnológicas e por uma ligação do Pontífice ao escritor —, Ragona falou um pouco do processo de produção do livro e revelou um pouco do Francisco que conheceu por meio de anedotas, histórias e da convivência.

 

Como foi o contato com o Papa e as conversas durante a escrita do livro?

Foram quatro encontros, muitos telefonemas e várias trocas de e-mail. Mais do que entrevistas, o que tivemos foram conversas. Eu tentava aprofundar alguns aspectos da vida dele, e ele contava. À medida que eu ia preparando um capítulo novo, eu mandava para ele, ele lia e me ligava: 'Vamos acrescentar isso, corrigir aquilo, troque essa vírgula de lugar.' Isso aconteceu muitas vezes, até durante o verão, quando eu estava na praia. Ele me ligou e disse: 'Está com tempo de trabalhar um pouquinho? Então entra embaixo do guarda-sol e vamos trabalhar'.

 

Podemos dizer então que o livro é uma escrita compartilhada, com a sua voz e a de Francisco dividindo espaço nas páginas?

Sim. Era interessante dar o contexto no qual se desenvolvia a cena. Eu sou jornalista de TV, então eu imagino tudo em termos de imagem. Eu queria dar oportunidade às pessoas de ver, na imaginação, aquilo que está escrito, e dentro daquele contexto inserir as palavras do Papa: a maneira como ele conta cada cena e momento específico. Foi uma fórmula que encontramos, eu sugeri e ele gostou muito.

 

Como o Papa enxerga a própria vida? Ele é alguém que fala das memórias com pesar ou está bem resolvido com o passado?

É muito interessante ouvi-lo contar principalmente as anedotas de sua vida e as histórias de quando era padre jesuíta durante a ditadura de Videla, na Argentina, e os anos que morou em Córdoba, quando foi mandado para um exílio, punido. No primeiro caso, me chamou atenção o fato de que ele não se arrepende de suas ações, mas reparei que sofre muito quando fala da época de Videla, pelos jovens ‘desaparecidos’ pela ditadura e pelos próprios amigos que ele perdeu. Ele foi acusado de colaborar com a ditadura, e isso o feriu muito.

 

O que exatamente ele diz sobre o período da ditadura?

Ele fala sobre alguns episódios muito específicos, alguns em que colocou a vida de outras pessoas à frente da dele para tentar salvá-las. Ele disse que tinha certeza de que havia uma escuta telefônica em sua linha, e que tentava desviar a atenção [de um possível censor], falando coisas mais vagas. Ele aconselhou jovens sacerdotes a saírem em grupo e a não falarem muito, sobretudo com alguns capelães militares, porque temia que houvesse algum informante do governo. Ele diz ter certeza de que havia algum informante no colégio [Máximo, onde lecionou]. Outra história é de quando Esther [Ballestrino, amiga de Bergoglio e ativista comunista morta pelo regime] o chamou para falar que tinha livros de filosofia e marxistas, que se a pegassem com eles a matariam. Ele pega esses livros e os esconde no Colégio Máximo. Esses foram os momentos mais emocionantes para mim.

 

Quais as memórias mais surpreendentes sobre a juventude de Jorge Bergoglio? Quais delas explicam a decisão que o levou ao caminho do papado?

Ele contou muitas histórias da juventude e da infância. Ele lembra do fim da Segunda Guerra Mundial, quando há o anúncio do jornal de que acabou a guerra, e vê a mãe e a vizinha chorando de alegria. Ele diz que o gesto mostrou o quão importante era a paz, mesmo estando tão longe da guerra. Ali, ele teve sua primeira missão sobre o que é querer a paz. Outra anedota é de quando ele se tornou seminarista: no casamento de um tio, ele conheceu uma garota, que disse ser linda e inteligente, e teve uma 'paixonite'. Ele diz que não conseguia mais rezar, porque não conseguia parar de pensar nela. No final, a vocação prevaleceu.

 

Hoje, Francisco se entende um reformismo da Igreja Católica? Como ele avalia o próprio papado neste sentido?

Ele fala que tudo o que fez e está fazendo foi pedido pelos cardeais antes do conclave. Eles pediram por reformas para a Cúria romana, e foi isso que ele tentou realizar em seu pontificado. Ele tentou atender ao pedido dos cardeais de vários países e continentes, e quer que cheguem notícias de todas as partes do mundo, para que ele possa seguir adiante no pontificado e fazer o que precisa ser feito. Por isso ele colocou as reformas em primeiro lugar e é considerado um Papa reformador.

 

E o que o Papa fala sobre as disputas internas, principalmente com alas mais conservadoras da Igreja, que querem determinar os caminhos a serem trilhados pela instituição?

Conversamos sobre isso e eu cheguei a citar um exemplo, em que ele foi acusado de estar destruindo o próprio papado por meio de seus gestos. Ele me respondeu: 'Eu não posso acompanhar tudo o que as pessoas falam de mim, se não teria que ir ao psicólogo uma vez por semana.' Em conversas quase informais, falamos sobre as críticas ao papado, e o que ele sempre disse, muito serenamente, é que a Igreja é formada por muitas almas. Mas como há muitas almas, há muitos pontos de vista diferentes, e é justo que seja assim. Se há alguém que tem algo a criticar, que o faça publicamente e não às escondidas, pelas costas, porque aí seria uma facada. É assim que ele pensa.

 

Ele fez alguma avaliação sobre as decisões recentes de autorizar a bênção a casais não regulares e homoafetivos e à maior participação de mulheres na Igreja?

Em uma parte do livro ele fala sobre a bênção aos casais homoafetivos e irregulares, e diz que é um gesto de abertura com essas pessoas, que no passado foram condenadas publicamente — um sentimento que não pertence à Igreja, que deve acolher e não julgar. Ele diz que entende que alguns bispos não estão de acordo, mas que não é motivo para cisma, porque não se toca na doutrina. Na minha opinião, o Papa entende muito bem que cada bispo terá a capacidade de discernir o que é justo a se fazer em seu rebanho, considerando aspectos culturais.

 

Como o Papa entende o próprio papel e o do Vaticano como parte da comunidade internacional, principalmente diante dos conflitos atuais?

Há dois canais neste sentido: a diplomacia do Vaticano, que desempenha um papel importante em chamar os líderes internacionais, sem lados, para promover negociações e fazer com que as partes voltem a se falar e discutir sobre o que precisa ser feito. Francisco, especificamente, se propôs várias vezes a ser mediador. Não é um papel com interesse geopolítico propriamente, porque o Vaticano não é um Estado como os outros. Mas o Papa, como uma autoridade moral, precisa lançar palavras e mensagens para que haja gestos da sociedade civil. Atualmente, a questão humanitária é fundamental para o Papa.

 

Ao longo do papado, Francisco ressaltou diferentes valores como virtudes importantes para a vida dos católicos, como a caridade e a oração. Ele destaca algum deles como fundamental em sua trajetória?

A oração é tudo na vida do Papa. Eu me dei conta disso quando estávamos juntos e eu organizava algumas coisas. Ele me disse: 'bom, enquanto você faz isso, estou aqui orando'. Oração é e sempre foi fundamental na vida dele. Ele diz que, infelizmente, as pessoas estão orando pouco, e é algo que ele pede no livro: que as pessoas orem mais, que há necessidade de mais oração no mundo, que a oração faz milagres e que o que precisamos hoje é de um milagre para que as coisas mudem.

 

O Papa entra no 12º ano de papado e está perto dos 90 de vida. Qual a visão dele para o futuro?

Eu acho que ele ainda tem muitos projetos, porque ele ainda mergulha com muito entusiasmo no que ele pretende fazer. Isso me mostra que ele não está pensando em deixar o pontificado, muito pelo contrário. Eu o perguntei sobre a visão que ele tem para a Igreja no futuro. Ele disse: 'Eu espero que seja uma Igreja com muita compaixão, ternura e distante dos vícios, porque infelizmente tem um vício, o clericalismo, que é uma peste. Pode ser uma Igreja menor, mais pobre, mas com a consciência tranquila de ser uma Igreja pura, verdadeira'.

 

E qual é o maior temor do Papa Francisco?

Não falamos de medo, de temor. Mas eu reparei que ele tem um cuidado com o fato de que as pessoas rezam pouco. Não sei se é medo, mas é uma preocupação. Notei uma segunda preocupação quando o perguntei sobre o futuro da Humanidade. Ele diz que o mundo está em guerra desde 1914, e que isso significa que ou vai ter vida e paz ou morte. Ele diz: 'Vamos nos esforçar para ter paz, e não morte'. Fonte: https://oglobo.globo.com

 

1) Oração

Assisti, ó Deus, aqueles que vos suplicam e guardai com solicitude os que esperam em vossa misericórdia, para que, libertos de nossos pecados, levemos uma vida santa e sejamos herdeiros das vossas palavras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (João 8, 51-59)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - Naquele tempo, 51Disse Jesus aos Judeus em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá jamais a morte. 52Disseram-lhe os judeus: Agora vemos que és possuído de um demônio. Abraão morreu, e também os profetas. E tu dizes que, se alguém guardar a tua palavra, jamais provará a morte... 53És acaso maior do que nosso pai Abraão? E, entretanto, ele morreu... e os profetas também. Quem pretendes ser? 54Respondeu Jesus: Se me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; meu Pai é quem me glorifica, aquele que vós dizeis ser o vosso Deus 55e, contudo, não o conheceis. Eu, porém, o conheço e, se dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vós. Mas conheço-o e guardo a sua palavra. 56Abraão, vosso pai, exultou com o pensamento de ver o meu dia. Viu-o e ficou cheio de alegria. 57Os judeus lhe disseram: Não tens ainda cinquenta anos e viste Abraão!... 58Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão fosse, eu sou. 59A essas palavras, pegaram então em pedras para lhas atirar. Jesus, porém, se ocultou e saiu do templo. - Palavra da salvação.

 

3) Reflexão

O capítulo 8 parece uma exposição de obras de arte, onde se podem admirar e contemplar famosas pinturas, uma ao lado da outra. O evangelho de hoje traz mais uma pintura, mais um diálogo entre Jesus e os judeus. Não há muito nexo entre uma e outra pintura. É o expectador ou a expectadora que, pela sua observação atenta e orante, consegue descobrir o fio invisível que liga entre si as pinturas, os diálogos. Deste modo vamos penetrando aos poucos no mistério divino que envolve a pessoa de Jesus. 

João 8,51: Quem guarda a palavra de Jesus jamais verá a morte. Jesus faz um solene afirmação. Os profetas diziam: Oráculo do Senhor! Jesus diz: “Em verdade, em verdade vos digo!” E a afirmação solene é esta: “Se alguém guardar minha palavra jamais verá a morte!” De muitas maneiras este mesmo tema aparece e reaparece no evangelho de João. São palavras de grande profundidade

João 8,52-53: Abraão e os profetas morreram. A reação dos judeus é imediata: "Agora sabemos que estás louco. Abraão morreu e os profetas também. E tu dizes: 'se alguém guarda a minha palavra, nunca vai experimentar a morte'. Por acaso, tu és maior que o nosso pai Abraão, que morreu? Os profetas também morreram. Quem é que pretendes ser?"  Eles não entenderam o alcance da afirmação de Jesus. Diálogo de surdos..

João 8,54-56: Quem me glorifica é meu Pai. Sempre de novo Jesus bate na mesma tecla: ele está de tal modo unido ao Pai que nada do que ele diz e faz é dele. Tudo é do Pai. E ele acrescenta: "Quem me glorifica é o meu Pai, aquele que vocês dizem que é o Pai de vocês. Vocês não o conhecem, mas eu o conheço. Se dissesse que não o conheço, eu seria mentiroso como vocês. Mas eu o conheço e guardo a palavra dele. Abraão, o pai de vocês, alegrou-se porque viu o meu dia. Ele viu e encheu-se de alegria." Estas palavras de Jesus devem ter sido como uma espada a ferir a auto-estima dos judeus. Dizer às autoridades religiosas: “Vocês não conhecem o Deus que vocês dizem conhecer. Eu o conheço e vocês não o conhecem!”, é o mesmo que acusa-las de total ignorância exatamente naquele assunto no qual eles pensam ser doutores especializados. E a palavra final encheu a medida: “Abraão, o pai de vocês, alegrou-se porque viu o meu dia. Ele viu e encheu-se de alegria”.

João 8,57-59: Não tens 50 anos e já viu Abraão! Tomaram tudo ao pé de a letra mostrando assim que não entenderam nada do que Jesus estava dizendo. E Jesus faz nova afirmação solene: “Em verdade, em verdade digo a vocês: antes que Abraão existisse, EU SOU!” Para quem crê em Jesus, é aqui que alcançamos o coração do mistério da história. Novamente pedras para matar Jesus. Nem desta vez o conseguiram, pois a hora ainda não chegou. Quem determina o tempo e a hora é o próprio Jesus.

 

4) Para um confronto pessoal

1) Diálogo de surdos entre Jesus e os judeus. Você já teve alguma vez a experiência de conversar com alguém que pensa exatamente o oposto de você e não se dá conta disso?

2) Como entender esta frase: “Abraão, o pai de vocês, alegrou-se porque viu o meu dia. Ele viu e encheu-se de alegria” ?

 

5) Oração final

Procurai o SENHOR e o seu poder, não cesseis de buscar sua face. Lembrai-vos dos milagres que fez, dos seus prodígios e dos julgamentos que proferiu. (Sl 104, 4-5)


O culto litúrgico a S. José celebra-se, pelo menos, desde o século IV, quando Santa Helena lhe dedicou uma igreja. No Oriente, celebrava-se, a partir do século IX, uma festa em sua honra. No Ocidente o culto é mais tardio. No século XII, é celebrado entre os Beneditinos. No século XII, é celebrado entre os Carmelitas, que o propagam na Europa. No século XV, João Gerson e S. Bernardino de Sena são os seus fervorosos propagandistas. Santa Teresa de Jesus era uma devota fervorosa de S. José e muito promoveu o seu culto.

1-José, descendente de David, era provavelmente de Belém. Por motivos familiares ou de trabalho, transferiu-se para Nazaré e tornou-se esposo de Maria. O anjo de Deus comunicou-lhe o mistério da incarnação do Messias no seio de Maria, e José, homem justo, aceitou-o apesar da dura crise por que passou. Indo a Belém para o recenseamento, lá nasceu o Menino Jesus. Pouco depois, teve de fugir com ele para o Egipto, donde regressou a Nazaré. Quando Jesus tinha doze anos, vemos José e Maria em Jerusalém, onde perdem o filho e acabam por o reencontrar entre os doutores do templo. A partir deste episódio, os evangelhos nada mais dizem sobre José. É possível que tenha morrido

 

Meditatio

A Igreja convida-nos, hoje, a voltar-nos para S. José, a alegrar-nos e a bendizermos a Deus pelas graças com que o cumulou. S. José é o "homem justo" (Mt 1, 19). A sua justiça vem-lhe do acolhimento do dom da fé, da retidão interior e do respeito para com Deus e para com os homens, para com a lei e para com os acontecimentos. É o que nos sugere a segunda leitura. Não foi fácil para José aceitar uma paternidade que não era dele e, depois, a responsabilidade de ser o mestre e guia d´Aquele que, um dia, havia de ser o pastor de Israel. Respeito, obediência e humildade estão na base da "justiça" de José. Foi esta atitude interior, no desempenho da sua missão única, que guindaram José ao cume da santidade cristã, junto de Maria, a sua esposa.

As atitudes de José são características dos grandes homens, de que nos fala a Bíblia, escolhidos e chamados por Deus para missões importantes. Embora se considerassem pequenos, fracos e indignos, aceitavam e realizavam a missão, confiando n´Aquele que lhes dizia: "Eu estarei contigo".

José não procurou os seus interesses e satisfações, mas colocou-se inteiramente aos serviços dos que amava. O seu amor pela esposa, Maria, visava unicamente servir a vocação a ela que fora chamada. Deste modo, o casal chegou a uma união espiritual admirável, donde brotava uma enorme e puríssima alegria. Era a perfeição do amor. O amor de José por Jesus apenas visava servir a vocação de Jesus, a missão de Jesus. Para José, o filho não era uma espécie de propriedade a quem impunha uma autoridade e afeto tirânico, como, por vezes, acontece com alguns pais. José sabia que Jesus não era dele, e nada mais desejava do que prepará-lo, conforme as suas capacidades, para a missão de Salvador, como lhe fora dito pelo Anjo.

Por intercessão do nosso santo, peçamos a Deus a fé, a confiança, a docilidade, a generosidade e a pureza do amor para nós mesmos e para quantos têm responsabilidades na Igreja, para que as maravilhas de Deus se realizem também nos nossos dias.

 

Oratio

Ó S. José, eu admiro e louvo a vossa perfeição e a vossa santidade. Que exemplos e que méritos! A vossa intercessão no céu é sempre escutada. O Coração de Jesus não pode ficar insensível à vossa oração. Pedi hoje a minha conversão, a minha santificação. Pedi o perdão de todas as minhas faltas e a graça de corresponder ao que Nosso Senhor espera de mim. Fiat! Fiat! (Leão Dehon, OSP 3, p. 309).

 

Contemplatio

José, o justo, o santo, entra simplesmente nos desígnios do céu sobre ele e torna-se esposo de Maria por um casamento virginal; esposo de uma Virgem, de uma Rainha, esposo da Mãe de Deus e da Esposa do Espírito Santo! Mas o seu coração é digno dela. Na sua alma reúnem-se a fé viva dos patriarcas, as nobres aspirações dos profetas, as esperanças das gerações passadas. O seu coração é o mais puro, o mais amável, o mais celeste de todos, depois do Coração de Jesus e do Coração imaculado de Maria. José é o esposo da Virgem Maria, com que respeito a envolve! Que delicadeza, que discrição nas suas relações com ela! Aprendeu de cor a sua sublime missão de castidade e de amor. E quando foi advertido pelo anjo a respeito dos grandes desígnios de Deus sobre o filho de Maria, associou-se de coração à missão de vítima do seu filho adotivo e aceitou sem reserva todos os sofrimentos que daí resultariam para ele. Esposo de Maria! Que conjunto de graças este título supõe. José esteve unido mais do que ninguém neste mundo à Mãe de Deus. Tiveram todos as mesmas vistas, todos as mesmas orações e os mesmos sofrimentos. Os méritos de S. José aproximam-se dos de Maria. Que grandeza e que dignidade! José é o pai nutritivo de Jesus, pai legal e pai putativo. Tem tudo o que pode pertencer à paternidade sem ferir a virgindade. Tem todos os direitos e toda a autoridade de um pai. É o chefe da Sagrada Família. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 308). Fonte: https://www.dehonianos.org

 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

Meus irmãos e irmãs em Cristo, 

À medida que nos aproximamos da Semana Santa, somos chamados a mergulhar mais profundamente na contemplação do mistério da redenção que nos é oferecido através da vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Neste 5º domingo da Quaresma, somos convidados a refletir sobre a promessa de vida nova que Deus nos oferece, mesmo nas situações mais sombrias de nossas vidas. 

Na primeira leitura de hoje, retirada do livro do profeta Jeremias (Jeremias 31, 31-34), Deus promete uma nova aliança com Seu povo. Ele promete escrever Sua lei em seus corações, não mais em tábuas de pedra. Esta nova aliança é uma promessa de restauração, de renovação espiritual, na qual Deus mesmo será o nosso Deus e nós seremos o Seu povo. 

No Salmo responsorial (Salmo 51), clamamos a Deus por misericórdia e perdão. Reconhecemos nossas falhas e nossos pecados, mas confiamos na bondade e na compaixão do Senhor. “Criai em mim um coração puro, ó Deus, e renovai-me o espírito de firmeza.” 

A segunda leitura, da carta aos Hebreus (Hebreus 5, 7-9), nos fala sobre o sacrifício de Jesus como sumo sacerdote. Ele ofereceu orações e súplicas a Deus com grande clamor e lágrimas, e foi ouvido por causa de sua reverência. Jesus, embora sendo Filho, aprendeu a obediência através do que sofreu e, assim, tornou-se a fonte de salvação eterna para todos que O obedecem. 

E, finalmente, no Evangelho segundo João (João 12, 20-33), Jesus fala sobre Sua iminente paixão, morte e ressurreição. Ele compara Sua própria morte à de um grão de trigo que cai na terra e morre, mas que produzirá muito fruto. Jesus está antecipando Sua glorificação através de Sua morte e ressurreição, que trarão vida eterna para todos aqueles que creem Nele. 

Meus queridos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, somos convidados a olhar para a Cruz de Cristo com fé e esperança. Embora a Cruz possa parecer um símbolo de sofrimento e morte, para nós, cristãos, é o símbolo da nossa redenção e salvação. É através da morte e ressurreição de Jesus que somos libertados do pecado e da morte, e recebemos a promessa da vida eterna. 

Que neste tempo de Quaresma, possamos renovar nosso compromisso com Deus, permitindo que Ele escreva Sua lei em nossos corações, buscando sinceramente o perdão por nossos pecados e colocando nossa confiança na salvação que nos é oferecida através de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. 

Que possamos, como Jesus, estar dispostos a oferecer nossas vidas em serviço aos outros, sabendo que é através do sacrifício e da entrega de nós mesmos que encontramos verdadeira vida e alegria em Deus. 

Vivamos intensamente, nesta semana que se inicia, a Semana das Dores! Procuremos fazer uma boa e completa confissão auricular. Prepare-se condignamente para celebrar a Semana Santa. Que o Espírito Santo nos guie e fortaleça durante este tempo de preparação, para que possamos celebrar com alegria a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte na Páscoa. 

Que assim seja. Amém. Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

Dom Wilson Angotti

Bispo de Taubaté (SP)

 

 “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt.22,21). 

Jesus não deixou ensinamentos específicos sobre muitos temas, entre eles a política, porém, o que ensinou ilumina todas as realidades humanas colocando-as a serviço da vida, do bem comum e, acima de tudo, dentro da história da salvação. A política é uma dessas realidades que devem ser iluminadas e aperfeiçoadas pelos ensinamentos de Cristo. Se pensarmos que Cristo não tem nada a dizer sobre uma ou outra realidade humana é como se limitássemos a atuação do Senhor ou privássemos tal realidade da ação salvadora de Cristo. A seguir, procuraremos apresentar como os ensinamentos de Cristo e, consequentemente de sua Igreja, contribuem em fazer com que a política seja melhor, se desenvolva para benefício humano e segundo os planos de Deus.  

Política e sua finalidade – A palavra “política” tem sua origem na palavra grega “polis” que significa “cidade”. Refere-se à ação que tem em vista organizar a convivência entre os cidadãos. Esta organização é necessária porque vivendo em sociedade e cada um pensando de uma maneira diferente é indispensável a busca do bem comum. Caso contrário haveria a imposição dos mais fortes sobre os mais fracos e se estabeleceria um grande desequilíbrio social. A política tem em vista buscar o bem comum, evitando o injusto favorecimento pessoal ou de pequenos grupos privilegiados. É dever de justiça ter uma sociedade organizada, pois todas as pessoas têm a mesma dignidade. Não importa se alguém é rico, pobre, com deficiência, doente ou idoso; todos foram criados à imagem e semelhança de Deus. Essa é uma contribuição que o cristianismo ofereceu à organização da sociedade e é o fundamento dos direitos humanos. Na ótica cristã, em primeiro lugar está a pessoa humana, a seguir a sociedade e finalmente a organização política do Estado. Para sobreviver, a pessoa tem necessidade dos outros. Todo ser humano depende das relações sociais, depende da sociedade. Para melhor organizar-se a sociedade depende da política. Em outras palavras, a política serve para organizar a sociedade tendo em vista o bem de todos. Por sua vez, a política deve ter sempre em vista o bem-estar tanto das pessoas como dos povos. A política deve, pois estar a serviço da pessoa e da sociedade. Nesse sentido, é dever dos cristãos colaborar com a ordem social. Aqueles que estão investidos de autoridade devem exercê-la como um serviço. Junto aos discípulos que ansiavam pelo poder, Jesus estabeleceu uma nova regra: “Aquele, dentre vós, que quiser tornar-se grande seja aquele que serve” (Mt.20,26). Tendo por base o princípio cristão de sempre buscar o bem do próximo, Pio XI disse que: “A política é a forma mais perfeita da caridade”. Essa frase foi repetida por São Paulo VI e, recentemente, pelo Papa Francisco (24 maio 2022). O cristão tem o amor como maior mandamento. Quem ama empenha-se pelo bem do outro; quem ama serve. Quem serve busca o bem comum, não o próprio.  

A democracia – Existem várias maneiras de exercer o poder sócio político (monarquia, aristocracia, democracia, etc). A palavra “democracia” vem do grego e significa “governo do povo”. São João Paulo II manifestou que: “A Igreja vê com simpatia o sistema da democracia, enquanto assegura a participação dos cidadãos nas opções políticas e garante aos governados a possibilidade quer de escolher e controlar os próprios governantes, quer de os substituir pacificamente, quando tal se torne oportuno (…) Uma autêntica democracia só é possível num Estado de Direito e sobre a base de uma reta concepção da pessoa humana” (Centesimus Annus, n. 46). O estado de direito só é possível quando existe a divisão do poder. A Igreja é expressamente a favor do princípio da divisão do poder. Só com poder judicial, legislativo e executivo independentes um do outro é possível existir estado de direito; ou seja, um estado em que a lei é respeitada. Num estado de direito uns elaboram as leis, outros as executam e outros julgam. O poder concentrado numa pessoa pode ser facilmente corrompido e tornar-se despótico, ditatorial. Além dos poderes independentes, numa democracia, é fundamental a imprensa livre. Quando o poder político manipula a informação e a usa para fins ideológicos ou propagandísticos é lesado o direito fundamental que toda pessoa tem à verdade. Apesar de ter simpatia pela democracia, a Igreja reserva-se o direito de manter distancia crítica a respeito a todas as formas de organização política. Ela apoia as formas democráticas de governo, mas não as idealiza, pois, a democracia também não está imune às falhas e erros. Algo pode ser democraticamente escolhido mesmo não sendo moralmente correto. Nem tudo que é democraticamente escolhido é coerente com o Evangelho. Por mais legítimo que seja um governo, ninguém pode ser obrigado a alguma coisa que contradiga fundamentalmente seus valores e convicções mais profundas. Nesse sentido é possível a desobediência por objeção de consciência. “O cidadão não está obrigado em consciência a seguir as prescrições das autoridades civis, se são contrárias às exigências da ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho” (Catecismo Igreja Católica, 2242). Essa recusa está fundada na distinção entre o serviço a Deus e o serviço à comunidade política. “Dai a César (imperador romano) o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Como afirma o apóstolo Pedro: “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (At.5,29). Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

1) Oração

Nós vos pedimos, ó Deus de bondade, que, corrigidos pela penitência e renovados pelas boas obras, possamos perseverar nos vossos mandamentos e chegar purificados às festas pascais. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (João 5, 31-47)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - Naquele tempo, 31Se eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o meu testemunho. 32Há outro que dá testemunho de mim, e sei que é digno de fé o testemunho que dá de mim. 33Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. 34Não invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas coisas, a fim de que sejais salvos. 35João era uma lâmpada que arde e ilumina; vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua luz. 36Mas tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que meu Pai me deu para executar - essas mesmas obras que faço - testemunham a meu respeito que o Pai me enviou. 37E o Pai que me enviou, ele mesmo deu testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz nem vistes a sua face... 38e não tendes a sua palavra permanente em vós, pois não credes naquele que ele enviou. 39Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim. 40E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida... 41Não espero a minha glória dos homens, 42mas sei que não tendes em vós o amor de Deus. 43Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo... 44Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus? 45Não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai; há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais a vossa esperança. 46Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito. 47Mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras? - Palavra da salvação.

 

3) Reflexão

João, intérprete de Jesus. João é um bom intérprete das palavras de Jesus. Um bom intérprete deve ter uma dupla fidelidade. Fidelidade às palavras de quem fala, e fidelidade à linguagem de quem escuta. No Evangelho de João, as palavras de Jesus não são transmitidas materialmente ao pé da letra, mas são traduzidas e transpostas na linguagem do povo das comunidades cristãs do fim do primeiro século lá na Ásia Menor. Por este motivo, as reflexões do Evangelho de João nem sempre são fáceis de serem entendidas. Pois nelas se misturam as palavras de Jesus e as palavras do próprio evangelista que reflete a linguagem da fé das comunidades da Ásia Menor. Por isso mesmo, não basta o estudo erudito ou científico das palavras para podermos captar o sentido pleno e profundo das palavras de Jesus. É necessário ter em nós também a vivência comunitária da fé. O evangelho deste dia de hoje é um exemplo típico da profundidade espiritual e mística do evangelho do discípulo amado.

Iluminação mútua entre vida e fé. Aqui vale repetir o que João Cassiano disse a respeito da descoberta do sentido pleno e profundo dos salmos: “Instruídos por aquilo que nós mesmos sentimos, já não percebemos o texto como algo que só ouvimos, mas sim como algo que experimentamos e tocamos com nossas mãos; não como uma história estranha e inaudita, mas como algo que damos à luz desde o mais profundo do nosso coração, como se fossem sentimentos que formam parte do nosso ser. repitamo-lo: não é a leitura  (estudo) que nos faz penetrar no sentido das palavras, mas sim a própria experiência nossa adquirida anteriormente na vida de cada dia” (Collationes X,11). A vida ilumina o texto, o texto ilumina a vida. Se, por vezes, o texto não nos diz nada, não é por falta de estudo nem por falta de oração, mas simplesmente por falta de aprofundar a própria vida.

João 5,31-32: O valor do testemunho de Jesus.  O testemunho de Jesus é verdadeiro, porque ele não faz auto-promoção, nem exaltação de si mesmo. “Um outro dá testemunho de mim”, isto é o Pai. E o testemunho dele é verdadeiro e merece fé.

João 5,33-36: O valor do testemunho de João Batista e das obras de Jesus.  João Batista também deu testemunho a respeito de Jesus e o apresento ao povo como o enviado de Deus que devia vir a este mundo (cf. Jo 1,29.33-34; 3,28-34). Porém, por mais importante que seja o testemunho de João, Jesus não depende dele. Ele tem um testemunho a seu favor que é maior do que o testemunho de João, a saber, as obras que o Pai realiza por meio dele (cf. Jo 14,10-11).

João 5,37-38: O Pai dá testemunho em favor de Jesus. Anteriormente, Jesus tinha dito: “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus” (Jo 8,47). Os judeus que acusam Jesus não têm a mente aberta para Deus. Por isso, eles não conseguem perceber o testemunho do Pai que chega até eles através de Jesus.

João 5,39-41: A própria escritura dá testemunho em favor de Jesus.  Os judeus dizem ter fé nas escrituras, mas, mas realidade, eles não entendem a Escritura, pois a própria Escritura fala de Jesus (cf. Jo 5,46; 12,16.41; 20,9). 

João 5,42-47: O Pai não julga, mas confiou o julgamento ao filho. Os judeus se dizem fiéis à Escritura e a Moisés e, por isso, condenam Jesus. Na realidade, Moisés e a escritura falam a respeito de Jesus e pedem para crer nele. 

 

4) Para um confronto pessoal

1) A vida ilumina o texto, o texto ilumina a vida. Já experimentou isto alguma vez?

2) Procure aprofundar o valor do testemunho de Jesus

 

5) Oração final

O SENHOR ampara todos os que caem e reergue todos os combalidos. Teu reino é reino de todos os séculos, teu domínio se estende a todas as gerações. (Sl 144, 14.13)