O CORAÇÃO DE JESUS: Santa Maria Madela de Pazzi, Carmelita
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O Presente artigo quer trazer uma contribuição modesta à história da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, na época anterior ás revelações de Paray-le-Monial, pondo à luz aquilo que a respeito do Sacratíssimo Coração de Jesus têm de mais relevante os êxtases de Santa Maria Madalena de' Pazzi. Esta grande Santa do Carmelo, de fato, no que diz respeito à devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus, foi desmerecidamente deixada no esquecimento. J. Bainvel, por exemplo, no seu artigo sobre o Coração de Jesus no Dictionnaire de Théologie Catholique (t.III, col.271-351) sobre a nossa Santa refere apenas o seu testemunho sobre a devoção de São Luís de Gonzaga ao Sacratíssimo Coração de Jesus (col. 314 - veja I, 118).
A Santa do Carmelo foi conduzida a outras contemplações profundas, que talvez poderiam facilmente juntar-se ao seu referido assunto; de fato mais de uma vez foi arrebatada em êxtase na contemplação da chaga do Lado Sagrado do Redentor. Todavia no presente artigo foram tomados em consideração os traços dos seus êxtases, que se referem diretamente ao Sacratíssimo Coração de Jesus.
Prelúdio das maravilhosas revelações de Paray-le-Monial foram aquelas que, um século antes, o Senhor se dignava fazer à mística Santa do Carmelo, Santa Maria Madalena de' Pazzi.
A esta alma eleita, para quem parecia que não existiam mais as barreiras entre o tempo e a eternidade diante dos êxtases constantes, durante os quais mergulhava na contemplação do mistério de Cristo, muitas vezes o Senhor mostrou o seu Coração divino. Entre ardentes chamas e raios brilhantes, como símbolo do imenso amor que trazia pelos homens, a Santa viu o Coração de Jesus, aquele Coração de carne, ferido pela lança, que então a ela se revelava assim como um século mais tarde se revelou a Santa da Visitação, Santa Margarida Maria Alacoque: era como "o ninho" do amor de Jesus pelos homens (II 346), amor imenso, que se fez patente pela chaga que nele abriu a lança do centurião (II 431).
Brilhante como o sol, chamejante como uma fornalha ardente, lançando raios de fogo, Jesus mostrou o Seu Coração a Santa Margarida Maria (Vie et oeuvres 2e ed. T.II p.381).
De visão semelhante gozou Santa Maria Madalena: "Ó humanidade do meu Cristo!... Flores estão nos teus pés, nas tuas mãos frutos e pedras preciosas, mas no Coração flechas em grande abundância!" ─- exclama um dia a Santa arrebatada em êxtase (II 441). Em outra ocasião "via sair do Coração de Jesus uma grandíssima fornalha de amor, que continuamente emitia setas e raios de fogo sobre os corações dos seus eleitos" (II 259).
As místicas elevações sobre o Coração de Jesus, que a Santa do Carmelo proferia, arrebatada em êxtase, são um comentário antecipado e admirável das mensagens de misericórdia transmitidas desde Paray-le-Monial.
"As almas fervorosas chegarão em breve tempo a grande perfeição", dizia o Coração de Jesus a Santa Margarida Maria. A Santa Maria Madalena Jesus concedeu contemplar a perfeição que alcançam estas almas fervorosas ─- as verdadeiras esposas que repousam no Teu divino beneplácito ─- entrando no divino Coração pela chaga do Lado sagrado, que ficou aberta, diz a Santa, como "porta (...), para que pudessem entrar com o desejo de repousar naquele Coração" (II 431). A linguagem que a Santa no rapto do êxtase usa ao descrever-nos a perfeição alcançada pela alma no Coração de Jesus é a linguagem da mais alta mística, feita de contrastes e paradoxos, visto que deseja exprimir experiências inefáveis de um modo inacessível aos sentidos. Vede: "Bem-aventurada pelo amor se inebria e não fica saciada; sacia-se e sempre tem sede; consuma-se e não é destruída; morre pela doçura numa vida eterna e é uma vida como uma morte, porque nada sente de si mesma, mas tudo de Deus; e é uma morte toda vida, porque é completamente bem-aventurada sem nunca ver o fim. «In nidulo meo moriar» desta morte, que é vida, mas «multiplicabo dies», pois viverei sempre felicíssima e por toda a eternidade que há de seguir-se" (II 431). A alma vive de amor "com um total abandono que faz de si mesma, em tudo e através de tudo, (estar) em Deus" (II 169), amor com o qual ama ao seu próximo também e "não ama somente as criaturas próximas dela e as ajuda, mas extende-se o seu amor às almas do Purgatório e as ajuda com sufrágios, esmolas e outras orações e obras de piedade" (II 169). É a perfeição enfeixada na caridade.
Nas revelações de Paray-le-Monial Jesus prometeu aos devotos do Seu Coração divino a paz às suas famílias, a consolação nas suas penas, prometeu ser o seu refúgio seguro na vida e na morte; à Sua esposa fiel do Carmelo o Senhor revelou quanta paz, consolação, segurança encontrariam as almas no seu Coração! Mostrou, de fato, à Santa extática o Seu Coração divino como um precioso vaso que continha um "puro, atraente, doce e delicado licor" que - como entendeu a Santa ─- era o "puríssimo e simplicíssimo amor de Deus". Pois bem, este licor precioso, que a alma hauria do Coração de Jesus, a confortava de um modo maravilhoso, porque ele "sacia todos os desejos, cura todas as enfermidades, tranqüiliza nas tribulações e pacifica a alma com Deus; daí, encontrando-se a alma tão pacificada com Deus, não se aquieta se não vê ainda os próximos na mesma paz: e esta é aquela paz que supera todos os sentidos (...). A alma que possui tal precioso licor recebe na terra um penhor do Paraíso e está adornada de todas as virtudes" (III 389).
"A devoção ao Meu Coração afervorará as almas tíbias", confiava Jesus a Santa Margarida Maria. Santa Maria Madalena foi arrebatada um dia em êxtase, quando contemplava o Seu Senhor. Viu então como do Seu Coração borbulhava "uma fonte belíssima", cuja água bebida pelas almas produzia nelas dois efeitos: "refrescava e aquecia: primeiro refrescava aquelas que estavam queimadas pelo fogo da soberba; depois aquecia os tíbios, fazendo-os todos fervorosos de amor no serviço de Deus" (II 269).
"No Meu Coração os pecadores hão de encontrar a torrente e o oceano da misericórdia", dizia Jesus nas aparições de Paray-le-Monial. A Santa do Carmelo compreendeu qua a chaga aberta do Coração de Jesus era "uma porta, por onde poderemos entrar à vontade para recolhermos os mais ricos tesouros da divina misericórdia, se tivermos vontade" (II 431).
Este amor de Jesus ─- como foi contemplado pela Santa do Carmelo e pela Santa da Visitação e cujo símbolo era o Coração de Jesus que elas viam brilhante como um sol em meio de raios e de chamas ─- era, sem dúvida, um amor glorioso, mas Jesus quis que Santa Margarida Maria ouvisse os tristes lamentos do Seu Coração amargurado ─- dizia Ele ─- com a ingratidão dos homens, daqueles, principalmente, que mais deviam amá-Lo. Pois bem! Nem mesmo esta nota característica das revelações de Paray-le-Monial faltou nas revelações do Carmelo. Um dia, encontrando-se em oração diante do Santíssimo Sacramento exposto para as Quarenta Horas, Santa Maria Madalena foi arrebatada em êxtase: apareceu-lhe Jesus "derramando grande quantidade de sangue pelas suas sagradas Chagas abertas", demonstrando "um tão grande amor por todas as criaturas" e do Seu Coração saíam "algumas chamas como pequeninos fachos". À vista de tanto sangue, exclamou a Santa: "É desprezado pela criatura ingrata o Sangue que pelas suas cinco Chagas derrama o Verbo Humanado; é desprezado o amor que, ao derramá-lo, ele está demonstrando". Convidou-a então Jesus a contemplar os pecados das almas, que eram mais obrigadas a amá-Lo e que são a causa dos tormentos que padece" (II 171).
O Coração de Jesus reservou para Santa Margarida Maria a missão de transmitir a todas as almas as mensagens de misericórdia e revelar-lhes os tesouros de amor, que Ele encerra, para atraí-las todas para junto de si.
As místicas elevações da Santa do Carmelo, arrebatada em êxtase na contemplação do Sacratíssimo Coração de Jesus, preludiam as harmonias de Paray-le-Monial. Umas e outras se fundem na mesma visão do Coração de Jesus, que nos pede o nosso pobre coração e nos dá em troca o Seu, que é fonte de todo o bem pelo tempo e pela eternidade.
OUVIR O INAUDÍVEL É IMPRESCINDÍVEL
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Frei Gilvander Luís Moreira, O. Carm
Um amigo me confidenciou, em São Paulo: "Outro dia eu estava parado no semáforo. Chegou um mendigo para pedir dinheiro. Eu disse para ele todo cheio de moral:"- Se você não fosse beber pinga, eu te daria dinheiro." O mendigo, sorrindo e de braços abertos, me disse: "- Você disse que não me dá dinheiro, porque sou um vagabundo cachaceiro. Se você viesse dormir comigo umas duas noites aqui na calçada, neste frio lascado, você veria que a pinga é o meu cobertor. Bebo para esquentar meu corpo. Senão não agüento o frio e morro, como muitos outros colegas já morreram. Mas como você dorme no seu quarto quentinho, com ar condicionado, com 2 ou 3 cobertores, é muito fácil para você me chamar de cachaceiro. Bem dizia meu amigo: "Vemos o mundo a partir de onde estão os nossos pés. "Os seus pés estão num bom apartamento e de lá você contempla o mundo."
Eu estava visitando os barracos na favela Massari, no Parque Novo Mundo, em São Paulo. Entrei num barraco, onde Adriana estava lavando roupa e com o som ligado no último volume. Achei muito alto e perguntei: "- Adriana, por que você gosta do som assim tão alto?" Ela baixou o Som um pouquinho e me respondeu: "- Gosto do som muito alto, porque se abaixo o Som, eu penso e se eu penso, choro, porque a vida para nós favelados é muito dura. Escutar música, no último volume, foi um jeito que encontrei para driblar o monte de problemas que a vida nos oferece; um jeito para sobreviver, já que não temos o direito de viver." Adriana e aquele mendigo lá de São Paulo despertaram em mim a seguinte reflexão: Ouvir o inaudível é imprescindível para quem quer guiar o povo.
Apenas quando se aprende a ouvir o coração (e estômago, pés, mãos...) das pessoas, seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas, um líder pode inspirar confiança em um povo, entender o que está errado e atender às reais necessidades dos cidadãos. A morte de um país começa quando os líderes ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem mergulhar a fundo na lama das pessoas para ouvir seus sentimentos, desejos e opiniões reais.
ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: João de São Sansão
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Maria Valabek. O. Carm
A alma da Observância, um místico que foi chamado do João da Cruz francês, é o irmão leigo cego João de São Sansão (1571-1636). Espelhando os místicos Renanos como Ruysbroek e Herp, João alcançou o mais alta da união transformante; em contraste com seu confrade João da Cruz, ele tentou descrever esta mais alta, experiência pessoal da oração Cristã. Incansavelmente, ele ensinou que todos são chamados à vida mística, isto é, experienciar de algum modo mesmo aqui na terra o próprio Deus e sua real/atual presença. Para os Carmelitas, saborear a presença de Deus mesmo aqui na terra é mais importante que qualquer outra tarefa ou trabalho: “O ponto mais importante... é vacare Deo continuamente.”[1] Ou mais precisamente: “Em completa pureza de espírito e corpo, em uma viva, atual e constante presença de Deus... nisto consiste a base do espírito da nossa Ordem.”[2]Ele insiste na oração contemplativa para os jovens estudantes, com a idéia que se eles fossem enraizados nela, mais tarde, quando lhes fossem dadas responsabilidades pastorais, eles estariam habituados a viver pela essência de sua vida no Carmelo. Tão frequentemente se vive em um nível externo mesmo em seu próprio cuidado/own regard; sua luta espiritual deve ser de uma constante interiorização.[3] Ele resolutamente insiste que esta vida mística não é acima de tudo trabalho nosso, mas pelo contrário a constante iniciativa de Deus. No entanto, Deus tem dado à nossa natureza uma suscetibilidade para esta vida de intimidade com Ele. O espírito de João é evidente nas Constituições da Reforma Turonense.
“É necessário que um tempo conveniente e lugar sejam dados aos neo-professos, assim que eles possam estar mais profundamente imbuídos com o espírito do nosso Instituto, e implantar virtudes em suas mentes, e transferir todos os seus afetos em Deus, para que em tempo {so thet in time} eles possam avançar em conversações interiores com Deus e na doce presença de Deus, que fora de dúvida constitui e faz o verdadeiro Carmelita.[4]
Indubitavelmente, a vida interior de oração de cada carmelita seguirá as potencialidades de sua personalidade, de seus dons naturais e sobrenaturais. O que é importante em todas as formas de oração é o afeto de suas potências internas a Ele com quem um diálogo se instala. Mesmo no Ofício Divino o que é importante é estar inflamado com o amor divino.[5] Na meditação, também, há a necessidade de “escutar mais que falar, não trabalhar demais com o intelecto, mas também não ficar negligente ou relaxado/preguiçoso.”[6] Deveria haver tanta reflexão quanto fosse necessária para surgir afetos e amor pelo Senhor.
A forma de oração preferida pelo irmão leigo cego era a aspirativa. Esta não é o que comumente é chamada de oração jaculatória. Ele mesmo dá a exata descrição:
“ Uma aspiração não é meramente qualquer tipo de diálogo afetivo, mesmo que em si este último seja um bom exercício, e dele nasça e proceda a aspiração. Ela é uma amorosa e inflamada confiança (élancement) do coração e do espírito, pelo qual a alma supera-se a si mesma e todas as coisas criadas e une a si mesmo com Deus na vividez/vivacidade de sua amorosa expressão. Esta expressão supera todo sensível, racional, intelectual, ou compreensível amor. Pela impetuosidade do Espírito de Deus e seu próprio esforço, ela alcança a divina união, não em sua completa essência, mas por uma espécie de transformação pelo Espírito de Deus.”[7]
Esta confiança interior para a comunhão com o Senhor no amor pressupõe uma vida de constante purificação dos amores nocivos/doentios puramente humanos, e isto inclui todos os meios normais para preservar um coração puro, como o silêncio e a solidão. É inútil forçar este tipo de oração; é Deus mesmo que enche-nos com o seu Espírito. A plenitude do dom do Espírito faz-nos ansiar/esperar/desejar por sua presença ainda mais. Não é uma questão de sentimentos ou desejos, mas uma direta comunhão com Deus. Quatro passos podem ser distinguidos nesta oração. 1) Tudo de si mesmo e tudo da criação é sacrificado por causa do Senhor que é o centro da atenção; 2) A Deus se suplica que ele nos envie seus maravilhosos dons; 3) todos os passos imagináveis são dados para tornar-nos semelhantes a Deus, acolhendo Deus no modo como ele se digna dar-se a si mesmo a nós; 4)sendo unido a Deus de um modo mais elevado. Este não é um exercício fácil que é assimilado em um único dia. Há a necessidade de um esforço perseverante, combinado com uma profunda vida interior, em vista de ir além de todas as imagens e repousar somente em Deus. Nos últimos estágios, a oração aspirativa será mais simples.[8]
Devido à extrema pobreza de imagens devido à sua cegueira, a linguagem de João é difícil às vezes; contudo, ele tenta descrever que a contemplação abarca, supera, vai além de todas as outras coisas. A um certo ponto a alma que foi deixada a si mesma uma presa para Deus, não pode resistir à supereminente bondade, verdade e beleza de Deus. Ela permite-se ser totalmente permeada e possuída por Ele. Esta experiência deixa a alma confusa, porque de suas outras experiências, tão parciais e limitadas, ela acha esta tão difícil de descrever sua comunhão com o Objeto-Tudo. O contemplativo está convencido que para conhecer Deus nesta toda envolvente experiência é “não conhecer” a Ele no sentido ordinário. Há uma frustração na tentativa de expressar a experiência contemplativa. Por esta razão, o contemplativo por um lado esta cheio de luz mas, por outro lado cheio de escuridão. Aqueles que chegam a este alto degrau de oração dizem coisas que fazem sentido somente a outros que tiveram experiências similares.
João de São Sansão constantemente relembra aos Carmelitas por sua vez a voltarem-se para dentro de si para repararem na {se dêem conta de} sua inclinação para Deus ao nível do consciente. Ele refere-se ao scintilla animae, aquela centelha central da alma onde Deus habita em nosso ser, nossa vida verdadeira e razão de ser de nossa pessoa inteiramente. Tudo o mais é julgado e submetido a esta comunhão que transforma a alma e tudo que ligado à alma de acordo com a Vontade Dele que é Tudo.[9] Não é mais uma questão da aspiração, mas do ser completamente vencido e possuído desde o Alto, pela infinita Beleza e Essência de Deus. Isto não é nada mais do que o céu na terra que Deus prodigaliza seus amigos mais queridos.[10] A alma é deificada e transformada.
[1] Oeuvres spirituelles, ed. Donatien de S, Nicolas, Rennes, 1659; II, 857
[2] Ibid., II, 850.
[3] Cfr. SUZNNE-MARIE BOUCHEREAUX, La Reforme dês Carmes en France et Jean de Saint-samson, Paris, 1950, 184-185.
[4] Regula et Constitutiones, Paris, 1636, II chap. 6, citado por KILIAN HEALY, Methods of Prayer in the Directory of the Carmelite Reform of Touraine, Rome, 1956, 17.
[5] Observations sur la Règle, chap. VII, 684, cited by BOUCHEREAUX, La Réforme, 213.
[6] Exercise journalier, cited by BOUCHEREAUX, La Réforme, 215.
[7] Lê Miroir et lês flammes de l’amour divin, D. 321, cited by and commentede on by CANISIUS JANSEN, O.CARM., L’Oraison aspirative chez Jean
[8] Cfr. BRANDSMA, Beauty of Carmel, 109-110.
[9] Ibid., 111.
[10] Cfr. Lês Contemplatives IV, 405 in BOUCHEREAUX, La Reforme, 217.
ESCAPULÁRIO DO CARMO: NATUREZA E CARÁTER
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O Escapulário é essencialmente uma veste. Quem o recebe, em virtude de o ter recebido, é associado à Ordem do Carmo num grau mais ou menos íntimo. O Escapulário ou bentinho, de fato, é a miniatura do hábito desta Ordem, que para viver no seguimento e serviço de Jesus Cristo, escolheu a experiência espiritual da familiaridade com Maria, irmã, mãe e modelo.
A agregação à Família Carmelitana e a familiaridade com Maria assumem um caráter fundamentalmente comunitário e eclesial, porque Maria "ajuda todos os seus filhos, onde quer e como quer que vivam, a encontrarem em Cristo o Caminho rumo à casa do Pai. E assim o Escapulário é um pequeno "sinal" do grande ideal do Carmelo: intimidade com Deus e amizade entre os discípulos.
CARMELITAS: SENTIR COM A IGREJA A PROFECIA
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Frei Egídio Palumbo O. Carm
Tradução de Frei Pedro Caxito, In Memorim. ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 ).
Se a primazia consiste na experiência do Deus-Trindade, então a Espiritualidade Carmelitana não pode deixar de ser eclesial e profética. Recordamos, por exemplo, a atenção eclesial de Teresa de Ávila [Reforma da Vida Religiosa X Reforma Luterana (orações e sacrifícios pela conversão dos luteranos) - Missões na Índia]; a não menos profunda de Maria Madalena de Pazzi (Renovação da Igreja e da Vida Religiosa); a sensibilidade eclesial de Teresa de Lisieux, que estabelece o primado do Amor como o coração da vocação apostólica da Igreja; o carinho com os pobres por parte de Ângelo Paoli; a atenção às trágicas circunstâncias do seu tempo por parte de Tito Brandsma; a preocupação eclesial e social, que tiveram as fundadoras dos nossos Institutos femininos de Vida Apostólica etc.
*0 CARMELO A SERVIÇO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO: Carisma, Espiritualidade e Missão - Apontamentos - Fraternità Carmelitana- Pozzo di Gotto - 1993. Tradução, Frei Pedro Caxito O.Carm. In Memoriam
Creio na Igreja santa católica.
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Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, In Memoriam (* 30/11/ 1931 +11 /07/ 2014).
Deus convocou por meio de seu Filho, feito carne e história humana, um novo povo. A santidade da Igreja não tem sua origem na própria Igreja, mas nessa iniciativa de Deus: “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica pelo banho da água” (Ef 5,25-26). Por isto, a santidade da Igreja também não é fruto da santidade dos seus membros. A pergunta que se faz aos catecúmenos: você quer ser batizado? equivale a: você quer fazer-se santo? Isto faz entender melhor por que Paulo ao escrever uma carta à comunidade dos cristãos em Corinto, se dirige “aos que foram santificados no Cristo Jesus, chamados a ser santos” (1Cr 1,2).
A santidade da Igreja não é um toque de espiritualidade ou um enfeite, mas é uma dinâmica que lhe é intrínseca e qualificativa. Por isto a Igreja não seria ela mesma se não fizesse da vocação universal à santidade uma urgência da sua pastoral permanente. Na sua carta programática para o terceiro milênio, o Papa João Paulo II escreve: “Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade”.
Mas, também é bom reconhecer que a história da Igreja, inserida na história dos homens, não é sempre, sob muitos aspectos, uma narração gloriosa. Já no século III falava-se da Igreja como um corpo misturado de santos e pecadores. São Cipriano, bispo e mártir, dizia que para a Igreja a santidade é um dom, para seus membros uma tarefa. Por isso a santidade doada por Cristo à sua Igreja, não é anulada, embora não deixe de ser turvada pela infidelidade à vocação à santidade por parte de seus membros
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, In Memoriam- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
SENHOR DOS PASSOS DE CACHOEIRA-BA: Um olhar.
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O Prior eleito da Ordem Terceira do Carmo da cidade de Cachoeira-BA, Sr. Antônio, conta a história e a devoção do Senhor dos Passos, uma das grandes devoções da cidade. NOTA: Este vídeo foi gravado antes da Eleição para Prior daquele Sodalício.
CARMELITAS: ESCONDE-TE NA TORRENTE DO CARIT- 01
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Da: “Forma de vida dos primeiros monges” (ano 1370)
Elias, o primeiro monge, institui a vida monástica por inspiração de Deus. Do Retiro de Elias no Deserto. Do duplo fim da vida eremítica e da renúncia aos bens terrenos.
Este Elias, Profeta de Deus, foi o primeiro de todos os monges que existiram e nele teve princípio a santa e gloriosa instituição monacal.
Com a ânsia que sentia pela divina contemplação e o veemente desejo de progredir na virtude, retirou-se para longe das cidades e despojando-se de todos os interesses terrenos e mundanos, se propôs começar a viver a vida eremítica, religiosa e profética, consagrando-se a ela como ninguém até então havia feito, e com a inspiração e o impulso do Espírito Santo, começou a vivê-la e a instituiu.
Porque, aparecendo-lhe o Senhor, lhe ordenou que fugisse dos povoados dos homens e se escondesse no deserto, e vivesse dali em diante a vida monástica da maneira que lhe havia inspirado.
Isto se prova claramente com as palavras da Sagrada Escritura. Referindo-se a isto, lê-se no Livro dos Reis: “E falou o Senhor a Elias, dizendo-lhe: Sai daqui dirija-te para o Oriente e esconde-te na fonte do Carit, que está defronte o Jordão. Ali beberás da fonte e mandei aos corvos que te levem de comer.” (III Rs, 3,4).
O Espírito Santo pôs em Elias um veemente desejo de executar tão santo e tão conveniente mandato que lhe havia inspirado, e o escolheu e fortaleceu para que pusesse em prática tão desejadas promessas.
CARMO DE SALVADOR: Corpus Christi-01
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SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS: PROCLAMAI-O SOBRE OS TELHADO
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Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam. ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 ).
Estamos em pleno mês de junho, mês do Sagrado Coração de Jesus. É um convite a celebrarmos o amor, as misericórdias do Coração do nosso Deus feito homem, que veio morar entre nós, "não para chamar os justos, mas os pecadores" (Mt 9,13).
Por vocação batismal "sacerdotes e reis, uma nação consagrada, um povo que Deus adquiriu para proclamarmos as suas obras maravilhosas" (1Pd 2,9), pela mesma vocação batismal devemos ser também "profetas do Altíssimo", gente que, como todo profeta, fala em nome de Deus, comunica o plano de Deus, que é plano de misericórdia e de amor e de salvação para o seu Povo. Ele, que se preocupa com todos os pardais do mundo e com um só fio de cabelo da nossa cabeça, está sempre muito mais preocupado com o bem e a felicidade de todos nós, seus filhos e filhas.
"Se a transgressão de um só, (Adão), levou a multidão humana à morte, de um modo bem mais elevado se derramou em abundância sobre todos a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo. (...) De um modo muito mais elevado aqueles que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão na Vida por meio de um só, Jesus Cristo" (Rm 5,15-17).
É, portanto, necessário não ter medo e, como Jeremias, sentir o Senhor ao nosso lado como forte Guerreiro. Não ter medo dos homens nem vergonha do Evangelho da Vida, da dignidade, da pureza, da honra, do direito, da justiça e da paz.
É o próprio Jesus quem declara: "Todo aquele que se declarar em meu favor diante dos homens, eu também me declararei em seu favor diante do meu Pai que está nos céus; mas aquele que me renegar diante dos homens, eu também o renegarei diante do meu Pai, que está nos céus", quando vier, cheio de glória, para julgar os vivos e os mortos.
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS: RICO DE MISERICÓRDIA
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Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam. ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 ).
"Mas Deus, rico de Misericórdia, graças ao grande amor com que nos amou, mortos que estávamos por causa dos pecados, nos fez reviver com Cristo: de graça, na verdade, fostes salvos" (Ef 2,4-5).
Misericordioso, o Coração de Jesus sente-se comover diante da miséria do povo cansado e abatido como ovelhas que não têm um pastor. Misericordioso quer dizer "um coração compadecido diante da miséria". E Ele é misericordioso. "Andava em volta por todas as cidades e aldeias, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda doença e enfermidade" (Mt 9,35).
Diz São Paulo aos Romanos: "Pois bem a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores. (...) É por Ele que já desde o tempo presente recebemos a reconciliação"
É misericordioso e quer que o ajudemos a ser misericordioso: chama aqueles que Ele quer e "lhes dá o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo tipo de doenças e enfermidades" (Mt 10.1), como Ele estava fazendo. "Proclamai que o Reino dos Céus está chegando. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demônios" (Mt 10,7-8).
Mas aqueles doze são poucos demais. "O Mediador único entre Deus e os homens" pede aos Homens que peçam ao Dono para mandar mais gente para a sua colheita. A messe está loura, esperando pela colheita (cf Jo 4,35), porque "Messe" é plantação já ansiosa por ser colhida. E o Dono deve ter pressa!...
"Eu vos carreguei sobre asas de águia" como a águia carrega os seus filhinhos (Ex 19, 4). "Sacerdotes e reis, uma nação consagrada, um povo que Deus adquiriu para proclamarmos as suas obras maravilhosas" (1Pd 2,9), o seu amor e a sua misericórdia, devemos estar com Ele no seu esforço por libertar o irmão de toda miséria espiritual e material. "Filhinhos, não amemos com palavras ou com a língua, mas com os atos e com a verdade" (1Jo 3,18).
DEUS DE MISERICÓRDIA
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Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam. ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 ).
Estamos em pleno mês de junho, mês do Sagrado Coração de Jesus. É um convite a celebrarmos o amor, as misericórdias do Coração do nosso Deus feito homem, que veio morar entre nós, "não para chamar os justos, mas os pecadores" (Mt 9,13).
"As misericórdias do Senhor eternamente cantarei!" (Sl 88,2) dizia o salmista, repetia sempre Santa Teresa de Jesus e devemos nós mesmos sempre proclamar.
Aquelas "entranhas de misericórdia do nosso Deus que, para nos visitar nos fez vir lá do alto o Sol Nascente" (Lc 1,78), Jesus que de Maria veio até nós em Belém.
Aquele Coração cheio de misericórdia, que como Bom Samaritano se inclinou sobre a pobre humanidade prostrada no caminho, sobre a pecadora da casa de Simão, o fariseu, sobre Mateus, Zaqueu e o paralítico de Cafarnaum e o outro da beira de Betesda, a piscina da "casa da misericórdia", sobre a adúltera envergonhada e tantos pecadores, sobre as criancinhas rejeitadas, sobre os pobres e sobre os doentes, porque "são os doentes que precisam de Médico e não os sãos" (Mt 9,12).
«Andai, portanto, de volta para as vossas casas, a fim de aprenderdes o que é: "Quero misericórdia e não sacrifício" » (Mt 9,13), sacrifícios de bodes e carneiros (cf Os 6,6).
Junho nos convida a vivermos a bem-aventurança: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque misericórdia encontrarão" (Mt 5,7).
Junho nos pede para reconhecermos as misericórdias do coração do nosso Deus, nelas confiarmos e as imitarmos. "Sede misericordiosos como é misericordioso
ORAÇÃO DOS CARMELITAS NO MONTE CARMELO À VIRGEM MÃE
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De Arnold Bostio + 1499 “Speculum Historiale”
O autor imagina a oração mariana dos primeiros carmelitas como expressão do conteúdo mariano de pertença da Ordem a Maria Patrona = Senhora do Lugar.
Ó Mãe bem-aventurada
Nós te temos esperado tanto!
Tu, que instituíste a nossa Ordem
E a tens organizado e guiado com perfeição!
Ajoelhados a teus pés,
Ó toda santa, Mãe primeira da Família Carmelitana,
Todos nós que estamos nesta montanha,
Saciamos a sede de nosso coração
Nas tuas fontes.
Nós, com sinceridade, nos reconhecemos
Guiados por tua mão
Ajudados por teu socorro,
Iluminados por tua luz!
Transforma-nos em ti
E a nossa vida na tua
Então, o Senhora nossa, fica entre nós.
Ó Maria, nos buscamos um refúgio em teu seio.
É preciso que a Mãe permaneça com seus filhos
A Mestra com seus discípulos,
A Priora com seus monges.
CARMELO: A CELA INTERIOR E EXTERIOR
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De: “Exposição Parenética sobre a Regra dos Carmelitas” de b. João Soreth
Lê-se na Regra: «Todos e cada um de vós tenha celas separadas, conforme a situação do lugar que vos propusestes habitar». A cela abriga o filho da graça, fruto do seu ventre, alimenta-o, abraça-o, condu-lo à plenitude da perfeição e toma-o digno do colóquio com Deus. A cela é terra santa e lugar santo, onde o Senhor e o seu servo se falam em segredo, como um homem ao seu amigo. Nela a alma fiel une-se frequentemente ao seu verdadeiro Deus, como a esposa ao esposo, o celeste une-se ao terreno, o divino ao humano. Pois, tal como o templo santo de Deus, assim é a cela do servo de Deus. Como no templo, também na cela são trotadas as coisas divinas; mas mais frequentemente na cela: a cela é a forja de todos os bens e a sua estável perseverança. Pois nela todo o que viver bem com a pobreza é rico, e todo o que tiver boa vontade tem consigo tudo o que é necessário para bem viver.
Porém, para que vivas com mais segurança na cela, foram-te indicados três defensores: Deus, a consciência e o pai espiritual: a Deus deves piedade, na qual deves viver inteiramente consagrado; à tua consciência deves honra, envergonhando-te de pecar perante ela; ao pai espiritual deves obediência amorosa e a ele deves recorrer em tudo. Alem disso indicar-te-ei um quarto defensor; procurar-te-ei um educador para enquanto te sentires pequeno e até que aprendas mais perfeitamente a exercitar a presença divina: procura tu mesmo, segundo o meu conselho, uma pessoa cuja vida exemplar de tal modo se haja apossado do teu coração que sempre que e recordes te sintas impelido à reverenda do que recordas, te ordenes a ti mesmo e organizes os teus pensamentos como se ela estivesse presente. Com caridade corrija em ti tudo o que deve ser corrigido: pensarás que ela está a ver todos os teus pensamentos, procurarás emendar-te como se ela te estivesse a ver e a corrigir.
Cada um, portanto, lenha uma cela separada para poder realizar estes exercícios na solidão; como diz a Regra «todos e cada um tenham celas separadas». Terás uma cela exterior e outra interior: a exterior é a habitação onde mora a tua alma com o teu corpo; a interior é a tua consciência na qual deve habitar, com o teu espírito, o Deus de todas as luas interioridades. A porta da clausura exterior é sinal da clausura interior, para que, assim como os sentidos do corpo são impedidos pela clausura exterior de vaguear lá por fora, assim os sentidos interiores sejam interiormente obrigados a ocupar-se sempre com Deus. Ama, portanto, a tua cela interior, e ama também a exterior e cuida de cada uma delas; guarde-te a exterior, mas não te esconda para que tu possas pecar mais ocultamente, mas guarde-te para que vivas com maior segurança. Pois não sabes o que deves à cela se não pensas corno nela não só te podes curar dos teus vício, como evitar rixas com os outros; ignoras igualmente quanto respeito deves à lua consciência sempre que nela não experimentas a graça e a doçura da interna suavidade. Dá pois a cada uma destas celas a sua própria honra e exige para ti a tua supremacia: nela aprenderás a vencer-te a ti mesmo, a ordenar a tua vida, a harmonizar os costumes, e defender-te a ti mesmo como também a reprovar-te. Ninguém te amará mais, ninguém te julgará mais fielmente. A este propósito diz alguém: «Seja-te querida a cela, o teu pé seja tardo para o exterior; calando em todo o tempo, chora, lê ou reza, levanta-te cedo, examina-te em todo o momento». Com este fim, pois, diz a Regra: «todos e cada um tenham celas separadas, conforme forem atribuídas a cada um por disposição do próprio Prior e com o assentimento dos outros irmãos ou da parte mais sã».
*ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: Remédios para perseverar humilde na perfeição da vida eremítica.
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Convém também que reflitas sobre o que hás de fazer para perseverar vivendo com perfeição a vida eremítica.
Segue minha promessa dizendo: “mandei aos corvos que te levem de comer”. Julguei ser muito necessário anunciar-te isto para teu consolo. Pois, ainda que estejas nadando em delícias inefáveis, enquanto bebes da torrente do meu gozo, tua alegria, entretanto, não pode ser completa por duas causas.
A primeira porque do íntimo de tua alma sentirás um veementíssimo desejo de ver claramente o meu rosto e ainda não podes vê-lo porque “nenhum homem me verá sem morrer” (Ex 33, 20), “pois eu habito em uma luz inacessível, a qual nenhum homem viu, nem pode ver nesta vida” (I Tim 6, 15).
A segunda causa é porque enquanto estás te esforçando para saborear aquelas delícias inefáveis da torrente do meu insuperável gozo, de repente te verás privado delas pela fraqueza de teu pobre corpo e te encontrarás de novo contigo mesmo, “pois o corpo corruptível prende a alma, e este vaso de barro deprime a mente que está ocupada com muitas coisas” (Sab 9, 15).
Por estas duas razões: não poder ver claramente o meu rosto e não poder permanecer muito tempo naquela gloriosa contemplação de doçura pela fraqueza de teu corpo corruptível, se quiseres perseverar na perfeição, deves suplicar a Deus com gemidos, dizendo-lhe: “meu Deus, meu Deus! A Ti aspiro e me dirijo desde a aurora. De Ti está sedenta a minha alma! E da mesma maneira o está também o meu corpo! Nesta terra deserta, sem caminho e sem água me ponho em tua presença como em teu santuário para contemplar teu poder e tua glória” (Sl 62, 2-3).
Para que então não morras desconsolado com os incontidos soluços e tristezas do coração pela ânsia de ver-me e a fome de saborear a suavidade da doçura de minha glória, “mandei aos corvos que te levem de comer” para dar-te consolo.
Por corvos se entendem aqui, alegoricamente, os Santos Profetas que te precederam e mandei para que fossem teus modelos. Eles nunca sentiram presunção da equidade de sua vida santa, mas conhecendo-se bem pela graça da humildade e vendo sua fraqueza, confessavam ao próprio deficiências dizendo: “se dissermos que não temos pecado, nos enganamos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (I Jó 1, 8). De cada um destes Padres se escreveu: “Quem prepara para o corvo seu alimento quando seus filhotes levantam para Deus seus gritos, indo de um lado ao outro do ninho por não ter nada que comer?” (Jó 38, 3).
O corvo tem o instinto de olhar para os seus filhotes quando nascem e os vê branquinhos e que se movem de um lado ao outro do ninho, abrindo seus bicos e pedindo alimento. Porém só os alimenta ao vê-los com plumagem negra, reconhecendo pela cor que se parecem com ele; quando vê que a plumagem se torna negra, então põe todo o seu esforço em alimentá-los. De semelhante modo nascem também os pintinhos ou discípulos do Profeta que eu enviei e logo, com seu exemplo, chegam a conseguir tanta graça que bebem da torrente de minha delícia, como bebeu o Profeta Elias.
Quando por fraqueza da própria natureza não chegam a saborear de minha suave doçura, devem dirigir-me suas súplicas movendo-se com o desejo de um lado para outro, porque ainda não lhe é possível tomar do desejado alimento da doçura espiritual, e como está escrito: “se não vos tornardes semelhantes às crianças na simplicidade e inocência, não entrareis no reino dos céus” (Mt 18, 3); devem reconhecer humildemente que ainda são filhotes ou crianças na virtude e não deixar de crescer no bem para não cair no mal, pois está escrito: “todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tiago 13, 2).
Porque muitas vezes deixam de meditar em seus pecados e na própria miséria e por isto não podem vestir-se da cor negra da humildade que precisam ter para preservar-se do brilho vão da soberba do mundo. Quanto mais pretendem brilhar no exterior, afanando-se nas atenções da presente vida, tanto menos aptos estarão para poder receber e apreciar em sua alma aqueles manjares espirituais.
O corvo olha os biquinhos abertos de seus filhotes que, famintos lhe pedem de comer, porém enquanto não os vê cobertos de preto não lhes dá alimento, e o Profeta, meu enviado antes de levar e manjar de minha doçura a seus discípulos para que o saboreiem, lhes ensina e exorta a que, como ele, abandonem o brilho vão da vida presente e espera para ver se pelos sofrimentos da penitência e pela meditação em seus pecados se vistam de negro e se reconheçam humildes em sua fraqueza. Se com a humilde confissão de sua vida passada se vestirem como de negras plumas de prantos e gemidos brotados do íntimo da alma, meu Profeta acudirá solicito a todos que lhe pedem com o manjar que eu mesmo tenho lhes preparado, já que os convida a saborear a doçura que mana da torrente de minhas delícias e tanto mais gostosa e proveitosamente os alimenta que mais os vê perfeitamente separados do brilho do mundo e cobertos de negro pela compunção da humilde penitência.
Para que os discípulos se deem perfeita conta de que os alimentos oferecidos pelo Profeta os recebem diretamente de mim, se lhes propõe muito prudentemente em forma de pergunta: “Quem prepara ao corvo seu alimento quando seus filhotes levantam seus pupilos para Deus, indo de um lado a outro do ninho por não ter nada para comer? (Jó 38, 41). Procura convencer-te: só Deus dá comida e nenhum outro, como está escrito: “chamai pelo que dá alimento aos filhotes do corvo” (Sl 146, 9).
Meu filho, quando chegares à perfeição profética e viveres com perfeição o fim da vida monástica eremítica, e te for dado beber da torrente de minha delícia, não te envaideças porque gostas de tanta doçura; sentirás que, de repente, desaparece por algum tempo a causa da fraqueza e miséria do teu corpo.
Então, cuida bem para que não desças da altura desta perfeição e tornes a abraçar algumas das coisas que já havias deixado e renunciado; porque “quem põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o reino dos céus” (Lc 9, 62) e por isto, “esquecendo o que ficou para trás, e olhando só o que está para a frente” (Fil 3, 2), “esforçando-te a ti mesmo prossegue até obter o prêmio a que Deus te chama lá do alto!” Não se promete o prêmio a quem começar a viver isto, mas a quem perseverar até o fim, este se salvará (Mt 10, 22). Prova isto, indo e vindo com a consideração, como os filhotes do corvo no ninho, deves dizer-me em súplica ininterrupta: “Como o cervo sedento anseia pelas fontes de águas, assim, ó meu Deus, chama por Ti a minha alma” (Sl 61, 2).
E se não voltares a experimentar logo aquela suavidade da minha doçura, já antes experimentada, será para que te dês conta, primeiramente, de que se chegaste a provar de tão inefável doçura, não foi por teus próprios méritos, mas por minha benignidade, e em segundo lugar para que a desejes com maior veemência e aumentando o desejo te prepares melhor para poder consegui-la.
E para que neste tempo não desfaleças de todo na perfeição, “mandei aos corvos que te levem o alimento” e assim dispus que os santos Profetas, teus antecessores, te alimentassem com a doutrina dos exemplos da humilde penitência; com a penitência, viam eles, humilhados o negror de seus pecados e não caiam no fascinante brilho da vida carnal. Para que durante este tempo saibas o que deves fazer, alimenta-te com muita solicitude com sua doutrina como está escrito: “o Sábio buscará a sabedoria de todos os antigos e estudará nos Profetas” (Eclo 39, 1).
Se à sua imitação te esforças por apagar de ti o vão brilho da vida presente e procuras vestir-te de luto, como os filhotes do corvo, com a meditação da própria fraqueza e a prática da verdadeira humildade e elevas ao Senhor tuas fervorosas e humildes preces e a correspondente confissão de teus pecados e os abundantes gemidos de dor, como se fossem as plumas negras do corvo; e também se, à semelhança de seus filhotes, te separas do tumulto das cidades, estabelecendo tua vivenda na solidão, te escondes longe da glória da vida mundana e das posses e demais bens e riquezas do mundo, o Senhor te dará de novo de beber e saborearás a doçura do manjar que nasce da torrente de sua delícia. Por isto se tem escrito: “olhai as aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em seus celeiros, e Deus as alimenta” (Mt 6, 26). Já te ensinei como deves viver para perseverar humilde na perfeição da vida profética eremítica.
*Livro da Instituição dos Primeiros Monges: Fundados no Antigo Testamento e que perseveram no Novo. Por Juan Nepote Silvano, Bispo XLIV de Jerusalém
UM OLHAR SOBRE O CARMO DE CACHOEIRA.
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OLHAR DO DIA: Nova mesa administrativa da Ordem Terceira de Cachoeira-BA.
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CARMO DE CACHOEIRA-BA: Ontem sexta-feira e hoje, sábado, Nós; Frei Petrônio e Frei Raimundo, estivemos na cidade de Cachoeira com o objetivo de orientar, animar e acompanhar a eleição da nova mesa administrativa. Após um encontro na sexta tivemos a eleição hoje, dia 10. Assim foi composta a nova mesa. Prior, Sr. Antônio. 1º Conselheiro, Sr. Isaac Tito 2º Conselheiro, o jovem Anderson Luis, 3º Conselheiro. Sra. Mabel. Parabéns e que a Virgem do Carmo cubra com o seu manto.
CARMELITAS: Seguir a Cristo na Fraternidade para a Missão
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A vocação para a vida carmelita, iniciativa gratuita e livre de Deus, origina e exige uma resposta pessoal: a opção fundamental de uma vida concreta e radicalmente dedicada ao seguimento de Cristo.
Somos chamados a partilhá-la numa fraternidade que é «sinal eloquente da comunhão eclesial».
Somos chamados a realizar, em comunhão com o Senhor e sua Igreja, a missão de evangelização e salvação, para que todos recebam o anúncio do Evangelho e possam formar a família de Deus.
* Ratio Institutionis- Vitae Carmelitanae
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