*Frei Christopher O’Donnell, O. Carm.

Doutrina

As grandes verdades sobre Maria foram defendidas no século XIII. O dogma de sua Maternidade Divina tem sido celebrado desde o Concílio de Éfeso (431). A Assunção de Maria está presente na liturgia desde o século VI e sua festa litúrgica teve uma oitava a partir de Leão IV (+ 855). A Virgindade Perpétua de Maria é questão pacífica desde o tempo do Concílio não-ecumênico Lateranense de 649. O quarto Concílio Lateranense usou a frase “Maria sempre virgem” em sua fórmula do Credo para os albigenses e cátaros. Acreditava-se também na Imaculada Conceição, mas muitos teólogos tinham sérias reservas, principalmente os seguidores de Tomás de Aquino. Sua festa começa a ser celebrada na liturgia a partir do século XII. Foi o papa siro-siciliano Sérgio (+ 701) quem estabeleceu uma procissão solene em Roma para quatro grandes festas marianas: o Nascimento de Maria (08 de setembro), a Apresentação (02 de fevereiro), a Anunciação (25 de março) e a Assunção (15 de agosto).

Além dessas verdades de fé, existia uma ampla crença em outras verdades sobre Maria. Em distintos lugares encontramos importantes afirmações sobre a união de Maria com seu Filho na Redenção. Em São Bernardo e, mais tarde, em Santo Alberto Magno e em São Boaventura, encontramos esboços da doutrina da mediação de Maria. O Memorare, atribuído a São Bernardo, tem algumas frases dele mesmo, apesar de em sua forma atual ser do século XV ou mesmo anterior. A maternidade espiritual de Maria, afirmando que ela é nossa Mãe e Mãe da Igreja, foi ensinada com muito mais clareza a partir do século XI, quando teólogos como Anselmo de Lucca (+ 1086) e Rupert de Deutz (+ 1130) começaram a aprofundar a verdade latente na cena aos pés da cruz relatada por João (19,25-28a). A apresentação de Maria como Rainha já estava presente com freqüência nos sermões e nos hinos do século VI. Foi encontrada há muito tempo nas liturgias, tanto do Oriente quanto do Ocidente e tornaram-se marcantes no século XIII.

Devoção

Quando olhamos para as orações e devoções marianas no século XIII encontramos uma grande riqueza. Já existiam então muitos santuários e lugares de peregrinação marianos. Por exemplo, na Inglaterra foram fundados dois antigos santuários: Walsingham (1061) e Glastonbury (do século VII, reconstruído em 1186). O santuário de Einsiedeln, na Suíça, data do século X. Poemas em língua vernácula são encontrados especialmente a partir da metade do século XII.

Existiam muitas devoções a Maria naquele tempo. A coleção de orações de diversos tipos começou no período carolíngio. Uma das mais conhecidas era o Livro das Orações Sagradas (Libellus sacrarum precum), datado do final do século IX, contendo várias orações marianas. Mais tarde, encontramos os Livros das Horas, cuja essência foi o Pequeno Ofício da Bem-aventurada Virgem. Sua origem foi uma devoção adicional (cursus) acrescentada ao Ofício canônico assim como aos ofícios votivos da Bem-aventurada Virgem, que surgiram com os carolíngios. Este material foi reorganizado por São Pedro Damião (+ 1072) e recomendado por ele para uso diário.

Existiam muitos hinos e orações marianas circulando no século XIII, que foram incorporados à liturgia e às orações comunitárias carmelitanas. A primeira parte da Ave Maria já existia mais ou menos a partir do século VII. Era um elemento do Pequeno Ofício e foi recomendada por Pedro Damião para recitação freqüente. O acréscimo do nome “Jesus” pode vir do tempo de Urbano IV (+ 1264), mas a segunda parte da oração (“Santa Maria...”) é do século XV. Os hinos comuns durante esse período incluíam o Ave maris stella que data do século IX. As quatro grandes antífonas marianas já eram conhecidas: Alma redemptoris mater (século XII), Salve regina (talvez do século XI), Ave regina caelorum (século XII) e o Regina coeli (provavelmente do século XIII).

Outras formas mais populares de oração foram encontradas nesta época. As ladainhas marianas surgem mais ou menos no século XI com a Ladainha de Loreto, datando do final do século XII, com 73 invocações. Uma ladainha irlandesa com 76 invocações pode datar do século XII. Da mesma forma, saudações a Maria, muitas vezes repetidas 150 vezes correspondendo ao Saltério (Grusspsalter), começaram a ser usadas a partir de 1130. Estas últimas teriam dado origem ao Rosário, que tomou sua forma atual no começo do século XV. Coleções das Alegrias (cinco) e Dores (sete) de Maria (Marienklagen) também são do século XII. A grande seqüência Stabat Mater é provavelmente do final do século XIII, talvez do franciscano Jacopone da Todi (+ 1306). O costume de dizer três Aves Marias à noite pode datar do século XI. Gregório IX (+ 1241) ordenava que os sinos tocassem para que o povo pudesse oferecer as Aves Marias às Cruzadas. A primeira coleção de legendas sobre Maria apareceu no século XI, o Liber de miraculis santae Dei genetricis Mariae.

As vidas de Maria, muitas vezes baseadas vagamente nos Ofícios, tornaram-se populares no século XII. Irmandades marianas são encontradas a partir da primeira metade do século XIII, especialmente na França e na Itália.

Uma importante área de interesse para a antiga mariologia carmelitana foi ressaltada por E. Boaga. Ela lembra o número de santuários e de lugares sagrados na Palestina que foram associados à Maria nas escrituras, nos apócrifos e nas tradições orais.[i]  Posteriormente, eles nos ajudarão a compreender mais plenamente o significado da escolha de Maria como Protetora do oratório do Monte Carmelo.

A Escravidão de Maria

Finalmente, podemos lembrar o surgimento, no século XI, do que se chamaria mais tarde de “escravidão de Maria”. São Bernardo, por exemplo, chamava-se de pajem de Maria (servuli). Isso pode ser significativo para a difundida ideia carmelitana da vassalagem, que encontraremos posteriormente.

Não só os carmelitas

Como veremos, os carmelitas que foram para a Europa assumiram muitas dessas práticas e crenças existentes. Se nos restringirmos a estudar apenas o que é carmelitano, corremos o risco de subestimar e mesmo de negligenciar uma parte considerável de nossa herança mariana. Em vez disso, devemos tentar ver toda vida mariana dos primeiros frades carmelitanos, das quais apenas algumas partes serão específicas deles mesmos.

Existem diversos paralelos com outras ordens, tais como os cistercienses,[ii]  os cônegos premonstratenses[iii]  e, é claro, os dominicanos.[iv]  Precisamos em primeiro lugar, levantar a questão da identidade carmelitana, descrita particularmente nas primeiras Constituições e títulos da Ordem.

O Século XX

No século XX tivemos o chamado “Movimento Mariano”, um tempo de grande entusiasmo, congressos, escritos, crescimento devocional.[v]  Esse tempo culminou na definição do dogma da Assunção (1950) e no Ano Mariano (1954). Depois disso houve um declínio, apesar do significativo ensinamento do Vaticano II. Com o importante documento de Paulo VI, Marialis cultus (1974) e de João Paulo II, Redemptoris Mater (1987) houve uma gradual recuperação. A partir da metade de 1970 houve uma abundância de trabalhos eruditos, essenciais sob todos os aspectos, de mariologia.[vi]

Na ordem, o ano de 1950 também foi um clímax do século XX com o caloroso endosso do Escapulário por Pio XII na carta Neminem profecto latet.[vii]  Mas os anos seguintes testemunharam algum declínio e falta de energia da parte da Ordem. A historicidade da visão do Escapulário foi submetida a um minucioso exame. Apesar da evidência desta visão ser considerada inadequada por severos estudiosos como Jean de Launoy (+ 1678) e Herbert Thuston (+ 1939), suas opiniões não influenciaram muito a apreciação que a Ordem tinha do Escapulário. Mas os valentes esforços de B. M. Xiberta em defender a autenticidade da visão do Escapulário[viii]  foram gradualmente colocados em dúvida. Foram feitas afirmações mais específicas, que não confortaram aqueles cuja tranqüila certeza anterior sobre a visão do Escapulário tinha sido perturbada.[ix]  O Privilégio Sabatino, baseado numa suposta visão de João XXII foi considerado como uma mentira medieval.[x]  No Próprio da Missa Carmelitana de 1972 não houve festa ou memorial para Simão Stock. A revisão inicial do Calendário para a Igreja Universal, posteriormente, omitiu a festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo.

Mas também houve uma recuperação, um tanto irregular, da consciência mariana carmelitana datando do capítulo geral extraordinário de 1968. Tal capítulo apresentou Maria nos termos do Vaticano II e defendeu o significado do Escapulário.[xi]

Estas questões encontram-se por trás do capítulo geral de 1971 e são, de certo modo, percebidas em alguns encontros do conselho das províncias, congregações gerais e capítulos. A revisão do Missal Romano em 1969 restaurou a celebração de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Para a Ordem Carmelitana a Missa e o Ofício de São Simão Stock foram reintegrados pela Santa Sé em 1979.

Junto a esses desenvolvimentos podemos ver na bibliografia anual no Carmelus que tem havido um crescente interesse na mariologia carmelitana e nos escritos realizados pelos membros da Ordem sobre a Virgem Maria. Em 1989 aconteceram três congressos marianos na Ordem: no Centro Santo Alberto em Roma, Sassone fora de Roma e Nova Iorque. Uma conferência em Reno (1998) foi celebrada pela grande família carmelitana nos Estados Unidos.

Portanto, o tempo atual é apropriado para abordarmos novamente o carisma mariano da Ordem e para apresentá-lo em termos apropriados à Igreja contemporânea. Esse breve trabalho quer examinar as origens e o desenvolvimento do carisma mariano carmelitano. Depois, apresentará a reflexão sobre Maria nos documentos oficiais da Ordem desde o Vaticano II, antes de esboçar algumas perspectivas mariológicas contemporâneas, dentro das quais teremos que expressar nosso carisma.

[i]  E. Boaga, “Irigini Mariane dei carmelitane”, Marianum 53 (1991) 183-198.

[ii]  Ver G. Vitti e M. Falletti, “La devozione a Maria nell’Ordine Cistencense”, Marianum 54 (1992) 287-348.

[iii]  Ver N. L. Reuviaux, “La dévotion à Notre Dame dans l’Ordre de Prémontré” em H. du Manoir, ed., Maria: Etudes sur la sainte Vierge. 8 vols. (Paris: Beauchesne, 1949-1971) 2: 713-720.

[iv]  Ver A. Duval, “La dévotion mariale dans l’Ordre des Frères Prêcheurs” em Du Manoir, Maria 2:737-782.

[v]  Roschini, Maria 4:425-495; R. Laurentin, La question mariale (Paris: Seuil, 1963) = Mary’s Place in the Church (London: Burns and Oates, 1965) cap. 2.

[vi]  Ver subsídio anual de E. R. Carroll em Marian Studies.

[vii]  AAS 42 (1950) 390-391.

[viii]  De visione sancti Simonis Stock (Roma: Carmelite Institute, 1950).

[ix]  C. P. Ceroke, “The Credibility of the Scapular Promise”, Carmelus 11 (1964) 81-123.

[x]  L. Saggi, La “Bolla sabatina”: ambiente, texto, tempo (Roma: Carmelite Institute, 1967); cf. Carmelus 13 (1966) 245-302; 14 (1967) 63-69.

[xi]  AOC 27 (1968) 45, 51.

Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam ( *31/12/1926  +02/09/ 2009 )             

 

Ave Maria             

Bendita Flor,         

Cheia de Graça,       

De suave odor!        

                         

És toda bela,         

Flor do meu Carmo!    

Grande e singela      

Heróica Virgem,       

 

Íris de paz,          

Judite audaz!         

Lembra-te santa       

Mãezinha-amor:        

 

"Nós do Carmelo,      

Oh! sim! contigo,     

Por ti, em ti         

Queremos ser".     

 

Rege-nos sempre,       

Sempre protege-nos:   

Teus filhos somos.    

Ui! Que serpente!...  

                       

Vem, ó Sem-Mácula,

Xeque lhe dá.

Zele por nós

     

                     Teu Bom-Jesus,                    

Princípio e fim,

Primeiro e último,

O Rei da Luz.

Amém. Jesus!

16 de julho. "Os Beneditinos tem São Bento, Os Franciscanos tem São Francisco, os Dominicanos tem São Domingos... Já os Carmelitas tem uma Mãe, Nossa Senhora do Carmo". Salve a Mãe do Carmelo! Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. 

Domingo, dia 15. Última Noite da Novena de Nossa Senhora do Carmo. Fotos: Face: Leonardo Marques. 

Frei Carlos Mesters, O. Carm.

São Simão Stock, Superior Geral da Ordem

Os problemas da vida não se resolvem por decreto. As dificuldades continuavam sem solução. Em 1251 Simão Stock, um carmelita da Inglaterra, era o Superior Geral da Ordem. Ele era a favor da nova forma de vida religiosa como mendicantes. Queria que a Ordem estivesse a serviço do povo nas cidades da Europa. Mas não foi fácil para ele manter todos os frades neste novo rumo. Um grande grupo continuava achando que se devia voltar a viver na solidão. Tanto assim, que uns vinte anos depois, no Capítulo Geral de 1272, foi eleito como Superior Geral frei Nicola, chamado o Gálico (francês), que queria que a Ordem seguisse o rumo dos eremitas na solidão. Mas Nicola não teve a aprovação do conjunto dos frades. Ele mesmo não aguentou e renunciou ao mandato. Voltou para o eremitério na ilha de Chipre, onde expressou seu desgosto numa carta chamada "Ignea Sagitta", Flecha de Fogo.

Tudo isto mostra que as dificuldades, tanto internas como externas, eram grandes. Pois até hoje, não é fácil manter o equilíbrio entre ação e contemplação, entre vida de oração no mosteiro e ação pastoral nas cidades, entre vida contemplativa e vida ativa. Simão Stock, para poder enfrentar as dificuldades e resolver os problemas, recorria a Nossa Senhora e insistia em dizer aos confrades: "Temos a veste de Nossa Senhora, somos os seus irmãos, ela é nossa mãe e irmã. Ela nos vai ajudar".

A ele se atribui esta oração tão bonita que rezamos até hoje:

Flor do Carmelo,

Videira florida,

Esplendor do céu,

Virgem Mãe,

Singular,

Doce Mãe,

Mas sempre virgem,

Aos Carmelitas dá os teus favores

Ó Estrela do Mar.

 

Flos Carmeli

Vitis florigera

Splendor coeli

Virgo puerpera

Singularis

Mater Mitis

Sed viri nescia

Carmelitis da privilegia

Stella Maris

A entrega do Escapulário e a grande promessa

Conta a história que Simão Stock teve uma visão, em que Nossa Senhora lhe apareceu, entregou a ela o escapulário e lhe disse: "Recebe, diletíssimo filho, este escapulário da tua Ordem, sinal de minha fraternidade, como privilégio para ti e para todos os carmelitas: quem morrer com ele revestido não padecerá do fogo do inferno".

Isto aconteceu no ano de 1251. A partir da divulgação desta visão de Nossa Senhora no meio dos frades, o Escapulário tornou-se para eles uma fonte de animação para poder enfrentar todas aquelas dificuldades na segunda metade do século XIII (1250 a 1300). E de fato, estimulados pela fé na proteção de Nossa Senhora, eles não desanimaram. Muito pelo contrário! Conforme os cálculos feitos pelo historiador frei Emanuel Boaga, lá pelo anos de 1300, já havia mais de 150 comunidades Carmelitas espalhadas pelos vários países da Europa. Sinal evidente da proteção de Nossa Senhora. Sinal igualmente de que aqueles primeiros Carmelitas souberam viver e irradiar o carisma do Carmelo e apresentá-lo como ideal atraente para a juventude da época.

Foi a partir da divulgação da visão de Nossa Senhora a Simão Stock, que, aos poucos, o Escapulário começou a destacar-se como um pano distinto, diferente da grande capa branca, para tornar-se o sinal específico dos favores de Nossa Senhora e do amor de Deus para com os Carmelitas.

O Escapulário começou a ter a forma de dois grandes panos de cor marrom, a serem carregados em cima da túnica, ligados entre si, um na frente e outro atrás nas costas. Até hoje, este Escapulário de dois panos de cor marrom faz parte do hábito oficial tanto dos frades como das monjas e das irmãs das Ordens Primeira, Segunda e Terceira e das várias Congregações carmelitanas.

Aos poucos, ao longo dos anos, para facilitar o seu uso para os leigos, o escapulário começou a ter a forma de dois panos pequenos, ligados entre por meio de duas fitas ou cordas; um com a imagem de Nossa Senhora do Carmo, e o outro com a imagem do Sagrado Coração de Jesus.

Em tempos mais recentes, o escapulário assumiu a forma de uma pequena medalha com a imagem de Nossa Senhora do Carmo de um lado e, do outro lado, a imagem do Sagrado Coração de Jesus.

O assim chamado "Privilégio Sabatino"

Uma tradição antiga dos Carmelitas informa que em 1322, o Papa João XXII teve uma visão em que Nossa Senhora lhe apareceu mostrando o escapulário do Carmo e dizendo:

Quem morrer revestido com este escapulário será libertado das penas do purgatório no sábado após a sua morte. Esta promessa de Nossa Senhora ao Papa João XXII foi chamada de Privilégio Sabatino. Ao longo dos séculos, ela contribuiu muito para a divulgação da devoção ao Escapulário do Carmo e teve uma repercussão enorme na devoção popular através das pinturas e obras de arte de muitas formas e cores.

Na realidade, não se trata de nenhum privilégio. Trata-se simplesmente da fé comum e universal da igreja, a saber: quem vive a sua vida com coerência e confiança não precisa ter medo da morte nem do purgatório. Ele vai direto para o céu e será acolhido por Deus no seu amor.

Os primeiros Carmelitas do século XIII viveram esta convicção. Quando vestiam o escapulário, tinham a certeza: Este manto de Maria, a Mãe de Jesus, é um sinal de que Deus nos protege e nos acolhe no seu amor. Ele não nos deixará na morte, mas nos levará consigo junto dele na vida para sempre. Aliás, na outra vida não existe calendário nem tempo. Na eternidade não existe sequência nem de dias nem de noites. Lá não se calcula o tempo em semanas, meses e anos. Para Deus, um dia é como mil nos e vice-versa (cf. Sl 90,4).

Como o anel no dedo da noiva e do noivo, assim o Escapulário é um sinal. O anel nas mãos dos noivos é o sinal da fé e do amor entre os dois. Mas o anel não garante automaticamente nem o amor e nem a fé. Ele funciona como lembrete permanente do amor e da fé entre os dois e deles pede uma resposta coerente de mútua confiança e amor. O mesmo vale para o escapulário. O simples fato de carregar o escapulário no pescoço não garante automaticamente o céu nem a libertação do purgatório. O Escapulário, este manto de Maria, funciona como lembrete do compromisso que assumimos de viver este amor numa atitude doação a Deus e ao próximo.

Guarda Civil espanhola encontra parte de uma correspondência manuscrita da freira com frei Jerónimo Gracián durante uma operação para recuperar obras de arte

Duas cartas manuscritas de Santa Teresa de Jesus recuperadas pela Guarda Civil juntamente com outras 17 obras de arte. 

INÉS MORENCIA EFE

PATRICIA ORTEGA DOLZ

Santa Teresa de Jesus teve outro amor, além de Deus. Um amor mais carnal e menos confessável: Jerónimo Gracián. Ela dirige a Gracián uma de suas duas cartas manuscritas inéditas descobertas durante uma operação da Guarda Civil espanhola, juntamente com outras 17 obras de arte. Santa Teresa já estava com quase 60 anos, mas isso não impediu que se apaixonasse por aquele frade jovem disposto a acompanhá-la na renovação de uma Igreja corroída pela depravação existente naquela época (1578), com freiras corrompidas e frades bêbados envolvidos com prostitutas. A esfera eclesiástica estava mergulhada em duras disputas de poder entre os dois grupos de carmelitas, os calçados e os descalços.

“Para meu padre e mestre, frei Jerónimo Gracián da mãe de Deus, em suas mãos...”, começa a missiva. Teresa de Jesus, também conhecida como Teresa de Ávila, e Gracián tiveram de suportar as fofocas que seu relacionamento provocava em sua comunidade religiosa. Principalmente Gracián: ele acabou fugindo de seus próprios irmãos, os carmelitas descalços, que conseguiram expulsá-lo da Espanha. “Foi perseguido por seguir as ideias de uma mulher, foi capturado por corsários e acabou sendo acolhido por aqueles que tinham sido seus adversários: os carmelitas calçados”, comentou o jornalista e escritor Fernando Delgado, que escreveu um romance baseado na relação entre os dois, Sus Ojos en Mí (“seus olhos em mim”).

 “Em muita graça nos caiu o que respondeu aos calçados sobre o trabalho que eles realizam em Medina e como convencem as freiras a obedecer ao provincial”, escreve Teresa em 19 de agosto de 1578 em Ávila. “Ali está como vigário Valdemoro, que não obteve votos para prior e o provincial o deixou como vigário para que remediasse aquela casa; e ele, desde aquele episódio bem conhecido, está muito mal com a prioresa Alberta. Andam dizendo que terão de servi-lo e muita coisa. As outras morrem de medo dele. Já as dobrou”.

São muitas as preocupações da santa nesse momento. Gracián está em Madri, bem alojado, mas meio escondido e sem ousar apresentar-se ante o núncio Filippo Sega. O frei Juan de la Cruz fugiu da prisão. Ela não sabe disso e continua angustiada pelo destino desse santo. O chefe de sua ordem religiosa, que mantém silêncio absoluto com ela, escreveu uma carta desanimadora para uma freira. Teresa de Ávila tem de tranquilizar as carmelitas de Medina, aterrorizadas pela chegada de Valdemoro, um dos carcereiros de Juan de la Cruz.

As duas cartas foram encontradas quando o Serviço de Proteção da Natureza (Seprona) da Guarda Civil em Valladolid, como parte de suas operações destinadas a proteger o patrimônio histórico e arqueológico, recuperou 19 obras de arte que estavam no mercado ilegal. Entre elas, cinco peças cujo paradeiro era considerado desconhecido pelo arcebispado de Valladolid.

Um antiquário e uma casa de leilões

O dono de um antiquário e o administrador de uma casa de leilões foram os principais investigados por supostos crimes de fraude, receptação e venda ilícita de sete obras de arte do patrimônio histórico.

A Operação Camarim começou em março, quando os agentes do Seprona descobriram que tinha sido vendida em um leilão em Madri uma pintura que poderia corresponder a uma pertencente às Carmelitas Descalças do Convento de São José de Medina de Rioseco (Valladolid), com as quais tanto se preocupava Santa Teresa. A pintura estava incluída tanto no catálogo “Clausuras —O Patrimônio dos Conventos da Província de Valladolid” como no “Catálogo Monumental da Província de Valladolid”—.

Os agentes solicitaram a colaboração do serviço de proteção da Direção Geral de Patrimônio Cultural, do Serviço Territorial de Cultura e Turismo da Junta de Castela e Leão em Valladolid, do Museu Provincial de Valladolid Fabio Nelli, do Governo Provincial de Valladolid e da Delegação Diocesana de Patrimônio do Arcebispado de Valladolid. Houve numerosos contatos, reuniões e trocas de informações com o objetivo de descobrir os supostos delitos penais ou as infrações administrativas e recuperar as peças.

Com isso, foi possível comprovar que a tela leiloada pertencia a uma coleção composta por um total de 174 peças, das quais 28 se encontravam em paradeiro desconhecido desde 2005. As investigações conduziram as autoridades até um antiquário de Valladolid, aonde chegaram por meio de uma casa de leilões de Madri que havia analisado e avaliado a obra. Na ficha do catálogo do leilão foi ocultada a procedência da pintura e alterada sua data de criação. A tela foi localizada e recuperada em Madri, onde foi entregue voluntariamente pelo comprador de boa fé.

Os agentes descobriram, ao inspecionar o estabelecimento, que a obra leiloada tinha sido ocultada com outro nome nos registros. Além disso, durante as inspeções, os investigadores apreenderam sete obras procedentes da coleção, assim como outras sete peças catalogadas.

A análise das informações obtidas permitiu também a localização de outras cinco peças da mesma coleção em edifícios institucionais de Salamanca, Toledo, Viana de Cega e Medina de Rioseco (Valladolid). Estas obras, cujo paradeiro também era considerado desconhecido, são de origem lícita.

Finalmente, outras quatro peças da coleção citada foram entregues voluntariamente pelas freiras do Mosteiro do Coração de Jesus e São José das Carmelitas Descalças. Na investigação também se descobriu que o antiquário tinha vendido ilegalmente outras sete obras da coleção a pessoas desconhecidas.

Do convento ao museu

Todos esses bens fazem parte do patrimônio histórico espanhol, assim como do patrimônio cultural de Castela e Leão, segundo a Lei 16/1985, de 25 de junho de 1985, do Patrimônio Histórico Espanhol e a Lei 12/2002, de 11 de julho de 2002, do Patrimônio Cultural de Castela e Leão.

As obras de arte recuperadas e as que foram cedidas voluntariamente pelas freiras carmelitas foram depositadas no Museu São Francisco de Medina de Rioseco. Esse museu abriga a maioria das obras da coleção da qual fazem parte, incluindo agora as duas cartas manuscritas, assinadas e inéditas de Santa Teresa de Jesus. Fonte: https://brasil.elpais.com

LADAINHA DE NOSSA SENHORA DO CARMO.

(Antes da Ladainha, cantar um canto a Nossa Senhora do Carmo enquanto o Padre incensa a imagem)

 

Senhor, tende piedade de nós

Cristo, tende piedade de nós

Senhor, tende piedade de nós

Cristo, ouvi-nos

Cristo, atendei-nos

Deus Pai do céu, tende piedade de nós

Deus Filho Redentor do mundo, tende piedade de nós

Deus Espírito Santo, tende piedade de nós

Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós

Mãe de Jesus Cristo, Rogai por nós.

Mãe da Igreja, Rogai por nós.

Mãe e Senhora do Carmelo, Rogai por nós.

Santa Maria do Monte Carmelo, Intercedei por nós

Modelo da família carmelitana, Rogai por nós.

Flor do Carmelo, Rogai por nós.

Estrela do Mar, Rogai por nós.

Nossa Senhora da Subida do Monte Carmelo, Intercedei por nós

Espelho da justiça, Rogai por nós.

Rainha dos Mártires Carmelitas, Rogai por nós.

Rainha de todos os Santos, Rogai por nós.

Rainha do Carmelo, Intercedei por nós

Rainha do Santo Escapulário, Rogai por nós.

Nossa Senhora do Carmo, nossa consolação na hora da morte, Rogai por nós

Nossa Senhora do Carmo, modelo dos missionários, Rogai por nós.

Nossa Senhora do Carmo, perfeito modelo da Boa Nova, Intercedei por nós

Por aqueles desempregados e abandonados, Rogai por nós.

Por aqueles no leito de dor, Rogai por nós

Pelo nosso Santo Padre, o Papa Francisco e seus pastores, Rogai por nós.

Pela nossa comunidade, Intercedei por nós

Pela família carmelitana e os devotos do Escapulário, Rogai por nós.

Pela paz e justiça social em nosso país, Rogai por nós.

Pela paz na cidade do Rio de Janeiro, Rogai por nós.

Pelo ano do Laicato Carmelitano, Intercedei por nós

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.

Padre: Rogai por nós, Flor e Esplendor do Carmelo.

Todos: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

OREMOS: Venha em nossa ajuda, Senhor, a intercessão da gloriosa e bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo. Concedei-nos, por sua intercessão, chegarmos à verdadeira montanha, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amém.

Tenho a alegria de partilhar com amigos do face que na noite de ontem por graça de Jesus e sua beatíssima Mãe Maria tornei-me irmão da Venerável Ordem Terceira da Senhora do Monte Carmelo na cidade de Carmo de Minas.

Agradeço ao Pe. Adriano, Pe. Mário Quirino Rabelo, Pe. Rogério (vigário de Carmo de Minas), ao Cônego Barone (delegado do bispo para este ato e vigário geral da diocese da Campanha) ao bispo D. Pedro Cruz que concedeu a licença por ser eu um Comendador Pontifício, à Sra. Priora e aos irmãos e irmãs da ordem. Ao Delegado Provincial Carmelita Frei Petrônio que tornaram possível esta felicidade em minha vida. Aos amigos Edson EdsonSileia Pereira de Carvalho e ao seminarista Vinícios Fonsêca pela presença. Fonte: Facebook (https://www.facebook.com/comendador.franciscocarlos)

Frei Carlos Mesters, O. Carm.

As três estrelas no escudo do Carmo representam Elias, o profeta do zelo pela causa do Senhor; Eliseu, o herdeiro que irradia a experiência do Deus de Elias, e Maria, a mãe de Jesus, que ouve a Palavra e a coloca em prática. As três são o resumo da nossa identidade, do nosso carisma e da nossa missão. O escapulário é o manto de Elias. É o manto que Eliseu recebeu de Elias. É o manto da proteção que Maria, a Mãe de Jesus, nos oferece.

1-O manto de Elias

Deus mandou que Elias ungisse Eliseu como seu sucessor (1Rs 19,16). Elias foi e transmitiu a Eliseu o chamado de Deus. Ele o encontrou trabalhando com doze juntas de bois diante dele; ele próprio conduzia a décima segunda junta. Elias passou perto dele e lançou sobre ele seu manto (1Rs 19,19). Elias não disse nada, não explicou nada. Apenas colocou sobre ele o manto, o manto de Elias. A Bíblia de Jerusalém em nota ao pé da página diz: "O manto simboliza a personalidade e os direitos do seu dono".

Eliseu entendeu o gesto do manto, abandonou seus bois, correu atrás de Elias e disse: "Deixa-me abraçar meu pai e minha mãe, depois te seguirei". Elias respondeu: "Vai e volta logo" (1Rs 19,20).

Eliseu foi para a casa dos pais e fez uma festa de despedida: "Tomando a junta de bois, a imolou. Serviu-se da lenha do arado para cozinhar a carne e deu-a ao pessoal para comer. Depois levantou-se e seguiu Elias na qualidade de servo" (1Rs 19,21). Largou tudo que possuía e seguiu Elias como servo. De dono rico de muitos bens, ele se fez empregado pobre que abandonou tudo que tinha. O que chama a atenção é a coerência de Eliseu na resposta ao chamado.

2-O manto de Eliseu

Uma coisa que chama a atenção é a maneira intrigante como Eliseu acompanhou Elias na última caminhada antes de Elias ser arrebatado pelo carro de fogo. Por três vezes, Elias pede a Eliseu: "Fica aqui, pois Javé me enviou ir sozinho até Betel ... até Jericó ...até o Jordão"(2Rs 2,2.4.6). E por três vezes Eliseu responde: "Tão certo como Javé vive e tu vives, não te deixarei!" (2Rs 2,2,4,6). Por duas  vezes, os irmãos profetas disseram a Eliseu: "Sabes que hoje Javé vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?" E por duas vezes, Eliseu responde: "Sei! Fiquem calados!" (2Rs 2,3.5).  Eliseu não abandonou Elias e, como diz a história, "os dois partiram juntos" (2Rs 2.1.2.6) Sempre juntos, desde Guilgal, passando por Betel e Jeric até o rio Jordão! Elias insiste, Eliseu não desiste, os irmãos profetas observam de longe e confirmam a caminhada dos dois. Qual o significado desta cena?  

Esta caminhada dos dois não era uma caminhada qualquer! Todos sabiam que em breve Elias seria levado embora (2Rs 2,3.5). Por isso, nada podia separar o discípulo do mestre. Eliseu, o discípulo; Elias, o mestre.

Chegando no rio Jordão, Elias pega o manto, bate nas águas, a água se divide e eles passam a pé enxuto (2Rs 2,8). Depois que passaram o rio, Elias diz a Eliseu: "Peça o que quiser antes que eu seja arrebatado da sua presença!" Eliseu pede: "Deixe-me como herança uma dupla porção do seu espírito" (2Rs 2,9). Naquele tempo, o filho mais velho recebia dos pais uma dupla porção da herança (cf. Dt 21,17). Era para não diminuir ou pulverizar a propriedade da família. A herança devia ser preservada integralmente para as gerações seguintes. Pelo pedido que fez a Elias, Eliseu mostrou ter plena consciência da sua missão como filho mais velho que deve preservar a herança do profeta Elias. Hoje, nós somos Eliseu, o filho mais velho. Nossa herança é o duplo espírito de Elias a ser preservada integralmente. Esta herança não pode ser diminuída nem pulverizada, mas deve continuar na íntegra e irradiar nos outros, através do nosso testemunho.

No momento de ser arrebatado, Elias deixou cair o manto. Eliseu pegou o manto de Elias, bateu com ele nas águas do rio Jordão e disse: "Onde está o Deus de Elias?" (2Rs 2,14). Na mesma hora, as águas se dividiram em duas partes, e Eliseu atravessou o rio a pé enxuto. Os irmãos profetas reconheceram o sinal de Deus e disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu (2Rs 2,15). Eliseu é o sucessor aceito e reconhecido por todos. O Espírito de Elias está simbolizado no manto (escapulário) que nós recebemos. Será que hoje o povo pode reconhecer que o espírito o profeta Elias repousa sobre nós!

3-O manto de Maria a mãe de Jesus

A Bíblia não fala do manto de Maria, mas nela aparecem sinais e símbolos que são usados na liturgia para explicar como o escapulário, o manto de Maria, é um sinal de proteção, de reconhecimento e de compromisso.

São três os principais símbolos que merecem sem lembrados aqui: (1) o manto da justiça, (2) a nuvenzinha que sobe do mar, (3) a figura da mulher em dores de parto que aparece no Apocalipse. Um símbolo não precisa de muita explicação. Ele fala por si e faz sentir a sua mensagem , quando contemplado em silêncio.

 4-O manto da justiça

Na Missa Votiva de Nossa Senhora do Carmo, a liturgia aplica este texto do profeta Isaías a Nossa Senhora, onde se diz que Deus a revestiu com o manto da justiça. O Escapulário, o manto de Nossa Senhora que nos cobre e defende, é o manto da justiça. Enquanto for ler o texto de Isaías, pense no Escapulário, o manto de Maria, e tente intuir o que este texto nos insinua a respeito do Escapulário que nós carregamos. Eis o texto:

"Transbordo de alegria em Javé, e me regozijo com meu Deus, porque ele me vestiu com a salvação, cobriu-me com o manto da justiça, como o noivo que se enfeita com turbante, e a noiva que se adorna com joias. Assim como a terra faz brotar uma nova planta, e o jardim faz germinar suas sementes, assim também o Senhor Javé faz brotar a justiça e o louvor na presença de todas as nações" (Isaías 61,10-11).

5-A nuvenzinha que sobe do mar

Elias mandou o rapaz subir o Monte Carmelo para ver se havia algum sinal de chuva: "Suba e olhe para o lado do mar". O rapaz foi e voltou dizendo: "Não há nada!" (1Rs 18,43). Elias disse: Volte, até sete vezes (1Rs 18,43). Isto é: sempre! Não desistir nunca. Enquanto isso, Elias reza. O que chama a atenção é a atitude durante a reza: "Elias subiu ao topo do monte Carmelo e se encurvou até o chão, colocando o rosto entre os joelhos" (1Rs 18,42). É a atitude de total dependência do feto dentro da barriga da mãe durante os nove meses da gestação. Na sétima vez, o rapaz voltou dizendo: "Uma nuvenzinha, do tamanho da mão de uma pessoa, vem subindo do mar" (1Rs 18,44). Era o sinal da chuva. Num instante o céu ficou escuro, com nuvens trazidas pelo vento, e caiu uma chuva pesada (1Rs 18,45).

Nós Carmelitas sempre interpretamos este fato como uma prefiguração de Nossa Senhora e da proteção que o escapulário oferece. Maria nos trouxe Jesus que irrigou e fecundou nossa vida com a certeza da presença do amor de Deus em nossas vidas. A nuvenzinha evoca a nuvem da presença de Deus que acompanhava o povo pelo deserto durante quarenta anos: "Javé ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para lhes mostrar o caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia e de noite. Nunca se retirou de diante do povo a coluna de nuvem durante o dia, nem a coluna de fogo, durante a noite". (Ex 13,21-22)

6-A mulher revestida do sol

"Apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher revestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés, e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu, então, outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo. Tinha sete cabeças e dez chifres. Sobre as cabeças sete diademas.  Com a cauda ele varria a terça parte das estrelas do céu, jogando-as sobre a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, pronto para lhe devorar o Filho, logo que ele nascesse. Nasceu o Filho da Mulher. Era menino homem. Nasceu para governar todas as nações com cetro de ferro. Mas o Filho foi levado para junto de Deus e de seu trono. A Mulher fugiu para o deserto. Deus lhe tinha preparado aí um lugar onde fosse alimentada por mil, duzentos e sessenta dias" (Apocalipse 12,1-6).

A liturgia aplica este texto do Apocalipse a Nossa Senhora. A Mulher em dores de parto simboliza Maria, a mãe de Jesus, que faz nascer vida nova. Simboliza a humanidade, o povo de Deus e tudo aquilo que fazemos para melhorar a vida do povo.

O Dragão simboliza o poder do mal, a morte, os poderes que oprimem e sufocam a vida. Sua força é tão grande que com uma balançada do rabo derruba uma terça parte das estrelas. Ele está diante da Mulher para devorar o menino que vai nascer. Luta desigual! O que pode uma mulher em dores de parto, uma comunidade, um círculo bíblico, uma organização do bairro, contra o poder do dinheiro que hoje domina o mundo e ameaça desintegrar a vida no planeta?

Mas Deus tomou posição a favor da vida! Ele intervém defende a Mulher, defende o menino, defende a vida. Jesus nasce, vive, morre, ressuscita e sobe ao céu. A ressurreição de Jesus é o novo começo, a nova criação. Ela revela o poder com que Deus enfrenta e vence o Dragão e protege o seu povo. O Escapulário é sinal desta fé na vitória final e expressão do compromisso nosso em assumir a mesma luta em defesa da vida.

Afonso Maria de' Liguori,[2]

             A devoção a Maria elevada por Deus à suprema dignidade de Mãe, Mestra e Medianeira do universo apareceu, ainda em vida dos Apóstolos, como pequeno rio junto ao cristianismo, e com o cristianismo alargou-se e espalhou-se pela terra inteira.

            Ao coro unânime dos séculos a aclamarem Maria une-se o ardente amor dado a Mãe de Deus pelos Carmelitas; ou, antes até, a devoção do Carmelo é a primeira na ordem do tempo, e a mais antiga devoção mariana. Devoção que nos filhos do Carmelo se abrasou sempre mais quando nas suas dificuldades a Ela recorreram e nunca em vão.

            Os Carmelitas têm em Maria uma Mãe, que em seu favor parece esgotar todos os recursos do seu amor maternal. Prova disto é o dom do Escapulário, precioso sinal da sua predileção e da nossa consagração ao seu serviço. Quem está revestido do Santo Escapulário descansa tranqüilo no colo de Maria e, abaixo de Deus, deposita em Maria a esperança da própria salvação. Uma devoção, que se arraigou profundamente no povo católico e na qual, como em límpida fonte, se dessedentaram os Santos mais excelsos.

Neste artigo citaremos Santa Teresa de Jesus.

            Não faltaram no passado nem faltam em nossos dias escritores e hipercríticos adversários do Escapulário. "O argumento onde mais se refugiam e que alguns dos nossos adversários costumam aduzir é o silêncio dos antigos, especialmente de alguns Santos, que no alvitre deles deviam ter falado sobre a devoção ao Escapulário, e de Santa Teresa de Jesus, sobretudo, que como Reformadora do Carmelo e amante das suas glórias, segundo eles, parece que devesse estar obrigada a fazer o elogio do Escapulário ou, quando menos, escrever algumas linhas sobre este penhor de salvação, para recomendá-lo aos fiéis. Mas, no dizer deles, nada disso fez ela: e daí tiram a conclusão de que, no tempo dela, na Espanha, não se falava sobre o Escapulário"[3].

            Em primeiro lugar é justo observar que Santa Teresa nos seus escritos, verdadeiras obras-primas de espiritualidade cristã, manifestou muitas vezes o palpitar do seu coração enamorado pela Rainha do Carmelo. Ilude-se, portanto, quem nas suas obras - seja nas maiores como "Caminho da Perfeição" ou "O Castelo Interior", seja nas menores - pretende encontrar amplos tratados ou louvores do Escapulário e das outras práticas da piedade cristã. Nem deve isto causar maravilha. Obrigada a escrever por determinação da obediência ou por urgentes motivos de utilidade, a Santa o faz a intervalos, visto ser impedida pelas circunstâncias e ocupações onde a mergulham as suas extraordinárias atividades, e ela, além disso, não espalha nos seus escritos todos os tesouros que enchiam o seu coração. A própria devoção à divina Mãe não é tratada ex professo por Santa Teresa: ninguém, contudo, ousaria duvidar da ternura do seu amor a Maria e da sua devoção ao Santo Escapulário.

            Como dissemos, o Escapulário é o hábito dos Carmelitas, a libré que os consagra à filiação de Maria, o sinal da sua proteção. Santa Teresa não o ignora! Com insistência repete que a sua Ordem é a Ordem da Virgem, e nas graças que pede ao rei Filipe II e ao Geral João Batista Rossi para levar a feliz cumprimento os desígnios que alimenta no seu coração, manifesta a esperança de que os seus desejos se satisfaçam porque a Ordem pela qual se afadiga é a Ordem de Maria (carta 74-77), porque a Virgem Santíssima é a sua Mãe, Padroeira e gloriosa Senhora (carta 13).

            É de se notar ainda que no tempo da Santa a devoção pelo Escapulário era na Espanha tão comum e popular que o Pe.José Falcone de Placência podia, em 1595, escrever: "Hoje em dia (a devoção ao Escapulário) floresce na Espanha, onde não há casa, onde não se leve o hábito do Carmo a fim de se gozar das infinitas Indulgências carmelitanas. Ambas as filhas do rei Filipe com todas as suas damas de honra trazem, na Espanha, o hábito de Nossa Senhora do Carmo amplo e comprido igual ao dos Padres da Ordem, que lhes foi dado pelas próprias mãos do Revmo. Geral João Batista Rossi. Não parece toda a Espanha, Portugal inclusive, um convento carmelita? Todos querem ser revestidos com estas armaduras como válida arma contra enfermidades corporais e espirituais. Em toda a Espanha há conventos carmelitas e inumeráveis companhias carmelitanas"[4].

            Nem se pode acreditar que, ainda que não sentisse precisar de enaltecer a devoção do Escapulário porque já estava tão difundida e profundamente sentida pelos fiéis, Santa Teresa deixe de recordar nas obras saídas da sua pena ardorosa este penhor do amor, que nos tem Maria. Freqüentemente fala sobre o Escapulário, ora chamando-o com o nome de hábito ora com o próprio nome de escapulário. Na verdade o hábito de que se gloriava de trazer consigo como "indigna carmelita" assegura-lhe a proteção da Virgem no cumprimento dos compromissos a ela impostos pela obediência; e ao entregar-se a escrever o "Castelo Interior" e as "Fundações" põe a confiança na ajuda daquela de cujo hábito está revestida: "Visto que não me é possível não ser quem eu sou, não me resta senão apoiar-me na sua clemência e confiar nos merecimentos do seu Filho e da Virgem, sua Mãe, cujo hábito carrego indignamente" (Castelo Interior - cap.I). Começo em nome do Senhor, com a ajuda da sua gloriosa Mãe, cujo hábito, embora indigna, carrego" (Fundações - Prólogo). Para o Serafim de Ávila a devoção ao hábito da Santíssima Virgem é vida que se manifesta no agir para dar gosto a Deus e a Maria: "Praza a Deus que seja tudo para o seu louvor e sua honra e para o louvor e a honra da Gloriosa Virgem Maria, cujo hábito carregamos" (Autobiografia - cap. 36); é vida que se manifesta, além disto, no zelo pela perfeição: "Esforcemo-nos, filhinhas minhas, por imitar ao menos em alguma coisa a humildade da Santíssima Virgem, cujo hábito nós trazemos" (Caminho da Perfeição - cap.13); vida que se manifesta especialmente na esperança de uma santa morte: "Tanta paz e tranqüilidade eu vi também em outras religiosas depois daquela (...). Espero na bondade de Deus, pelos merecimentos do seu Filho e da Gloriosa sua Mãe, cujo hábito nós levamos, que esta graça seja concedida a nós também" (Fundações - cap.16).

            Eis como Santa Teresa ama o seu hábito. Repete com insistência que o seu hábito é o hábito de Maria e faz entrever a sua devoção pelo dom preciosos do Escapulário, já no seu tempo objeto de veneração por parte dos fiéis. E escrevendo ao Pe. Graciano, pelos anos de 1585, ela lhe diz: "Muito me alegro com a sua carta, que esta noite me entregaram com os Escapulários (...). A duquesa voltou a escrever-me (...). Depois de amanhã partirão para Madri. Encaminharei os negócios de Vossa Reverendíssima. De edificação são os Escapulários, despertam devoção. Dom Francisco (sobrinho da Santa) mandou pedir um a sua irmã" (Carta 395; tomo 55 da Biblioteca de Autores Españoles p.311).

            Portanto, bem podemos dizer que à vasta e fervorosa devoção ao Escapulário não podia o grande Serafim do Carmelo deixar de corresponder com acentos de amor e de veneração.

    [1]. Ibid  p.111-114

    [2]. Il Monte Carmelo  1938  p. 42-45

    [3]. P. Florenzo del Bambino Gesù OCD em Il Carmelo - Tradizione e storia   Cremona  1930  p.311.

    [4]. Pe. José Falcone Chronica Carmelitana  Placência  1595  p.506-507