Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.

(As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009). Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)

Dia 01 de Agosto (Quarta-feira)5ª reflexão (Tarde): A) Princípios derivados da Misericórdia para a Vida Espiritual-Religiosa

PRINCÍPIOS

A partir da "definição" da Misericórdia, tentemos deduzir alguns princípios que possam servir de orientação geral para normas mais particulares, e rapidamente tecer acerca de cada princípio algumas reflexões elucidativas.

No empenho e na busca do cultivo, cada vez mais clarividente, da Misericórdia é preciso conscientizar-se vivamente da necessidade e da importância decisiva da compreensão adequada do que seja na sua profundidade a essência da Misericórdia, para a melhoria e o crescimento qualificado na:

  1. a) Vida espiritual-religiosa
  2. b) Vida Fraterna
  3. c) Vida de trabalho e serviço.

 A) PRINCÍPIOS DERIVADOS DA MISERICÓRDIA PARA A VIDA ESPIRITUAL-RELIGIOSA

Princípio 1:

          Segundo a definição de misericórdia como a) Amor do Deus Uno e Trino em Jesus Cristo, como b) Espírito de Misericórdia e como c) Virtude da Misericórdia, todo o nosso ser como vocacionados à Vida Religiosa Consagrada não deve ser outra coisa do que acolhimento grato e a prontidão solícita para entrar na comunhão de intimidade absoluta e incondicional com Jesus Cristo, tornando-nos "existência cristiforme" (Cf. São João Paulo II, Vita Consecrata¸ nº 14), no Seguimento, imitando-O, identificando-nos com Ele através da doação total do nosso ser pelos votos de Virgindade, Pobreza e Obediência.

Essa conformidade com Jesus Cristo, que é a presença visível da intimidade do Amor entranhado da Vida Interna da Santíssima Trindade, é uma tarefa intensamente pessoal e vocacional, compromisso e incumbência para mais e mais nos doarmos e nos conformarmos ao "Amor que nos amou primeiro" (Cf. 1Jo 4,9-10.14-16.19) em Jesus Cristo, a misericórdia do Pai.

Con-formar-se é buscar compreender, conhecer, amar, identificar-se, deixar-se tomar e continuamente acolher em gratidão e solícita humildade, é dispor-se inteiramente a, como ao único e absoluto projeto de vida, ao único e absoluto sentido da vida.

Assim, se essa intimidade com o Amor da Santíssima Trindade em Jesus Cristo na existência cristiforme, no Seguimento, é vocação, nossa profissão, nosso projeto de vida consagrada, então, tudo que se refere à Vida Espiritual-religiosa, como por exemplo, oração, seja na execução particular ou coletiva, meditação, contemplação, reflexão, leitura espiritual, formação e estudos religiosos de espiritualidade, cultivo das virtudes, exercícios de devoção quer particulares, quer coletivos, a Eucaristia, o Sacramento da Reconciliação, enfim tudo isso e mais, deve ser pensado, realizado, vivenciado não como atos de "piedade" e "devoção" no sentido espiritualista, subjetivista, mas sim como momentos de uma busca intensa e tenaz de trabalho e estudo para criar todo um "corpo" de disponibilidade para em Jesus Cristo se adentrar cada vez mais na intimidade, na interioridade do amor do Deus Uno e Trino, revelado em e como Jesus Cristo.

Essa busca absoluta e incondicional do Amor do Deus Uno Trino, em Jesus Cristo, como tarefa e incumbência oficial da nossa Vida Religiosa Consagrada, se expressa nas formulações a nós usualmente conhecidas como, por exemplo, "Amar a Deus sobre todas as coisas", "Em tudo fazer a vontade do Pai".

                      Essa realidade realíssima e fundamental deve ser o princípio primordial que orienta todo o nosso ser, pensar, sentir e agir, nas buscas, nos empreendimentos, na assim chamada vida espiritual e vida religiosa consagrada.

Princípio 2:

          Segundo a definição da misericórdia como d) ideal objetivo do projeto de vida, como c) obras de misericórdia, como f) frutos de misericórdia, todos esses empreendimentos de busca expressam o trabalho de traduzir em objetivos, obras e merecimentos o Amor-Misericórdia do Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo, doado a nós como Espírito de Misericórdia, impregnando-nos como Virtude da Misericórdia e nos transformando em corpos misericordiosos.

Esse trabalho é de traduzir a realidade realíssima, absoluta da Vitalidade essencial e interna da Boa-Nova do Deus do Amor entranhado no Mistério da Santíssima Trindade, para a realidade, por um lado, fugaz, relativa e limitada da nossa vida cotidiana mortal, mas por outro lado, também concreta, palpável, cheia de resultados visíveis, de apelos e atrativos provenientes da opinião pública e do relacionamento social.

Aqui é necessário sempre de novo não perder de vista a compreensão clara de que todos esses empreendimentos de concretização empírica da misericórdia devem ser orientados, iluminados e alimentados pela busca incessante e apaixonada da Misericórdia como Amor do Deus Uno e Trino em Jesus Cristo. Pois, no momento em que negligenciamos a busca da Misericórdia no sentido essencial (Misericórdia como Amor de Deus, revelado em Jesus Cristo, Misericórdia como Espírito de Misericórdia e Misericórdia como Virtude da Misericórdia), imediatamente começamos a nos fragmentar e ficar confusos, deixando facilmente nos guiar pelos interesses e objetivos alheios ou até contrários à Misericórdia.

Para refletir:

1-Como eu entendo os princípios 1 e 2 derivados da Misericórdia para a Vida Espiritual-religiosa?

*CARMELITAS: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.

ORDEM DO CARMO – PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS

Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.

Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG

Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv

Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço

Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada

Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.

(As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009). Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)

Dia 31 de Julho (Terça-feira)

3ª reflexão (Tarde):

B) Misericórdia como Espírito de Misericórdi

C) Misericórdia como Virtude da Misericórdia

Textos:

Lc 6,36: "Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso"

Cl 3,12: "Vós, pois, como eleitos, santos e amados de Deus, revesti-vos de misericórdia, bondade, mansidão e paciência"

Mt 5,6 "Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia"

B) MISERICÓRDIA COMO ESPÍRITO DE MISERICÓRDIA

Misericórdia como Espírito de Misericórdia e Misericórdia como o Amor do Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo são o mesmo. Apenas, quando dizemos Espírito de Misericórdia, queremos focalizar a atuação desse Amor Difusivo da doação de si do Deus Uno e Trino. Pois, Espírito é o sopro de vida, a Vida.

O Amor do Deus Uno e Trino em e como Jesus Cristo é doação da Vida (Cf. Jo 13,13). Doar a vida significa doar-se todo e inteiro, o modo de ser, o gosto, o sentir, o pensar, o fazer, todo um mundo de existência. Portanto, aqui, o termo Espírito indica a dinâmica de doação de si. Por isso, quando recebemos o outro no seu ser, todo ele, na sua essência, dizemos que temos o seu espírito e o seu modo de operar.

Assim, Jesus Cristo, a presença visível do Deus da Misericórdia, em se doando a nós, quer nos transmitir tudo que Ele sente, pensa, faz e é, como bom mestre, bom pai que quer se reproduzir nos seus filhos e discípulos. Essa doação de si implica toda a iluminação, todo o saber e conhecimento, todas as verdades, todos os sentimentos, atitudes e modos de ser que Ele tem, ou melhor, que Ele é, sim até a própria possibilidade de nós o recebermos; tudo isso é sopro vital Dele, Ele mesmo como Vida, vigor e essência da sua Vitalidade: o Espírito de Misericórdia.

Sem essa doação gratuita e generosa, cheia de benevolência, sem essa doação do sopro de vida do próprio Deus de Misericórdia em e como Jesus Cristo, nós, mesmo que sejamos competentes e habilidosos em muitas coisas do nosso ser natural, em referência à participação e recepção, ao nascimento e crescimento no Amor do Deus Uno e Trino, nada podemos fazer, nada podemos saber, sim nada somos (Cf. Jo 15,5; 1Cor 12,3).

C) MISERICÓRDIA COMO VIRTUDE DA MISERICÓRDIA

Virtude, usualmente é vigor, força, habilidade de maturação humana adulta que nós, seres humanos, adquirimos no exercício repetido e bem orientado de nossa liberdade, de tal sorte que o vigor, a força, a habilidade, assim conquistada, se torna uma segunda natureza nossa.

Quando falamos da Misericórdia como Virtude da Misericórdia, de nossa parte há todo esse engajamento da doação livre e do empenho repetido para nos dispormos sempre de novo na dinâmica da boa vontade, mas não para conquistar o desenvolver uma possibilidade já naturalmente existente em nós, mas sim para acolher e receber com gratidão e solicitude o Espírito de Misericórdia, no sentido acima explicitado. Assim, em sempre de novo nos dispondo a receber a dinâmica do sopro vital do Deus da Misericórdia, com Ele colaboramos com toda a nossa solicitude, para que Ele transforme todo o nosso ser no "corpo misericordioso", de tal sorte que em nós, tornando-se nosso vigor, nossa força, nosso sopro vital, então denominamos essa realidade da graça de Deus em nós de Virtude da Misericórdia.

Para refletir:

1-Como sinto a atuação do espírito e da virtude da misericórdia em mim?

Dia 01 de Agosto (Quarta-feira)

4ª reflexão (Manhã): D) Misericórdia como Ideal Objetivo do Projeto de Vid

E) Misericórdia como Obras de Misericórdi

F) Misericórdia como Frutos de Misericórdia

Textos:

Mt 25,35-36: Vinde, benditos de meu Pai...porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes, estive nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, preso e viestes ver-me...Em verdade, todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos menores, foi a mim que o fizestes".

D) MISERICÓRDIA COMO IDEAL-OBJETIVO DO PROJETO DE VIDA

Misericórdia como Virtude da Misericórdia, no sentido acima mencionado, pode ser considerada como ideal, como objetivo do projeto de vida dos Frades Carmelitas.

Essa empostação da busca como busca de conquista de ideal, de objetivo, é um procedimento usual nos nossos empreendimentos.

No entanto, se a busca da Virtude da Misericórdia for empostada como uma busca do ideal e do objetivo de um projeto, posso correr o risco de não estar bem colocado, com devida precisão e cuidado adequado no cultivo e crescimento da Misericórdia, se não estudar bem e compreender a fundo o seu sentido originário e primeiro, explicitado nos números A, B, C.

E) MISERICÓRDIA COMO OBRAS DE MISERICÓRDIA

Misericórdia como obras de Misericórdia se refere a tarefas e serviços prestados pelos Frades no exercício de sua vida consagrada, cujo sentido originário está explicitado nos números A, B, C.

F) MISERICÓRDIA COMO FRUTOS DE MISERICÓRDIA

Misericórdia como frutos de Misericórdia diz respeito a méritos obtidos pela prática das obras de Misericórdia, diante de Deus.

Para refletir:

  1. Como eu entendo Mt 25, 31-46 “a grande regra de comportamento”, como denomina o Papa Francisco em Gaudete et Exultate, nn.95

*CARMELITAS: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.

ORDEM DO CARMO – PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS

Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.

Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG

Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv

Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço

Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada

Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.

(As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009) Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)

Dia 31 de Julho (Terça-feira)

2ª Reflexão (manhã): A) Misericórdia como o Amor de Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo

Textos:

"Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Misericórdia, o Deus de toda consolação" (2Cor 1,3).

"Deus que é rico em misericórdia é aquele que Jesus Cristo nos revelou como Pai" (Ef 2,40).

"E nós temos reconhecido o amor de Deus por nós, e nele cremos. Deus é amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele" (1Jo 4,16)

Deus é Amor (1Jo 4,16). Misericórdia é Amor que é o próprio Deus, tornando-se visível, desvelando-se em Jesus Cristo. Jesus Cristo é, pois, a revelação do que é e como é o amor de Deus.

Por isso, se quisermos realmente compreender quem é e como é Deus que é Amor, e o que é e como é o Amor que é Deus, devemos ouvir, acolher, seguir a Jesus Cristo, sim pensar, sentir, agir e ser como Jesus Cristo. Por isso, Ele é "caminho, verdade e vida" (Jo 14,6-7).

Na medida em que nesse Seguimento de Jesus Cristo, imitando a sua forma de vida, nos tornamos existência "cristiforme", começamos a compreender que a Misericórdia tem a sua origem e fonte na fornalha de Amor do Mistério da Santíssima Trindade. Como, na fornalha, sentimos e vemos o fogo, a sua chama, saindo e irradiando brilho e calor, sentimos e "vemos" através das chamas, do seu brilho e calor, a sua origem, a sua fonte insondável, sentimos e "vemos" como deve ser a intensidade, força e veemência da profundidade oculta da fornalha.

Jesus Cristo é brilho e calor, o esplendor que sai da fornalha do Amor de Deus, é o vir de encontro do fogo do Amor divino em nós. Esse Amor de Deus que vem ao nosso encontro, em e como Jesus Cristo, é Misericórdia. Mas, Misericórdia nos conduz, nos faz "sentir e ver" o que é e como é o Amor de Deus nele mesmo, na sua intimidade a mais íntima, na sua ternura a mais terna, na sua abissal imensidão, profundidade da bondade, benignidade e generosidade (Cf. Ef 3,14-19; Rm 11,33-36), no arcano insondável do "amor entranhado" que é a Santíssima Trindade, o interior, o âmago do Deus de Amor (Cf. São João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Vita Consecrata, cap.I).

Assim, Jesus Cristo é a manifestação visível da Bondade e Benignidade da Santíssima Trindade. No mistério da sua intimidade com o Pai, na comunhão com o Espírito Santo, através da sua humanidade, no seu próprio ser, na sua própria existência na carne mortal, pelas palavras e obras, pelos ensinamentos e exemplos, pelo testemunho corpo a corpo da absoluta e incondicional doação aos homens na oblação da cruz, nos revela como é esse amor entranhado que é o âmago do abismo do Mistério da Santíssima Trindade, quando Ele se derrama sobre nós em e como Jesus Cristo, seu Filho.

Esse Amor de Deus Uno e Trino, a bondade difusiva de si, isto é, "a Caridade é paciente, a Caridade é benigna, não é invejosa; a Caridade não é orgulhosa, não se ensoberbece; não é descortês, não é interesseira, não se irrita, não guarda rancor; não se alegra com a injustiça, mas se compraz com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo tolera" (1Cor 13, 4-7).

O amor de Deus Uno e Trino, assim "voltado para fora", assim tornado visível e assim se doando à humanidade, nos criou, se nos deu no seu próprio Filho Jesus Cristo, se entregando a nós de uma forma tão absoluta e incondicional, sim apaixonadamente, até a morte na Cruz. O Amor do Deus Uno e Trino, assim "externado", isto é, fora de si pelo Amor, assumiu em Jesus Cristo Crucificado todas as nossas culpas, se condenou, se culpou em nosso lugar, nos desculpando, para assim nos resgatar, e nos reconduzir à salvação, à realidade originária, nos fazendo renascer a cada um de nós como seu próprio filho, cada vez como filho único, singular em Jesus Cristo.

Esse amor entranhado do Deus Uno e Trino, revelado em e como Jesus Cristo é Deus da Misericórdia, a Misericórdia, origem e fim do sentido da vida dos Frades da Ordem Carmelita.

Para refletir

 1-No que chamo de minha vida, que lugar ocupa Jesus Cristo? [Não é para dar testemunho. É para ver o que é existencialmente Jesus para mim]

 2-Como entender o relacionamento íntimo, pessoal, com o Deus de Jesus Cristo como boa nova?

 *CARMELITAS: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.

Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.

Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG

Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv

Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço

Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada

Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.

(As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009) Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)

 Dia 30 de Julho (Segunda-feira)

1ª reflexão (noite): A) Um Retiro Espiritual

B) O Tema

Um Retiro Espiritual

Vamos fazer o nosso retiro anual. É um fazer. Mas, não, fazer no sentido de manufacturar uma coisa. No manufacturar uma coisa basta até certo ponto agenciar a coisa. Aqui não é tão importante se per-fazer. Mas, como o retiro anual não é uma coisa, mas sim um recolhimento no nosso próprio ser, no interior de nós mesmos, o fazer do retiro anual é um perfazer-se, isto é, trabalho de crescimento, na maturação de transformação, de nós mesmos, a partir da nossa essência: é a con-versão.

Vivemos no agenciamento das coisas dos nossos afazeres. Fazemos isto ou/e aquilo. Perdemo-nos no afã dos trabalhos cotidianos, nos afazeres da nossa profissão, nas vicissitudes das solicitações da nossa situação. Tornamo-nos sujeitos e agentes do fazer de agenciamento, e acossados pelo ritmo da produção, nos desgastamos, nos doamos sem retorno. Perdemos o senso e o jeito para o trabalho de per-feição de nós mesmos. Não sabemos mais nos recolher na ação penosa, apoucada, mas fecunda do crescimento na maturação de transformação de nós mesmos a partir da nossa essência.

É, pois, necessário reaprendermos a nos perfazermos em nós mesmos. É necessário reaprendermos a nos concentrarmos e nos assentarmos na essência de nós mesmos: precisamos do retiro anual.

No retiro, nos retiramos. De onde, para onde? Do fazer dos afazeres da nossa vida cotidiana para o recolhimento na essência de nós mesmos. Para uma séria busca do que realmente fomos com o que devemos ser: religiosos carmelitas.

Retirar-se dos afazeres e das vicissitudes dos nossos agenciamentos usuais requer uma grande decisão. Decisão é atitude. Atitude não é apenas desejo. Não é apenas anelo, um gostaria que, nem um quero, assim, ‘voluntarioso’. É antes uma tomada de posição, firme e incondicional. Posicionamento num pro-pósito, no qual de antemão eu tomo nas próprias mãos todo o meu ser e o coloco em vista da meta posta de ante-mão: no nosso caso, do recolhimento no íntimo de mim mesmo.

O que importa na tomada de posição é ser apenas posicionamento. É simplificar. Simplificar não significa bitolar-se numa linha, não significa alienar-se do complexo de nossas situações. Significa não estar implicado em múltiplas intenções. Significa ser todo e inteiro, uno, na limpidez do por-se na busca do que se almeja. Significa deixar de lado, como interferências inadequadas e indevidas, tudo quando não pertence ao que colocamos como propósito da nossa busca.

Simplificado, nesse sentido, fazer o retiro anual significa fazer exatamente o que podemos e devemos fazer dentro de um espaço de tempo de quatro dias: afastar-nos dos agenciamentos de nossos afazeres usuais para nos concentrarmos, apenas, somente, unicamente, no recolhimento ao íntimo de nós mesmos, à essência do nosso ser- frade-carmelita.

B) O Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço

Texto: Lc 6, 27-38

27Eu, porém, vos digo, a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, 28bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam. 29A quem te ferir numa face, oferece a outra; a quem te arrebatar o manto, não recuses a túnica. 30Dá a quem te pedir e não reclames de quem tomar o que é teu. 31Como quereis que os outros, fazei também a eles. 32Se amais os que vos amam, que graça alcançais? Pois até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam. 33E se fazeis o bem aos que vo-lo fazem, que graça alcançais? Até mesmo os pecadores agem assim! 34E se emprestais àqueles de  quem esperais receber, que graça alcançais? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores para receberem o equivalente. 35Muito pelo contrário, amai vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, pois Ele é bom para com os ingratos e com os maus. 36Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso[1]. 37Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado. 38Dai, e vos será dado; será derramada no vosso regaço uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, pois com a medida com que medirdes sereis medidos também.

 NÓS, FRADES CARMELITAS, SOMOS CHAMADOS...

De fato, nós, Frades Carmelitas, enquanto membros da comunidade religiosa de Vida Regular Consagrada, não somos um mero aglomerado de cristãos em busca da perfeição pessoal ou de trabalhos pastorais, mas sim em sentido muito mais profundo, participação e testemunho qualificado do Corpo Místico de Cristo, cuja Cabeça é Jesus Cristo, o Deus encarnado, cujo corpo é a Igreja.

Enquanto Ordem, como membros desse Corpo Místico, Frades Carmelitas, queremos e devemos ser expressão viva e realização privilegiada da peculiar "comunhão", que a Igreja tem, através de sua Cabeça, Jesus Cristo, com o insondável Mistério da Comunidade de Amor da Santíssima Trindade, de cuja ternura e vigor o Pai quis fazer participar os homens no Filho e no Espírito Santo.

Assim, em tudo que somos, agimos e buscamos, queremos, como Comunidade Religiosa, assumir o compromisso irrenunciável e a missão de nos tornar e ser focos da comunhão do Amor que pulsa nos abismos do Mistério da Santíssima Trindade e dali, através de Jesus Cristo e do seu Corpo Místico, como do manancial da Salvação, se estende a toda humanidade (Cf. Documento CIVCSVA, A Vida Fraterna em Comunidade, Introdução, 2a).

O esplendor, a vitalidade, a beleza que emana da profundidade do Mistério da mútua doação comunitária entre Pai e Filho e Espírito Santo, se torna visível em Jesus Cristo, Deus Humanado.

Assim Jesus é o Carisma, a Graça, o Esplendor da Santíssima Trindade, a bondade e a benignidade do Deus Uno e Trino, a presença do Belo Amor de Deus no meio de nós.

Esse Carisma, essa Graça que é a doação difusiva de si do próprio Deus Uno e Trino, do Deus que é a Caridade, se derrama sobre nós, multiplicando-se, recriando-se em infinitas gerações, cada vez de diferentes modos, originais e criativos, como os assim chamados carismas fundacionais, dando origem a diferentes Ordens e Congregações.

Os Carismas Fundacionais são, portanto, a faísca, o foco que salta da presença visível do Amor da Santíssima Trindade, que é Jesus Cristo, desvelando a multifária riqueza e profundidade do único Carisma de Deus, Jesus Cristo, Deus Humanado, no meio de nós.

Assim, "os membros de uma comunidade religiosa" estão "unidos por um comum chamado de Deus na linha do carisma fundacional, por uma típica comum consagração eclesial e por uma comum resposta na participação "na experiência do Espírito", vivida e transmitida pelo (a) fundador (a) e na participação em sua missão na Igreja" (Doc. CIVCSVA, A Vida Fraterna em Comunidade, Intr. 2c).

 A SER "MISERICORDIOSOS COMO O PAI"

O chamamento que recebemos, como seguidores de Jesus Cristo humanado, é ser misericordiosos como o Pai. Distinguiremos a Misericórdia em:

  1. A) Misericórdia como o Amor do Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo
  2. B) Misericórdia como Espírito de Misericórdia
  3. C) Misericórdia como Virtude da Misericórdia, isto é, o Espírito de Misericórdia tomando corpo nos Frades
  4. D) Misericórdia como ideal-objetivo do projeto de vida dos Frades
  5. E) Misericórdia como obras de Misericórdia
  6. F) Misericórdia como frutos de Misericórdia.

Todas essas significações de Misericórdia podem estar direta ou indiretamente incluídas na compreensão da Misericórdia. No entanto, essas diversas significações de Misericórdia não estão uma ao lado da outra, como que enfileiradas, mas elas se constituem numa implicância de fundamentação. Há ali uma espécie de escalação de aprofundamento, da significação mais usual e superficial para a significação cada vez mais profunda e essencial. A significação, a mais fundamental e principal é a Misericórdia como o Amor de Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo.

Todas as significações mencionadas nas letras A) B), C), D), E), F) pertencem à Misericórdia. No entanto, entre as significações, existe uma ordem de fundamentação, numa escalação de significações mais superficiais para significações mais profundas e originárias.

As significações D), E), F) devem sempre de novo ser examinadas e purificadas a partir das significações A), B), C). Estas estão ordenadas de tal maneira que C) se baseia na B), e B) na A), sendo esta a significação a mais originária.

Tentaremos traçar um esquema de "definições" e "princípios" refletidos acerca da Misericórdia. As reflexões primeiramente tentam dizer em que consiste a Misericórdia. No entanto, a definição aqui não deve ser entendida como fixação da verdade acerca de uma realidade dinâmica que não pode ser prefixada, numa sentença simples e sintética. Definir aqui significa obter uma determinação mais clara acerca de um vigor originário, que na realidade não pode ser delimitado no sentido estático. Aqui definir e determinar quer antes dizer: compreender com maior decisão e amor, distinguir com maior nitidez o tesouro do nosso coração, para que num assunto tão decisivo para a vida consagrada não permaneçamos indefinidos, vagos e confusos, como alguém que não sabe por que e para que vive de fato.

A partir dessa definição, então, tentamos mencionar alguns princípios decorrentes dessa definição, que podem servir de orientação viva, isto é, de dicas fundamentais comuns, para que na praxe de nossa vida concreta e cotidiana, tenhamos uma boa condução de nossas ações e de nossos exercícios práticos.

Para refletir:

1-Como é na vida concreta a experiência do ser chamado? Examinar cada qual a sua vocação. Cf. Lc 6, 56-62

2-Eu estou grato por ser Frade Carmelita? Ou esta questão está vaga?

3-A compreensão que tenho da vocação religiosa e carmelita é existencial?

4-Uma questão (talvez ingênua!):

Se agora aparecesse um todo poderoso e me dissesse: “Você está inteiramente livre. Escolha! Mas, esta escolha é onipotente, isto é, não dá para voltar atrás”. O que eu escolheria? (Examinar o grau de cordialidade em minha escolha)

5-Qual a minha compreensão da Misericórdia?  Cf. Lc 15,11-32 (o filho pródigo)

Comentário de Santo Isaac, o Sírio (século VII, monge perto de Mossul. Discursos ascéticos, 1a Série, no 81) à fala de Jesus: “SEDE MISERICORDIOSOS COMO O VOSSO PAI É MISERICORDIOSO” (Lc 6,36)

Não procures distinguir o homem digno do que não o é. Que a teus olhos todos os homens sejam iguais para os amares e os servires da mesma forma. Poderás assim leva-los todos ao bem. Não partilhou o Senhor a mesa dos publicanos e das mulheres de má vida, sem afastar de Si os indignos?

Do mesmo modo, concederás tu benefícios iguais e honras iguais ao infiel, ao assassino, tanto mais que também ele é teu irmão, pois participa da única natureza humana.

Aqui está, meu filho, um mandamento que te dou: que a misericórdia pese sempre mais na tua balança, até ao momento em que sentires em ti a misericórdia que Deus tem para com o Mundo.          

Quando percebe o homem que atingiu a pureza do coração? Quando considerar que todos os homens são bons, e nem um lhe apareça impuro e maculado. Então, em verdade ele é puro de coração (Mateus 5,8).

                      O que esta pureza? Em poucas palavras: é a misericórdia do coração para com o universo inteiro.

E o que é a misericórdia do coração? É a chama que o inflama por toda a criação, pelos homens, pelos pássaros, pelos animais, pelos demônios, por todo o ser criado.

Quando o homem pensa neles, quando os olha, sente os olhos encherem-se das lágrimas de uma profunda, uma intensa piedade que lhe aperta o coração, e que o torna incapaz de ouvir, de ver, de tolerar o erro ou a aflição, mesmo ínfimos, sofridos pelas criaturas.

É por isso que, numa oração acompanhada por lágrimas, devemos sempre pedir tanto pelos seres desprovidos da fala como pelos inimigos da verdade, como ainda pelos que a maltratam, para que sejam salvos e purificados.

                      No coração do homem nasce uma compaixão imensa e sem limites, à imagem de Deus.

*CARMELITA: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.

ORDEM DO CARMO – PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS

Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.

Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG

Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv

Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço

Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada

[1] O negrito é nosso

ORDEM DO CARMO – PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS

Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.

Local: Casa de Retiros São José - Belo Horizonte - MG

Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv

Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço

Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada

Metodologia: Exposições reflexivas

Desenvolvimento do Tema:

Dia 30 de Julho (Segunda-feira)

1ª reflexão (noite): A) Um Retiro Espiritual

  1. B) O Tema

Dia 31 de Julho (Terça-feira)

2ª reflexão (manhã): A) Misericórdia como o Amor de Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo

3ª reflexão (Tarde):  B) Misericórdia como Espírito de Misericórdia

  1. C) Misericórdia como Virtude da Misericórdia

Dia 01 de Agosto (Quarta-feira)

4ª reflexão (Manhã): D) Misericórdia como Ideal-Objetivo do Projeto de Vida

  1.    E) Misericórdia como Obras de Misericórdia
  2.              F) Misericórdia como Frutos de Misericórdia

5ª reflexão (Tarde): A) Princípios derivados da Misericórdia para a Vida Espiritual-Religiosa

Dia 02 de Agosto (Quinta-feira)

6ª reflexão (Manhã): B) Princípios derivados da Misericórdia para a Vida Fraterna

7ª reflexão (Tarde): C) Princípios derivados da Misericórdia para a Vida de Trabalho e Serviço

Dia 03 de Agosto (Sexta-feira)

8a reflexão (Manhã): “Servir a Jesus Cristo...inspirando-nos em Maria”, mãe de misericórdia

APÊNDICE

  1. O Grito de Jesus na Cruz: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste"?
  2. A Formação permanente: 2C 102; 2C 105: Um antigo e sempre novo segredo da formação permanente religiosa
  3. (As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009). Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)

O Frei Tinus Van Balen, O. Carm, do Convento do Carmo da Bela Vista/SP,  fala sobre o Beato Frei Tito Brandsma. E-mail do Frei Petrônio para contato- críticas ou sugestões de temas. Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. FACE: www.facebook.com/freipetros SITE: www.olharjornalistico.com.br TWITTER: www.twitter.com/freipetronio Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 27 de julho-2018.

Feliz festa do Beato Tito Brandsma, Carmelita contemporânea, apaixonado pela Espiritualidade Carmelita e mártir!!

O Beato Tito Brandsma foi preso por ser católico convencido e era defensor da verdade, como o seu pai inspirador o profeta Elias. Já no campo de concentração, ensina que o amor vai voltar a ganhar ao mundo inteiro.

Conheçamos a sua grande figura e repercussão religiosa e social.

Tito Brandsma (1881-1942)

Era frequente vê-lo em sua secretária, muito concentrado, digitando forte e agilmente sua velha máquina de escrever. Ele tinha os olhos cravados no papel, através de uns óculos redondos que lhe sentavam muito bem, rodeado da nuvem de fumo azul do seu cachimbo. Ao Interrompê-lo, antes de dizer ele nada, levantava a cabeça e a primeira coisa que distinguias no seu rosto era um sorriso inigualável. Ele dava a todos o seu bom humor e uma íntima alegria, que conquistava a simpatia de qualquer um.

Assim passava longos tempos Tito Brandsma quem, apesar da sua fraca Constituição física, que esteve prestes a levá-lo várias vezes para a morte, chegou a ser no seu tempo um dos homens mais cultos e importantes da Holanda.

Tinha obtido em Roma o doutorado em filosofia, onde também se especializou em sociologia, espiritualidade e jornalismo, uma vez ordenado padre em 1905. Ao seu retorno à Holanda fundou bibliotecas, escolas e a UNIÃO DE ESCOLAS CATÓLICAS. Embora nessa época a sua pátria tinha maioria absoluta protestante, o Tito conseguiu que o parlamento aprovasse uma iniciativa sua para que o estado concedesse ajuda econômica aos colégios católicos.

Reitor de faculdade, professor e jornalista

A Universidade Católica de nijmegen, a primeira da sua espécie dentro da jovem história da Holanda, foi fundada em 1923. Era o símbolo da anterior vitalidade dos holandeses católicos, que, durante alguns séculos, suportaram terríveis perseguições. Tito foi lá professor de filosofia e de mística. Em 1932 escolheram reitor por um ano. No entanto-Pensava Tito -, a faculdade era apenas uma pequena porção da muito ampla realidade nacional e havia que influenciar também em todos os que viviam fora das instituições acadêmicas.

Para servir melhor a sua pátria, tornou-se jornalista ativo. Fundou várias revistas e foi editor-Chefe de vários jornais, capotando em centenas de escritos as riquezas da sua mente e a sua sensibilidade. Mas o seu impacto no meio jornalístico excedeu o âmbito profissional. Muitos colegas encontraram nele a um confidente discreto, conselheiro iluminado e amigo sincero, sempre disposto a compartilhar mágoas e dar esperança.

Defensor de judeus perseguidos

No ano de 1933 Adolfo Hitler obteve o poder na Alemanha. Em Maio de 1940 os nazistas invadiram a Holanda e começaram a apoderar-se do ensino e da imprensa católicas para submeter o povo. Tito Brandsma, nomeado então assistente da união de jornalistas católicos, ergueu corajosamente a voz para denunciar a perseguição contra os hebreus das escolas católicas e o atropelo total da liberdade religiosa por parte do nazismo. Os jornalistas, animados por ele, formaram uma frente comum contra o inimigo.

Logo começaram as detenções de padres. No dia 26 de janeiro de 1941, os bispos holandeses declararam que o nacional-socialismo era o mais oposto ao ensino da Igreja Católica, e isso provocou uma nova onda feroz de perseguição para católicos e judeus. Tito foi feito preso pela temível gestapo no dia 19 de janeiro de 1942 e trancado na cela 577 da tristemente célebre prisão de oranjehotel, onde se encarcerava os combatentes da resistência. Lá passou sete semanas de terrível solidão. No entanto, para conservar a sua liberdade, apesar do isolamento, foi estabelecido um plano diário de trabalho. Ele escreveu versos, começou uma biografia de Santa Teresa de Ávila, redigiu uma via sacra e escreveu duas pequenas obras minha cela e cartas desde a cadeia.

No dia 12 de março levaram-no para o campo de concentração de Amersfoort, destinado a trabalhar nas serrarias. Um trabalho cansativo para os prisioneiros, mal alimentados e insuficientemente equipados. Uma tortura horrível. A todos os padres presos lhes era estritamente proibido, sob pena de duras punições, realizar qualquer ação de tipo espiritual, mas para Tito-homem corajoso e apaixonado por Deus-isso não era um obstáculo. Durante a semana santa se reúne com vários presos a meditar sobre a paixão de Cristo. Os demais prisioneiros lhe buscavam dia e noite para encontrar ao seu lado conforto e receber sua bênção. Mansinho lhes desenhava a cruz nas mãos, ouvia as suas confissões e assistia os doentes e moribundos.

Além de católicos, entre os seus companheiros de prisão, havia pessoas de outras confissões religiosas, mesmo agnósticos e ateus. Passados os anos, vários deles deixaram testemunhos de enorme admiração por ele.

Fazer mais fácil o perdão

Diante das queixas dos maus tratos, Tito tínhamos os outros prisioneiros a superar-se ao ódio e a rezar pelos seus carrascos:

- Ore por eles - dizia-lhes uma e outra vez.

- Sim, pai, lhe respondiam, mas isso é.... Tão difícil..!!


Com muita compreensão e um pouco de humor respondia Tito :-não se preocupe, você não precisa fazer isso durante todo o dia... também eles são filhos do bom Deus e quem sabe se algo fica neles...

Vítima da fúria do ódio, soube amar a todos. No Domingo de Páscoa começaram as execuções de setenta e seis membros do movimento clandestino da Holanda. Durante mais de uma hora Tito e seus companheiros tiveram que contemplar o fuzilamento maciço de seus companheiros. Tito rezava por eles e fazia-os compreender por sinais, cruzando as mãos e olhando para o céu.

No dia 16 de maio de 1942 Tito foi transportado para Dachau, perto de Munique. Neste campo de concentração viviam cerca de 110 mil prisioneiros, dos quais 80 mil encontraram a morte. Tito chegou a conhecer toda a brutalidade de regime nazista: socos, chicotadas com tábuas e paus, chutes e outras torturas. Lá os padres católicos eram tratados como homens de segunda classe; nas três casernas que formavam este bloco haveria aproximadamente 1600 eclesiásticos. No total calcula-se que Hitler levou a morte aproximadamente a cerca de 4 MIL PADRES CATÓLICOS.

Fonte: Facebook ( https://www.facebook.com/walteralberto.palominopalomino )

ADRIANO STARING, O.CARM

“La alegría no es una virtud, es un efecto del amor” - Tito Brandsma.

“Apuntes para un retiro”.

Un proverbio francés dice: “Un santo triste no es probable que sea un santo”. De niño la salud de Tito Brandsma fué muy precaria. Sufrió cuatro veces hemorragias estomacales, como resultado de esto estuvo cuatro veces a las puertas de la muerte. Los últimos años de su vida sufrió serias enfermedades. Normalmente aquellos que padecen de estómago se vuelven hipocondríacos, esto no le sucedió a Tito Brandsma. Muchos testigos lo confirman. Su hermana dice: “Durante su enfermedad, siempre estuvo feliz y de buen humor” (Sumario I, Pág. 33). Cuando estuvo estudiando en Roma también tuvo hemorragias. Su compañero de estudios P. Luis van der Staaij lo confirma: “En Roma era un paciente feliz y hablaba de forma normal (Sum 1 Pág.. 48). Su amigo el P. Alberto Grammatico dijo: “Me sonreía serenamente, como un santo”. (F. Valline “Un periodista mártir“, Pág.. 66).

Poseía un gran autocontrol, pero no sólo en su vida diaria sino también ante la enfermedad y el sufrimiento físico. Incluso en aquellos momentos demostraba tener buen humor” (Sumario I Pág. 203). Un carmelita que fué su compañero afirmó: Aún ante el fracaso y la oposición, permanecía alegre y sereno (Ibid Pág. 65).

En la vida diaria la gente le encontraba invariable. La profesora Cristina Mohrmann afirma: La gratitud que demostraba por la fé revela por sí misma una alegría constante ( Proceso pa. 66). “Siempre estaba de buen humor, era cordial y espontáneo “ (Ibid), “Siempre estaba de buen humor” (Ibid 77) Joseph de Boen dejó este testimonio “Yo estaba particularmente sorprendido por su alegría. Su gratitud por la fé demostraba por sí misma una gran alegría aunque, por naturaleza, no poseía un carácter ingenioso feliz. (Sum p. 100) El obispo Martín Jansen tiene esto que decir: “Sobre todo poseía una gran alegría y un optimismo increíble” (Proceso n 116).

La alegría del Padre Tito se revelaba particularmente en su cordialidad y afabilidad. Siempre era cordial y amable cuando le visitamos. Siempre era cordial, espontáneo y muy sencillo (Sumario Pág. 34 G de Boer). “El servidor de Dios buscaba la perfección a través de la simplicidad y la cordialidad con los que le rodeaban (Proceso  64 a. Bernard Woltring). Siempre era afable (Ibid 64 Anna Kersten). “Era excepcionalmente afable y cortés (Ibid n 89 Florentino Haagen Orden Carmelita). Su virtud más destacable era la amabilidad. (Ibid 64 Rafael Gooijer O. Carmelita).

El biógrafo del P. Tito. H.Aukes, “pinta” el retrato siguiente del P. Tito: “Yo le considero, sobre todo, un hombre de espiritualidad evangélica, alegre, leal, caritativo... Creo que “bondad” es la palabra que mejor describe su vida. Nos recuerda al primer Santo frisón, Ludger cuya segunda vida le describe así: “Agradable en su forma de ser y poseedor de una sorprendente humanidad, hacia que sus enseñanzas fueran aceptadas en todas partes (Sumario Pág. 150-151).

“ALEGRÍA EN PRISIÓN”

Todos los testimonios citados anteriormente, nos relatan la vida del P. Tito antes de su martirio. Pero semejante alegría y felicidad fueron también las características de los seis meses de prisión y la vida en el campo de concentración.

Un coronel protestante, A.F. Fogteloo, que estuvo en con el P. Tito en la prisión de Scheveningen y en el campo de concentración de Amersfoort después de describir las crueles condiciones de la vida en la prisión continua: “Me sorprendía mucho cuando se abría la puerta de la celda en la que estaba Tito Brandsma y dentro se encontraba un hombre feliz. Su rostro estaba radiante su mirada amable y agradecida me impresionó mucho. Siempre le ví de buen humor (Ibid p 258) Para dar una descripción de su comportamiento tanto en la prisión de Amersfoort como en el campo de concentración, diré: “Lo más notable era su bondad, su docilidad y su aspecto radiante. Cuando alguien en su situación, es como él , debe ser un hombre, espiritualmente hablando, fuera de lo corriente. Sus ojos eran extremadamente dulces, era muy alegre. Era muy bien educado, dada su formación religiosa y su carácter delicado. El modo en que alentaba a los que venían  a él, su sonrisa cordial y comprensiva, proporcionaba calor a las almas heladas (Ibid Pág. 257).

Otro compañero dijo: “Respecto a su estancia en Scheveningen puedo testificar que “el servidor de Dios” siempre poseía una actitud alegre y feliz “ (Ibid Pág. 262 P. Verhulst).

El mismo testigo relación el comportamiento del P. Tito en el campo de concentración de Amersfoot (12 de marzo 28 Abril 1942) “Siempre estaba contento, nunca le  oí refunfuñar o quejarse” (Ibid p 264). Todos los prisioneros estaban de acuerdo con esto.” El servidor de Dios siempre estaba de buen humar y nunca hablaba de sí mismo. Como buen católico Tito poseía una alegría natural y sincera”. (Ibid p. 270,271). El sacerdote P. Aalders afirma: Su aspecto testificaba también su alegría interior, yo, puedo verificarlo. Era el hombre más afable del campo y todos tenía acceso a él (Ibid 285-286) Cuando se le saludaba fugazmente siempre sonreía y estaba feliz. Bajo sus gafas, sus ojos brillaban llenos de bondad, cordialidad y alegría. Retuvo esta serena amabilidad todo el tiempo que permaneció en Amersfoot” Un doctor luterano P. Ronge testificó: “Su tranquilidad era plena. Siempre estaba de buen humor (Ibid p 298) Un doctor que no pertenecía a ninguna religión dijo: Bajo cualquier circunstancia mantenía una tranquilidad alegre “ (Ibid p. 308 J. Borst.) Otro compañero de prisión comentó: “Estaba muy agradecido pos su fé y su vocación. Deduzco esto ya que él siempre estaba de buen humor y feliz. Le daba un sentido sobrenatural a nuestro encarcelamiento” (Ibid p. 310-311 J. Siegmund)

Jan van de Mortel, sin embargo anotó que los momentos difíciles del P. Tito no pasaron desapercibidos para él: “Nunca estaba de mal humor, era muy equilibrado un nunca planteaba dificultades a los demás. Físicamente sufrió muchísimo a causa de la cruel vida en el campo de concentración y el trato inhumano.  Intentó que nadie se diera cuenta pero muchas veces estaba inmensamente triste, no por sí  mismo sino porque había personas que hacían sufrir a otras personas. Su humor no variaba.

En realidad, en vez de volverse duro se volvió más dócil. Siguió siendo optimista (Sum II p 521). En la prisión de Scheveningen (28 Abril 16 de Mayo de 1942) donde Tito compartió su celda con dos jóvenes protestantes se afirma: Sentía un profundo agradecimiento por su fé y su felicidad (Sum I p 320).

“La alegría que brillaba en la cara del P. Tito impresionó a los guardianes y también a mí mismo. Siempre estaba de buen humor y se interesaba mucho por los otros prisioneros. Su serenidad y alegría, su modestia y bondad me impresionaron. Sabía muy bien que nunca recobraría la libertad pero estaba resignado y a veces incluso contento” (Ibid Pág. 325 327)

En la prisión de Kleve, en Alemania donde Tito esperaba su traslado a Dachau (16 de mayo  al 13 junio 1942) mantuvo la misma actitud. El capellán de la prisión, Ludwig Deimel nos da su testimonio: “Su actitud era de calma, serenidad, alegría y amabilidad. Ese agradecimiento esa paciencia que poseía no requerían ningún esfuerzo por su parte. Durante su estancia en Kleve, cuando todos los intentos para su liberación fracasaron, no mostró el más mínimo signo de desilusión, desaliento, depresión o desesperación. Permaneció sereno agradecido y con una plena confianza en Dios (Ibid, p. 325-327).

Un compañero de prisión holandés testificó: “Siempre estaba de buen humor, contento y lleno de resignación hasta un extremo que yo pensaba “Si este hombre no es santo nadie puede serlo”.

Sus virtudes más notables eran la alegría y el espíritu de oración. Su gratitud por la fé revelaba el hecho de que él era feliz por poder sufrir por Nuestro Señor. Más de una vez le oí decir “Estamos en las manos de Dios” (Ibid p. 341-342 R. de Groot).

“EN DACHAU”

19 de Junio-26 de Junio 1942.

En el campo de concentración de Dachau el P. Tito conoció al P. Rafael Tijhuis de la Orden Carmelita. A pesar de las circunstancias, el P. Tito podía, todavía, estar de buen humor:

Si alguien le preguntaba si había sido golpeado, el contestaba sonriendo: “Para ese hombre, golpear es su oración matutina” Cuando acababa (de entender su pies hinchados) y le ayudaba a levantarse, me golpeaba en el hombro con una sonrisa y me decía: “Ahora, hermano, soy un hombre de nuevo”. Su gratitud por la fé se hacía patente en su alegría constante y su felicidad. Nunca le ví enfadado o llorando, a pesar del terrible trato que tenía que soportar. Siempre estaba feliz y de buen humor (Ibid p. 356, 362, 364). Sus compañeros de prisión están de acuerdo: “Siempre estaba feliz y de buen humor” (Ibid p. 370 Rev. J. Lemmens) “Nunca le oí quejarse. Siempre estaba feliz y de buen humor y era un apoyo para los demás (Ibid p. 372 Alabanzas de la Orden Capuchina). “Sin embargo, siempre estaba de buen humor, equilibrado y feliz, lleno de tranquilidad y paz interior, lleno de serenidad espiritual. Tenía sentido del humor, era un bromista pacífico” (Ibid p 282, 383, Rev H. Kuyper)  “Siempre estaba de buen humor y feliz. Su confianza en Dios se revelaba a través de su alegría, buen humor y por su maravillosa paciencia y tolerancia” (Ibid p. 390 Rev. J. Rothkrans). J. Overduin un ministro Protestante atestiguó “Todavía puedo ver al profesor Brandsma, nuestro hermano que se dedicaba sinceramente a Cristo, aún mientras estaba en el baño por última vez. Cansado y agotado, demacrado, con las piernas hinchadas pero fuerte su espíritu siempre amable y contento en el Señor (Ibid II p. 546).

Incluso durante su última semana de vida, en el hospital del campo permaneció calmado y sereno. La enfermera que le administró la inyección fatal atestiguó: “Siempre estaba contento”. La mayor parte de los prisioneros se preocupaban de sí  mismos y sólo pensaban en ellos, pero el Servidor de Dios, estaba siempre alegre y era el consuelo de todos y particularmente el mío (Fasciculus reservatus p. 5 n, 61, 626).

“LA ALEGRÍA EN LOS ESCRITOS DEL P. TITO”

La alegría, dentro de su sufrimiento, aparece ya en las páginas de su diario escrito durante la primera semana de su detención en la prisión de Scheveningen (23 de Enero- 28 de Enero 1942): “Allí existe un contraste de principios, pero para defenderlos sufriré lo que sea necesario con alegría. Mi vocación por la Iglesia y mi sacerdocio me han enriquecido con muchas cosas agradables y alegres, acepto con mucho gusto todo aquello que pueda parecer desagradable. Oh bendita soledad, me siento como en casa en esta celda. Hasta ahora no me he aburrido, por el contrario me siento loco de felicidad porque El, en su grandeza, me ha permitido encontrarle de nuevo, sin que mi ser pueda ir a los hombres ni los nombres venir a mí. El es mi único refugio, me siento protegido y feliz. Me quedaré aquí para siempre si El lo quiere así. Rara vez he estado tan feliz y contento” (Sumario II, p. 500, 504).

En su conocido poema del 12-13 de Febrero de 1942 escribió: Preveo una copa de sufrimiento
que acepto por amor a tí
Deseo seguir tu camino de penas
el único para llegar a Ti, lo sé. En la primera carta que escribió en prisión, 12 de febrero de 1942, explicaba: “Estoy muy tranquilo, feliz y contento y estoy empezando a acostumbrarme a esto. Por favor, hacerle saber al Dr. de Jong (Arzobispo de Utrecht) que no se mezcle o se relacione con los problemas que me puedan suceder. Yo sufro aquí con alegría y estoy bien” (Ibid 511-512). El 5 de marzo escribió: “No tengo que llorar, incluso canto un poco a mi manera, y naturalmente no demasiado alto” (Ibid p. 512-14).

“EL SECRETO DE SU ALEGRÍA”

Para algunas personas regocijarse con el sufrimiento podría ser una tendencia masoquista, de las citas anteriores se desprende claramente que en el caso del P. Tito era una cuestión completamente diferente. El P. Tito aceptaba los sufrimientos, pero no los buscaba: Los aceptaba de las manos de Dios y con otro propósito. En el poema que escribió en Scheveningen dirigía su mirada a Jesús: Mi alma rebosa de paz y luz
aunque con dolor, esta luz brilla.
Aquí guardián de tu seno
mi corazón anhela encontrar el descanso Allí.

Su felicidad provenía de su amor a Cristo que sufrió por amor a nosotros. Consolaba a sus compañeros de prisión de este modo: “Esto es sólo algo insignificante comparado con lo que Cristo sufrió por nosotros” (Sumario I, p 340-42 R. de Groot) “Nuestro Señor sufrió más por mi” (Ibid p. 363 R. Tijhuis).

El amor de Dios para con nosotros se expresó en la Pasión de Cristo a causa de nuestros pecados. Nuestro amor para con Dios se expresa en el amor a nuestro prójimo, incluso a nuestros enemigos y a los pecadores, y también se expresa soportando todos los sufrimientos en unión con la Pasión de Cristo. La alegría no emana del sufrimiento sino del amor. Esta era la causa de la alegría y la felicidad que el P. Tito mostraba a sus semejantes, la razón de su cordialidad y afabilidad para con sus enemigos e incluso para sus crueles guardianes. “El era el hombre más afable de todo el campo y accesible para todos. Era el más amable de todo el campo. No hablaba mal de los alemanes” (Ibid p. 286-284 Rev. J Aalders) En Amersfoort se le juzgaba como el hombre más amable del campo. La razón de su alegría queda explicada en algunos de sus escritos.

“La locura de la cruz. Nuestro amor debería ser proverbial. No demos permitir que nadie nos sobrepase en amor. Esta es la primera, la suprema, la virtud divina. Nuestro modelo es Cristo sangrando en la cruz con cientos de heridas. La persona que desee conquistar el mundo con ideales superiores, debe entablar batalla con esto. Al final el mundo sigue a la persona que tiene valor, que tiene el valor de hacer lo que uno solo no se atreve a hacer. Pero la batalla con el mundo es dura: condujo a la muerte de Cristo en la cruz.”(Notas para un retrato)

Considera la vida como el camino de la cruz, pero lleva la cruz en tus hombros con alegría y valor, porque Jesús con su ejemplo y la gracia la hizo ligera” (Ibid).

Sigamos a Jesús por el camino real de la cruz. Llevemos su cruz, pero no sin ganas, como hizo Simon de Cyrene, sino con ilusión y alegría porque somos sus hijos reales (Via Crucis).

No hay que servir a Dios con la vista, hagámoslo aparente con alegría y buen humor que es verdad que “mi yunta es agradable y mi carga ligera”. Muestra un rostro alegre, considera las penas como una luz más alta, que se convierta en una elección y una razón de alegría. La alegría no es una virtud sino un efecto del amor (Notas para un retrato).

Desde el pesebre hasta la cruz, el sufrimiento  fué todo de Cristo, así como la pobreza y la incomprensión. El empuje de su vida fué enseñar a los hombres como Dios valora el sufrimiento la pobreza y las equivocaciones de los hombres, justo lo contrario de la falsa sabiduría del mundo. El sufrimiento, es el camino al cielo. !Ah! si tuviéramos, incluso hoy, conciencia del varo que Dios guardó para nosotros en el sufrimiento que nos envía. El que es infinitamente bueno! (Introducción al libro “Het lijden vergoddelijkt de A.A Tanqueray).

El viernes Santo de 1943, en el campo de Amensfoort, el P. Tito dió una conferencia sobre el misticismo de la Pasión que dejó una impresión duradera. En las breves notas que había preparado se lee: “En este día: una actitud amable y agradecida con una representación viviente de la Pasión de Cristo en unión con nuestro sufrimiento. Dios para nosotros, Dios con nosotros, nuestro ejemplo. Dios en nosotros, nuestra fuerza. Puedo hacer todo para El que me conforta”. (H. Aukes, Het leven van Titus Brandsma p 240-241).

EL sacerdote J. Aalders, dejó una descripción de la conferencia: “Después de una presentación instructiva, Tito empezó a hablar de argumentos muy profundos que conmovían nuestros corazones. La conferencia se convirtió - y no podía ser de otro modo en Viernes Santo- en una meditación de la Pasión de Cristo de que su corazón estaba lleno”. El corazón habla al corazón. Las palabras salían espontáneamente de su corazón provenían del amor por su salvador que ardía allí. Se podía oír el ruido de un alfiler al caer en las barracas. Incluso los comunistas estaban escuchando con interés. Se les había predicado, alguna vez, el amor con una convicción tan grande? (Sumario p. 293-294).

Durante los últimos días de su vida, pasados en el hospital de Dachau, la enfermera que le dió el  “golpe de gracia” afirmó que la mayoría de los sacerdotes no valían nada. El P. Tito replicó con un dicho de St. Teresa, que los mejores sacerdotes no son siempre los que están en los púlpitos  y pronuncian sermones maravillosos, sino que los  mejores sacerdotes son los que tienen que sufrir y ofrecer sus sufrimientos por los pecadores. Añadió que estaba contento porque podía sufrir” (Fas. riservatus p. 4n 60 b).

Mucha gente mantenía que el P. Tito Brandsma no sólo era experto en historia y doctrina mística, sino que él conocía la vida mística y los deleites de la unión mística por experiencia personal (cf. A. Starin “Tito Brandsma y el Misticismo de la Pasión en el Carmelo 28 [1981] p. 213-225). Aquí también tenía algo que decir: “Demasiadas personas piensan que el misticismo es algo agradable y tranquilo sin pensar que Dios busca nuestra unión por el camino del sufrimiento del desprecio y de la muerte. El verdadero misticismo lleva al Calvario para finalizar en el descanso de una muerte cercana en el corazón sangrante de Jesús y el abrazo con la cruz (Introduction to Briev en extasen der Dienaresse Gods Gemma Galgans by P. Bonifacio C.P).

Durante toda su vida el modelo que siguió el P. Tito que la Virgen María. Como hijos de María con el deseo de estar conforme con ella y de este modo con Dios como ella fué. Con ella estamos al pie de la cruz para compartir la muerte sacrificada del Señor y para seguir viviendo mientras nos llega la muerte en compañía de nuestra madre, guiados y ayudados por ella, únicamente en Dios y para Dios (“Introducción a los Carmelitas” por Juan de San Sansón).

En su testamento escribió: “En la muerte me uno a la muerte de mi Redentor y me coloco en el lugar de María al pie de la cruz de mi Señor. Cantaré las gracias de Nuestro Señor para siempre (Proceso Diocesano doc. 9).

El significado completo del sufrimiento humano fué resumido por Tito en una sencilla frase que fué parte de un capítulo de la comunidad: “Fuimos creados para la alegría”.

Traducido por Redemptus María Valabek O.Carmelita.      

Dom Milton Kenan Júnior, Bispo diocesano de Barretos/SP.

                Santa Teresa do Menino Jesus foi desde sua infância uma jovem fascinada pelos padres. Ela os amara com um amor extraordinário. Trata-se de uma compreensão do sacerdócio que evolui, com o passar do tempo.

                Na sua infância Teresa convive com um círculo restrito de padres, quando os encontros são ocasionais e com uma certa distância. Na sua adolescência, a partir da peregrinação que faz na companhia de seu pai Luís Martin e Celina à Roma, Teresa tem a oportunidade de conviver com um grupo de setenta e cinco padres; que lhe permite mudar o seu conceito e ver uma transformação no relacionamento com eles. Finalmente, nos últimos anos de sua vida, através das correspondências com o seminarista Bellière e o neo-sacerdote Roulland, Teresa tem a possibilidade de estabelecer com eles uma verdadeira fraternidade e maternidade espirituais.

                Um dos textos mais sugestivos de Teresa no que diz respeito a sua relação com os padres nós o encontramos na descrição que faz da peregrinação á Roma, por ocasião do Jubileu de Ouro Sacerdotal do Papa Leão XIII (7/11-2/12/1887):

                “A segunda experiência que eu fiz diz respeito aos padres. Não havendo jamais vivido na intimidade deles, eu não podia compreender a finalidade principal da reforma do Carmelo. Rezar pelos pecadores me encantava, mas rezar pelas almas dos padres, que eu acreditava mais puras que o cristal, me parecia espantoso!...Ah! eu compreendi minha vocação na Itália, não foi preciso procurar muito longe um conhecimento tão útil...Durante um mês eu vivi com muitos santos padres e eu vi que, se a sublime dignidade deles os eleva acima dos anjos, eles não deixam de ser por isso homens fracos e frágeis...Se os santos padres que Jesus chama no seu Evangelho: “o sal da terra” mostram em sua conduta que têm uma extrema necessidade de orações, que dizer então dos que são tíbios? Jesus não disse ainda: “Se o sal perder o seu valor, como recuperará o seu sabor? Oh minha Mãe! Como é bela a vocação que tem por finalidade de conservar o sal destinado às almas! Esta é a vocação do Carmelo, porque o único fim de nossas orações e de nossos sacrifícios é de ser apóstola dos apóstolos, rezando por eles enquanto evangelizam as almas pelas suas palavras e sobretudo pelos seus exemplos...Preciso me deter se eu continuo falando sobre isso não terminaria jamais!....” (A, 56r-56v).

                Teresa reafirma a sublime dignidade dos sacerdotes, honrados por Deus mais do que todos os homens, mais do que os próprios anjos, enquanto descobre que são ao mesmo tempo homens fracos, frágeis que têm tanta necessidade da sua oração. Esta descoberta não a escandaliza, não diminui a fé no sacerdócio, nem o seu amor pelos sacerdotes. Ao contrário, é uma graça, um crescimento no amor, num amor mais maduro, mais realista, amor de mãe pelos filhos fracos e frágeis. Assim, a partir deste momento, Teresa se empenhará até o fim pela santificação dos sacerdotes, na grande perspectiva da Missão da Igreja pela salvação de todos os homens. A sua mensagem aos sacerdotes será uma palavra de amor e de santidade: sempre o ensinamento do Amor de Jesus. Teresa é consciente de ser como a Madalena apostolorum apostola. (Léthel, L´amore de Cristo centro dela Vita Sacerdotale, in La prospectiva de alcuni Santi, p. 5).

                Seu amor pelos padres e a oração por eles são temas constantes em sua correspondência com Celina, até sua entrada no Carmelo (cf. Cartas 94, 96, 101, 108, 122).                Acompanhando o relato do Manuscrito C, chegamos ao ponto de poder acompanhar Teresa no relacionamento com seus “irmãos espirituais” Maurice Bellière e Adolphe Roulland.

                Teresa diz que um dos seus grandes desejos era ter a graça de ter um irmão sacerdote que pudesse subir o altar que pudesse pensar todos os dias nela no santo altar (C 31v). O que parecia impossível, uma vez que seus irmãozinhos morreram precocemente, Deus os realiza concedendo unir os laços de sua alma a dois de seus apóstolos que se tornaram seus irmãos (ibid.) As palavras com que Teresa descreve a realização do seu sonho são de uma intensidade extraordinária:

                “Foi nossa Sta. Mãe Teresa que me enviou para ramalhete de festa em 1895 meu primeiro irmãozinho. Eu estava na lavandeira bem ocupada com o meu trabalho quando madre Inês de Jesus me tomando à parte leu-me uma carta que acabara de receber. Era um jovem seminarista, inspirado, dizia ele, por Sta. Teresa, que vinha pedir uma irmã que se dedicasse especialmente à salvação de sua alma e o ajudasse com suas orações e sacrifícios quando ele fosse missionário a fim de que pudesse salvar muitas almas. Prometia ter sempre uma lembrança por aquela que se tornasse sua irmã, quando pudesse oferecer o Santo Sacrifício. Madre Inês de Jesus me disse que queria que fosse eu a me tornar a irmã desse futuro missionário. Madre, dizer-vos minha felicidade seria impossível, meu desejo cumulado de maneira inesperada fez nasce r no meu coração uma alegria que chamarei infantil, pois preciso remontar aos dias de minha infância para a encontrar a lembrança dessas alegrias tão vivas que a alma é pequena demais para conte-las, nunca desde anos eu tinha provado esse gênero de felicidade. Sentia que desse lado minha alma era nova, era como se pela primeira vez se tivesse tocado cordas musicais que até então estavam no esquecimento” (C31v-32r).       

                Teresa emprega por Bellière, e posteriormente, por Roulland todas as suas energias espirituais, “doravante, Teresa, irmão espiritual do futuro sacerdote, rezará, amará, sofrerá por dois, não aumentando o volume de sua oração e de sua atividade, mas crescendo no fervor do amor que é o único capaz de dar um valor maior aos sofrimentos e ás obras”.

                No ápice da “prova da fé” que se consumará com sua morte, Teresa diz que não tendo o gozo da fé, esforça-se por realizar ao menos as suas obras. Entre as obras realizadas por Teresa, na maior escuridão interior, está a de socorrer seu “irmãozinho”, oferecendo por ele o sofrimento psíquico, a obscuridade da fé, que se tornam para ela fonte de apostolado escondido.

                A “grande” prova que Teresa enfrenta será o silencio de Bellière: “É preciso reconhecer que primeiro não tive consolações para estimular meu zelo; depois de ter escrito uma carta encantadora cheia de coração e de nobres sentimentos para agradecer a madre Inês de Jesus, meu irmãozinho não deu mais sinal de vida senão no mês de julho seguinte, exceto que enviou sua carta no mês de novembro para dizer que entrava na caserna” (C 32r).

                De novembro de 1896 a agosto de 1897, Teresa manterá uma correspondência frequente com Bellière (algo excepcional na vida de uma carmelita no final do século passado). Jamais perde de vista o fim daquela união: “Eu lhe peço que sejais, não somente um bom missionário, mas um santo todo abrasado do amor de Deus e das almas” (Carta 198); “Ah! O que nós lhe pedimos (a Jesus), é de trabalhar por sua glória, é de amá-lo e faze-lo amado” (Carta 220); “Querido irmãozinho, no momento de comparecer diante do bom Deus, eu compreendo mais do que nunca que não há senão uma coisa necessária, é de trabalhar unicamente por Ele e de nada fazer por si e pelas criaturas” (Carta 244).

                Como se não bastasse um irmãozinho para satisfazer seus desejos e cumula-la de tão grande alegria, a Providência divina destina-lhe um segundo irmão: o jovem missionário Pe. Adolphe Roulland. Sob o sigilo da obediência, Teresa atende agora ao pedido de Madre Maria de Gonzaga, e acolhe o jovem missionário Roulland como seu novo irmão espiritual:

                “No ano passado, no fim do mês de maio, lembro-me que um dia mandastes chamar-me diante do refeitório. O meu coração batia bem forte quando cheguei até vós, Madre querida, perguntava-me o que podíeis ter a me dizer, pois era a primeira vez que me mandáveis chamar assim. Depois de ter-me dito para sentar-me, eis a proposta que me fizestes: - Quereis encarregar-vos dos interesses espirituais de um missionário que deverá ser ordenado padre e partir proximamente e depois, Madre, lestes a carta desse jovem Padre a fim de que eu soubesseexatamente o que ele pedia. Meu primeiro sentimento foi um sentimento de alegria, que deu logo lugar ao temor. Eu vos expliquei, Madre bem-amada, que tendo já oferecido meus pobres méritos para um futuro apóstolo, acreditava não poder fazê-lo ainda nas intenções de outro e que, aliás, havia muitas irmãs melhores do que eu que poderiam responder ao seu desejo. Todas as minhas objeções foram inúteis, vós me respondestes que se podia ter vários irmãos. Então vos perguntei se a obediência não poderia dobrar seus méritos. Vós me respondestes que sim, dizendo-me várias coisas que me faziam ver que eu precisava aceitar sem escrúpulo um novo irmão” (C 33r-33v).

                Ao escolher Teresa como “irmã espiritual” do jovem missionário Roulland, a Madre Maria de Gonzaga revela uma particular estima da Priora em relação à jovem Carmelita. Dirá de viva voz ao Pe. Roulland: “É a melhor entre minhas boas”; e lhe escreverá: “Vós tendes uma auxiliar muito fervorosa, a pequena querida é toda de Deus”.

                Madre Maria de Gonzaga não só aprecia o valor religioso de Teresa, mas sua verdadeira vocação missionária, confirmando o que Teresa já havia escrito: “É preciso, vós me havíeis dito, para viver nos Carmelos estrangeiros uma vocação toda especial; muitas almas acreditam-se chamadas para isso sem sê-lo de fato.  Vós me disseste também que eu tinha esta vocação e que unicamente minha saúde foi um obstáculo (C 10rº). Maria de Gonzaga quis dar à Teresa a alegria de realizar, ao menos em parte, sua vocação trabalhando com um Missionário.

                Escrevendo a Roulland, Teresa revela a consciência de que os laços que os unem é o da oração e da mortificação (Carta 189), de que jesus se dignou uni-los “pelos laços do apostolado” (Carta 193), de que a sua “única arma é o amor e o sofrimento”; enquanto que Roulland possui “a espada da palavra e dos trabalhos apostólicos” (Carta 193) e partilhar com ele o seu desejo: “nosso único desejo é de nos assemelhar ao nosso adorável mestre que o mundo não quis reconhecer porque Ele se aniquilou, tomando a forma e a natureza de escravo” (Carta 201).

                Ao contrário do seminarista Bellière que silenciou por vários meses, após o primeiro contato com o Carmelo de Lisieux, Adolphe Roulland proporciona à Teresa grandes alegrias: no dia 28 de junho é ordenado sacerdote; e no dia 3 de julho celebra na capela do Carmelo a sua primeira missa, tendo oportunidade de encontrar-se com Teresa no locutório do convento, onde pode compartilhar com ela, suas expectativas em relação à sua partida próxima para a China (2 de agosto de 1896) e os detalhes do território de missão (Su-Tchen).

                Não só Teresa via satisfeitos os seus desejos de estar unida a “irmãos espirituais” que pudessem realizar por ela o que ela acreditava que o fariam seus irmãos de sangue, caso estivessem vivos; mas Teresa vê realizada nesta escolha a sua vocação:

                ‘No fundo, Madre, eu pensava como vós e até, visto que O zelo de uma carmelita deve abrasar o mundo, espero com a graça de deus ser útil a mais de dois missionários e não poderei esquecer de rezar por todos, sem deixar de lado os simples padres cuja missão às vezes é tão difícil de cumprir como a dos apóstolos que pregam aos infiéis. Enfim quero ser filha da Igreja como era nossa Mãe santa Teresa e rezar nas intenções de nosso Sto. Padre o Papa, sabendo que suas intenções abraçam o universo. Eis a meta geral de minha vida, mas isso não me teria impedido de rezar e de unir-me especialmente às obras de meus anjinhos queridos se tivessem sido padres. Pois bem! Eis como me uni espiritualmente aos apóstolos que Jesus me deu como irmãos: tudo o que me pertence, pertence a cada um deles, sinto bem que Deus é bom demais para fazer divisões, Ele é tão rico que dá sem medida tudo o que lhe peço....Mas não credes, Madre, que me perco em longas enumerações” (C 33v).

                Apóstola com os Apóstolos é em poucas palavras a vocação de Santa Teresa do Menino Jesus. Uma dimensão da sua vocação que não pode passar despercebida à nossa meditação sobre o seu ultimo manuscrito. Junto dela precisamos aprender a fazer nossa as intenções do Papa que alcançam o mundo inteiro e, amar os “simples” padre cuja missão nem sempre é mais fácil do que aqueles que anunciam o Evangelho aos infiéis.

                Nossa meditação sobre os laços que unem Teresa do Menino Jesus aos padres completa-se com a referencia ao Padre Jacinto Loyson (1827-1912). Trata-se de um sacerdote carmelita, ordenado em 1851, que tornara-se célebre por suas pregações durante diversos Adventos em Notre Dame de Paris. Foi Provincial dos Carmelitas Descalços, amigos do Cardeal Newman e de outras pessoas célebres. Em 1869, ele rompeu com a Igreja Católica, justamente alguns anos antes do Concilio Vaticano I. Desposou uma viúva protestante, norte americana, a Sra. Mériman, com quem tivera um filho. Fundou a Igreja do Livre Espírito, cujos princípios eram: o matrimonio dos sacerdotes, uma forte oposição à infabilidade papal, a reinvindicação da missa na língua vernácula e a abolição das classes nos funerais. Ele percorre toda a França fazendo conferencias, provocando escândalos e agitação.

                Desde que tomou conhecimento da situação, em 1891 (quando Loyson fazia suas conferencias na Normandia), através dos recortes do jornal que comentavam as conferencias de Loyson na cidade vizinha de Caen, Teresa se engaja numa oração fervorosa e constante pela sua conversão e convidará Celina para que faça o mesmo.

                É interessante observar que, enquanto a opinião pública católica indignada e as próprias irmãs de Teresa junto da Ordem do Carmelo qualificam Loyson com adjetivos duros; os jornais o chamam de “monge renegado”; Paulina o chama de “infeliz”. Teresa tem expressões bem diferentes: trata-se para ela de um “infeliz pródigo”, “esta pobre ovelha desgarrada”, “nosso irmão, um filho da Santa Virgem” (Carta 129). Ela rezará por ele até a sua morte: “dia virá em que ele abrirá os olhos e então quem sabe se a França não será percorrida por ele com uma finalidade diferente a que se propusera. Não deixemos de rezar, a confiança faz milagres” (Carta 129).

                No dia 19 de agosto de 1897, festa de S. Jacinto, esgotada pela doença, com os nervos à flor da pele, incapaz de suportar a longa cerimonia litúrgica prevista naquela época, Teresa faz a sua última comunhão sobre esta terra, com o pensamento e as orações voltadas para o ex-carmelita Jacinto Loyson.

Frei Carlos Mesters, O. Carm

      O número 21 da Regra sobre o silêncio tem três partes: 1) Descreve o valor do silêncio; 2) Organiza o silêncio; 3) Recomenda a prática do silêncio.

(1) O Valor do silêncio:

      Na primeira parte, usando frases da Bíblia, a Regra recomenda o silêncio. Ela começa lembrando a recomen­dação do apóstolo Paulo a respeito do trabalho em silêncio (Rc 20). Em seguida, para des­crever o valor do silêncio, ela cita por inteiro duas frases do profeta Isaías: "A justiça é cultiva­da pelo silêncio", e “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força. Isto significa que o silêncio recomendado pela Regra tem a ver com a Bíblia: a sua origem está nos profetas. É um silêncio profético! Trata-se de um silêncio que é muito mais do que só ausência de barulho ou de falatório. Conforme as duas fraes do profeta, o silêncio tem a ver com a prática da justiça, com a esperança e a resistência (for­ça). Para nós, carmelitas, o silêncio profético evoca imediatamente o profeta Elias.

      Este silêncio profético tem dois aspectos, expressos nas duas frases de Isaías. A primeira frase diz que o cultivo do silêncio gera justiça. Isaías compara a prática do silêncio com o trabalho do agricultor que cultiva sua roça para ter boa colheita. Esta primeira frase indica o esforço ativo nosso que visa atingir um determinado resultado. A segunda frase do profeta sugere o contrário. Em vez de esforço ativo em busca de um resultado, aqui a prática do silêncio é vista como a atitude de espera de algo que deve acontecer, mas que não depende do nosso esforço. Depende de Deus.

(2) A Institucionalização do silêncio

      A segunda parte do número 21 da Regra descreve a organização do silêncio. Se o silêncio é um valor tão importante, ele deve ter a sua expressão na vida do Carmelo. Na Regra, a organi­zação ou institucionalização do silêncio é adaptada ao ritmo diferente do dia e da noite. A noite, ela por si mesma, é silenciosa. O silêncio da noite nos envolve e nos faz silenciar. Produz uma certa passividade. Acalma as pessoas. Acontece, independente de nós. O dia já é mais barulhento. Em vez de silêncio, produz distração. Agita as pessoas. Exige um esforço interior maior para fazer silêncio. Por isso, a Regra pede um tipo de silêncio mais estrito para a noite e um silêncio menos estrito para durante o dia. Insistindo para que o silêncio seja institucionalizado conforme o ritmo diferente do dia e da noite, a Regra, por assim dizer, cria canais concretos através dos quais o silêncio possa atingir as pessoas para gerar nelas a justiça, a esperança e a resistência (força) de que fala o profeta Isaías. Através da observância do ritmo do silêncio de dia e de noite, a pessoa vai assimilando dentro de si os valores do silêncio profético.

(3) A recomendação do silêncio

      A terceira parte consta de dois momentos. Num primeiro momento, a Regra descreve como  a pessoa deve fazer para cultivar o silêncio que gera a justiça. Este cultivo consiste sobretudo no controle da língua. Citando frases da Bíblia, Alberto aponta os perigos do muito falatório. Ele diz: No muito falar não faltará o pecado; e quem fala sem refletir sentirá um mal-estar, e ainda quem fala muito prejudica sua alma. E o Senhor no Evangelho: de toda palavra inútil que as pessoas dis­serem, dela terão que prestar conta no dia do juízo.

      Em seguida, num segundo momento, citando novamente frases da Bíblia, a Regra passa a recomendar o cultivo do silêncio ou o contro­le da língua, como sendo o caminho para se chegar ao silêncio mais profundo que é o silêncio profético. A Regra diz: Portanto, cada um faça uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente, não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte. Que, com o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe, com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça. De um lado, o pecado, a morte. Do outro lado, a justiça, a vida. O muito falatório conduz ao pecado e à morte. O controle da língua conduz à justiça e à vida.

      No fim, a Regra retoma a frase inicial sobre a justiça que é fruto do silêncio e diz: Cada um procure diligentemente observar o silêncio, pelo qual se cultiva a justiça. No começo e no fim, a insistência na prática do silêncio como caminho para a justiça. É o silêncio profético!

Frei Carlos Mesters, O. Carm

  1. Elias parecia forte e invencível no confronto com os profetas de Baal (1Rs 18,20-40). Mas diante da ameaça de Jezabel, ele aparece como é na realidade: fraco e vulnerável, "igual a nós" (Tg 5,17). Com medo de ser morto, foge do país, vai para o deserto (1Rs 19,1-3). Cego, sem enxergar, não percebe o anjo de Deus que lhe traz comida. Ele só quer comer, beber, dormir e ficar longe de tudo (1Rs 19,5). Está desanimado. Quer morrer: Não sou melhor que meus pais! Mas Deus não desiste. O anjo volta uma segunda vez (1Rs 19,7). Finalmente, Elias desperta e, alimentado por Deus, recupera sua força e, no silêncio do deserto, caminha quarenta dias e quarenta noites até o Horeb (Sinai), a Montanha de Deus (1Rs 19,8). Ele busca reen­contrar Deus no mesmo deserto onde, séculos antes, na época do êxodo, havia nascido o povo.
  2. Mas a busca parece não estar bem orientada. Alguma coisa não está dando certo. Ele diz ter muito zelo, mas, na realidade, está fugindo com medo de morrer (1Rs 19,10.14). Diz que ficou sozinho, mas havia sete mil que não tinham dobrado o joelho diante de Baal (1Rs 19,18). Elias tem a visão limitada. Ele acha que é o único a defender a causa de Deus! (1Rs 19,14) Deus o manda sair da gruta e ficar na entrada, pois "Deus vai passar" (1Rs 19,11). Elias sai da gruta, mas a gruta não sai dele. Ele continua com a mesma visão limitada, achando que é ele quem defende a Deus! (1Rs 19,14)
  3. Deus vai passar! A nova experiência de Deus desintegra o mundo de Elias. Primeiro, um furacão! Depois, um terremoto! Depois, um fogo! No passado, ao concluir a Aliança com o povo naquela mesma Montanha Horeb ou Sinai, Deus tinha se manifestado no furacão, no tremor da montanha e nos raios de fogo (Ex 19,16). Eram os sinais tradicionais da presença atuante de Deus no meio do povo. Eram estes os critérios que orientavam a Elias na sua busca de Deus. Ele mesmo tinha experimen­tado a presença de Deus no fogo quando, no Monte Carmelo, enfrentou os profetas de Baal (1Rs 18,36-38).
  4. Elias estava fazendo uma coisa certa. Ele buscava Deus voltando às origens do povo. Ele voltou à experiência de Deus no êxodo. Mas os critérios da sua busca estavam desatualizados. Ele vivia no passado. Encerrou Deus dentro dos critérios! Queria obrigar Deus a ser como ele, Elias, o imaginava e desejava. Por isso acontece o inesperado, a surpresa total: Deus não estava mais no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo que tinha sido sinal da presença de Deus, pouco antes, no Monte Carmelo! Parece até um refrão que volta três vezes: Javé não estava no furacão! Javé não estava no terremoto! Javé não estava no fogo!
  5. É a desintegração do mundo de Elias. A crise mais violenta e mais dolorosa que se possa imaginar! Cai tudo! Pois se Deus não está aqui nestes sinais de sempre, então Ele não está em canto nenhum! É o silêncio de todas as vozes! É a escuridão da noite! E é neste momento, que se abre para Elias um novo horizonte. É no silêncio de todas as vozes que a voz de Deus se manifesta a Elias.
  6. Este silêncio total, a língua hebraica expressa-o dizendo: “voz de calmaria suave”, (qôl demamáh daqqáh). As traduções costumam dizer: “Murmúrio de uma brisa suave” A palavra hebraica, demamáh, usada para indicar a calmaria, vem da raiz DMH que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa suave indica algo, uma experiência, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar. Esvazia a pessoa, para que Deus possa entrar e ocupar o lugar. Ou melhor, Deus entrando provoca o vazio e o silêncio. Silêncio sonoro, solidão povoada! Vacare Deo diziam os antigos carmelitas, isto é, esvaziar-se para Deus!
  7. Elias cobriu o rosto com o manto (1Rs 19,13). Sinal de que tinha experimentado a presença de Deus exatamente naquilo que parecia ser a ausência total de Deus! A escuridão se iluminou por dentro e a noite ficou mais clara que o dia. É a libertação de Elias. Reencon­trando-se com Deus, ele se reencontra consigo mesmo. Não é ele, Elias, que defende a Deus, mas é Deus quem defende a Elias. Libertado por Deus, ele é livre para libertar os outros!
  8. A experiência de Deus reconstroi a pessoa e lhe revela a sua missão (1Rs 19,15-18). Refeito pelo encontro com Deus, Elias redescobre sua missão (1Rs 19,15-18) e se preocupa em dar-lhe continuidade, indicando Eliseu como sucessor (Rs 19,19-21). Antes, ele queria morrer. Já não via mais sentido no que fazia. Agora, a nova experiência de Deus mudou tudo. Ele volta para o lugar onde queriam matá-lo. Já não tem mais medo. Em vez de querer morrer, quer que sobreviva a sua missão. Sinal de que novamente crê no que faz e deve fazer.