Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm

1 - CIDADES (Municípios e distritos)

Carmo, AP, distrito do município de Macapá, Amapá. CEP: 68912-100.

Carmelópolis, CE, distrito do município de Campos Sales, Ceará. CEP: 63.151-000.

Monte Carmelo do Rio Novo, ES, distrito do município de Alto Rio Novo, Espírito Santo. CEP: 29.767-000.

Carmo, RJ, município do estado do Rio de Janeiro, próximo da margem direita do rio Paquequer, a NO de Cantagalo. Está a 221m de altitude. Dista 119km de Niterói, no rumo NNE. População em 1996: 15.175 habitantes. CEP: 28640-000

SANTA CARMEM, MT, município do estado de Mato Grosso. Pop. em 1996: 3.536 hab. CEP: 78.545-000.

Carmo da Cachoeira, MG, município do estado de Minas Gerais.  A cidade está situada sobre o ribeirão do mesmo nome, pertencente à bacia do rio Grande, a 907m de altitude. Dista da capital do Estado 217km, em linha reta, no rumo SSO. O município foi instalado em 17-12-1938. Pop. em 1996: 10.803 hab. CEP: 37225-000

Carmo da Mata, MG, município do estado de Minas Gerais. Pop. em 1996: 10.433 hab. CEP: 35547-000

Carmo de Minas, MG, município do estado de Minas Gerais. CEP: 37472-000

Carmo do Cajuru, MG, município do estado de Minas Gerais. Pop. em 1996: 15.961 hab. CEP: 35510-000

Carmo do Paranaíba, MG, município do estado de Minas Gerais. A cidade está situada a 1.067m de altitude, na serra da Mata da Corda, sobre um galho formador do Paranaíba. Dista 271km da capital do Estado, em linha reta, no rumo ONO. Município em 01-12-1873. Pop. em 1996: 28.482 hab. CEP: 38840-000

Carmo do Rio Claro, MG, município do estado de Minas Gerais. A cidade está situada à margem de rio Claro, afluente do rio Sapucaí, a 750m de altitude. Dista da capital do Estado 257km, em linha reta, no rumo OSO. Município em 20-10-1875. Pop. em 1996: 18.482 hab. CEP: 37150-000

Carmópolis de Minas, MG, município do estado de Minas Gerais. Pop. em 1996: 14.263 hab. CEP: 35534-000

Monte Carmelo, MG, município do estado de Minas Gerais. CEP: 38.500-000

Senhora do Carmo, MG, distrito do município de Itabira, Minas Gerais. CEP: 35907-000

Carmo do Rio Verde, GO, município do estado de Goiás. Pop. em 1996:  7.791 hab. CEP: 76340-000

Carmópolis, SE, município do estado de Sergipe. Pop. em 1996: 7.795 hab. CEP: 49740-000

Vila do Carmo do Tocantins, PA, município do estado do Pará. Pop.  CEP: 68409-000

Carmolândia, TO, município do estado de Tocantins. Pop. em 1996: 1.610 hab. CEP: 77840-000

Monte do Carmo, TO, município do estado de Tocantins. Pop. em 1996: 5.979 hab. CEP: 77585-000

Carmo, PE, vila do município de São José do Belmonte, Pernambuco.

Nossa Senhora do Carmo, PE, distrito do município de Pombos, Pernambuco. CEP: 55634-000

Nossa Senhora do Carmo, PR, distrito do município de Pato Branco, Paraná. CEP: 85514-000

2 - CACHOEIRA

Carmo, cachoeiras do rio Ji-paraná ou Machado, afluente do Madeira (margem direita), Rondônia.

3 - ILHAS

Carmo, ilha no rio Branco, afluente do Negro, nas proximidades do lago Matamatá - município de Catrimani, no estado do Amazonas.

Carmo, ilha do estado do Maranhão, na freguesia de Bacurytuba.

Carmen, ilha no rio Teles Pires ou São Manuel no trecho a montante do limite entre Mato Grosso e Pará.

 4 - LAGOA

Carmo, lagoa do estado do Rio de Janeiro, atravessada pelo canal de Campos a Macaé.

 5 - MONTES

Carmo, monte da parte Sudeste do estado de São Paulo, pertencente à serra do Guirra; situa-se entre os rios Guirra e das Cobras, no município de São José dos Campos. Altitude 1.000m.

Carmo, denominação da Serra Geral, no município de Porto Nacional, Tocantins. Altitude 200m. Também a denominam Monte do Carmo.

Serra do Carmo, elevação do estado do Rio Grande do Norte, na margem esquerda do baixo do rio Piranhas.

 6 - PONTAS[1]

Carmo, Ponta no estado do Pará, no município de Chaves.

Carmo, Ponta ao Sul da foz do rio da Vigia, no estado do Pará.

Carmo, Ponta ao Sul da foz do Rio Grande do Norte, banha o município de Mossoró e desagua no rio de este nome.

 7 - RIOS

Carmo, rio do estado de São Paulo, que tem suas nascentes no município de Franca, lançando suas águas após o curso de 60km, na margem esquerda do rio Grande, nas proximidade de Miguelópolis.

Carmo, rio da parte central do estado de Goiás, que tem suas cabeceiras na serra dos Javaés; dirige-se para Sudeste, e laça suas águas, após 95km de curso, na margem esquerda do Tocantins, na imediações de Porto Nacional.

Carmo, rio da parte Este do estado de Minas Gerais, que tem suas nascentes nas imediações de Bota Fogo, segue para Nordeste, e forma, com o rio Piranga, o rio Doce, após percorrer 50km.

Carmo da Cachoeira, afluente do rio Araguaia, que banha o estado de Goiás.

8 - NOMES ANTIGOS DE CIDADES

 Carmo, antigo nome do município de Carmópolis, SE.

Carmo da Bagagem, antigo nome do município Monte Carmelo, MG.

Carmo da França, antigo nome do município de Ituverava, SP.

Carmo de Morrinhos, antigo nome do município de Prata, MG.

[1] “Ponta: Lugar de um rio onde a passagem é difícil” (Dicionário Aurélio).

Neste domingo, 1º de julho. 15 irmãos e irmãs da Venerável Ordem Terceira do Carmo de São João del Rei-MG, fizeram os votos solenes naquele sodalício. Parabéns! 

Frei Emanuele Boaga, O.Carm.

Convém também que refutas sobre o que hás de fazer para perseverar vivendo com perfeição a vida eremítica.

Segue minha promessa dizendo: “mandei aos corvos que te levem de comer”. Julguei ser muito necessário anunciar-te isto para teu consolo. Pois, ainda que estejas nadando em delícias inefáveis, enquanto bebes da torrente do meu gozo, tua alegria, entretanto, não pode ser completa por duas causas.

A primeira porque do íntimo de tua alma sentirás um veementíssimo desejo de ver claramente o meu rosto e ainda não podes vê-lo porque “nenhum homem me verá sem morrer “ (Êx 33, 20), “pois eu habito em uma luz inacessível, a qual nenhum homem viu, nem pode ver nesta vida” (1Tm 6, 15).

A segunda causa é porque enquanto estás te esforçando para saborear aquelas delícias inefáveis da torrente do meu insuperável gozo, de repente te verás privado delas pela fraqueza de teu pobre corpo e te encontrarás de novo contigo mesmo, “pois o corpo corruptível prende a alma, e este vaso de barro deprime a mente que está ocupada com muitas coisas” (Sb 9, 15).

Por estas duas razões: não poder ver claramente o meu rosto e não poder permanecer muito tempo naquela gloriosa contemplação de doçura pela fraqueza de teu corpo corruptível, se quiseres perseverar na perfeição, deves suplicar a Deus com gemidos, dizendo-lhe: “meu Deus, meu Deus! A Ti aspiro e me dirijo desde a aurora. De Ti está sedenta a minha alma! E da mesma maneira o está também o meu corpo! Nesta terra deserta, sem caminho e sem água me ponho em tua presença como em teu santuário para contemplar teu poder e tua glória” (Sl 62, 2-3).

Para que então não morras desconsolado com os incontidos soluços e tristezas do coração pela ânsia de ver-me e a fome de saborear a suavidade da doçura de minha glória, “mandei aos corvos que te levem de comer” para dar-te consolo.

Por corvos se entendem aqui, alegoricamente, os Santos Profetas que te precederam e mandei para que fossem teus modelos. Eles nunca sentiram presunção da equidade de sua vida santa, mas conhecendo-se bem pela graça da humildade e vendo sua fraqueza, confessavam ao próprio deficiências dizendo: “se dissermos que não temos pecado, nos enganamos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1Jo l, 8). De cada um destes Padres se escreveu; “Quem prepara para o corvo seu alimento quando seus filhotes levantam para Deus seus gritos, indo de um lado ao outro do ninho por não ter nada que comer?” (Jó 38, 3).

O corvo tem o instinto de olhar para os seus filhotes quando nascem e os vê branquinhos e que se movem de um lado ao outro do ninho, abrindo seus bicos e pedindo alimento. Porém só os alimenta ao vê-los com plumagem negra, reconhecendo pela cor que se parecem com ele; quando vê que a plumagem se toma negra, então põe todo o seu esforço em alimentá-los. De semelhante modo nascem também os pintinhos ou discípulos do Profeta que eu enviei e logo, com seu exemplo, chegam a conseguir tanta graça que bebem da torrente de minha delícia, como bebeu o Profeta Elias.

Quando por fraqueza da própria natureza não chegam a saborear de minha suave doçura, devem dirigir-me suas súplicas movendo-se com o desejo de um lado para outro, porque ainda não lhe é possível tomar do desejado alimento da doçura espiritual, e como está escrito: “se não vos tomardes semelhantes às crianças na simplicidade e inocência, não entrareis no reino dos céus” (Mt 18, 3); devem reconhecer humildemente que ainda são filhotes ou crianças na virtude e não deixar de crescer no bem para não cair no mal, pois está escrito: “todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tg 13, 2).

Porque muitas vezes deixam de meditar em seus pecados e na própria miséria e por isto não podem vestir-se da cor negra da humildade que precisam ter para preservar-se do brilho vão da soberba do mundo. Quanto mais pretendem brilhar no exterior, afanando-se nas atenções da presente vida, tanto menos aptos estarão para poder receber e apreciar em sua alma aqueles manjares espirituais.

O corvo olha os biquinhos abertos de seus filhotes que, famintos lhe pedem de comer, porém enquanto não os vê cobertos de preto não lhes dá alimento, e o Profeta, meu enviado antes de levar e manjar de minha doçura a seus discípulos para que o saboreiem, lhes ensina e exorta a que, como ele, abandonem o brilho vão da vida presente e espera para ver se pelos sofrimentos da penitência e pela meditação em seus pecados se vistam de negro e se reconheçam humildes em sua fraqueza. Se com a humilde confissão de sua vida passada se vestirem como de negras plumas de prantos e gemidos brotados do íntimo da alma, meu Profeta acudirá solicito a todos que lhe pedem com o manjar que eu mesmo tenho lhes preparado, já que os convida a saborear a doçura que mana da torrente de minhas delícias e tanto mais gostosa e proveitosamente os alimenta que mais os vê perfeitamente separados do brilho do mundo e cobertos de negro pela compunção da humilde penitência.

Para que os discípulos se deem perfeita conta de que os alimentos oferecidos pelo Profeta os recebem diretamente de mim, se lhes propõe muito prudentemente em forma de pergunta: “Quem prepara ao corvo seu alimento quando seus filhotes levantam seus pupilos para Deus, indo de um lado a outro do ninho por não ter nada para comer?” (Jó 38, 41). Procura convencer-te: só Deus dá comida e nenhum outro, como está escrito: “chamai pelo que dá alimento aos filhotes do corvo” (Sl 146, 9).

Meu filho, quando chegares à perfeição profética e viveres com perfeição o fim da vida monástica eremítica, e te for dado beber da torrente de minha delícia, não te envaideças porque gostas de tanta doçura; sentirás que, de repente, desaparece por algum tempo a causa da fraqueza e miséria do teu corpo.

Então, cuida bem para que não desças da altura desta perfeição e tomes a abraçar algumas das coisas que já havias deixado e renunciado; porque “quem põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o reino dos céus” (Lc 9, 62) e por isto, “esquecendo o que ficou para trás, e olhando só o que estopara afronte” (Fl 3, 2), “esforçando-te a ti mesmo prossegue até obter o prêmio a que Deus te chama lá do alto!”

Não se promete o prêmio a quem começar a viver isto, mas a quem perseverar até o fim, este se salvará (Mt 10, 22). Prova isto, indo e vindo com a consideração, como os filhotes do corvo no ninho, deves dizer-me em súplica ininterrupta: “Como o cervo sedento anseia pelas fontes de águas, assim, ó meu Deus, chama por Ti a minha alma” (Sl 61, 2).

E se não voltares a experimentar logo aquela suavidade da minha doçura, já antes experimentada, será para que te dês conta, primeiramente, de que se chegaste a provar de tão inefável doçura, não foi por teus próprios méritos, mas por minha benignidade, e em segundo lugar para que a desejes com maior veemência e aumentando o desejo te prepares melhor para poder consegui-la.

E para que neste tempo não desfaleças de todo na perfeição, “mandei aos corvos que te levem o alimento” e assim dispus que os santos Profetas, teus antecessores, te alimentassem com a doutrina dos exemplos da humilde penitência; com a penitência, viam eles, humilhados o negror de seus pecados e não caiam no fascinante brilho da vida carnal.

Para que durante este tempo saibas o que deves fazer, alimenta-te com muita solicitude com sua doutrina como está escrito: “o Sábio buscará a sabedoria de todos os antigos e estudará nos Profetas” (Eclo 39, l).

Se à sua imitação te esforças por apagar de ti o vão brilho da vida presente e procuras vestir-te de luto, como os filhotes do corvo, com a meditação da própria fraqueza e a prática da verdadeira humildade e elevas ao Senhor tuas fervorosas e humildes preces e a correspondente confissão de teus pecados e os abundantes gemidos de dor, como se fossem as plumas negras do corvo; e também se, à semelhança de seus filhotes, te separas do tumulto das cidades, estabelecendo tua vivenda na solidão, te escondes longe da glória da vida mundana e das posses e demais bens e riquezas do mundo, o Senhor te dará de novo de beber e saborearás a doçura do manjar que nasce da torrente de sua delícia.

Por isto se tem escrito: “olhai as aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em seus celeiros, e Deus as alimenta” (Mt 6, 26).

Já te ensinei como deves viver para perseverar humilde na perfeição da vida profética eremítica.

*A ORAÇÃO NA VIDA CARMELITANA. Reflexões e textos de autores carmelitanos sobre a Comunhão com Deus e a Oração no Carmelo. Textos preparados por Frei Emanuele Boaga, O.Carm. ( Para Encontros de Espiritualidade Carmelitana das Irmãs Carmelitas da Divina Providência. JULHO - 1986 - Rio Janeiro)

«Viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-Lo fielmente com coração puro e cons­ciência reta»[1]: esta frase de inspiração paulina é a matriz de todos os componentes do nosso carisma e a base sobre a qual Alberto construiu o nosso projeto de vida. O contexto particular palestiniense das origens e a aprovação da Ordem na sua evolução histórica por parte da Sé Apostólica enriqueceram com novos sentidos inspiradores a fórmula de vida da Regra.

Os Carmelitas vivem o seu obséquio a Cristo, empenhando-se na busca do rosto do Deus vivo (dimensão contemplativa da vida), na fraternidade e no serviço (diakonia) no meio do povo. A tradição espiritual da Ordem sublinhou como estes três elementos fundamentais do ca­risma não são valores separados ou sem conexão, mas estão, antes, estreitamente ligados entre si.

Deste modo, a mesma tradição elaborou intensamente a experiência do deserto como pro­cesso di­nâmico unificante de tais valores: é o empenho do Carmelita em fazer de Cristo crucifi­cado, homem despojado e esvaziado, o fundamento da própria vida, e em ordenar para Ele todas as suas energias através da fé, destruindo qualquer obstáculo que se levante contra a perfeita dependência dele e contra a perfeição da caridade para com Deus e com os irmãos. Este proces­so de despojamento, que conduz à união com Deus, fim último de todo o crescimento do ho­mem, é evocado na nossa espiritualidade pelos temas da "puritas cordis" e do "vacare Deo", expressões da abertura total a Deus e do esvaziamento progressivo de si mesmo.

Quando, através deste processo, chegamos a ver a realidade com os olhos de Deus, a nossa ati­tude para com o mundo transforma-se segundo o seu amor e manifesta-se na nossa vida de fraterni­dade e de serviço a contemplação da presença amorosa de Deus[2].

*CONSTITUIÇÕES DA ORDEM DOS IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA do MONTE CARMELO.

[1]     Regra, Prólogo; cfr 2 Cor 10,5; 1 Tim 1,5.

[2]     Cfr XII Cons. Prov., 454.

A Trindade Santa atraiu-nos à comunhão consigo e entre nós através da fé, da espe­rança e da caridade. Estas virtudes experimentam-se, nutrem-se e exprimem-se na oração, quando voltamos a nossa atenção para Deus, em adoração e amor, em escuta obediente, no arrependimento sincero, na súplica carregada de esperança[1].

A oração é fruto da acção do Espírito Santo em nós e na nossa vida. Ele sugere-nos as palavras quando não as sabemos; guia-nos à unidade com toda a Igreja e ajuda-nos a aprofun­dar a nossa ex­periência de intimidade com Deus.

A tradição carmelita quanto à oração é formada pela experiência concreta dos seus mem­bros através da sua história. Esta experiência conta a história da presença amorosa de Deus nas vidas dos carmelitas, de modo a que o carmelita pode exclamar com o Salmista: «Enaltecei co­migo ao Senhor e exaltemos juntos o seu nome», e ainda «Saboreai e vede como o Senhor é bom; feliz o homem que n'Ele se refugia»[2].

A Ordem do Carmo adoptou, desde o início, quer uma vida de oração quer um aposto­lado da oração. A oração é o centro indelével da nossa vida e dela brotam uma comuni­dade e um ministério autênticos[3]. A oração da comunidade carmelita deve ser um sinal lumi­noso da Igreja orante no mundo do nosso tempo. Ela toma como exemplo a Maria, Mãe de Je­sus, que meditava to­das as coisas no seu coração e proclamava as maravilhas que Deus n'Ela operou[4].

Meditando e penetrando sempre mais a fundo no mistério de Cristo, tornamo-nos sem­pre mais obedientes no nosso seguimento, com um compromisso cada vez mais profundo no trabalho dos seus discípulos pela redenção da humanidade[5].

No Pai Nosso, Jesus ensinou-nos a orar de uma maneira que liga o céu e a terra. Também na nossa espiritualidade integramos o nosso amor pelo mundo e o nosso sentido da transcen­dência[6].

Inspirando-nos nas fontes genuínas da espiritualidade cristã, unimos o sentido de Deus com a nossa experiência humana. De facto, quando rezamos temos diante dos olhos o mundo e todas as suas vicissitudes, com a consciência do nosso chamamento para servir todos os membros da Igre­ja[7]. Isto pode exigir uma busca comum de novos métodos de oração, co­mo a meditação dialogada, a prece bíblica comunitária e outras novas formas[8].

A oração pode assumir muitas formas segundo as diferentes necessidades da comu­nidade e dos seus membros e é alimentada pela busca contínua de Deus, apoiada pela "lectio divina", pelo estudo, pela meditação e pelos sacramentos. Esta busca contínua de Deus deve ser o fundamento e a expressão mais alta da vida comunitária.

*CONSTITUIÇÕES DA ORDEM DOS IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA do MONTE CARMELO.

 

[1]     Cfr ET 43.

[2]     Sal 33,4.9.

[3]     Cfr II Cons. Prov., 64.

[4]     Cfr Lc 2,19.51; 1,46-55.

[5]     Cfr PO 14, 18; EE 29.

[6]     Cfr F. Thuis, Fascinados pelo mistério de Deus. Contemplação: fio condutor na vida do Carmo, Roma, Cúria Generalícia dos Carmelitas, 1983, pp. 42-43.

[7]     II Cons. Prov., 91.

[8]     Cfr II Cons. Prov., 84; XII Cons. Prov., 458.

Grande festa no Paraguai no sábado, com a beatificação de Maria Felícia Guggiari Echeverría, Carmelita Descalça também conhecida como Chiquitunga. O prefeito da Congregação das Causas dos Santos, cardeal Angelo Amato, presidiu a missa de beatificação.
A jovem Chiquitunga “nos mostra que o caminho das Bem-aventuranças é um caminho feito de plenitude. É possível, é real e enche o coração”, escreve o Papa Francisco em seu discurso aos jovens do Paraguai, durante sua viagem ao país, em julho de 2015, citando como exemplo Maria Felícia de Jesus Sacramentado, Chiquitunga, como seu pai a chamava carinhosamente por causa de seu físico magro, em contraste com a força de sua personalidade e fé.

Desde o nascimento até a morte, o seu imperativo de vida foi doar tudo ao Senhor, encontrar amor para oferecer-lhe. Um estilo de vida que sintetizou na espécie de fórmula matemática.

Breve biografia

Maria Felicia Guggiari Echeverría nasceu em Villarrica, em 12 de janeiro de 1925. Desde os 14 anos, dedicou-se intensamente à oração e ao apostolado na Ação Católica do Paraguai.

Durante este tempo, ajudava na catequese de crianças, jovens trabalhadores, universitários com problemas, pobres, doentes e idosos.

Em 14 de agosto de 1955, aos 30 anos, respondeu ao chamado de Deus e entrou para a vida contemplativa na Ordem das Carmelitas Descalças. Seu nome passou a ser Maria Felicia de Jesus Sacramentado.

Aos 34 anos, teve hepatite e, em 28 de março de 1959, domingo de Páscoa, faleceu. As últimas palavras da Chiquitunga foram: “Querido Papai, sou muito feliz! Como é grande a religião católica! Que alegria encontrar com meu Jesus! Sou muito feliz!” e “Jesus, eu te amo. Que doce encontro! Virgem Maria!”.

Em 13 de dezembro de 1997, começou o seu processo de beatificação. Em 2010, foi declarada “venerável” por Bento XVI.

Em 1º de junho de 2017, a junta médica do Vaticano comprovou a sua intercessão na cura milagrosa de Angel Ramón, um recém-nascido que em 2002 reviveu depois de permanecer durante 20 minutos sem sinais vitais após o parto. Fontes: https://www.acidigital.com; www.facebook.com/vaticannews.pt

Dom Frei Wilmar Santin, O. Carm. Bispo da Prelazia de Itaituba-PA.

O martírio também fez parte do dia-a-dia da vida dos carmelitas nas missões amazônicas. É verdade que não foram muitos, mas aconteceram. Não há em geral notícias detalhadas, mas há a informação do martírio.

Frei Francisco de Santo Anastácio

Deve ter sido o primeiro mártir carmelita. Não temos a data nem sequer o ano, mas foi antes da viagem de Frei Vitoriano Pimentel realizada em 1702, visto que este se refere duas vezes ao martírio de Frei Francisco de Santo Anastázio em seu relatório. Informa que o provincial Frei José de Lima “mandou para os Solimões por Missionários a Frei João Guilherme, e a Frei Francisco de Santo Anastázio, e matando o gentio tiranamente a este seu Missionário”. Na segunda menção precisa que o martírio foi na aldeia de Manutá[1].

Frei Francisco Xavier

Deste mártir só temos uma pequena informação: “En 1701, otro fraile, Francisco Javier, fue asesinado por los indios coxigueras en las islas de Solimões”[2].

Frei Matias de São Boaventura Diniz

Frei Matias foi martirizado em 1728. Assim nos conta o Barão de Marajó:

“Quando missionava uma aldêa de indios CAYUVICENAS, junto á foz do MATURÁ, affluente da margem esquerda do Solimões, entre MATURÁ e TONANTINS, no atual municipio de S. PAULO DE OLIVENÇA, ditos indios trucidaram a Fr. Mathias”[3].

Frei Raimundo de Santo Eliseu Barbosa

Foi martirizado em Moreira no dia 24 de setembro de 1754[4]. Mas deste martírio Baena nos dá alguns detalhes sobre como aconteceu e o motivo.

Participa do Rio Negro o Major Felgueiras aõ Governador um disforme motim dos Indianos da parte superior deste rio; os quaes conduzidos como uma alluviaõ pelo seu agitador o Indiano Domingos da Aldea de Dary descêraõ o rio, entráraõ talando armados a Aldea de Caboquena trucidaraõ o Missionario Carmelita Frei Raimundo de Santo Elyseu, e o proprio Principal Caboquena, e mais individuos, e abrazáraõ de todo a Igreja; d´aqui subiraõ para a Aldea dos Manáos, roubarão os sagrados vasos, reduziraõ a pequenas partes as Sagradas Imagens e o Sacrario, e incineraraõ a Igreja e a Povoação ... e tudo para fazer vingança de haver tolhido o Missionario ja citado o concubinato aõ sobredito Domingos concussor das tres Aldeias referidas”[5].

Frei Antônio de Andrade

Foi trucidado numa aldeia às margens do lago de Cupacá, em 1720[6]. Sobre o o episódio eis o que escreve Francisco X. R. Sampaio:

Diario de Viagem § XLIX. “Na parte oriental do lago Cupacá e proximamente à barra esteve em outro tempo huma povoação, composta da nações Achouari e Juma. O espírito de rebelião, proprio na incostancia natural dos índios, moveo a estes ultimos ao sacrilego attentado de matarem a seu missionario Fr. Antonio de Andrade, religioso Carmelita. Governava este Estado o Illmo. e Exmo. Bernardo Pereira de Berredo, (tão famoso pela elegante obra dos seus annaes historicos). Mandou este general castigar os índios júmas, e se extinguiu aquella aldeia[7].

*AS MISSÕES CARMELITAS NA AMAZÔNIA. Dissertação de Mestrado em História Eclesiástica.

[1] PIMENTEL, Relação da Jornada, em CARVALHO, Presença e permanência da Ordem, 182 e  185.

[2] SMET, Los Carmelitas, 26.

[3] BARÃO DE MARAJÓ,  As regiões amazonicas, Lisboa 1895, 85. Citado por PRAT, Notas históricas, 292.

[4] Cf. PRAT, Notas históricas, 278.

[5] BAENA, Compêndio das Eras, 168.

[6] Cf. PRAT, Notas históricas, 291;  REIS, História do Amazonas, 83.

[7] PRAT, Notas históricas, 252.

Frei Antônio Silvio da Costa Junior, O.Carm.

Intercessão: Quando a oração se faz redenção!

Meu desejo de salvar almas crescia todo dia. Parecia-me ouvir Jesus dizer a mim o que disse à samaritana: «Dá-me de beber».[1]

(Santa Teresinha do Menino Jesus)

Na oração vivemos um momento em que Deus espera ouvir a nossa voz, não palavras que soam como um sino, ou vazias como um discurso já preparado. Deus espera ouvir a nossa voz com o sotaque familiar, o sotaque de seus filhos e filhas, o sotaque de seu Filho, Jesus Cristo. Dietrich Bonhoeffer, teólogo protestante morto na prisão nazista de Flossenburg, dizia sobre os salmos: «Se a Bíblia contem um livro de orações, devemos deduzir que a palavra de Deus não é somente aquela que ele quer dirigir a nós, mas é também aquela que ele quer ouvir de nós, pois é a Palavra de seu Figlio dileto».[2] Nas nossas orações conta pouco o número ou a beleza das palavras, conta sim a nossa atitude de orantes: o amor que temos por Deus, o desejo que temos dele, a alegria que sentimos por estarmos juntos dele.

Orar é sobretudo um ato de fé. Fé que se faz louvor, que se faz súplica, que se faz lamento. Fé que se faz afirmação da própria crença. Fé que se faz intercessão. Santa Teresinha entendeu bem isto e da oração fez belas afirmações, não afirmações com o rigor de um teólogo, mas com a certeza de um orante. Sim, é possível falar muito bem da oração e seu significado, mas o discurso é mais eloqüente quando é feito por um verdadeiro, uma verdadeira orante.

É um traço marcante do perfil espiritual das monjas carmelitas o ardor contemplativo e o desejo de salvar almas. Na sua vida de oração, Santa Teresinha conjugou estas dois compromissos carmelitanos na forma da oração de intercessão. Santa Teresinha rezou, e reza, pela salvação das almas! Ela não podia entender sua consagração como um oásis de paz e doçura, mas como um campo de batalha onde deveria resgatar as almas que sempre foram de Cristo. Ela queria salvar almas para Cristo e fazê-lo amado por todos: pecadores, consagradas e consagrados, sacerdotes, povos não cristãos, contemporâneos e posteriores, enfim, toda a humanidade era matéria da oração de Santa Teresinha. Ela dizia ser este o seu tesouro: «Vós bem sabeis, Senhor que não tenho nenhuma outra riqueza senão as almas que unistes à minha».[3]

Santa Teresinha desde a infância se interessava pela oração, de um modo todo pessoal; ela dizia que muitas vezes se distanciava das pessoas e coisas e pensava, pensava em Deus, na vida e na eternidade. Só mais tarde, como monja carmelita, compreendeu que aquela era uma forma de oração. Mas o seu modo pueril de rezar foi qualificado com um episódio particular de sua vida: a noite da sua conversão! Na verdade foi a noite em que deixou de lado a infantilidade e começou a sua vida de virtude. Aquela noite de Natal de 1886, mudou a vida de Santa Teresinha. Naquela noite santa, noite de luz, Santa Teresinha experimentou a misericórdia de Deus que fortalece os fracos com a fragilidade de seu filho nascido pobre, ao relento. - A humanidade de Jesus fortalece as almas e as torna capazes de avançar no caminho da santidade. - Tendo feito a experiência da força que advém da misericórdia de Deus, Santa Teresinha assumiu a tarefa de intercessora pelos pecadores e fracos, também pelos irmãos e irmãs que estão na luta, os sacerdotes e missionários. Santa Teresinha, como ela mesma disse, cresceu de vez: «Nesta noite quando se fez fraco e sofredor por meu amor, tornou-me forte e animosa, revestiu-me com sua armadura. Desde aquela noite abençoada, não me deixei vencer em nenhum combate». [4]

Fortalecida no espírito, e já com 14 anos, ela contou como lhe impressionou uma imagem do Crucificado: «No coração escutava continuamente o brado de Jesus na Cruz: “Tenho sede!” E estas palavras acendiam em mim um novo ardor... Queria dar de beber ao meu Amado, e sentia-me devorada pela sede de salvar almas... Não eram ainda as almas dos sacerdotes que me empolgavam, mas as dos grandes pecadores. Ardia em mim o desejo de desviá-los das chamas eternas...».[5] Começou para Santa Teresinha um novo período quando descobriu o valor da oração de intercessão no episódio de Pranzini. Ela referia-se à oração de intercessão como uma maternidade: gerar na sua virgindade um novo filho para Deus, um filho que nasce junto à cruz.

O crime de Pranzini que comoveu toda a França e Santa Teresinha ouvindo falar deste celerado, procurou inteirar-se do caso lendo-o nos jornais, mesmo a custa da desobediência de uma ordem paterna que proibia tal leitura. Pranzini havia assassinado com grande ferocidade duas mulheres e uma menina de 12 anos, foi condenado a morte e revelava-se um impenitente. Os jornais falavam do caráter frio e sádico do famigerado criminoso, que além de tudo ria-se da morte e dos sacramentos. O jornal La Croix, o jornal católico que chegava à casa dos Martin, acentuava este caráter impenitente de Pranzini, apresentando-o como um exemplo da maldade intrínseca ao niilismo, uma corrente filosófica muito em moda naquele tempo na França. Santa Teresinha o assumiu como seu primeiro filho espiritual e não se deu paz, nem mediu sacrifícios, para ver naquele homem sem fé um sinal de conversão. Obteve a resposta as suas orações quando leu que no momento da execução Pranzini beijou três vezes as chagas do crucifixo. Assim ela contou o fato: «Minha oração foi atendida ao pé da letra! ... Obtive o sinal pedido, e o sinal era um expressão fiel das graças que Jesus me tinha outorgado, para me induzir a rezar pelos pecadores. Não foi diante das Chagas de Jesus, vendo correr seu sangue divino, que senti a sede de salvar almas? Queria eu dar-lhes de beber deste Sangue imaculado, e os lábios do “meu primeiro filho” foram colar-se às sagradas chagas! Que resposta de inefável doçura! A partir dessa graça singular, dia a dia aumentava o meu desejo de salvar almas».[6]

A narração deste episódio, e da oração de Santa Teresinha, é uma categórica afirmação do valor e fecundidade do amor consagrado e um testemunho evidente da confiança sem limites na graça de Deus. Relembra o modelo mais antigo de intercessão, aquele de Abraão intercedendo por quem já estava perdido, e permito-me uma liberdade de interpretação bíblica, mas parece que o Senhor de alguma forma teve piedade de Sodoma e Gomorra, pois Jesus fala que no dia do juízo haverá piedade para estas duas cidades! Santa Teresinha rezou por alguém que parecia condenado ao inferno, obstinado como Sodoma e Gomorra, e que só conheceu o amor de Deus no último instante, o famigerado e odiado Pranzini justiciado pelos homens foi acolhido na misericórdia de Deus. Assim ela declarou sua confiança na redenção de seu filho espiritual: «Sua alma foi então receber a misericordiosa sentença daquele que declara haver maior alegria no céu por um só pecador que se converte que por noventa e nove justos que não precisam de penitência!»[7]

A oração de intercessão consiste em pedir a favor de outra pessoa, essa abraça até mesmo aqueles por quem teríamos toda razão para odiar, ou rejeitar. Esta oração, tão amplamente exemplificada na Bíblia e na história da Igreja, é a expressão de um coração em sintonia com a misericórdia de Deus. De fato, a oração de Santa Teresinha foi um belo testemunho desta sintonia com a misericórdia divina que não esquece de nenhum de seus filhos, nem mesmo os mais distantes.

A oração de intercessão conforma o orante com Jesus Cristo, o único intercessor em favor de todos, particularmente dos pecadores. Em Santa Teresinha o desejo de salvar almas a identificou com o caminho de Cristo. A respeito de Pranzini ela confessava: «A todo custo queria impedi-lo de ir ao inferno. Para conseguir meu intento aplicava todos o meios imagináveis. Sentindo que nada conseguiria por mim mesma, ofereci ao Bom Deus todos os infinitos méritos de Nosso Senhor, os tesouros da Igreja. Pedi afinal que Celina mandasse celebrar uma missa em minha intenção, não me animando a fazê-lo pessoalmente com receio de ser obrigada a declarar que era por Pranzini, o grande criminoso».[8] Assim, já na adolescência, confiou seu primeiro filho espiritual, o famigerado Pranzini, ao Senhor na eucaristia. E a sua última comunhão eucarística foi oferecida pela conversão de um sacerdote tristemente conhecido, o ex-padre Jacinto Loison, um carmelita que abandonou a Igreja, casou-se e andava por toda a França denegrindo a fé católica.

A eucaristia é o sacrifício da Igreja, o corpo de Cristo, no qual ela participa da oferta do seu Senhor e com ele faz a oferta de si mesma. A Igreja une-se a intercessão de Jesus junto ao Pai em favor de todos. Santa Teresinha entendeu bem que em sua vida, como na vida de todo fiel, na participação eucarística o seu sofrimento, oração e trabalho eram unidos a oferta total de Cristo pela redenção e salvação das almas. A oração de intercessão não se resume somente em pedir pelos outros mas, unida à oração de Jesus, torna-se oração redentora; a maior graça que Santa Teresinha alcança para alguém é a aproximação de Jesus e o reconhecimento dele como único Salvador e Senhor. Foi o que aconteceu no episódio de Pranzini.

Santa Teresinha creu na força da oração de intercessão unida ao sacrifício de Cristo quando ainda jovem rezou pelo infeliz Pranzini. Mais tarde, já no convento, orou e ofereceu sua vida pelos sacerdotes e missionários, sobretudo pelos padres Berllière e Roulland, e também pelos anônimos e desconhecidos. Descobriu a essência da contemplação, oferecendo-se toda numa entrega de amor ao Amor Misericordioso. E associou o seu próprio sacrifício, as doenças que suportou por amor a Jesus, ao Calvário para salvar almas e conseguir o alívio de outros doentes.

 O sacrifício dá a oração um caráter apostólico, missionário, como acreditava Santa Teresinha, colocando-se aos pés da cruz e participando ativamente da redenção que jorra da cruz de Cristo. Quando à dor física juntou-se a aridez espiritual e os seus dias tornaram-se como uma longa noite escura, Santa Teresinha fez desta noite uma oração: «Senhor, a vossa filha... pede perdão por seus irmãos, aceita comer durante o tempo que queirais o pão da dor e não quer levantar-se da mesa cheia de amargura onde comem os pecadores até o dia que determinareis».[9]

Da sua experiência de oração e intercessão fez ensinamento e estimulava suas irmãs de clausura a oferecer suas orações e sofrimentos pela salvação das almas. Certa vez escreveu à sua irmã Celina: «Ofereçamos nossos sofrimentos a Jesus para salvar as almas, as pobres almas! Essas têm menos graças do que nós e todavia todo o sangue de um Deus foi derramado para salvar-las. ... Se um suspiro pode salvar uma alma, o que não conseguirão sofrimentos como os nossos?»[10]

Santa Teresinha nada pedia para si, apenas para os outros, sobretudo para os mais débeis. Sentou-se à mesa dos pecadores e, se mais não podia fazer, oferecia a si mesma como vítima de louvor pela salvação das almas. De fato, seu leito na enfermaria do convento de Lisieux tornou-se um altar de intercessão, no qual à sua oração somava seus sofrimentos físicos. Oferecia a inutilidade dos remédios e a dedicação de suas irmãs e médicos pela cura de outros doentes. «Estou convencida da inutilidade dos remédios para curar-me; mas, fiz um acordo com Deus, para que possam ser de proveito para os pobres missionários doentes, que não têm nem tempo nem meios para curar-se. Peço-lhe que os cure em meu lugar, com os remédios e o repouso que me obrigam». [11].

A vida de Santa Teresinha ensina-nos que orar é natural como respirar, viver, alimentar-se... Orar é um olhar de amor para o céu! Não cria ter a força dos grandes orantes e ascetas da Igreja, e também não cria em orações longas “pré-fabricadas”. Como ela rezava? – «Digo a Deus com simplicidade o que quero... e ele sempre me entende».[12] Orava assim como uma filha que fala ao Pai. A sua oração reproduz o quanto ensina o Catecismo da Igreja Católica: é uma oração de intimidade com Deus. [13] E o Catecismo exemplifica a oração de contemplação e intercessão com aquela de Moisés que falava com Deus como a um amigo. Santa Teresinha fala a Deus com familiaridade! E não reza por si, mas pelo povo que Deus conquistou e está conquistando com a ação apostólica da Igreja, sua mãe: «Quando estarei no Céu, irei para junto do Bom Deus... que me dirá: “O que quer minha filhinha?” E eu responderei: “A felicidade para todos aqueles que amo” E farei o mesmo diante de todos os Santos».[14]

Quando Santa Teresinha falava com Deus como a um pai, conversava sobre as pessoas e intercedia por elas. Para ela orar é amar, é um ato de amor que infunde vida até nos corações mais empedernidos. De fato, ela reconheceu sua vocação como um apostolado que repercute em toda a Igreja: «Compreendi que só o amor fazia os membros da Igreja atuarem, e que se o amor se extinguisse, os Apóstolos já não anunciariam o Evangelho e os Mártires se recusariam a derramar seu sangue... Sim, descobri o meu lugar na Igreja... No coração de minha mãe, a Igreja, eu serei o amor». [15]

Orar é amar! Pouco antes de morrer num diálogo com sua irmã Celina dizia: «sofro muito, então rezo... (E o que diz a Jesus? Perguntou Celina.) Não lhe digo nada, amo-o!»[16] Em outro colóquio com Celina afirmava que «é natural pensar em quem se ama...»[17] E dava o passo necessário à perfeição do amor: amar Jesus é amar aqueles a quem ele ama e sentar-se com ele à mesa dos pecadores, pois são os doentes que precisam de médico. Ela fez da oração de intercessão um apostolado de salvação não conhece limites, sejam estes geográficos ou temporais. Enquanto houver uma alma para salvar Santa Teresinha não se dará descanso: «Voltarei, o meu céu passarei fazendo o bem na Terra, até o fim do mundo... Não quero descansar enquanto houver uma só alma para salvar».[18]

O Catecismo da Igreja Católica fala que a oração de intercessão é como um misterioso combate, que estimula a audácia do orante, que confia em Deus que é amor.[19] E orar nem sempre foi fácil para Santa Teresinha; quantas vezes a oração era um deserto árido e difícil. Quantas vezes se distraia e até mesmo rezar o terço lhe parecia difícil, apesar de seu grande amor à Virgem Maria! Ela reagia a esta dificuldade procurando ser mais assídua à oração, pois dizia «É certo, com a oração e o sacrifício que podemos ajudar os missionário».[20] Ela acreditava que não se deve abandonar a oração por mais penosa e inútil que pareça, mas é preciso consagrar a Deus este momento de morte interior e, por graça divina, descobrir o grande amor que ele tem por nós. Nestes momentos lançava mão de algumas armas próprias: um bom livro espiritual; o evangelho, não para ler, mas para saborear as palavras de Jesus; rezar lentamente o Pai nosso ou a Ave Maria; lançar um olhar para Jesus no sacrário ou para Maria. «Para mim a oração é um impulso do coração, um simples olhar para o Céu, um grito de gratidão e amor no meio da provação como no meio da alegria».[21] A confiança é a mola principal da oração, e Santa Teresinha ensina que orar exige confiança e abandono: «Quando tiver aportado, ensinar-vos-ei, como devereis singrar pelo mar tempestuoso do mundo: com o abandono e o amor de um criança, ciente de que seu pai lhe quer bem e não poderia deixá-la abandonada à hora do perigo... O caminho da confiança, simples e amorosa é bem indicado para vós».[22]

A contemplação não significa deleite e gozos espirituais, a vida de Santa Teresinha testemunha o contrário: sua vida foi marcada por um longo período de aridez espiritual sem deixar a determinação de fazer a vontade de Deus. Sua vida demonstra que contemplação não é um espetáculo de visões celestiais, mas uma atitude decidida a buscar a todo instante a vontade de Deus. Ela dizia: «Nunca ouvi Jesus falar, mas sinto que está em mim, a cada instante me guia e me inspira no que devo dizer ou fazer. Descubro, justamente no momento que mais necessito, luzes que ainda não havia visto. Estas, geralmente, não são freqüentes em minhas orações, mas no momento em que devo fazer minhas tarefas».[23] «Sem mostrar-se, sem fazer ouvir a sua voz, Jesus me instrui no segredo»[24]. Jesus como mestre instrui docemente Santa Teresinha, no fundo de sua alma,   na «Ciência do Amor» e ela acolhe com total disponibilidade a vontade divina. Deus queria algo de Santa Teresinha? Pois ela, a todo momento, entregava-se com confiança e abandono a Jesus na oração. Assim ela compreendia, no correr dos dias, o que era da vontade de Deus e respondia como ato de entrega por amor. Como num casamento a vida comum não se faz só de carinhos e mimos, mas, sobretudo, de dedicação de um ao outro, Santa Teresinha dedicava-se às suas obrigações de carmelita, «esposa de Jesus», e as cumpria o melhor possível, até mesmo as menores e mais humildes tarefas da vida comunitária. E ainda como boa esposa ocupava-se dos interesses do esposo, a sua missão de salvação.

Além das tarefas materiais e quotidianas, Santa Teresinha, percebia que devia dar sua vida para conquistar almas para Deus, uma missão que não tem hora, nem lugar e nem fim. Santa Teresinha não agradou a Deus só com suas obras, mas participando em tudo na missão divina de seu Filho, a missão da Igreja. Ela deu testemunho que contemplar e interceder é participar ativamente da redenção, junto à cruz. Assim ela fez e continua fazendo. Santa Teresinha não assumiu a intercessão como uma tarefa a partir de sua morte, e a promessa «passarei o meu céu fazendo o bem na terra»[25] foi apenas a conseqüência de um apostolado que havia assumido na Terra.

À sua intercessão se confiaram e confiam milhões de pessoas em todo o mundo - é conhecida a confiança que nela depositaram os soldados das duas grandes guerras mundiais. Santa Teresinha tornou-se uma santa mais conhecida em todo o mundo no século XX, ganhou a estima de seus devotos que agradecem consagrando-lhe igrejas, cidades, estabelecimentos e dando seu nome a suas filhas, recebeu o título de Doutora da Igreja pelo Papa João Paulo II. Eu espero que esta breve reflexão sobre a oração de Santa Teresinha do Menino Jesus nos ajude a valorizar mais a oração de intercessão, sobretudo em nosso tempo de graves injustiças, de guerras, de violências e de tanto sofrimento, pois se os homens não nos escutam, Santa Teresinha nos ensina e testemunha: Deus, Pai de misericórdia, nos ouvirá e salvará!

[1] Manuscrito A – História de um’alma.

[2]Se la Bibbia contiene anche un libro di preghiere, dobbiamo dedurre che la parola di Dio non è soltanto quella che egli vuole rivolgere a noi, ma anche quella che Egli vuole sentirsi rivolgere da noi, poiché è la parola del suo Figlio diletto” (D. BONHOEFFER, Pregare i salmi con Cristo. Brescia: Queriniana, 1978).

[3] Manuscrito C – História de um’alma.

[4] Manuscrito A – História de um’alma.

[5] Manuscrito A – História de um’alma.

[6] Manuscrito A – História de um’alma.

[7] Manuscrito A – História de um’alma.

[8] Manuscrito A – História de um’alma.

[9] Manuscrito C – História de um’alma.

[10] Carta a Celina, 12/3/1889

[11] Últimos Colóquios.

[12] Manuscrito C – História de um’alma.

[13] CIC 2574-2577

[14] Últimos Colóquios.

[15] Manuscrito A – História de um’alma.

[16] Últimos Colóquios.

[17] Últimos Colóquios.

[18] Últimos Colóquios

[19] CIC 2577

[20] Manuscrito A – História de um’alma.

[21] Manuscrito A – História de um’alma.

[22] Carta ao Pe. Maurício Bellière, 18/7/1987.

[23] Manuscrito A – História de um’alma.

[24] Manuscrito B – História de um’alma.

[25] Últimos Colóquios

BEATO FREI TITO BRANDSMA: Perfil humano-Espiritual-Carmelitano.

Frei Emanuele Boaga, O.Carm e Irmã Augusta de Castro Cotta, Cdp

Características psicológicas

O ambiente familiar, aliado aos dons naturais - notável bagagem de qualidades humanas -  foi propício ao desabrocha­mento da rica personalidade de nosso Tito. Um seu biógrafo afirma: ‘Tito possui um físico gracioso e frágil, uma saúde não muito boa, mas um caráter vigoroso, feito de aço nobre e resistente’. Ele mesmo se define como um ‘otimista nato’. Era dotado de grande autocontrole, sempre se apresentando de bom humor, mesmo nos momentos de sofrimentos físicos (sofreu pelo menos quatro hemorragias intestinais). Mantém sempre a calma e a serenidade, revelando grande equilíbrio em todos os seus momentos. Sem sentimentalismos é cordial no trato, paciente para com todos, capaz de respeitar sempre as opiniões contrárias à sua, embora não abrisse mão de suas convicções profundas. É interessante o testemunho do policial que o interrogou; ‘Não se pode esperar que o Pe. Tito mude de opinião, por isso o consi­dero um homem perigoso’. E outro testemunha de vida afirmou: ‘Pe. Tito é um homem bom, mas quando necessário sabe ser enérgico’.

Tem uma elevada cultura que alia a um jeito humilde e simples de ser. Jamais usa sua sabedoria para vangloriar-se ou sobressair-se sobre os demais. Nas constantes viagens de trem, feitas em razão de seu serviço, escolhe sempre, de forma natu­ral, a terceira classe.

É dotado de enorme sentido de humor. Tudo nele é simples, sóbrio, sem nenhuma ostentação. Sua aparência é sem­pre a de uma pessoa comum, ainda que alguém tenha testemunhado sobre ele: ‘Era uma pessoa extraordinariamente fora do comum”. Isto é confirmado por outras afirmações, como:  ‘O contato com Frei Tito tinha um efeito calmante’. ‘Era um homem ‘sui generis’, com um grande coração’, atesta outra pessoa que com ele conviveu.

Esta rica personalidade humana é animada por uma fé inabalável, intensa, profunda, encarnada em seu dia-a-dia, herdada da família e aprofundada na formação. Tal experiência é alimentada pela oração e gera nele um filial abandono ao Senhor e à Sua Vontade. Gostava de repetir: ‘Devemos deixar que o Senhor faça sempre em nós o que lhe apraz’ e ‘Deus terá sempre a última palavra, já que em suas mãos podemos ter a certeza de que estamos seguros’.

Pode-se dizer que Frei Tito teve as seguintes e fortes características  que o tornam uma personalidade marcante:

Vida social: Pertencia às minorias sociais de seu país. Sua família encontra-se entre os 10% de católicos da sua região. Ao aprofundar seus conceitos filosóficos descobre o valor da pessoa humana e seus direitos. Sob esta luz vai encarar a relação com as diversas minorias de seu país:  não lutando contra qualquer delas, porém, tudo empreendendo para elevar todas à sua própria dignidade humano-espiritual.

Vida eclesial: Era católico com prática séria da vida eclesial: sensibilidade para com os problemas de seu tempo, participação ativa e criativa na vida da igreja. Sabia unir o amor e o serviço à Igreja ao amor e serviço ao ser humano. Sente-se, como Santa Teresa, ‘filho da Igreja’. Para servi-la, funda escolas, de­dica-se ao magistério, torna-se jornalista atuante, procurando por estes meios difundir a fé. Esta dedicação o levou ao martírio.

Vocação carmelita: Revelou grande empenho na ob­servância regular, vivendo com entusiasmo a espiri­tualidade e a mística carmelitanas, cuidando com verdadeiro carinho de tudo o que dizia respeito ao Carmelo, destacando-se no amor à Eucaristia e a Nossa Mãe. Dedicou-se a entusiasmar os co-irmãos para o estudo e a promoção da presença carmelitana na Igreja e na sociedade de seu tempo. Viveu intensamente os valores carmelitanos.

*Curso de Formação Carmelitana em módulos. Módulo VI - Testemunhas da Vivência Carmelitana. São João del Rei – MG.  2003

BIOGRAFIA

Nasceu em Bolsward, Holanda, em 1881. Filho de uma família católica. Devoto fervoroso de Nossa Senhora, decide entrar na Ordem do Carmo. Ordena-se em 1905. Inteligente e sempre dedicado aos estudos, ele revela uma admirável vocação para o jornalismo. Escreve artigos para jornais e revistas. Em Roma, doutora-se em filosofia e Sociologia. Ao voltar para a Holanda, torna-se professor, escritor, pregador e editor de revista. Em 1932, é eleito Reitor da Universidade Católica de seu País. Escreve o livro “Exercícios Bíblicos com Maria para chegar a Jesus”, um pequeno tratado de Mariologia. Esta publicação é fruto de suas orações e meditações que ele jamais descuidava, apesar de sua intensa atividade apostólica: missões, união das igrejas, escola e educação católica, meios de comunicação.

Os problemas começaram quando os nazistas invadem a Holanda, em 1940. Na época, Frei Tito era Presidente da União dos Jornalistas Católicos. Protestou corajosamente contra a invasão. Foi preso dia 19 de janeiro de 1942. Passou pelos presídios de Scheveninguem, Amersfoort, Kleve e Dachau. Foi espancado, submetido à fome e ao frio. Nos interrogatórios deu testemunho de fé, de suas convicções católicas em defesa da justiça. Foi um exemplo de ânimo, de paciência até para aqueles que eram inimigos de sua religião. Seu corpo serviu de cobaia para experiências bioquímicas. Esteve em estado de coma durante dois dias. Antes de morrer, exclamou: “Faça-se a Tua vontade, não a minha”. Faleceu a 27 de julho de 1942, aos 61 anos. Foi beatificado dia 3 de novembro de 1985, pelo Papa João Paulo II.

Da série, O CARMELO É A TUA CASA– Ano do Laicato Carmelitano 2018- Veja depoimentos das irmãs da Venerável Ordem Terceira do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 17 de junho-2018.

O Papa Francisco disse neste sábado que o aborto é como uma "luva branca", que equivale "ao programa de eugenia da era nazista" e pediu para que as famílias aceitem as crianças que Deus lhes dá.

Francisco fez o comentário durante uma reunião de uma associação familiar italiana."No século passado, o mundo inteiro ficou escandalizado com o que os nazistas fizeram para purificar a corrida. Hoje, fazemos a mesma coisa, mas com luvas brancas", informou a agência italiana Ansa.

O papa pediu às famílias que aceitassem crianças "como Deus as dá para nós".

Francisco repetiu a estrita postura anti-aborto de seus predecessores e integrou em sua condenação mais ampla do que ele chama hoje de "lançar a cultura". Ele frequentemente lamentava como os doentes, os pobres, os idosos e não nascidos são considerados indignos de proteção e dignidade por uma sociedade que valoriza a eficiência individual. Fonte: www.metrojornal.com.br

OLHAR DO DIA: Encontro da Ordem Terceira do Carmo na Lapa, Rio de Janeiro.

FREI CARLO CICCONETTI, O. CARM., ROMA.

O grupo de eremitas, "moradores do Monte Carmelo junto à Fonte", apresenta-se logo sob o signo da Autoridade-Obediência: estão sob a obediência de Brocardo e desejam exprimir a sua voluntária e total "obediência" a Cristo Jesus, reconhecendo-Lhe a "Soberania" universal (Regra 1 e 2), sacramentalmente manifestada na sua Igreja e nos seus Pastores. Desde os inícios procuram a aprovação da Igreja.

"Alberto, por graça de Deus chamado a ser Patriarca da Igreja de Jerusalém, aos amados filhos Brocardo e outros eremitas, que vivem debaixo da sua obediência junto à Fonte, no Monte Carmelo, saúde no Senhor e bênção do Espírito Santo" (Regra 1).

A Autoridade - um conceito tão irritante e dissonante para a nossa mentalidade - qualificada como "graça de Deus e vocação" desde as primeiras linhas da nossa Regra. O poder de governar é "graça" ou Charis em grego, donde "carisma", "dom" de Deus. Concorre junto com os outros múltiplos "carismas" para a edificação da sua Igreja (1Cor 12,4-11.28; Ef 4,7.11-16). Aprofunda as suas raízes na Ágape Divina; é expressão de amor. A graça, por definição, é "participação e comunicação da vida divina".

É VOCAÇÃO, posto que ninguém se arroga a autoridade (na Igreja), como o ministério sacerdotal, se para ele não for chamado por Deus. Dele vem toda a paternidade no céu e na terra (Ef 3,15: Jo 19,10-11; Hb 5,1-10). Concretamente, Alberto foi "chamado", isto é, eleito pelos que tinham voz no Capítulo dos Cônegos Regulares do Santo Sepulcro de Jerusalém; mais tecnicamente: o "postula-ram", porquanto não teria tido voz passiva naquela Igreja.

Mas Vocação, por último, vem de Deus. Deus chama e dá a cada um "um Carisma ou uma diaconia" (1Cor 12,4-11; Ef 4.7.11-16), inclusive, "o carisma do governo" ou a "chamada" ao governo (1Cor 12,28), por meio da Igreja e a favor do Povo de Deus. Esta é a fonte primeira da legitimidade da Autoridade de Alberto, mas não seria suficiente se os eremitas não estivessem eles próprios "em  Cristo", isto é, batizados e membros da Igreja, ou melhor, membros desta Igreja particular, a Igreja de Jerusalém. Na saudação-bênção vem expressa a finalidade da Autoridade, a salvação (ou saúde) no Senhor, os dons do Espírito Santo para o "homem novo".

A Tradição dos Padres da Igreja e da vida monástica mencionada logo em seguida e também ao falar da Oração Litúrgica (2.11) completa esta visão das relações intra-eclesiais, que são parte da experiência fundacional do Carmelo.

A Ordem do Carmo, apresentando a Regra, segundo a qual promete viver na obediência a Cristo, e explicitando de vários modos o seu serviço ou carisma peculiar conforme ao qual se compromete com a Igreja, subscreveu com a Igreja um Pacto público; por isto recebe da Igreja a Autoridade para o exercício fiel do seu caris-ma. Na ótica do Pacto bíblico que, em união com as promessas de Deus, provê a um "capitulado" (confirmado em "capitulares") da Aliança, a Torah, este "Pacto" também significa a assunção de deveres nos relacionamentos com toda a Igreja. Será sancionado a nível universal nas várias intervenções dos Papas a favor da Ordem e garantido com a observância das suas leis fundamentais. Cada irmão, que com a Profissão religiosa se compromete perante a Igreja e com a Ordem, entra na ótica desta Aliança.

4.2  Alberto, Patriarca de Jerusalém, laureado "in utroque jure", na nossa Regra une em um triângulo ideal, com sábio equilíbrio, Bíblia, Teologia (a Eclesiologia recebida dos Santos Padres da Igreja) e o Direito, como código e instrumento de comunhão; não apenas nesta saudação inicial, mas, aqui e ali, em toda a sua "Forma vitæ".

Evocada a fonte da sua Autoridade em relação aos eremitas de junto à Fonte, "estabelece", quer dizer, ordena com Autoridade o que segundo a tradição da igreja é necessário para viver "concretamente" em obediência a Cristo. Com evidente ênfase no latim, quer uma Autoridade, um Prior, "um eleito entre eles": "illud in primis statuimus...", porque se queres viver realmente "debaixo da Soberania de Cristo", no seu "obséquio", deves começar por reconhecer, "acima de ti, alguém que o representa", que Lhe faz as vezes (Regra 4.23: cf. Rm 13,1), para que inicies o caminho ao inverso daquele de Adão (Regra 4). A Autoridade do Prior é meio, não é fim: o Prior não visa impor a sua vontade, mas "guiá-los à obediência a Cristo" (Const. n.48).

Nós não temos de ter medo de falar de potestade-poder ou de Autoridade quando sabemos que autoridade "entre nós" não é igual à que "de fato" exercitam os "poderosos" do "mundo" (Regra 22 - cf.Mt 20, 25-26), mas está revestida das qualidades do serviço evangélico.

Ninguém trate de impor um Prior à Comunidade (Gregório IX), por que entre a Autoridade e aqueles sobre os quais preside se contrai um pacto bilateral: os irmãos elegem: eles também exercem desta maneira um poder, uma Autoridade; a pessoa "eleita" aceita e de qualquer maneira exerce um direito, um poder; só então, pelo mútuo consentimento confirmado pela Autoridade Superior, se estabelece a aliança entre a pessoa que foi chamada a se revestir da Autoridade e os irmãos que prometeram obediência. Os teólogos-juristas do tempo enxergavam a eleição para um cargo por parte de uma comunidade, e não apenas a do Bispo na sua Igreja Diocesana, como um "pacto esponsal", uma relação, portanto, ditada pela Caridade, pelo Amor.

4.3 A Autoridade "veem de Deus", "os Superiores fazem as vezes de Deus", são um "serviço" e um "ministério" (PC14: câns 618,619). Estas são afirmações válidas até o dia de hoje e que aprofundam as suas raízes na concepção teológica e antropológica da Bíblia, recebida da Patrística e da Tradição da Vida Monástica. Pressupõe-se, naturalmente, a fé, que leva à esperança e ao amor. Para a teologia cristã isto inclusive é válido para a autoridade ci-vil: o homem é o fim e a medida de todas as instituições humanas e divinas.

Na Ordem do Carmo, como em outros Institutos Religiosos, a Autoridade está orientada para o bem e o serviço da própria Igreja e, mais diretamente, para o "serviço" daqueles fiéis-súditos que com a profissão religiosa abraçam a vida e a santidade da Igreja na "Forma de Vida" carmelita, aprovada canonicamente pela própria Igreja. A profissão entra na ótica daquela Aliança Esponsal da Igreja, pacto de amizade e de plena identificação com o seu mistério" (1Tm 5,9-15). A Regra e as Constituições são o "capitulado" desta Aliança, o "Código de Comunhão". Vivido e interpretado no interior das ordenações da Igreja. Não quer dizer que se trancam os espaços para a "liberdade de consciência", que permanece sempre a última instância, ou da liberdade "profética" autenticamente tal.

* REFLEXÕES TEOLÓGICAS SOBRE O PODER DE GOVERNAR NA ORDEM- Segundo o Concílio Ecumênico Vaticano II

2018: Ano do Laicato Carmelitano. O Carmelo é a tua casa! www.facebook.com/ordemterceiradocarmo (Melhores informações com o Delegado Provincial, Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. E-mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)

*CARMELITAS: Contemplação, deserto e Eucaristia

Uma das características da espiritualidade carmelitana consiste na consideração da vida espiritual como algo que cresce e se desenvolve. Tomando como modelo a vida do Profeta (Elias) nos oferece ainda uma outra lição muito importante.

Como a vida natural, a vida espiritual tem necessidade de receber nutrição. A Sagrada Escritura nos diz que Elias, com a força do místico alimento que o anjo lhe levou, caminhou qua­renta dias e quarenta noites até o Monte Horeb (1Reis 19,8), onde pôde ver a Deus. A nossa vida espiritual e a nossa vida mística têm também a necessidade do alimento santo o qual Deus nos oferece no sacramento do altar.

Na escola do Carmelo, a vida místico-contemplativa é fruto da vivência eucarística. Para tal vivência da Eucaristia, fonte da nossa vida de oração, a vida de Elias nos oferece um ex­traordinário exemplo. O pão milagroso que Elias recebeu é uma perfeita imagem do alimento eucarístico, na força do qual ca­minhamos pelas sendas da vida.

O culto especial ao Santíssimo Sacramento não é pro­priedade do Carmelo, porém podemos afirmar que constituiu sempre uma parte relevante da tradição carmelitana. Os nossos conventos, em muitas oportunidades, foram verdadeiros centros de culto eucarístico. Santa Maria Madalena de Pazzi foi atraída ao Carmelo de Florença pelo fato de as monjas terem a licença para receber diariamente a comunhão, hábito não comum em seu tempo. Santa Teresa não conhecia maior alegria do que aquela de abrir uma capela ou igreja onde o Senhor pudesse habitar. A Regra prescreve que todos os membros da comunidade carmeli­tana participem diariamente do santo sacrifício na capela colo­cada ao centro do convento, acessível facilmente, e que as Horas Canônicas sejam recitadas diante do Santíssimo Sacramento.

Enquanto Ordem Mendicante, as igrejas e os conventos do Carmelo são simples e sóbrios na sua arquitetura mas, a or­namentação das igrejas e dos altares não sofre prescrição alguma de pobreza. Isto faz muita diferença entre as Ordens Mendicantes, como por exemplo aquela dos Capuchinhos, na qual a regra da pobreza se estende também ao santuário.

Esta é uma breve síntese da tradição eucarística do Carmelo; caminhamos com Elias na força daquele pão divino e porque desejamos chegar a viver em Deus na oração, devemos recordar o mandamento do Senhor: “Aquele que não comer a carne do Filho do homem e não beber o seu sangue, não terá a vida” (Jo 6,53). Como a comunhão de Elias no pão miraculoso do deserto o guiou no caminho até à contemplação de Deus no Horeb, assim a Eucaristia deve levar-nos à contemplação da face divina. Nas cavernas do Horeb Deus falou ao Profeta na voz de um brisa leve e suave. O Senhor não estava no turbilhão e nem mesmo no terremoto, mas no murmúrio suave (1 Reis 19,12). Após a comunhão também devemos contemplar sob as espécies eucarísticas, na profundidade do nosso espírito, Deus que está passando....

*Fonte: do livro A beleza do Carmo, cap. I.

2018: Ano do Laicato Carmelitano. A Ordem Terceira do Carmo é a tua casa! www.facebook.com/ordemterceiradocarmo (Melhores informações com o Delegado Provincial, Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. E-mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)