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Frei Cláudio van Balen, O. Carm. Convento do Carmo, Belo Horizonte-MG.
Embora os estudos a deixassem com um certo vazio, ela continuou ampliando sua visão. Caiu em uma quase total indiferença diante de questionamentos religiosos, chegando a denominar-se ateísta. Mesmo assim, por sentimentos de compaixão, ela continuou a acompanhar sua mãe à sinagoga. Essa delicada sensibilidade e a abertura de espírito a acompanharam em toda a sua trajetória. Posteriormente, renasceu para a capacidade de admirar a realidade, que lhe foi revelando dimensões muito além dos horizontes de esquemas fixos e de ideologias de dominação. Agora a verdade passa a ser uma certeza que vem dar direcionamento à sua busca.
No estudo fenomenológico, Edith despertou para a percepção dos fenômenos e seu significado para a vida. No verão de 1912, ela entrou em contato com a riqueza do pensamento filosófico de Edmundo Husserl (1859-1938), o que a libertou da visão estreita que herdara da universidade de Breslau. Conheceu também o pensamento da filósofa Hedwig Martius e resolveu mudar para Göttingen, onde ambos residiam. Desencantada com o subjetivismo da psicologia, que ainda estava engatinhando, ela se entusiasmou pelo método objetivo da fenomenologia, em que a realidade fala de si. E seus professores, judeus que adotaram a fé cristã - Husserl, Adolf Reinach e Max Scheler - despertaram nela também a pesquisa religiosa, uma vez que a ciência não conseguiu saciá-la em sua busca da verdade.
Relações de amizade a ajudaram a descobrir o Cristianismo e o significado da cruz. De seu encontro com A. Reinach, assistente de Husserl, ela diz, a partir de sua posição inferior de mulher: “Nunca me tinha sentido acolhida por um ser humano, com tão grande bondade... Foi como se um mundo novo se abrisse para mim”. Ela também foi tocada, em admiração, pelo testemunho de vida de Max Scheler, Hedwig Martius e Anna Reinach que se fizeram janela aberta para o mundo da fé, cuja influência ela ia sofrendo quase imperceptivelmente. Na primeira Guerra Mundial, ela interrompeu seus estudos e passou a trabalhar como ajudante de enfermagem, no hospital austríaco de Maehren, tratando dos feridos.
Em agosto de 1916, ela defende a tese: “Zum Problem der Einfühlung” (“summa cum laude”). Ela se torna doutora em filosofia e aceita o convite de Husserl para ser seu assistente na universidade de Freiburg, em Breisgau. Após um ano e meio, reconhece que não consegue prosseguir com independência sua pesquisa, sem fazer sombra ao mestre. Resolve, então, renunciar à sua função de assistente, sem que rompa com a amizade. Quando Adolf Reinach, discípulo de Husserl e filósofo, falece na Bélgica, em 1917, sua esposa Anna convida Edite para ordenar os escritos do marido em vista de uma publicação póstuma. Ela aceita o convite de bom grado, mas teme o encontro com a viúva, pois não sabe como consolá-la, por não acreditar em uma vida eterna. (Reinach, judeu, tinha aderido à Igreja Evangélica.)
Para sua surpresa, encontrou essa amiga muito sofrida, mas não abatida e portadora de uma força interior que muito a impressionou. Batizada, havia poucos meses, ela encontra na fé uma grande força e paz. Mais tarde, Edith escreverá: “Esse foi meu primeiro encontro com a Cruz e a força divina que ela imprime nos que a carregam. Pela primeira vez, vi de modo palpável, diante de mim, a Igreja, nascida do amor libertador de Cristo, em sua vitória sobre o aguilhão da morte. Esse foi o momento em que minha descrença implodiu e Cristo passou a brilhar, Cristo em seu mistério da Cruz”. (PC, p.116) Aqui, ela aprendeu que não é o conhecimento racional que muda a pessoa, mas o ser tocado pela própria verdade. Porém, persistiu em seu esforço de resistir às consequências que emanam do encontro com Deus. Edith fala dessa “sombra da morte” que a perseguiu entre os anos 1917 a 1921.
Concluído o serviço, ela retornou para Freiburg, onde ficou até 1918, quando começou a procurar um emprego de professora de filosofia. A recomendação elogiosa de Husserl não bastou para que alguma universidade assumisse o risco de contratar uma mulher como docente. Em 1920, está de volta a Breslau onde, na casa paterna, passa a dar aulas particulares, mas nada feliz com essa exclusão da mulher. Ela escreve: “O chão me queima debaixo dos pés. Estou passando por uma profunda crise que, na casa paterna, não poderá chegar a uma solução”. Em sua busca religiosa, começou a ler o Novo Testamento, vacilando na decisão de aderir à religião católica ou evangélica. Até que foi confrontada com uma surpresa.
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Francisco Javier Sancho Fermín OCD
No momento atual, os meses que passaram e os que estão vindo agora estão marcados por diversas celebrações centenárias: a 14 de dezembro de 1991 celebrava-se o IV Centenário da morte de São João da Cruz. Em alguns países era o dia do encerramento, em outros o início. Não demorará muito e no dia 12 de outubro começa o V Centenário da Evangelização da América.
Entre estas datas teve lugar outro centenário. Na sombra dos outros passou quase sem ninguém advertir: o I Centenário do nascimento de Edith Stein. A abertura foi no dia 12 de outubro de 1991 e o encerramento coincidirá com o início do Centenário das Américas.
Todas estas celebrações ficariam vazias se se limitassem a um simples festejar e recordar tempos passados. O objetivo é outro: fazer-nos refletir. Hoje, na América de modo especial, se insiste sobre o tema da Nova Evangelização. Ajuda para esta reflexão dão-nos os Santos, enquanto encarnação do ideal evangélico. Fixamos a nossa atenção na Bem-Aventurada do nosso século, Edith Stein. Através da exposição da sua vida e do contexto histórico que ela viveu chegaremos a colher do seu pensamento alguns aspectos, que poderão oferecer-nos luz, ao refletirmos sobre a Nova Evangelização.
Vida
Nasceu Edith Stein no seio de uma família judia, no dia 12 de outubro de 1891, na cidade prussiana de Breslau. É a mais nova de 11 irmãos, dos quais 4 morreram em idade prematura.
Não tinha ainda completado 2 anos quando o pai morreu de insolação. A mãe, "mulher forte da Bíblia", como é chamada por Edith, encarrega-se da família, translada-se para a cidade e leva para a frente o negócio de madeiras iniciado pelo marido.
Aí Edith vai receber a primeira formação escolar na Viktoria-Schule. Aos 14 anos abandona os estudos, movida por um certo enjôo intelectual e talvez de fé. Por esta ocasião deixou toda prática religiosa, certamente influenciada pelas idéias racionalistas pós-kantianas, que caracterizavam a linha de pensamento da escola. Passaram-se quase dois anos até se decidir a recomeçar os estudos para bacharelado em 1908.
Em 1911 entra para a Universidade. Escolhe História, Filologia Alemã, Filosofia e Psicologia. Esta última é a que mais atrai a sua atenção, mas por ser ainda uma ciência sem fundamentos sólidos, ela resolve dedicar-se à filosofia.
Durante estes anos começa a tomar parte em diversas associações estudantis orientadas para reforma do sistema educativo e promoção dos direitos da mulher etc.
Em 1913, atraída pela fenomenologia de Husserl, dirige-se para a Universidade de Göttingen. Aí conheceu Scheler, que infiltra na vida de Edith a abertura para a Igreja Católica. Estoura a 1ª Guerra Mundial e Edith se oferece como voluntária da Cruz Vermelha para atender os doentes num hospital de "contagiosos". Terminados estes serviços humanitários, volta para o seu trabalho intelectual. Conclui a sua tese doutoral sobre o tema da Empatia (Einfühlung), que apresenta na Universidade de Friburgo no dia 3 de agosto de 1916, alcançando a nota máxima. Nesta Universidade permanece até 1918, como assistente de Husserl.
Por ser mulher, fracassa no seu projeto de subir a uma cátedra. Dá algumas aulas particulares e faz substituições na Escola Viktoria, onde tinha sido aluna adiantada. Parece que nestes anos a crise espiritual de busca toma conta dela. O momento definitivo da sua conversão chega no verão de 1921, quando por acaso, estando na casa de campo dos seus amigos Conrad-Martius, cai nas suas mãos o "Livro da Vida" de Santa Teresa. AÍ descobre a Verdade. É batizada no dia 1_ de janeiro de 1922 em Berzabém.
A conversão muda a orientação da sua vida. Primeiro como professora de bacharelado e magistério no Colégio das Dominicanas de Espira; neste tempo dedica-se ao estudo e tradução de Santo Tomás. A sua vida é de intensa oração e de serviço aos mais pobres.
A partir de 1928 desdobra-se a sua atividade no terreno do "feminismo". Chegam convites de numerosas cidades dos países de língua alemã, para fazer conferências sobre o tema. Em 1930 foi convidada pela "Societé Thomiste" de Paris.
A sua última atividade, antes do triunfo nazista, foi-lhe oferecida no Instituto de Pedagogia de Munster como ocupante da nova cátedra de antropologia (1932-1933).
Com a proibição aos judeus de exercerem cargos públicos abrem-se as portas para ela realizar a sua vocação. Nada agora podia detê-la de entrar para o Carmelo. Os seus próprios confessores já não puseram obstáculo. E é assim que na véspera da Festa de Santa Teresa, no dia 14 de outubro, se dá o seu ingresso no Carmelo. No dia 16 de abril recebe o hábito com o nome de Teresa Benta da Cruz. Nome que denuncia a sua vida espiritual. Teresa, porque em Teresa encontrou a mãe na fé e na vocação. Benta, porque na espiritualidade de São Bento encontrou o verdadeiro sentir com a Liturgia da Igreja. Da Cruz, porque lhe foi possível a entrada no Carmelo debaixo deste sinal, que daí em diante será o sinal da configuração e consumação da sua vida em Cristo.
No Carmelo prossegue na atividade intelectual, levando ao fim a sua grande obra filosófica: "Ser finito e Ser eterno".
Contudo, pela situação extrema de ódio contra os judeus, é levada a transferir-se para o Carmelo de Echt na Holanda, onde escreveu o sua última obra, "A Ciência da Cruz", em homenagem ao IV Centenário do nascimento de São João da Cruz; não conseguiu,porém, terminá-la, já que no dia 2 de agosto de 1942 foi arrancada pela Gestapo da paz do Carmelo e levada ao campo de Auschwitz/Birkenau, onde, junto com Rosa, sua irmã, foi martirizada na câmara de gás no dia 9 do mesmo mês. O exemplo e heroicidade da sua vida foram apresentados à Igreja Universal no dia 1º de maio de 1987 na cidade de Colônia, onde João Paulo II a proclamou Bem-Aventurada e Mártir.
Contexto Histórico
Uma análise, ainda que superficial, do ambiente onde Edith viveu pode ajudar-nos a compreender a sua vida e a sua doutrina. A sua vida decorreu ao longo da primeira metade do nosso século, numa Europa que sofreu duas guerras mundiais. A situação ideológica geral ainda estava marcada pelas correntes racionalistas do século XIX, que distanciou o homem da sensibilidade religiosa. É neste tempo que novas ideologias de caráter sócio-político, como o socialismo marxista, começam a minar a política, criando em muitos países situações de revolução.
As pessoas de fé, e os católicos ainda mais, viviam a sua religiosidade numa situação de "ghetto" provocada pela mentalidade racionalista e - em países como a Alemanha - por leis favoráveis só ao protestantismo. Isto criou uma espécie de complexo no católico alemão.
A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) será ocasião de grandes mudanças. As primeiras conseqüências trágicas fazem-se sentir na grande perda de vidas humanas e no caos econômico proveniente dos gastos bélicos.
A Alemanha, a grande protagonista da guerra, ao alcançar a paz perde todas as suas colônias e parte dos seus territórios próximos das fronteiras. A paz trouxe-lhe instabilidade em todos os campos. Grupos socialistas aproveitam-se da ocasião para provocar a revolução em vários estados alemães e chegar assim à constituição da república. O Imperador Guilherme II apresentou renúncia à coroa e se exilou.
Não houve estabilidade garantida até 11 de agosto de 1919, ano em que nasceu a Constituição de Weimar. Já se nota aí uma certa participação dos católicos na política, no partido do Centro.
A guerra e o pós-guerra fizeram surgir também alguma crise de consciência. A razão não bastava para solucionar os problemas da humanidade e acontece o fenômeno do retorno à religiosidade.
Todos estes fenômenos são para o mundo católico a porta de penetração na sociedade alemã. Dá-se um autêntico renascimento da vida espiritual. Cresce o empenho pelas questões sociais: a Ação Católica adquire força, aparecem grêmios e diversas associações de trabalhadores. Aumenta a atividade literária. E pouco a pouco se consegue um lugar qualificado dentro daquela sociedade. Procura-se unir doutrina e vida.
Como fruto deste florescimento desenvolvem-se movimentos diversos, que irão dar a fisionomia espiritual à Alemanha. O mais forte, é sem dúvida, o movimento litúrgico, que pretende aproximar a liturgia do povo e o povo da liturgia. Outros movimentos são o bíblico-patrístico, que recupera os valores sempre atuais da tradição, o movimento social ou laical, que trata de conscientizar o leigo do seu trabalho social e eclesial. Há um outro aspecto: a teologia e a piedade se tornam mais cristocêntricas. Cristo como homem e como Deus. Um cristocentrismo que se manifesta na concepção eclesial: Igreja como Corpo de Cristo.
Esta situação vai ser freada em grande parte com a subida ao poder do nacional-socialismo (1933), ideologia que se fundamenta num desejo radical de fazer crescer e proteger os valores supremos da raça germânica (ariana). Na frente está Hitler, que se constitui "führer" do Terceiro Reich com a pretensão de reconquistar as glórias do antigo Império Alemão.
Esta ambição leva-o a fechar a boca de todos opositores; entre eles a Igreja Católica.
Os primeiros passos de Hitler, porém, são dirigidos para a purificação da raça e isto manifestou-se por primeiro por meio da proibição aos judeus de assumirem cargos públicos e, em seguida, revelou-se num ódio de perseguição e assassínio. Esta mesma sorte sofreram os católicos que se opuseram abertamente a tais medidas.
Esta ambição levou ao desencadeamento da 2ª. Guerra Mundial (1939-1945), quando Hitler pretendeu recuperar os territórios perdidos. Desta guerra e do ódio contra os judeus Edith Stein foi vítima
Contribuições para uma Nova Evangelização
Puebla, fazendo-se eco do que dizia Paulo VI, entende por evangelização "levar a Boa Nova a todos os ambientes da humanidade e, pela sua influência, transformar por dentro, renovar esta mesma humanidade" (Puebla 402). Como Edith Stein foi capaz de fazê-lo? Se dizemos que "o Santo é o símbolo do ideal evangélico visualizado e posto ao alcance de todos a um certo momento e perante certos desafios históricos" e, mais ainda, que "o Santo é o comentário vivo do Evangelho escrito", o nosso objetivo está plenamente justificado.
O contexto em que viveu Edith Stein não é o nosso, mas certas situações assemelham-se às nossas. Por outro lado, os valores evangélicos apresentam-se como valores universais, válidos para todos os tempos.
Edith Stein não enfrenta diretamente o problema da Evangelização, e sim certos aspectos, que cuidaremos de pôr em evidência.
O conceito que ela tem de Evangelização consiste em "colaborar com Cristo na Redenção da humanidade". Colaborar como "instrumentos" dóceis à vontade do Pai, deixando-se guiar pelo Espírito Santo. É este o trabalho de todo cristão, não de uns poucos. Cada um a partir da sua condição "carismática". Quem não coopera está pondo em risco a sua filiação divina. "Ser filhos" é participar da obra do Pai.
Como colaborar com Cristo? O evangelizador autêntico não é aquele que "faz muitas coisas" ou "coisas grandes". Cada um há de fazê-lo de acordo com a função para a qual foi chamado. Como norma para todos, colaborar com Cristo consiste sobretudo em estar "unido a Ele" através de uma intensa vida teologal:
"Na Nova Aliança o homem participa da obra da redenção numa forte relação pessoal com Cristo: por meio da fé que o une a Ele, Caminho de Salvação, à verdade por Ele revelada, aos meios de santificação que Ele oferece; por meio da esperança que faz o homem esperar com firme confiança a vida prometida por Cristo; por meio do amor, pelo qual procura todas as maneiras possíveis de unir-se a Cristo. Esforça-se por conhecê-Lo melhor, meditando sobre a sua vida e refletindo nas suas palavras; conquista a união mais íntima com Ele na Eucaristia e participa da continuidade mística da sua vida, vivendo o Ano Litúrgico, a Liturgia da Igreja".
Temos aqui, em maravilhosa síntese, as características da autêntica Evangelização, da autêntica Vida Cristã:
* em união com Cristo, porque Ele é o revelador do Pai. Segui-Lo é o caminho seguro, porque Cristo é o conteúdo da Evangelização.
* Seguir a Cristo através da vida teologal:
- na fé, como adesão à sua Pessoa, à sua vontade, à sua verdade;
- na esperança: com a confiança nas suas promessas, trabalhando para realizar já na terra o Reino dele;
- no amor: como atitude que nos aproxima da autêntica união com Ele no exercício do amor ao próximo, no qual "servimos a Ele";
* Seguir a Cristo é chegar a um maior conhecimento da sua Pessoa, da sua vontade, através da oração, da meditação e do estudo[1];
* Seguir a Cristo é fazer parte da sua Igreja. Participar com ela dos meios que aproximam de Cristo. Nos Sacramentos, na Liturgia como momento de celebração da Fé e fonte de graça para pôr em ação a vida de Cristo em nós e no irmão.
* Seguir a Cristo é colaborar na sua obra, uma obra que redime todos os setores da vida.
A razão para esta amplidão encontra-a Edith numa tríplice causa: Cristo ao se encarnar assume a natureza humana; o homem não é uma composição, mas uma unidade de espírito, alma e corpo; e finalmente, o mundo é para o homem que tem fé um "Mundo de Deus" (Gotteswelt) e como tal deve ser recuperado para Deus.
Na tarefa da Evangelização é fundamental para Edith a educação, como princípio para o indivíduo de iniciação na fé, e a Liturgia, como momento catequético, vivencial, celebrativo e configurativo com Cristo.
A figura de Maria é um modelo excepcional para ser imitado. Esta mulher simples, que na sua humildade se transforma na Mãe do crente, é chave e exemplo para a Evangelização no seu sentido total de Redenção do mundo:
"Quem pode afirmar que a política nada tem a ver com a religião e que as almas têm de afastar-se da vida pública? Se a Virgem de Nazaré, na paz e no silêncio da sua alma absorvida em Deus, seu Salvador, se interessa, na estrofe central do Magnificat, pelo que acontece neste mundo, é possível que o homem religioso - e não menos a mulher - permaneçam indiferentes?"
Já encontramos neste texto uma alusão ao tema mais original, pelo qual Edith Stein mais lutou: "e não menos a mulher". Na sua época a mulher ocupava um lugar secundário na sociedade: não tinha direito ao voto nem acesso a cargos públicos. Não era também aceita em muitos estudos universitários. Desde estudante Edith trabalhou por esta liberação da mulher. Com a conversão esta atividade ficou mais robusta. É conhecida no mundo germânico e convidada a dar conferências sobre o tema. Examina o "ethos" da mulher sob os diversos pontos de vista: teológico, antropológico, psicológico, para estabelecer as características peculiares da condição feminina, diferente do homem, mas nem por isso inferior. Conclui que a vocação primária da mulher é a maternidade, a educação dos filhos, é ser o coração da família. Mas isto não fecha para ela o campo para outras atividades. As suas características peculiares fazem dela companheira indispensável no trabalho primário do homem de dominar a terra. A mulher tem que ser mulher, seja qual for a sua profissão. A maternidade não é somente física, mas tem a sua dimensão espiritual, dimensão que tem sempre de transparecer.
Animada por esta mesma convicção, ela reivindica para a mulher uma maior presença dentro da Igreja, tanto no Apostolado como nos ministérios eclesiásticos não sacerdotais. Encara o problema do sacerdócio da mulher e afirma a inexistência de razões dogmáticas. Reconhece o impedimento por parte do próprio Cristo, que não escolheu para Apóstolo nenhuma mulher. Deixa a porta aberta para o diaconato.
Maria é modelo para todo Cristão, mas de modo especial para a mulher. Em Maria Imaculada encontramos em estado puro as características peculiares da vocação natural e sobrenatural da mulher. E justamente porque Maria é a concebida sem mancha original.
Não podemos deixar no esquecimento o aspecto central da espiritualidade de Edith: a Cruz. Com a Cruz ela coroou a sua vida com o martírio. Na Cruz ela descobre o caminho - o único - da Evangelização pessoal e do próximo:
"Desta forma encontram-se indissoluvelmente unidos a própria perfeição, a união com Deus e o trabalho para que o próximo alcance a união com Deus e a própria perfeição. E o caminho para tudo isto: a Cruz. E a pregação da Cruz seria vã se não fosse expressão de uma vida unida a Cristo Crucificado".
Seguir a Cristo, cooperar com Ele na Redenção do mundo, é caminhar após Ele, carregar a própria Cruz e subir para o Calvário. A Cruz foi o instrumento da nossa salvação e é para o evangelizador a arma com que pode vencer o mundo. O mais profundo sentido da Cruz não é de dor, mas de configuração com Cristo: é portanto um sinal de libertação. Uma Cruz como aquela que a situação histórica proporcionava a Edith Stein. Uma situação de opressão pode ser, inclusive no seu aspecto mais duro, um motivo de Redenção, se vivida em união com a Cruz de Cristo. É eloqüente e pode ajudar-nos em nossa reflexão a visão de Edith. Deixemos que ela mesma lance a luz sobre nós:
"A visão do mundo em que vivemos, a necessidade, a miséria e o abismo da maldade são causa suficiente para mitigar o gozo do triunfo da luz. A humanidade ainda luta no meio da lama e o rebanho dos que da lama se libertaram no mais alto cume dos montes ainda é muito pequeno. A batalha entre Cristo e o Anticristo não terminou ainda. No interior desta luta têm o seu posto os seguidores de Jesus e a sua arma principal é a Cruz. Como podemos entender isto? O peso da Cruz que Cristo carregou sobre si é a corrupção da natureza humana com todas as suas conseqüências de pecado e sofrimento, com que a humanidade decaída foi embalada no seu berço. O sentido último da Cruz é libertar o mundo desta carga. A volta da humanidade libertada para o coração do Pai Celeste e a aceitação da herança legítima é um dom livre da graça e do amor misericordioso de Deus (...). Finalmente os amantes da Cruz, que Ele fez surgir e haverá de suscitar sempre de novo na história sempre em mutação de uma Igreja controvertida, serão os companheiros dele até o fim dos tempos. Para isto nós também fomos chamados"
Concluindo.
Para Edith a Evangelização consiste em cooperar com a obra redentora de Jesus. Cooperação em íntima união com Ele, com os seus mistérios de Encarnação e Cruz, buscando a Salvação do
mundo em todas as dimensões. Redenção libertadora, porque se realiza a partir da vocação particular de cada um dentro do Corpo de Cristo e porque a sua finalidade última é conduzir a pessoa à plena realização humano-espiritual, que só em Cristo se encontra. (Traduzido de Revista "Vida Espiritual" - Santa Fé de
Bogotá(DC) - nº 107, pgs. 53-61)
[1] "Quem vive na certeza desta crença não pode já, em consciência, descansar no seu próprio saber. Deverá, por conseguinte esforçar-se por conhecer o que é justo e verdadeiro aos olhos de Deus. Esta é a razão porque a atitude religiosa é a única verdadeiramente ética. Claro está que existem um desejo e uns impulsos naturais de buscar o bem e a justiça, e acontece mesmo que alguém tenha a felicidade de encontrá-los, mas é somente quando se busca a vontade de Deus que aquele desejo e aqueles impulsos se encontram consigo mesmos e encontram a satisfação". Cfr. A Ciência da Cruz Edições Loyola São Paulo, Brasil 1988 pg.138
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Festa na OC Memória na OCD
COMENTÁRIO
Nasceu em Trápani (Sicília) no séc. XIII. Distinguiu-se no seu tempo pelo seu amor à pregação evangélica e pela fama dos seus milagres. No ano 1296 governava a província carmelitana da Sicília como Provincial. Célebre pelo seu apaixonado amor à pureza e à oração, morreu em Messina, provavelmente em 1307.
ANTÍFONA DE ENTRADA (Sl 36, 30-31)
A boca do justo profere a sabedoria, a sua língua proclama a justiça; a lei de Deus está no seu coração.
ORAÇÃO COLETA
Senhor, que fizestes de Santo Alberto um modelo de pureza e oração e um servidor fiel de Maria, concedei que, revestidos das mesmas virtudes, sejamos dignos do eterno banquete na vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
(Onde se celebra como Festa, diz o Glória).
LITURGIA
1ª LEITURA
Is 58, 6-12 «Reparte o teu pão com o faminto» Leitura do Livro de Isaías Eis o que diz o Senhor Deus: «Não será este porventura o jejum que Me agrada: quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante? Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá; se O invocares, dir-te-á: ‘Estou aqui’. Se tirares do meio de ti toda a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas, se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, brilhará na escuridão a tua luz e a tua noite será como o meio-dia. O Senhor será sempre o teu guia e saciará a tua alma nos lugares desertos. Dará vigor aos teus ossos e tu serás como o jardim bem regado, como nascente cujas águas nunca secam. Reconstruirás as ruínas antigas e levantarás os alicerces seculares; e serás chamado ‘reparador de brechas’, ‘restaurador de casas em ruínas’». Palavra do Senhor.
Ou:
1ª LEITURA
2 Cor 4, 1-6 «Deus fez brilhar a luz em nossos corações, para que se conheça em todo o seu esplendor a glória de Deus» Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios Irmãos: Não desanimamos neste ministério que nos foi confiado pela misericórdia de Deus; antes, pusemos de parte as dissimulações do acanhamento, não procedendo com astúcia nem adulterando a palavra de Deus; mas é pela manifestação da verdade que nos recomendamos a toda a consciência humana diante de Deus. Se o nosso Evangelho permanece ainda velado, é para os que se perdem, para os incrédulos, a quem o deus deste mundo cegou o entendimento, para que eles não possam contemplar o esplendor do Evangelho da glória de Cristo, que é imagem de Deus. Nós não nos pregamos a nós próprios, mas a Jesus Cristo, o Senhor. Somos vossos servos, por causa de Jesus. De facto, o Deus que disse: «Das trevas brilhará a luz», fez brilhar a luz em nossos corações, para que se conheça em todo o seu esplendor a glória de Deus, que se reflete no rosto de Cristo. Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 1, 1-2.3.4 e 6 (R. Salmo 91, 13a.14b)
Refrão: O justo florescerá como a palmeira nos átrios do nosso Deus.
1-Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem toma parte na reunião dos maldizentes, mas antes se compraz na Lei do Senhor e nela medita dia e noite.
2-É como árvore plantada à beira das águas: dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha. Tudo quanto fizer será bem sucedido.
3-Bem diferente é a sorte dos ímpios: são como palha que o vento leva. O Senhor vela pelo caminho dos justos, mas o caminho dos pecadores leva à perdição.
ALELUIA (Mt 5, 8)
Refrão: Aleluia Repete-se Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
EVANGELHO (Mc 10, 17-30)
«Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: Vem e segue-Me» ✠ Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e Lhe perguntou: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro começou a dizer-Lhe: «Vê como nós deixamos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna». Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS
Subam à vossa presença, Senhor, as nossas orações e as nossas ofertas, e concedei que, a exemplo de Santo Alberto, nos dediquemos à contemplação dos divinos mistérios e à ajuda aos irmãos necessitados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO (Mt 19, 27-29)
Vós que deixastes tudo e me seguistes, diz o Senhor, recebereis cem vezes mais e tereis como herança a vida eterna.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor, que nos alimentastes com o pão do Céu, fazei que, seguindo os exemplos de Santo Alberto, nos unamos mais intimamente a Cristo e sirvamos a sua Mãe com dedicado amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
BÊNÇÃO SOLENE
Deus, nosso Pai, que hoje nos reuniu para celebrar a festa de Santo Alberto de Trápani, vos abençoe e proteja e vos confirme na sua paz. R. Amém.
Cristo Nosso Senhor, que manifestou de modo admirável em Santo Alberto a força e a imagem do mistério pascal, faça de vós testemunhas fiéis do seu Evangelho. R. Amém.
O Espírito Santo, que em Santo Alberto nos deu um sinal da caridade divina, vos torne capazes de formar uma verdadeira comunidade de fé e amor. R. Amém.
Abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém
*Do Missal Carmelita da Ordem do Carm
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Santo Alberto nasceu em Trapani, Itália, no século XIII. Entrou na Ordem Carmelitana, destacando-se pelo ardor da pregação e pela fama dos milagres. Eleito Prior provincial para a Sicília, estabeleceu-se em Messina. Em 1301, durante o assédio angevino, libertou a cidade da fome. Brilhante exemplo de pureza e oração, morreu em Messina no dia 7 de agosto de 1307.
Muito venerado pela Ordem toda, como primeiro santo carmelita declarado pela Igreja (Calisto III em 1457 e Sisto IV em 1476), Santo Alberto foi também considerado patrono e protetor da Ordem. Em 1524, ordenou-se que sua imagem fosse estampada no capítulo geral e o Prior geral, Nicolau Audet, quis que lhe fosse dedicado um altar em todas as igrejas carmelitas.
Como testemunho desta difundida veneração, sabe-se, também, quanto foi devota a Santa Madre Teresa deste glorioso pai, bem como Santa Maria Madalena de Pazzi. Diversos testemunhos fidedignos falam-nos da grande devoção de Santa Teresa de Ávila a Santo Alberto. Com efeito, Santa Teresa comprometeu-se em tornar conhecida e divulgada a devoção ao santo carmelita siciliano, que ela venerava como “pai e advogado”, e encarregou o dominicano Padre Diego de Yanguas de escrever um livreto, “A vida e os milagres de Santo Alberto”, a ser publicado juntamente com o "Caminho de Perfeição".
Albert foi um dos dois santos mais antigos da Ordem Carmelita: por sua santidade e a qualidade exemplar de sua vida ele foi chamado, o "Pai da Ordem". Não temos muita informação sobre sua vida, mas pelo menos podemos traçar suas principais linhas de forma confiável. A biografia foi escrita mais antiga provavelmente um pouco depois de 1385, e foi a base de um segundo texto manuscrito por um anônimo Carmelita agora preservado na Biblioteca do Vaticano.
Uma tradição confirmada por vários documentos diz que Santo Alberto nasceu em Trapani em meados do século XIII. Seus pais tinham sido incapazes de ter filhos em 26 anos de casamento. A mãe prometeu-lhe ao Senhor, iniciando sua consagração, e ela sustentou o compromisso, mesmo em face dos planos do pai, que preferia vê-lo casado e herdar a fortuna da família.
Alberto juntou-se aos Carmelitas, que já estavam presentes na cidade e que tinham sido adotados por sua família. Uma vez ordenado sacerdote, foi enviado a Messina. No entanto, vários documentos testemunham a sua presença em Trapani. Albert foi lembrado como um homem de oração e como pregador célebre procurado por toda a Sicília.
Não há registro de participação de Albert nos eventos cruciais na história da Ordem naqueles tempos, nem de como ele pode ter contribuído para a consolidação e crescimento da Ordem, mas não há dúvida de que, como um frade que tinha uma profunda experiência de Deus e uma verdadeira capacidade de reconhecer as necessidades das pessoas o seu trabalho na pregação e na caridade contribuiu muito para a crescente apreciação da Ordem, na Sicília. É, talvez, não apenas em razão da antiguidade que o título “ordinis pater” passou a ser conferido a ele.
Alberto morreu em Messina em 07 de agosto de 1307 - o ano não é totalmente certo, mas é bastante provável.
Muitos milagres foram atribuídos ao santo, tanto em sua vida e após sua morte. Uma característica do ministério de Alberto era a cura: ele restaurou a visão de um rapaz cego, que depois se tornou um carmelita; algumas mulheres foram curadas de abcessos da mama; e outros foram curados de febre. Um judeu com epilepsia foi convertido após a intervenção do santo. Bem como curas físicas, as lendas contam também as espirituais e, particularmente, o seu trabalho como exorcista. Fonte: http://www.carmelitasmensageiras.com.br
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O Padre Provincial dos Carmelitas- Província Carmelitana de Santo Elias- Frei Evaldo Xavier, O. Carm, convida para o Encontro dos Sodalícios da Ordem Terceira do Carmo REGIÕES MG 1 E MG 2. (Sodalícios: Juiz de Fora, Barbacena, São João Del Rei, João Monlevade, Belo Horizonte, Ouro Preto, Serro, Diamantina, Sabará). data: 11/08/2018. Local: Convento do Carmo – Belo Horizonte.
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In: A VIDA DE ORAÇÃO NO CARMELO. Redemptus Maria Valabek O.Carm (pág.94-119)
Porque foi destinado trabalhar na formação dos estudantes e aspirantes à Observância de Touraine, João de São Sansão causou um profundo impacto na vida de oração, especialmente na segunda geração dos seus membros. O seu excepcional discípulo foi Domingos de Santo Alberto (1595-1634), que intuiu o verdadeiro espírito do mestre.
É claro que para atingir a perfeição da verdadeira oração e conversação interna a alma despojada dos desejos terrestres deveria exercitar-se na amorosa, real/atual e continuada presença de Deus, satisfazendo fielmente tanto externamente quanto internamente a Divina vontade.” [1]
Este exercício da presença de Deus, que se torna constante nos filhos de Deus e amigos, não é algo extremamente complicado, mas depende dos corações que estão inflamados com simples e generoso amor por ele.
“ (Os noviços) deveriam ser advertidos/orientados para não ler muitos livros, mas estarem atentos a Deus em todo lugar e para caminhara diante dele com simplicidade de coração, frequentemente elevando-se a si mesmos a ele por meio de aspirações amorosas... sempre tentando preservar em seus corações uma inflamada de amorosa lembrança Dele.” [2]
Orar, então, não é nada mais que uma real atração por relacionar-se com o Senhor, que geralmente remanece/permanece/resta algo no nível da fé habitual. “Este estudo sobre oração não é nada mais que uma verdadeira, total, atual/real atenção a Deus e a uma amorosa expansão de todas as faculdades da alma em Deus, que então junta e une-as todas para Deus, que quase sempre, em cada hora e lugar, a alma fala com ele.”[3]
O primeiro nível de oração é meditação:
“Desde o começo de sua conversão, sua alma é de certo modo rude e imersa em coisas materiais, cheia de fantasias e pensamentos do mundo, no começo você deve aplicar o seu espírito à meditação dos divinos mistérios. Avaliar as causas e as circunstâncias com alguma consideração, assim para que depois você possa mover sua vontade para atos de dor, de amor e de agradecimento, de acordo com o tema de sua meditação.”[4]
Neste estágio os temas das meditações deveriam ser a Paixão de Cristo, o valor da vida religiosa, os benefícios com os quais o Senhor nos cobre. Estas reflexões deveriam ser feitas em forma de diálogo com o Senhor, que em última análise é uma ardente afeiçoada e amorosa adesão dão espírito humano, que está constantemente buscando novos motivos em vista de estar unido ao nosso Deus supremo.[5]
O segundo nível enfatiza a parte afetiva do diálogo:
“Depois de haver praticado a meditação discursiva a partir de algum tema escolhido pela pessoal por algum tempo... a vontade irá experienciar o desejo de chegar mais perto das divinas realidades e ter uma viva lembrança e desejo de considerar-se a si mesma com elas {concern itself with them}. Agora é tempo de adotar uma forma mais simples de meditação, de diálogo mais simples... Visto que a este ponto a alma é enchida com o conhecimento de tudo o que pode ser dito, com um simples salto você se atirará em direção ao Nosso Senhor, falará como Ele num jeito amoroso, fazendo-lhe perguntas, respondendo-lhe, adorando-lhe, agradecendo-lhe e evocando inumeráveis atos de amor e resoluções para servi-lo, mantê-lo sempre presente, imitar suas virtudes, e tudo o mais”[6]
O terceiro nível é um simples olhar da fé:
“Depois que você dispendeu algum tempo em conversa interior com do Deus encarnado em seus santos mistérios, você passará a uma conversação interior com Deus incriado a quem você conhecerá por um simples olhar da fé em todas as coisas, e mais intimamente em você mesmo. Isto acontece de uma maneira que você não imagina-lo estar mais no céu que na terra, mas mais próximo de você que você mesmo. Dando este tipo de fé por certo, seu exercício será manter uma conversação entre você mesmo e Deus, como uma conversa entre um bom filho e o seu pai ou um fiel amigo com o amigo, que vive, dorme e come no mesmo quarto, sempre presente um diante do outro. O assunto do seu diálogo será tomado basicamente do recíproco amor e desejo que cada um tem de não estar separado do seu amigo e desfrutar um do outro... Note-se que neste exercício há praticamente uma oração constante. A lembrança tida de Deus não é uma especulação ou meditação sobre o ser ou alguma perfeição de Deus, mas uma consideração, um esperar, um olhar afetuoso a Deus como o tesouro, o fim, o centro de nossos corações. É um pensamento tido com avidez, como os santos tiveram. Mesmo enquanto na terra, eles estavam já no céu ‘em pensamento e avidez’.”[7]
O quarto nível é significativo pelos desejos que ele evoca:
“A alma a quem Deus mantém neste estado, porque ela está constantemente crescendo no amor, sentirá seu desejo se fome por Deus crescendo ao ponto de tornar-se impaciente. Tudo o que faz ou é capaz de fazer não será suficiente para expressar o seu desejo. Quando ela pensa estar com Deus em diálogos, seu desejo estará muito além do que ela explicita. Ela sentirá um enlanguecimento que a fará ela morrer por não estar capaz de fazer nada. Aqui a pessoa deve estar atenta para não força-la falar nem evocar muitos atos. É suficiente que ela faça conversões essenciaia (conversiens essentielles) com todo o seu ser. Estes são preticamente silêncio e sem muitas palavras formadas. ‘O Deus!’ Isto diz mais que um longo diálogo porque seu coração esta falando para o coração de Deus e os dois entendem um ao outro muito bem.”[8]
O Quinto nível:
“ Como pode ser visto, através de tais efusões, a alma sente que ela tem praticamente uma presença contínua e lembrança de Deus, e se torna cada vez mais desejosa dele... pouco a pouco ela deve render-se a Deus, deixando para trás inclusive aquelas conversações essenciais que para produzir ela dispendeu seu esforço, e deixá-la no num nu desejo que ela sente por Deus. Este desejo é um ato pelo qual ela olha para Deus como o infinito tesouro que pode satisfaze-la. Assim, despojada do seu próprio jeito de atuar, Deus satisfaz seus desejos e os faz crescer incessantemente. Por esta razão, ela permanecerá sempre nele, olhando para ele, contemplando-o sem cessar. Este desejo é um amor atual/real como uma fome e sede insaciável de Deus, que causa uma lembrança experiencial e conhecimento Dele na alma... Este estado é os estado da verdadeira união íntima do espírito criado com o Incriado. Aqui o cume do espírito, o poder do amor e aplicado diretamente a Deus. Que é compreendido além de qualquer idéia ou sentimento... Ela afunda mais e mais dentro de um abismo sem fundo da Natureza Divina.”[9][10]
[1] Exercitatio spiritualis, cap.4; ed. J. BRENNINGER, O.CARM. in steggink, carmelitani, in Diz. Ist. Di Perf., II< col 498; S. BOUCHEREAUX, Dominique de Saint Albert, sa vie et sa correspondance avec Jean de Saint-Sanson, in AOC, 15 (1950) 3-167.
[2] Exercitatio spiritualis, cap.6; ed. Brenninger, 45
[3] Ibid., cap. 1 ed. J. Brenninger, 24; cited by HEALY, Methods of Prayes, 163.
[4] Théologie mystique, in Études carmelitaines 22 (1937), 267.
[5] Exercitatio spiritualis, cap.1-2; ed. Brenninger, 24-25; cfr. HEALY, Methods of Prayes, 161.
[6] Théologie mystique, in Études carmelitaines 22 (1937), 267.
[7] Ibid.,268.
[8] Ibid.
[9] BRENNINGER, in Études carmél., 22 (1937), 268
[10] Théologie Mystique, ibid. For and overwiw of Ven. Dominic’s spiritual vision, cfr. EUGENIO TONNA, O.CARM., in Carmelus, 11 (1964), 44-80).
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CARMO SION/BH. Sábado 4. Ordenação Diaconal dos Freis; João Paulo e Paulo Ricardo e Ordenação Presbiteral de Frei Renê Vilela, O. Carm. Fotos: Caio Cezar, do Sodalício de Osasco/SP. Imagens: Karla, do Sodalício de Osasco/SP. Edição: Olhar Jornalístico. MÚSICA: Venha para o Carmelo, do CD- Tempo do Carmelo (Frei Petrônio de Miranda, O. Carm) Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 05 de agosto-2018.
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EDITH STEIN (1891-1942).
Frei Cláudio van Balen, O. Carm. Convento do Carmo do Carmo Sion, Belo Horizonte-MG.
Foi no dia 1 de janeiro de 1922, que Edith Stein, aos 30 anos de idade, foi batizada por Eugeen Breitling, na igreja St. Martinus, em Bergzabern, com os nomes Theresia Hedwig, sendo Santa Teresa sua inspiradora e Hedwig Conrad, grande amiga, sua madrinha. Longa foi a caminhada, mas rápido o caminho. Após encontrar a verdade, ela não pôde deixar de reordenar sua vida. Ela escreveu: “A aceitação da verdade revelada não resulta de uma simples decisão da vontade. Muitos, pois, não se deixam mover, havendo também casos de um “eu não posso” muito misterioso. A hora da graça, então, ainda não chegou”. Quem sabe, ela pensava em seu povo. Tudo indica que fez do batismo sua resposta à pergunta: “Onde estás?” (Gên. 3,9) Enveredou pelo caminho de Jesus de Nazaré, sem distanciar-se de suas raízes. “Após meu retorno para Deus, senti-me, antes de tudo, judia”. Em sua conversão, portanto, não há ruptura entre judaísmo e cristianismo; e este não ocupa o lugar daquele nem o complementa. Sua originalidade é viver a tensão entre as duas tradições que, aparentemente, se excluem. Amigos seus não compreendiam essa experiência de Deus e estranhavam a oração demorada de Edith nas igrejas de Speyer e Beuron.
A parti do ingresso de Edith na religião católica, a relação entre mãe e filha passa a ser tensa, estremecida, com tristeza e ternura. Entretanto, ela não deixa de acompanhar a mãe na ida à sinagoga e, em sua casa, segue os rituais e o jejum de sua idosa mãe; mas essa participação na tradição familiar não a impede de ir, cedinho, à Missa. E junto aos filósofos, em Freiburg, ela nesse momento sente algo como distância, desde que encontrou em Teresa a verdade “encarnada” que agora tem de ser “feita”. As duas faces da mesma realidade: palavra e gesto - essência do judaísmo - cuja interligação confere uma força misteriosa ao testemunho que irradia junto a alunos e amigos. Colegas e sacerdotes a aconselham a não enterrar seus talentos atrás dos muros de um mosteiro e, sim, de investi-los no serviço às pessoas.
Em uma encruzilhada de dois caminhos, Edith teve a experiência de Maria: “Uma espada traspassará teu coração” (Luc. 2,35). Ambas aceitaram seguir Jesus sem achar ultrapassada a tradição judaica, pois a verdade, como diálogo, opõe-se à ruptura e se realiza na experiência da cruz como árvore de vida. O Gênesis lembra que a natureza desse diálogo foi confiada à mulher (HaVaH –Eva- relacionado com HaLaH -mãe dos viventes- 3,20). (A mesma raiz “HVH” encontramos na palavra HaVeh = dizer, narrar, comunicar, iluminar, esclarecer, ensinar.) A objetividade do diálogo não se resume, de uma vez para sempre, em adotar posição determinada, mas na vigilância e na crítica relativa ao próprio julgamento, às próprias palavras, cultivando uma atenção extremada dirigida para o outro, para o destino do outro e sua história pessoal. Por isto, Edith vigia seu julgamento com respeito à atitude de sua tão amada mãe que não se mostra capaz de aceitar essa sua escolha.
Como a mulher é portadora tanto da vida como do diálogo, ela não pode assumir uma posição de caráter dialético, marcada pela radicalidade da separação. Mais tarde, como carmelita, ela não hesita em comparar-se a Ester que teve de ouvir de Mardoqueu: “Não pense que você é a única entre todos os judeus a escapar com vida, só porque vive no palácio (mosteiro carmelita)” (Ester 4,13). E ela acrescenta: “Eu sou a pequena Ester, muito pobre e frágil, mas o rei que me escolheu é grande e infinitamente compassivo”. De trás das grades do mosteiro, ela vai imolar-se por tantos que lutam na escuridão de seu triste destino e ela permite que a cruz se faça caminho de solidariedade. Esse misterioso caminho do sofrimento, da cruz, vale tanto mais, quando associado a um compromisso fraterno de viver o amor como caminho a serviço dos outros. Longe de buscar a si mesma, ela engaja todo seu ser na causa que abraça, para que a verdade se faça caminho e dê passagem à própria vida. O direito é o bem máximo e a justiça se impõe igualmente a todos, possibilitando uma convivência de paz. Aqui a experiência de Deus se faz berço de personalidade exemplar.
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Hoje começamos os encontros regionais da Província na cidade de Passa Quatro-MG. Sábado, dia 11, será a vez de Belo Horizonte para os Sodalícios de; Juiz de Fora, Barbacena, São João Del Rei, João Monlevade, Belo Horizonte, Ouro Preto, Serro, Diamantina e Sabará. O Encontro começa com a café da manhã, às 8h e termina com o almoço, às 12h/ 13h. No vídeo, a Priora de Passa Quatro, Sra. Maria Regina Leite.
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Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.
(NOTA: As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009)
Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)
Dia 03 de Agosto (Sexta-feira) 8a reflexão (Manhã). “Servir a Jesus Cristo... inspirando-nos em Maria”, mãe de misericórdia
No Evangelho de Lucas, na noite do Natal de Jesus, um anjo aparece a alguns pastores da região e anuncia o nascimento do Senhor, dizendo: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que é para todo o povo: nasceu-vos hoje um salvador que é Cristo Senhor, na cidade de Davi. Este será o sinal: encontrareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”. Os pastores disseram uns aos outros: “Vamos já para Belém, para ver o acontecimento que o Senhor nos manifestou”. Foram com presteza e encontraram Maria, José e o menino deitado numa manjedoura. Vendo, contaram sobre as coisas que lhes foram ditas sobre o menino. Todos que ouviam, maravilhavam-se com o que lhes diziam os pastores. E Lucas observa: “Maria conservava todas aquelas palavras, conjeturando em seu coração” (Lc 2,9-20).
O mesmo Evangelho de Lucas, ao falar de Jesus aos 12 anos no templo, relata a aflição de Maria e José ao procurarem por toda a Jerusalém o menino, e a alegria e a surpresa de o encontrarem no templo entre os doutores. Diz Lucas: “Quando o viram, admiraram-se e a mãe lhe disse: ‘Filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos.’ E ele lhes respondeu: ‘Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa do meu Pai?’” Observa o evangelista: “Eles não entenderam o que lhes dizia... E sua mãe conservava a lembrança de tudo isso no coração“ (Lc 2,48-52).
Nas bodas em Caná da Galileia, tendo acabado o vinho, disse-lhe a mãe de Jesus: “Eles não têm vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Mulher, que há entre mim e ti? Ainda não chegou minha hora”. Disse a mãe aos servos: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,3-5). Na Sexta-Feira Santa, diz São João, “junto à cruz de Jesus estava de pé sua mãe...” (Jo 19,25).
Não sei se uma tal maneira de ler o Evangelho é legítima, mas, se a gente lê e relê esses raríssimos e breves relatos do Evangelho sobre Maria, aos poucos, através desses textos sóbrios, sente-se crescer, qual um fundo imenso e generoso na claridade suave de uma presença indizível, o vulto de Maria, discreta, silenciosa, cheia de pudor e continência no cuidado humilde e diligente de todas as coisas.
De fato, Ela ali está:
- no alvoroço do nascimento na pobreza do presépio;
- na resposta inesperada do filho de 12 anos no templo à aflição dos dias angustiantes da busca;
- no corre-corre dos afazeres de um casamento em Caná da Galiléia;
- na morte do seu filho, de pé, junto à cruz
Sempre e cada vez, na simplicidade serena e absoluta de um sim total. É a disponibilidade incondicional de doação do encontro do amor da Virgem e Mãe, que sempre e cada vez, em todas as vicissitudes da vida, desde o início até o fim, diz pronta e simplesmente, com toda alma e com todo o coração: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
[O Ser de Maria: em tudo fazer a vontade de Deus]
Maria, Virgem e Mãe! Virgem, na limpidez e vitalidade intacta da doação absoluta de amor; Mãe, na fecundidade generosa e inesgotável dessa doação. Não é ela:
- a re-petição de, e a sintonia e repercussão com Jesus Cristo, cujo alimento é fazer a vontade do Pai? (Cf. Jo 4,34);
- a perfeita imitação de Jesus Cristo, que diz ao entrar no mundo: “Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas me preparaste um corpo... Então eu disse: ‘Eis-me aqui, venho para fazer, ó Deus, a tua vontade’” (Hb 10,5-7)?
E é desse Jesus Cristo, filho de Maria, que diz São Paulo: “... subsistindo na condição de Deus, não pretendeu reter para si ser igual a Deus. Mas se aniquilou a si mesmo, assumindo a condição de servo por solidariedade com os homens. E se apresentando como simples homem, humilhou-se, feito obediente até a morte, até a morte da cruz” (Fl 2,6-8).
Aqui nitidamente aparece o vulto de Maria, que não é outra coisa do que a concretização viva, corpo a corpo, da imitação de Jesus Cristo, cuja vida, cuja existência é fazer a vontade do Pai.
Quem foi mais próxima, mais semelhante, a Jesus Cristo do que Maria Santíssima? Em sendo mãe, ela foi a discípula, a mais achegada e mais fiel do filho, pensando, sentindo, querendo e agindo como ele e com ele. Nesse sentido, podemos dizer que é em Maria que se realiza de modo mais pleno e perfeito o que Jesus diz pessoalmente a cada um de nós, cristãos, seus discípulos: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Eis minha mãe e meus irmãos: aquele que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3,33-35).
É interessante observar que Maria Santíssima, no Evangelho, apenas é qualificada como aquela que faz a vontade de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se se em mim segundo a tua palavra”. Nessa sobriedade da fala do Evangelho acerca de Maria, não se oculta a imensidão, a profundidade incomensurável do ser de Maria, que em tudo, total e radicalmente, esteve junto de Jesus, silenciosa, discreta, como o ar, como o sopro vital que o encobre, envolve-o, sendo em tudo como ele, “segundo a vontade do Pai”?
Portanto, se quisermos marcar bem a diferença ou a identidade do ser de Maria Santíssima, poderemos caracterizá-la como um relacionamento pessoal de compromisso total e radical com Jesus Cristo, na sua imitação, ou melhor, no seguimento e discipulado, no projeto existencial que se formula: em tudo, desde o início até o fim, fazer a vontade de Deus.
[Nossos ídolos e o Deus de Jesus Cristo]
Essa fala da Espiritualidade cristã, no entanto, é inteiramente falsificada se eu entendo a “vontade de Deus” no sentido geral e usual. É que costumamos usar a expressão “vontade de Deus” muitas vezes para neutralizar o confronto pessoal, duro e corpo a corpo com o que, a partir de nós mesmos, chamamos de Deus, e para assim nos pouparmos da tarefa inalienável de distinguir entre o deus, ou melhor, o ídolo que eu me ajeito para mim mesmo, e o Deus de Jesus Cristo. Sem essa distinção não se realiza o verdadeiro encontro de amor com Deus. Por isso, se a expressão “fazer a vontade de Deus” ou expressões similares – como por exemplo, “é vontade de Deus”, “foi Deus que quis”, “se Deus quiser” – contiver em si, por menos que seja, a ideia de fatalidade, de uma resignação diante de um destino inevitável, de um suportar porque não há outro jeito, então elas não trazem à fala a compreensão cristã da vontade de Deus. Antes, pelo contrário, falsificam-na. Pois o conceito de Deus que está pressuposto atrás de uma tal acepção da vontade de Deus tem pouco a ver com o Deus de Jesus Cristo.
Fazer a vontade de Deus, na acepção da Espiritualidade cristã, não é executar a ordem do patrão celeste, não é “conformar-se” ao arbítrio de um senhor absolutista, nem sequer é, resignado, deixar que o poderoso faça como ele quer e acha melhor, pois ele é aquele que tudo pode e tudo sabe.
Fazer a vontade de Deus no sentido cristão é, antes, querer, isto é, amar a Deus, revelado e testemunhado com a morte da cruz, por Jesus Cristo, amá-lo com todo o coração, com toda a alma e toda a mente, e nesse amor, procurar compreender cada vez mais o coração desse Deus, entrar totalmente na dinâmica do seu projeto, sentir, pensar, ser e agir como Ele; sim, querer, amar como Ele quer e ama. E na imensidão, na profundidade e no abismo desse amor, amar com Ele, como Ele todos os homens e todos os seres, o universo, no tempo e no espaço, pela eternidade a fora (Cf. Mt 22,37-39; Jo 13,12-15; 15,1-17).
Essa disposição amorosa de querer como e o que Deus quer, de amar como Ele ama, é relacionamento de abertura para e recepção do Tu-absoluto. É a disposição de total doação na incondicional abertura de si a Outro. Essa abertura é, ao mesmo tempo, o recolhimento para a intimidade a mais profunda de recepção do Outro, na atenta ausculta do seu toque, do seu desejo, da sua vontade. Esse abrir-se, que se recolhe como que no toque da intensa ausculta obediente ao Tu-absoluto, aparece no olhar da face serena da “Pietá” de Miguel Ângelo, no olhar atento da Virgem Maria na “Anunciação” de Fra Angélico.
[Distintivo existencial do ser-cristão]
Esse engajamento por Jesus Cristo e pela sua Revelação, o tê-Lo como Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6) é o distintivo existencial do ser-cristão. Trata-se, pois, da existência de encontro com Jesus Cristo. Aqui, tudo que se faz, tudo que se pensa, tudo que se sente não tem mais a fragmentação setorizada do modo de ser usual e geral. Tudo é impregnado desse singular encontro, é animado e informado por esse encontro único. Por isso, numa tal existência cristã não há uma realidade geral e em si ocorrente que se divida em setores, aspectos, formas ou partes. Assim, se falo da meditação, da contemplação, da oração ou da ação, se celebro liturgia, se trabalho na pastoral, se estou acordado ou dormindo, portanto, se estou nessa ou naquela, todas essas “realidades”, todas essas “coisas” são realidades, não porque assim ocorrem em si, quais entes existentes por si e em si, constituindo a ocorrência do nosso ser-humano; mas são realidades, porque estão na dinâmica do engajamento total e absoluto do seguimento de Jesus Cristo. A palavra cristão, aqui nessa realidade nova e singular, não é adjetivo. É substantivo! Por isso, por exemplo, na expressão “meditação cristã”, meditação é adjetivo e cristã, substantivo!
Se essa colocação for válida, se o ser-cristão de algum modo for assim, então, por exemplo, a meditação cristã não é meditação no sentido de um método, não é terapia, não é busca da perfeição, da melhoria da saúde, seja física ou mental, não é abertura da mente, serenidade, harmonia e equilíbrio, nem mesmo iluminação! Tudo isso seria ainda uma “burguesia” espiritualista. É, antes, simplesmente, diretamente o próprio trabalho engajado, suado do amor do seguimento de Jesus Cristo, a transpiração da imitação de Cristo. Não é outra coisa senão, com toda a mente, com toda a alma e com todo o coração, investigar, conjeturar, tentar entender melhor, cada vez mais profunda, vasta e originariamente, tudo que foi dito sobre Jesus Cristo, por Jesus Cristo, como Revelação. É guardar tudo isso no fundo do nosso coração e sempre de novo o trazer ao vigor da re-cordialização, isto é, recordação, lembrança, memória, ruminá-lo, buscar, buscar e tentar penetrar na dinâmica do projeto do amor de Deus de Jesus Cristo, que nos amou primeiro (cf. 1Jo 4,7-19).
Não é isso que está escrito no Evangelho acerca de Maria, Virgem e Mãe, quando nos diz que Maria, no Natal, conservava todas aquelas palavras, conjeturando, isto é, meditando em seu coração? Não é isso que ela, silenciosa e radicalmente, estava fazendo quando não entendeu a resposta do menino Jesus no templo, mas conservava a lembrança de tudo isso no coração? Não é isso que Maria fazia quando, diante da resposta aparentemente dura do seu filho (“Mulher, que há entre mim e ti? Ainda não chegou a minha hora”), disse simplesmente aos servos: “Fazei tudo que ele vos disser”? E a mãe de Jesus, de pé (!), junto da cruz na agonia do seu filho... Não é isso a absoluta disponibilidade de uma entrega corpo a corpo, para valer, em seguir Jesus Cristo na sua obediência incondicional ao amor do Pai, até a morte, e morte de cruz?
APÊNDICE
O GRITO DE JESUS NA CRUZ[1]: "DEUS MEU, DEUS MEU, POR QUE ME ABANDONASTE"?
Dissemos acima, na 7ª reflexão, princípio 2, que estudar profundamente o amor-misericórdia, revelado em Jesus Cristo Crucificado é tarefa fundamental dos Frades Carmelitas, que têm por compromisso irrenunciável e missão estar no meio dos mais abandonados, dos mais pobres, dos mais injustiçados, servindo-os em humildade e ternura do Deus-Misericórdia que não hesitou em morrer na cruz por nós.
No que toca a Jesus Cristo Crucificado da Fé, resumamos o conteúdo do capítulo 4, intitulado O lugar do grito de abandono dentro do relato atual, do livro de Rossé[2]. O capítulo considera o texto atual de Marcos 15,33-39 tal como o escreve Marcos ou como o temos atualmente. Portanto, na perspectiva diferente daquela das pesquisas historiográficas acerca do Cristo histórico, mas pressupondo todo o relato da paixão e morte de Cristo, a partir e dentro da experiência da Fé da comunidade primitiva.
Texto: Mc 15,33-39
À hora sexta, houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona. E à hora nona, Jesus deu um grande grito, dizendo “Eloí, Eloí, lamá sabactháni” que, traduzido, significa: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” Alguns dos presentes, ao ouvirem isto, disseram: “Eis que ele chama por Elias!” E um deles, correndo, encheu uma esponja de vinagre e, fixando-a numa vara, dava-lhe de beber, dizendo: “Deixai! Vejamos se Elias vem descê-lo!” Jesus, então, dando um grande grito, expirou. E o véu do Santuário se rasgou em duas partes, de cima a baixo. O centurião, que se achava bem defronte dele, vendo que havia expirado deste modo, disse: “De fato, este homem era filho de Deus!”
A palavra-chave do grito de Jesus na cruz é abandono.
E o Deus do Abandonado, Jesus Crucificado, é Abba Pai. Pai num sentido todo próprio e único, dentro do encontro de amor, Tu a Tu, na intimidade inenarrável da comunhão e união Pai-Filho, que só pode ser compreendida nela mesma.
Diz Rossé: O grito “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” adquire uma nova dimensão se for compreendido na perspectiva do Evangelho, no seu conjunto. Evangelho que Marcos colocou sob o título de “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”[3].
À luz de sua vida, do seu relacionamento ímpar com o Pai, do seu anúncio da aproximação do Reino de Deus, o grito na cruz adquire a dimensão da vida íntima do próprio Deus.
É exatamente no horto do Getsêmani que o evangelista transmite, pela única vez, o apelativo aramaico com que Jesus costumava expressar sua relação pessoal com Deus: Abba.
O “Deus meu” invocado no Calvário não é outro que o Abba, o Deus a quem Jesus se dirigia durante sua existência com uma confiança filial, com a segurança e a ternura de uma criança para com seu “papai”, o pai do qual sabe que depende inteiramente. Existe entre Jesus e seu Deus um laço muito original[4].
Rossé conclui citando P. Ferlay: Acontece que na cruz Deus Pai deixa morrer aquele que pretendia ser seu Filho. Ou tal pretensão era vã, e então a cruz não pode ser senão o fim da aventura do homem Jesus. Ou então essa pretensão é fundada, e neste caso a cruz constitui o cume da revelação sobre a vida íntima de Deus[5].
Na passagem de Mc 15,33-39 há uma escalação crescente no processo de convergência de tudo para a morte, que culmina no grito de Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”, e segundo Rossé, serve para comunicar uma dimensão de revelação escatológica. Essa escalação crescente no processo de convergência de tudo para a morte, expressa na culminância da morte e do abandono como o grito de Jesus, está no todo do Evangelho de Marcos como a consumação e remate de uma história do destinar-se da existência de Jesus Crucificado: a existência crucificada de Jesus, portanto, não é uma fatalidade inevitável, vítima de um destino cego, mas caminho assumido, querido por Jesus sob o signo do querer divino: “É necessário que o Filho do Homem sofra muito”[6]. “O destino ao encontro do qual vai livremente é posto na vontade do Pai. Marcos manifesta assim a realidade que move Jesus: sua fidelidade à própria mensagem, a obediência Àquele que é sua própria razão de ser”[7].
Sob as brutalidades e crueldades dos suplícios dos passos da paixão de Jesus, desde o horto de Getsêmani até o grito da morte no Calvário, desenrola-se oculta e silenciosa outra história, a história de amor entre o Filho e o Pai, que chega à culminância do abissal encontro de amor no grito: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”
Esse grito, segundo Marcos, é a única palavra de Jesus na cruz! E esse grito de abandono não chega de forma imprevista, como um fato isolado, por acaso. Há uma espécie de gradação no suceder-se dos fatos que o preparam e o introduzem; essa gradação é feita para um esquema de “três horas” (Mc 15,25-33); as três primeiras horas (25-32) são ocupadas pelas zombarias dos que passam por ali, dos sumo-sacerdotes e dos escribas[8]. As três horas seguintes, da sexta à nona, são trevas em crescendo, num ritmo exacerbado para culminar na hora nona, quando Jesus grita: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” E as trevas que invadem a terra inteira penetram no íntimo de Cristo.
Diz Rossé: Observa-se tal crescendo através de toda a paixão. Desde o início, Jesus é apresentado num progressivo estado de despojamento e de solidão: durante a agonia no horto do Getsêmani, os discípulos dormem (Mc 14,37), depois o abandonam fugindo (Mc 14,50); Pedro o renega publicamente (Mc 14,54ss.). Também a multidão se afasta; debaixo da cruz o escarnecem juntamente com os representantes da autoridade religiosa de Israel e com os malfeitores (Mc 15,29ss). A esta altura dos acontecimentos, o Crucificado, despojado também de suas vestes – o que sublinha ainda mais sua solidão – está plenamente abandonado. É quando Jesus penetra na solidão das solidões: a experiência da ausência de Deus[9].
Diante dessa descrição que Marcos faz da Via Crucis de Jesus, Rossé observa: “Não padece dúvida que para o evangelista o grito de abandono se encontra no ápice narrativo e teológico do relato da paixão e da morte de Jesus.”
E conclui: O leitor não pode subtrair-se à impressão de total obscuridade e solidão, proporcionada pela leitura do texto. O estilo sóbrio e lacônico do relato da crucifixão torna ainda mais impressionante o despojamento exterior e interior, a solidão extrema a que chegou Jesus moribundo. Ele ocupa o centro da narrativa, mas um centro que o apresenta como o abandonado pela terra e pelo céu, pelos homens e por Deus. Em suma: “a morte de Jesus deixa no momento somente a impressão do fracasso total. A libertação falhou[10]. Assim, o Filho de Deus atravessou toda a escala da angústia humana. Viveu a morte em todo o seu trágico significado religioso, adquirido em consequência do pecado: afastamento de Deus. Como dirá Paulo, tornou-se “pecado”, “maldição” (2Cor 5,21; Gl 3,13), isto até a extrema consequência do pecado: a morte. Filho encarnado assumiu, em toda a sua dimensão, até as últimas consequências, a condição humana de afastamento de Deus[11].
Tudo isso, esse total abandono e fracasso, na visão da Fé, mostra-nos totalmente outra paisagem. De repente, tudo se vira pelo avesso: o extremo abandono é, na realidade, a plenitude de amor, a profunda solidão se converte em unidade total. No momento em que parece desamparado, está mais do que nunca identificado com o querer divino, transparente ao Pai. Nessa fraqueza sem fim, Jesus se acha, sem reserva, “entregue” ao poder do Pai, totalmente aberto ao ato criador da ressurreição[12].
Para refletir. Textos: Mc 15,33-39
Admoestação 6 de São Francisco: Da imitação do Senhor
1Atendamos, Irmãos, o Bom Pastor, que para salvar as suas ovelhas (Cf. Jo 10,11), suportou a Paixão da Cruz. 2As ovelhas do Senhor seguiram-no na tribulação e na perseguição, na vergonha e na fome (Cf. Rm 8,35; 2Cor 11,27), na enfermidade e na tentação e em tudo o mais; e disso receberam do Senhor a vida sempiterna. 3Por isso, é grande vergonha para nós, servos de Deus, que os santos tenham feito obras e nós queiramos receber glória e honra apenas por citá-las.
Questionamentos
1-O que imagino, qual o impacto que recebo, quando diariamente ouço a palavra "Cruz"?
2-A partir do texto Ad 6, qual o impacto que São Francisco recebe ao dizer "Paixão da Cruz"?
A Formação permanente: 2C 102; 2C 105: Um antigo e sempre novo segredo da formação permanente religiosa
Texto: 2Celano 102: Como foi de ciência e de memória
1Embora este Bem-aventurado homem [São Francisco] não fosse favorecido por nenhum estudo científico, contudo, aprendiz das coisas que são do alto, da sabedoria de Deus (Cf. Cl 3,2; Tg 1,17) e iluminado pelos fulgores da luz eterna, não era pouco o que entendia das Sagradas Escrituras. 2Sua inteligência purificada penetrava os segredos dos mistérios (Cf. Cl 1,26), e, onde ficava fora a ciência dos mestres, entrava seu afeto cheio de amor. 3Lia os livros sagrados, de quando em quando, mas o que punha uma vez no espírito ficava indelevelmente escrito em seu coração (Cf. Rm 2,15; 2Cor 3,2). 4Tinha a memória no lugar dos livros, porque o que o ouvido captava uma sós vez não ficava em vão, pois, permanecia refletindo com afeto e em contínua devoção (quod continua devotione ruminabat affectus).
5Dizia que era muito mais frutuoso esse modo de aprender e de ler do que ficar folheando milhares de tratados. 6Achava que filósofo verdadeiro era aquele que desejava mais a vida eterna do que todas as outras coisas. 7Afirmava que passaria facilmente da ciência de si mesmo para a ciência de Deus (Cf. Pr 2,5) aquele que procurasse entender as Escrituras com humildade e sem presunção. 8Era frequente resolver oralmente as dúvidas de algumas questões, porque, embora inculto nas palavras (2Cor 11,6), destacava-se vantajosamente no intelecto e na virtude.
Texto: 2Celano 105: ( São Francisco) manifesta o que sabia a um Irmão quando foi exortado ao estudo da Sagrada Escritura
1Quando estava doente e cheio de achaques, disse-lhe uma vez um companheiro: “Pai, sempre te refugiaste nas Escrituras, elas sempre foram um remédio para tuas dores. 2Peço que mandes ler alguma coisa dos profetas, pode ser que teu espírito exulte no Senhor (Cf. Lc 1,47)”. 3O Santo respondeu: “É bom ler os testemunho das Escrituras, é bom procurar nelas Deus nosso Senhor, 4mas eu já me inteirei de tanta coisa das Escrituras que tenho o suficiente para recordar e meditar. 5Não preciso de mais nada, filho. Conheço o Cristo pobre e crucificado (Cf. 1Cor 2,2).
Refletindo a partir deste texto-fonte franciscano:
Hoje vivemos uma profunda crise da formação inicial e permanente, especialmente diante dos desafios à Vida Religiosa Consagrada. Nessa crise, não sabemos mais que rumo tomar, o que fazer. Por não saber bem que rumo tomar, não se tem mais uma orientação segura. Agitamo-nos em diferentes colocações, nos debatemos em tentativas não muito clarividentes de solução.
Em tal crise é necessário nos assentarmos numa busca mais finita, determinada, mais próxima de nós. Com outras palavras, é necessário buscar a solução não longe, nas regiões alheias ao nosso projeto de vida, mas sim bem perto, em casa. Se, porém, tentarmos com muito empenho e seriedade vasculhar a nossa própria casa, a nossa proximidade chamada ser carmelita, descobriremos em casa um tesouro escondido, que se bem assimilado pode transformar-se num segredo antigo e sempre novo da nossa formação carmelita. De que tesouro se trata? Trata-se de duas obras escritas: as Sagradas Escrituras ou Bíblia e a nossa Regra de Vida.
Estas duas obras devemos ler. Será que as Sagradas Escrituras e a nossa Regra de Vida, lidas, estudadas, meditadas, experimentadas, trabalhadas passo a passo, todos os dias, longamente por anos a fio, não poderiam se transformar no Manual originário e fundamental, de onde os formadores e os formandos da vida carmelita e cada Frade, sim devessem haurir todas as orientações e normas de sua formação?
Esse estudo que deve ser intenso e de grande volume de trabalho, ser profundo e bem cuidadoso no rigor e na precisão da compreensão não coincide com o estudo acadêmico usual, cientificista. Mas também não coincide com “estudo edificante” e piedoso de vivências espirituais, ou melhor, espiritualistas. Não se trata, portanto, da leitura “espiritual” ou reflexão partilhada de trocas de opiniões subjetivas espiritualistas. Trata-se realmente de estudo, de intenso trabalho suado da busca e pesquisa da verdade. Trata-se de um estudo existencial, isto é, empenho no qual está em jogo e engajamento de toda uma existência humana. Trata-se, pois, de um estudo no estilo como São Francisco de Assis leu e assimilou as Sagradas Escrituras. São Francisco de Assis leu e assimilou de tal forma as Sagradas Escrituras que em tudo que ele era, fazia, falava, pensava, sentia, irradiava o Evangelho. Atrás de tal irradiação existe um imenso volume de trabalho, de estudo para a compreensão viva e dinâmica, de meditação, de assimilação.
O que e como fez São Francisco de Assis, segundo o texto acima?
A primeira coisa que ele fez foi acreditar de todo o coração, com a absoluta e pura positividade discipular que as Sagradas Escrituras eram o livro de Deus, o livro do povo de Deus, onde estava guardado o arcano, o grande segredo escondido do vigor do Deus de Jesus Cristo. Ele acreditava, sim sabia que um livro assim está impregnado da experiência viva de todo um povo, especial e extraordinário, chamado Povo Cristão. Não é, pois, um livro qualquer. Tal crença não é crendice fanática. É antes uma experiência, experiência de quem, viva, concreta e intensamente está enraizado, está unido na pertença real a uma grande comunidade chamada Povo Cristão, a Igreja. Trata-se, pois, de uma experiência viva da participação simbiótica com a imensa e profunda experiência de milhares e milhares de pessoas, que desde Jesus Cristo até nos dias de hoje constituem essa imensa família, raça, povo, chamado Povo Cristão[13].
Mas, como é esse estudo de leitura existencial?
- a) Pega-se o livro com duas mãos, isto é, com todo o ser, com grande reverência, sabendo que você ali tem nas mãos o vigor, a orientação, a evidência, a fé, vida de milhões e milhões de irmãs, irmãos, pais, mães, filhos e filhas, esposos e esposas, parentes de sua raça, do seu povo, da sua família, de pessoas que desde Jesus Cristo vieram até hoje, pessoas altamente inteligentes, autênticas, cheias de boa vontade extraordinariamente discipular, todas elas sábias e experimentadas no Seguimento.
- b) E, então, começa-se a ler. Paciente, humildemente, com gratidão, cheio de interesse e atenção obediente. Mas não usa o que está ali para defender a sua posição, por mais nobre que ela seja. Não usa o que lê para a sua própria satisfação, por mais nobre e sublime que seja a sua busca. Antes pelo contrário, se coloca desarmado, com o coração vazio de todo o apego, preconceitos e prejuízos, inteiramente concentrado, com plena atenção cuidadosa, para se abrir ao que as Sagradas Escrituras, e também a Regra de Vida lhe ditam. Deixa-se questionar por ele. Purifica-se. Torna-se cada vez mais obediente, todo ouvido de ausculta dinâmica e atenta, uma ausculta cordial de discípulo.
- c) E na medida em que, nesse contínuo confronto, lhe vem de encontro uma compreensão, uma evidência, não subjetiva, a partir do que você sabe, quer e pode, mas a partir do que as Sagradas Escrituras e a Regra de Vida lhe dizem, começar a ver tudo, Deus, Homem e Universo, os sofrimentos, as lutas, as adversidades, enfim tudo, à luz dessa nova compreensão.
Tal estudo, não seria ele o estudo, o mais direto, o mais próximo, que todos nós poderíamos realizar, sempre e em toda a parte, em todos os momentos e em todas as situações? É tal estudo profissional básico e elementar, a partir do qual tiraríamos todas as nossas orientações e diretrizes da formação carmelita.
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Para refletir:
"O Deus de Jesus Cristo, o Pai, só compreendo se me tornar Ele, isto é, seu filho em Jesus Cristo, no seguimento de Jesus Cristo, no encontro corpo a corpo, na busca engajada, humilde e devotada da sua imitação" (Cf. Frei Hermógenes Harada [1928-2009], OFM, em Coisas, velhas e novas, pág. 409).
1- Como é compreendida a formação nesta colocação?
2-Quais são seus elementos básicos?
3-É assim que eu, na prática, compreendo e procuro fazer minha formação? Sim, não, por quê?
4-Quais as dificuldades que encontro para por em prática uma formação assim compreendida?
5-Em que eu fundamento a minha formação permanente carmelitana?
*CARMELITAS: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.
ORDEM DO CARMO – PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS
Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.
Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG
Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv
Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço
Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada
[1] Esta reflexão é tirada do livro de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009), Em comentando I Fioretti, págs. 181-186, 2ª ed. revista, Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2006
[2] ROSSÉ, Gerard. O grito de Jesus na Cruz, um enfoque teológico e exegético. São Paulo: Cidade Nova, 1986. p. 60-70
[3] Mc 1,1.
[4] ROSSÉ, G., op. cit. 60-61; KASPER, W., Gesù il Cristo. Brécia: Queriniana, 1975. p. 161: “Se no momento em que está para morrer, Jesus grita a Deus, ele não grita apenas ao Deus do Antigo Testamento, mas àquele Deus que, num sentido exclusivo, ele chamava de Pai e com o qual se sentia ligado de uma forma toda singular”, em: ROSSÉ, G., op. cit. 61, nota 63. Rossé, se referindo a Moltmann, J. Il Dio Crocifisso, Brécia: Queriniana, 1973. p. 175; 177 diz que J. Moltmann é ainda mais explícito, e cita: “Habitualmente, o significado do grito se fundamenta sobre aquele da oração do Salmo 22. Embora a formulação seja idêntica, o conteúdo não deve sê-lo necessariamente; e é fácil esquecê-lo quando se reflete apenas em nível de história da tradição. Mais correto do que interpretar o grito de Jesus no sentido do salmo 22, é interpretar as palavras do salmo no sentido da situação de Jesus. No salmo 22, por ‘Deus meu’ se entende o Deus da aliança com Israel, e o sujeito da invocação é o parceiro da aliança, o justo sofredor. No ‘Deus meu’ de Jesus, encontra-se, ao invés, o inteiro conteúdo da sua mensagem sobre o Deus próximo e misericordioso, onde fala muitas vezes em ‘meu Pai’ num sentido exclusivo... O Deus a quem dirige o seu grito é o ‘seu’ Deus e Pai. Não se trata, é claro, de outro Deus, mas antes de uma relação de todo peculiar com Deus, diversa daquela típica das tradições de Israel. Analogicamente, o sujeito da invocação não se identifica com o justo do Antigo Testamento, mas deve ser compreendido como o ‘eu’ do Filho, um ‘eu’ próprio só dele”, em ROSSÉ, op. cit. p. 61-62.
[5] Em ROSSÉ, G., op. cit. p. 62, nota 65; FERLAY, P. Trinité, mort en croix, Eucharistie. Réflexion théologique sur ces trois mystéres. Nouvelle Revue Théologique, 9, p. 937, 1974.
[6] Mc 8,31; depois 9,31; 10,32ss.
[7] ROSSÉ, G., op. cit. p. 63; cf. Mc 14,36 no horto do Getsêmani: “Abba...não o que eu quero, mas o que tu queres.”
[8] Cf. ROSSÉ, G., op. cit. p. 63.
[9] Op. cit. p. 64. O escárnio e a decepção dos representantes de Israel que espera o libertador: “O Cristo, o Rei de Israel... que desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos!” (Mc 15,32).
[10] DORMEYER, D. Der Sinn des leidens Jesu. “Stuttgarter Bibel-Studien”, 96, Stuttgart, 1979. p. 87. Em ROSSÉ, G., op. cit. p. 67.
[11] ROSSÉ, op. cit. p. 67.
[12] Vanhoye, A., Structure et théologie des récis de la Passion dans les évangiles synoptiques. Nouvelle Revue Théologique, 2, p. 156, 1967, “Ato de suprema obediência filial, a morte de Jesus realiza a união perfeita de sua humanidade com Deus e leva portanto à formação do homem novo, perfeitamente consagrado pela invasão da glória de Deus”; cf. RICOEUR, Paul; LACOCQUE, André. Pensando biblicamente. Tradução Raul Fiker. Bauru, SP: EDUSC (Editora da Universidade do Sagrado Coração), 2001, “Elevado da singularidade à exemplaridade, o sofrimento é, além disso, radicalizado pela expressão ‘abandonado por Deus’. Os exegetas falam a este respeito do Urleiden des Gottesverlassenheit”, p. 234-239.
[13] Cada povo, cada religião possui tal livro arcano. Tal livro-arcano não se lê por princípio historicamente, nem exegeticamente, nem sociologicamente, psicologicamente, literariamente. Todas essas abordagens de diferentes ciências não são erradas. Mas, não atingem, não tocam o espírito, a essência desses livros. E se essas abordagens científicas de alguma maneira podem ser úteis para ler melhor os livros arcanos na sua essência, então, somente para quem já antes através de um intenso empenho, confronto existencial com esses livros, está por dentro do espírito e essência de tais livros.
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O Padre Provincial dos Carmelitas- Província Carmelitana de Santo Elias- Frei Evaldo Xavier, O. Carm, convida para a ordenação dos Freis; Renê Vilela, João Paulo e Paulo Ricardo no próximo dia 4 de agosto-2018 na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Carmo Sion/ BH. Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 3 de agosto-2018.
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Veja o fatos e fotos do Retiro da Província Carmelitana de Santo Elias- Carmelita. Clique aqui:
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“Abramo-nos para a mensagem que nos é transmitida por esta mulher tão cheia de espírito e de conhecimento, esta mulher que entendeu que o clímax de toda a sabedoria é o conhecimento da cruz” João Paulo II, Colônia, 1º de maio de 1987
Edith Stein nasceu em Wrocław (então Breslau, Alemanha) em 1891, a mais jovem de dez filhos, numa família judia ortodoxa. Foi uma filósofa alemã e estudou em Breslau, Göttingen (onde foi estudante de Edmund Husserl, o famoso filósofo e pai da fenomenologia) e Freiburg. Depois de um período de ateísmo, ela se converteu ao catolicismo em 1921, e em 1934 entrou em uma congregação de irmãs carmelitas descalças, tomando o nome de Teresa Benedicta da Cruz. Ela foi assassinada na câmara de gás no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau em 9 de agosto de 1942.
Edith Stein foi canonizada pelo papa João Paulo II em 1998. Ele se referiu a ela como: “uma filha de Israel que durante as perseguições nazistas se uniu à fé e amor do Senhor Crucificado, Jesus Cristo, como católico, e com seu próprio povo como judeu ”.
Hoje, a antiga casa de família dos Steins em Wroclaw é o lar da Edith Stein Society. Na vizinha Igreja de São Miguel há uma capela sob sua invocação, onde suas relíquias foram depositadas. Na cidade natal dos seus pais, Lubliniec, uma pequena cidade perto de Wroclaw, existe um museu sobre ela e uma paróquia também sob a sua invocação. Fonte: www.krakow-travel.com (Tradução: Google)
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LEITURA DAS ESCRITURAS
Salmo 63
.2 Ó Deus, tu és meu Deus, por ti eu desejo;
para você minha alma está sedenta.
Meu corpo anseia por você
como uma terra seca e cansada, sem água.
.3 Então eu olho em você no santuário
para ver sua força e sua glória.
.4 Pois o teu amor é melhor que a vida, os
meus lábios falam o teu louvor.
5 Assim te abençoarei toda a minha vida;
em teu nome levantarei as minhas mãos.
.6 A minha alma se encherá como um banquete; a
minha boca te louvará com alegria.
7 Na minha cama eu lembro de você.
Em você eu medito durante a noite.
8 por você ter sido minha ajuda;
na sombra de suas asas eu me alegro.
.9 Minha alma se apega a você;
sua mão direita me segura rápido.
MEDITAÇÃO
A Ciência da Cruz, I.6 (3)
Noite Passiva como Crucificação
No começo, isso sendo inflamado no amor não é comumente percebido. A alma sente um pouco apenas secura e vazio, medo e preocupação dolorosos. E se ela sente algum amor, é como um doloroso anseio por Deus, uma ardente ferida de amor ...
Agora ela deve viajar pela estrada apertada, que é a noite do espírito. É claro que poucos chegarão tão longe, mas as vantagens da primeira noite são muito grandes: a alma recebe o autoconhecimento; ela ganha discernimento sobre sua própria miséria, não encontra mais nada de bom em si mesma e, portanto, aprende a se aproximar de Deus com maior reverência. Sim, só agora ela está ciente da grandeza e majestade de Deus.
Precisamente este ser liberado de todos os suportes sensoriais permite que ela receba iluminação e se torne receptiva à verdade. É por isso que encontramos no salmo: “Numa terra deserta, sem água, seca e sem caminho, eu apareci diante de ti para poder ver o teu poder e a tua glória” (Sl 63: 1-Na secura e no vazio, a alma se torna humilde. A arrogância anterior desaparece quando não se encontra mais em si algo que pudesse dar razão para menosprezar os outros; em vez disso, outros agora parecem ser mais perfeitos; amor e estima por eles despertam no coração. A pessoa está muito ocupada com a própria miséria para se preocupar com os outros. Através de seu desamparo, a alma também se torna subserviente e obediente; ela anseia por instrução para alcançar o caminho certo.
A avareza espiritual é completamente curada; quando a pessoa não encontra mais nenhuma prática para o gosto de alguém, ela se torna muito moderada e faz tudo o que faz puramente por amor a Deus, sem buscar qualquer satisfação pelo eu. E assim vai com todas as imperfeições. Toda a confusão e inquietação desaparecem com eles. Em vez de, uma paz profunda e uma lembrança constante de Deus são estabelecidas. O único cuidado que resta é a preocupação de não desagradar a Deus.
ORAÇÃO
Senhor, Deus de nossos pais,
trouxe Santa Teresa Benedita
à plenitude da ciência da cruz
na hora do seu martírio.
Preencha-nos com esse mesmo conhecimento;
e, por sua intercessão,
permita-nos sempre buscar a suprema verdade
e permanecer fiel até a morte
do pacto de amor ratificado no sangue do seu Filho
para a salvação de todos os homens e mulheres.
Conceda isto através de nosso Senhor Jesus Cristo, seu Filho,
que vive e reina com você e com o Espírito Santo,
um só Deus, para todo o sempre.
Fonte: https://carmelitequotes.wordpress.com
(Tradução: Google)
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PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS
COMISSÃO PROVINCIAL PARA ORDEM TERCEIRA
Rio de Janeiro, 15 de junho de 2018
Prezado(a) Prior(a)
Como é do conhecimento do(a) irmão(ã), este ano realizaremos encontros regionais tendo em vista o Ano do Laicato Carmelita, em nossa Província. Para a plena realização desses encontros solicitamos o empenho desse Sodalício incentivando os irmãos e irmãs, para isso é necessário que o (a) irmão (ã) Prior(a) busque meios para o comparecimento. A acolhida fraterna ficará a cargo do Sodalício que estiver sediando, inclusive em relação a café, almoço etc. Lembramos que o encontro deverá ser numa manhã ou numa tarde.
A dinâmica a ser dinamizada nos encontros será a seguinte:
A – Troca de experiências por parte de um ou dois irmãos e irmãs de cada Sodalício presente, isto é, um painel onde a conversa fluirá abordando a presença do leigo na espiritualidade carmelita na vida. Um mediador estará presente para organizar a dinâmica.
B – Palestra – Laicato na história da Ordem
(Com o Delegado Provincial ou um representante da Comissão Provincial)
Em todos ou na maioria dos encontros teremos a presença de Frei Petrônio, do Coordenador da Comissão, de irmãos do Conselho da Comissão e dos Articuladores Regionais. Os Articuladores terão papel fundamental no acompanhamento dos encontros.
Abaixo informamos as datas dos encontros, por região, e os Sodalícios que compõem tais regiões:
REGIÃO MG 3 - data: 05/08/2018
Local: Passa Quatro
Sodalícios: Passa Quatro, Carmo de Minas e Fraternidade de Cambuquira
REGIÕES MG 1 E MG 2 – data: 11/08/2018
Local: Convento do Carmo – Belo Horizonte
Sodalícios: Juíz de Fora, Barbacena, São João Del Rei, João Monlevade, Belo Horizonte, Ouro Preto, Serro, Diamantina, Sabará.
REGIÃO SP 3 – data: 18/08/2018
Local: Campinas
Sodalícios: Piracicaba, Limeira, Jaboticabal, Taiuva, Campinas, Mogi Mirim, Itu
REGIÃO SP 2 – data: 25/08/2018
Local: Sodalício da Esplanada-SP
Sodalícios: Esplanada-SP, Basílica do Carmo-SP, Sapopemba-SP, Santos, Osasco, Carapicuíba
REGIÃO SP 1 – data: 26/08/2018
Local: Rosa Mística-Jambeiro- Rodovia dos Tamoios
Sodalícios: Taubaté, São José dos Campos, Bragança Paulista, Jacareí, Mogi das Cruzes
REGIÃO BA – data: 20/10/2018
Local: Salvador
Sodalícios: Salvador e Cachoeira
REGIÃO RJ – data: 25/11/2018
Local: Convento do Carmo – Angra dos Reis
Sodalícios: Angra dos Reis, Lapa-RJ, Vicente de Carvalho-RJ, Fraternidade de Saquarema
REGIÃO MG-DF – data: 15/12/2018
Local: Paróquia Nossa Senhora do Carmo – Brasília
Sodalícios: Unaí-MG e Brasília
Colocando-nos à disposição para dirimir as dúvidas que se fizerem necessárias, desejamos que tudo aconteça em nome da fraternidade que nos une e desejamos que Deus, na sua infinita bondade, cumule o(a) irmão(ã), bem como o seu Sodalício, com muitas graças e bênçãos.
Fraternalmente no Carmelo,
Frei Petrônio de Miranda Ir Paulo Daher
Delegado Provincial Coordenador
- Detalhes
Com a música do Frei Petrônio de Miranda, O. Carm -VENHA PARA O CARMELO- Do CD, TEMPO DO CARMELO. Veja imagens do Retiro dos Carmelitas realizado em Belo Horizonte- MG de 30/07 - 03/8 na Casa de Retiros São José.
- Detalhes
Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.
(NOTA: As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009)
Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)
Dia 02 de Agosto (Quinta-feira). 7ª reflexão (Tarde)
C) Princípios derivados da Misericórdia para a Vida de Trabalho e Serviço
Princípio 1
Segundo a definição da Misericórdia como
a) Amor do Deus Uno e Trino em Jesus Cristo, como
b) Espírito de Misericórdia e como c) Virtude da Misericórdia, todas as nossas ações e atuações e obras, todos os nossos trabalhos e serviços, devem estar impregnados do Espírito e Virtude da Misericórdia que emanam da profundidade da intimidade do Amor interno da Santíssima Trindade, em e através de Jesus Cristo.
Isto significa que as nossas obras e ações, os nossos trabalhos e serviços, sim mesmo as assim chamadas obras de misericórdia, somente poderão ter a qualificação e excelência propriamente cristãs, no sentido originário e eficaz, se haurirmos a força de sustento, a luz da iluminação e o ardor do aquecimento dos nossos engajamentos em favor do próximo, da intimidade de união e encontro com Jesus Cristo, através Dele e Nele com o Amor-Misericórdia do Deus Uno e Trino.
Princípio 2
Nesse empenho essencial de continuamente estarmos ligadas à fonte de todo o vigor, de toda a luz e de todo o calor do Amor Divino Misericordioso, essa atinência ao Espírito de Misericórdia e ao seu santo modo de operar, é de decisiva importância para nós Frades Carmelitas, que no contato imediato da intimidade de encontro com o Amor do Deus Uno e Trino em Jesus Cristo nos concentremos cada vez mais e de modo especial no Mistério da Misericórdia encontrado em Jesus Cristo Crucificado. Em Jesus Cristo, Crucificado se oculta na profunda discrição e no delicado pudor de um Amor insondável, a paixão visceral do Deus-Misericórdia, cuja humildade, cuja ternura é tolice para os gregos e fraqueza para os judeus (Cf. 1Cor 1,22; 1Cor 2,2).
Esse Amor-Misericórdia nas entranhas da sua ternura, revelada em Jesus Cristo Crucificado, nos fala de uma Misericórdia única, absolutamente singular, “misteriosa, escondida e predestinada” (1Cor 2,7) do Amor do Deus Uno e Trino, que não contente em se doar todo e inteiro a nós, fazendo de tudo, dando o melhor de si para nos amar, quando ignorado, quando preterido e desprezado, “não se irrita, não guarda rancor”, antes “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo tolera” (1Cor 13,5-7), carrega sobre si a culpa de toda a nossa indiferença, de toda a nossa ingratidão, do fazer pouco caso de um amor tão dedicado, se culpa como se Ele ainda não tivesse feito o suficiente para que nós amássemos, e para nos poupar, se oferece como expiação e oblação em nosso lugar, dando-nos o seu último sangue na morte da cruz.
Há aqui, nessa Morte do Deus Crucificado, revelação da humildade e da ternura de uma paixão do Deus-Misericórdia, paixão incondicional por nós, por cada um de nós, tão imensa, tão profunda que é forte como a morte, penetrante como abismo, cujas centelhas são incendiárias como labaredas divinas (Cântico dos Cânticos, 8,6), que ultrapassa em dedicação, interesse e doação todo e qualquer engajamento humano que possamos imaginar em favor do próximo.
Estudar profundamente esse amor-misericórdia, revelado em Jesus Cristo Crucificado é tarefa fundamental dos Frades Carmelitas, que têm por compromisso irrenunciável e missão estar no meio dos mais abandonados, dos mais pobres, dos mais injustiçados, servindo-os em humildade e ternura do Deus-Misericórdia que não hesitou em morrer na cruz por nós.
Princípio 3
Segundo a definição da Misericórdia como d) ideal objetivo do projeto de vida, como e) obras de Misericórdia e como f) frutos de Misericórdia, todo o nosso engajamento pelas obras de misericórdia, em suas modalidades, variações e denominações modernas, toda a nossa dedicação para com os mais abandonados, pobres e necessitados, toda a nossa participação na luta pela justiça, pela paz, pela sociedade mais humana, expressam o nosso desejo, a nossa vontade, sim a nossa necessidade interna de como seres humanos e como cristãos trabalhar e servir, fazer alguma coisa para o próximo.
Esse grande desejo de participar e agir, essa vontade de ajudar, de solidarizar-se brota do fundo da nossa capacidade e necessidade de compadecer-se, da força da compaixão, existente em nós.
Através dessa força e sensibilidade da compaixão, a realização empírica da nossa vontade de fazer as obras de misericórdia está continuamente em contato com sofrimentos, tribulações, contradições e fraquezas, limitações, sim com as inúmeras vicissitudes da maldade humana.
Quem se doa seriamente nesse engajamento de solidariedade, de trabalho e serviço aos necessitados nessa Terra dos Homens sente na sua carne todas as vicissitudes da Humanidade mortal em suas intermináveis falhas, defeitos, limitações e fraquezas, tanto em si como nos outros.
Aqui, exatamente nesse engajamento pelas obras de misericórdia, no qual estamos dia por dia envolvidos em sofrimentos, lutas e dificuldades dos mais fracos, dos mais pobres e cercados por injustiças, humilhações e maldades sofridas pelos inocentes, nós, os Frades Carmelitas, sentimos profundamente a necessidade de uma força maior, necessidade de um enraizamento mais consciente e buscado num vigor de bondade, mais forte, mais profunda e inesgotável, que transcenda todas as nossas forças de compaixão, que possua uma compreensão do Homem e do Mundo que vê e intui para além da morte, para além de todas as medidas, ideias, ideologias, além de todos os valores que são projetados por nós humanos a partir de nós mesmos.
Necessitamos a força radical de uma Bondade divina que, em sendo inocente, carrega todos os crimes, pecados do mundo, sem jamais deixar de amar, trabalhar, lutar para que cada ser humano seja amado, respeitado, promovido como só um Deus de Misericórdia, só um Deus Crucificado pode e sabe amar.
Para isso, para esse enraizamento mais profundo e mais originário do nosso ver, sentir e agir no Amor Misericordioso inesgotável é necessário não somente aprofundar e intensificar a confiança na força do poder de Deus e da sua presença, mas antes de tudo compreendê-Lo cada vez melhor, considerar diligente e atentamente o Espírito de Misericórdia do Deus de Amor e o seu santo modo de operar, e principalmente aprender de Jesus Crucificado o sentido mais profundo dos sofrimentos, das maldades, da miséria e do pecado da Humanidade.
E tudo isso, justamente, para podermos atuar com tenacidade, com coragem de ser, junto dos homens nesse mundo, a partir da ternura e do vigor de um Deus tão singular e próprio como o é o Deus-Misericórdia, revelado em e como Jesus Cristo Crucificado.
Para refletir:
Texto: (veja como São Paulo entende o Princípio 2, neste texto)
1 Coríntios 1,17-31 (Sabedoria do mundo e Sabedoria Cristã).
Pois não foi para batizar que Cristo me enviou, mas para anunciar o evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo. Com efeito, a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus. Pois está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o homem culto?”
Onde está o argumentador deste século? Deus não tornou louca a sabedoria deste século? Com efeito, visto que o mundo por meio da sabedoria não reconheceu a Deus na sabedoria de Deus, aprove a Deus pela loucura da pregação salvar aqueles que creem. Os judeus pedem sinais, e os gregos andam em busca de sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, que, para os judeus, é escândalo, para os gentios é loucura, mas, para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
Vede, pois, quem sois, irmãos, vós que recebestes o chamado de Deus; não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa. Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraqueza no mundo Deus o escolheu para confundir o que é forte; e o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus. Ora é por ele que vós sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria proveniente de Deus, justiça, santificação e redenção, a fim de que, como diz a Escritura, “aquele que se gloria, se glorie no Senhor”.
Cf. ainda 1Cor 2,2: “Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado”.
Comentário
Ao ler o texto de São Paulo temos a tentação de o ler assim: a fraqueza da cruz, a fraqueza dos loucos, fracos, desprezados e ignorantes na realidade não é fraqueza, porque atrás dela está a força de Deus todo-poderoso.
Assim temos a tentação de pensar: somos fracos, loucos, desprezados e ignorantes, mas Deus nos dará o poder, a sabedoria, a força.
Será que o texto está dizendo isto? Ou não está insinuando algo que temos medo de pensar porque é um escândalo e uma loucura para nós “cristãos” também, admitir tal afirmação?
Tentemos dizer isto que temos medo de pensar: a fraqueza acima mencionada é poder de Deus, não porque Deus no seu poder pode nos redimir, nos libertar dessas negatividades, mas sim porque o poder de Deus consiste justamente, simplesmente, radicalmente nessa fraqueza.
Mas isso é loucura escandalosa! Pois contradiz tudo quanto dizemos e pensamos de Deus.
Isto significa que Deus não é bom? Que não é poderoso? Não é sábio? Mas não somente isto, nem sequer podemos dizer que Deus não é sábio, pois dizer isso é definir de alguma forma a Deus a partir de conceitos de bom, poderoso, sábio que vêm de nossa compreensão humana.
Mas isto é renunciar a toda e qualquer compreensão de Deus? Sim!
Mas isso não é total escuridão? Sim!
É isso o sentido da afirmação de São Paulo: “a loucura de Deus é mais sábia que toda a sabedoria humana e a fraqueza de Deus é mais forte do que toda força humana?” Sim!
Essa radical impossibilidade humana diante de Deus é a cruz? Sim!
É a fraqueza? Sim!
É o grito de Jesus na Cruz? Sim!
O “meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?” Sim!
É isso o poder de Deus? Sim!
Por quê? Porque somente numa total acolhida vazia de todo o saber e todo o poder da nossa subjetividade, da nossa medida humana é que Deus pode se manifestar como Ele é, no insondável Mistério da sua liberdade, e não como o nosso saber, o nosso querer gostaria que Ele o fosse.
Mas, tal vazio não é ateísmo? Não! Porque o ateísmo já sabe demais sobre o que Deus não deve ser!...
Então, o que é tal vazio radical? É a pobreza evangélica.
Questão: 1. Como aparece a Misericórdia na Cruz de Cristo?
CONCLUSÃO
Ser Misericórdiosos como o Pai é a nossa vocação-missão. A Misericórdia é o centro de convergência do vigor e da vitalidade da nossa Vida Consagrada, a partir do qual crescemos, nos multiplicamos e nos difundimos na unidade pluriforme da comunidade viva do Corpo Místico de Cristo.
Tal realidade-fonte da Vida Consagrada, tal força-origem da unidade interior de uma Ordem e/ou Congregação religiosa, deve ser sempre de novo buscada, estudada e purificada de entulhos que com o tempo podem se depositar ao seu redor e sobre ela.
Esse retorno à fonte – Misericórdia queremos e devemos trabalhar. Sempre de novo, sempre novos, no vigor renovado e cordial, a exemplo de São Francisco de Assis que no fim da sua vida, prestes a morrer, vibrava ainda no frêmito juvenil do seu primeiro amor: “Vamos começar a servir a Deus, meus irmãos, porque até agora pouco ou nada fizemos” (Tomás de Celano, Vita I, 103).
*CARMELITAS: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.
ORDEM DO CARMO – PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS
Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.
Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG
Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv
Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço
Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada
- Detalhes
Frei Antônio Corniatti, OFMConv, de São Bernardo do Campo, São Paulo.
(As reflexões sobre a misericórdia são tiradas de um artigo de Frei Hermógenes Harada, OFM (1928-2009) Com adaptação de Frei Antônio Corniatti, OFMConv)
Dia 02 de Agosto (Quinta-feira)
6ª reflexão (Manhã): B) Princípios derivados da Misericórdia para a Vida Fraterna
Princípio 1
Segundo a definição da Misericórdia como a)Amor do Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo, como b) Espírito de Misericórdia e como c) Virtude da Misericórdia, todo o plano de doação do Deus do amor, entranhada na ternura e benevolência da mútua comunhão comunitária do Mistério da Santíssima Trindade é o destino, o sentido, o móvel fundamental de toda a vocação e profissão da Vida Religiosa Consagrada.
Pois, participar desse Amor de Deus em íntima união com Jesus Cristo, Nele, por Ele e tornar-se dentro do Corpo Místico de Cristo uma célula viva de comunhão fraterna à imagem e semelhança da comunidade trinitária é a tarefa e incumbência, "compromisso irrenunciável e missão" (Doc. da CIVCSVA, A Vida Fraterna Comunitária, Intr. 2b) da Vida Fraterna Comunitária das pessoas que se doaram total e incondicionalmente a Jesus Cristo, que é a manifestação da Misericórdia do Pai.
Princípio 2
Tudo isso significa que a intimidade de amor, encontro e união com Jesus Cristo no seu Seguimento, e Nele, por Ele e com Ele, o relacionamento de absoluta Intimidade de amor na participação e acolhida da Santíssima Trindade, com outras palavras, toda a nossa Vida Religiosa, a assim chamada vida interior, é fonte, donde brota a força, a clarividência e o calor que sustenta, ilumina e acalenta o amor fraterno comunitário.
Princípio 3
Isto significa também que, para se poder viver a Vida Fraterna Comunitária no sentido plenamente cristão, não basta motivações, animações comunitárias e incentivos usados geralmente para formar uma comunidade fraternal "anímica" (Cf. Dietrich Bonhoeffer, Vida Comum, São Leopoldo, RS, Ed. Sinodal, 2ª Edição, 1986, p.17ss), mas é necessário buscar a concepção e a vivência do que seja amor fraterno cristão, na experiência da vida de Intimidade de Encontro com o Amor-Misericórdia, vindo dos abismos da Santíssima Trindade, em Jesus Cristo[1].
Princípio 4
Isto significa por sua vez que a obrigação e a insistência na Vida Religiosa Consagrada Regular em, com solicitude e amor, cultivar a vida comum, viver em comunidade, espiritual, psíquica e fisicamente pouco tem a ver com conveniência prático-social, com mera disposição jurídica e disciplinar, mas sim com o sentido essencial da nossa vocação e profissão de sermos religiosos, isto é, de termos sido chamados para sermos focos, lares da presença e do prolongamento do Amor do Deus-Misericórdia no meio da Humanidade.
Princípio 5
Tudo isso significa, por fim, que nosso empenho de revitalizar a Vida Comunitária, ao abordarmos as nossas falhas, as defasagens de nossa vida comunitária, suas dificuldades, não devemos nem podemos ser vagos e indeterminados na impostação de nossa busca, mas sim, temos a tarefa de sermos mais nítidos e clarividentes em colocar todas as nossas buscas e tentativas de solução na perspectiva do plano comunitário salvífico do Deus-Misericórdia, que nos quer co-participantes no trabalho de, em toda parte, ocupar sempre mais lugares que sejam focos e lares, habitações, através da nossa vida fraternal comunitária, onde reinem o Espírito e a Virtude do Amor-Misericórdia, da Bondade difusiva de si.
Princípio 6
Segundo a definição da Misericórdia como d) ideal objetivo do projeto de vida, como c) obras de Misericórdia e como f) frutos de Misericórdia, todos os nossos esforços, cuidados e sofrimentos, todas as nossas lutas, preocupações e dificuldades para constituir uma boa e fraternal comunidade são expressões da nossa vontade de estabelecer já na Terra a comunidade do Amor fraternal em Jesus Cristo, a partir e na força do Amor trinitário do Deus-misericórdia.
Segundo os princípios A)1 e B)1, a força de sustentação, a luz de iluminação e o calor do aquecimentos dos nossos corações vem primordialmente do Amor-Misericórdia do Deus Uno e Trino, revelado e presente em Jesus Cristo.
Esse Pai de Misericórdia, cuja medida é o superabundante (Mt 5,20), nos amou primeiro, nos convida a sermos como Ele, que faz nascer o sol para bons e maus e chover sobre justos e injustos, quer que amemos os inimigos, e sejamos perfeitos como Ele é perfeito no amor (Cf. Mt 5, 43-48).
Se esse é, em última instância, o nosso ânimo de fundo, então deveríamos e poderíamos viver as mixórdias e as vicissitudes conflitantes da vida comunitária com muito mais humor, mais cordialidade, mais coragem alegre de ser, sem cairmos tão facilmente em murmurações pessimistas, amando a vida comum como escola de crescimento real na aprendizagem e na imitação do amor-misericórdia, na maneira de pensar, julgar, sentir, fazer e ser, segundo a imensidão, profundidade e jovialidade de Deus.
Para refletir:
Questão
1-Qual a compreensão que eu tenho da Vida Fraterna?
2-Como aparece a misericórdia no texto abaixo?
Texto: No que toca ao empenho de viver a vida fraterna a partir da misericórdia, eis uma história, expressão viva da gentileza da doação:
Era uma vez, uma fraternidade, bem antigamente, quando também os animais eram gente e falavam. A fraternidade era composta de um macaco, de uma raposa e de um coelho. Eram eles tão unidos, tão irmãos que, lá dos céus, a deusa Misericórdia se admirava que pudesse haver sobre a terra “pessoas” tão amantes e amigas entre si.
Decidiu testar, se esse amor mútuo possuía raízes mais profundas de verdadeira bondade e misericórdia.
Tomou a figura de um velho mendigo doente e decrépito, deitou-se a gemer à beira da estrada por onde todas as manhãs os três passavam a caminho de seu trabalho.
Ao avistarem o mendigo, quase moribundo de fome, os três o carregaram pressurosos para a casa, o
deitaram no leito e tentaram dar-lhe de comer. Mas não havia nada na dispensa. Saíram correndo, à busca de alimentos. Algumas horas depois, o macaco voltou com uma cesta de frutas. A raposa, com ovos e galinhas. Mas o coelho não voltou. Veio o almoço, o lanche da tarde, mas o coelho não voltou. Somente à noite, cabisbaixo, voltou com algumas folhas de couve. O macaco e a raposa o repreenderam. Disseram-lhe que ele era atrapalhado, alienado, sem eficiência. Sempre a correr nervoso de cá para lá, de lá para cá, sem sistema, sem disciplina, mexendo o focinho nervosamente.
O coelho ficou muito triste, não tanto pelas críticas, pois já estava acostumado e sabia que eram verdadeiras, mas por não poder oferecer ao visitante faminto senão um nada, apenas umas folhas de couve.
No dia seguinte, acordou cedo, pediu ao macaco que ajuntasse um monte de lenha, à raposa, uma grande quantidade de gravetos e folhas secas. Assim, fez uma grande fogueira. E quando o fogo estava a crepitar alegremente, o coelho pediu desculpas ao velho mendigo por não lhe ter oferecido nada no dia anterior. E então disse: “Meu bom Senhor, nada sou, nada tenho que o possa satisfazer. Mas, se de alguma forma sou-lhe útil e o Senhor se dignar me aceitar, eis-me aqui de boa vontade. Por favor, sirva-se.” E saltou na fogueira e virou um apetitoso assado de coelho.
A deusa Misericórdia ficou tão impressionada com essa doação generosa, simples e humilde do coelho, que o restituiu à vida e o levou para o palácio de prata da Lua, onde ele, no pilão de ouro, generosa e prodigamente fabrica os “motis” da dadivosa doação e misericórdia para os fazer chover sobre a terra.
*CARMELITAS: RETIRO ESPIRITUAL ANUAL.
ORDEM DO CARMO – PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS
Data: 30 e 31 de Julho e 01 a 03 de Agosto de 2018. Início, 30 à noite. Término, 03 ao meio-dia.
Local: Casa São José - Belo Horizonte - MG
Assessoria: Frei Antônio Corniatti, OFMConv
Tema: Nós, frades carmelitas, somos chamados a ser "Misericordiosos como o Pai" na Vida Espiritual-Religiosa, na Vida Fraterna, na Vida de Trabalho e Serviço
Objetivo: Refletir a partir da misericórdia e suas implicações no dia-a-dia da vida consagrada
[1] Não sei se essa suspeita não é infundada e fruto de um desconhecimento da realidade fraternal entre nós. Mas de um tempo para cá, sob o slogan: fraternismo, tentou-se entender o relacionamento fraternal entre nós a partir e na perspectiva de amizade, intimidade etc. que em muitos casos se transformou na substituição do modo de ser da família. Assim, o fraternismo não foi tematizado como ser-fraterno no toque e na busca da mesma vocação e mesma missão. Cf. a crescente tendência de buscar na vida comunitária religiosa, não tanto confronto, busca, estudo da causa comum, referida à nossa vocação, mas sim ambiência de confraternização, a modo de busca do conforto, intimidade, prazer do convívio agradável.
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