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ORDEM TERCEIRA DE CARMO DE MINAS/MG
Encontro sobre a Espiritualidade Carmelitana.
Dias 9 e 10 de novembro-2017.
Com Frei Petrônio de Miranda, O.Carm.
Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo.
(E-mail do Frei: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)
Tema: O Voto de Pobreza.
*Frei Quinn R. Conners, O. Carm.
Os Votos
Os três votos professados pelos irmãos e irmãs d Ordem Terceira do Carmo estão enraizados nas Escrituras. Eles são uma expressão dos valores do Evangelho. Contudo, eles se encarnam num determinado momento histórico, refletindo assim as necessidades e as esperanças psicológicas e espirituais das pessoas e do tempo em que vivem. Nossa discussão sobre cada um dos votos partirá de suas raízes espirituais ou teológicas. Reconhecemos que os votos não são entidades autônomas. Cada voto tenta exaltar um lado distinto da vida humana, dos valores evangélicos, da vida cristã e carmelitana. No entanto, cada voto está relacionado intimamente ao outro. A partir de nossa breve abordagem histórica, veremos que antigamente todos os votos estavam subordinados ao voto de obediência. Este inter-relacionamento dos votos fica evidente quando tentamos descrever cada um deles.
Pobreza – A matéria bruta em transformação
Ao contrário da obediência, encontrar as raízes bíblicas da pobreza exige algum esforço. Obediência é uma palavra bíblica bem comum, enquanto que pobreza ocorre com menos frequência. Contudo, a chave para a pobreza é a consciência de que ela deve estar enraizada na fé e no amor que nos une a Deus. De fato, num sentido bíblico a pobreza e a obediência estão intimamente relacionadas. Se obediência é o compromisso de ouvir a voz de Deus, a pobreza é o compromisso de responder a esta voz.
Em geral, as Escrituras olham a pobreza de um modo bem prático. Basicamente, os bens materiais são apresentados de uma maneira positiva. Eles são um dom de Deus, reflexo da criação de Deus. Por outro lado, a pobreza e a espoliação não são boas. Elas representam uma distorção da bondade de Deus. Portanto, um dos compromissos da Aliança era que todos mereciam atenção: ninguém deveria passar necessidades, ninguém deveria ser pobre. Quando Lucas retrata a comunidade de Jerusalém após a Páscoa, ele a descreve precisamente nestes termos como a realização da comunidade ideal ansiada por Israel: “Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas... conforme a necessidade de cada um” (At 2,44-45).
Contudo, Israel e as igrejas do Novo Testamento também conheciam a tentação em ter tantos bens. As divisões entre os ricos e os pobres emergiram desde cedo na história de Israel. Eventualmente vozes proféticas, de Elias a Jeremias, surgiam contra os ricos e poderosos porque eles maltratavam os indefesos. Amós e Oséias denunciavam os ricos por ignorarem os pobres.
Assim, surgem duas correntes bíblicas sobre os bens nas escrituras hebraicas e persistem até o Novo Testamento. Primeiramente, os bens são bons quando servem como instrumentos e expressões da dignidade humana que recebemos como filhos de Deus. Em segundo lugar, numa comunidade baseada na fé em um Deus que é misericordioso e compassivo, ninguém deveria sofrer com a falta de alguma coisa.[i]
O Novo Testamento também tem uma visão prática dos bens. Uma grande riqueza é vista com ceticismo que nasceu da experiência. Jesus viveu num tempo onde existia uma grande divisão entre ricos e pobres. Ter muitos bens exige sua atenção nas coisas, não em Deus. “Onde está o seu tesouro, está o seu coração”. As pessoas que possuem muita colheita necessitam construir muitos celeiros, em vez de pensarem sobre o destino de suas almas. Aqueles que pisam em Lázaro e em suas feridas para entrarem nos salões do banquete estão também muito preocupados para ouvirem a voz da profecia. Aqueles que encontram conforto e poder naquilo que possuem podem estar cultuando a riqueza como se fosse seu Deus.
Estes são os exemplos de Jesus sobre riqueza e bens. Eles são pragmáticos e baseados na experiência. “Algumas de suas intuições mais explícitas sobre os bens são estabelecidas no contexto de metáforas sobre viagens”.[ii] Carregue apenas um cajado. Muita riqueza é simplesmente muita bagagem. O jovem rico foi embora muito triste – tinha muita bagagem. Zaqueu, buscando a aprovação de Jesus, dá metade de suas riquezas.
Caminhar nas pegadas de Jesus é uma jornada de fé e de serviço. Devemos estar livres para esta jornada. Esta realidade influencia as parábolas de Jesus sobre os bens:
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la. Com efeito, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?” (Mc 8,34-36).
Quando os discípulos hesitam, imaginando que se arriscaram muito, Jesus lembra mais uma vez o chamado da liberdade:
Pedro começou a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. Jesus respondeu: “Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos, campos, por causa de mim e da Boa Notícia, vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mãe, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna” (Mc 10,28-30).
O pensamento de Jesus é claro: “O que chamamos de pobreza evangélica é aquilo que os evangelhos chamam de colocar de lado qualquer coisa que nos impeça de seguir Jesus. Jesus era totalmente livre, livre para seguir a orientação do Espírito, livre para trilhar pelas margens da sociedade de seu tempo, livre para estar em comunhão com os pobres, livre para tocar naqueles que precisavam de cura, livre para acolher a raiva e a violência, livre para ouvir a voz de Deus”.[iii]
A Bíblia fala positivamente do pobre, mas não da pobreza. Os pobres são o objeto da compaixão de Deus e, por isso, deveriam ser do interesse do povo de Deus. Aos olhos da Bíblia os pobres têm uma vantagem sobre os ricos: é menos provável que eles sejam seduzidos por uma profusão de bens. Por estarem indefesos e vulneráveis sua única força é Deus.
Assim, as raízes bíblicas da pobreza são simples. Bem-aventurados os pobres porque deles é o reino de Deus. Bem-aventurados os que têm fome de Deus e de seu reino que colocam de lado todos os empecilhos, toda bagagem e seguem Jesus para a realização de suas esperanças.
Existem duas motivações bíblicas óbvias para deixarmos de lado os bens. Primeiro, o voto de pobreza nos permite a liberdade de colocarmos o excesso de nossos bens à disposição dos necessitados. Segundo, o voto nos torna livres daquelas posses que poderiam nos impedir de seguir Jesus.[iv]
Na Regra, a pobreza aparece no n. 12. A visão é aquela das primeiras comunidades apostólicas cujo objetivo é preservar o bem comum. A pobreza em si não é o ideal. O bem de todos os irmãos e irmãs é o ideal. Portanto, partilhamos o que temos uns com os outros de modo que ninguém tenha necessidade de qualquer coisa.
Contudo, o bem comum em si não é um tipo de comportamento nivelador ou cego de modo que a singularidade de cada pessoa se perca ou desapareça sob uma monotonia ou uniformidade superficial. O objetivo de partilhar todas as coisas em comum é colocado no contexto onde também saibamos reconhecer as necessidades individuais – “conforme cada qual estiver precisando, levando-se em consideração as idades e as necessidades de cada um”.[v] A Regra nos desafia a assumir nossa responsabilidade em determinar o que precisamos e avaliá-las no contexto das necessidades da comunidade.
Cada ser humano estabelece algum tipo de relacionamento com o mundo econômico. Universalmente as pessoas tendem a medir o sucesso na vida através deste relacionamento. O que eu ganho na esfera econômica? De quantas maneiras posso ser dominado pelo mundo que me rodeia? A minha doação é benéfica ou maléfica, libertadora ou escravizante?
Ao professarmos a pobreza não escapamos destas perguntas e da luta que elas representam. Estamos simplesmente dizendo que, através de nossa profissão para ser verdadeiramente humanos, queremos partilhar o que temos, viver simplesmente, desenvolver um espírito de desprendimento e sermos solidários com os necessitados e pobres de fato.
Partilhar
Partilhar não significa necessariamente dar um testemunho poderoso, mas é uma prática que nos une e nos ensina sobre nossa dependência de Deus e dos outros. A solidão e a indiferença mútua que experimentamos algumas vezes na vida comunitária estão muitas vezes relacionadas com questões envolvendo os bens comunitários. Muitos bens e conveniências pessoais embaralham nossas mentes e nossos corações e nos afastam de qualquer necessidade sentida na vida comunitária. A necessidade de partilhar nossos bens, de chegar a um acordo em nossas preferências, de estar satisfeitos com o bem-estar comum – tudo isso proporciona várias oportunidades para aquele apoio e desafio que são a essência da vida comunitária. A partilha dos bens por sua vez, proporciona um meio de também partilhar os interesses, as preocupações, as memórias, as aspirações e a oração.
Viver de modo simples
Viver de modo simples em nosso mundo consumista é um grande desafio. Muitos bens materiais podem nos provocar o esquecimento de quem nos fez e do porquê estamos aqui. Uma vida mais austera abre perspectivas, novas ou esquecidas no conhecimento de Deus. Libertados das distrações e da busca ilusória de nossos pequenos confortos e luxos, permanecemos diante de Deus um pouco mais como somos – como seres humanos com fome de Deus, necessitados da misericórdia de Deus, nunca realizados ou satisfeitos a não ser em Deus (vacare Deo).
A austeridade de vida nunca é fácil para um indivíduo ou para uma comunidade. Cada grupo etário, cada tipo de personalidade, cada cultura humana tem seus pontos fortes e suas fraquezas neste domínio. É um desafio avaliar continuamente nosso estilo de vida, com respeito uns pelos outros e fazer cada vez as mudanças necessárias que nos levarão para mais perto de Deus, dos outros e do povo de Deus ao nosso redor.
Ser desapegado
O voto de pobreza sem uma simplicidade material é certamente considerado suspeito. Contudo, a observância fiel do voto não pode ser medida em termos puramente econômicos. O significado mais profundo de nosso voto de pobreza nos desafia a um desapego, tanto espiritual como material. Nos capítulos 1-8 de seu livro Noite Escura, João da Cruz descreve enfaticamente a transformação a qual Deus nos chama através deste espírito de desprendimento.
Ser solidário
A pobreza voluntária não pode estar separada ou independente da pobreza involuntária experimentada por tanta gente do povo de Deus em nosso planeta. Se estamos realmente caminhando nas pegadas de Jesus, então o interesse dele pelos pobres, pelos sofredores e fracos de nosso mundo deve tornar-se também nosso. Jesus viveu no meio de pessoas que eram consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16. 1,40; Lc 7,37). Ele reconheceu a riqueza e o valor que os pobres possuíam (Mt 11,25-6; Lc 21,1-4). Ele os proclamou felizes porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20: Mt 5,3). Ele definiu sua missão como “anunciar a Boa Notícia aos pobres” (Lc 4,18). Ele mesmo viveu com os pobres, sem possuir nada, nem mesmo uma pedra onde repousar a cabeça (Lc 9,58). Ele ordenou, a quem quisesse segui-lo, que escolhesse Deus ou o dinheiro (Mt 6,24). Ele ordenou fazer uma opção pelos pobres (Mc 10,21). Como realizamos isto?
Em primeiro lugar, um grande desafio para nós é redirecionar nosso trabalho nos ministérios atuais. Justiça para os pobres – aquela justiça que é “parte essencial do evangelho”[vi] – deveria ser uma preocupação em tudo o que realizamos. Quando trabalhamos entre os saciados e os ricos, o desafio é motivá-los a ajudar, a ampliar seu pensamento e a estimular sua boa vontade. Os trabalhos em nossas paróquias, escolas, etc., precisam envolver também os participantes ricos, para que eles possam experimentar realmente os problemas dos pobres e dos marginalizados.
Provavelmente o modo mais importante de viver este voto é ser solidário com os pobres. A carência material é um mal. Não queremos idealizá-la, mas superá-la tão eficazmente quanto possível. Não podemos fingir sermos exatamente como os pobres. Mas podemos conhecê-los e partilhar seus interesses e seus fardos mais plenamente. Nossa educação e influência como religiosos podem ajudar a dar voz e compreensão à luta dos pobres. A experiência única que eles têm de Deus e da divina providência é um presente para nós. Temos muito a dar e a receber uns aos outros. Este é o significado da solidariedade – “permanecemos juntos como Maria permaneceu com João aos pés da cruz e experimentamos uma nova fonte de poder”.[vii] Tal postura é observada em nossa tradição carmelitana. Estaremos realmente próximos de Jesus na medida em que experimentarmos esta transformação em nossa solidariedade para com o pobre. Quanto mais estivermos perto dos pobres, experimentaremos esta transformação em nosso relacionamento com Jesus.
* COMISSÃO INTERNACIONAL PARA O CARISMA E A ESPIRITUALIDADE
Comunicações Carmelitanas- Melbourne Austrália. 1999
[i] D. Senior, C. P. “Vivendo neste ínterim: princípio bíblico para a vida religiosa”. Em P. Philibert, O.P., (ed.), Vivendo neste ínterim. Mahwah, NJ: Paulist Press, 1994, p. 63.
[ii] Senior, p. 64.
[iii] Ibid.
[iv] Senior, p. 65.
[v] RA 12.
[vi] Justiça no Mundo, Declaração do Sínodo dos Bispos, 1971.
[vii] D. A. Fleming, S.M. Anotações do peregrino: uma experiência de vida religiosa. Maryknoll, NY: Orbis, 1992, p. 35.
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ORDEM TERCEIRA DE CARMO DE MINAS/MG.
Encontro sobre a Espiritualidade Carmelitana.
Dias 9 e 10 de novembro-20147
Com Frei Petrônio de Miranda, 0. Carm.
Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo
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Tema: Castidade na vida do Terceiro Carmelita.
A Bíblia tem uma visão muito positiva da sexualidade. Não no seu sentido romântico, mas como uma expressão humana vital do poder criador de Deus. A visão bíblica era “crescer e multiplicar”. Por isso, as crianças – especialmente o filho, numa cultura de aldeia patriarcal – eram não apenas um sinal de bênção e de segurança, mas uma expressão de obediência.
A infecundidade e a esterilidade, por outro lado, eram uma maldição e um motivo para alguém ser ridicularizado. A Bíblia não traz hinos sobre a virgindade e poucas palavras de elogio à vida celibatária. Mais típico é o doloroso quadro de Ana, desfeita em pranto ao orar no santuário de Silo, implorando a Deus para livrá-la da vergonha da esterilidade. Então, onde encontramos um fundamento bíblico para o voto de castidade?
Desde o início da história cristã, aqueles que escolheram a castidade celibatária recorreram a dois textos como a base bíblica para esta decisão. Mateus 19 e 1Coríntios 7. Em Mateus, Jesus proclamou seu ensinamento sobre o matrimônio e aparentemente anulou a possibilidade do divórcio. Os discípulos atordoados dizem a ele: “‘Se a situação do homem com a mulher é assim, então é melhor não se casar’. Jesus respondeu: ‘Nem todos entendem isso, a não ser aqueles a quem é concedido. De fato, há homens castrados, porque nasceram assim; outros, porque os homens os fizeram assim; outros, ainda, se castraram por causa do Reino do Céu. Quem puder entender, entenda’” (Mt 19,10-12). Ainda que o estudo bíblico moderno sugira que esta passagem está mais relacionada com o casamento do que com o celibato, muitos sentem que ela ainda é um importante indício para um fundamento bíblico do voto.
Nesta passagem de Mateus, a frase chave é por causa do Reino do céu. A noção sugerida no texto grego não é a de que alguém se torna eunuco para ir para o Reino, mas que o reino fez algo para que a pessoa se tornasse um eunuco. “Em outras palavras, a lei de Deus – Deus – apodera-se de uma pessoa com uma paixão tão forte, tão dominante que ela toma conta da vida desta pessoa, a leva a uma decisão que a Bíblia dificilmente pode contemplar (e diante da qual os discípulos hesitam)”.
Na passagem de 1Coríntios, Paulo tem um enfoque semelhante. Ao nos aproximarmos do fim dos tempos, “quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor”. Ele diz isso a eles não para armar uma cilada, mas “para que possam permanecer sem distração junto ao Senhor” (1Cor 7,32-35). Assim, um enfoque semelhante é dado: a castidade celibatária torna-se uma opção cristã apenas porque a ardente paixão por Deus toma conta da vida da pessoa.
Tal fundamento lógico tem uma base espiritual sólida. As pessoas estéreis que lamentam seu vazio e sua esterilidade descobrem que Deus preenche suas vidas. Deus tira a vergonha de Ana; Deus sopra vida no útero de Isabel; e o Espírito de Deus leva vida ao útero de Maria. A única paixão que pode substituir a paixão do amor sexual é a paixão da fé. Assim, as escrituras sugerem que o voto de castidade, como os votos de obediência e de pobreza, “tira seu significado radical do vibrante elo primordial entre Deus e o fiel”.
A Castidade é vivida de maneira diferente de acordo com o estado de vida que a pessoa tiver escolhido: casada ou solteira. Para todos, significa viver o amor em plenitude. A vivência da castidade ajuda a pessoa a estar disponível para Deus e para os irmãos e as irmãs e, assim, ser um sinal do futuro que Deus oferece a todos. Não significa que a pessoa não casada deva viver frustrada ou complexada, como se não fosse plenamente humana. Pelo contrário! Significa ativar a amizade e o amor ao máximo, a ponto de poder irradiar o amor de Deus para todos com que convive. Deste modo, a pessoa imita a Jesus que disse: "Não chamo vocês de empregados, porque o empregado não sabe o que faz o seu patrão; mas eu chamo vocês de amigos, porque tudo que ouvi do meu Pai dei a conhecer a vocês!" (JO 15,15).
O voto de castidade para um leigo Carmelita está baseado não apenas em uma promessa- promessas muitas vezes se quebra. Não, o nosso compromisso evangélico vai mais além, ele tem uma profunda obrigação espiritual carmelitana para cumprir a Lei de Deus do 6º- mandamento, “Não pecar contra a castidade” e do 9º, “Não desejar a mulher do próximo”. Tendo como pano de fundo a vivência de tais mandamentos, o terceiro e terceira carmelita dedica esta finalidade de uma maneira especial a Deus e a Nossa Senhora. Em outras palavras, a profissão da promessa do voto de castidade é um sério compromisso que se faz a Deus para observar a regra da Ordem dos leigos Carmelitas até a morte!
Os Terceiros do Carmo têm seu estímulo na pureza da Virgem Maria- A Senhora do Carmelo, que procuram glorificar por um voto feito a Deus. Quando a gloria de Maria foi a sua pureza virginal, a castidade dos Terceiros deve ser também a sua gloria.
Se casado-como casado ele vive casto e puro, no próprio uso dos direitos que lhe são concedidos pelo santo matrimônio, ele comporta-se como pessoa espiritual; o sacramento do matrimônio, mesmo nos justos direitos que lhe são permitidos.
Se solteiro-como solteiro ele se comporta diante de si mesmo e dos demais como pessoa espiritual, casta e pura, torna-se até muito mais livre e desimpedida para dedicar-se a Deus e às coisas de Deus e se ele chegar à renúncia total e livre aos direitos do matrimônio é porque ele vislumbrou o valor, a excelência e grandeza de sua imolação. Para os Carmelitas Seculares solteiros a castidade em seu estado é também uma prática que o exercita na preparação para o casamento ou para a consagração total a Deus e às causas de Deus, seja numa Ordem ou Congregação Religiosa seja por uma vida consagrada no mundo.
Finalizamos dizendo que a observância do voto de Obediência e da Castidade, é o comprometimento mais certo, seguro e sério com os conselhos evangélicos, que os faz aproximar mais perto de Cristo, modelo e exemplo do ponto de união entre nós, filhos e filhas do Profeta Elias e Nossa Senhora do Carmo.
PARA REFLETIR:
1º A vida celibatária- segundo o meu estado de vida, tem auxiliando na realização da minha vida de terceiro (a) carmelita na família e na convivência diária ou me torna uma pessoa superior, intocável e angelical? (Lc 1, 39-45).
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Ordem Terceira de Carmo de Minas/MG
Encontro sobre a Espiritualidade Carmelitana.
Dias 9 e 10 de novembro-2017.
Com Frei Petrônio de Miranda, O.Carm.
Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo.
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Tema: Obediência na vida do Terceiro Carmelita.
Introdução aos conselhos evangélicos.
Aprovado para fazer os Votos Perpétuos, o candidato livre e conscientemente promete a Deus castidade, pobreza e obediência por toda a vida segundo o seu estado de vida (Casado, Solteiro, Viúvo), e desta maneira torna-se membro definitivo da Ordem Terceira com todos os direitos e todos os deveres de um Carmelita coloca-se a serviço.
O serviço é parte integrante do nosso carisma. Embora todas as etapas sejam formação gradual para o serviço, esta, porém, se preocupa de modo especial com o tempo, que virá imediatamente depois da profissão perpetua, levando em conta a idade, os antecedentes e as capacidades.
Pela profissão perpétua o candidato assume livremente, repito: LIVREMENTE como sua a família carmelita com o seu carisma próprio, para enriquecê-la e embelezá-la com os carismas pessoais e dedicar-se ao serviço, de acordo com as necessidades DO sodalício.
Os conselhos evangélicos que um terceiro ou terceira carmelita professa, deve ser compreendido num determinado contexto. Os votos são uma realidade vivida. São valores evangélicos proclamados publicamente na Igreja por homens e mulheres.
A reflexão teológica para nossa discussão sobre os votos é a encarnação de Jesus Cristo. Uma teologia Pré-Vaticano II enfocava a natureza escatológica dos votos, dando uma ênfase ao relacionamento espiritual com Cristo e com o mundo. Este conceito de vida religiosa como um estado de perfeição baseava sua teologia na interpretação da história do jovem rico (Mt 19,16-22), enfatizando a ideia de dois caminhos. Por outro lado, uma teologia inserida vê Jesus Cristo como a encarnação do amor de Deus por nós.
Para Dom Frei Vital Wilderink, Carmelita, falecido no último dia 11 de junho-2014 no Alto do Rio das Pedras em Lídice, distrito de Rio Claro, Rio de Janeiro; “A experiência de Deus acontece na história”. Em outras palavras, não somos, não vivemos e jamais viveremos os votos evangélicos em uma dimensão espiritual fora do contexto da nossa vida diária. A experiência humana e histórica é o principal veículo para a experiência do amor de Deus.
Em segundo lugar, a contribuição carmelitana para nossa discussão dos votos é a Regra de Santo Alberto. Ou seja, em resposta ao Espírito Santo os primeiros carmelitas desenvolveram um modo de vida no seguimento de Jesus Cristo a partir do contexto da idade média. Por sua vez nós, terceiros e terceiras carmelitas, continuamos o mesmo seguimento dos primeiros carmelitas sem esquecer ou fugir das contradições históricas em que vivemos.
O espírito da Ordem é, naturalmente, a observância da regra. Um terceiro, sendo uma pessoa religiosa, vivendo os desafios do dia a dia, procura seguir Jesus Cristo e contrai deveres diante de Deus, deveres sérios, sagrados e, por isso é obrigado a cumpri-los sob pena de exclusão da fraternidade. A vida de um terceiro é, por isso, diferente da vida de um leigo ou leiga não consagrado (a).
Para o leigo Carmelita, o voto de obediência se intitula primariamente para aceitação da obediência dos estatutos da regra e da Província Carmelitana de Santo Elias. Como um ponto de clareza, o voto da obediência não significa que se torna submisso. Entretanto, ele realmente implica cultivar uma atitude de legitimidade tanto quanto um sério compromisso com os pedidos do diretor provincial em assuntos relacionados com a vida de um leigo Carmelita, como consolidar na regra e estatuto do Sodalício. Pela virtude do voto de obediência, o terceiro carmelita deve obedecer aos superiores da ordem e o assistente espiritual do grupo em tudo que é pedido a eles a fazer, de acordo com a regra para sua própria vida espiritual.
A obediência é a alma da vida do terceiro e da terceira carmelita; é o caminho mais seguro e mais curto para chegarmos à Santidade; é de todos os meios, mais eficaz para domarmos as nossas paixões; para submetermos e sujeitarmos a nossa vontade a vontade de Deus e para nos imolarmos inteiramente à sua gloria. Santa Teresa dizia a suas religiosas: - “Eu olho, como a graça mais preciosa, passar um só dia no exercício da humildade e da obediência, do que passar muitos dias em oração contínua... A alma não terá vantagens das longas orações, sem obediência e caridade”...
A obediência e a humildade são tanto mais admiráveis quanto mais elevadas são por natureza, as pessoas que obedecem e se humilham, e quanto mais baixo se colocam por sua livre escolha. A obediência e a humildade são a base essencial de todo o edifício espiritual, a guarda de toda a virtude, de tal modo que, sem elas, a virtude se corrompe e não passa duma impostura. A obediência é para nós, cristãos, e, principalmente para nós terceiros, uma coisa séria para chegarmos à presença de Deus.
Obediência não significa que a pessoa deva perder ou abdicar a sua vontade. Significa, ao contrário, ativar a própria vontade ao máximo, até ela estar em conformidade total com a vontade de Deus. Deste modo, a pessoa imita a Jesus que disse: "Nada faço por mim mesmo, mas falo como me ensinou o Pai... Faço sempre o que lhe agrada" (JO 8,28-29; JO 3,11; 8,38). "Quem me vê, vê o Pai!" (Jo 14,9).
A obediência se realiza no diálogo com nossa comunidade e sua liderança. O chamado para a vida comunitária é fundamental para o carisma carmelitano. Desse modo, acreditamos que o Espírito de Deus se move através da voz coletiva da comunidade e daqueles que escolhemos para liderá-la. Qualquer discernimento da vontade de Deus deve incluir necessariamente nossa escuta da comunidade.
Finalmente, a obediência é realmente o cultivo de uma união amorosa com Deus. Esta união se torna a base de todas as nossas escolhas que, por sua vez, nos une profundamente com Deus. Ao estarmos conscientemente mais unidos com Deus, começamos a ver tudo com os olhos de Deus e a buscar a verdade no amor. Em muitas circunstâncias pode existir apenas uma escolha para nós. No entanto, em outras situações podem existir várias escolhas.
Foi por obediência que Jesus morreu na cruz. Foi por obediência que o profeta Elias encontrou com o senhor Deus, (1º Reis, 19, 9-14). Foi por obediência que Santa Teresinha do Menino Jesus encontrou o caminho da santidade no Carmelo de Lisieux, na França. Graças à obediência São Pedro lançou as redes ao mar. (Lc 5, 5). Enfim, foi através da promessa da obediência que nós, frades, freiras, leigos e leigas carmelitas, nos consagramos a Deus. Portanto, quebrar tal compromisso é afirmar que estamos fora desta família mariana e Eliana.
PARA REFLETIR:
1º O voto de obediência me ajuda a viver a alegria de ser carmelita ou me torna uma pessoa submissa e presa a leis e regras? (Lc 1, 46-56).
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Venerável Ordem Terceira do Carmo,
Carmo de Minas-MG.
Formação: Dias 9 e 10 de novembro-2017.
Com Frei Petrônio de Miranda,
Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo.
O Leigo e o Carmelo.
Frei. Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Prior Geral.
Como todos os carmelitas, o leigo carmelitano é chamado a alguma forma de serviço, parte integrante do carisma dado à Ordem por Deus. Os leigos têm a missão de transformar a sociedade secular. Eles podem fazer isto de diferentes formas, de acordo com suas possibilidades. O grande exemplo para a ação profética é Elias, cuja atividade se origina numa profunda experiência de Deus.
A fraternidade também é um elemento essencial do carisma carmelitano. Os leigos carmelitanos podem criar comunidade de várias formas: em suas próprias famílias, onde a igreja doméstica pode ser encontrada; em suas paróquias, onde cultuam a Deus com seus companheiros e companheiras, tomando parte plenamente nas atividades da comunidade; em sua comunidade carmelitana leiga na qual encontram apoio para a jornada espiritual; no local de trabalho e no lugar onde moram. Este último necessita do testemunho daqueles que estão comprometidos com o amor ao próximo, como Cristo nos ensinou, contribuindo assim para a transformação do mundo de acordo com o plano de Deus.
Dentro desta vocação batismal comum, alguns leigos são chamados a participar do carisma de uma família religiosa particular. Professar como membro leigo carmelita é uma repetição intensificada de nossas promessas batismais. Entrando na Ordem eles assumem para si o carisma carmelitano, que é profundamente marcado pela oração. Portanto, a oração, tanto litúrgica quanto pessoal, é uma parte vital e integrante da vida do leigo carmelita. A participação, diária se possível, na celebração da Eucaristia, é a fonte da vida espiritual e da fecundidade apostólica. O ofício divino, como uma partilha na oração de Cristo, é encorajado pelo leigo carmelita e também é uma fonte de grande ajuda na jorna espiritual. A oração pessoal é vital para a vida dos leigos carmelitas e os meios tradicionais, encontrados na espiritualidade carmelitana, são especialmente enfatizados. Acima de tudo temos a lectio divina, a escuta orante da Palavra do Senhor, que quer nos abrir para um relacionamento íntimo com Deus, em e através de Jesus Cristo. A devoção a Nossa Senhora é marcante para o leigo carmelitano, porque ela é a Mãe do Carmelo.
A contemplação é o que cimenta os outros elementos do carisma. Como todos os membros da Família Carmelitana, os leigos carmelitanos são chamados a crescer no relacionamento com Cristo até se tornarem seus amigos íntimos e, como tais, ser uma poderosa influência transformadora no mundo. A assistência tradicional para o desenvolvimento da contemplação está muitas vezes ausente de nosso mundo, que é marcado pela atividade frenética. Portanto, os leigos carmelitanos devem encontrar tempo, para deixar de lado os cuidados da vida diária por um instante e permitir que Deus fale a seus corações em silêncio. Fortalecidos por este alimento, eles podem continuar sua jornada e olhar para o mundo com novos olhos. Os contemplativos podem ver a presença de Deus em situações improváveis. Deus sempre nos precede e está presente em qualquer situação antes de chegarmos. É nosso dever descobrir a presença de Deus nas coisas que nos rodeiam e proclamar esta presença para nosso mundo.
Os elementos principais do carisma carmelitano são bem conhecidos: oração, fraternidade e serviço. Estes três elementos são cimentados pela contemplação. Acima de tudo, os carmelitas são chamados a seguir Jesus Cristo e a viver o Evangelho na vida diária. Em nosso seguimento de Cristo, somos inspirados por duas figuras bíblicas: Nossa Senhora e o Profeta Elias. Todo carmelita, religioso ou leigo, é chamado a viver este carisma. O modo como juntamos estes elementos vai variar de acordo com nossa situação na vida. Os leigos devem viver o carisma carmelitano precisamente como leigos. Jesus disse que não estava pedindo ao Pai para tirar seus amigos do mundo, mas para guardá-los do Maligno (Jo 17,15). Todos os carmelitas estão no mundo de alguma forma, mas a vocação dos leigos é precisamente transformar o mundo secular.
Todos os carmelitas têm um relacionamento pessoal com Maria. Os carmelitas leigos têm que viver este relacionamento, imitando suas virtudes, ouvindo a Palavra de Deus na vida diária. O mundo em que vivemos nos encara com muitos desafios. As estruturas sociais que amparam a fé desapareceram em muitas áreas e a opção de seguir a Cristo precisa de coragem. A vocação dos leigos cristãos, acima de tudo, é a de ser fermento no coração do mundo secular. Os leigos carmelitanos vivem esta vocação, inspirados pela tradição carmelitana. No Magnificat, Nossa Senhora dá glória a Deus porque ela está consciente que Deus está agindo na transformação da realidade mesmo que as aparências evidenciem o contrário. Os leigos carmelitanos também permanecem com Maria aos pés da cruz, cooperando com a misteriosa vontade de Deus que deseja salvar todos os homens e todas as mulheres. Vivendo o Evangelho diariamente como Maria, nossa Padroeira, Irmã e Mãe, os leigos carmelitanos exercem seu papel na transformação do mundo.
O HÁBITO DO CARMO E O ESCAPULÁRIO: Simbolismo Bíblico
Escapulário do Carmo, escapulário de Nossa Senhora do Carmo, O HÁBITO DO CARMO, O hábito religioso,
Já no Antigo Testamento a veste - e de maneira especial, o manto - era símbolo dos benefícios divinos, da proteção do Alto, do poder transmitido a um enviado de Deus.
A veste especial de José foi símbolo da predileção (Gn 37,3); a capa de Jônatas presenteada a Davi foi um símbolo da amizade (1Sm 18,4). Em Isaías lemos: "Alegro-me imensamente no Senhor, a minha alma exulta no meu Deus, porque me revestiu com as vestimentas da salvação e envolveu-me com o manto da justiça" (Is 61,10). Quando Elias, o Profeta, foi arrebatado da terra, o seu manto caiu sobre Eliseu, seu discípulo, transmitindo-lhe o espírito do mestre (2Rs 2,14ss).
No Novo Testamento até as fímbrias do manto de Jesus tocadas com fé comunicam o seu poder benfazejo (Mc 5,25ss). São Paulo, mais de uma vez, apresenta a vida em Cristo como um revestir-se de Cristo (Rm 13,14; Gl 3,27); assumir os mesmos sentimentos de Jesus, isto é, a vida da graça filial do cristão, se descreve com a imagem da vestimenta. O hábito religioso, do qual o Escapulário é uma parte e um símbolo, significa de modo particular este seguimento de Jesus.
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*Frei Dom Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam.
Alto do Rio das Pedras 13.08.2003. (Publicado no Informativo das Irmãs Carmelitas DP)
Toda manhã, nos intervalos do noticiário, uma difusora da Rede Católica de Rádio transmite um lembrete musicado: "Avancem para águas mais profundas: mergulho na vida, encarnar a história, ouvir o chamado do Senhor". Um convite que faz refletir, ou melhor, faz meditar, porque na perspectiva cristã a vocação não é um determinado setor da nossa vida a ser considerado no seu relacionamento com outros setores, mas atinge os próprios fundamentos da totalidade do nosso ser. Por isto mesmo, o que se pode dizer sobre ela, permanecerá sempre uma frase incompleta. O que um autor medieval afirmava em relação à exegese da Palavra de Deus vale também para a vocação: Sic semper invenitur, ut semper supersit quod inveniatur. Traduzindo em vista das presentes páginas sobre vocação: elas foram escritas para descobrir o que nelas não está escrito. De fato, sempre haverá novos horizontes a serem abertos, não só na reflexão teológica, mas também na própria vivência sem a qual a teologia vocacional corre o risco de permanecer abstrata.
Se perguntássemos a um grupo de pessoas que se consideram "vocacionadas", o que significa a vocação para cada uma delas, as respostas, provavelmente introduzidas por um silêncio, não seriam as mesmas. O que mostraria que a palavra vocação não traduz um conceito que define uma realidade, e que, pelo menos intencionalmente, pretende ser unívoco. A palavra vocação escapa da precisão de um conceito. Não que a nossa racionalidade não faça parte da esfera vocacional. A razão nos ajuda a fazer coisas razoáveis. Mas o razoável não esgota aquilo que chamamos "nossa vocação". Paulo apóstolo teve que cair do cavalo para descobrir a vocação dele. Não que o despertar vocacional precisa sempre de acontecimentos extraordinários. O que há de extraordinário é a própria vocação. Não deixa de ser paradoxal, pois é na contingência da vida que se ouve o chamado do Senhor, ou seja, é tocando nos próprios limites que se percebe um chamado que transcende esses mesmos limites. João o evangelista se recordava até da hora em que Jesus se voltou para ele: "Era a hora décima, aproximadamente". Aliás, o Evangelho de João conta também com certos detalhes circunstanciais, como se iniciou a história vocacional de outros apóstolos. Não faltará entre nós quem se lembra quando e como percebeu o chamado do Senhor, e, quem sabe, as hesitações que teve em segui-lo, ou as reações pouco favoráveis de parentes e pessoas amigas.
O discernimento vocacional é mais uma questão do coração que de argumentos. Magis in corde quam in codice, como diziam os antigos monges. Não pensemos, porém, que o discernimento pertence só aos começos da vocação. É um exercício que é necessário ao longo de toda a caminhada , embora seus pontos de referência e dimensões vão mudando. Essas mudanças do eixo no discernimento podem ser comparadas com a leitura que fazemos dos textos bíblicos: no decorrer do tempo vão revelando sentidos novos. João Cassiano nas suas conferências aos monges, já falava disso: "Na medida em que, através dessa leitura, o nosso espírito progride, também a face das Escrituras começa a mudar. Atingimos uma compreensão mais profunda cuja beleza aumenta na medida dos nossos progressos. Com efeito, os aspectos das Escrituras se adaptam à capacidade da inteligência humana"
Na linguagem bíblica o coração é o centro do nosso ser, o lugarzinho profundo onde se escondem e donde brotam as nossas aspirações e opções mais profundas. Estas não passam por cima da contingência da nossa vida que pode ter seus momentos cruciais, mas que também é feita das pequenas coisas de cada dia. A consciência vocacional surge quando na vida e na história, com suas alegrias e tristezas, se começa a vislumbrar uma terceira dimensão da realidade que os sentidos e a razão não captam. É um avançar para águas mais profundas. É um processo cujo ritmo não é o mesmo para todos. Frequentemente é interrompido por falta de discernimento, de silêncio interior, ou mesmo por falta de paciência com o próprio Deus.
A palavra vocação, ao ser pronunciada, desdobra-se em vários sentidos que ela vai revelando e, ao mesmo tempo, cobre com um véu. Fala de algo que é profundamente nosso mas, simultaneamente, superior a nós. É uma palavra que soa como um símbolo. O símbolo é símbolo quando estabelece uma relação com quem o percebe. É uma relação entre um sujeito e um objeto. Símbolo vem do verbo grego sumbállo, jogar, lançar envolver conjuntamente Um símbolo que não fala diretamente, deixa de ser símbolo.O símbolo não revela seu sentido e permanecerá letra morta, se não se superar uma dicotomia entre o que é objetivo e o que é subjetivo. É o que acontece com a palavra vocação. Ela não é interpretada num conteúdo objetivo de conhecimento racional, porque diz respeito a uma dimensão fundamental da nossa existência. Aqui vale a expressão de P. Evdokimov, teólogo ortodoxo: "Não é o conhecimento que ilumina o mistério, é o mistério que ilumina o conhecimento". Alguém poderá ajudar-me a ler um símbolo da palavra vocação mas o seu sentido não depende de uma interpretação que vem de fora: ele é captado no próprio processo da vivência vocacional. Por esta razão a introspecção, a presença a si mesmo, é um elemento metodológico indispensável para quem quer refletir sobre vocação.
Vocação não é uma construção mental, ela é sempre histórica. Envolve dados antropológicos bem concretos. Mas também não é uma disposição natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou profissão. Não que os nossos pendores ou tendências sejam excluídas da vocação cristã. Já dissemos que a vocação não passa por cima da nossa realidade humana, embora como opção, isto é, enquanto resposta a um chamado, não deixe de exigir renúncias. A vocação na perspectiva cristã supõe uma abertura para o Mistério que orienta a nossa vida do interior e do exterior.
A vocação será sempre uma busca e, portanto, uma interrogação. A vocação nasce quando identificamos nos nossos desejos, perguntas e temores a voz do Senhor: "Que procurais?" Frequentemente nós mesmos não sabemos definir o que buscamos. A nossa resposta é outra pergunta: "Mestre onde moras?" Jesus não tem endereço fixo: "Vinde e vede". Meio desajeitados, seguimos os passos dele. Edith Stein tinha razão quando dizia: "Tenho certeza de que o Senhor me conduz, mas, aonde, não sei ".
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita e 1º Bispo de Itaguaí/RJ - foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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* Frei Vital J.G. Wilderink, O.Carm. In Memoriam. Roma, 07 de setembro de 1995
Pareceu-me uma presunção da minha parte falar-lhes sobre a missão do Carmelo hoje. Sem dúvida, não faltam pontos de referência para dizer algo sobre o tema. Penso em determinadas perspectivas teológicas que poderiam oferecer a moldura dentro da qual se desenvolveria a nossa reflexão. Mas qual seria o estatuto epistemológico desta teologia? Para defini-lo deveríamos partir, creio eu, de uma visão histórica. Existe um pluralismo de interpretações teológicas na base da diversidade de formas históricas da vida religiosa. Sem esta diversidade seria impossível reconhecer a fonte evangélica donde brotam as diversas concepções da vida consagrada.[1]
A história da Ordem é portadora da nossa memória viva sem a qual é impossível esboçar o futuro do nosso passado. Sem memória não podemos nos situar no presente rumo ao futuro. A missão do Carmelo pressupõe uma identidade. Há, porém, uma dificuldade. Estamos aqui, carmelitas provindos de vários continentes e países, mergulhados em diferentes contextos culturais e sociais sem os quais é impossível descobrir a nossa missão. Certamente não pretendo conhecer todos estes contextos históricos. Mesmo se os conhecesse, não poderia levá-los na devida consideração para descrever a nossa missão no mundo de hoje.
Existe outra limitação minha ao abordar o tema que me foi confiado. A minha vida e missão de bispo me tirou da vida do dia-a-dia da família carmelitana à qual pertenço. O contato certamente não se rompeu. Há encontros com confrades, embora esporádicos, e leio atentamente, e às vezes avidamente, os documentos e comunicações que a Ordem e a minha Província têm a bondade de me enviar. São vozes familiares, mas, de certa maneira, também distantes porque me oferecem dados que já não constituem o tecido da minha vida e preocupações cotidianas. Não exigem de mim e, muitas vezes, nem aconselham uma tomada de posição da minha parte como seria o caso para alguém que responsavelmente participa ativamente da vida de sua família religiosa.
De outro lado, esta minha situação me torna, talvez, um observador privilegiado. Olhando para a realidade do mundo em que vivemos, posso procurar interpretá-la a partir da memória do Carmelo e também a partir do lugar que atualmente é meu. Não haveria o perigo de uma certa ingenuidade para quem não está imediatamente envolvido na problemática que para muitos confrades meus é um "espinho na carne"? As interrogações, dúvidas e perplexidades que eles têm, surgem muitas vezes de rumos e interpretações contrárias e até opostas. Certamente não posso arrogar-me o título de profeta. Mas, pelo menos, posso pedir a Deus que, em virtude do nosso batismo, nos faça participar do munus profético do próprio Cristo. E o profeta é sempre um "ingênuo" aos olhos de quem não participa da sua visão. O verdadeiro profetismo nunca segue os ditames de uma simples moda.
1-O que é missão?
A pergunta não me parece supérflua. O tema do último Sínodo foi definido pelo Santo Padre nos seguintes termos: "De vita consecrata deque eius munere in Ecclesia et in mundo". Nas várias traduções do Instrumentum laboris a palavra munus aparece como Sendung, misión, missão ou como ruolo, role, rôle. O próprio Instrumentum laboris no texto latino enumera entre as expressões do munus a missio. Sinal de que as palavras não são consideradas simples sinônimas. Durante o Sínodo, porém, prevaleceu a expressão "missão da vida consagrada". De fato, o conceito de missão tem uma conotação mais dinâmica do que munus. A palavra "missão" implica na consciência de ser enviado. O que faz pensar na origem, no conteúdo, nas mediações e nos destinatários da missão.
Nas últimas décadas houve uma evolução do conceito de missão. Todos nós nos lembramos do tempo em que a palavra missão e seu derivado missionário referiam-se quase exclusivamente à missão ad gentes. O livro France pays de mission já indica uma mudança de perspectivas tanto em relação aos destinatários como em relação aos portadores da missão. A Evangelii Nuntiandi de Paulo VI abre ainda mais os horizontes da missão do Povo de Deus. Aos poucos começa a prevalecer o uso da palavra "evangelização", principalmente com a insistência do Papa João Paulo II na necessidade de uma nova evangelização. Já Paulo VI na Evangelii Nuntiandi havia afirmado que a Igreja nasce da ação evangelizadora de Jesus e dos Doze. Este seu próprio nascimento faz com que a missão não é apenas uma das tarefas da Igreja mas define a Igreja toda naquilo que ela tem de mais íntimo. "Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade".[2] A missão coloca a Igreja numa permanente extroversão em direção ao mundo, aos homens e povos que não conhecem o evangelho. Trata-se de tornar nova a humanidade. Parcela dessa humanidade pertence à Igreja. Por isso a Igreja , ela mesma deve sem cessar ouvir sem cessar aquilo que ela deve acreditar, as razões de sua esperança e o mandamento novo do amor.[3]
A evangelização, razão de ser da Igreja, é complexa. É uma responsabilidade que recai sobre cada batizado-confirmado. O que evidencia a colaboração e intercâmbio dos dons específicos que constituem a vocação de cada pessoa e dos grupos ou movimentos eclesiais. Neste campo missão e carisma, identidade e espiritualidade tornam-se, na teoria e na prática, conceitos afins e complementares. O Sínodo de 1994 se debruçou precisamente sobre a missão específica da vida consagrada, de modo especial da vida religiosa. Ficou muito claro que na vida religiosa a consagração, expressa através dos votos, não pode ser separada da missão como se esta fosse apenas um acréscimo ou uma mera opção facultativa. Esta dicotomia entre consagração e missão já causou muitas vezes certo mal-estar nas famílias religiosas e nos seus membros individuais. Mal-estar e má consciência reforçadas pelo esquema teológico e jurídico que divide a vida religiosa em contemplativa, ativa e mista. É que na prática a missão era identificada, em primeiro lugar com atividade, obra ou apostolado.. A compreensão da missão tem uma referência indispensável a Cristo, consagrado e enviado ao mundo, que fez de toda a sua existência uma missão salvífica. A consciência missionária de Santa Teresa de Lisieux que fez com que Pio XI a proclamasse Padroeira da missões (ad gentes), não conseguiu resolver o impasse, nem para os contemplativos nem para os ativos. Além disto, quem é, na consciência dos religiosos, o sujeito da sua consagração: Deus, a Igreja, o próprio religioso? A acentuação e a articulação destas perspectivas tem consequências na vivência da missão e do carisma.
Na Igreja a missão não é um acréscimo mas faz parte da sua natureza mais íntima. A razão última está no fato de a Igreja acolher o dom da comunhão trinitária que ela incarna e comunica como oferta e dom de salvação que ela mesma recebeu. Ser sacramento universal de salvação já é missão independentemente da maneira em que esta sacramentalidade se realiza. Daí a consciência de que "a missão, na sua essência, não é propriedade da Igreja. Procede de Deus e para ele se orienta. Encontra a sua razão última, a sua natureza e multíplice riqueza, no mistério da Trindade. É, pois, essencial na missão tornar transparente o mistério de amor, que é a vida da Trindade".[4] Aplicando esta visão ao Carmelo podemos afirmar que ele não é anterior à missão. A Regra de Santo Alberto codifica uma missão eclesial.
A palavra "missão" inclui a consciência de "ser enviado". Na visão e terminologia teológica está intimamente ligada ao ser-enviado do próprio Jesus pelo Pai. A missão sempre implica um sair, um deslocar-se para além das próprias fronteiras.[5] A vida religiosa, qualquer que seja a sua forma, nunca apareceu na Igreja para confirmar um status quo. Na sua missão sempre aparece o aspecto corretivo, renovador e inovador. Esta sua função se projeta sobre a própria sociedade à qual a Igreja deve anunciar o evangelho. Basta analisar atentamente as contribuições dos padres e madres do deserto, das ordens mendicantes, dos diversos institutos apostólicos. Cada um acentua algum aspecto constitutivo da missão única que Jesus confiou à sua Igreja.
A missão da vida religiosa foi sempre profundamente marcada pelas circunstâncias históricas e pelo modelo eclesiológico vigente. Daí a sua mordência na realidade do momento histórico. Ao mesmo tempo, porém, explica as suas crises quando essa realidade e os modelos passam por mudanças não previstas e programadas na sua missão. A emigração dos carmelitas do Monte Carmelo para a Europa provocou uma primeira crise por uma aparente falta de um quadro de referência na experiência fontal que já se tornava memória. Mas qual é a memória do Carmelo?
2-A memória do Carmelo
O que é memória? Qualquer dicionário vai nos dizer que é a faculdade de reter idéias, impressões, conhecimentos adquiridos anteriormente. A memória pode ser intelectual e afetiva. Sempre tem a ver com a nossa identidade, com interesses profundos ou menos profundos que nos situam no presente. O nosso futuro vai depender da nossa memória. A memória de cada um de nós é pessoal. Mas não é algo isolado. Ela se formou à medida dos relacionamentos com outros e com situações. Também existe a memória coletiva, de uma família, de um grupo. Se a memória de um grupo se dilui, o próprio grupo vai se desfazendo. Uma mera ideologia nunca é suficiente para manter um grupo unido. Memória está intimamente ligada a cultura. Quando uma cultura entra em crise, a memória se desfaz. E vice-versa, a diluição da memória provoca uma crise da cultura. Quando se perde a memória, não nos sentimos mais em casa. Os conflitos entre gerações também é uma questão de memória.
A memória tem a ver com o sentido da vida. Ela oferece um código para a descoberta de um sentido para a vida. Sem código não há caminho para descobrir o sentido da vida. Diversos fatores podem provocar uma ruptura entre a memória e o sentido da vida. É uma espécie de esclerose. A memória só se mantém viva, quando ela mantém um dinamismo aberto para o desafio, para a provocação (não existe vocação sem pro-vocação). Quando a história do meu passado não abre horizontes, eu me fixo nele. De certa maneira é o fim da minha história, da nossa história.
Uma pergunta: qual é o interesse que nós temos, e principalmente a jovem geração dos carmelitas, pela história do Carmelo? Qual é a pedagogia em transmitir a nossa memória para que os jovens possam entrar na grande Tradição do Carmelo? Os jovens se perguntam: qual é o rumo da nossa vida? Certamente não se dá uma resposta contando ou copiando literalmente detalhes do passado. O relacionamento com o passado do Carmelo, indispensável a meu ver, é de outro tipo. Não basta simplesmente haurir normas do passado para podermos situar-nos no presente. Diretrizes e normas supõem a consciência de um objetivo global, de uma mística.
Não queremos afirmar que a leitura do passado deve limitar-se àquilo que corresponde às minhas experiências presentes. É evidente que a leitura do passado é um exercício de interpretação que é sempre seletiva. Mas não podemos manipular a nossa memória. Os psicólogos poderiam nos falar das consequências de uma manipulação da nossa memória. Eu não sou dono da memória do Carmelo. Ela me oferece uma tarefa, uma missão, ela me desafia, me provoca. A memória impede que eu me coloque diante de fatos consumados.
Há duas maneiras de cultivar a memória embora a distinção na prática não seja nítida. Posso voltar ao passado através do estudo científico que tem suas regras e normas. Posso voltar ao passado através de um diálogo com ele. Não podemos prescindir do estudo histórico do Carmelo. Para isto existem metodologias científicas, hipóteses e teorias de verificação, análises e interpretações dos fatos. O diálogo acontece quando deixamos que o nosso presente seja interrogado pelo passado, ou quando a partir do presente interrogamos o passado, não simplesmente como um conjunto de acontecimentos, mas como portador de uma Tradição, como transmissor da memória.
A transmissão da memória, indispensável para a identificação do Carmelo, é feita a uma geração que vive em contextos novos. Estes contextos têm muitos valores que envolvem e motivam as pessoas que buscam no Carmelo um sentido para a sua vida. Esta identificação com o Carmelo só acontece quando se transmite aos formandos, não um simples esquema de vida, mas uma presença, ou seja, quando se torna presente a experiência fontal da Ordem: seguir Jesus Cristo sob a inspiração de Elias e de Maria. Trata-se de beber do próprio poço, beber hoje da torrente do Carit. O Carmelo bebe de uma fonte que mana até hoje. Mas abeirar-se desta fonte acontece na globalidade da vida em contextos históricos diferentes. Nesta experiência espiritual do Carmelo está presente um quadro de interpretação pelo qual se revela o sentido das coisas e da vida e se lhes atribui um valor. Em cada contexto cultural novo este quadro está sujeito a alterações por causa do novo que se apresenta. Se não refizermos o quadro de interpretação através do discernimento e não assimilarmos o novo, perdemos a sintonia com a história. Se o Carmelo nasceu marcado pela história, a história deverá marcar seu renascimento e continuidade.
III. Algumas janelas sobre o mundo de hoje
Não faltam descrições do panorama do mundo neste fim de século. Também o Sínodo sobre a vida consagrada, principalmente no seu Instrumentum laboris, procurou dar uma visão realista do mundo, com seus aspectos positivos e negativos. Certamente não se trata de uma realidade homogênea e presente em todas as partes do mundo. No entanto, também nos países do hemisfério sul surgem bem claros, sinais de uma modernidade tardiva, acolhidos com certo entusiasmo igualmente tardivo. As consequências das mudanças profundas e rápidas que caraterizam a sociedade de hoje, não são as mesmas em toda parte. Há acentuações e dosagens que variam de continente para continente, e mesmo de país para país.
Queremos salientar os traços e tendências da nossa sociedade que mais diretamente questionam a missão da Igreja e, portanto, sob determinados enfoques a missão do Carmelo. Uma apresentação do atual contexto histórico, por mais lúcida que possa ser, não eliminará as incertezas em relação ao futuro. A convivência com os paradoxos será, provavelmente, uma constante da nossa própria missão. A situação atual não deixa de provocar uma certa perplexidade. Em alguns, ela gera atitudes passivas e resignadas, um certo ceticismo que inclusive as instituições eclesiais e, entre nós, a própria casa do Carmelo. Outros perdem a sintonia com a história da Ordem lançando-se em aventuras imediatistas que vão desmantelando os valores da vida consagrada e carmelitana. A outros a insegurança leva a atitudes rígidas e fundamentalistas numa tentativa de levantar uma barreira de sacralidade contra a invasão da modernidade.
A posição correta seria aquela de não recusar uma compreensão racional da situação acompanhada de uma firme esperança fundada na consciência de uma vida consagrada como dom de Deus à Igreja para o serviço do mundo. Não um mundo abstrato, mas o mundo em que vivemos. É preciso renovar o carisma da nossa origem, não para garantir a nossa sobrevivência, mas por ele ser um dom de Deus.[6]
1-Mudanças sócio-econômicas
Tem-se a impressão de que quanto mais se sabe, tanto mais confuso se fica; quanto mais se aumenta a capacidade tecnológica, mais impotente o homem se torna. Os tantos armamentos complexos que existem não impedem a inércia com que se observam, em diferentes partes do mundo, povos e grupos se exterminando. Plantam-se mais alimentos do que precisamos, enquanto milhões de pessoas sofrem e morrem de subnutrição. Desvendamos os mistérios das galáxias, mas não os da nossa própria família. Um especialista em psicologia profissional escreveu um livro que tem como subtítulo: "Quando vencer no trabalho significa perder na vida".[7] São talvez afirmações um tanto estereotipadas. No entanto, são feitas por profissionais que não levam em consideração determinadas perspectivas religiosas. Convidam a uma reflexão sobre os paradoxos da realidade do nosso mundo. Eliminá-los todos, não creio que seja possível. Seriam substituídos por outros.
A nenhum de nós escapa o desequilíbrio existente no campo sócio-econômico. Os resultados da reunião dos Sete Grandes em Halifax/Canadá, em junho passado, refletem mais uma dramática crise internacional que albores de nova aurora. Não creio que a reunião tenha transcorrido nas perspectivas do Carmelo. Os pontos de referência devem ter sido outros, e outros os interesses.
O último levantamento da ONU revela que na repartição da atividade econômica de 1991, em plano mundial, os 20% mais ricos açambarcavam 84,7% do produto gerado pela humanidade. Os 20% mais pobres ficavam com apenas 1,4%. Os 20% mais ricos se apropriam de 70% da energia do mundo, 75% do metal, 85% da madeira.[8]
A globalização, palavra de ordem na economia, é fruto da dinâmica econômica capitalista. Encontrou no neo-liberalismo um forte aliado e incentivador. A lógica do mercado tornou-se algo absoluto e não esconde um conceito reducionista do ser humano. Questões como autodeterminação, dignidade humana, valores éticos e espirituais não têm espaço nesta corrente ideológica que tenta fazer das categorias econômicas o critério absoluto das relações entre grupos e povos. Com isto vai diminuindo a autonomia dos países, o enfraquecimento dos Estados, o esvaziamento do papel dos congressos nacionais e dos partidos políticos, a primazia da política sobre a economia, a participação democrática. Os organismos econômicos existentes são meros guardiães do modelo atual: uma economia sem sociedade. As consequências menos visíveis estão relacionadas com a influência da economia internacional no nível do emprego, salário e inflação, da qualidade de vida das massas e outras questões da economia nacional. E isto não apenas nos países do Terceiro Mundo.
A globalização da economia vai de mãos dadas com a globalização da exclusão. São significativos os dados estatísticos que mostram que a distância entre a renda dos mais ricos e dos mais pobres dobrou de 1/30 em 1960, para 1/61, em 1991. Sociólogos apontam para um mundo em pedaços. Prevêem um caos financeiro internacional generalizado e põem em dúvida o sucesso da própria globalização devido a uma fragmentação progressiva das zonas de influência.[9]
Há uma multiplicação de conflitos tendo como consequência as violências políticas e sociais.[10] O empobrecimento das massas, o aumento do crime organizado e do tráfico de drogas, juntamente com o enfraquecimento do poder público e a diluição dos laços comunitários fizeram crescer em vários países, de maneira assustadora, a violência e a criminalidade. Na América Latina temos exemplos deste fenômeno em Bogotá, São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes aglomerações urbanas. As minorias mantêm o seu bem-estar no mundo. Precisam, sem dúvida de outras saídas para aliviar o taedium vitae deste estilo de vida convencional. O povo é arrastado pelos modelos de vida da elite e por seus equívocos proclamados pelos meios de comunicação (imagem, triunfo, bem-estar, liberdade, poder) e se asfixia. O que faz proliferar a delinquência, pois uma vez que não há outros valores e atrativos no mundo que o prazer e o dinheiro, é preciso procurá-los sem considerar outros valores ou então recorrer a subsídios mágicos, mesmo religiosos.[11]
2-Mudanças culturais
O processo de mudança cultural que deu origem à tal chamada modernidade, não é dos últimos tempos. Já tem uma duração de quatro ou mais séculos nas sociedades da Europa ocidental. Durante as últimas décadas desembocou no fenômeno da secularização. É fruto de uma diferenciação da sociedade que, em épocas pré-modernas, possuía certa unidade orgânica pela qual cultura, religião, economia, política e vida cotidiana estavam interligadas. Surgiu assim uma separação entre a cultura como "mundo vital" e o "sistema" da sociedade que se torna autônomo sem referências à religião e à ética. Na afirmação da autonomia do sistema é praticamente inevitável que a tecnologia, que na modernidade ocupa um lugar central, determine os rumos da sociedade. Ela já não está a serviço de um projeto humano, mas coloca o ser humano a seu serviço.[12]
Não parece haver dúvida de que a modernidade está em crise. Quanto à interpretação desta crise, porém, não há consenso. O nome pós-modernidade já indica uma falta de melhor identificação; uma designação provisória que abriga diagnósticos contraditórios, negativos e positivos, pessimistas e esperançosos. No entanto, há possibilidade de identificar certos traços característicos da modernidade e suas tendências atuais mesmo se é difícil definir os horizontes culturais que esta situação abre para o futuro.
Com a separação cultura/sistema, a cultura tornou-se uma realidade flutuante sem âncora. O que explicaria a sua diversificação que desembocou num pluralismo cultural. A homogeneidade que manteve países unidos se fraturou com a revivência de particularismos étnicos, regionais, linguísticos, acompanhados de uma fragmentação do universo cultural. Mesmo em relação à América Latina há vozes anunciando uma balcanização do continente em cujo favor já existiria o caráter forçado da convergência de etnias, raças e religiões diversas. Pessoalmente não subscreveria este prognóstico que peca por certa superficialidade na comparação com outras partes do mundo embora se acentue certa conflitividade cultural ligada também a gritantes desigualdades sócio-econômicas.
O próprio dinamismo econômico e político da sociedade moderna enfraqueceu os laços comunitários e incentivou o individualismo. É uma tendência justificada como valor desde a época do iluminismo. Reconheçamos também o aspecto positivo nesta mudança cultural como a acentuação da subjetividade que tem como consequências a defesa da livre escolha pessoal e da consciência dos direitos fundamentais do homem. Mas ultrapassando estas fronteiras ela desemboca no subjetivismo que em várias maneiras prejudica as relações pessoais e sociais. O passo para uma cultura da morte não é grande. Tudo se torna descartável, inclusive os compromissos mais sérios e a própria vida humana.
3-A crise ética
As considerações anteriores já deixaram entrever a grave crise ética e da ética que se torna mais visível no campo da ética pública. Também a ética tornou-se pluralista. Nega-se à razão humana a capacidade de reconduzir a ética a princípios universais e aceitáveis por todos, como era uma convicção do iluminismo.[13]
Poderíamos perguntar-nos se a transgressão de princípios universais, como acontece em relação à Declaração dos Direitos Humanos, já não é uma negação prática da validade da razão universal e de uma ética válida para todos. Diante desta interrogação as democracias não vêem outro meio para resolver questões éticas na legislação que submetê-las a um plebiscito. É considerado éticamente válido o que a maioria dos votantes aprova. O que não deixa de criar impasses para a própria democracia.
4-Pluralismo religioso
Se o pluralismo religioso é uma consequência da fragmentação da sociedade, de outro lado parece apontar para as raízes antropológicas da atividade eucológica. Rejeitamos a tese dos racionalistas e materialistas que consideram a religião ligada unicamente à satisfação das necessidades biológicas imediatas. Segundo esta interpretação a realidade é feita unicamente de "coisas" e de processos neurológicos, a atividade humana se reduz à "praxis produtiva". Para o neo-liberalismo trata-se mais de uma práxis lucrativa; o que mostra que suas bases filosóficas têm uma afinidade com o materialismo dialético. Por que o ser humano faria, através da religião, um pulo "fora da realidade" para comunicar-se com realidades desconhecidas e inexistentes em seu ambiente de vida? Por que submeter-se ao que de nenhuma maneira existia? Toda a realidade é sistêmica para o homem. Assim como a linguagem para ser inteligível precisa organizar fonemas, lexemas e enunciados, também as coisas materiais são organizados em sistemas de objetos, diferentes de acordo com o tempo, lugar, sexo, etnia, profissão, crenças e classes sociais. Nada significa nada se não for integrado num sistema, por primitivo que seja. Daí os diversos sistemas míticos. O homem percebe-se a si mesmo como um ser fronteiriço entre duas ordens ou planos opostos e divergentes, rodeado de perigos de um malogro se não chegar a manter a necessária e devida proporção entre as exigências de ambos.[14]
A dimensão religiosa está na base da cultura humana. Mesmo a teologia da morte de Deus de algumas décadas atrás, não deixava de acentuá-lo. Com a flutuação da cultura, também o elemento religioso perdeu suas âncoras e se diversifica mesmo nos países cristãos. A crise da modernidade abre brechas para uma nova religiosidade. Busca de Deus, sem dúvida, incerta e confusa e, frequentemente, sem perspectivas. O ser humano, relacional a partir de suas próprias raízes, quer chegar a uma comunicação absoluta. Neste desejo está implícita a intencionalidade de transcender todos os níveis do mundo e as próprias inclinações para encontrar-se com Deus, numa disposição de receber.
1-A missão do Carmelo hoje
1-Uma definição difícil
Não creio que as expectativas em relação à nossa reflexão se referem apenas ou antes de tudo a uma proposta de eventuais atividades apostólicas que o Carmelo poderia ou deveria assumir para corresponder à sua missão na Igreja e no mundo de hoje. O Carmelo não é anterior à sua missão. A missão do Carmelo é em primeiro lugar uma questão de identidade. Por isto preferimos falar da presença ao invés das atividades da família carmelitana. Com isto não indicamos a priori um determinado estilo de vida. Trata-se, sim, de definir ou redefinir "o espaço místico do Carmelo" como diz o sugestivo título da recente publicação de Kees Waayman sobre a Regra de Santo Alberto.[15] Devemos, porém, reconhecer que esta identidade tornou-se problemática neste nosso mundo fragmentado e confuso, baseado sobre a competitividade e a valorização das diferenças, onde não existem referências comuns nem linguagem comum. Já comparamos anteriormente a situação dos carmelitas hoje com aquela com que a primeira geração da Ordem se via confrontada na época em que, empurrada pela invasão dos saracenos, tiveram que deixar o Monte Carmelo. Era o espaço que os eremitas haviam escolhido para estar na presença do Deus vivo o que implicava também determinada visão e relacionamento com a Igreja e o mundo. Abandonar este lugar e emigrar para outros contextos foi um verdadeiro desafio. Não teria sido um desafio se não tivessem tido a consciência da necessidade de salvaguardar o seu espaço místico, a sua identidade. Jean de Saint-Samson dirá mais tarde, ao referir-se a eles: "Devemos assumir que os lugares onde vivemos são outros tantos Montes Carmelo. E devemos santificá-los na medida das nossas possibilidades, com um desejo de santidade muito vivo, muito ardoroso e muito eficaz, de acordo o autêntico espírito de nossos primeiros pais e fundadores"[16]
Salvaguardar o espaço místico não significa que os nossos projetos evangelizadores devam ser unidimensionais. Insistimos na consciência de uma identidade e, portanto, no cultivo da nossa memória. Sem elas haverá uma fragmentação e diluição da própria identidade. O desafio da missão só pode existir para quem tem uma identidade. Mas é precisamente em relação a esta identidade que existem problemas, um mal-estar cujas causas e contornos não são muito nítidos. Não que isto acontece só com a identidade carmelitana. Refere-se ao "fato cristão", na sua visibilidade e positividade histórica, do qual o Carmelo é uma expressão.[17] Refere-se também à vida religiosa em geral. A este respeito o Padre Camillo Maccise fez uma constatação muito incisiva:
"Si intuiscono molte cose; ma le tenebre impediscono ancora di vedere il loro profilo. C'è qualcosa di obiettivo e strutturale, quasi diabolico, che continua a rendere paradossalw la nostra situazione: dà l'impressione che cerchiamo e non riusciamo e per questo cadiamo depressi e disorientati in una forte crisi. Stiamo in un momento decisivo per interrogaci ancora una volta sulla nostra identità. Le risposte teologiche del passato non ci soddisfano più. Si rende necessaria una nuova visione teologica che si accordi con il nostro momento culturale. D'altra parte si deve pure ritornare ai fondamenti, per liberarci dalla zavorra storica che si è accumulata sulla teologia. È necessario accogliere o creare un nuovo modello, non ancora disponibile, benché già si intuisca. Lo Spirito dovrà essere, ancora una volta, il grande protagonista di questo momento di rivitalizzazione".[18]
A problemática em torno da identidade do Carmelo vai além das características que ela possa apresentar em cada país e continente ou província. Vai também além dos eventuais conflitos e intrigas humanas que podem existir e que geralmente absorvem a nossa atenção. São insuficientes para dar razão da situação atual. É difícil equacionar este problema em termos teóricos. Alguém dirá que tratando-se da identidade é preciso enuclear o essencial do Carmelo. Mas como definir este essencial fora da existência concreta? Penso que as respostas não deixariam de suscitar uma polêmica. Não é isto que pretendemos fazer. Mas a questão é apaixonante e nos obriga a refletir sobre as causas profundas ao invés de fixar-nos nos sintomas imediatos do "mal-estar". Poderíamos partir de uma definição prévia para aplicá-la à situação atual. Neste caso, porém, corremos o risco de esquecer o dinamismo da nossa Tradição que precisamente se manifesta diante do que há de inédito na situação presente. A identidade e a missão do Carmelo não sobrevivem sem confrontar-se com os desafios do contexto histórico que marca a sua presença. Além disto, este método acabaria em colocar o Carmelo numa espécie de redoma, numa atitude de defesa contra os desafios da realidade. Um dos desafios é precisamente a capacidade nossa de empreender um diálogo promissor com um mundo complexo e plural. Haveria outro caminho para tocar a questão decisiva do ser carmelita? É precisamente isto que nos interessa: qual é a missão do Carmelo hoje? A pergunta é feita com humildade, expressão da esperança. Do contrário ela será projeção de medo, de insatisfação, de amargura. E a humildade não espera soluções matemáticas ou respostas exaustivas. A humildade se alimenta de paradoxos que fazem explodir os limites dos conceitos à nossa disposição e que se oferecem à discrição em vista de um diagnóstico. Estamos num momento em que a própria Regra do Carmelo nos leva além de si mesma. "Utatur autem discretione quae virtutum est moderatrix". Valeria a pena meditar sobre a profundidade e atualidade destas últimas palavras de Santo Alberto. Não creio que a discrição se limita agora à procura da via media. Será mais uma atitude que nos acompanha passo a passo num caminho novo que, no fundo, nos fará descobrir a novidade do próprio Deus.
O "viver em obséquio de Jesus Cristo" será sempre uma experiência difícil porque nos confronta, sobretudo em termos existenciais, com o paradoxo do mistério da encarnação: a expressão definitiva de Deus no homem Jesus. É evidente que, principalmente no tempo de hoje, a razão teológica é indispensável para proteger a originalidade desta experiência.[19]
O paradoxo essencial a cuja descoberta a Regra do Carmelo nos convida, não se manifesta apenas em termos lógicos. Ele não poderia estar ausente das expressões históricas da vida carmelitana tecidas ao longo dos séculos. As várias reformas que marcam o itinerário da Ordem falam alto da necessidade de novas sínteses cuja relatividade não elimina mas engaja a responsabilidade. É uma primeira chave de leitura do mal-estar atual. Uma chave existe para abrir ou para trancar uma porta. Se quisermos usar desta chave de interpretação para abrir a porta rumo ao futuro do nosso passado será necessário renunciar à aparente estabilidade do equilíbrio anterior. Mas há uma segunda exigência. A percepção viva de um desequilíbrio suscita espontaneamente uma reação no sentido de eliminar o elemento que nos parece ser a causa do mal-estar. A identidade Carmelo brota da presença e da descoberta do mistério de um grande Paradoxo. Sua missão consiste precisamente em anunciá-lo em contextos históricos sempre novos. Paradoxo do divino-humano de Jesus Cristo que faz caminhar a Igreja evangelizans e evangelizanda, a serviço de uma transformação da humanidade em todas as suas parcelas e dimensões, em qualquer meio e latitude.[20] Mas neste serviço se confrontará continuamente com a experiência concreta e contraditória do homem traduzida na fórmula tradicional do "simul iustus et peccator".
"Dominicis quoque diebus, vel aliis, ubi opus fuerit, de custodia ordinis et animarum salute tractetis".[21] É esta a finalidade também deste capítulo geral.[22] Tratar da custodia ordinis. No fundo, trata-se de abrir, a partir da nossa memória, em contextos históricos novos, o acesso à perspectiva mística que caracteriza o Carmelo. Em função disto o capítulo faz um discernimento, enuncia seu objetivo, define prioridades, toma medidas, traça diretrizes, estabelece normas. É algo que pede uma interiorização nas províncias, nas comunidades, nas pessoas para que todas elas tenham, na sua diversidade, a identidade do Carmelo. A salus animarum acontece quando a alma - que abrange o todo da pessoa humana na sua unicidade e originalidade - encontra o caminho para o espaço místico do Carmelo, para a sua missão hoje. É isto que Alberto deseja aos carmelitas: "dilectis in Christo filiis B. et ceteris heremitis, qui sub eius obediencia iuxta fontem in monte Carmeli morantur, in Domino salutem et Sancti Spiritus benedictionem".[23]
2-Inculturação do Carmelo
"Pela inculturação, a Igreja encarna o Evangelho nas diversas culturas e simultaneamente introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade, transmitindo-lhes os seus próprios valores, assumindo o que de bom nelas existe, e renovando-as a partir de dentro. Por sua vez, a Igreja, com a inculturação, torna-se um sinal mais transparente daquilo que realmente ela é, e um instrumento mais apto para a missão".[24]
Não será difícil transpor estas afirmações de João Paulo II para a missão do Carmelo que é expressão da própria Igreja. Presente em todos os continentes, a inculturação do Carmelo não pode fugir a esta exigência missionária. A consciência que dela temos é relativamente recente. O Instrumentum laboris do Sínodo de 1994 apresenta a inculturação como um dos grandes desafios que se põem ao futuro da vida consagrada. É que não se trata de uma mera adaptação exterior, mas de uma transformação profunda da mentalidade e dos modos de vida. É um processo longo e globalizante. Não se limita às culturas das jovens igrejas e aos valores autóctonos dos povos, mas deve estender-se também às mudanças em curso na civilização ocidental.[25]
Há um consenso teórico bastante grande quanto ao caráter pluricultural do cristianismo e nele, do Carmelo. A sua identidade e missão têm uma intrínseca e radical referência à história. Não haverá Carmelo se sua identidade não for buscada e construída na história e, portanto, na cultura que é o chão mesmo da vida humana.. O Carmelo é "acontecimento", antes de ser "conceito".[26] De outro lado, devemos levar em consideração certas exigências essenciais, chamadas pelo citado Instrumentum laboris os "talentos" do Evangelho, que se devem acolher sempre e em toda a parte: a profissão íntegra da fé cristã, a intimidade com Cristo na oração e na contemplação, a busca da perfeição da caridade, a prática dos três conselhos evangélicos. O que, porém, não impede que outras culturas possam fazer emergir das exigências fundamentais da vida no Carmelo novos aspectos até "estranhos" para um carmelita experimentado.
Esta consideração nos leva a uma outra consequência da historicidade da essência do Carmelo. A sua potencialidade pluricultural não nega o fato de ela ter tomado corpo numa cultura particular, a ocidental. Não devemos imaginar que a inculturação do Carmelo se faz a partir de um ponto zero. Ela seria feita sem memória. Simplesmente não haveria inculturação de nada. O que é cultural e o que é essência na maneira em que, ao longo da história, os carmelitas articularam a sua identidade e missão? É uma questão não apenas histórica, mas também teológica, uma vez que as raízes do Carmelo nunca estiveram fora da história. Mais uma vez apresenta-se aqui o paradoxo que às vezes nos deixa constrangidos. Constrangimento semelhante ao que sentiram contemporâneos de Jesus: ele não é filho do carpinteiro? No processo da inculturação o confronto com o corpo histórico ocidental é não só inevitável, mas também indispensável. Seu objetivo não consiste simplesmente em escolher os elementos aproveitáveis e rejeitar outros como descartáveis. O encontro com a tradição do Carmelo se intensifica a partir do novo e inédito para que o paradoxo fundamental que nela "acontece" seja acolhido e transmitido.
Em relação à modernidade e pós-modernidade o processo da inculturação do Carmelo apresenta questões bem específicas cuja avaliação depende das interpretações que se fazem da distância criada entre o espaço eclesial e o espaço do mundo.[27]
Há quem analise esta situação como possibilidade de uma evangelização já que permite uma presença crítica da Igreja no meio do mundo. Outros procuram explicar esse distanciamento como resultado do conflito entre "conservadores" e "progressistas", entre "direita" e "esquerda". Neste enfoque o pós-Concílio aparece frequentemente como vítima de expiação. Atualmente a "direita conservadora" estaria refugiada em movimentos e tendências que acentuam a interioridade da consciência e a busca individual da salvação. Creio que esta interpretação não chega a ser um diagnóstico mas permanece no nível da constatação de sintomas. Além disto, como a queda das ideologias a distinção entre conservadores e progressistas tornou-se superada ou, pelo menos, deslocou-se no seu sentido.
Para outros grupos - vamos chamá-los de tendência "lefebvriana" - a situação atual indica simplesmente uma ruptura com o verdadeiro cristianismo. A sala de operação em que se efetivou esta mutação genética da fé cristã, teria sido o Concílio Vaticano II.
Na América Latina a situação reveste-se de características peculiares. As periódicas pesquisas de opinião, feitas no Brasil, revelam que a Igreja continua a merecer a confiança da maior porcentagem da população, acima do exército e bem acima dos políticos que ocupam o último lugar. Evidentemente não há uma preocupação religiosa nestas sondagens. Creio, no entanto, que a opção preferencial da Igreja pelos pobres, sempre presente na própria formulação do objetivo geral da sua ação pastoral, esteja na base dessa credibilidade. A opção pelos pobres traduz a experiência da fé numa linguagem de razão sócio-política. É, sem dúvida, um espaço secularizado. Falar da evangélica opção preferencial pelos pobres não destina este espaço para uma nova cristandade. O que se pretende é dar razão do paradoxo cristão que, no contexto histórico do continente latino-americano, é esvaziado pela idolatria do poder e do capital que nos pobres encontra as vítimas para seus sacrifícios rituais. Esta práxis gera uma nova linguagem no campo pastoral, teológico, espiritual e litúrgico. Linguagem muitas vezes emprestada que traz consigo as conotações dos seus lugares de origem as quais, por sua vez podem, pelo menos, sugerir uma redução do paradoxo cristão. Daí as legítimas preocupações do magistério eclesial. É sempre difícil, dolorosamente difícil, o processo da descoberta de uma nova linguagem que possa traduzir o que há de novo e original em determinadas maneiras de viver a fé que implica num encontro "com Jesus na contramão".[28]
Como o Carmelo vai realizar sua missão neste mundo de hoje? Em outras palavras como poderá ser lugar referencial de sentido? O mundo de hoje é pluralista. Falta-lhe um código homogêneo que permita uma visão do mundo e um corpo social nos quais o Carmelo poderia inserir-se eficazmente com sua fisionomia peculiar. Hoje, porém, o pluralismo entrou no interior das próprias pessoas. Não que não haja pessoas que não têm convicções religiosas. Aceitam, porém, como fenômeno normal, a existência de outras diferentes. Uma das características da modernidade, principalmente nos países do Primeiro Mundo, é o que o Cardeal Martini chama de contesto di convivenze dirompenti. Esta expressão se refere à contiguidade no mundo ocidental, na experiência cotidiana, de ambientes de vida marcados por irreligiosidade, indiferença, ateísmo.[29]
Parece-nos evidente que a missão do Carmelo não se limita a pessoas e grupos que têm afinidade com ele. A missão sempre comporta a opção pelo outro, pelo diferente. Mesmo em relação a eventuais candidatos, o Carmelo não pode tornar-se um refúgio para os que se sentem deslocados na sociedade moderna. O motivo velado destes "vocacionados" poderia ser a busca crispada de um reconhecimento sociológico que o contexto histórico já não oferece mais. Não que se deva a priori fechar as portas a tais pessoas. É necessário, porém, que uma pedagogia, já presente na Regra da Ordem, lhes indique os caminhos de acesso ao espaço místico do Carmelo na história de hoje.
3-A eclesialidade do Carmelo
Em várias ocasiões foram citadas as palavras do Papa João Paulo II proferidas já em novembro de1978, no seu discurso aos Superiores Gerais: "A vossa vocação à Igreja universal realiza-se dentro das estruturas da Igreja local... A unidade com a Igreja universal através da Igreja local: eis o vosso caminho".[30] Esta afirmação ressalta dois aspectos. Em primeiro lugar a importância da dimensão universal da vida religiosa na eclesiologia de comunhão e do seu fundamento na sua relação com o ministério petrino. Em segundo lugar a sua inserção no chão da Igreja local ou particular onde a Igreja universal se torna presente. Estes dois aspectos recebem a partir de normas canônicas e das orientações da Mutuae relationes (a serem aggiornadas?) certas definições em vista de uma comunhão orgânica. Comunhão que faz crescer evangelicamente tanto a Igreja particular através da nota da universalidade e do carisma da vida consagrada, quanto a vida consagrada à qual a Igreja particular oferece um chão concreto para que possa corresponder historicamente à sua vocação e carisma.
Há diversos fatores que contribuem para o resultado positivo ou negativo desta viva "interferência" recíproca. Assim como há bispos e religiosos que juntos louvam ao Senhor pelas mútuas relações, existem outros casos em que a "dignidade eclesial" da vida religiosa é questionada pelos dois lados. Neste sentido não faltaram depoimentos no Sínodo do ano passado. Onde são definidos espaços, dificilmente faltam contestações que, por sua vez, são contestadas.. Também aqui é importante verificar os paradigmas que estão presentes na vida de uma Igreja particular e nos religiosos que nela atuam. Frequentemente chega-se a falar de modelos de Igreja, aceitos ou rejeitados. Não se discute a utilidade de modelos como ponto de referência teórica. Na realidade, porém, não existem modelos abstratos. No concreto há geralmente uma mistura de modelos, inclusive dentro de uma mesma família religiosa, com acentuações determinadas. Mistura que é um dos fatores do mal-estar dentro da Igreja porque dificulta uma visibilização mais clara da identidade cristã que se apresenta como que fragmentada.
Também o Carmelo é atingido por essa crise, feita de dores de parto. Não seriam dores se não envolvessem a nossa responsabilidade. Respons-abilidade que não vem só e simplesmente da nossa imanente capacidade humana. Há uma tentação, já tão comum nos profetas do Antigo Testamento, de desejar um momento histórico diferente para a nossa vocação e missão a partir de uma vida "in obsequio Jesu Christi". Seria menos ameaçada a fragilidade de uma vida de homem com que Deus se identificou pessoalmente no mistério da Encarnação? Quem sabe, diante do hoje da kénosis vamos descobrir um pouco a densidade das palavras bíblicas que Alberto de Avrogado citou na Regra que ele nos deu: "In silentio et spe erit fortitudo vestra".
Uma conclusão que abre
Poderíamos prosseguir nas nossas reflexões sobre a missão do Carmelo hoje. Há outros horizontes que se desdobram: o desafio da espiritualidade no mercado das espiritualidades, a dimensão profética tão intimamente ligada à vida contemplativa, o evangelho da vida numa cultura de morte, o projeto antropológico, Maria, a "Domina loci", esta Mulher do nosso espaço místico.
Não falamos das atividades evangelizadoras e pastorais do Carmelo. Não foi por esquecimento. Além de ser difícil compor um seu elenco, haveria perigo de desviar a atenção da nossa missão que certamente não consiste em carregar pedras de um lugar para outro. Não qualquer resposta é adequada às necessidades da Igreja e do mundo.
Quem sabe, em outros tempos teríamos entendido muito mais facilmente a nossa missão. A guia do usuário já estava à nossa disposição. Parece que estamos desprovidos de uma gramática. O nosso itinerário é mais de recolher o que Deus semeou fora do nosso programa, do que de plantar, nós mesmos, a semente. É assim a caminhada do profeta. No fundo é a tensão escatológica que confere o dinamismo exigente à sua vida. Há sempre um mais na vida do Carmelo. Inclusive nos mosteiros das nossas irmãs, a clausura não é para proteger mas para desproteger. É a palavra final da Regra que abre esta perspectiva: "Quando alguém estiver disposto a dar mais, o Senhor mesmo, quando voltar, o recompensará".
[1] Foi neste sentido a intervenção de Matias Augé,C.M.F. no Sínodo sobre a vida consagrada.
[2] Evangelii Nuntiandi, n.15.
[3] Ibidem.
[4] Instrumentum laboris do Sínodo, n. 61.
[5] "Embora sendo de condição divina, não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens" (Fl 2, 6-7).
[6] Cf IL n. 14.
[7] Charles Handy, A era do paradoxo, São Paulo: Makron Books, 1995, p.XII.
[8] José Ernanne Pinheiro, Elementos para refletir a conjuntura nacional, texto mimeografado, apresentado na reunião do Conselho Permanente da CNBB, agosto de 1995.
[9] Ibidem.
[10] Há, hoje, 47 milhões de refugiados e pessoas desenraizadas (eram 35 milhões em 1990).
[11] Ver Luis Cencillo, La comunicación absoluta, Antropologia e práctica de la oración, San Pablo, Madrid, 1994, 42.
[12] Ver Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, Documentos da CNBB, 54, Paulinas, São Paulo, 1995, n. 139-150.
[13] Basta lembrar a lei moral como "imperativo categórico" na filosofia de Kant que queria mostrar que existe uma razão pura prática, ou seja, que a razão é suficiente por si só para mover a vontade.
[14] Luis Cencillo, La comunicación absoluta, 33.
[15] Kees Waayman, O.Carm., De mystieke ruimte van de Karmel, Kampen-Kok; Gent-Carmelitana, 1995.
[16] Ibidem, 9. Traduzimos a partir da tradução holandesa.
[17] Nas consideração deste itém, fazemos uso de um artigo de Carlos Palácio,S.J., A identidade problemática, em Perspectiva Teológica, 21 (189) 151-177.
[18] C.Maccise, Come comprendere e presentare la vita consacrata oggi nella Chiesa e nel mondo, in Aa.vv., Carismi nella Chiesa per il mondo, San Paolo, Cinisello Balsoma, 1994, 204. Citado por Bruno Secondin, Per una fedeltà creativa, La vita consacrata dopo il Sinodo, Paoline, Milano, 1995, 399.
[19] O pluralismo se manifesta também na teologia cristã. Tem o mérito de lembrar-nos o inacabado e provisório de qualquer síntese teológica. De outro lado, exige uma atenta análise das tentativas de elaboração de "cristologias autenticamente universais" supostamente necessárias para a época atual marcada pelo pluralismo religioso. Há tentativas que na realidade desfazem o paradoxo essencial da encarnação. Ver L'unicità di Gesù e il pluralismo religioso, in La civiltà cattolica, 146 (1995) 531-543.
[20] Evangelii Nuntiandi, n. 15, 18-19.
[21] Regra do Carmelo, cap. XI.
[22] Ver Kees Waayman, De mystieke ruimte van de Karmel, 102-106.
[23] Regra do Carmelo, introdução.
[24] Encíclica Redemptoris Missio, n. 52.
[25] IL 93-95.
[26] Aqui volta a intricada questão da distinção entre essência e existência que, em termos de filosofia escolástica, o Padre Xiberta procurava explicar-nos nas suas preleções no Colégio Santo Alberto. Talvez no nosso tempo de jovens, os estudantes já começassem a sentir dificuldades em relação à metodologia das teses, das definições feitas a priori de maneira abstrata e dedutiva.
[27] Cf. Carlos Palácio, A identidade problemática, in Perspectiva teológica, 21(1989) 161-165.
[28] Alusão feita à recente publicação de Carlos Mesters: Com Jesus na contramão, São Paulo, Paulinas, 1995 (Coleção Bíblia na mão do povo). A Pontifícia Comissão Bíblica no documento A interpretação da Bíblia na Igreja (1994), já vê mais positivamente a abordagem da libertação, reconhecendo os riscos desta leitura tão engajada da Bíblia. A exegese não pode ser neutra, mas deve evitar a unilateralidade.
[29] Le Chiese europee di fronte alla nuova evangelizzazione, in Vigilare, Bologna, Edizioni dehoniane, 1993, 415.
[30] Citadas pelo IL do Sínodo de 1994, n. 73.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita e 1º Bispo de Itaguaí/RJ - foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam.
Em primeiro lugar quero recomendar a vocês a leitura do primeiro capítulo da carta que Paulo apóstolo escreveu para os cristãos da comunidade de Éfeso. Vocês vão descobrir por que Jesus Cristo não é só centro da mensagem do Evangelho, mas também modelo de todo evangelizador.
Jesus Cristo é o centro da mensagem que vocês devem transmitir. Quando Pedro e João foram presos e levados para o tribunal para serem interrogados, Pedro declarou: "Não existe salvação em nenhum outro modo, pois debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos" (At 4,12). De fato, depois de Jesus não devemos esperar nenhuma outra revelação por parte de Deus: tudo foi revelado nele. A catequese, como atividade privilegiada da evangelização, antes de tudo, deve levar cada pessoa ao encontro com Jesus Cristo.
Além disto, Jesus é modelo de verdadeira catequese. Ele se fez um de nós, assumiu a humanidade e "fez sua morada entre nós" (Jo, 1, 14). Sem deixar de ser o Filho de Deus, Jesus viveu plenamente como homem, não numa natureza humana abstrata e anônima. Ele era judeu, descendente de Daví. Era praticante e obediente à Lei e às tradições religiosas de seu povo. Tinha o jeito de ser de sua gente. José e Maria foram os educadores de sua pessoa e de sua fé. Foi introduzido na leitura da Bíblia à luz da grande tradição judaica. Usava a linguagem do povo e anunciou a Boa Nova a partir da experiência humana. Não deixou, porém, de criticar e purificar certas tradições culturais confrontando-as com os critérios do Reino de Deus. Por esta pedagogia divina, o Pai revelou-nos seu Evangelho vivo para nos indicar o caminho, a verdade e a vida. Em Jesus o fazer e o ensinar estavam intimamente unidos. Ele revela a palavra de Deus através de suas atitudes, comportamentos, ações e gestos, principalmente em favor dos excluídos. Ao mesmo tempo suas palavras jogavam uma luz sobre seus gestos e ações. Por causa disto Jesus falava como alguém que tinha autoridade, e não como os doutores da Lei.
Concluímos que nós catequistas devemos unir o fazer, o viver e o ensinar "fazendo morada" na realidade em que atuamos.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita e 1º Bispo de Itaguaí/RJ - foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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Frei Jorge Van Kampen, Carmelita. In Memoriam. (*17/04/1932 + 08/08/2013)
Muitas vezes já se procurou saber, o que o povo acredita e o que não. Grande parte do povo crê em Deus, mas muitos não sabem, em que consiste a vida eterna. Isto preocupa. Parece, que a vida eterna não diz muita coisa, embora é uma verdade de Fé: Creio em Deus Todo Poderoso... e ... Creio na ressurreição da carne e na vida eterna. Quem diz Deus, diz: “vida eterna”. Quem diz Deus; diz também “vida para sempre”. Não podemos separar estas duas verdades. A morte não pode ser o fim. A festa de Todos os Santos é também a nossa festa, porque fomos chamados a santificar a vida para sempre.
Liturgia da palavra de Deus. (Ap. 7,2-4 e 9-14;1 Jo. 3,1-3; Mat. 5,1-12).
Uma fé firme em Cristo, morto e ressuscitado , faz-nos continuar contra a perseguição daqueles, que querem destruir a dignidade humana. As leituras nos dão um retrato fiel de Cristo, e mostra o ideal do cristão.
Reflexão.
Há 24 anos, que o papa João Paulo II elevou aos altares o frade carmelita Frei Tito Brandsma, declarando-o “beato”. Foi martir da boa imprensa em defesa da dignidade humana. Segue aqui um trecho do seu diário da prisão no campo de extermínio da Alemanha Nazista: “Embora eu não saiba, como isto vai terminar, sei muito bem, que estou nas mãos de Deus. Ele é meu único refugio, e sinto-me protegido e feliz”. Na cela havia uma estante de papelão com suporte, e também um pedaço de papel de embrulho. “Cobri com isto a estante, fiz pequenos retalhos, fixando três imagens do meu breviário: no meio um Cristo pregado na cruz; de um lado uma estampa de Santa Tereza de Jesus com o lema: “Morrer ou padecer” e do outro São João da Cruz, com o lema: “Sofrer e ser desprezado”. Numa tira de papel escrevia as palavras do santo: “Nada te perturbe, nada te espante; Deus não muda, a paciência tudo alcança; nada falta, a quem teme a Deus: só Deus basta”. Acrescentei ainda um provérbio alemão; “Deus tão próximo e tão distante, mas sempre aqui”. E finalmente aquele, que me é tão familiar: “Aceitar os dias como chegam: os alegres com o coração reconhecido, os adversos com a presença daqueles, que ainda virão, porque o mal é apenas passageiro”.
Resposta à Palavra de Deus.
A fé deve fazer cada cristão alegre, corajoso e jovial, que enfrenta o dia bem disposto, porque sabe, que já está dentro do Reino de Deus. Ser cristão é viver a certeza, de que Deus nos ama e, que amando, nada nos pode acontecer, porque Deus é amor. É esta certeza, que vive naquela certeza, que João expressa de um modo tão límpido; “Já somos filhos de Deus, mas ainda não apareceu, o que vamos ser”. Renovamos a nossa fé e, rezemos, para que sempre mais pertençamos à comunhão dos santos pelo amor de Deus e ao próximo.
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Hoje fui visitar o nosso Eremitério, Fonte do Profeta Elias, no Alto do Rio das Pedras em Lídice, distrito de Rio Claro/RJ. Quem desejar passar uns dias em silêncio; sem TV, Internet- WhatsApp, Facebook, etc, etc- este é o local ideal.
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Aconteceu neste sábado, 4, na cidade de Angra dos Reis, a Assembleia Eletiva da Venerável Ordem Terceira do Carmo. Assim ficou composta a Nova Mesa Administrativa (Diretoria). Priora, Sra. Maria Daher. 1º Conselheiro, Pedro Daher (esposo da Priora). 2º Conselheiro. Alberto Diniz (Betinho). 3º Conselheiro. Sérgio Bullé (Antigo Prior e irmão da Priora ). 4º Conselheiro. José Luiz. As nossas preces e os nossos parabéns!
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Dias 4 e 5, sábado e domingo em Angra dos Reis, Rio de Janeiro (Foto). Encontro com a Ordem Terceira do Carmo- Eleição do novo Prior (a) e seu conselho- e celebração nas comunidades da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Acompanhe tudo aqui no olhar.
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Mensagem do Frei Donizetti Barbosa, Carmelita, Reitor da Igreja de Nossa Senhora do Carmo do Desterro da Lapa/RJ. GRAVAÇÃO: Cemitério de São João Batista no Bairro Botafogo/RJ. CÂMERA: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 2 de novembro-2017.
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