OLHAR DO DIA: A Venerável Ordem Terceira do Carmo de São João del Rei-MG, tem nova mesa administrativa. A Eleição aconteceu neste domingo, 3.

Prior, Eduardo Valim (Reeleito)

1º Conselheiro, Márcio Adriano

2º Conselheiro, Isabel Valim

3º Conselheiro, Antônio Luiz

4º Conselheiro, Silvestre Marcos.

Em nome da Província Carmelitana de Santo Elias, parabenizamos o Sodalício e desejamos uma ótima caminhada sob a luz do Espírito Santo e as bênçãos da Senhora do Monte Carmelo para o novo prior e seu conselho.

As minhas preces. Parabéns!

Frei Petrônio de Miranda, Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo.  

Santo Inácio da Antioquia na sua Carta aos Cristãos de Filadélfia chamava o responsável por uma Comunidade pelo nome de "Homem determinado à Unidade", governado pela preocupação com a unidade. Homem da unidade, seja das pessoas, seja das várias instâncias e funções da comunidade - no nosso caso, da comunidade do Sodalício.

O bem do Sodalício, que é a primeira e indispensável contribuição para a missão da Igreja, é o Carisma Carmelitano vivido e testemunhado na cidade de Angra dos Reis pelos irmãos e irmãs que, livremente-repito- LIVREMENTE- através dos Votos Perpétuos ou Solenes (OTC-Regra Nº 14) assumem publicamente viver a espiritualidade sob a orientação ou autoridade de um Prior ( a ). Em outras palavras, viver em comunidade é, na verdade, viver todos juntos a vontade de Deus seguindo a orientação do dom do Carisma carmelitano sob a autoridade do Prior e seu Conselho. Portanto, a autoridade consolida a unidade da Ordem Terceira do Carmo em cada um dos 37 Sodalícios  baseada sobre a caridade e a cooperação harmoniosa na luta pelo ideal que nos propusemos através da nossa consagração pelos votos.

O Prior da Ordem Terceira do Carmo (a) não é o guardião do status quo, que procura não incomodar os irmãos que estão dormindo ou que se limita a atender eventuais iniciativas de cada um em particular. Ele, consciente de que ao centro da comunidade está presente Cristo com o seu Evangelho, coloca-se ao serviço da vontade de Deus e dos irmãos, guiando-os à obediência a Cristo por meio do diálogo e oportuno discernimento, embora deixando firme a sua autoridade de decidir e ordenar o que se deve fazer. O Prior é no Sodalício estímulo a viver o nosso Carisma e é sinal e estímulo de união. (Regra da OTC do Carmo Nº 61).

Os ( as ) Priores não estão dispensados do voto de obediência às autoridades superiores (Delegado Provincial, Padre Provincial e Prior Geral da Ordem) e, sobretudo, à vontade de Deus, a quem diz o Concílio, - usando expressões que soam com o timbre de outros tempos - deverão prestar contas das almas, que lhes foram confiadas. Não nos esqueçamos de que também somos responsáveis pelo dever de correção fraterna. Não se pode forçar a amar, e em vista disto o poder coercitivo não obtém por autoridade este fim, a não ser que sirva para fazer o interessado refletir; mas a intenção de defender a comunhão dentro da vida religiosa, a fidelidade ao carisma, os compromissos com terceiros.

Estilo de exercício da Autoridade: Um olhar Bíblico sobre o Poder.

(O poder de governar é graça, carisma e dom de Deus para a edificação da sua Igreja. Leitura de 1Cor 12,4-11. 28).

A teologia da Autoridade tem as suas consequências quanto ao estilo de exercício: é o estilo de Deus, manifestado em Cristo Jesus. "Fazer as vezes de Deus", ser dóceis à sua vontade, expressar o amor paternal de Deus defronte aos religiosos confiados aos nossos cuidados pessoais, isto é um compromisso ascético-místico de conformação com a caridade de Deus Pai, que trata como a "filhos", no seu modo de respeitar a dignidade e a liberdade do homem (Câns. 617-619- Cân. 617 - Os Superiores desempenhem seu ofício e exerçam seu poder de acordo com o direito universal e com o direito próprio- Pode-se mesmo pensar numa "Espiritualidade da Autoridade".

Perguntas para reflexão.

1- Que lugar o Carisma Carmelita ocupa no exercício da minha relação com a autoridade do Sodalício? 

2- Estou consciente da importância e da missão do prior e seu concelho no Sodalício?

3- Após este olhar sobre o poder a partir da Bíblia, dos Documentos da Igreja e da Espiritualidade Carmelitana, quem melhor representa para ser o futuro prior (a) ou conselheiro (a) para este Sodalício?      

*XVº- CONSELHO DAS PROVÍNCIAS. (REFLEXÕES TEOLÓGICAS SOBRE O PODER DE GOVERNO NA ORDEM DO CARMO).

O grupo de eremitas, "moradores do Monte Carmelo junto à Fonte", apresenta-se logo sob o signo da Autoridade-Obediência: estão sob a obediência de Brocardo e desejam exprimir a sua voluntária e total "obediência" a Cristo Jesus, reconhecendo-Lhe a "Soberania" universal (Regra 1 e 2), sacramentalmente manifestada na sua Igreja e nos seus Pastores. Desde o início procuram a aprovação da Igreja. "Alberto, por graça de Deus chamado a ser Patriarca da Igreja de Jerusalém, aos amados filhos Brocardo e outros eremitas, que vivem debaixo da sua obediência junto à Fonte, no Monte Carmelo, saúde no Senhor e bênção do Espírito Santo" (Regra 1).

A autoridade veem de Deus, os superiores fazem as vezes de Deus, são um serviço e um "ministério" (Câns 618, 619- Os superiores se dediquem diligentemente a seu ofício e, juntamente com os membros que lhes estão confiados, se esforcem para construir uma comunidade fraterna em Cristo, na qual se busque e se ame a Deus antes de tudo. Nutram, pois, os membros com o alimento frequente da Palavra de Deus e os levem à celebração da sagrada liturgia. Sirvam-lhes de exemplo no cultivo das virtudes e na observância das leis e tradições do próprio instituto; atendam convenientemente a suas necessidades pessoais; tratem com solicitude e visitem os doentes, corrijam os irrequietos, consolem os desanimados, sejam pacientes com todos). Estas são afirmações válidas até o dia de hoje e que aprofundam as suas raízes na concepção teológica e antropológica da Bíblia, recebida da Patrística e da Tradição da Vida Monástica. Pressupõe-se, naturalmente, a fé, que leva à esperança e ao amor. Para a teologia cristã isto inclusive é válido para a autoridade civil: o homem é o fim e a medida de todas as instituições humanas e divinas.

Nos três ramos carmelitas; Ordem Primeira, Ordem Segunda e Ordem Terceira, a Autoridade está orientada para o bem e o serviço da própria Igreja e, mais diretamente, para o serviço daqueles fiéis que com a profissão religiosa abraçam a vida e a santidade da Igreja na Forma de Vida carmelita, aprovada canonicamente pela própria Igreja. (Regra da OTC Nº 12)

Paulo Daher, de Angra dos Reis e os Freis; Evaldo Xavier, Superior Provincial e Frei Sílvio Ferrari no Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 

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Foto, Frei Bento, In Memoriam (Primeiro do lado direito, e sua família)

Frei Carlos Mesters, O.Carm

“O Filho do homem não veio para ser servido,  mas para servir e dar a sua vida em resgate para muitos” (Marcos 10,45)

Uma história

Vou começar com uma história que aconteceu em Araxá, Minas Gerais, Brasil, nos anos setenta, logo depois do Concílio Vaticano II. Ideias novas começavam a circular. Surgiu uma certa polêmica na cidade que alcançou os ouvidos do bispo. Ele ficou preocupado e reclamou das palestras que frei Cláudio e eu dávamos para o povo que nos tinha convidado. Então, um grupo de leigos resolveu falar com ele. Depois de muita discussão, o bispo disse: “A disciplina é a viga mestra da minha diocese e disso não abro mão”. Um leigo perguntou: “E quando o senhor tiver a diocese bem disciplinada, o que vai fazer com ela?” O bispo não soube responder e repetiu: “A disciplina é a viga-mestra. Ela é muito importante”. A pergunta do leigo é muito atual. Ela forma o pano de fundo desta nossa reflexão. O exercício da autoridade e a obediência não podem ser reduzidas a uma finalidade disciplinar. Elas fazem parte de um conjunto mais amplo. É sobre este conjunto mais amplo que vou tentar refletir à luz do que os Evangelhos afirmam sobre Jesus: “Qual é, segundo os Evangelhos, o objetivo do exercício da autoridade e da obediência?”

O poder e a autoridade de todos nós

Para melhor entender o que a Bíblia diz sobre o exercício da autoridade, é preciso falar, primeiro, de algo que acontece na experiência diária de todos nós e que pode ser iluminado com a luz da

Palavra de Deus.

Cada pessoa, no momento de entrar em contato com outra pessoa, aciona algum poder, exerce alguma autoridade. Entre os dois surge uma influência mútua, proveniente de vários fatores: os dons que cada pessoa tem, suas qualidades, seu jeito de falar, sua atração, carisma, argumentações, capacidade de liderança, função, sexo, raça, cultura, etc. Cada um de nós, seja súdito, seja superior, com ou sem autoridade jurídica, pode usar este poder para fazer crescer o outro e, aí, ele exerce a sua autoridade como um serviço. Também pode usá-lo para fazer crescer o seu próprio “ego” e aí, em vez de servidora, a pessoa pode tornar-se egocêntrica e opressora. Com a “autoridade” que todos nós temos, tanto superiores como súditos, podemos favorecer ou matar a vida comunitária, revelar ou esconder o carisma.

Ao longo da história, em toda organização humana, seja família, clã, comunidade, clube ou Ordem, este poder natural das pessoas vai se estruturando em três direções diferentes, misturadas entre si.

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*Depois de quatro anos acompanhando os 37 Sodalícios da Ordem Terceira do Carmo da Província Carmelitana de Santo Elias, percebo que a questão da autoridade é sempre colocada em xeque quando se tem uma Eleição para prior ( a ). E mais! É triste quando encontro irmãos e irmãs que, após exercerem a missão de liderança no sodalício dizem; “Deus me livre voltar para a Ordem Terceira do Carmo”. O que está acontecendo? O nosso objetivo é seguir Jesus Cristo a partir da espiritualidade carmelitana ou é simplesmente exercer o poder? Já pensou se os nossos primeiros monges carmelitas tivessem desistidos quando foram criticados pelas ordens religiosas existentes na época? E se Teresa D`Ávila e João da Cruz tivessem caído fora quando foram incompreendidos durante a reforma teresiana?... Pesquisando os meus arquivos, deparei-me com esta bela reflexão do confrade, Frei Carlos Mesters. Acho que vai ajudar. Boa leitura. Ah! É um texto grande que iremos dividir em várias partes. Não deixe de ler. Frei Petrônio de Miranda, Delegado Provincial para Ordem Terceira da Província Carmelitana de Santo Elias. 

O Bispo Prelado de Itaituba, Dom Wilmar Santin, passou a última semana (13 a 20 de novembro, respectivamente) em missão nas tribos indígenas de sua Prelazia.

As visitas são feitas anualmente e nelas são celebrados alguns Sacramentos como o Batismo, Eucaristia e Crisma. Nesta última visita mais de 100 índios Munduruku receberam a Confirmação. Seis aldeias foram visitadas: Santa Maria, a mais distante da foz do Rio Cururu, Bananal, Caroçal, Morro do Careca. Também foi visitado a Barra São Manoel, um distrito de Apuí (sul do Amazonas).

Participou da visita o Srº Klemens Paffhause, representante da Adveniat que vem ajudando no desenvolvimento de um projeto para formação de missionários e ministros Mundurukus.

“Este ano foi a quinta vez no Rio Cururu onde começaram as missões franciscanas e das Irmãs da Imaculada Conceição há mais de 100 anos atrás. Para mim é sempre uma alegria muito grande visitar aquele povo guerreiro e bastante acolhedor. Desta vez tinha também um motivo especial que era constituir os primeiros ministros da palavra entre os Mundurukus. Eles já celebram a Palavra aos domingos em uma boa parte das aldeias, mas não havia ainda ministros instituídos oficialmente e com mandato de dois anos. Depois de três anos de intensa formação que eles receberam, presidi a Celebração do Envio que aconteceu na terça-feira, dia 14. Foram 24 novos Ministros instituídos. Destes, só 4 eram mulheres. Isso também é interessante. Agora os Munduruku terão pregadores da Igreja na sua própria língua e isso me enche de esperança, tenho certeza que a evangelização naquelas terras será muito eficaz. Inclusive, em dezembro, Frei Messias levará quatro ministros deste na sua visita às aldeias de Teles Pires e dos Rios Tapajós e Cururu. A instituição destes Ministros da Palavra é o início de um projeto maior que é o de constituir Ministros da Eucaristia, do Batismo, do Matrimônio e depois, quem sabe, constituir diáconos permanentes. Agradecemos muito a Adveniat por essa ajuda na implementação deste projeto que é tão querido pelo Papa Francisco”. Fonte: http://cnbbn2.com.br

*NOTA DO OLHAR. Dom Frei Wilmar Santin, da Prelazia de Itaituba-PA é Bispo Carmelita da Ordem do Carmo.  

Frei Emanuele Boaga, O. Carm. e Irmã Augusta de Castro Cotta, CDP

(Institutum Carmelitanum- Comissão Internacional Carisma e espiritualidade)

É lugar do amor fraternal, do encontro e do diálogo

A Igreja é sem “quadripórtico” (que era de uso geral, anteriormente) e a sua fachada dá diretamente para a rua ou praça. Esta escolha arquitetônica deseja exprimir a vontade de estar perto e no meio do povo. Internamente a Igreja apresenta-se com uma única nave, quase como se fosse uma “sala de acolhida”, surgindo nas paredes laterais os altares ou, nos edifícios maiores, as capelas laterais. No interior do convento os quartos (celas) sublinham a função de um lugar finalizado, não somente ao descanso, mas também à oração e reflexão individual. O encontro e a hospitalidade são caracterizados pelo refeitório e pela fornalha que esquenta a sala para os hóspedes.

É símbolo de fraternidade

O convento não constitui uma entidade autônoma econômica e religiosamente, e expressa não tanto a presença de pessoas que ali moram, porém a fraternidade que une estas pessoas entre si e com os outros membros da mesma Ordem e família religiosa. O claustro é o espaço para o encontro fraterno e força centrípeta da experiência espiritual (em relação a isto é importante destacar como em muitos conventos a porta da confraria laical se abria no claustro e como todas as portas dos quartos e das salas se abriam sempre no claustro, fosse a arquitetura em forma quadrada ou retangular). O dormitório (com as celas separadas por paredes de madeira e sem chaves, unidas pelo corredor) também induz à fraternidade. Disto temos numerosos exemplos nos conventos erigidos nos séculos XVI-XVII. A integração dos vários setores do convento (setor de oração, de comunidade, de trabalhos internos e de serviços externos, de acolhida, etc.) lembram também a responsabilidade, a reciprocidade e a condivisão.

É símbolo de pobreza

Em muitos conventos nossos, mas sobretudo nos mosteiros femininos, a nudez das paredes, o uso de materiais pobres, nas construções a abolição de espaços supérfluos, o predomínio da linha reta (que, porém, diminui no século XVIII), são formas que testemunham uma escolha de vida pobre e simples.

HINO DA ORDEM TERCEIRA

1-Salve, ó belo pendão da vitória, da excelsa Rainha dos Céus. Que um dia, no reino da Glória, nós veremos ao lado de Deus!

Em torno da nossa bandeira, façamos, com fé, este apelo: /Protegei nossa Ordem Terceira, ó Senhora do Monte Carmelo! (bis)

2-Salve, ó belo e sublime estandarte, da certeza da graça, o penhor. Que Maria conosco reparte, da celeste mansão do Senhor!

3- Salve, ó grande pendão do Carmelo, onde Elias venceu a Baal. És de todos da terra o mais belo, tens o lema da fé divinal.

4-Salve, ó grande bandeira bendita da milícia fiel de Maria! Salve, ó pálio da grei Carmelita, nosso amor, nossa luz, nossa guia!

5-Não importa do mundo em que parte, nos vai vens imprevistos da sorte. Com os olhos em nosso estandarte, venceremos na vida e na morte!

Frei Emanuele Boaga, O. Carm. e Augusta de Castro Cotta, CDP

(Institutum Carmelitanum- Comissão Internacional Carisma e espiritualidade)

A presente reflexão gira em torno de dois centros de atenção: 1) o primeiro nos ajudará a ver como se formou e se desenvolveu a fraternidade no caminho histórico da Ordem, em suas linhas gerais e com particularidades próprias a cada situação. 2) O segundo ao contrário, conduzirá ao aprofundamento de algumas expressões particulares de sua prática, através do exame de alguns textos escolhidos em nossos escritores espirituais e nas Constituições da mesma Ordem, escritos que têm influenciado amplamente o modo de entender e de viver a fraternidade.

Linhas gerais

Falar da fraternidade, como foi compreendida e vivida nas primeiras gerações carmelitanas, é difícil, não apenas pela escassez de documentação, mas, sobretudo, porque, se de uma parte é muito forte a utopia proposta pela Regra, [utopia sem dúvida presente na formação dos candidatos e na vida dos religiosos], por outra parte, os textos constitucionais (desde os primeiros conhecidos, os de 1281 e 1294) desenvolvem um discurso finalizado mais a punir as faltas de fraternidade na vida da comunidade do que a estimulá-la. Entre estas culpas as mais graves são as referentes à discórdia, uma vez que conduziam à destruição da unidade. As normas consititucionais, na época medieval, mostram claramente que muito cedo, na vida da Ordem, o caminho para realizar a vida fraterna encontra limitações e ambiguidades, exigindo purificação para encarnar o ideal da fraternidade.

O fenômeno do conventualismo [que ao início era um estilo com interpretação realista da vida, realizado com equilíbrio e moderação], trouxe várias dificuldades que se difundiram e trouxeram grande degeneração da vida comum nos séculos XIV-XV minando a vivência comunitária. Para compreender o que ocorria, basta pensar nas consequências negativas provenientes dos desvios gerados pelos privilégios, isenções e similares, transformados em abusos. A fim de enfrentá-los no interior da Ordem,, são realizadas as Reformas. Estas enfrentam o tema da fraternidade, unindo-o àquele da austeridade, da pobreza (renúncia às diferenças entre os religiosos e aos títulos, etc). A mesma pobreza torna-se o “banco de prova” da sinceridade e da autenticidade da vida fraterna. Difunde-se também o uso de designar a vida fraterna com os termos de “vida comum”, à qual vem dada uma ênfase dentro do claustro com as consequências entre outras, de acentuar a separação da vida secular. Além disto, há também influência de outros fatores, entre os quais se destaca aquele que se torna sempre mais presente na espiritualidade cristã: a acentuação da separação entre a oração e o apostolado, trazendo como consequência o crescimento do dualismo contemplação-ação.

A seguir, como fruto e consequência desta última postura, passa a ser determinado para as antigas ordens (monásticas e mendicantes) uma identificação entre a vida religiosa e a vida regular e comum. O Concílio de Trento trabalha com esta visão, sendo também assim empreendidas as obras seguintes das reformas promovidas pelos Papas (Clemente VIII, Inocêncio X e Inocêncio XII). Certamente, nesta perspectiva estão presentes aspectos positivos, embora tenha emergido, no decorrer do tempo, o predomínio da observância organizada e da coletividade sobre o aspecto comunitário-fraterno. É muito interessante observar como S. Teresa de Jesus pretendia privilegiar as pequenas comunidades que permitem uma vida de comunhão, através de uma integração baseada na fé e na caridade. A Santa de fato, fala da sua comunidade como de um pequeno “colégio apostólico ou de Cristo”, no qual todas se amam e se ajudam reciprocamente.

Para completar este quadro, é necessário considerar também um outro aspecto da fraternidade: a relação com o mundo exterior e, particularmente com aqueles que fazem parte da Família da Ordem, ou seja, a “Fraternitas Ordinis”.

Sem descer em detalhes sobre a origem histórica e o desenvolvimento da “Fraterrnitas Ordinis”, nas suas várias formas de agregação-oblação das monjas e de outros membros (irmãos e terciários) da Família do Carmelo, é suficiente aqui lembrar os valores e os conceitos ligados à fraternidade e emergentes de toda esta realidade que gravita em torno aos frades , ou seja:

 

  • A vocação, o chamado por Deus para pertencer à Família do Carmelo
  • O estilo de vida simples e pobre
  • A participação e a osmose carismática nos vários níveis.

A utopia da fraternidade, enfim, está também expressa na arquitetura do convento. O convento apresenta-se realmente como um modelo de vida fraterna, prefigurando a vida na Jerusalém celeste, através de uma comunhão, com estruturas e espaços arquitetônicos próprios e com inserção dialética na estrutura urbana. Pode-se mesmo falar da existência de uma arquitetura própria carmelitana, sobretudo nos séculos XVI-XVIII, ainda que os módulos ou as formas de construção pareçam semelhantes àquelas de outras Ordens. Analisando-se a configuração dos conventos desta época, mesmo dentro da diversidade que cada situação exigia, encontra-se presente uma concepção carmelitana da fraternidade. Isto é testemunhado não apenas pelas normas constituicionais ou estatutárias que oferecem sugestões para a construção dos edifícios conventuais, mas também pelo estudo das relações entre os frades, na mesma época e das quais hoje se tem conhecimento. Aqui apresentamos brevemente as perspectivas abertas por uma leitura em chave de fraternidade das estruturas arquitetônicas dos conventos no período indicado.

O convento é lugar da experiência do amor fraternal e ao mesmo tempo, é símbolo da fraternidade ligada à pobreza.

*Frei Emanuele Boaga, O. Carm. e Augusta de Castro Cotta, CDP

(Institutum Carmelitanum- Comissão Internacional Carisma e espiritualidade)

A respeito da oração, com base no texto da Regra e dos acenos que se encontram em documentos dos séculos XII e XIV, podemos observar brevemente os seguintes aspectos:

A oração individual

Vem desenvolvida na linha monástica, com acento na “Lectio Divina”. Um exemplo típico de como os teólogos carmelitanos sabiam unir, na Idade Média, o estudo da Sagrada Escritura com a contemplação é oferecido pelo bolonhês Miguel Aiguani (†1400), nos seus comentários dos Salmos. A oração mental ou meditação, entrará na Ordem posteriormente: os primeiros testemunhos são do século XIV. Entretanto, o uso é mais difundido no século seguinte, sem dúvida, por influência da “devotio moderna”. Além do mais, já no séc. XIII, nos escritos de Henrique de Hanne e de Nicolau o Gálico, se encontram alguns acenos aos aspectos afetivos e aspirativos, que serão retomados e desenvolvidos frequentemente, a seguir, tornando se quase um “leit-motiv” da oração no Carmelo. A partir do século XIV encontra-se, em algumas partes da Ordem, uma acentuação da importância da oração individual (de cada ser) relativamente àquela comunitária (do ser comunitário).

A oração comunitária das horas canônicas

Parece ter tido no início (1247) um significado pastoral, logo abandonado. No período que abrange os séculos XIV-XV, a liturgia das horas continua a ser bem cuidada e celebrada “com humildade, devoção e uniformidade”. A participação nessa forma de oração desenvolve um papel fundamental e orientador da vida dos carmelitas na época medieval.

A celebração Eucarística

Desde o início, é fonte e centro da comunidade. È muito forte o sentido eucarístico da vida. Neste contexto situa-se a ação desenvolvida pelo Prior Geral João Soreth, no século XV, pela comunhão frequente, que torna-se prática característica no âmbito carmelitano. Somente depois do século XV, e mais ainda do século XVI em diante, desaparece a importância da missa conventual para todos os religiosos, e os religiosos sacerdotes podem celebrar a sós a própria missa (“missa privada”).

*Nas Sendas do Carmelo- Programas Formativos Nº. 6. Esquemas de atividades para a formação na identidade carmelitana.

A Ordem Terceira da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo é uma associação de leigos cristãos que, correspondendo a um chamado de Deus, prometem livre e deliberadamente viver a vida segundo o Evangelho, no espírito da Ordem do Carmo e debaixo da sua direção. É-lhes apresentada a seguinte norma de vida.

Podem ser também membros desta Ordem Terceira sacerdotes do clero diocesano. À espiritualidade deles não se aplica a característica de secularidade própria dos leigos, visto que, devido ao caráter sacerdotal e à sua missão totalmente distinta no seio da Igreja, foram chamados, ainda que sem dele se afastar, a manter com o mundo uma atitude de espiritual desprendimento[1].

Por isso mesmo encontrarão uma grande ajuda no carisma do Carmelo, como um meio, não somente, de fazerem crescer a própria vida espiritual, mas também de alcançarem com mais facilidade este desprendimento e cumprirem da maneira mais eficaz a própria missão no mundo e na Igreja.

*Da Regra da Venerável Ordem Terceira do Carmo.

[1]. PO 3

Nenhum carmelita pretende alcançar o cume do Monte, que é Cristo Senhor, sem a experiência do deserto, isto é, sem um processo de transformação, onde sempre deixa mais espaço para Deus na própria existência. O combate contra o mal dentro de si mesmo e em volta de si é um meio indispensável para também poder chegar - se Deus o quer - aos estágios mais elevados da contemplação, puro dom de Deus. Num mundo ávido de prazeres terrestres, o Carmelo afirma tudo o que é nobre e tudo o que é bom, mas ao mesmo tempo aponta para a relatividade de tudo o que não é Deus, praticando o desapego do coração das coisas terrenas, para poder em Deus, seu princípio e fim, reencontrá-las no seu verdadeiro valor.

Os leigos carmelitas percorrem também o insubstituível caminho do deserto da mortificação interior, a fim de penetrarem na escuta do Senhor, que lhes fala ao coração mesmo nas manifestações novas e convulsionantes da vida do mundo, e dali retornam como entusiasmados e incansáveis animadores do ambiente, onde são chamados a trabalhar e, como generosos colaboradores da hierarquia e das várias organizações, participar ativamente da vida da comunidade dos fiéis.

Os nossos Terceiros verão e saberão mostrar como as atividades temporais e o próprio trabalho material são uma participação na obra do Pai sempre criadora e transformadora[1], um verdadeiro serviço prestado aos irmãos e à promoção pessoal do homem[2].

Testemunhas num mundo, que na sua realidade quotidiana não percebe, de fato, ou rejeita totalmente a íntima e vital ligação com Deus[3], os leigos cristãos reconhecem e compartilham com simpatia as suas esperanças e profundas aspirações, porque foram chamados para serem sal da terra e luz do mundo[4] e comunicarem ao povo a boa nova da salvação[5].

*Da Regra da Venerável Ordem Terceira do Carmo.

 

    [1]. GS 64

    [2]. GS 35

    [3]. GS

    [4]. Mt 5,13

    [5]. Lc 1,77

A Igreja tem a missão de difundir sobre a terra o Reino de Cristo para tornar todos os homens participantes da salvação operada pela Redenção[1]. Assim como é próprio dos leigos viver no mundo e no meio dos afazeres seculares, igualmente são chamados por Deus a desenvolverem a missão da Igreja e a serem fermento cristão nas atividades temporais, nas quais estão profundamente empenhados[2] "Os fiéis leigos não podem, na verdade, abdicar da participação na «política», ou seja, nas múltiplas e variadas ações econômicas, sociais, legislativas, administrativas e culturais, destinadas a promover o bem comum orgânica e institucionalmente"[3].

O testemunho da vida cristã e as boas obras praticadas com espírito sobrenatural têm a força de atrair as pessoas para a fé em Deus, tornando-se assim "o louvor de glória" de Deus segundo o ensinamento da Beata Isabel da Trindade. Por isso o verdadeiro apóstolo busca e procura as ocasiões para anunciar Cristo, especialmente nestes tempos que apresentam cada vez novos problemas religiosos, morais e sociais[4].

Quanto a este objetivo os leigos encontram no Profeta Elias um valiosíssimo motivo de inspiração. Envolvido num mundo em transformação, que levava o povo à negação gradual de Deus pela persuasão da sua própria autossuficiência, o Profeta era sustentado pela certeza de que Deus é mais forte do que toda crise e todo perigo. Através da experiência do deserto, onde a sobrevivência só é assegurada pela intervenção divina, Elias tornou a encontrar Deus sobre a montanha, lugar primeiro da Aliança, e aceitou a irrupção divina na sua própria vida sob a manifestação nova e íntima da brisa leve[5]. Depois disto foi reenviado para a sua missão profética e comunitária na vida quotidiana, seguro de si, porque seguro de Deus.

*Da Regra da Venerável Ordem Terceira do Carmo.

 

    [1]. AA 2

    [2]. LG 31

    [3]. CfL 42

    [4]. AA 6

    [5]. 1Rs 19,4-15