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País contabilizou 13.197.031 casos e 341.097 óbitos por Covid-19 desde o início da pandemia, segundo balanço do consórcio de veículos de imprensa. É o terceiro pior dia até aqui em mortes pela doença registradas.
Por G1
Em 80 dias de vacinação contra Covid, 10% dos brasileiros receberam pelo menos uma dose
O Brasil registrou 3.733 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando nesta quarta-feira (7) 341.097 vítimas desde o início da pandemia. Após o recorde de óbitos registrados no dia anterior, essa é a terceira pior marca até aqui. Com isso, a média móvel de mortes no país nos últimos 7 dias ficou em 2.744. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +21%, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença.
Os números estão no novo levantamento do consórcio de veículos de imprensa sobre a situação da pandemia de coronavírus no Brasil, consolidados às 20h desta quarta. O balanço é feito a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde.
Já são 77 dias seguidos no Brasil com a média móvel de mortes acima da marca de mil; o país completa agora 22 dias com essa média acima dos 2 mil mortos por dia; e é o décimo segundo dia com a média acima da marca de 2,5 mil. Fonte: https://g1.globo.com
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Xuxa: "Errei e peço desculpas". Mas o que pensa realmente a rainha dos baixinhos e dos animais? | Reprodução
Por Ruth de Aquino
Essa pergunta do título nem deveria existir. Porque não faz sentido. Mas Xuxa resolveu defender o uso de cobaias humanas em vez de animais. “Live” não é para qualquer um. Pode incensar ou derrubar. A rainha dos baixinhos deixou escapar numa entrevista ao vivo nas redes algo inominável em que ela realmente acredita, mesmo tendo pedido desculpas depois. Xuxa disse que, “antes de morrer na cadeia”, presos “serviriam para alguma coisa” se virassem cobaias em “experimentos para remédios e vacinas”.
Testar cosméticos em macaquinhos é crime, comer churrasco só pode ser crime, mas remédios deveriam ser testados em presos antes de ser aprovados para uso em pessoas fora da cadeia. É o mínimo de utilidade que se espera dos presos. Por que não? Estão lá mesmo atrás das grades. Vamos testar fármacos em presidiários em vez de animais. Claro que presos podem ter mãe, pai, filhos, mas estão lá porque erraram. E por isso, que mal há em submetê-los a experimentos a sua revelia?
Eu sei. Xuxa se desculpou horas depois, na madrugada de seu aniversário de 58 anos, diante da repercussão de quem ela chamou de “pessoal dos Direitos Humanos”. Ela já tinha previsto. Em seu perfil no Instagram, às 2 horas, acordada, Xuxa decidiu “falar com as pessoas antes de dormir”. Admitiu que falou “coisas erradas”, que se “expressou mal”...Ela se retratou e penitenciou, mas suas desculpas se concentraram apenas em sua ignorância sobre o sistema prisional, porque há “muitas falhas no Brasil” e “presos sem julgamento”.
“Quem sou eu para dizer que essas pessoas devem ficar ali e morrer ali? Se eu faço isso, estou sendo ruim tanto quanto as outras pessoas que maltratam outras vidas”. Ela disse que não falava dos presos negros (e não falou mesmo). Não vi racismo nenhum da Xuxa na sua declaração na entrevista "live". Vi sectarismo - e crueldade involuntária. Ela não quis ser fada malvada, mas foi. O sincericídio doeu.
O papo reto é. Na escala de valores de Xuxa, um macaquinho continua a valer muito mais do que um preso. E essa pode ser a escala de valores de muita gente no Brasil. O entrevistador no perfil da Alerj (Assembleia Legistativa do Rio) não a contestou em nenhum momento. Concordou. E olha que até a Xuxa admitiu que ia soltar “um pensamento que pode parecer ruim e desumano”. As pessoas que “fizeram muitas coisas erradas e estão aí pagando seus erros ad eternum em prisões poderiam ajudar a salvar vidas com remédios e com tudo”.
É desumano mesmo. E é estranho. Essa fala da Xuxa mostra até que ponto pode chegar a mente de pessoas que conferem aos animais um nível de consciência igual ao dos seres humanos. E que se ofendem mais com maus tratos a animais do que a pessoas. Maus tratos são sempre condenáveis. Mas tem gente pirando, chamando quem come churrasco ou peixe de assassino. Veganos radicais devem ser respeitados em sua opção. Xuxa parou de comer carne bovina aos 13, frango aos 14 e peixe aos 54. “Sei que ainda não sou vegana, pois minha vestimenta esconde o sofrimento de muitos animais”. Mas não dá para entender vegano que apoia o uso institucional de cobaias humanas. Encarceradas, internadas.
Quem estimulou Xuxa a se retratar logo e a reduzir os danos a sua imagem foi um escritor e roteirista, o Anderson França, o Dinho, do subúrbio e evangélico, conhecido nas redes por sua linguagem original, brusca, sarcástica e crua. Nunca teve papas na língua. Anderson foi porteiro, camelô, ativista social, criou uma agência de publicidade na comunidade da Maré, fez o primeiro TED numa favela carioca, escreveu o livro 'Rio em Shamas'. É muito popular. E saiu do Brasil para Portugal ameaçado de morte por sua militância. Eu fiquei muito bem impressionada com o equilíbrio e a generosidade do Anderson neste alerta imediato e sincero para a Xuxa.
“...Eu vou dizer uma coisa que não devia, isso é papel de quem cuida da imagem dela, mas eu vou fazer isso porque eu não quero ver mais uma pessoa, referência de tanta coisa, ter a reputação destruída. E em tempos de internet, cancelamento, linchamento, sabemos que isso afunda carreiras. (...) Quero dizer pra Xuxa: antes de dormir, faz uma retratação do que você disse. Já há textos te posicionando como uma mulher branca, loira, rica, privilegiada e racista. E isso, quando cola numa biografia, nunca mais sai. Então eu sou do ‘pessoal dos Direitos Humanos’ e estou tão preocupado com os presidiários, majoritariamente negros, presos como resultado de uma sociedade excludente, racista e doente, como estou preocupado contigo, uma artista mulher, que conheceu a violência de gênero, e por isso venho pedir:
Antes de dormir, se retrata”.
Achei muito legal o que você fez, Anderson. Xuxa te citou como referência no pedido de desculpas. Disse que você foi sensato. Mais do que isso, foi generoso. Você me impressionou mais do que ela. No fundo, no fundo, Xuxa pensa o que disse antes. E tem muita gente que concorda com ela. Ou vai até mais longe. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
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Para especialistas que desenharam respostas iniciais à pandemia, falta de coordenação federal pesou na capacidade do país de frear o vírus
Rafael Garcia
SÃO PAULO - Um ano e sete dias após o registro da primeira morte por Covid-19, o Brasil chegou nesta quarta-feira (24) ao número de 300 mil mortes registradas pela doenças. A marca foi atingida numa semana em que o governo federal empossou seu quarto ministro da saúde e o número diário de óbitos ainda não dá sinal de arrefecer. A marca de óbitos foi alcançada na tarde desta quarta, apesar de o Ministério da Saúde ter modificado os critérios para contagem de óbitos.
Desde o início de março, o país registra uma escalada brutal nas estatísticas de óbitos por coronavírus, tendo batido o recorde na noite de terça, com mais de 3.000 mortes sendo notificadas em 24 horas. Nesta tarde, o consórcio de veículos de imprensa que realiza monitoramento independente dos números da Covid-19 (O GLOBO, G1, UOL, Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo), indicou que o país já tem 300.015 pessoas mortas pela doença.
Ao longo dos últimos meses, especialistas criticaram o desempenho do governo federal e apontando-o como fator majoritário para o estabelecimento da situação de calamidade que a pandemia instalou no país.
Para entender o que poderia ter sido diferente na condução da resposta do Brasil à Covid-19, a reportagem conversou com dois especialistas que estavam participando da criação de políticas públicas no país e se viram boicotados ou ignorados pelo governo em suas recomendações.
Um deles foi o infectologista Júlio Croda, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e da Escola de Saúde Pública de Yale, e ex-diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.
Croda desenhava a política de enfretamento da pandemia antes de se demitir, em 25 de março de 2020, quando o ministro da Saúde ainda era Luiz Henrique Mandetta. Ele afirma que o primeiro grande erro do presidente Jair Bolsonaro foi bloquear a adoção de uma política nacional de distanciamento social.
— Nós queríamos dividir o Brasil em regiões de saúde e ter desenvolvido indicadores epidemiológicos claros, que estariam associados com medidas restritivas a serem adotadas, de acordo com gravidade da incidência, ocupação de leitos, capacidade de testagem, capacidade de rastreamento de contatos e isolamento — conta o médico. — Isso não foi feito, e foi o grande motivo de eu ter saído do ministério.
Até hoje, o Planalto resiste a tomar para si a coordenação de medidas de distanciamento e até busca impedir governadores de fazê-lo. Segundo Croda, no atual momento da pandemia, seria essencial que essa mentalidade mudasse, mas ele diz não acreditar nessa possibilidade.
A resistência do presidente em usar máscara facial e preconizar seu uso, e a insistência em promover aglomerações, contra a recomendação de sanitaristas, ainda tem efeito na taxa de transmissão do vírus.
O Brasil diagnosticou até agora 12.183.338 pessoas com a Covid-19, e nas últimas 20 horas teve mais de 46.663 caosos registrados (incluindo os não letais).
Além da resistência a políticas de contenção da transmissão. Outros problemas se manifestaram na condução da resposta à pandemia no país. Entre eles estão a gestão descuidada de aquisição de vacinas e de insumos médicos para o tratamento dos doentes graves de Covid-19.
— Estados e municípios não tem autonomia para esse tipo de aquisição quando existe falta dos produtos em escala nacional — diz Croda. — Como essa falta é generalizada, a coordenação para suprir essas necessidades deveria ser em nível federal.
Outra especialista que participava da elaboração de políticas públicas para a Covid-19 foi a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Unifersidade Federal do Espírito Santo, que era integrante do painel de consultores que subsidiavam o plano nacional de vacinação contra a Covid-19.
Quando o plano foi divulgado sem incluir as recomendações do grupo, Ethel foi uma das especialistas que alertou sobre o distanciamento do projeto das recomendações dos especialistas.
Uma iniciativa mais precoce de negociação para compra de vacinas, diz a epidemiologista, poderia ter colocado um contingente maior da população sob proteção antes da escalada brutal da segunda onda da Covid-19 no país.
— Nós não chegamos a 300 mil mortos por acoaso, nos chegamos a essa marca por uma incopetencia da condução da crise sanitária no Brasil — diz Maciel, que desistiu de colaborar com o Ministério da Saúde.
— Se o governo tivesse ouvido a ciência, teria feito aquele acordo com a Pfizer para 70 milhões de doses, teria feito o contrato com o Butantan mais cedo, teria ido atrás da Janssen que desde cedo diziamos ter uma vacina importante e estratégica, por ser de dose unica — afirma a pesquisadora.
Segundo os números desta tarde, porém, apenas 2% da população brasileira já está plenamente imunizada, com duas doses, o que é pouco ainda para um efeito perceptível na velocidade da pandemia.
Croda, hoje trabalhando como consultor para os governos de São Paulo e Amazonas, afirma que, aparentemente, a dinâmica da pandemia não tem sido bem explorada pelo Ministério da Saúde para planejamento.
— É preciso usar cálculos matemáticos dos números de casos graves para ver como a pandemia vai se comportar nos próximos dias e semanas. Mas eu não estou mais no ministério e não sei se estão fazendo isso de forma sistemática — afirma Croda. — Mas a gente sabe que foi cancelada em outubro passado uma aquisição de kits de intubação, que estão em falta agora. Se estivessem trabalhando nos modelos matemáticos e acreditassem nessas projeções, eles poderiam tem efetivado essas compras.
A marca de 300 mil atingida hoje já é 67% maior do que a projeção mais pessimista de Croda à época de sua atuação no ministério. Em abril do ano passado, ele estimou que o Brasil poderia atingir 180 mil óbitos por Covid-19 até o início de uma campanha robusta de vacinação.
Erros do governo federal
Para o professor e infectologista, foi um erro o governo ter acreditado por tanto tempo que o país poderia ter atingido um estado de imunidade coletiva por meio de infecções naturais.
— O vírus sofreu mutações importantes, e a gente viu uma segunda onda terrível no Amazonas na primeira quinzena de janeiro — conta. — Naquele momento, a gente passou a ter certeza de que essa teoria da imunidade de rebanho não poderia permanecer.
Uma crença insustentável de que a disseminação do vírus, em vez da contenção, poderia ser positiva para o país, diz Croda, pode ter sido responsável por uma parcela importante das 300 mil mortes ocorridas até agora.
Para ele, o governo federal herdou muito da hostilidade que o ex-presidente dos EUA, Donald Trup, tinha em relação à OMS e à China, o que comprometeu a política local contra Covid-19.
Bolsonaro tem se mostrando mais amigável agora à ideia da vacinação em massa, ao menos em discurso, e o Ministério da Saúde tirou o pé do acelerador da política de promoção de medicamentos ineficazes contra a Covid-19.
Croda, porém, não crê que a mudança de mentalidade necessária para frear a pandemia esteja em curso, mesmo com a entrada do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
— Isso ainda não se traduziu numa recomendação ampla para as mediadas de distanciamento social e numa campanha de comunicação mais ampla para adoção dessas medidas — diz o infectologista.
Para Ethel Maciel, da UFES, não foi só a gestão na área de Saúde que complicou a situação da pandemia.
— O Brasil teve uma condução desastrosa da pandemia desde o início, e uma raiz do problema foi negacionismo do presidente da República e de membros do seu governo — diz Maciel.
— A falta de condução da crise com competência não foi só na saúde, foi na educação, na economia, na assistência social. Estamos até agora sem auxílio emergencial aprovado em 2021 que dificulta a adesão da população mais pobre às medidas de contenção contra o vírus.
Para Croda, a política de comunicação para Covid-19 foi uma das mais nocivas para o trabalho de combate à doença, porque sabotou tentativas de educar a população para o comportamento correto contra o vírus, incluindo o uso de máscara.
— Isso foi feito principalmente por meio de fake news nas redes sociais, com mensagens de desrecomendação das medidas apoiadas pela evidência científica e pela OMS. — afirma Croda, que vê nessa estratégia uma brecha para o governo tentar se eximir do erro. — Isso foi orquestrado por apoiadores do presidente. Em vez de campanha para informar, existia uma campanha para desinformar. Fonte: https://oglobo.globo.com
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Ana Beatriz Moda*
Imunizantes aprovados contra a pandemia agem conforme o esperado, mas medidas de proteção e isolamento social ainda são necessárias.
Profissional de saúde administra vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca/Oxford Foto: ETIENNE TORBEY/AFP
RIO — O Brasil enfrenta atualmente sua fase mais crítica da pandemia da Covid-19. O país está à beira do registro de 3 mil mortes diárias, segundo o boletim de imprensa. A imunização, única saída possível para conter a doença, segue a passos lentos. Confira algumas perguntas e respostas frequentes sobre as vacinas.
As vacinas contra a Covid-19 são confiáveis?
Sim. Ao aprovar uma vacina nova, autoridades de saúde conferem se a proteção que ela oferece contra uma doença grave supera eventuais riscos. É o caso de todas as vacinas contra a Covid-19 autorizadas até agora pela OMS — entre milhões de imunizados, houve apenas algumas dezenas de casos suspeitos de reação adversa, e nenhum deles ainda confirmado como efeito colateral da vacina.
Por que algumas pessoas tomaram a vacina e ainda assim foram internadas?
É necessário entender que uma vacina recebe aprovação para ser usada com um número específico de doses, e com intervalos determinados entre elas. Se requer duas doses e a pessoa toma apenas uma, ou se a pessoa não segue o intervalo correto entre as ambas, a probabilidade de eficácia do imunizante é menor. No entanto, mesmo aqueles cuja taxa de eficácia tem sido mais baixa estão colhendo resultados positivos, principalmente entre os pacientes mais graves.
Os casos de pessoas que receberam imunizantes corretamente e mesmo assim contraíram o vírus depois provavelmente seriam mais graves caso não houvesse vacinação.
Não existe vacina com 100% de eficácia, nem para Covid-19 nem para outras doenças. Uma vacina de eficácia parcial para Covid-19, porém, confere enorme benefício à sociedade, e aumenta muito a chance de permanecer saudável para quem a toma e é exposto ao vírus depois.
Quem toma vacina pode transmitir o vírus?
É uma possibilidade. Até agora, os testes clínicos focaram na capacidade do imunizante de evitar que as pessoas adoeçam com a Covid-19. A segunda etapa, que demanda mais esforços, será avaliar se uma pessoa vacinada pode contaminar alguém de forma assintomática. Para evitar que isso aconteça, quem já foi vacinado deve continuar tomando medidas de proteção, como o uso de máscaras.
Qual é a principal diferença na ação do vírus no corpo de quem está vacinado e de quem não está?
A resposta imune de uma vacina não é necessariamente igual à de uma infecção natural, observa a virologista Clarissa Damaso. Primeiro, porque as cargas virais (quantidade de vírus) de exposição são diferentes. As rotas de entrada no organismo também. O coronavírus entra pelo sistema respiratório e ativa uma imunidade relativamente fraca. É basicamente o que se chama de imunidade de mucosa, menos potente. Há uma resposta com produção de anticorpos neutralizantes de duração ainda incerta, e nada duradoura. As vacinas também têm adjuvantes (reforços) para estimular o sistema imune.
Além disso, na infecção natural, o sistema imunológico é pego desprevenido e sai em desvantagem, pois tem que combater uma infecção que já se instalou. Ele precisa convocar suas forças, um verdadeiro exército de variados tipos de células de defesa, para debelar o vírus invasor. Com a vacina, quando o vírus entra nas vias respiratórias, o organismo tem as armas a postos e o ataca com mais eficiência.
A vacina pode causar Covid-19?
Não. Nenhuma das vacinas em fase mais avançada de desenvolvimento emprega o vírus Sars-CoV-2 enfraquecido (atenuado), que seria a única possibilidade, ainda que remota, de haver reversão da forma atenuada para a ativa. Desta forma, nenhuma vacina poderá transmitir a doença.
* Estagiária, sob supervisão de Emiliano Urbim
Fonte: https://oglobo.globo.com
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OLHAR DO DIA. Trabalhadores do setor turístico de Angra dos Reios/RJ, fizeram nesta manhã de segunda-feira 8- Dia Internacional da Mulher- uma manifestação contra o novo decreto municipal, no centro.
Por mais de 3 horas, a entrada e saída da cidade ficou interditada. A paralisação só terminou com a intervenção da Polícia Militar. Em seguida, os trabalhadores foram até a Prefeitura Municipal. Por sua vez, o Prefeito ou algum secretario, não compareceu para atender as reivindicações.
Durante o ato- na frente do Convento do Carmo- os trabalhadores questionário a ausência de representantes eleitos na última eleição para vereador. Imagens e reportagem: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Divulgação: ww.instagram.com/freipetronio
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As autoridades devem ter coragem para fazer o que tem de ser feito para o controle da covid
A Nação terá semanas muito duras pela frente, talvez as mais difíceis em muitos anos. Uma combinação de fatores tende a agravar ainda mais a situação epidemiológica do País, que já é dramática. Sistemas de saúde das redes pública e privada que ainda não entraram em colapso estão na iminência de colapsar.
Seis especialistas ouvidos pelo Estado – Gonzalo Vecina Neto, Renato Kfouri, Miguel Nicolelis, Roberto Kraenkel, Márcio Bittencourt e Mellanie Fontes-Dutra – foram unânimes na defesa de um “lockdown de verdade”, ainda que com variações de cidade para cidade, a fim de conter a disseminação desenfreada do novo coronavírus e o esgotamento da capacidade de atendimento dos hospitais. À rede de TV CNN, a infectologista Thaís Guimarães, do Hospital das Clínicas de São Paulo, prevê um “cenário de guerra” nos próximos dias, com pessoas morrendo por covid-19 dentro de suas casas ou na entrada de hospitais superlotados.
Estes alertas não devem ser tomados como mau augúrio por cidadãos e tampouco por governantes. Se houve quem mais acertou do que errou em seus prognósticos desde que a pandemia se instalou no País, foram os médicos e cientistas.
A cepa P.1, como foi denominada a variante do novo coronavírus detectada primeiramente em Manaus (AM), circula sem qualquer tipo de controle no País. Pesquisadores da Fiocruz descobriram que esta variante aumenta a carga viral em dez vezes e é duas vezes mais contagiosa. Junte-se a isto a baixa adesão ao isolamento social em muitas cidades, a falta de vacinas na quantidade que o País precisa e ninguém menos do que o presidente da República exortando a população a boicotar as únicas medidas sanitárias aptas a conter o espalhamento do vírus e está formada a tempestade que ora paira sobre o País.
A hora é de união nacional para salvar vidas. O horror de hoje e dos próximos dias, é importante destacar, reflete a inação de governantes e o mau comportamento de cidadãos de algumas semanas atrás. De uns e de outros, espera-se mais responsabilidade, coragem e espírito público para que a cada ciclo de 14 dias não se arme uma bomba viral sempre prestes a explodir e matar. O País vive uma tragédia sem precedentes. Há mais de um mês, morrem, em média, 1,2 mil pessoas por covid-19 todos os dias. Isto tem de acabar.
Passado um ano de uma pandemia que já custou a vida de quase 255 mil brasileiros, é desalentador observar que ainda há quem insista em ignorar as recomendações básicas das autoridades de saúde. Ou pior, quem insista em afrontá-las e desqualificá-las, como faz Jair Bolsonaro, dia sim e outro também, em seu doentio descaso pela vida de seus governados.
É inacreditável que, diante deste quadro dantesco, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tenha de ser compelido a agir pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No sábado passado, a ministra Rosa Weber decidiu em caráter liminar que o Ministério da Saúde custeie a habilitação de leitos de UTI destinados para pacientes com covid-19 em São Paulo, Bahia e Maranhão. E isto é o mínimo necessário para salvar doentes de hoje. Qual o plano do intendente para evitar mal ainda maior no futuro próximo? Ele não sabe.
O mais inepto dos ministros da Saúde de que se tem notícia também precisa ser provocado para agir pelo Congresso. Há poucos dias, vale lembrar, o chefe do Poder Legislativo, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), teve de assumir o lugar que cabe a Pazuello na mesa de negociações com dois fabricantes de vacinas, os laboratórios Pfizer e Janssen. O Brasil, como duramente sabe a Nação, precisa o quanto antes aumentar a quantidade de vacinas à disposição da população. Hoje não há doses sequer para garantir a imunização de todos os que fazem parte dos grupos prioritários.
Sem vacinas, sem vagas de UTI suficientes para atender à demanda e sem um presidente da República que aja como tal, cabe a cada um dos cidadãos agir com responsabilidade. E a cada governador e prefeito, fazer com coragem o que tem de ser feito. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
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Covid já matou mais de 250 mil e o risco permanece num país emperrado e sem rumo
Rolf Kuntz, O Estado de S.Paulo
O Brasil completa um ano de pandemia e dois anos e dois meses de desgoverno, com a economia emperrada, o maior desemprego em oito anos, mais de 250 mil mortos pela covid-19 e um processo de vacinação confuso. Mas confusão é a regra. O ministro da Saúde acaba de mandar para o Amapá vacinas destinadas ao Amazonas e vice-versa. O presidente da República anunciou a demissão do presidente da Petrobrás, depois de ameaçá-lo por haver ignorado seus aliados caminhoneiros. Fevereiro termina com hospitais lotados na maior parte das capitais e recordes de mortes pelo coronavírus. Nos últimos dias houve de novo aglomeração no Palácio do Planalto. O setor público está superendividado e seus financiadores mostram-se nervosos. Há alguma perspectiva de melhora a partir desse balanço?
Apesar de lenta e mal planejada, a vacinação é o fato mais promissor, neste momento. Favorecida pela negligência federal e pela inconsequência de irresponsáveis, a pandemia continuará matando quase sem freio por muito tempo. Mas o avanço da imunização poderá trazer alguma segurança para os negócios. A normalização, no entanto, será o retorno à submediocridade anterior à pandemia. A economia poderá crescer 3% ou pouco mais em 2021, segundo as projeções do mercado. Depois, se nada atrapalhar, ficará limitada a um potencial de crescimento em torno de 2,5% ao ano. Mas nada disso está assegurado.
Março vai começar com o governo central ainda sem Orçamento aprovado. O projeto continua no Congresso, à espera de votação, mas esse nem é o maior problema. A meta fiscal deste ano é um déficit primário limitado a R$ 247,1 bilhões. Nos 12 meses terminados em janeiro o resultado foi um buraco de R$ 776,44 bilhões. As condições econômicas e sanitárias deste ano devem permitir, espera-se, um saldo muito melhor, mas a evolução da epidemia continua incerta, assim como o ritmo da atividade.
O ministro da Saúde virou tema de piadas, há muito tempo, e a sustentação da retomada vai depender, em primeiro lugar, de um consumo mais vigoroso. Para isso – e para evitar uma catástrofe social – será preciso ressuscitar, embora em escala menor, a ajuda emergencial encerrada em dezembro. Isso custará uns R$ 30 bilhões, talvez mais, e o governo terá de pensar numa contrapartida, de preferência algum corte de gasto.
Na sexta-feira essa contrapartida era ainda incerta. Um dia antes o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, havia advertido: sem a compensação, poderá diminuir a confiança no compromisso de recuperação fiscal, com piora da avaliação de risco, aumento dos juros e novos entraves à recuperação da economia e do emprego.
Credibilidade ganha importância extraordinária quando se tem de administrar um débito enorme. Em janeiro, a dívida bruta do governo geral – da União, dos Estados e dos municípios, somados ao INSS – chegou a R$ 6,67 trilhões, 89,7% do produto interno bruto (PIB) estimado pelo Banco Central (BC). Nos países emergentes e de renda média, a relação dívida/PIB deve andar em torno de 62%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. No Brasil, o governo central é responsável pela maior parte do endividamento e isso torna crucialmente importante a sua confiabilidade.
Mas falta saber qual pode ser a contrapartida. A PEC emergencial em exame no Senado autoriza a retomada do auxílio sem a limitação do teto de gastos. A compensação poderia vir de uma contenção das despesas com pessoal e/ou do fim da vinculação constitucional de verbas para educação e saúde. Houve resistência, entre senadores, às duas soluções e o relator desistiu da segunda.
A desvinculação é debatida há mais de 20 anos, como forma de conferir maior flexibilidade ao Orçamento. Mas é preciso muito cuidado ao tratar de educação e saúde. A cautela é ainda mais necessária quando o governo tem uma folha corrida tão desastrosa nas duas áreas. Não houve, desde janeiro de 2019, um ministro da Educação digno desse título e deve ser muito difícil encontrar, na História republicana, um ministro da Saúde tão inepto quanto Eduardo Pazuello. Mas o responsável principal pelos desastres nos dois setores é mesmo o presidente Jair Bolsonaro.
Até o caminho da retomada neste ano, portanto, continua enevoado. O ministro da Economia, submetido ao regime de humilhações e afagos por seu chefe, foi incapaz, até agora, de apontar soluções para a sustentação do crescimento e de manejar os instrumentos necessários para combinar a reanimação econômica e o ajuste das contas públicas.
Enquanto o governo derrapa, o mercado financeiro oscila, o dólar continua muito mais caro do que seria possível se houvesse menos incerteza e o câmbio segue pressionando a inflação. Os preços por atacado, com alta de 3,28% em fevereiro e 40,11% em 12 meses, segundo o IGPM-FGV, permanecem como um sinal de alerta para o perigo inflacionário. Se o risco se agravar, o BC poderá ser forçado a elevar a taxa básica de juros, o único estímulo ainda mantido por um órgão federal. Anarquistas podem ter alguma razão, mas de vez em quando um pouco de governo é indispensável. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
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União de todos contra o vírus
O iminente colapso do sistema de saúde em boa parte do País não permite relaxamento – nem das autoridades nem dos cidadãos
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
O Brasil superou a terrível marca de 250 mil mortes em decorrência da covid-19. É a maior tragédia nacional a se abater sobre as atuais gerações. Para aumentar ainda mais a angústia de milhões de brasileiros, nada indica que a pior fase da peste já tenha passado. Ao contrário, há evidentes sinais de recrudescimento da pandemia. No Amazonas, por exemplo, só nos dois primeiros meses de 2021 foram registradas mais mortes por covid-19 do que ao longo de todo o ano passado.
O novo coronavírus se espalha como nunca antes pelo País desde o início deste flagelo, há um ano. Há mais de um mês, os brasileiros convivem com a morte de mais de mil de seus concidadãos todos os dias. O número é subestimado. A baixa testagem e a imprecisão diagnóstica escondem a real dimensão da tragédia.
A campanha de vacinação, única saída para pôr fim ao morticínio, segue lenta, incerta. A distribuição das poucas vacinas que há é atabalhoada, vide a recente trapalhada ocorrida no envio dos imunizantes para o Amapá e o Amazonas.
Novas cepas do coronavírus, mais contagiosas, já circulam livremente Brasil afora, sem qualquer tipo de rastreamento pelas autoridades sanitárias.
Os sistemas de saúde de pequenas e médias cidades do interior do Brasil entraram em colapso. Médicos têm de decidir na porta dos hospitais quem será socorrido e quem terá de se haver com a própria sorte. Muitos cidadãos, em especial os mais jovens, comportam-se como se a pandemia tivesse passado. Ou pior, como se não lhes dissesse respeito. É muito difícil nutrir a esperança por dias melhores diante da ausência de um espírito mais fraterno que una a sociedade nos esforços para superar um mal que, independentemente da medida, afeta todos, sem distinções de qualquer ordem.
No mais rico Estado do País, São Paulo, estima-se que em apenas três semanas não haverá leitos de UTI para dar conta do atendimento de todos os doentes. É de imaginar o que pode ocorrer – na verdade, já está ocorrendo – em Estados sem as mesmas condições dos paulistas. O governador João Doria (PSDB) anunciou uma “restrição de circulação” entre 23 e 5 horas, que valerá de hoje até o dia 14 de março, para tentar conter o avanço da doença.
A medida está longe do ideal. Mas o que é “ideal” no atual estágio da pandemia e dos humores da sociedade? Ideal é o que é possível fazer. É verdade que a maior parte das pessoas já estaria recolhida naquele período, mas também é fato que há muitos eventos e festas clandestinas que reúnem pequenas multidões nas madrugadas. Os objetivos do governo paulista são coibir, na medida do possível, esses eventos e alertar a população, mais uma vez, de que as coisas não vão bem. Qualquer medida de restrição tem também essa função de alertar os cidadãos para o risco.
Sempre é possível questionar as chances de eficácia das medidas impostas pelo Palácio dos Bandeirantes, seguindo a recomendação do Comitê de Contingência da Covid-19, na contenção do espalhamento do vírus. No entanto, o fato é que, sejam quais forem as medidas adotadas por governos, no Brasil e no mundo, por melhores que sejam entre as paredes dos gabinetes de crise, de nada valerão se os cidadãos não as respeitarem na vida cotidiana. Em outras palavras, a solução para uma crise da magnitude da pandemia de covid-19 não depende apenas da atuação do Estado, mas também do engajamento da sociedade.
Evidentemente, não se está aqui a relativizar a enorme responsabilidade que os atos e as omissões das autoridades, em especial do presidente Jair Bolsonaro e de seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, têm na construção dessa tragédia sem paralelos recentes. Chegará o dia em que a negligência de um e de outro será escrutinada pela Justiça. Entretanto, não cabe uma postura igualmente omissa e passiva de cada um dos cidadãos.
Hoje, o País chora a morte de 250 mil dos seus, e nada indica que a pandemia arrefecerá sem uma robusta campanha de imunização e sem a adoção de rigorosas medidas preventivas. O iminente colapso do sistema de saúde em boa parte do País não permite relaxamento – nem das autoridades nem dos cidadãos. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
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Courtney Ellis, funcionária dos bichinhos de estimação do escritório do senador Christoper Bond Pooley, um cachorro de escritório de chihuahua pertencente à diretora de comunicações Shana Marchio (NP) em Washington, DC em 6 de maio de 2010. Foto: VCG
Por AFP
Cientistas disseram na quarta-feira que descobriram os restos mortais mais antigos de um cão doméstico nas Américas com mais de 10.000 anos, sugerindo que os animais acompanharam as primeiras ondas de colonos humanos.
Acredita-se que os humanos tenham migrado da Sibéria para a América do Norte sobre o que hoje é o Estreito de Bering, no final da última Idade do Gelo - entre 30.000 e 11.000 anos atrás.
A história dos cães está interligada com a do homem desde os tempos antigos, e estudar O DNA canino pode fornecer uma boa linha do tempo para a colonização humana.
Um novo estudo liderado pela Universidade de Buffalo analisou o DNA mitocondrial de um fragmento ósseo encontrado no sudeste do Alasca. A equipe inicialmente pensou que o fragmento pertencesse a um urso.
Mas um exame mais detalhado revelou que era parte de um fêmur de um cão que viveu na região há cerca de 10.150 anos e que compartilhava uma linhagem genética com cães americanos que viveram antes da chegada das raças europeias.
"Como os cães são uma representação da ocupação humana, nossos dados ajudam a fornecer não apenas um momento, mas também um local para a entrada de cães e pessoas nas Américas", disse Charlotte Lindqvist, bióloga evolucionária da University at Buffalo e da University of Dakota do Sul.
Ela disse que as descobertas, publicadas na revista Proceedings of the Royal Society B, corroboram a teoria de que os humanos chegaram à América do Norte vindos da Sibéria.
Uma análise de isótopos de carbono do fragmento ósseo mostrou que o antigo cão do sudeste do Alasca provavelmente tinha uma dieta marinha. Fonte: https://www.globaltimes.cn
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O monopólio da virtude
O direito de opinião vale se a opinião do outro convergir com a nossa...
Basilio Jafet, O Estado de S.Paulo
“Religiosos ou seculares, negros, brancos ou pardos, sentimos – com razão – que os desafios mais importantes de nosso país estão sendo ignorados e que seremos a primeira geração em muito tempo a deixar para trás um país mais fraco e mais dividido do que aquele que herdamos. Talvez mais do que em qualquer outro momento da nossa história recente, precisamos de uma nova política que possa explorar e usar como alicerce o entendimento comum que nos une como americanos.” A frase está no último livro do ex-presidente do EUA Barack Obama, A Audácia da Esperança: reflexões da reconquista do sonho americano. E poderia ficar por lá, não fosse sua essência tão aderente à nossa realidade.
Realidade que também se espelha em outro trecho da obra: “Rejeito qualquer política baseada apenas em identidade racial, identidade de gênero, orientação sexual ou vitimização geral. Acho que parte dos males que acontecem nas periferias de nossas cidades envolve um colapso cultural que não será curado apenas com dinheiro e que nossos valores, nossa vida espiritual, são tão importantes quanto nosso PIB”.
Não bastassem as inúmeras dificuldades tangíveis que enfrentamos (pandemia, solavancos da economia, desemprego, etc.), vimo-nos diante do desafio de tentar sobreviver às dificuldades intangíveis, que têm que ver com a cultura de valores.
A patrulha das redes sociais, legítimos canais da liberdade de expressão, vem causando perigoso constrangimento. O “nós contra eles” continua mais vivo do que nunca.
As consequências são representadas pela desunião e pelos conflitos internos no Brasil e em praticamente todos os países, com os povos se mantendo divididos. A democracia sobrevive com votações por margens apertadas e nenhum respeito aos perdedores.
O direito de opinião vale se a opinião do outro convergir com a nossa. E assim é na discussão de qualquer assunto. Por exemplo, quem defende o lucro resultante do trabalho honesto é mercenário, quem defende a volta às aulas é excluído, quem defende cidades inclusivas, com habitações acessíveis, só o faz por interesse de mercado. E por aí vai.
Sabemos que as pessoas têm necessidade de pertencer a um grupo. E hoje isso significa abraçar integralmente suas ideias. Mas o radicalismo atual está segmentando ainda mais uma sociedade já fatiada por renda, formação, status, posses (ou a falta completa de tudo isso).
E qual seria objetivamente a relevância dessa reflexão num momento que exige soluções efetivas para problemas concretos? Acontece que sentimentos moldam o caráter e as atitudes de todos nós. Dos que estão nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário definindo nossa vida. Dos responsáveis pela vacinação, pelo abastecimento, pela educação. Dos que produzem, vendem, consomem. Sentimentos determinam a qualidade das relações humanas e destas decorre a qualidade das cidades onde vivemos.
Polarização e radicalismo servem apenas ao oportunismo e ameaçam duramente a recuperação da economia nacional. Se ter lucro é pecado, trabalhar para quê? Se ter conhecimento é esnobismo, por que estudar? Defender o liberalismo não é coisa de capitalista ganancioso? Nesse processo, vamo-nos empobrecendo mútua e coletivamente. E não apenas em termos materiais: amesquinhamos nossa alma.
Pensar diferente significa, hoje, assumir uma bandeira ou outra. Se apresentamos propostas para o planejamento urbano, a bandeira oposta nem se dispõe a ouvir. Desclassifica-as e rotula-as de “especulação imobiliária”. Despreza o que poderia ser considerado desenvolvimento imobiliário. Coloca na estante do esquecimento os benefícios desse processo para a coletividade. E eterniza as periferias e a falta de acesso a teto digno.
Vamos sofrer muito, e mais uma vez, os efeitos perversos dessa dicotomia nas discussões do novo Plano Diretor de São Paulo, cuja revisão está programada para este ano. O contraditório é sempre bem-vindo. Mas não os contrários que se alimentam do acirramento de conflitos e se arvoram em detentores do monopólio da virtude (aquele que não pensa igual é antidemocrático, até mesmo fascista).
Quem assim age ignora o que nos ensinou sobre virtude o filósofo grego Aristóteles, no século 4.º aC. Segundo ele, a virtude é o meio de atingir a felicidade – o que todos nós, radicais ou não, almejamos.
E o que é a virtude, segundo Aristóteles? Agir de forma virtuosa é, nas diferentes situações, adotar o meio termo entre extremos. Para chegar ao final da vida e dizer que ela foi feliz é necessário treinarmos ou nos habituarmos a praticar ações virtuosas e não abdicar do bom senso.
No meio termo entre extremos não se apedreja quem pensa diferente; quem acredita, por exemplo, que o individualismo deve ceder lugar à solidariedade, à busca do bem comum (que nada tem que ver com comunismo); ou quem defende a ideia de as oportunidades serem, sim, mais igualitárias, porém cada um deve ser responsável pelo próprio sucesso.
É assim que funcionam a sociedade japonesa e, em certa medida, as escandinavas, pautadas no genuíno respeito aos outros. Temos muito a aprender com elas e, por esse caminho, melhorar, traçar perspectivas melhores e evitar que as próximas décadas se transformem num caos, numa distopia.
PRESIDENTE DO SECOVI-SP
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Segundo estatística da Rio de Paz, vítimas tinham entre 0 e 14 anos
Ana Carolina Torres
RIO — O presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, comentou, nesta terça-feira, o caso do adolescente Ray Pinto Faria, de 14 anos, morto nesta segunda-feira durante uma operação da Polícia Militar em Campinho, na Zona Norte do Rio. A família acusa PMs de terem executado o jovem. De acordo com Antônio Carlos, entre 2007 e 2021 o estado teve 81 crianças — de 0 a 14 anos — mortas por bala perdida:
— Ou, permita-me dizer, bala achada. Sempre que um menino e uma menina morrem de forma tão banal e hedionda pensamos que tudo vai mudar, mas nada muda. O motivo deve-se ao fato de que esses pequeninos moram em comunidades cujos moradores são considerados pelo poder público e grande parte da sociedades matáveis.
Antônio Carlos citou os dois casos mais recentes, ocorridos este ano. O da menina Ana Clara Gomes Machado, morta aos 5 anos durante uma operação da PM em Niterói, em 2 de fevereiro — o cabo Bruno Dias Delaroli, do 12º BPM (Niterói), foi preso em flagrante por suspeita de ter feito o disparo que atingiu a criança. E o de Alice Pamplona da Silva de Souza, também de 5 anos. Ele morreu meia-noite do dia 1º de janeiro durante uma festa de revéillon no Morro do Turano, no Rio Comprido, na Zona Norte da capital.
— Perguntas nos são feitas sobre essas mortes. Respostas objetivas são dadas por nós, estudiosos do tema da segurança pública. Mas as medidas que salvariam vidas não são implementadas e os crimes continuam. Essas tragédias deixariam de acontecer se armas não chegassem nas mãos de criminosos, se parte da sociedade parasse de celebrar a guerra e as nossas polícias entendessem que numa operação policial, mais importante do que a prisão do bandido é a preservação da vida do morador de comunidade pobre. Agora ficam as seguintes perguntas: o que vai mudar? O que o poder público fez pela família da Ana Clara, morta no início do mês e fará pela família do menino Ray? — questionou Antônio Carlos.
Além de acusar os PMs de terem executado Ray, a família do adolescente ainda acusa os agentes de o terem levado, baleado, da comunidade de Campinho para outra favela e só então seguirem para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, na Zona Norte, com outras duas pessoas que também haviam sido feridos e acabaram morrendo.
Em nota, a Polícia Militar informa que "três indivíduos foram atingidos e socorridos ao Hospital municipal Salgado Filho" e diz que "todas as circunstâncias das ações estão sendo apuradas pelo Comando de Operações Especiais (COE) e pelo 1° Comando de Policiamento de Área (CPA)":
"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que o 1º Comando de Policiamento de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram na Zona Norte e parte da Zona Oeste da Cidade do Rio, na segunda-feira (22/02), para coibir a ação de grupos criminosos que disputam a Praça Seca. As equipes estiveram nas comunidades Caixa D' Água, Camarista Méier, Campinho, Fubá, Lemos Brito, Morro do Dezoito, Morro do Urubu e Saçu.Durante as ações, foram apreendidos três fuzis, três pistolas, duas granadas e entorpecentes. Três indivíduos foram atingidos e socorridos ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde não resistiram. Um quarto suspeito foi detido.Todas as circunstâncias das ações estão sendo apuradas pelo Comando de Operações Especiais (COE) e pelo 1° Comando de Policiamento de Área (CPA)As ocorrências foram apresentadas nas 24ª DP, 25ª DP e Delegacia de Homicídios da Capital.Ainda durante o dia, manifestantes depredaram um ônibus e agrediram seu motorista na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura. A mobilização foi contida por equipes policiais e 29 pessoas foram conduzidas à 28ª DP. Um coletivo foi incendiado na região na parte da noite.A Corporação reitera seu compromisso com a atuação técnica e idônea de seus policiais e reforça os canais da Corregedoria da Polícia Militar para denúncias, através do telefone (21) 2725-9098 e do e-mail Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. O anonimato é garantido".
Armas de agentes apreendidas
As armas dos agentes que participaram da operação foram apreendidas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e passarão por perícial, informou a Polícia Civil em nota. De acordo com a corporação, parentes da vítima e PMs prestaram depoimento. A nota destaca ainda que "diligências estão sendo realizadas para identificar outras testemunhas que ajudem a esclarecer o homicídio". Fonte: https://oglobo.globo.com
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Serviço de streaming irá permitir que o sistema baixe episódios e filmes recomendados pelo serviço
Por Evandro Almeida Jr., especial para o Estadão - O Estado de S. Paulo
A Netflix acaba de lançar uma nova opção em seu aplicativo para consumo offline de conteúdos. Com o "Downloads for You", o aplicativo baixará automaticamente conteúdos baseados no histórico do usuário na plataforma.
Ao ativar o recurso, o usuário poderá delimitar quanto de espaço quer deixar disponível para baixar conteúdo — 1GB, 3GB ou 5GB. O download é feito imediatamente assim que o smartphone tiver conectado ao Wi-Fi. Após assistir aos conteúdos, o usuários poderá deletar e abrir mais espaço para novos filmes e episódios de série.
O diretor de Inovação e Produto da Netflix, Patrick Flemming, disse que a intenção é facilitar a vida do usuário na busca por novos conteúdos. “Nós queremos te ajudar a descobrir qual vai ser sua nova série ou filme favorito de forma mais fácil. Estando conectado ou não.” O movimento é mais uma tentativa do serviço de ajudar o usuários a superar a indecisão que acomete muitos usuários do serviço. A empresa já testou programa linear, como um canal de TV tradicional, e uma ferramenta de escolha aleatória de programas.
De acordo com a Netflix, todos os conteúdos da plataforma estarão disponíveis para armazenamento, não só originais. Por enquanto, o serviço está disponível apenas para smartphones com o sistema Android. A versão para iOS será liberada ao longo do ano.
Segundo a empresa, o Downloads For You não é uma substituição do Smart Downloads, que já existe para baixar conteúdos e assisti-los offline no aplicativo - ele será uma ferramenta complementar. Fonte: https://link.estadao.com.br
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Família, resposta ao crime
A pobreza material castiga o corpo, mas a falta de amor corrói a alma
Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo
Jovens de classe média e média alta têm frequentado o noticiário policial. Crimes, vandalismo, consumo e tráfico de drogas deixaram de ser marca registrada das favelas e da periferia das grandes cidades. O novo mapa do crime transita nos bares badalados, vive nos condomínios fechados, estuda nos colégios da moda e não se priva de regulares viagens ao exterior. O fenômeno, aparentemente surpreendente, é o reflexo de uma cascata de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores.
Os pais da geração transgressora têm grande parte da culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão. O delito não é apenas reflexo da falência da autoridade familiar. É, frequentemente, um grito de revolta e carência. A pobreza material castiga o corpo, mas a falta de amor corrói a alma. Os adolescentes, disse alguém, necessitam de pais morais, e não de pais materiais. A grande doença dos nossos dias tem um nome menos técnico, mas mais cruel: desumanização das relações familiares.
Reféns da cultura da autorrealização, alguns pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos filhos. O vazio afetivo, imaginam na insanidade do seu egoísmo, pode ser preenchido com carros, boas mesadas e consumismo desenfreado. Acuados pela desenvoltura antissocial dos seus filhos, recorrem ao salva-vidas da psicoterapia. E é aí que a coisa pode complicar. Como dizia Otto Lara Rezende, com ironia e certa dose de injusta generalização, “a psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos”. Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema. A omissão da família está se traduzindo no assustador aumento da delinquência infantojuvenil e no comprometimento, talvez irreversível, de parcelas significativas da nova geração.
Se a crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues bem-nascidas. As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados e paralisados, a uma espiral de crueldade sem precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.
O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. Pena é termos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio. A sociedade precisa de um choque de bom senso. O erro deve ser condenado e punido. A solidariedade deve ser recuperada. É preciso ensinar à moçada que o ser está acima do ter. Gastamos muito tempo no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas. O resultado é uma geração desorientada, vazia e imatura.
O pragmatismo e a irresponsabilidade de alguns setores do mundo do entretenimento estão na outra ponta do problema. A era do mundo do espetáculo, rigorosamente medida pelas oscilações da audiência, tem na violência um de seus carros-chefes. A transgressão passou a ser a diversão mais rotineira de todas. A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm colaborado para o aparecimento de engomadinhos do crime. Apoiados numa manipulação do conceito de liberdade artística e de expressão, alguns programas de TV crescem à sombra da exploração das paixões humanas. Ao subestimar a influência perniciosa da violência ficcional, levam adolescentes ao delírio em shows de auditório que promovem uma grotesca sucessão de quadros desumanizadores e humilhantes. A guerra pela conquista de mercados passa por cima de quaisquer balizas éticas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o marketing do entretenimento com conteúdo violento está apontando as baterias na direção do público infantil.
A onipresença de uma televisão pouco responsável e a transformação da internet em descontrolado espaço para manifestação de atividades criminosas (pedofilia, racismo e oferta de drogas, frequentemente presentes na clandestinidade de alguns sites, desconhecem fronteiras, ironizam legislações e ameaçam o Estado Democrático de Direito) estão na origem de inúmeros comportamentos patológicos.
É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem, ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus dramáticos efeitos antissociais.
JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
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