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Filho que mandou matar o pai para receber herança é condenado a 20 anos
Conforme o Ministério Público mineiro, outros três acusados devem ir a julgamento; homicídio duplamente qualificado aconteceu em Ipatinga, no Vale do Aço
O Tribunal do Júri de Ipatinga, no Vale do Aço, condenou a 20 anos de prisão Matheus Andrade Gonçalves, de 28 anos, apontado como o mandante do homicídio duplamente qualificado do próprio pai, o aposentado Evenilson Gonçalves, de 48, que morreu na porta de casa, executado com três tiros na cabeça. O réu, que já estava preso preventivamente, não poderá recorrer em liberdade.
Conforme a denúncia, oferecida pela 11ª Promotoria de Justiça da cidade do interior mineiro, o crime ocorreu em 27 julho de 2018, no Bairro Bom Retiro, e foi motivado pelo interesse do filho na herança do pai. Além disso, o relacionamento deles era marcado por conflitos recorrentes. A sentença foi dada na última terça-feira (16/11).
Por motivo torpe e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, outros quatro homens também foram denunciados pelo envolvimento no assassinato. Entretanto, um deles, de 37 anos, foi absolvido. Conforme a Justiça, ele sabia do plano de homicídio em curso, mas não teve participação direta.
No dia do crime, três homens, a mando do filho da vítima, foram para a porta da residência onde morava o aposentado. Inicialmente, dois dos autores desembarcaram do veículo em que estavam para vigiar o alvo.
No momento em que o homem ia guardar o carro na garagem do imóvel, ele foi surpreendido por um dos autores, que iniciou os disparos. Além dos três tiros que atingiram a cabeça de Evenilson, outros quatro acertaram as pernas e a mão dele. Na sequência, todos fugiram. O veículo usado na ação criminosa pertencia ao homem de 37 anos que foi inocentado.
Conforme o MPMG, o processo foi desmembrado. Com isso, os outros três acusados ainda irão a julgamento. Fonte: https://www.em.com.br
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Secretário da Educação esteve no Colégio Estadual Thales de Azevedo nesta sexta-feira (19)
A Secretaria Estadual da Educação (SEC) acionou a Procuradoria Geral do Estado (PGE) para prestar assistência jurídica à professora que foi intimada pela polícia após a denúncia de uma aluna. Uma equipe deve acompanhá-la na delegacia.
O titular da SEC, Jerônimo Rodrigues, esteve no Colégio Estadual Thales de Azevedo nesta sexta-feira (19). Ele participou de uma reunião com a professora, o corpo docente e os gestores escolares na unidade escolar. Nesta sexta, estudantes se reuniram com cartazes na área interna da escola para prestar apoio à professora.
A SEC informou ainda que uma equipe de psicólogos da SEC está disponível para prestar atendimento à professora e à comunidade escolar. A pasta também reafirmou que a escola está em consonância com a lei. "A SEC destaca que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) assegura o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, além de garantir o livre exercício da docência. Os conteúdos ministrados pela professora em sala de aula estão em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Referencial Curricular do Estado e são acompanhados pela Coordenação Pedagógica da escola", diz e-mail enviado pela secretaria ao CORREIO. A secretaria também manifestou apoio à professora.
Boletim de ocorrência
Segundo a Polícia Civil, a mãe de uma adolescente registrou na Dercca que a filha teria sido hostilizada por colegas devido à sua opinião política.
A estudante teria sido também impedida de participar de atividades em grupos com colegas, sob o consentimento da professora, segundo a Polícia Civil. No entanto, segundo a APLB Sindicato, o que motivou o registro do BO foi o fato de a professora discutir temas como questões de gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade em sala de aula, classificado como "esquerdista".
As pessoas envolvidas no caso estão sendo ouvidas pela Dercca. "É importante ressaltar que cabe à Polícia Civil investigar qualquer registro em suas unidades, agindo de modo imparcial ao apurar ocorrências que chegam a seu conhecimento. Só o desenrolar das investigações, portanto, poderá confirmar a veracidade das informações relatadas", diz nota enviada pela polícia.
Casos de hostilidade
Ainda de acordo com o sindicato, dois episódios marcam a perseguição aos professores da unidade escolar. "No mês de agosto foi realizado um seminário online pela escola e após o evento um grupo de estudantes e seus responsáveis expediram uma nota atacando os professores e palestrantes. Em outra ocasião, durante uma aula remota da disciplina de Inglês, a mãe de uma estudante, a mesma que deu entrada na queixa contra a professora de Filosofia, invadiu o espaço da aula online para inquirir e exigir explicações sobre a temática, que segundo ela seria inadequada por se tratar de feminismo", diz a nota divulgada pelo sindicato.
De acordo com a APLB, após receber a intimação na última terça-feira (16), a professora ficou muito abalada emocionalmente e teve que receber atendimento médico. A identidade dela não foi divulgada.
A equipe que gerencia a escola divulgou uma nota sobre o caso e diz que "as alegações são de que os conteúdos de Ciências Humanas são de "cunho esquerdista" e os de Linguagens são de "doutrinação feminista".
A escola também repudiou a situação e afirmou que a intimação policial fere "a liberdade de cátedra e autonomia pedagógica, princípios constitucionais fundamentais". A escola diz ainda que a intimação também "viola o direito profissional e o respeito ao trabalho docente em disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº9.394) e do Plano Nacional de Educação (Lei nº13.005)". A unidade escolar também pede apoio de entidades e movimentos sociais para garantir a autonomia pedagógica.
Apoio jurídico
Para o coordenador-geral Rui Oliveira é inadmissível esta perseguição aos docentes. “Infelizmente são ações de grupos ligados à pessoas de extrema direita, que desrespeitam e ferem a liberdade de cátedra. Não vamos permitir que isso aconteça. Vamos dar todo o apoio para a comunidade escolar do Thales de Azevedo, principalmente à professora que foi intimada, bem como disponibilizar nossos advogados para acompanhá-la no dia da audiência. Vamos continuar denunciando toda a forma de abuso e perseguição”, destacou.
O sindicato diz ainda que lamenta toda a situação e que vai se empenhar para que o caso seja apurado. "A direção da APLB-Sindicato lamenta profundamente as ocorrências e reitera o apoio jurídico e psicológico à professora, exigindo a apuração dos fatos ocorridos, bem como também irá se articular para denunciar nos veículos de comunicação e nas Casas Legislativas, como Câmara de Vereadores e Assembleia Estadual, exibindo faixas e cartazes pedindo total solidariedade a todos os profissionais em Educação". Fonte: https://www.correio24horas.com.br
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SÃO PAULO
Uma professora de filosofia do colégio estadual Thales de Azevedo, em Salvador (BA), recebeu uma intimação para comparecer à Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente após uma aluna apresentar queixa sobre o conteúdo apresentado em sala de aula, com temas relacionados a questões de gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade.
Segundo a APLB (Associação dos Professores Licenciados do Brasil), seção da Bahia, a professora precisou ser levada a um hospital para atendimento médico após receber a intimação e ficar emocionalmente abalada.
A direção da escola divulgou nota de repúdio e afirmou que a intimação fere a liberdade de cátedra e a autonomia pedagógica.
"Infelizmente, as alegações de que os conteúdos curriculares das ciências humanas são de cunho ‘esquerdista’ e os conteúdos de linguagens são de ‘doutrinação feminista’ têm provocado o enviesamento dos conhecimentos historicamente construídos e dos fenômenos sociais, em silenciamento dos docentes", diz a nota.
Para o colégio, a intimação policial censura o exercício laboral da professora e afronta o corpo docente e a gestão da escola. "Essa situação, portanto, viola o direito profissional e o respeito ao trabalho docente em disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e do Plano Nacional de Educação".
A aluna teria procurado a delegacia acompanhada da mãe por discordar dos temas abordados durante as aulas de filosofia. Um grupo de professores da escola afirmou que, antes de registrar a queixa, a aluna tinha um comportamento pouco amistoso e perseguia a professora.
A APLB diz que há tentativas de intimidação, coação e pressão psicológica para "cercear a livre expressão e tumultuar aulas e algumas atividades propostas pelos professores". Para a associação, essas tentativas são protagonizadas por grupos de extrema direita.
"Não vamos permitir que isso aconteça. Vamos dar todo o apoio para a comunidade escolar do Thales de Azevedo, principalmente à professora que foi intimada, bem como disponibilizar nossos advogados para acompanhá-la no dia da audiência", disse Rui Oliveira, coordenador da associação.
Além do caso da professora que recebeu a intimação, em agosto um grupo de estudantes e de pais e mães divulgou nota com críticas a professores e palestrantes após a realização de um seminário online pela escola.
A APLB afirma também que, em outra ocasião, a mãe da estudante que procurou a polícia invadiu o espaço de aula online de inglês para exigir explicações sobre a temática apresentada, que na avaliação dela seria feminista.
"A direção da APLB-Sindicato lamenta profundamente as ocorrências e reitera o apoio jurídico e psicológico à professora, exigindo a apuração dos fatos ocorridos", diz nota da associação.
A entidade promete procurar a Assembleia Legislativa e a Câmara de Vereadores para pedir solidariedade aos profissionais da escola. A direção da escola pede o apoio de entidades e movimentos sociais que defendem a educação pública, gratuita e laica para os professores que estariam sendo perseguidos.
A pesquisa "Valorização da Carreira Docente: um olhar sobre os professores", do Instituto Península, mostra que os professores brasileiros acreditam em seu papel transformador na vida dos estudantes e da sociedade, têm orgulho da profissão e são realizados profissionalmente. Mais de dois terços deles, no entanto, sentem que a profissão não é respeitada no Brasil e que as políticas públicas voltadas a eles não os valorizam. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Nesta segunda-feira (15), por volta das 9h20, uma sirene localizada no condomínio do Frade, em Angra dos Reis, que integra o sistema do plano de emergência da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), foi acionada de forma indevida durante um teste silencioso que acontece diariamente.
O sinal soou durante aproximadamente 20 segundos, sendo, em seguida, cancelado pela Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, responsável pela operação do equipamento. Na sequência, foi tocada uma mensagem sonora para avisar à população local de que se tratava apenas de um teste.
Uma equipe de telecomunicações da Eletronuclear foi deslocada até o local para avaliar a sirene, na medida em que a empresa faz a manutenção do aparelho. Constatado que o acionamento se deu devido a um sinal espúrio, a companhia está agora trabalhando para identificar a razão do episódio.
A Eletronuclear frisa que Angra 1 e 2 continuam operando normalmente, a 100% de potência, de forma inteiramente segura. Fonte: radiocostazul
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COP-26: o planeta pede socorro
Mostrar se há vontade política para destinar mais recursos para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e ajudar os mais pobres
Dom Odilo Pedro Scherer, O Estado de S.Paulo
CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO
O problema das mudanças climáticas, posto em debate na Conferência de Glasgow. O que está em jogo é o futuro da vida em nosso planeta azul. Órgãos de governo, empresas, cientistas, pesquisadores e especialistas no tema debateram e compartilharam preocupações e ideias para estabelecer metas e determinar medidas concretas para frear a degradação das condições de vida na Terra.
Também a Igreja Católica compartilha essa preocupação e participa do esforço para cuidar do ambiente da vida. Não é de hoje que ela ensina o respeito à natureza, que não é vista apenas como algo a ser desfrutado para o desenvolvimento humano: ela é obra de Deus Criador e manifestação de sua providência para com o ser humano e todas as criaturas. Cabe ao homem cuidar e administrar este “jardim”, em benefício de todos.
Embora isso já estivesse presente no ensinamento cristão tradicional, a palavra mais explícita da Igreja sobre as questões ambientais é mais recente, como também acontece no âmbito geral da cultura. Contudo, lembro-me bem de uma chamada do padre de minha comunidade de origem, no Paraná, nos anos 1950, advertindo contra o desmatamento indiscriminado e a erosão das terras: “A terra está ferida e a água vermelha dos córregos e rios é seu sangue que escorre”, dizia ele.
O papa Bento XVI, na encíclica Caritas in veritate (2009), ao tratar do desenvolvimento humano integral, recordou que a natureza nos precede, tendo-nos sido dada por Deus como precioso ambiente da vida. Ela nos fala do Criador e do seu amor pela humanidade. A natureza está à disposição do homem, mas não para qualquer intervenção e uso. Nela, o Criador imprimiu ordenamentos intrínsecos, que o homem deve conhecer e respeitar (cf. n.º 48). O homem pode servir-se responsavelmente da natureza para viver, mas precisa respeitar os equilíbrios intrínsecos da mesma natureza.
No mesmo documento, o papa Ratzinger tratou das implicações éticas e morais da conduta humana em relação à natureza. A questão não pode ser abordada apenas do ponto de vista técnico e econômico, pois também está associada aos deveres que nascem da relação do homem com o ambiente e com as demais pessoas. Essa relação envolve a nossa responsabilidade para com a humanidade inteira, sem esquecer os pobres e as gerações futuras. Sem esse discernimento, a natureza acaba sendo um tabu intocável ou, ao contrário, uma reserva da qual o homem vai se apossando até o exaurimento. Nem uma nem outra dessas atitudes corresponde à visão cristã sobre a natureza.
Em 2015, o papa Francisco publicou a encíclica Laudato sì – sobre o cuidado da casa comum, dedicada inteiramente à ecologia integral, com alguns conceitos novos e incisivos. Nas questões ambientais, tudo está interligado: o ambiente da vida, a pessoa humana e os demais seres, as questões econômicas, a justiça social e a paz. Não se pode tratar de uma delas sem levar em conta as demais dimensões deste conjunto de relações de uma ecologia integral. Também é bem ilustrativa a imagem da casa comum, usada pelo papa na encíclica: nosso planeta é a casa comum da inteira família humana. Descuidar ou pôr em risco a segurança desta casa é uma ameaça para a existência da própria humanidade. E o cuidado desta casa é uma responsabilidade de todos os seus habitantes. Ninguém está dispensado de fazer a sua parte.
Francisco propõe uma verdadeira “conversão ecológica”, que leve a mudanças de atitudes, padrões de vida, de modelos de desenvolvimento econômico e cultural e de formas de fazer política. Os padrões insustentáveis de produção e consumo, fora de controle, da sociedade global, levam à degradação das relações humanas e do planeta. Somente uma nova consciência ambiental e solidária será capaz de evitar o pior e de cuidar bem da Terra, preservar os recursos naturais e garantir o desenvolvimento humano sustentável, com justiça social, paz e esperança na nossa casa comum.
No dia 31 de outubro passado, Francisco conclamou os líderes mundiais a ouvirem “o grito da Terra e dos pobres”, pedindo que a Conferência de Glasgow forneça respostas eficazes para as graves questões climáticas globais e esperança concreta para as gerações futuras. Na mensagem enviada ao presidente da COP-26, Alok Sharma, o papa escreveu que é hora de mostrar se realmente existe vontade política para destinar, com honestidade, responsabilidade e coragem, mais recursos para mitigar os efeitos negativos das mudanças climáticas e para ajudar as populações mais pobres e vulneráveis, que são as que mais sofrem com os efeitos dessas mudanças.
Na sua intervenção na Conferência de Glasgow, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, insistiu: os Acordos de Paris podem parecer ambiciosos, mas são inadiáveis. E desafiou os países mais capazes e ricos a liderarem uma finança e uma economia descarbonizadas.
Trata-se de uma mudança de época e de um desafio civilizatório, que requer o esforço de todos. Também dos cidadãos comuns. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
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Documentos mostram percepção de disseminação de discurso político incendiário, mas orientam equipe a focar EUA e Reino Unido
SÃO PAULO e BAURU (SP)
Um relatório interno do Facebook recomenda que a empresa investigue a grande circulação de conteúdo violento na plataforma e em seu aplicativo de mensagens WhatsApp no Brasil. De acordo com o texto, a percepção no país é a de que a circulação de conteúdo violento é muito maior no Facebook e no WhatsApp do que em plataformas como Instagram, TikTok e Twitter.
"Precisamos examinar seriamente por que a violência explícita continua a ter um alcance maior no Facebook e no WhatsApp no Brasil", recomenda o documento.
A informação consta dos chamados Facebook Papers, relatórios internos encaminhados à Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos e fornecidos ao Congresso americano pelos advogados de Frances Haugen, ex-funcionária da empresa. A Folha faz parte do consórcio de veículos de mídia que teve acesso a esses papéis, que foram revisados pelos advogados e tiveram trechos ocultados. O Facebook recentemente mudou o nome da empresa que reúne suas plataformas para Meta.
O documento aponta que, no Brasil, também existe a percepção de que desinformação, linguagem política incendiária, bullying e exploração de crianças são problemas muito maiores no Facebook do que em outras plataformas. A empresa recomenda que uma equipe investigue "por que o alcance [de conteúdo de exploração infantil] é maior [no Facebook] do que em outras plataformas no Brasil e na Colômbia".
Enquanto isso, nos EUA e no Reino Unido a visão geral é que o conteúdo noticioso é o maior veículo de desinformação cívica, ligada à integridade eleitoral ou das instituições, no Facebook. Na Indonésia, as contas falsas é que são percebidas como principal motor na disseminação de desinformação.
A percepção avaliada pela empresa é de que, no Brasil, considera-se que o Facebook é a plataforma em que o discurso político incendiário tem o maior alcance. Na Índia, o TikTok; nos EUA, o Twitter.
No entanto, a recomendação do relatório é que a divisão de integridade cívica da empresa —que lida com desinformação eleitoral— "continue a se concentrar no conteúdo enganoso que circula nos EUA e no Reino Unido" e que o setor de desinformação em geral tenha uma abordagem mais ampla, incluindo outros países.
Uma das principais críticas feitas ao Facebook é que a empresa negligencia a moderação de conteúdo em países vistos como menos importantes que os EUA, o Reino Unido e nações da União Europeia.
Em nota, a Meta afirmou que os resultados dessas pesquisas "não medem a prevalência ou a quantidade de um determinado tipo de conteúdo nos nossos serviços, mas mostra a percepção das pessoas sobre o conteúdo que elas veem nas nossas plataformas. Essas percepções são importantes, mas dependem de uma série de fatores, incluindo o contexto cultural".
"Divulgamos trimestralmente a prevalência de materiais que violam nossas políticas e estamos sempre buscando identificar e remover mais conteúdos violadores", encerra o texto.
No início de abril, uma ex-funcionária, Sophie Zhang, afirmou que a empresa deixou de agir diante de líderes de países como Honduras que usaram a plataforma de forma ilegítima, por exemplo por meio de contas de comportamento inautêntico, para fins autoritários. Segundo ela, a hoje Meta resolveu não agir, mesmo após alertas, alegando que não valia a pena.
Um levantamento feito em março pela Agência Lupa apontou que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), havia violado regras da rede social para publicações sobre a pandemia ao menos 29 vezes neste ano, até aquela altura. Ainda assim, ele não havia recebido qualquer punição: ao contrário do que fez em outros países, a plataforma não removeu nem fez alertas sobre nenhum desses conteúdos.
No último dia 24 de outubro, porém, o Facebook excluiu uma live de Bolsonaro, transmitida dias antes, em que ele leu uma suposta notícia dizendo que "vacinados [contra a Covid] estão desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]". Médicos afirmam que a associação entre o imunizante e a Aids é falsa, inexistente e absurda.
Um porta-voz da empresa disse que o motivo para a exclusão foram as políticas da rede relacionadas à imunização contra o coronavírus. "Nossas políticas não permitem alegações de que as vacinas contra a Covid-19 matam ou podem causar danos graves às pessoas."
Outro documento tornado público por Haugen e obtido pela Folha mostra que o Facebook, apesar das promessas de combate à desinformação que pode ameaçar eleições, ainda resiste a pagar o preço político para aplicar suas regras.
Relatório interno sobre a eleição geral da Índia de 2019 atesta que foram usadas ferramentas para reduzir o alcance da desinformação cívica, como diminuir a distribuição de posts de grande compartilhamento —estratégias baseadas na experiência de eleições nos EUA (legislativas) e no Brasil (presidenciais) em 2018. Ainda assim, o texto ressalva que tudo isso "respeitou a ‘white list’ política, para limitar riscos de relações públicas".
A chamada "white list" desobriga determinadas figuras públicas de cumprir as regras de comunidade —que proíbem, por exemplo, desinformação em relação à Covid, incitação a violência, nudez não consensual e ameaças à integridade eleitoral. Na prática, enquanto usuários "normais" podem ser suspensos ou penalizados por violar essas normas, os membros da lista têm o conteúdo analisado por equipes que revisam as decisões e, muitas vezes, liberam a postagem.
Foi o que aconteceu com o jogador de futebol Neymar, que fez lives no Facebook e no Instagram mostrando nudes enviados pela modelo Najila Trindade, que o acusou de estupro. Apesar de a plataforma ter regras claras contra a exposição não consensual de nudez, a chamada "pornografia de vingança", os vídeos do atleta ficaram no ar mais de 24 horas nas duas plataformas, com mais de 50 milhões de visualizações, antes de serem derrubadas —o erro foi apontado em relatório dos Facebook Papers.
A preocupação com a imagem da empresa e a necessidade de ofensivas de relações públicas aparecem novamente no relatório que analisa a percepção de usuários sobre o Facebook. O documento mostra que no Brasil a impressão é de que a circulação do discurso de ódio e bullying na plataforma é maior (o Twitter vem em segundo lugar). Na Índia, o TikTok lidera essa lista e nos EUA, o Twitter.
A recomendação em relação ao problema é "redobrar esforços de relações públicas em torno de discurso de ódio e bullying no Facebook".
Para estudar as tendências de desinformação no Brasil, os analistas do Facebook compilaram uma série de reportagens de veículos jornalísticos compartilhadas na plataforma. O objetivo era entender o que poderia estar impulsionando o compartilhamento, por meio da plataforma, de conteúdos falsos ou distorcidos durante o período analisado (março e abril de 2020).
Constam da lista episódios em que Bolsonaro atacou a imprensa e ao menos três ocasiões em que ele minimizou ou negou a gravidade da pandemia.
Além de textos de veículos como o jornal britânico The Guardian e a agência de notícias Reuters, os analistas incluíram uma reportagem da Folha sobre a decisão tomada por Facebook, Twitter e Instagram de excluir um vídeo em que Bolsonaro aparece passeando por Brasília e provocando aglomerações. À época, as empresas entenderam que o conteúdo criava desinformação e poderia "causar danos reais às pessoas".
Em outro documento revelado por Haugen, a empresa define "danos sociais coordenados" como "atividade coordenada ou direcionada por um Estado ou agentes hostis com a intenção de causar sérios prejuízos sociais" e propõe uma gradação de malefícios causados e punições a eles.
Entre esses danos estariam "tentativas de deslegitimar o processo eleitoral ou o resultado de eleições justas, com coordenação ou incitação a derrubar um governo ou uma instituição, baseando-se em desinformação" —como exemplo, são citados a Etiópia e os EUA.
Nessa categoria, segundo o texto do Facebook, se encaixam páginas ligadas à Ordem Dourada do Brasil, descrita como uma "organização apoiada por militares que combina religião evangélica, conteúdo pró-Bolsonaro, teoria da conspiração, defesa da ditadura militar, e conteúdo pró-armas".
Essas páginas, de acordo com o documento, têm "alta coordenação, postagens em massa e pessoas com múltiplos perfis amplificando conteúdo". A recomendação é de que as páginas sejam removidas ou tenham alcance restrito.
Procurada, a Meta enviou uma nota. "Bilhões de pessoas no mundo, inclusive no Brasil, usam nossos serviços porque veem utilidade neles e têm boas experiências. Já investimos US$ 13 bilhões em segurança globalmente desde 2016 —estamos a caminho de investir US$ 5 bilhões só neste ano— e temos mais de 40 mil pessoas trabalhando para manter as pessoas seguras nos nossos aplicativos", diz o texto.
"Também investimos em pesquisas internas para ajudar a identificar de forma proativa onde podemos melhorar nossos produtos e políticas." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Sem dar atenção ao escândalo, empresa oferece alternativa de futuro à perspectiva atual de plataformas com 'pessoas mais velhas' e modelo de negócios estrangulado
Nelson de Sá
Jornalista, publica a coluna Toda Mídia e cobre cultura e tecnologia
Quando Mark Zuckerberg apresentou os resultados de sua empresa para o terceiro trimestre, no início desta semana, o foco não foram os Arquivos ou Papéis do Facebook, apelidos dados às informações vazadas sobre a plataforma ao longo do último mês.
O crescimento da receita, essencialmente publicitária, veio menor do que o projetado por analistas de mercado. E os vilões do CEO na apresentação foram Apple e TikTok.
A primeira passou a exigir dos aplicativos que usam seu sistema operacional, casos de Facebook e Instagram, que perguntem aos usuários se aceitam ser monitorados.
Com isso, os anunciantes agora têm mais dificuldade para alcançar —e saber que alcançaram— o público-alvo. Daí reduzirem gastos publicitários e saírem procurando alternativas, como adquirir veículos de mídia e suas bases de usuários e assinantes.
Já o TikTok aparece mês a mês como aplicativo mais baixado e está tirando os "jovens adultos" que convergiam para as plataformas de Zuckerberg, hoje tomadas por "pessoas mais velhas" —expressões usadas pelo próprio CEO.
Nenhum dos dois problemas é novidade. Zuckerberg já vinha atacando o TikTok pela origem chinesa, chegando a posar com a bandeira americana, e a Apple com campanha que incluiu anúncio em jornal.
Quando começou a ser exigida a anuência dos usuários ao monitoramento, meses atrás, foram páginas inteiras de WSJ, New York Times, Washington Post e Financial Times. Num dos enunciados, "Estamos nos erguendo contra a Apple em defesa das pequenas empresas de toda parte" (acima).
Nas duas frentes, não deu certo. Mas a resposta maior à Apple e ao TikTok já estava sendo preparada, como se podia perceber no rumor em torno de "metaverso" há meses, na cobertura de Facebook.
E na quinta Zuckerberg apareceu com a mudança de nome da holding, para Meta Platforms ou só Meta, e sobretudo com novo chamariz para anunciantes e jovens adultos.
Como alertou o WSJ cruamente, é uma nova roupagem para algo que "já existiu e fracassou", o Second Life. Mas desta vez poderá ser diferente, dados os avanços em tecnologia.
Para o Meta, como a empresa quer ser chamada, o importante é oferecer uma alternativa de futuro, diferente da perspectiva atual de plataformas povoadas por "pessoas mais velhas" e com um modelo de negócios estrangulado pela Apple e pelo Google.
Em vez de iOS, seu Oculus (agora também Meta). Em vez de TikTok, seu Horizon Worlds.
Nada disso tem relação com o escândalo deste último mês, que avolumou a cobrança por intervenção estatal, seja para ampliar o controle de seu conteúdo, seja para dividir a empresa, que teria que se desfazer de Instagram e WhatsApp.
O problema é que democratas e republicanos têm ideias opostas sobre o que fazer. Projetos apresentados pelos primeiros se concentram em responsabilizar o Facebook pela promoção de desinformação.
Já no caso de um projeto do senador republicano Marco Rubio, o Facebook seria responsabilizado por censurar visões políticas, como fez com Donald Trump. Outros, independentes, temem qualquer imposição sobre conteúdo e defendem as ações antitruste.
No estado atual das instituições americanas, nada indica que seja possível obter consenso. E o agora Meta segue em frente, regulado ou constrangido apenas pela concorrência, de outras Big Techs. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Lívia Marra
Há cerca de dez anos, Bob decidiu que sua casa seria no cemitério da Saudade, em Taboão da Serra (SP), onde sua tutora acabara de ser enterrada. O cachorro, que depois ficou conhecido por acompanhar sepultamentos no local, morreu no dia 25 e agora também descansa ali.
Querido por todos, o pet adorava uma bolinha e levava conforto aos enlutados. Era cuidado, recebia atendimento veterinário e tinha até uma casinha com o nome que ganhou: Bob Coveiro.
De acordo com relatos de funcionários, o cachorro chegou ao cemitério para o enterro da tutora e não quis mais ir embora. Familiares até tentaram levar Bob para casa, mas ele voltou.
Em vídeo publicado pela ONG Patre, que atua na cidade, um trabalhador contou que Bob também acompanhou de perto a exumação do corpo da tutora.
Na última segunda, o cachorro seguia um dos agentes que cuidava dele quando foi atropelado por um motociclista, que não prestou socorro, de acordo com a ONG.
Seu corpinho foi colocado em caixão com flores, e as homenagens contaram também com coroas. Em uma estava escrito “saudade eterna”.
“Queremos parabenizar o funerária Campos que cuidou do corpinho com tanto carinho, agradecemos ao vereador Anderson Nóbrega e o secretário dr. Eduardo Nóbrega por intermediarem o enterro no local que ele viveu, e ao prefeito Aprígio que autorizou essa despedida de amor”, disse a ONG em despedida.
Em página dedicada a Bob em rede social, a protetora Valéria, responsável pela atualização dos posts, diz que o objetivo era que mais pessoas “conhecessem esse ser tão especial”. Afirma que Bob era um “professor” e que conseguiu ensinar que “se o ser humano respeitar e amar, um cão sem dono pode ser feliz e ser bem cuidado”. Para ela, o cachorro também ensinou “que precisamos nos preocupar com a dor do próximo, consolar mais do que ser consolado”. Fonte: https://bompracachorro.blogfolha.uol.com.br
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Maioria dos crimes violentos ocorre dentro da própria casa e pandemia agrava a tragédia
Número de vítimas de mortes violentas aumenta a cada ano no país, segundo o relatório do Unicef (Shutterstock)
A cada ano, 7 mil crianças e adolescentes são mortos de forma violenta no Brasil e ao menos 45 mil são vítimas de violência sexual. Os números foram revelados pelo Panorama da Violência Letal e Sexual Contra Crianças e Adolescentes no Brasil, lançado nesta sexta-feira (22), pelo Unicef, braço das Nações Unidas para a infância, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
O estudo diz que a violência ocorre de formas variadas, conforme a faixa etária da vítima. Crianças morrem na maior parte das vezes em decorrência de violência doméstica, cujo autor é conhecido, como um pai ou um padrasto. Um caso de grande repercussão neste ano foi a morte de Henry Borel, de 4 anos. O namorado da mãe do garoto, o ex-vereador do Rio conhecido como Dr. Jairinho, foi preso acusado do crime - ele nega.
No ano passado, 300 menores de até 9 anos de idade foram mortos de forma violenta no país. Foi praticamente um caso por dia, boa parte deles dentro da própria casa. O mesmo vale para a violência sexual, em geral também cometida dentro de casa por pessoas próximas. Já os adolescentes, que representam a maioria das vítimas, são mortos majoritariamente na rua. São vítimas, apontam os pesquisadores, da violência armada e do racismo. O estudo também destaca a alta proporção de jovens mortos durante intervenções policiais.
"A violência doméstica é um crime contra a infância. A violência urbana é um crime contra a adolescência, que atinge principalmente meninos negros", diferencia Florence Bauer, representante no Brasil da Unicef. "Embora sejam fenômenos complementares e simultâneos, é crucial entendê-los também em suas diferenças para desenhar políticas públicas efetivas de prevenção e resposta às violências", acrescenta ela.
A diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, afirma que a violência contra crianças e adolescentes é um problema grave, que precisa ser cada vez mais discutido por nossa sociedade. "São vítimas dentro de suas próprias casas enquanto são pequenas e sofrem com a violência nas ruas quando chegam à pré-adolescência", diz ela. "O poder público precisa encarar a questão com seriedade e evitar que mais vidas sejam perdidas a cada ano."
O trabalho é uma análise inédita dos boletins de ocorrência das 27 unidades da Federação registrados nos últimos cinco anos. Abrange mortes violentas intencionais (homicídio doloso, feminicídio, latrocínio, lesão corporal seguida de morte, mortes decorrentes de intervenção policial) e a violência sexual contra crianças e adolescentes.
Entre 2016 e o ano passado foram identificadas 35.626 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos de idade no Brasil. Isso corresponde a uma média de 7,1 mil mortes violentas por ano. São cerca de 20 por dia.
Dados preocupantes
A maioria das vítimas de mortes violentas neste período era de adolescentes; 31 mil casos estavam na faixa etária de 15 a 19 anos. Entretanto, no mesmo período, foram identificadas pelo menos 1.449 mortes violentas de crianças de até 9 anos de idade. O número dessas mortes vem aumentando desde 2016, chegando a 300 crianças em 2020.
Olhando apenas para a primeira infância (até 4 anos), os dados são ainda mais preocupantes. Nos 18 estados que dispunham dos dados completos para o período, as mortes violentas de crianças de até 4 anos aumentaram 89% de 2016 a 2020. Passaram de 121 casos para 229.
O aumento foi puxado pelo crescimento do número de mortes por arma de fogo nessa faixa etária, que triplicaram nesse período. Foram de 28 para 85. Nos últimos anos, o governo Jair Bolsonaro tem flexibilizado o acesso a armas de fogo para civis, sob o argumento de ampliar as oportunidades de legítima defesa aos cidadãos. Especialistas criticam a política e apontam riscos de aumento da mortalidade com mais armas em circulação.
Entre as crianças de até 9 anos mortas de forma violenta, 44% eram brancas; 33% eram meninas. Do total, 40% morreram dentro de casa; quase metade (46%) perdeu a vida por causa do uso de arma de fogo; e 28% pelo uso de armas brancas ou agressão física.
Meninos negros são maiores vítimas
Em todas as idades, as principais vítimas de mortes violentas são os meninos negros. O perfil, no entanto, se intensifica ainda mais na adolescência. Para os meninos, a faixa etária dos 10 aos 14 anos marca a transição da violência doméstica para a prevalência da violência urbana. Nesta idade, começam a predominar mortes fora de casa, por arma de fogo e por autores desconhecidos.
Quando os adolescentes chegam à faixa etária de 15 a 19 anos, essa transição no perfil da violência letal está consolidada. As mortes violentas têm alvo específico: mais de 90% das vítimas são meninos, e 80% são negros. Esses meninos, pretos e pardos, morrem fora de casa, por armas de fogo. Em uma proporção significativa, são vítimas de intervenção policial.
Em 2020, nos 24 estados em que há dados (exceções são Bahia, Distrito Federal e Goiás), um total de 787 óbitos de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos foram identificadas como "Mortes Decorrentes de Intervenção Policial". Esse número representa 15% do total das mortes violentas intencionais nessa faixa etária, e indica uma média de mais de duas mortes por dia no país.
Violência sexual
A violência sexual é um crime que acontece prioritariamente na infância e no início da adolescência. Por causa de problemas com os dados de 2016, a análise desses registros refere-se ao período entre 2017 e 2020. Nesses quatro anos, foram registrados 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável com vítimas de até 19 anos. É uma média de quase 45 mil casos por ano. Crianças de até 10 anos representam 62 mil das vítimas nesses quatro anos - ou seja, um terço do total.
A maioria das vítimas de violência sexual é menina - quase 80%. Para elas, um número muito alto de casos envolve vítimas entre 10 e 14 anos de idade, sendo 13 anos a idade mais frequente. Para os meninos, o crime se concentra na infância, especialmente entre 3 e 9 anos de idade. A maioria dos casos de violência sexual contra meninas e meninos ocorre na residência da vítima. Para os casos em que há informações sobre a autoria dos crimes, 86% dos autores eram conhecidos.
De acordo com especialistas, a pandemia representou um risco ainda maior para esse tipo de crime. Com as crianças longe da escola e em um convívio social mais restrito, diminuem as chances de que sejam notados os sinais de abuso e o crime, denunciado.
Agência Estado/Dom Total: https://domtotal.com
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As nossas orações pela alma da Sra. Margarida de Oliveira Andrade, mãe do Frei José Aparecido, O. Carm, falecida nesta sexta-feira 22, na cidade de Munhoz-MG. As nossas orações.
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Em plataformas como TikTok, a história da produção artística passa a ser irrelevante
Ronaldo Lemos
Advogado, professor das Universidades de Columbia em Nova York e Tsinghua (em Pequim). É fundador do ITS ( Instituto de Tecnologia e Sociedade) Rio. Apresenta a série Expresso Futuro no Canal Futura e é colunista da Folha
SÃO PAULO
[resumo] Autor defende que uma nova forma de cultura em emergência nas redes digitais atua com força avassaladora e trata como irrelevante a história da produção artística e seus significados, que se transformam em massa amorfa instrumentalizada para a ostentação.
Sabe todos os livros, os filmes e as músicas que você consumiu ao longo da vida e que participaram de sua formação e de sua memória? Ou ainda, os textos, poemas, quadros e até o grafite no muro da cidade que você achou marcantes? Tudo isso tem cada vez menos valor para nossa experiência coletiva.
Para uma nova forma de cultura que emerge com força avassaladora nas redes digitais, toda a história da produção artística tem praticamente o mesmo significado: nenhum. Tudo não passa de uma massa amorfa pronta que pode ser instrumentalizada independentemente de seu conteúdo, ou então simplesmente esquecida.
Parodiando perversamente Roland Barthes: reduzir toda atividade criativa ao seu “grau zero” tornou-se não um experimento acadêmico, mas uma atividade de massa.
Essa é a Grande Ruptura. Uma nova forma de representação e comunicação para a qual o cânone é irrelevante ou não tem significado textual, apenas instrumental. Os sinais da Grande Ruptura estão em toda parte. Tanto na cultura mainstream como, principalmente, nas culturas de nicho (ou melhor, de meganichos, já que milhões de pessoas participam deles).
Para os mais otimistas, essa é uma realização inesperada dos projetos mais radicais da arte moderna e das vanguardas. Mas com um twist: ter como consequência voltar-se contra si mesma.
Como consequência, ataca a própria possibilidade de produção de artefatos culturais que possam ser compartilhados intersubjetivamente, ou que possam persistir na memória para além da experiência imediata. Em outras palavras, é a serpente que começa a consumir sua própria cauda.
Dá para enxergar um fiapo da Grande Ruptura quando o Spotify, a plataforma de música mais popular do Ocidente, organiza seu repertório não só em gêneros como rock ou pop (classificações do passado reconhecidas coletivamente), mas a partir de estados emocionais (“moods”), refletindo sensações como alegria, tristeza, preocupação, concentração e assim por diante. O coletivo e a memória (representados por categorias como gênero) são substituídos pela experiência sensorial imediata de um estado de espírito.
Não por acaso, a empresa obteve em 2021 uma patente do processo de análise das emoções do usuário e do seu ambiente para recomendar o que ouvir a seguir. Os dados coletados incluem o estado emocional do usuário e a análise de sua forma de falar (se tem stress emocional ou sotaques), além de informações contextuais como o lugar onde se encontra (ônibus, casa, parque) e seu contexto social (se está sozinho, em um pequeno grupo, em uma festa etc.).
Em outras palavras, preocupa-se em determinar a experiência imediata do usuário, inclusive emocional, mais do que suas preferências e gostos acumulados culturalmente na memória, arquivados por meio das classificações de gênero, nome do artista ou da música.
No entanto, essa é só uma ponta visível de um fenômeno mais complexo e profundo. Não é o Spotify que lidera esse processo de ruptura, a empresa apenas se apropriou de alguns de seus aspectos.
O “locus solus” da ruptura está sendo forjado em outros lugares: nos games, nos canais de áudio do Discord, nos fóruns anárquicos na internet e na darkweb, em ferramentas de edição e design para crianças como o Gacha Club, em plataformas como o Roblox e, sobretudo, no TikTok.
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA GRANDE RUPTURA?
Em 2011, o crítico cultural inglês Simon Reynolds publicou o livro “Retromania: O Vício da Cultura Popular com Seu Próprio Passado”, que resumiu o estado das práticas culturais no Ocidente naquele início de década.
Sua tese era simples e poderosa: a cultura popular se transformou em pastiche. Nada de novo se criava. Ao contrário, tudo era remix ou releitura de algo que havia sido feito antes.
Na visão de Reynolds, todo o cânone cultural havia se tornado “matéria-prima” pronta para ser reapropriada, relida ou remixada de forma infinita, sem a criação de nada original.
Na tese do autor, o cânone era central, porque a partir dele tudo mais se derivaria. A primeira característica da Grande Ruptura é que o cânone não é mais central, mas irrelevante. A cultura que surge a partir dela é, essencialmente, uma arte da ferramenta, não dos conteúdos.
Assim, torna-se importante não o modo como algo é representado ou o conteúdo do que é representado, mas sim a forma e outros elementos “meta”: o exibicionismo da capacidade do que as inúmeras ferramentas de criação e manipulação de conteúdos podem fazer.
Como elas podem alterar, editar, sintetizar, distorcer e manipular conteúdos já existentes ou recém-criados. E, com isso, impactar a experiência emocional dos usuários, sua formação de memórias e a própria percepção da realidade.
Em outras palavras, todo o corpo cultural histórico é utilizado e remixado na Grande Ruptura, como Reynolds descreveu. A questão é que esse uso é essencialmente instrumental, desprovido de qualquer significado intrínseco ou contextual.
Não importa mais o que está sendo remixado, quem é seu autor, o gênero ou seu significado original. O que é importante é exibir (ou ostentar) como as ferramentas de manipulação digital atuais são capazes de produzir perturbações e alterações nos conteúdos e na apreensão que fazemos deles para produzir experiências sensoriais imediatas e automáticas, que apelam primordialmente ao inconsciente.
Nesse sentido, não interessa se o objeto digital a ser manipulado é um quadro de Chagall, com suas conexões com a história, ou uma selfie tirada acidentalmente no celular. O que importa é a manipulação em si. Chagall ou a selfie tirada acidentalmente têm o mesmo valor como significante: nenhum.
Ao mesmo tempo, ambos têm valor idêntico como combustível para o exibicionismo dos potenciais usos das ferramentas de transformação e síntese.
Outra característica da Grande Ruptura é que seu objetivo final não é transmitir informação, mas modular experiências imediatas, especialmente estados emocionais; é muito mais experiência do que conteúdo.
Para isso seus artefatos são instrumentalizados mais para produzir alegorias e mesmo manipulação emocional do que para comunicar qualquer coisa. A informação ou conteúdo textual, quando presentes, servem apenas de veículo para transportar efeitos emocionais.
No espectro das emoções humanas trabalhadas pela Grande Ruptura, existe uma que reina sobre todas as outras: a ansiedade. A Grande Ruptura é, em grande medida, ainda que não totalmente, a cultura da ansiedade.
É assim que a simbiose entre a Grande Ruptura e o TikTok se materializa. O TikTok é hoje a plataforma de mídia que mais cresce no planeta, sendo o único aplicativo não ligado ao Facebook a conseguir a façanha de ser utilizado por 3 bilhões de usuários, e com sinais de crescimento. Não por coincidência, foi o aplicativo mais baixado desde o início da pandemia, tendência que continua em 2021.
O TikTok é construído em torno de uma inteligência artificial capaz de entender rapidamente, e com poucos elementos de informação contextuais, as preferências dos seus usuários.
Antes mesmo de alguém dar um like em um conteúdo, a empresa já tem informações para determinar seu grupo social e preferências, derivados da marca do celular, do perfil de uso da bateria e até da forma como o dono do aparelho toca na tela, digita e o segura.
Um dos problemas da “era dos dados” em que vivemos é justamente que sua coleta vai muito além do modelo de escolha racional. Não somos nós que racionalmente escolhemos os conteúdos que aparecerão nas nossas redes sociais. Esses conteúdos são escolhidos e ordenados por algoritmos.
Que por sua vez levam em consideração tanto nossas escolhas conscientes (em quais posts ou perfis você deu um like), como também inconscientes.
Por exemplo, mesmo que o usuário não tenha dado nenhum like, é possível determinar que tipo de foto ou imagem realmente o impacta, prendendo sua atenção ou gerando uma reação emocional.
Tudo isso por meio de reações fisiológicas que independem de qualquer escolha, como o tempo em que um usuário olha para uma foto, sua expressão facial, o jeito que seus dedos se deslocam pela tela, o movimento dos seus olhos em direção à imagem e assim por diante.
Esse tipo de análise é capaz de revelar preferências e vários tipos de vieses que os próprios usuários das redes sociais não teriam coragem de confirmar publicamente —ou até mesmo que possivelmente desconhecem sobre si mesmos do ponto de vista consciente.
Dados e algoritmos são capazes de captar essas preferências sem a necessidade de qualquer escolha, analisando apenas contextos, reações e padrões de uso. O celular converte-se, assim, no objeto técnico mais íntimo que já existiu. Capaz de acessar não só as preferências racionais dos usuários, mas também o seu inconsciente.
Ou ainda, o contexto e o ambiente no qual o usuário habita, sua rotina diária, com quem se encontra, o mapa das suas amizades, flutuações emocionais, estado de saúde física e mental, contatos e assim por diante.
Poucas são as plataformas que fazem isso melhor que o TikTok. Na concorrência com o Facebook, o TikTok desenvolveu como ninguém a capacidade de analisar preferências inconscientes. E nem adianta tentar enganar a plataforma, clicando ou se engajando com vídeos “sérios” ou “respeitáveis”, que poderiam refletir melhor a imagem que gostaríamos de racionalmente projetar de nós mesmos.
A plataforma saberá que as preferências íntimas do usuário são outras —e continuará a oferecer conteúdos de acordo com elas, de forma irresistível.
É nesse contexto que a Grande Ruptura floresce. Muitos produtores de conteúdo do TikTok já perceberam, de propósito ou acidentalmente, que o que mais produz “engajamento” são as preferências inconscientes.
Com isso, adaptaram progressivamente seus conteúdos com essa finalidade. Passaram a produzir artefatos que provocam ou retratam experiências emocionais, verdadeiras galerias de estados emocionais inconscientes, alimentando de forma direta com as preferências inconscientes dos usuários.
Um exemplo, ainda que imperfeito, é um dos maiores hits do ano passado do TikTok: o vídeo em que um homem chamado Nathan Apodaca anda de skate. Enquanto isso, filma a si mesmo bebendo suco de framboesa e cranberry, com a trilha sonora da música “Dreams”, da banda Fleetwood Mac. Importa no vídeo de 23 segundos muito mais o estado emocional que ele projeta, de relaxamento ou tranquilidade, e muito menos quem é aquela pessoa, onde ela está, ou que música é essa.
O exemplo é imperfeito porque a Grande Ruptura é composta de conteúdos muito mais abstratos e radicais do que a imagem de um homem andando de skate. Essa é outra característica da Grande Ruptura: sua abstração e sua radicalidade.
O conteúdo mais típico do fenômeno é composto de imagens digitais reprocessadas de games, de vídeos, de outras contas do TikTok, editadas, distorcidas, filtradas, “croppadas” e moduladas para produzir experiências emocionais inconscientes, difíceis de serem descritas em palavras ou mesmo apreendidas racionalmente.
As emoções que esses conteúdos tocam derivam, na maioria dos casos, do sentimento de ansiedade e variações (medo, pânico, apreensão, stress, tensão, horror) ou contraposições (relaxamento, distração, meditação, cura, dissipação, luta permanente contra ataques de pânico).
São dois lados da mesma moeda que estão presentes na Grande Ruptura: o veneno e o remédio. De um lado há conteúdos abstratos e radicais, altamente manipulados e que se valem de qualquer coisa (imagens originalmente digitais, personagens de games, partes recortadas de outras imagens digitais, trechos de músicas reprocessados e distorcidos), com função de provocar novas experiências de tensão e ansiedade, bem como outras formas de perturbação emocional.
De outro lado ocorre o oposto. Toda uma sorte de conteúdos ansiolíticos, tais como milhões de vídeos de relaxamento, uso de fidget toys (brinquedos que provocam estímulo sensorial por meio de toques, cores e sons), hipnose, manipulação de slime e outras modalidades de experiências sensoriais mais radicais do que qualquer “baba antropofágica”. Tudo capaz de deixar Lygia Clark ao mesmo tempo espantada e preocupada.
Mesmo quando os conteúdos não são originados da manipulação de objetos digitais, mas sim captados a partir de pessoas e situações reais, a abstração e radicalidade continuam presentes.
Por exemplo, um dos principais fenômenos do TikTok são os vídeos com coreografias faciais. Pessoas que ligam a câmera para si mesmas e movimentam os olhos e a face de modo a produzir sensações em quem assiste, ao som de música ou ruídos. Não há texto, não há mensagem, não há conteúdo.
Apenas a face humana, muitas vezes manipulada por meio de ferramentas para ampliar seu impacto sensorial, buscando transmitir empatia digital e emoções difíceis de descrever, tudo disseminado por meio de algoritmos de inteligência artificial.
Aliás, é bom lembrar que um dos principais cronistas do TikTok atualmente é Kieran Press-Reynolds, jornalista de 21 anos e filho do escritor Simon Reynolds. Kieran é autor de um excelente artigo sobre as coreografias faciais no TikTok.
O núcleo típico da Grande Ruptura, contudo, não depende sequer de conteúdos captados na “realidade”. Consiste apenas no reprocessamento de imagens originariamente digitais, captadas em games como o Roblox, ou ainda, usando ferramentas infantis para construção de personagens ou “skins”, como o Gacha Life.
Cada um desses programas funciona como uma “caixa de areia” onde é possível criar e apagar qualquer coisa. A Grande Ruptura usa o conteúdo construído por esses “sandboxes”, que são posteriormente reprocessados, editados, “croppados”, com camadas sucessivas de aplicação de novas ferramentas, produzindo distanciamento cada vez maior da realidade.
O resultado desses vídeos é radical. O que Jean-Luc Godard ensaiou fazer no seu filme “Adeus à Linguagem” (2014) é hoje feito de forma muito mais eficaz por crianças de 5 a 12 anos no TikTok.
Digo eficaz porque “Adeus à Linguagem” é um filme 72 minutos que funciona como ensaio linguístico, mas falha miseravelmente como veículo emocional. Diga-se o que quiser do brilhantismo do filme, mas ele é essencialmente chato, apelando primordialmente para nosso lado racional e muito pouco para o lado emocional.
No TikTok, o filme não teria chance de viralizar (aliás, esse seria um bom experimento: fazer upload do filme recortado em trechos para ver como o algoritmo da plataforma e o público irão reagir, quanto “engajamento” acontecerá).
Apesar de “Adeus à Linguagem”, em sua radicalidade, ter elementos em comum com alguns dos vídeos que caracterizam a Grande Ruptura, o filme de Godard falha como veículo de perturbação emocional. E nisso os usuários que produzem conteúdos no TikTok —treinados e impulsionados por meio de tentativa e erro, tendo por base o algoritmo capaz de medir reações inconscientes— são bem-sucedidos.
Vídeos ultrarradicais na forma (nos cortes, na manipulação da imagem e do som, na justaposição, no remix, na estranheza de modo geral) são igualmente eficazes em despertar engajamento e experiências emocionais, inclusive viciantes. Mesmo no curto tempo que duram, de 1 a 60 segundos, transmitem sua cota de ansiedade ou outra perturbação emocional.
É claro que quem domina a Grande Ruptura e as ferramentas necessárias para sua concretização ganha “engajamento”. E o “engajamento” produz celebridades, poder e dinheiro. Inclusive para o próprio TikTok.
Por exemplo, não são poucos os ícones da plataforma, com centenas de milhares de seguidores, que não falam sequer uma palavra. Aparecem apenas por segundos nos vídeos realizando alguma expressão facial. Seu apelo é direcionado para o inconsciente, não para a racionalidade.
Perturbação emocional, aliás, é o que fica desses conteúdos. O que foi mostrado, quais foram as imagens, personagens, gênero ou mesmo o autor dos conteúdos não importa. A principal memória que se forma, por design, é o estado emocional que o vídeo buscou transmitir.
Essa é outra característica da Grande Ruptura: a total ausência de autoria ou de “catalografia”, créditos, arquivos ou qualquer coisa parecida. Outro sonho concretizado da ala mais radical da modernidade, na forma de anjo troncho.
É irrelevante saber quais são os autores da grande maioria desses conteúdos. São criações anônimas que se utilizam de bilhões de referências a outras obras, também não creditadas e também igualmente irrelevantes textualmente. Só o estado emocional transportado por elas importa.
Ou ainda, só a ferramenta é importante. Nesse sentido, os dois elementos centrais da Grande Ruptura são a modulação emocional (com a predominância da ansiedade) e a arte da ferramenta. Junte-se a eles os algoritmos e a inteligência artificial capazes de ler as preferências inconscientes de bilhões de pessoas.
E o smartphone, esse objeto técnico que funciona como ferramenta de psicometria individualizada e também como portal para consumo do resultado de todos esses processos.
O que mais importa nos vídeos da Grande Ruptura é justamente exibir as infinitas “graças” que essa manipulação pode gerar, tornando premonitório o título do livro de David Foster Wallace, “Infinite Jest” (a piada infinita, em português).
Entramos em um momento em que vão ganhando preponderância artefatos culturais que possuem a estrutura de uma piada: ambicionam entregar uma reação emocional inevitável. Com a diferença de que o texto dessa piada infinita é irrelevante, e em vez de riso ela entrega ansiedade, suas variações e oposições.
Tudo se resume a um jogo duplo de dopamina. Por um lado, a ferramenta e suas infinitas capacidades de edição e manipulação digital. Do outro, os artefatos resultantes, consumidos por meio de objetos técnicos íntimos que nos compreendem mais do que nós mesmos.
Todos esses elementos em simbiose uns com os outros, observados e impulsionados por algoritmos de delicada graça, como no poema de Richard Brautigan. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Ele também teria tentado matar a outra filha que conseguiu fugir do local e acionar a polícia; homem se matou em seguida.
Por g1 Sul de Minas — Pouso Alegre, MG
Um homem de 47 anos matou a esposa e uma das filhas a facadas em Pouso Alegre (MG) na noite desta sexta-feira (15). Segundo a Polícia Militar, Evandro Donizete Soares também tentou assassinar uma outra filha, que conseguiu fugir. Ela saiu da casa, trancou o portão por fora e acionou a polícia.
"Uma das filhas narrou que estava chegando em casa na companhia de duas pessoas e se deparou com o pai, próximo ao corredor, com uma faca na mão, ensanguentado e muito descontrolado. Ele teria ido em direção a ela, e nesse momento ela trancou o portão e acionou a polícia", disse o tenente da Polícia Militar, Lucas Lopes Martins.
Ainda segundo a PM, a ocorrência foi no bairro Jardim Aeroporto. Quando a equipe chegou ao local, Suzan Flávia Moraes Neves Santos de 44 anos e a filha de 18, Gabriely Aparecida Neves Soares, foram encontradas já sem vida no banheiro. O corpo de Evando Donizete Soares estava pendurado com uma corda no pescoço no fundo da casa.
Segundo a polícia, os vizinhos disseram que não era comum ouvir brigas no local.
"Conversando com alguns populares ali, todos estranharam essa situação, não era corriqueira essa situação de briga lá, aparentemente, uma vizinha disse que no horário aproximado do fato ouviu um pedido de socorro, mas não conseguiu determinar de onde vinha, de quem era, e por não se repetir esse pedido, ela acabou não chamando a polícia, mas a informação era de que não era constante essa situação", disse o tenente.
A filha que conseguiu se salvar também disse que o pai estaria abalado pela perda dos pais e que tinha ciúme excessivo da esposa.
"A solicitante, que é uma das filhas, disse que ele fazia uso de bebida alcoólica e que recentemente ele estaria psicologicamente abalado devido à perda dos pais. Parece que foi em um intervalo curto a perda do pai e da mãe e isso o abalou. Ele também estaria com ciúme excessivo da esposa, informações prestadas pela filha", disse o tenente.
Os corpos das vítimas foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) de Pouso Alegre (MG). Já o corpo do homem será levado para Maria da Fé (MG), sua cidade natal. Fonte: https://g1.globo.com
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POR LUCIANAKOTAKA
A grande maioria das vezes nós estabelecemos expectativas irreais em relação às pessoas com as quais convivemos
Desde muito cedo vamos sendo expostos às expectativas de outras pessoas, nossos pais quando receberam o teste positivo de gravidez já começaram a imaginar como seríamos, começando pelo sexo, cor de cabelos, olhos e comportamento. Depois já grandinhos vamos sendo moldados pelas vontades deles, pois como pais temos vários valores que achamos importantes, que aprendemos com a nossa família e no decorrer da nossa vida.
Quando ainda éramos crianças, fomos nos moldando de acordo com o que era esperado de nós, e nesse momento fomos aprendendo a esperar alguns comportamentos de quem vivia ao nosso redor, sejam dos familiares, dos colegas de escola, professores, etc. Ora, se os outros querem que façamos algumas coisas, nós também queremos que os outros façam por nós, concordam? E é nesse processo que aprendemos a criar expectativas a respeito das pessoas dos quais convivemos.
Talvez as expectativas tenham algo bom a acrescentar, mas eu penso que na grande maioria das vezes só nos frustramos, afinal projetamos no outro algo que vem da nossa mente, de nossos desejos, e na maioria das vezes isso provém de necessidades internas que temos. Um exemplo disso se dá na área dos relacionamentos, não importa se é em uma relação de amizade, amorosa ou profissional, estamos o tempo todo esperando algo do outro.
Ao estabelecermos um relacionamento com alguém começamos a projetar muitas de nossas necessidades, como, por exemplo, a nossa carência por afeto. O outro também passa pelo mesmo processo, também irá projetar aquilo que está em falta nele em nós, ou seja, normalmente as suas carências que não necessariamente são as mesmas que as nossas. Agora tudo se complica, pois são duas pessoas com bagagens diferentes que começam a se relacionar.
O conflito começa a se estabelecer justamente quando não percebemos que esse movimento nos remete à carência de afeto que carregamos de nossos pais, e que passamos a buscar em todo tipo de relação com as pessoas das quais interagimos. Um aspecto importante a ser destacado é que na maioria das vezes o outro não está disponível a ocupar esse lugar, e na maioria das vezes não temos uma percepção clara de que essas necessidades precisam ser curadas em nós. É preciso se dispor a olhar para as dores que carregamos, acolher a nossa criança interna e entender com o coração, e não com a cabeça, de que agora é cada um por si mesmo. O outro não tem dever algum de responder as nossas expectativas, cada um tem suas próprias necessidades e também tem questões a serem curadas e resolvidas.
Quando entramos nesse círculo vicioso de esperar que as pessoas ao nosso redor entendam nossas dores, respondam as nossas demandas, estabelecemos relacionamentos tóxicos, pois para dar certo um teria que se submeter ao desejo do outro, e assim anulando a si mesmo. Como ser feliz em uma situação do qual aniquilamos a outra parte? Têm muitas pessoas que vivem essa situação, algumas conseguem se desvencilhar em algum momento, outras se submetem a viver apagadas, abrindo mão dos próprios desejos para responder a algo que não lhe traz alegria.
A questão aqui é o quanto está consciente dessa dinâmica, de como se relaciona com outras pessoas, o que projeta e espera delas. A partir desse olhar mais apurado a respeito de como você funciona é possível conter as expectativas irreais e trabalhar em si mesmo os aspectos que estão em aberto para serem compreendidos e curados, pois a partir desse momento você abrirá as portas para estabelecer relacionamentos mais saudáveis e, possivelmente, mais duradouros. Fonte: https://emais.estadao.com.br
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Sempre nos julgamos senhores do mundo, quando somos apenas mais um hóspede dele
O livro era tão pequenininho que nem parecia um livro. Mas quando meu amigo anunciou um presente para mim, me facilitou a identificação do objeto em sua mão: “Trouxe um livro de presente para você.” Enquanto eu lia o que ia na capa bem editada da Auster, ele me explicava: “É um equívoco o que dizem dos cineastas brasileiros, que resistimos ao rodo que os governos querem sempre passar no cinema nacional, em nome dos mesmos ideais esquerdistas com que fazemos os filmes.” Ele apontou para o livrinho que eu abria naquele momento: “O que nós somos está aí: somos estoicos, como Sêneca!”
Em minhas mãos, a bela capa de Zé Luiz Gozzo me dizia o que eram os textos que ela protegia: “Sêneca, cartas selecionadas”, com tradução do latim, seleção e notas de Aldo Dinucci. Meu amigo retomou o livrinho de minha mão, foi a uma página pré-sinalizada e leu com voz de comício no interior: “O estoicismo é um humanismo e a condição prévia para podermos saboreá-lo é sermos humanistas.”
Ele anunciou ter coisa ainda melhor para ler no livrinho. E leu: “Isso é o que há de mais belo e excelso no estoicismo: a visão do humano integrado na natureza, junto com a visão orgânica do cosmos como um grande ser vivo e a compreensão da fraternidade entre todos os humanos, filhos e filhas do cosmos.”
Me surpreendi. A revelação, vista de um jeito mais radical, era a de uma reinvenção do homem contemporâneo. Sempre nos julgamos senhores do mundo, quando, na verdade, somos apenas mais um hóspede dele, como o resto da natureza. Não entendendo nosso lugar no planeta, nos comportamos como se a natureza tivesse apenas que nos servir, estivesse à nossa disposição. Um dia, ela ia começar a protestar, como está protestando com fenômenos climáticos que não sabemos como conter, reações à nossa ferocidade em relação ao meio ambiente.
Percebi que não era bem essa a reação que meu amigo esperava de mim. Ele queria ver meus olhos cuspindo fogo, diante dos absurdos recentes em relação à nossa pobre e ferida atividade.
Como artistas, sempre tivemos dificuldades para explicar aos políticos quem somos e o que queremos. Eles declaram o que seus eleitores querem ouvir; nós, ao contrário, somos mais necessários, temos mais qualidade quando inventamos ideias novas que não estavam na cabeça de ninguém. Por isso, sempre tivemos problemas com os governantes. Mas acabávamos por nos entender, cedendo um pouquinho aqui, forçando a barra um pouquinho ali.
Agora estamos diante de um governo que odeia a cultura porque é ela que, de algum jeito, revela o que eles são e o que pretendem fazer do país. Somos seus principais inimigos, sem possibilidade de conciliação. Somos contra tudo que essa cambada tem feito e ainda quer fazer do Brasil.
Defendi com entusiasmo essas ideias, que eram as mesmas de meu amigo e parceiro, agora com os olhos marejados. Ele me tomou novamente o livrinho da mão, abriu uma página já marcada e leu comovido: “Os estoicos romanos acabaram por formar a ‘oposição estoica’, movimento republicano que se opunha sistematicamente aos tirânicos imperadores romanos”. O próprio Sêneca foi preceptor de Nero e acabou sendo condenado pelo imperador à “morte por livre escolha”. Sêneca cortou os pulsos.
Segundo o livrinho, “o estoicismo nos ajuda a desenvolver a coragem para encarar a realidade, é uma ferramenta para nos ajudar a acessar a realidade”. Meu amigo querido folheou mais umas poucas páginas e leu, com a voz embargada, como se faz ao final de um romance que se aprova: “Se contentus est sapiens. Ou: o sábio se basta. Isso significa, meu caro Lucílio, que o sábio se basta para viver de modo feliz, não para viver.” Fonte: https://oglobo.globo.com
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Contra a fome, grupo recorre a veículo com restos de carne
RIO DE JANEIRO
A desempregada Sheila Fernandes, 41, caminhou por uma hora e meia, na manhã desta quinta-feira (30), entre a região central e a zona sul do Rio de Janeiro. Por lá, sua missão era encontrar o caminhão que ficou conhecido por distribuir ossos e restos de carne recolhidos em supermercados da capital fluminense.
“Tudo está muito caro. Venho até aqui porque não tenho mais como comprar carne”, conta Sheila, acompanhada por sua filha.
O caminhão, para surpresa da desempregada, não apareceu durante a manhã. “É a nossa única maneira de comer carne no mês”, relata.
A distribuição de ossos e sobras na zona sul do Rio, em área entre os bairros Glória e Catete, ganhou repercussão nesta semana após reportagem do jornal Extra.
Com a crise econômica, que elevou desemprego e inflação, o caminhão virou a alternativa para quem tem fome e não tem dinheiro suficiente para comprar alimentos. A situação provocou repercussão nas redes sociais e no meio político.
A Folha tentou contato com os responsáveis pelo veículo, mas não obteve retorno.
"Cozinho na panela de pressão, e tempero com alho e cebola. A carne vai soltando do osso", diz Sheila. As refeições costumam ter ainda arroz e feijão e alimentam a desempregada e as outras oito pessoas de sua família, que vive em uma ocupação.
Sheila está sem emprego há cerca de dois anos. Sua última vaga foi em uma lavanderia. Mas, devido à crise, ela ressalta que aceitaria trabalhar em áreas diversas.
Enquanto não encontra emprego, os recursos do Bolsa Família ajudam a manter despesas básicas. “Estou buscando trabalho, correndo atrás, mas está muito difícil.”
O morador de rua Marcelo de Souza Lima, 48, também faz parte do grupo que busca ossos e sobras de carne para alimentação. Lima relata que começou a ir até o ponto de distribuição entre um ano e meio a dois anos atrás.
Segundo ele, era comum pessoas buscarem os ossos para dá-los a cachorros. Com a pandemia e o aumento da fome, as sobras passaram a ser mais usadas para alimentação das próprias pessoas, diz.
“O cachorro agora tem duas patas”, afirma o morador, que vende água de coco na praia. “Aquilo que a sociedade não quer, a gente aproveita”, acrescenta.
As sobras de carne também viraram alternativa para Joel Souza Costa, 54, nas últimas semanas. O morador de rua, que diz fazer bicos como pedreiro, lamenta a crise gerada pela Covid-19.
“Com uma pandemia dessa, a gente não está podendo jogar nada fora. Não seria digno jogar [as sobras de carne] fora”, afirma.
No estado do Rio, 32,2% da população vivia com algum nível de insegurança alimentar em 2018, antes da crise sanitária, conforme o centro de estudos FGV Social. O quadro era o mais delicado entre os estados do Sudeste e do Sul.
Com a pandemia, trabalhadores perderam renda, o que complicou a situação, ressalta o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social. Segundo ele, a melhora do setor de serviços, que tem grande peso na economia local, pode até ajudar nos próximos meses, embora o cenário seja “bem preocupante”.
Questionada sobre as ações para enfrentar a fome na pandemia, a Prefeitura do Rio afirmou que já repassou R$ 93 milhões por meio do Auxílio Carioca, atingindo cerca de 670 mil pessoas. O programa, anunciado em março de 2021, busca minimizar os efeitos da Covid-19 e contempla famílias em estado de vulnerabilidade social.
A prefeitura relata ainda que, entre outras ações, visita áreas pobres da cidade e oferece atendimentos técnicos, incluindo orientações trabalhistas e inscrições em cursos de qualificação profissional.
Segundo a prefeitura, que cita dados do Cadastro Único, o Rio tinha quase 310,5 mil famílias em situação de extrema pobreza (renda per capita de até R$ 89) e outras 58,5 mil em situação de pobreza (de R$ 89,01 a R$ 178) até agosto de 2021.
O desespero em busca de comida não é uma exclusividade carioca. Durante a crise sanitária, cidades como Cuiabá (MT) também registraram filas em busca de doações de restos de ossos de boi. Os resquícios de carne acabam virando prato principal na casa de quem sofre com dificuldades financeiras.
Como mostrou reportagem da Folha em julho, nem o feijão com arroz escapou da alta da inflação e do desemprego na pandemia. A aceleração de preços e a renda em queda mudaram o cardápio dos brasileiros mais pobres, que se viram obrigados a optar por produtos mais baratos.
Moradores da periferia passaram a recorrer até a pé de frango contra a escassez de comida.
Em 2020, a fome atingiu 19 milhões de brasileiros, conforme dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, conduzido pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). O levantamento foi divulgado em abril.
Em conjunto, desemprego e inflação reduzem o poder de compra da população, sobretudo entre os mais humildes.
Dados compilados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) ajudam a entender o cenário. Para as famílias com renda mais baixa, a inflação acumulada em 12 meses até agosto alcançou 10,63%, a maior marca entre as seis faixas de rendimento pesquisadas.
A taxa de desemprego no Brasil recuou para 13,7% no trimestre encerrado em julho, informou nesta quinta-feira (30) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar da melhora, o país ainda tem 14,1 milhões de pessoas em busca de algum tipo de trabalho.
No mundo, cerca de 118 milhões de pessoas começaram a passar fome em 2020, indicou relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) publicado em julho. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Lívia Marra
Uma das zoonoses que causa preocupação mundial, a raiva depende da vacinação de animais para ser mantida sob controle e, assim, assegurar também a saúde dos humanos.
“Apesar de ser bastante conhecida, a raiva continua fazendo vítimas e ainda é uma ameaça em 150 países, sendo 59 mil mortes por ano em pessoas que acontecem em todo o mundo”, diz Daniela Baccarin, médica-veterinária e gerente de produto pet da MSD Saúde Animal.
Os principais transmissores são morcegos, gambás e macacos, que contaminam cães, gatos e homens. Animais domésticos podem ser infectados, por exemplo, ao caçar um morcego ou brigar na rua com um bichinho doente. A transmissão ao homem ocorre por meio de mordidas, arranhões ou lambedura.
Os registros são mais comuns em áreas rurais, o que não isenta o tutor em regiões urbanas de manter atualizada a carteirinha de vacinação do bichinho. A imunização contra a raiva é obrigatória —o pet pode ser exposto ao risco durante um passeio e o comprovante da vacina pode ser exigido em viagens e hotéis.
Para conscientizar sobre a importância da prevenção, o Dia Mundial Contra a Raiva é lembrado em 28 de setembro.
TRANSMISSÃO E SINTOMAS
A principal forma de contaminação é o contato com a saliva de um animal infectado, por meio de mordidas, arranhaduras e lambeduras. O vírus afeta o sistema nervoso central, causando inflamação no encéfalo, encefalite e outros danos neurológicos fatais.
O período de incubação varia de alguns dias a vários meses. Os sintomas dependem de acordo com o estágio progressivo da doença.
Além de salivação excessiva, pets também podem apresentar febre, náuseas, irritabilidade, paralisia e convulsão.
“Qualquer sinal diferente que o cachorro apresente é importante encaminhá-lo ao veterinário, que poderá realizar o diagnóstico correto, com exame como testes laboratoriais ou saliva, bem como indicar os cuidados adequados”, afirma a veterinária.
Após o surgimento dos sintomas, não há cura para os animais. Em humanos, a letalidade é próxima a 100%. No Brasil, apenas dois pacientes sobreviveram.
A pessoa que for mordida ou arranhada por animal que não seja conhecido ou não esteja vacinado deve procurar atendimento médico.
Nos humanos, a doença pode provocar febre, tontura, dor de cabeça, mal estar, formigamento, pontadas ou sensação de queimação no local da mordida. Com o avanço, acometerá o sistema nervoso central, provocando dificuldade para deglutir, paralisia, convulsão, evoluindo para coma e morte.
Em caso de morcegos encontrados em residências, a orientação é jogar um balde ou toalha sobre ele e acionar órgãos competentes para a remoção.
PREVENÇÃO
A doença é considerada controlada no Brasil. Mas a prevenção, por meio da vacina em cães e gatos, é a única forma de evitar a raiva.
“Os tutores precisam ficar atentos ao período de vacinação do animal. Algumas cidades possuem campanha de vacinação, mas se não houver campanha na cidade do tutor, é só procurar uma clínica veterinária. O importante é fazer a principal lição de casa, vacinar”, diz Daniela.
Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), ao menos 70% dos cães devem ser vacinados em massa todos os anos para eliminar a transmissão da raiva.
Devem ser imunizados cães e gatos a partir dos três meses de vida, exceto doentes. A veterinária afirma que o especialista deve definir a aplicação do imunizante de acordo com o perfil do cão ou gato, que pode variar por diferentes fatores, como a região em que o animal mora. Fonte: https://bompracachorro.blogfolha.uol.com.br
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Anúncio foi feito após o jornalista dizer que tratamento precoce 'salvou vidas'
A CNN Brasil anunciou nesta sexta-feira (24) que decidiu rescindir o contrato de Alexandre Garcia, 80, que era comentarista do quadro Liberdade de Opinião, do programa Novo Dia. Em comunicado, o canal informa que pesou o fato de o jornalista ter defendido no ar tratamentos sem eficácia comprovada contra a Covid.
"A decisão foi tomada após o comentarista reiterar a defesa do tratamento precoce contra a Covid-19 com o uso de medicamentos sem eficácia comprovada", diz comunicado. A emissora diz que o quadro dele continuará no ar, mas não diz quem será seu substituto.
O texto distribuído pela assessoria de imprensa do canal também diz que a CNN Brasil "reforça seu compromisso com os fatos e a pluralidade de opiniões, pilares da democracia e do bom jornalismo". O jornalista ainda não se pronunciou.
No programa da manhã desta sexta-feira, Alexandre Garcia afirmou que "remédios sem eficácia comprovada salvaram milhares de vidas". O comentário foi feito enquanto ele falava das denúncias contra a operadora de saúde Prevent Senior, alvo de investigações no MP, na Polícia Civil e na CPI da Covid.
A empresa supostamente pressionou seus médicos conveniados a tratar pacientes com substâncias do "kit covid", como a cloroquina.
"Essa questão de eficácia comprovada a gente só vai saber daqui uns três anos", argumentou Garcia. "Agora tudo é tudo é experimental."
Ao final do quadro, a apresentadora Elisa Veeck desmentiu Garcia. "A CNN ressalta que não existe um tratamento precoce comprovado cientificamente para prevenir a Covid-19", disse. "O que a ciência mostra é que a prevenção, com o uso de máscaras e a vacinação, são as únicas maneiras de combater a pandemia."
Ela também reforçou que as opiniões dos comentaristas não refletiam a posição da emissora. Fonte: https://f5.folha.uol.com.br
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"O objetivo da pedagogia freireana é fazer com que cada uma e cada um aprendam a dizer a própria palavra" (DW)
Para especialistas, é da natureza da pedagogia freireana incomodar, justamente porque ela propõe ensino libertador e baseado na formação crítica do aluno
Em dezembro de 2003, o então ministro da Educação Cristovam Buarque inaugurou, na frente da sede do Ministério, em Brasília, um monumento em homenagem ao educador Paulo Freire (1921-1997). O pedagogo era então aclamado como uma personalidade importante da história intelectual do país - nove anos mais tarde, uma lei federal o reconheceria como patrono da educação brasileira.
Em 2019, Abraham Weintraub comandava o mesmo Ministério no primeiro ano da gestão do presidente Jair Bolsonaro. Diante dos maus resultados obtidos pelo país no ranking Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), ele chamou o monumento a Freire de "lápide da educação" e afirmou que o pedagogo "representa esse fracasso total e absoluto".
O próprio Bolsonaro já criticou Paulo Freire, e em mais de uma oportunidade. Numa das ocasiões, referiu-se a ele como "energúmeno". É um discurso recorrente: nos últimos anos, a extrema direita brasileira tem usado Paulo Freire, cujo centenário de nascimento é celebrado neste 19 de setembro, como bode expiatório para a baixa qualidade do sistema educacional brasileiro.
De acordo com especialistas ouvidos pela DW Brasil, o que incomoda reacionários e também alguns conservadores é o fato de a pedagogia freireana ser essencialmente política. "A essência da obra de Freire é totalmente política, no sentido nobre do termo, não no sentido da política partidária", diz o sociólogo Abdeljalil Akkari, da Universidade de Genebra, na Suíça. "Por isso em todas as regiões do mundo, sua obra é lembrada como algo muito interessante para refletir sobre o futuro da educação contemporânea".
"O objetivo da pedagogia freireana é fazer com que cada uma e cada um aprendam a dizer a própria palavra, ou seja, tenham a capacidade de ler o mundo e se expressar diante do mundo. É a pedagogia da autonomia, da esperança: libertadora no sentido de as pessoas terem as capacidades de se libertarem das opressões que buscam calá-las", diz o educador Daniel Cara, professor da Universidade de São Paulo e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Professor do curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ítalo Francisco Curcio acredita que parte dessa controvérsia seja por desconhecimento do que é, enfim, o método Paulo Freire. "A maior parte dos que dizem rejeitá-lo nem é especialista em educação, acaba repetindo frases apregoadas por líderes com os quais se identifica", comenta. "Isso é muito ruim. Quem padece é a própria população, desde a criança até o adulto".
Diálogo em vez de lógica bancária
Paulo Freire desenvolveu sua pedagogia no início dos anos 1960. Em 1963 ele trabalhou na alfabetização de adultos no Rio Grande do Norte - e conseguiu resultados muito eficientes com sua abordagem. Em linhas gerais, ele defendia que a educação não poderia obedecer a uma "lógica bancária", em que o conhecimento era simplesmente depositado na cabeça dos alunos. Clamava por um ensino baseado no diálogo, em que professor e estudante constroem o conhecimento em conjunto.
Por princípio, é uma pedagogia inclusiva. E saberes específicos, de acordo com contextos particulares, são valorizados. "Ele ressaltou no meio educacional, especialmente na formação de professores e gestores escolares, que é imprescindível considerar os conhecimentos e saberes que o educando já possui, ao ser recebido como aluno. É célebre sua frase: 'Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo'", diz Curcio.
"Seu método não fala em ideologias, mas em formas de ensinar e aprender. Não é um instrumento proselitista", acrescenta. "Quem faz proselitismo é a pessoa, por meio de seus atos e discursos, e não o método. Eu posso utilizar uma faca tanto para cortar o pão ou a carne e me alimentar, quanto para matar alguém".
O educador Cara argumenta que Freire não é bem aceito pela extrema direita justamente porque sua filosofia não admite a doutrinação. "O sectarismo do autoritarismo impede o reconhecimento de uma pedagogia verdadeiramente libertadora", afirma. "Então, Freire se tornou inimigo dos ideólogos de direita porque busca uma pedagogia libertadora, enquanto o modelo tradicional é uma pedagogia opressora".
"Quando a extrema direita chegou ao poder no Brasil, precisava agir no campo da educação. E a figura de Freire se mostrou fácil de ser atacada, porque era algo comum nas comunidades educacionais do Brasil", diz Akkari.
Para o professor, conservadores tendem a acreditar que os problemas educacionais podem ser corrigidos com base em aspectos instrumentais, ou seja, mais tecnologia, equipamentos e carga horária, e não com uma mudança de abordagem. Além disso, existe um tabu sobre politização e formação crítica - ele lembra o movimento Escola Sem Partido, criado nos anos 2000 e que ganhou notoriedade no país após 2015.
Paulo Freire é o oposto de tudo isso: sua obra é baseada na formação crítica do aluno. "Ele é o pedagogo da politização da educação", define Akkari.
Mazelas do ensino
Outro mito que os especialistas combatem é o de atribuir à Paulo Freire a culpa pelos problemas educacionais brasileiros. O principal argumento contrário, ressaltam eles, é que a pedagogia dele nunca foi implementada de modo amplo e irrestrito no Brasil. E há ainda o aspecto oposto: o método freireano é muito disseminado em países que costumam se destacar em avaliações educacionais, como a Finlândia.
"Não faz o menor sentido culpar o Paulo Freire pelas mazelas educacionais brasileiras. Ele não é responsável pelo subfinanciamento da educação, pelos péssimos salários dos professores, pelo fato de que o Brasil só passou a colocar a educação como questão nacional a partir dos anos 1930. E, na prática, mesmo em governos alinhados à esquerda não se fez uma pedagogia freireana no país", diz Cara. "Até porque é uma pedagogia que demanda investimentos sólidos em formação e um replanejamento de todo o sistema de ensino".
Akkari observa que essa negação de Paulo Freire por um viés ideológico só ocorre no Brasil. "Se você observar o resto do mundo, a obra dele é consensual", diz.
Isso fica claro no amplo reconhecimento que Paulo Freire recebeu. Em vida, foi homenageado por pelo menos 35 universidades de todo o mundo - entre as quais as de Massachusetts e a de Illinois, nos Estados Unidos; a de Genebra, na Suíça; a de Estocolmo, na Suécia; a de Bolonha, na Itália; e a de Lisboa, em Portugal. O brasileiro também foi reverenciado pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura, com o Prêmio Educação para a Paz, em 1986.
"Particularmente, entendo que, por ele ter se tornado uma celebridade internacional, identificado historicamente com uma educação socializante, acaba incomodando algumas pessoas que vêm em sua obra alguma possibilidade de doutrinação", avalia Curcio. "E isso faz com que pessoas que desconhecem o método acabam por dispensar-lhe a mesma conotação".
Curcio ressalva que Paulo Freire não é criticado pela direita, "mas por certas pessoas de direita". Denominando a si mesmo conservador e mencionando que tem muitos amigos educadores também conservadores, ele afirma que, mesmo que haja críticas ao método Paulo Freire, é dispensado "o mais profundo respeito pelo trabalho dele", que continua sendo estudado. "É apenas uma questão de identificação. Não de rejeição ou abominação", diz. Fonte: https://domtotal.com
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