- Detalhes
- Detalhes
Até o fim de 2020, 5,4 milhões de brasileiros devem cair na vala comum da miséria.
Ante o impacto planetário da pandemia, a atribuição do Prêmio Nobel da Paz para o Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP, na sigla em inglês) foi mais que oportuna. A principal agência humanitária das Nações Unidas responde pelo maior programa de combate à fome no mundo. Como notou a própria entidade, o prêmio é um “poderoso lembrete de que a paz e a erradicação da fome são indissociáveis”.
Em todo o mundo, cerca de 821 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar. São 135 milhões que passam fome, e a eles se juntarão mais 130 milhões. Ou seja, a fome dobrará.
A situação no Brasil também é alarmante. Em 2004, 35% dos domicílios estavam em situação de insegurança alimentar. Essa parcela chegou a cair para 22,6% em 2013. Agora, porém, como alertou ao Estado Daniel Balaban, chefe do escritório brasileiro do WFP, o País caminha “a passos largos” para voltar ao Mapa da Fome. Os passos foram alargados com a pandemia, mas começaram a ser trilhados bem antes dela. Com a recessão de 2014, milhões de domicílios passaram para o estado de insegurança alimentar, chegando a 36,7% do total em 2018. Em cinco anos, a fome aumentou 43,7%. Até o fim de 2020, 5,4 milhões de brasileiros devem cair na vala comum da miséria, totalizando quase 15 milhões, 7% da população.
Os desafios mais dramáticos enfrentados pelo WFP no mundo vão muito além dos problemas que afligem o Brasil, envolvendo a atuação em zonas de conflito onde a fome chega a ser utilizada como arma para aniquilar populações tidas por inimigas. Mas há os desafios análogos. O Comitê do Nobel apontou que o prêmio ao WFP também simboliza a “necessidade de solidariedade e multilateralismo”. O que o multilateralismo é no cenário internacional, a cooperação federativa é no nacional. “O grande drama é que não há uma unicidade, um comando que lidere o Brasil como um todo para sair desta pandemia”, alertou Balaban. “O governo federal tem uma linha difusa, não sabe se apoia ou não a OMS, se apoia ou não a quarentena.”
Outra diferença em relação às calamidades enfrentadas pelo WFP é que a fome no Brasil não é causada pela falta de comida, mas de dinheiro. Em relação a políticas públicas, não há como exagerar a importância deste fato, mas também não se pode minimizar o escândalo nele implícito: o País produz muito mais do que o suficiente para alimentar toda a população – é um dos maiores exportadores de alimento do mundo – e ainda assim milhões de famílias passam fome.
O auxílio emergencial mostrou a importância de construir uma salvaguarda contra a miséria. Em razão dele, segundo a FGV Social, o número de pobres caiu 23,7%, mas com o fim do programa esse contingente voltará à pobreza. O Planalto tenta elaborar um novo programa de renda mínima – se não por mais nada, pelo seu valor eleitoral –, mas, como sempre, de maneira desarticulada e inepta. O governo já propôs de tudo, até medidas ilegais, como o uso de precatórios, mas reluta em encampar mudanças estruturais que poderiam reduzir gastos (como a reforma administrativa, o Pacto Federativo ou a PEC dos gatilhos emergenciais), ou promover mecanismos distributivos (como a reforma tributária), ou reduzir a dívida pública (desestatização).
Como disse o Papa Francisco em sua encíclica Todos irmãos: “Ajudar os pobres com dinheiro deve sempre ser um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho”. Mas, se os quadros do governo batem cabeça para garantir um programa de renda que lhe garanta a reeleição, não há nada remotamente parecido com um roteiro de recuperação, produtividade, trabalho e educação.
Os cavaleiros do apocalipse jamais cavalgam sós. Com a peste, vem a fome; e com elas, a guerra e a morte. O Brasil não é assolado por conflitos civis, mas a criminalidade é devastadora. Se o flagelo do crime não pode ser reduzido à carência material, ela é sem dúvida a sua mola principal. Não é admissível que na 9.ª maior economia do mundo tantas pessoas morram pela fome ou pela bala. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
- Detalhes
- Detalhes
Produto desenvolvido por 60 pesquisadores e aprovado pela Anvisa começa a ser fabricado em larga escala já nesta terça-feira (24)
LARISSA LOPES
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) anunciaram nesta terça-feira (24) o desenvolvimento de uma fórmula de antisséptico bucal capaz de inativar em 96% a proliferação do vírus Sars-CoV-2 , causador da Covid-19. A fórmula é baseada na tecnologia PHTALOX®, um composto criado inicialmente para o tratamento do mau hálito e para melhorar a saúde da gengiva.
A pesquisa foi realizada pelo Centro de Pesquisa e Inovação da empresa DentalClean em parceria com quatro instituições públicas: Faculdade de Odontologia da USP em Bauru (SP), Instituto de Ciências Biológicas da USP, a Universidade Estadual de Londrina (PR) e o Instituto Federal do Paraná. O estudo é coordenado por Fabiano Vieira Vilhena, cirurgião-dentista sanitarista e pesquisador da USP, e contou com o envolvimento de 60 especialistas
De março a novembro, os pesquisadores concluíram seis etapas de estudo que envolveram 107 pacientes em testes laboratoriais, séries de casos e estudos clínicos randomizados triplo-cegos. Logo no primeiro mês, foi confirmada a ação virucida do produto, que, de uma fórmula fabricada para doenças gengivais, foi redirecionada para verificar sua eficácia na prevenção da transmissão do Sars-CoV-2.
“Inativar a transmissão do vírus da Covid-19 nas vias aéreas superiores do corpo humano é uma das formas mais eficazes de não avançar a doença para as vias respiratórias inferiores”, escrevem os cientistas. “O antisséptico é capaz de bloquear o vírus na cavidade oral (região da boca), impedindo-o que ganhe forças e avance para o restante do organismo.”
Com o sucesso em testes, o produto, chamado Detox Pro, foi aprovado pela Anvisa em outubro e, nesta terça-feira, foi anunciado o início da produção em larga escala. “Começamos hoje a produção do primeiro lote desse produto, o antisséptico de 600 ml”, disse Giuliano Castro, gerente nacional de negócios da Dentalclean. “Para o primeiro trimestre de 2021, a estimativa de produção é de mais de 12 milhões de unidades nas categorias antisséptico, spray e gel dental.”
Conforme o aumento da demanda, a produção poderá ser aumentada. Para o desenvolvimento e pesquisa do produto, forma investidos R$ 10 milhões. Fonte: https://revistagalileu.globo.com
- Detalhes
- Detalhes
Caso a Anvisa aprove o imunizante, população brasileira deve começar a ser vacinada em janeiro, diz chefe dos estudos no país; veja o comparativo entre as vacinas
Cristina Fibe
A cientista Sue Ann Costa Clemens é a chefe dos estudos da vacina de Oxford no Brasil Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
RIO — Após a análise preliminar que comprovou até 90% de eficácia contra o novo coronavírus, a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) em parceria com a farmacêutica AstraZeneca submeterá os resultados à Anvisa e pedirá autorização para o uso emergencial do imunizante no Brasil.
A vacina é a quarta no mundo a apresentar resultados preliminares de eficácia, mas é a única delas que já tem acordo fechado com o governo federal para compra e distribuição no Brasil. Representantes de Oxford e da AstraZeneca devem ter uma reunião hoje à tarde com Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz e Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Caso seja aprovada pela Anvisa, a vacina deve chegar à população brasileira já em janeiro de 2021. Segundo a coordenadora nacional dos ensaios clínicos da vacina de Oxford, Sue Ann Costa Clemens, além da autorização do órgão federal é preciso que as 30 milhões de doses esperadas para janeiro cheguem ao país. A partir do ano que vem, com a transferência de tecnologia acordada entre Oxford/AstraZeneca e o governo brasileiro, a Fiocruz deve começar a produzir o imunizante.
Também professora visitante da Universidade de Oxford e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), parceira do estudo, Costa Clemens diz que a dosagem a ser aplicada na população será a mesma que demonstrou a mais alta eficácia constatada nos estudos: meia dose na primeira aplicação, e uma dose inteira na segunda.
Isso, ressalta a cientista carioca, fará com que 30% a mais de doses sejam distribuídas à população, tornando a vacinação em massa mais barata. Segundo ela, o preço do imunizante de Oxford também é o mais baixo de todas as vacinas eficazes conhecidas até agora — US$ 3 (pouco mais de R$ 16) cada dose.
Além disso, a vacina ChAdOx1 nCoV-19 é uma versão enfraquecida de um vírus do resfriado comum (adenovírus), técnica já utilizada em outros imunizantes e que não requer refrigeração em freezers. Ela pode ser armazenada a temperaturas que vão de 2 a 8 graus Celsius, o que torna a logística de distribuição e armazenamento mais acessível.
— Em qualquer sistema de saúde no mundo você tem essas geladeiras. É uma notícia muito boa, porque se trata de uma vacina de fácil acesso — diz Costa Clemens. — A outra coisa superimportante é que temos uma indicação precoce, já que os dados são preliminares, de que a vacina poderia reduzir a transmissão do vírus, não só protegendo contra a doença, mas impedindo a infecção. Aí você está ajudando realmente a parar a pandemia.
A cientista, responsável pela vacinação de 10,3 mil voluntários brasileiros, afirma ainda que não houve casos graves nem de hospitalizações dentre as pessoas que tomaram o imunizante de Oxford. No mundo inteiro, já há mais de 30 mil voluntários envolvidos nos ensaios clínicos da ChAdOx1 nCoV-19. Além de Brasil e Reino Unido, participam das pesquisas Estados Unidos, África do Sul, Quênia, Japão, Índia e Rússia.
No Brasil, as pesquisas são financiadas pelo Instituto D’Or e pela Fundação Lemann. Fonte: https://oglobo.globo.com
- Detalhes
O Brasil ainda está muito longe de se tornar uma democracia racial assim mostra as estatísticas de cor ou raça produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostram que 54% da população brasileira é formada por negros e negras.
O dia 20 de novembro, escolhido para celebrar o Dia da Consciência, se refere à morte de Zumbi dos Palmares, o último líder do maior dos quilombos do período colonial, o Quilombo dos Palmares. A data comemorada há mais de 30 anos por ativistas do movimento negro só foi oficializada em lei em 2011.
A data não só celebra a presença dos afro-brasileiros, mas “assume também o caráter de compromisso e responsabilidade na luta pela inserção cidadã dos negros e negras que vivem à margem da sociedade, em situações de miséria e exclusão social”, destaca a nota da CNBB dia da Consciência Negra de 2009.
Para celebrar a data, o bispo de Maringá (PR), Dom Severino Clasen, gravou um vídeo falando sobre a importância de olhar para a questão racial no país.
“É preciso olhar para a vida de tantas pessoas que foram escravizadas, que foram arrancadas das suas terras, da sua cultura, da sua nação, de suas famílias, da sua religião e aqui vieram sem recebem troco nenhum para servir aos senhores. Hoje ainda estamos
Devendo de apurar, de crescer nesta consciência da dignidade da valorização de todas da raças, de todas culturas é ali que o evangelho entra”, disse.
O bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão para a Ação Sociotransformadora da CNBB, Dom José Valdeci, disse em seu artigo ‘negros e negras na luta por dignidade’ que é preciso continuar lutando contra o preconceito, o racismo e todo tipo de opressão e ameaças a vida e dignidade da pessoa humana, sobretudo aqueles vivem à margem da sociedade.
“Somos chamados e chamadas a ouvir a voz de Deus que diz “Eu vi a miséria do meu povo… ouvi o seu grito por causa dos opressores, por isso desci para libertá-lo” (Ex 3, 7-8). Nossa atitude deve ser como a de Moisés: ouvir a voz de Deus e assumir a sua causa junto ao seu povo. Como povo negro, somos a maioria neste país e precisamos ocupar nossos espaços em todas as instâncias de decisões. Não queremos pedir, nem exigir, queremos decidir juntos e juntas o rumo da nossa nação”, destaca o artigo.
Dom José Valdeci aponta ainda no texto que “a nossa luta é para que esta sociedade seja de iguais, por isso, precisamos como negros e negras estimular nossa criatividade, assumir nosso compromisso alicerçados na memória de nossos ancestrais para construir uma sociedade nova. Diz o refrão de um canto afro: “ vamos construir a história do sonho do nosso povo, com as forças dos ancestrais, rumo ao mundo novo. Santos e santas do povo, rogai por nós! ”. Precisamos fazer memória para construirmos novas histórias”.
A realidade da desigualdade racial e social no Brasil está cada vez mais visibilizada na sociedade. Dados da PNAD Contínua 2019, divulgado no último dia 12 de novembro, pelo IBGE, mostra que pretos ou pardos tem maiores taxas de desocupação e informalidade do que brancos, estão mais presentes nas faixas de pobreza e extrema pobreza e moram com maior frequência em domicílios com algum tipo de inadequação.
Mobilização
Na próxima segunda-feira, 23 de novembro, ás 18h, em reunião virtual, o Observatório Racial Dom José Maria Pires, da Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), recebe o bispo de Pemba, em Moçambique, dom Luiz Fernando Lisboa é o diplomata aposentado Milton Rondó.
De acordo com o observatório, O bispo de Pemba tem sido uma voz consistente chamando a atenção para o agravamento da situação humanitária na conturbada Província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
A Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou no dia 12 de novembro, o Observatório de temas raciais Dom José Maria Pires. A nova instância deve assessorar a CBJP no encaminhamento das matérias relacionadas aos temas de enfrentamento ao racismo, a promoção da igualdade racial e ações afirmativas.
O grupo, formado por membros da Igreja Católica e de outras denominações religiosas, também deve elaborar e compartilhar análises, trabalhos escritos e pareceres; promover pesquisas e eventos que estimulem o estudo, a discussão e a defesa de temas afetos à sua área de atuação; realizar iniciativas orientadas pelos princípios de defesa e aprofundamento da democracia, combate às desigualdades, discriminações e exclusões, com a promoção da justiça e da paz; além de apoiar as ações e iniciativas da Pastoral Afro-brasileira, fortalecendo sua ação evangélica e social. O Observatório ainda deve assessorar a CBJP nos espaços de articulação nos temas concernentes à promoção da igualdade racial e ações afirmativas no âmbito da Igreja e da Sociedade.
Acesso a reunião:
Plataforma Zoom (ID da reunião: 816 635 5682 – Senha de acesso: 160475)
Fonte: https://www.cnbb.org.br
- Detalhes
Caso aconteceu na noite de quinta-feira (19), em uma unidade do Carrefour na capital gaúcha; nas redes sociais, grupos articulam protesto nesta sexta, quando é celebrado o Dia da Consciência Negra
Jorge Luiz Ritta de Oliveira, 45, ergue punho cerrado em protesto em frente ao supermercado Carrefour, onde Beto foi espancado até a morte por seguranças Foto: DIEGO VARA / REUTERS
O Globo
RIO - João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, foi brutalmente espancado até a morte por dois seguranças brancos na saída de um supermercado da rede Carrefour, no bairro Passo D'Areia, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O caso ocorreu na noite desta quinta-feira (19). O velório foi marcado para sábado 8h, no Cemitério Municipal São João, capela F. O enterro será às 11h30 no mesmo local.
Vídeos que circulam em redes sociais mostram ele sendo agarrado pelas costas por um segurança e agredido por outro com diversos socos na cabeça.
Os seguranças estão presos e vão responder por homicídio por asfixia por dolo eventual. Um deles é policial militar temporário e estava fora do horário de serviço.
A agressão teria ocorrido após Beto, como era conhecido, ter ameaçado uma funcionária enquanto passava as compras pelo caixa. No momento da morte, a mulher dele ainda estava dentro da unidade terminando de pagar as compras. Fonte: https://oglobo.globo.com
- Detalhes
Por Míriam Leitão
A maior derrota do presidente Jair Bolsonaro é no campo das ideias. Ele defendeu o descuido com a vida, o eleitor premiou quem a defendeu. Ele quis extremismo, o eleitor, moderação. Ele ofende minorias, e as urnas elevaram a diversidade das câmaras de vereadores. Ele administra de forma errática, o eleitor quis boa gestão. Ele ameaça a democracia, o eleitor a defendeu. Sua derrota tem várias dimensões. A mais importante está ligada à pandemia. O “e daí?” pra vida dos brasileiros levou uma surra nas urnas.
Saiu perdedora a ideia de que sem estrutura partidária, com apenas os filhos e a milícia digital, ele poderia decidir o voto dos brasileiros. O principal recado do eleitor foi o de que confia na democracia e no sistema eleitoral, alvos contra os quais dispara constantemente. Ontem, voltou a atacar, logo cedo, depois de uma confessada noite mal dormida.
É natural que perdedores apresentem versões para atenuar as dimensões da derrota. E foi isso que fizeram ontem o presidente e seu vice, Hamilton Mourão. Bolsonaro disse que ganhou a direita conservadora e que a esquerda perdeu. Mourão disse que “sem uma estrutura partidária fica difícil”, e que ele “não entrou de cabeça”.
Há vários erros nessa reação. Quem implodiu a própria estrutura partidária foi Bolsonaro. E por quê? Porque ele sempre desprezou os partidos, esteve em 10, levou o PSL a ter a segunda maior bancada e o maior fundo eleitoral. Esse capital eleitoral foi destroçado pelo presidente e seus seguidores. Em dois anos, o PSL virou um nada. Repete o PRN de Collor, de existência curta. Com o Aliança, ele colheu a maior derrota da história da criação de partidos. A visão falsa dos fatos é a forma de Bolsonaro negar aos seus seguidores que ele seja um derrotado, que de fato é. O segundo turno de São Paulo, entre o PSDB e o PSOL, é apenas o exemplo mais visível disso.
Houve um aumento da representatividade de negros, mulheres, pessoas trans, grupos que ele ofende de forma jocosa. Desses grupos, Bolsonaro tira tudo. Internamente, nega-lhes o apoio de políticas públicas, externamente tira-lhes a voz com uma diplomacia estreita e alinhada aos países mais preconceituosos e fundamentalistas. Nesse aspecto, é dupla a sua derrota. Primeiro, os grupos que quer apagar da política ganharam mais espaço nas câmaras de vereadores. Segundo, esse aumento de representação amplia a democracia, que ele tem tentado minar. A democracia se fortalece quando é capaz de ter pessoas de todos os grupos da sociedade dentro dos espaços de decisão. São mais valiosos ainda nesse processo os que entendem a importância de combate às velhas discriminações. Pessoas negras que neguem o fosso racial histórico — visível, inegável — acabam tendo um efeito bumerangue. A mesma coisa ocorre no caso de mulheres que defendem a submissão aos homens. Consolidam o que se deve combater.
O presidente amanheceu admitindo não estar bem. É compreensível. Mas, mesmo indormido, permanece incansável no ataque à democracia. Ontem, voltou a dizer que o sistema brasileiro de apuração de votos, através da urna eletrônica, não é confiável. “Se nós não tivermos uma forma confiável de apurar as eleições, a dúvida vai permanecer”, disse ele disseminando mais uma vez a dúvida sobre o sistema brasileiro. Desacreditar a apuração é o método — aqui e nos Estados Unidos — de conspirar contra a própria democracia. O que houve foi que o sistema brasileiro foi atacado mas não foi atingido. Bolsonaro prometeu apresentar provas de que houve fraude na eleição que ele venceu em 2018. Nunca as apresentou.
Há muitas contas provando que ele é o derrotado nas eleições. Em São Paulo, o fiasco foi imenso. Na maior cidade do Brasil os dois candidatos confirmaram na primeira fala após o resultado que são contra as suas ideias. Bruno Covas (PSDB) deixou isso claro quando falou em “tolerância, valores democráticos e respeito à diversidade religiosa”. Seu adversário, Guilherme Boulos (PSOL), disse que era uma vitória contra Bolsonaro. Os balanços não deixam dúvidas de quem é o derrotado nesta eleição. Mas o mais importante não é uma prefeitura a mais ou a menos, mas a ampla consagração das ideias de moderação, diversidade, boa gestão e proteção da vida ameaçada pela pior pandemia em um século, cuja gravidade ele ignora.
Com Alvaro Gribel (de São Paulo)
Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
- Detalhes
Por Merval Pereira
A atitude desprezível e repugnante do presidente Bolsonaro de festejar a paralisação dos testes com a Coronavac, vacina chinesa que está sendo produzida pelo Instituto Butantan em São Paulo, como uma vitória política sobre o governador João Dória, dá bem a dimensão desumana desse político, que brada que o país tem de parar de ser “terra de maricas” e encarar de frente a pandemia.
Se não fosse a barreira do Centrão, esta seria a milionésima vez em que Bolsonaro, cometendo mais um crime de responsabilidade, poderia ser impedido pelo Legislativo de continuar à frente do governo. Não tem a menor condição psicológica ou moral para exercer a presidência da República uma pessoa que não consegue ter empatia com os cidadãos do país que teoricamente lidera.
O tiro de misericórdia tentado acabou saindo pela culatra, pois o pobre do voluntário que morreu, cometeu suicídio ou foi vítima de uma overdose, ocorrência que nada tem a ver com a vacina. O fato de que, mesmo depois de esclarecido o caso, a Anvisa não autorizou a retomada dos testes, mostra que há mais do que uma exagerada cautela por parte do órgão governamental.
Mas há indicações de que o prejuízo pode ser muito maior, pois pesquisas realizadas pelo cientista político Carlos Pereira, com Amanda Medeiros, da Fundação Getulio Vargas do Rio, e Frederico Bertholini, da Universidade de Brasília (UNB), mostram que a maneira como o governo brasileiro está tratando o combate à COVID-19 tem feito com que muitos dos seguidores de Bolsonaro abram divergência em relação ao desprezo que ele tem pelo distanciamento social e uso de máscara.
A crise da vacina é apenas mais uma fase desse negacionismo governamental, apesar dos mais de 5 milhões de infectados e mais de 160 mil mortos. Há também indicações de que a polarização entre os extremos, da esquerda e da direita, está cansando os cidadãos, assim como nos Estados Unidos a virulência de Trump abriu espaço para a vitória do conciliador Joe Biden.
Pereira diz que já é possível observar esse fenômeno nas eleições municipais, “pois os candidatos que estão sendo apoiados por Lula e por Bolsonaro estão apresentando performance pífia nas pesquisas de opinião”.
As pesquisas que Carlos Pereira e outros vêm fazendo sobre as consequências da pandemia mostram, segundo ele, “choque exógeno de proporções tectônicas”. Segundo sua análise, o jogo polarizado entre os extremos estava em relativo “equilíbrio” não apenas no Brasil, mas no mundo, cada um dos polos se retroalimentando. Consumiam informações que reforçavam suas crenças anteriores, e rejeitavam à princípio qualquer informação que contrariasse as suas respectivas identidades.
“As identidades próprias de cada grupo serviam, por um lado, como elementos de pertencimento e aconchego. Mas, por outro, como um escudo ou filtro protetor contra as identidades e valores do grupo rival”. As pesquisas de opinião experimentais que vem desenvolvendo, agora na terceira fase, sugerem que a COVID-19 “foi um choque exógeno de grandes proporções que abalou ou mesmo deslocou os eixos da polarização política no Brasil”.
O “medo da morte” gerado pela pandemia trouxe muitas incertezas, “e nessas condições de risco aberto, as saídas polares começaram a perder sentido, capacidade de agregação e fadiga”. Segundo Carlos Pereira, “uma parcela não trivial de eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 abandonaram o presidente e não mais consideram votar em sua reeleição em 2022”.
Esse extrato populacional de perfil mais pragmático, as pesquisas mostram, está em busca de alternativas moderadas que preencham suas expectativas. O efeito da proximidade com o risco de morte associado à COVID-19 também é percebido nas avaliações sobre as ações do presidente e dos governadores, ressalta Pereira.
Muitos dos que se autodenominam de direita e centro-direita “se tornaram mais maleáveis quanto mais próximos esses eleitores se encontram de pessoas que desenvolveram a doença, em especial se vieram a óbito”. A gravidade da contaminação que eventualmente venha a gerar óbito leva as pessoas a minimizar as potenciais perdas econômicas.
“O medo da morte parece não aproximar apenas polos ideologicamente opostos, mas também diferentes classes sociais e pessoas que estão vivenciando diferentes níveis de prejuízos econômicos em decorrência da política de isolamento social”. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
- Detalhes
A Carmelita mais idosa do mundo da Ordem Terceira do Carmo. Dona Maria Aparecida Daher, 110 Anos nesta quinta-feira, 5 de novembro.
- Detalhes
Diogo discursa diante de seus convidados: ele afirma não guardar mágoas do ex-noivo Foto: Divulgação/Landerson Viana
Médico manteve cerimônia de R$ 350 mil depois que noivo decidiu terminar relacionamento
Ivan Martínez-Vargas
SÃO PAULO — O médico Diogo Rabelo, de 33 anos, viralizou na internet com vídeos de seu casamento em um resort em Itacaré, na Bahia. Apesar da paisagem paradisíaca, o que mais chama a atenção nas imagens do evento é a ausência do noivo. Depois de um ano e meio de relacionamento, Diogo conta que seu parceiro decidiu terminar o noivado três meses antes da data do casório. Em vez de cancelar o evento, que ele diz ter custado cerca de R$ 350 mil, o médico casou-se consigo em 17 de outubro.
Dos 100 convidados inicialmente previstos, compareceram 40 — todos da lista de Diogo. O médico, que é especializado em procedimentos estéticos como botox e preenchimentos faciais, já compartilhou três vídeos feitos no resort em que celebrou o autocasamento. Ao todo, as peças contabilizam mais de 580 mil visualizações apenas no perfil de Rabelo no Instagram. As imagens foram reproduzidas por outras páginas na internet, o que o tornou uma espécie de celebridade instantânea.
O vídeo mais visto da cerimônia tem 10 minutos e mostra um discurso de Diogo a seus convidados, além do momento em que ele diz o “sim” a si mesmo diante de um espelho.
“O sentido da minha vida não será aquele que foi largado no altar, isso é apenas um pequeno detalhe que faz parte de um todo. Detalhe importante e que criou um tecido essencial para que eu aprendesse a minha maior e talvez mais dolorosa lição, a de saber me amar”, diz ele no vídeo.
Diogo diz não guardar mágoas do ex-noivo, o também médico Vitor Bueno, que não se manifestou ao ser procurado pelo GLOBO. Rabelo afirma, no entanto, que o ex não gostou da repercussão dos vídeos. O relacionamento, segundo ele, começou no carnaval de 2019 e terminou de maneira definitiva em julho deste ano.
— Nós noivamos em novembro do ano passado, em janeiro começamos a morar juntos, e em fevereiro assinamos o contrato do casamento. Combinamos que eu pagaria a cerimônia e que ele me reembolsaria depois aos poucos, mas terminamos em julho depois de uma série de brigas — afirma o médico.
O cronograma do casório foi mantido mesmo em meio à pandemia, mas a proposta para cancelar a cerimônia foi feita pela primeira vez em junho pelo ex, segundo Rabelo, que afirma tê-la recusado porque muitos convidados já teriam comprado passagens e o resort não faria reembolso.
— A gente se separou definitivamente em julho, quando ele saiu de casa. Eu fiquei desesperado, fui atrás, disse a ele que o amava, até que me mataria se não tivesse volta, mas ele não se comoveu. Analisei a situação durante um mês, e decidi que eu tinha que me valorizar e me amar. Mantive a cerimônia e, dos meus 50 convidados, 40 vieram — diz Rabelo.
A história de Rabelo tem sido comparada com a da influenciadora digital Alinne Araújo, que no ano passado manteve a festa de casamento mesmo depois de ser abandonada pelo noivo. A jovem, que já sofria depressão, suicidou-se após ser criticada na internet.
Diogo também foi criticado em posts por supostamente querer se autopromover, mas diz ter recebido mais mensagens de apoio e pedidos de conselho de quem passou por situações similares. O médico, que fez tratamento psicológico por quase quatro anos até outubro, diz ter se apegado à religiosidade, ao trabalho e a luxos como finais de semana em hotéis cinco estrelas para superar o término.
— A mensagem que eu queria passar para as pessoas com esse meu casamento não é a de vítima, eu não dependo de um casamento para ser feliz. Eu quero casar com outra pessoa sim, e quero ter filhos, mas minha felicidade não pode depender disso — diz ele.
Apesar de não frequentar igrejas, ele afirma ter se convertido ao cristianismo aos 20 anos, quando ainda era um estudante no interior de Rondônia. Por pressão paterna, Rabelo diz que só assumiu a homossexualidade depois de formado, já morando em São Paulo, em 2013. Hoje, o médico sustenta a mãe na capital paulista, mas não conversa com o pai, a quem chama de homofóbico.
Nas redes sociais, Rabelo já era conhecido por realizar cursos nos quais ensina médicos a fazerem aplicações de botox, bioestimuladores de colágeno e preenchimentos em pacientes. Desde que ele postou os vídeos do casamento, ganhou 23 mil de seus 161 mil seguidores.
Nos workshops de Rabelo, médicos pagam até R$ 19 mil pelas aulas, enquanto os pacientes desembolsam o preço de custo dos produtos. Segundo ele, são 250 aplicações por semana. Uma aplicação de toxina botulínica no rosto, por exemplo, que normalmente pode custar R$ 1.800, sai por R$ 700 se o paciente topar ser modelo.
O médico afirma faturar cerca de R$ 500 mil mensais com os cursos e sua clínica no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Rabelo diz, no entanto, ter abandonado o sonho de se tornar um dermatologista (ele não tem o título na área) para abraçar novas metas. No curto prazo, quer ampliar os negócios. No longo, deseja ser voluntário em zonas de pobreza extrema.
— Ano que vem tenho vontade de abrir a minha segunda clínica, e quero fazer um MBA em Finanças para gerir meu negócio, mas eu já sei que dinheiro não traz felicidade. Em cinco anos, eu me vejo na ONG Médico Sem Fronteiras — afirma. Fonte: https://oglobo.globo.com
- Detalhes
O presidente repetiu o termo que usou em discurso na ONU ao lamentar o atentado na Basílica de Notre Dame, em Nice. Entre as vítimas está uma brasileira que vivia no país.
Internacional
Uma das vítimas de atentado em Nice é brasileira de 44 anos
Simone Barreto Silva era natural de Salvador, tinha nacionalidade francesa e vivia no país europeu havia 30 anos. Ela deixou três filhos. Ela sofreu um ferimento à faca e morreu em um restaurante quase em frente à Basílica Notre-Dame, que foi onde aconteceu o ataque. Um dos proprietários do restaurante disse à imprensa francesa que ela chegou ao estabelecimento ensanguentada para pedir socorro. Ela foi resgatada pelos funcionários e disse que havia um homem armado dentro da igreja, mas morreu quase uma hora e meia depois de ser ferida. Fonte: https://cbn.globoradio.globo.com
Pág. 30 de 121