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O mistério da tristeza
Depressão é a principal causa do suicídio, mas quem tem não quer morrer: quer se livrar da dor
Já na infância, me acontecia com frequência o que, por falta de vocabulário, eu chamava de “a onda”. Vinha sem aviso, me inundava e me arrastava a um abismo de onde eu não via como escapar. “A onda” era imprevisível. E aterradora.
Eu encontrava conforto num dos volumes d’“O mundo da criança”, mais especificamente na fotografia do que hoje sei tratar-se de um depósito de gás, esférico, de cujo topo emergia uma escadinha helicoidal. Meu sonho infantil não era ser médico, como meu tio, ou advogado, como meu pai — mas encontrar aquela escada e escapar do mundo. Para estar a salvo da “onda”.
Me ensinaram a ler, e li compulsivamente. Nos livros, encontrei onde me proteger do desamparo. Ninguém se deu conta dos sinais — o isolamento, a falta de amigos, de energia (pais sempre têm mais com o que se ocupar, professores têm provas a corrigir). O sofrimento era mudo, incomunicável. Invisível.
Na adolescência, conheci a canção de Paulo César Pinheiro e Dori Caymmi: “Era uma criança tão singela / Só que Deus pôs dentro dela / O mistério da tristeza”. Ainda sem conhecer a palavra “depressão” — e ainda acreditando em Deus — me vi ali, e passei a recorrer a “o mistério da tristeza” quando queria tentar me explicar o inexplicável, entender o ininteligível.
Não aprendi, até hoje, a conviver com a depressão, mas a sobreviver a ela. Descobri que não é incompatível com as responsabilidades que assumi, com o humor que cultivo. Intuí que tem cura — só é preciso corrigir a química cerebral para entender como funciona a linha de montagem dessa angústia aguda e prolongada, mas não infinita. Me permiti conversar com a ideia de suicídio, com o alívio de saber que, se tudo o mais falhasse, sempre haveria a escadinha helicoidal para me pôr a salvo das ondas e tristezas cuja origem era um mistério.
Tornei-me atento aos gatilhos da engrenagem que faz “a onda” se erguer. E aos presságios que antecedem o tsunami: irritabilidade, insônia crônica, sonolência incessante, apatia. O mundo perder a graça, extinguirem-se o apetite, o tesão.
A cada setembro, aparecem os laços amarelos da campanha de prevenção ao suicídio. E me ocorre que a melhor prevenção seja desmitificar essa palavra, desatá-la do seu estigma. E acolher sem julgamento. Compreender que depressão não é falta de fé ou de força. Que não é preciso estar prostrado ou descuidado da higiene para merecer apoio — o mal costuma estar silencioso, encoberto. Que, além da morte física, há a psíquica. Que nada substitui a compaixão, essa intangível capacidade de sentir o que outro sente.
A depressão é uma doença à qual ninguém é invulnerável. Por traços genéticos ou pelas circunstâncias, somos todos suscetíveis a seu assédio. Ela é a principal causa do suicídio, mas quem tem depressão não quer morrer: quer se livrar da dor. E pode chegar o momento em que dor e vida se confundam de tal forma que a vida se torne o preço a pagar para que cesse o sofrimento.
Não há romantização possível para o suicídio, seja ele o desespero de quem se atira do edifício ou o ato longamente amadurecido de deixar autorizada a ortotanásia no testamento vital. Tampouco deve ser tabu. É preciso falar dele, ouvir a voz dos que sucumbiram, como Robin Williams e toda a sociedade dos poetas suicidas — Sá-Carneiro, Sylvia Plath, Torquato Neto, Florbela Espanca, Ana Cristina César. Pensar que talvez seu desconsolo não fosse uma sina, que o desfecho que deram à sua dor não era inevitável.
Não, não sou depressivo. A depressão não me define. Ela me afeta, me limita. Me obriga a estar atento aos gatilhos, a buscar (e aceitar) ajuda. Confere um peso à minha vida, que é compensado com um olhar mais leve, irônico, de quem sabe que viver só faz sentido enquanto valer a pena. Que a qualquer momento uma onda pode vir e levar tudo, e que a felicidade — assim como a tristeza sem fundo, esse demônio do meio-dia — nunca vai deixar de ser um mistério.
Setembro pode ser um bom momento para exercitar a parresia, a coragem da fala franca e da escuta verdadeira. Falar abertamente sobre as emoções; permitir-se ouvir. E estreitar os laços oferecidos pelo setembroamarelo.org.br. Fonte: https://oglobo.globo.com
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Paola de Simone desmaiou enquanto lecionava Relações Internacionais pelo Zoom
Paola de Simone, uma professora de 46 anos, morreu vítima da Covid-19 enquanto lecionava uma aula virtual no curso de Relações Internacionais. Ela estava em sua casa quando desmaiou na frente dos alunos durante a transmissão pelo aplicativo Zoom.
Paola era docente da Universidad Argentina de la Empresa e estava lutando contra a doença havia várias semanas. O caso aconteceu na última quarta-feira (02.09).
De acordo com o jornal "Clarín", a professora começou a passar mal durante a aula, deixando seus alunos preocupados. Eles chegaram a pedir seu endereço para oferecer ajuda, mas ela teria dito que não poderia informar. Foi quando desmaiou e morreu.
Imagens do incidente chegaram a ser compartilhadas na internet, causando indignação nas redes sociais.
Antes de morrer, a professora relatou em seu perfil no Twitter que os sintomas da Covid-19 não davam sinais de melhora conforme o passar dos dias. Ela estava doente há cerca de um mês.
Paola teria sido encontrada já sem vida pelo marido em sua casa. Ele, que é médico e tem uma filha pequena com a professora, não estava na residência na hora da morte.
A universidade onde a professora trabalhava publicou uma nota de pesar nas redes sociais lamentando o incidente.
"Paola foi uma professora apaixonada e dedicada, excelente profissional e uma grande pessoa, com mais de 15 anos de trajetória na UADE", diz o comunicado. Fonte: https://vogue.globo.com
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A condenação do cristianismo
Há um tema central em sua vida e obra que não pode ser esquecido neste 120º aniversário de sua morte: o cristianismo. Nietzsche foi um dos filósofos modernos que mais refletiu sobre ele, e talvez de uma forma mais iconoclasta, como evidenciado em sua obra emblemática “O Anticristo. Maldição sobre o Cristianismo”, onde podemos ler o seguinte julgamento sumário: “Condeno o Cristianismo, levanto contra a Igreja Cristã a mais terrível de todas as acusações que qualquer acusador já teve na boca. Ela é para mim a maior de todas as corrupções imagináveis ... Eu chamo o Cristianismo de a única grande maldição, a única grande corrupção íntima, o único grande instinto de vingança, para o qual nenhum meio é tão venenoso, furtivo, subterrâneo, pequeno – eu o chamo de a única mancha imortal desonrosa da humanidade...”.
Esse julgamento foi registrado na imaginação coletiva de crentes e não crentes. Os primeiros a usaram para anatematizar o filósofo da morte de Deus; os segundos, para reafirmar suas atitudes críticas em relação à religião cristã. A ortodoxia cristã se encarregou de divulgá-lo – às vezes tirando-o do contexto – para ser acusado de razão ao apresentar Nietzsche como o símbolo de um mundo sem Deus e um dos mais ferrenhos inimigos do cristianismo de todos os tempos.
Sem negar a natureza radical de sua posição sobre o cristianismo, acredito que é mais matizado e complexo do que uma leitura rasa de Nietzsche pode nos levar a acreditar. Vou tentar contextualizar.
Desmascaramento da cultura ocidental
A crítica nietzschiana ao cristianismo se enquadra no desmascaramento que faz da tradição ocidental configurada por três fatores: a lógica socrática, o platonismo e o próprio cristianismo, que define como “platonismo para o povo”. Todos os três convergem, em sua opinião, na negação do instinto de vida. A esse respeito, concordo com Eugen Fink, um dos maiores especialistas de Nieztsche, que, para Nietzsche, o cristianismo é “apenas a manifestação mais poderosa na história universal de uma perda de instintos sofrida pelo homem europeu”. Perda que consiste em desvalorizar o mundo verdadeiro, a terra, e em inventar um transmundo ideal, o celestial.
Cristianismo alheio à realidade e inimigo da razão
O cristianismo é alheio à realidade, afirma Nietzsche. Suas causas são puramente imaginárias: a alma, o espírito. Seus efeitos também: graça, pecado, punição, redenção, perdão dos pecados. Opera com uma psicologia imaginária: arrependimento, remorso de consciência. A teologia pela qual é governado mostra o mesmo defeito, pois fala do juízo final, da vida eterna, do reino dos céus. Os seres a que se refere também são imaginários: Deus, espíritos, almas. O cristianismo é, em suma, “uma forma de inimizade mortal, até então insuperável, com a realidade”, lemos no Anticristo.
O Cristianismo é contrário à razão e à dúvida. É mais uma de suas críticas, que deve ser inserida no quadro da crítica geral à moral da resignação. O cristão mergulha na fé e renuncia à razão. Nada na fé “como no elemento mais claro e inequívoco” e afoga a razão nas ondas da credulidade. A dúvida, o simples olhar para um terreno sólido, já é um pecado. Até mesmo o próprio fundamento da fé e a reflexão sobre sua origem são considerados pecaminosos. Dogmas são, portanto, imunizados de todas as críticas.
A religião do ressentimento
O cristianismo é, em resumo, a religião do ressentimento e da compaixão. Nietzsche considera a compaixão um afeto doentio, um instinto depressivo, fraco e contagioso, que gera melancolia, obstrui as leis naturais da evolução e espalha o sofrimento pelo mundo. Precisamente o excesso de compaixão constitui uma das causas da morte de Deus, como o mostra o diálogo de Zaratustra com o último papa, já aposentado. “Você sabe como (Deus) morreu?” “É verdade... que foi a compaixão que o estrangulou?”, pergunta Zaratustra. Ao que o papa aposentado, depois de narrar a evolução de Deus, responde: “Um dia se sufocou com sua excessiva compaixão”.
Jesus, o “bom mensageiro” e Paulo, o “desangelista”
A crítica mais severa recai sobre Paulo de Tarso, a quem ele chama de “desangelista” – em contraposição ao “bom mensageiro” que Jesus era. Nietzsche considera Paulo o verdadeiro fundador, o inventor do Cristianismo, acima do sacerdote, que ele diz ser “a espécie mais viscosa do homem”, cuja missão é ensinar a contra-natureza, e sobre a teologia, “o máximo de propagação da falsidade”.
Da crítica salva Jesus de Nazaré – embora apenas em parte, como veremos em breve –, a quem define como um “espírito livre”, que não obedece a leis ou dogmas; um rebelde que se levanta contra a Igreja Judaica, os padres, os teólogos e a hierarquia dessa sociedade; um “santo anarquista”, que incita os excluídos a se rebelarem contra a classe dominante; um “criminoso político”: por isso foi crucificado; um “grande simbolista”, que só toma as realidades interiores como verdades, concebe o natural e o histórico como ocasião de parábola e o reino de Deus como estado do coração; um “bom mensageiro”, que morreu como viveu e de acordo com o que ensinou. Mas, imediatamente depois, ele o chama de “idiota”, no sentido de uma pessoa iludida, ingênua, sem noção de realidade, que permaneceu na puberdade e não desenvolveu instintos masculinos.
Do choque “corpo a corpo” ao diálogo com Nietzsche
A atitude mais frequente de um setor da teologia contra Nietzsche foi o corpo a corpo, a condenação total de sua filosofia, a rejeição de suas críticas ao cristianismo, qualificando-as como panfletárias e inconsistentes e acusando o filósofo do mesmo ressentimento que ele atribui ao cristianismo. Segundo os teólogos empenhados em salvaguardar a ortodoxia, a morte de Deus anunciada por Nietzsche afunda a humanidade na barbárie e na escuridão, e leva diretamente à morte do ser humano.
Eu creio que é preciso renunciar ao corpo a corpo com Nietzsche e optar pelo diálogo sincero e exigente. Nesse diálogo deve se conceder uma parte não pequena de razão ao filósofo, sobretudo em sua crítica a alguns modelos do cristianismo ainda vigentes hoje: o cristianismo idealista, que estabelece a separação entre a transcendência inteligível e a imanência sensível e apela apressadamente aos valores; o cristianismo caracterizado pelo desprezo do corpo, a negação do eu, o fomento dos instintos de morte e a repressão do instinto de vida; o cristianismo fideísta sem fundamento na razão, o cristianismo estritamente racionalista, que renuncia à narração, à parábola e ao símbolo.
No entanto, tenho que discordar de Nietzsche em aspectos fundamentais da sua teoria do cristianismo. Não posso compartilhar de sua crítica à compaixão. Esta é, para mim, uma dimensão fundamental do ser humano e a opção ética do Deus do êxodo e dos profetas de Israel/Palestina e de Jesus de Nazaré. Em ambos os casos se trata de uma práxis tendente a aliviar o sofrimento humano e a se solidarizar com as pessoas que vivem em situações sub-humanas. E isso não tem nada de fraqueza ou ressentimento, de negação da vida ou de renúncia ao prazer, mas sim todo o contrário: é força da libertação dos oprimidos, caminhos de solidariedade com as vítimas e defesa da vida dos que sofrem e morrem antes do tempo.
No caso de Paulo, é verdade que ele não segue a radicalidade da mensagem e da vida de Jesus de Nazaré e inicia o processo de espiritualização do cristianismo. Mas ele não o inventa. O que ele faz é libertá-lo da estreita estrutura judaica, abri-lo para o contexto cultural helenístico, dando-lhe uma orientação universalista e enfatizando a liberdade e a libertação que Jesus carrega:
“Para sermos livres, Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem sujeitar novamente ao jugo da escravidão... Já não há distinção entre judeu e gentio, entre escravo e livre, entre homem e mulher, porque todos vocês são um em Cristo” (Carta de Paulo de Tarso aos Gálatas 5, 1.3.28).
Por fim, tenho sérias dificuldades em aceitar o termo “idiota”, no sentido de ingênuo, aplicado a Jesus. O profeta galileu não é uma utopia ingênua. Ele tem uma consciência clara da realidade e um senso crítico da história. E isso o leva a entrar em conflito com os poderes religiosos, políticos e econômicos, com a sociedade patriarcal e com o próprio Deus, e a propor uma alternativa humanística de religião e sociedade.
Espero que esta breve abordagem dialética de Nietzsche contribua a escapar dos estereótipos, preconceitos e deformações com as quais, não poucos, pensadores cristãos abordaram o filósofo alemão para condená-lo de forma densa, reconhecer o sucesso de não poucas de suas críticas ao Cristianismo e distanciarem suas avaliações iconoclastas da ética libertadora de Jesus de Nazaré.
Para mergulhar na atitude de Nietzsche em relação ao cristianismo e à figura de Jesus de Nazaré, remeto ao meu livro Imagens de Jesus (Trotta, Madrid). Nele, analiso a imagem muito sugestiva e pouco conhecida de Jesus por Nietzsche. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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# Tempodecuidar
Cáritas Brasileira/ CNBB- Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Angra dos Reis/RJ-Diocese de Itaguaí.
No mês vocacional continuamos com a nossa campanha #tempodecuidar. Todos os dias, entre 20 e 30 famílias batem à porta do Convento do Carmo com a esperança de ganhar um pouco de alimento. Infelizmente nem sempre podemos ajudar diante da grande demanda neste tempo de pandemia.
Até o momento já doamos mais de 2.000 cestas básicas graças ao apoio da comunidade paroquial e amigos e amigas até mesmo de outros estados e países.
Nós Frades Carmelitas; Petrônio e Marcelo, agradecemos a caridade de todos e todas.
#Tempo de cuidar: Ajude os pobres de Angra dos Reis em tempos de pandemia (Contatos para doação: Convento do Carmo; 3367-3412 (Frei Petrônio). Meu Whatsapp- (21) 982917139. Whatsapp da Conceição Fonseca: 97404-1826)
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Lizbeth Flores terá viajado para a cidade mexicana de Matamoros para visitar o namorado.
Uma mulher norte-americana foi encontrada morta, sem os dentes, no México, um dia após o seu desaparecimento.
Em entrevista ao jornal Mirror, a mãe de Lizbeth Flores afirma que viu a filha pela última vez a 9 de agosto, momento em que a mulher terá viajado para a cidade mexicana de Matamoros. A mãe de dois meninos teria ido ao México para visitar o namorado.
María Rubio acabou por contactar no dia seguinte o Departamento de Polícia de Brownsville, no Texas.
O corpo de Flores, de 23 anos, foi descoberto a 11 de agosto. Segundo o jornal britânico que cita a polícia de Matamoros, o cadáver apresentava vários ferimentos na cabeça, provocados por uma pedra encontrada no local do crime. As autoridades referiram ainda que os dentes da jovem foram "arrancados à força".
"Estou muito triste pelo que fizeram à minha filha. Custa-me muito a dor pela qual a minha filha passou", afirmou a mãe ao jornal.
O FBI está a investigar o caso, visto tratar-se de uma cidadã norte-americana. Fonte: https://www.cmjornal.pt
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Os vivos e os mortos
Convivemos com o horror esterilizado em estatísticas
Mais de cem mil mortos. Como uma bomba atômica, em Hiroshima. Não são mera estatística. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, dizem os médicos. Não se trata então de mortes, e sim de crimes. Há responsáveis que um dia terão que responder por elas. Eles sabem o que fizeram. Ninguém fala pelos mortos, eles falam por si. Resta saber quem vai ouvi-los.
Convivemos com o horror esterilizado em estatísticas diárias, mesmo se a mídia combate a epidemia com informação e mantém viva a indignação. Todos perdemos a existência real, não só os mortos transformados em números e enterrados em covas rasas. Também os sobreviventes, uma população incorpórea, bustos que se encontram no zoom encenando uma falsa normalidade. Essa vida imaterial cria uma distância entre nós e a realidade, improviso de sobrevivência que, por um lado, nos salva, uma salvação precária que logo se esfuma, por outro, amplia a dor da perda do convívio e a nostalgia do momento em que, passado o perigo, reencarnados, cairemos nos braços uns dos outros.
O preço da sobrevivência será nunca mais escamotear a existência da morte, assim como a urgência e o valor da vida. Ninguém sairá ileso desse mundo virado pelo avesso. Cem mil mortos marcam para sempre a história de um país como a sua maior tragédia e, como uma cicatriz, as gerações que estão vivendo esse pesadelo. A menos que tenhamos nos transformados todos em robôs de nós mesmos.
Não podemos mais ser quem éramos e, ainda não podendo ser outra pessoa, hoje habitamos uma terra de ninguém. Vai passar, sairemos desse território psíquico inóspito.
No fim do túnel brilha uma vacina. Essa promessa pede resiliência e cuidados redobrados. É o mínimo que devemos aos cientistas. Não vamos morrer na praia. A ciência, ao contrário das religiões que se apoiam em dogmas e certezas, trabalha com autocorreção, ensaio e erro — exceto, é claro, na Rússia que faz milagres — e assim progride. Seus tempos não são os das nossas urgências. Que sejam então os das nossas esperanças. Fonte: https://oglobo.globo.com
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Se a vacina der certo, como foi o anúncio feito por Putin, a Rússia ganhará a nova guerra fria em busca de uma proteção contra o novo coronavírus
Por Tamires Vitorio
A Rússia registrou nesta terça-feira, 11, a primeira vacina do mundo contra o novo coronavírus. Na última semana, as autoridades russas afirmaram que a proteção foi capaz de criar uma resposta imune nos voluntários que participaram da segunda (e penúltima) fase de testes clínicos.
“Esta manhã, pela primeira vez no mundo, uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada”, disse o presidente da Rússia, Vladimir Putin. “Sei que é bastante eficaz, que proporciona imunidade duradoura”, acrescentou. O presidente também informou que uma de suas filhas foi vacinada contra a covid-19.
“Uma de minhas filhas foi vacinada, tendo participado da fase de testes. Após a primeira vacinação, ficou com 38 graus de temperatura, no dia seguinte tinha 37 graus e pouco. E é tudo”, afirmou Putin.
Se a vacina der certo, a Rússia ganhará a nova guerra fria em busca de uma proteção contra a covid-19. Estudos sobre a eficácia dela devem ser publicados já no final deste mês.
Além de aliviar a crise de saúde mundial, que já matou mais de 730 mil pessoas, seria um golpe nos Estados Unidos e no Reino Unido, que recentemente acusaram o país de hackear seus sistemas para derrubar pesquisas sobre vacinas contra a covid-19.
No sábado, 1, a Rússia informou que promoverá uma vacinação em massa contra o novo coronavírus já em outubro deste ano. A vacina usada seria desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, um projeto que tem causado controvérsia na comunidade científica pela falta da divulgação de dados em relação à efetividade ou não dela para proteger o organismo humano da infecção viral.
É por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima.
Especialistas em saúde pública seguem prevendo as vacinas para meados de 2021.
De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) do dia 31 de julho, 26 vacinas estão em fase de testes e outras 139 estão em desenvolvimento. Das 26 em testes clínicos, 6 estão na última fase. A vacina da Rússia não está presente no relatório da OMS.
A corrida pela cura
Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.
Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.
Nenhum medicamento ou vacina contra a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais. Fonte: https://exame.com
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Por Merval Pereira
Não é apenas um número chocante. Não é apenas uma barreira tristemente quebrada. São mais de cem mil pessoas mortas, exatas 100.240 até ontem, na maior tragédia da história brasileira. Para casos como esse, não é possível fazer-se o uso frio dos números, cada morto importa.
Dizer que o país está bem nas estatísticas, porque temos 471 mortes por milhão de habitantes, enquanto países como a Espanha têm 610, ou Reino Unido tem 623, é somente a demonstração de que com estatísticas é possível fazer qualquer coisa, torturando os números. Se fosse esse o caso de comparação, a Argentina tem 98 mortes por milhão de habitantes. A Rússia tem 102, e a China apenas 3 mortes por milhão de habitantes.
A triste realidade é que o Brasil é o segundo país que tem mais mortos em números absolutos, atrás apenas dos Estados Unidos, com 164.577.
Essa triste competição que estamos ganhando tem na raiz a mesma razão da crise dos Estados Unidos, governos negacionistas que se empenharam em vender a cloroquina como remédio milagroso contra a Covid-19, quando deveriam ter liderado um movimento a favor do distanciamento social, do uso de máscaras, da quarentena e, nos casos mais graves, do lockdown.
Donald Trump, com uma possível derrota nas eleições se aproximando, tenta se recuperar usando máscara, depois de meses preciosos sem usá-la, e já cunhou um bordão patético a essa altura: “Patriota usa máscara”. Bolsonaro, nem depois de pegar a Covid-19, se anima a fazer uma campanha nesse sentido.
O máximo de empatia que conseguiu exprimir foi uma frase abominável: “A gente lamenta todas as mortes, está chegando ao número 100 mil… mas vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”. Para quem tem a culpa maior por essa tragédia brasileira, dizer isso ao lado de um ministro interino da Saúde há mais de dois meses, enquanto a mortandade só fez crescer, é sinal de sociopatia, que, aliás, vem demonstrando em vários momentos.
Sua empatia é seletiva, foi ao Rio para o velório de um paraquedista que morreu, mas fez um passeio de jetski quando o número de mortos chegou a 10 mil. A disputa que o presidente Bolsonaro estimulou com os governadores foi uma das principais causas do desacerto do combate à Covid-19.
Essa briga de poder aconteceu porque Bolsonaro queria impor suas idéias, como o uso de cloroquina e a abertura das cidades para não prejudicar a economia. O mais inacreditável foi a briga de Bolsonaro com os ministros da Saúde, Luiz Mandetta e Nelson Teich, querendo impor suas vontades contra a orientação cientifica internacional.
A crise pessoal de Bolsonaro só acabou quando resolveu colocar o General da ativa Eduardo Pazuello na interinidade permanente à frente da Saúde. Como cultor da hierarquia e jejuno em medicina, o General aceitou tornar a cloroquina um medicamente oficial do SUS para combater a Covid-19, o que nenhum dos antecessores, médicos que tinham uma reputação a zelar, aceitou.
O Brasil passou vários dias com uma média de mil mortes, já temos proporcionalmente mais mortos que os Estados Unidos, e não é improvável que em algum momento passemos a ser o país com mais mortes do mundo, em números absolutos. Se é que já não passamos. A estimativa de vários estudos é de que a subnotificação dos infectados por Covid-19, hoje perto de 3 milhões de pessoas, pode chegar a 14 vezes mais.
O número de mortes que hoje nos assombra pode ser 27% maior que os 100.240 oficiais, isso porque as mortes por síndrome respiratória aguda grave (Srag) não apenas aumentaram muito em relação à média, como muitos casos não tiveram o agente causador identificado, o que leva as autoridades médicas a crerem que teriam sido provocadas pela Covid-19.
Sem falar nas periferias e favelas das grandes cidades, e no Brasil profundo, que não têm atendimento médico devido. Um dos maiores problemas brasileiros no combate à Covid-19 foi a falta de testagem, sem o que não se pode ter uma idéia exata de como está a evolução da doença. Este é um problema que a maioria dos países europeus e os Estados Unidos não têm. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
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NELSON MOTTA
Inglês de Felipe Neto fez babar de inveja o ex-futuro embaixador
Ele tem mais leitores do que todos os grandes jornais brasileiros juntos. E todos os blogueiros políticos. E quase todas as televisões. Um espetacular poder de fogo de 39 milhões de seguidores fiéis, sonho impossível de qualquer político. Deixa na poeira os que seguem o 01, 02 e 03, juntos. Com 32 anos, o ex-palhaço infantil e ex-blogueiro de adolescentes Felipe Neto se mostrou adulto e maduro com o vídeo de sua excelente entrevista ao “New York Times”, expondo, com clareza e objetividade, em inglês perfeito, o desastre do governo Bolsonaro.
O gabinete do ódio espumou. Seu inglês fez babar de inveja o ex-futuro embaixador em Washington. No Twitter, Felipe só fala de política, mas não tem partido, e tem 12 milhões de seguidores, seis vezes mais que Carluxo. No YouTube, onde começou há dez anos, ficou milionário fazendo palhaçadas para crianças e adolescentes, que cresceram com ele e hoje são eleitores. São 39 milhões, e Bolsonaro mal chega a cinco. Felipe nasceu na Zona Norte do Rio, em família paupérrima, mas estudou em bons colégios e, com o tempo, se interessou por filosofia, sociologia e política. Amadureceu sem perder a juventude e o humor. É um fenômeno que muita gente está acompanhando com interesse e simpatia. Como eu e meu neto.
Felipe virou alvo preferencial das milícias virtuais e seus robôs com a mais abjeta e tosca das acusações: um tuíte falso que o ligava a pedofilia. Não colou. Ganhou mais meio milhão de seguidores. O ódio emburrece as pessoas. Quanto mais baterem, mais ele vai crescer e se tornar influente para uma massa colossal de seguidores, e suas opiniões vão reverberar em outras mídias. O gabinete aprendeu a máxima digital “quem com as redes fere, pelas redes será ferido”.
Entrevistado por Pedro Bial, Leandro Karnal e no “Roda Viva”, Felipe foi apertado, mas se saiu muito bem, ganhou respeito por sua inteligência, clareza e independência. Mostrou ter consciência da responsabilidade de seu papel. Um influenciador, querendo ou não, é um líder. Fonte: https://oglobo.globo.com
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# Tempodecuidar
Cáritas Brasileira/ CNBB- Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Angra dos Reis/RJ-Diocese de Itaguaí.
No mês vocacional continuamos com a nossa campanha #tempodecuidar. Todos os dias, entre 20 e 30 famílias batem à porta do Convento do Carmo com a esperança de ganhar um pouco de alimento. Infelizmente nem sempre podemos ajudar diante da grande demanda neste tempo de pandemia.
Até o momento já doamos mais de 1700 cestas básicas graças ao apoio da comunidade paroquial e amigos e amigas até mesmo de outros estados e países.
Nós Frades Carmelitas; Petrônio e Marcelo, agradecemos a caridade de todos e todas.
#Tempo de cuidar: Ajude os pobres de Angra dos Reis em tempos de pandemia (Contatos para doação: Convento do Carmo; 3367-3412 (Frei Petrônio). Meu Whatsapp- (21) 982917139. Whatsapp da Conceição Fonseca: 97404-1826)
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Idosos e pessoas com comorbidades serão os primeiros a receber as 100 milhões de doses
Somente a vacina pode garantir a volta à normalidade (AFP)
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia, adiantou nesta quarta-feira (5) a preparação está sendo feita para a estratégia nacional de imunização de brasileiros quando a vacina contra a Covid-19 estiver disponível no país. O assunto foi discutido na Comissão Externa da Câmara dos Deputados destinada a acompanhar o enfrentamento à pandemia.
Segundo Correia, está sendo feito o mesmo cálculo usado para a vacina contra influenza, cerca de 100 milhões de doses no país. O secretário disse que, tendo em vista as taxas de letalidade desse grupo, idosos e pessoas com comorbidades, como cardiopatia e obesidade, estarão entre os primeiros a receber a vacina. Também estarão no grupo prioritário os profissionais de saúde.
As primeiras 30,4 milhões de doses vão chegar em dois lotes: metade, 15,2 milhões, em dezembro e a mesma quantidade em janeiro. “Com o avanço da ciência, acreditamos que, em dezembro, talvez, já passemos o ano novo de 2021 com pelo menos 15,2 milhões brasileiros vacinados para Covid-19 e possamos juntos construir essa nova história da saúde pública do nosso país”, disse Arnaldo Correia.
Além desses dois lotes, mais 70 milhões de unidades da vacina serão disponibilizadas gradativamente, a partir de março de 2021. O medicamento está sendo desenvolvido pela farmacêutica britânica AstraZeneca, em conjunto com a Universidade de Oxford, e já se encontra em fase de testes clínicos em vários países, incluindo o Brasil.
Um acordo entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a biofarmacêutica prevê que, antes do término dos ensaios clínicos, o que representaria 15% do quantitativo necessário para a população brasileira, ao custo de US$ 127 milhões. A negociação garante total domínio tecnológico para que Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz produtora de imunobiológicos, tenha condições de produzir a vacina de forma independente.
Estrutura
Para acelerar a produção, será utilizada a estrutura de envasamento e rotulagem já disponível na produção da vacina contra a febre amarela no país. Cada frasco terá cinco doses, segundo representes da Fiocruz.
Pelo acordo, a vacina de Oxford produzida no Brasil será distribuída apenas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e para agências das Nações Unidas. Está em discussão a possibilidade de distribuição para outros países da América Latina.
Compras
Ainda segundo o secretário de Vigilância em Saúde, neste momento, priorizando fornecedores nacionais, o Ministério da Saúde já está preparando a aquisição de seringas, agulhas e o planejamento para a distribuição da vacina no país. Também está em levantamento do pessoal disponível para aplicar a vacina e a capacidade da chamada “rede de frios”, que são os equipamentos de estados e municípios em condições de estocar as doses nos 37 mil postos de vacinação do país.
Questionado sobre a logística de distribuição de doses, Arnaldo Correia disse que, depois da liberação, leva entre 15 e 20 dias. Ele lembrou que cabe ao Ministério da Saúde distribuir para os estados e a estes aos municípios.
Sobre um cronograma de liberação da vacina, o diretor do Instituto Bio-Manguinhos da Fiocruz, Maurício Zuma, preferiu a cautela. “Tem um grau de incerteza em relação a isso, por isso, a gente está sendo bastante cauteloso. Nosso compromisso é buscar a confirmação desses cronogramas para poder passar para o Ministério da Saúde a para Comissão [externa da Câmara que acompanha ações contra a pandemia do novo coronavírus] qual é nossa expectativa concreta de produzir e liberar as doses da vacina”, ponderou.
Agência Brasil
Fonte: https://domtotal.com
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Pesquisadores afirmam que manifestação em Berlim no sábado era fragmentada, mas radicalização é real e instituições precisam ser protegidas
BRUXELAS
Fragmentado entre mais de 80 grupos de interesses bastantes diversos —de neonazismo a antivacina—, o protesto que reuniu cerca de 20 mil pessoas neste sábado em Berlim não foi necessariamente uma manifestação de força da extrema direita, mas há nele sinais de alerta que devem ser levados a sério, dizem analistas políticos alemães.
“O extremismo de direita é a principal ameaça à segurança interna da Alemanha hoje”, diz o professor da Universidade de Würzburg Hans Joachim Lauth, que estuda a direita europeia. Segundo relatório de 2019 do Ministério do Interior, o país registrou cerca de 1.000 atos de violência de extrema direita no ano passado, quase 3 por dia, e número de ativistas de grupos violentos de direita subiu de 24 mil para 32 mil.
Boa parte desse aumento, segundo Lauth, se deve ao crescimento da facção Flügel (asa), uma divisão interna do partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD). O grupo, que alcança 7.500 apoiadores, é hoje considerado de extrema direita violenta.
Embora o professor de Würzuburg considere que o número de manifestantes no sábado não seja significativo para os padrões alemães e que a grande fragmentação de pautas mostre que não há um direcionamento central, há também aí um sinal importante, diz Paulina Fröhlich, chefe do programa Futuro da Democracia do centro de estudos Progressive, sediado na capital alemã.
“Justamente porque o protesto juntou pessoas tão heterogêneas, sobressai o que as une, que é o populismo”, afirma a pesquisadora, que considera os movimentos de extrema direita “uma grande ameaça à democracia e à sociedade alemãs”.
Os radicais são uma fração pequena da sociedade alemã, observa o cientista político Michael Jankowski, da Universidade de Oldenburg. Pesquisa divulgada pela Fundação Friedrich-Ebert no ano passado mostrou que apenas de 2% a 3% dos entrevistados expressam clara opinião de extrema direita.
Mas a manifestação do sábado mostra que essa diminuta minoria é capaz de se mobilizar, juntar forças e fazer suas vozes serem ouvidas, diz ele. Mais que isso, afirma o cientista político, seu discurso está se tornando cada vez mais extremista: “Como a crise dos refugiados deixou de ter a força que tinha em 2015, radicalizar pode ser a estratégia encontrada para serem ouvidos”.
O engajamento de extrema direita também tem se tornado mais visível em público, seja no sentido cultural (música, moda), seja na mídia (editoras, blogs) ou no poder de influenciar a atmosfera e a narrativa, afirma Fröhlich, o que traz o risco da chamada “normalização”.
Quando linguagem e opiniões extremas escandalizam cada vez menos, cresce o perigo, diz ela: “É muito importante traçar uma linha vermelha clara sobre ações como xenofobia ou discriminação”.
Uma das preocupações principais é com o avanço dos extremistas em instituições alemãs. O sinal recente mais grave foi a desativação de uma das principais forças militares de elite, a KFK, por causa da infiltração de um grupo de extrema direita que chegou a planejar atentados.
“Dizer que essas facções são uma ameaça crescente está longe de ser um exagero”, afirma Jankowski, citando denúncias de envolvimento de oficiais das forças militares e desvio de armas e munições.
Os atentados recentes, provocados por direitistas, também mostram que não são os radicais islâmicos a principal preocupação de segurança, afirma o pesquisador: “O extremismo de direita é hoje um problema gigante na Alemanha.”
Ele ressalva, porém, que embora esteja manifesto um grande potencial para conflito na sociedade alemã, esses grupos não necessariamente ampliarão sua presença no Parlamento. Fröhlich e Jankowski observam que, durante a pandemia de coronavírus, o AfD —maior agremiação de oposição (com 12,6%)— perdeu popularidade. Nas pesquisas nacionais, ele varia hoje em torno de 9%.
“Mas, se os movimentos continuarem se radicalizando cada vez mais, pode haver um impacto na sociedade e na cultura política alemã”, afirma Jankowski.
Contra isso, duas estratégias de resistência têm ficado mais evidentes, segundo Hans Joachim Lauth: “De um lado, o Estado intensifica medidas de proibição, observação e treinamento político e democrático. De outro, a sociedade civil também eleva o tom de repúdio ao extremismo de direita, o que tem se refletido em várias contra-manifestações e debates públicos”.
No longo prazo, também é preciso “ter consciência de que os movimentos de direita radical e conspiratórios estão aqui para ficar” e tomar decisões para proteger as instituições, segundo Jankowski.
“A infiltração nas Forças Armadas nos obriga a repensar o treinamento de nossos soldados, e é preciso comunicação e educação para que a sociedade esteja mais consciente”, diz.
Cofundadora e porta-voz de uma iniciativa para combater o populismo por meio da “cordialidade radical”, a Kleiner Fünf, Fröhlich defende “olhar mais de perto e ouvir um pouco mais antes de tirar conclusões”.
Segundo ela, atitudes como a de recusar o uso de máscaras e promover aglomerações provam que muitos não entenderam de fato decisões fundamentais do governo: “Isso precisa ser registrado e resolvido”.
Para a pesquisadora, “nem todos podem ser conquistados de volta ao lado democrático, mas não se deve desistir de conversar, ouvir, explicar e aprender, mesmo que a contraparte nos pareça totalmente ignorante, como a maioria no sábado”.
Analistas têm mostrado que a segurança econômica (real ou percebida) é fundamental para os eleitores de direita, e atender a essa preocupação pode ser uma forma de evitar que eles sejam capturados por extremistas, diz Fröhlich: “Políticas socialmente responsáveis, investimentos orientados para o futuro, aliados a uma proibição clara de qualquer discriminação são estratégias viáveis”.
Segundo ela, boas políticas poderiam reconstruir a confiança na democracia de muitos dos que aderiram aos protestos ou votaram no AfD, “desde que eles também se abram à discussão e à perspectiva de avanços progressistas”. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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Como surgiu o aplicativo que virou fenômeno e entrou no radar da guerra fria EUA x China
Mateus Luiz Camillo de Souza
Jornalista pela USP, é editor-assistente de Mídias Sociais da Folha
[RESUMO] Fenômeno emergente da internet, que permite a criação de vídeos curtos com vastos recursos e difusão em larga escala com uso de inteligência artificial, o aplicativo chinês ganha o mundo, incomoda gigantes como Facebook, irrita Donald Trump e acirra disputa geopolítica entre EUA e China.
Com mais de 800 milhões de usuários ativos, o TikTok é o grande fenômeno emergente da internet. O número de adeptos leva o aplicativo chinês —com seus vídeos divertidos e bizarros, em que qualquer um pode ser a estrela— ao seleto time de gigantes, atrás do Instagram (mais de 1 bilhão) e Facebook (2,6 bilhões), os quais já ameaça.
A história do TikTok começou em Pequim, em 2012, quando o engenheiro de software chinês Zhang Yiming, da empresa ByteDance, à época com 29 anos, percebeu que era complicado encontrar uma informação na internet de seu país, não só pela censura do regime, mas também porque os meios de busca disponíveis, como o Baidu (o “Google chinês”), eram ruins. Mesmo o conteúdo liberado não circulava de forma eficiente.
O primeiro passo de Zhang foi adquirir uma plataforma agregadora de notícias, a Jinri Toutiao (manchetes de hoje), e depois desenvolver um algoritmo movido a inteligência artificial para recomendar conteúdo customizado aos usuários de acordo com seus interesses, mantendo também a busca por um termo específico, o que fazia do Toutiao um híbrido entre Google e Facebook. Foi um sucesso.
No mesmo ano, a ByteDance lançou o Neihan Duanzi, uma plataforma de piadas, vídeos engraçados e memes, cujo DNA também estava na recomendação por inteligência artificial. Foi outro êxito, que chegou a acumular 30 milhões de usuários ativos até ser banido pelo governo chinês em 2018, sob a alegação de divulgar conteúdo vulgar.
Zhang percebeu que muita gente gostava de passar o tempo se entretendo com conteúdos que iam do sensacionalismo à diversão pura. Em setembro de 2016, a empresa criou o Douyin, aplicativo de vídeos curtos, para concorrer com a Musical.ly, basicamente um app de lip-sync (sincronia labial) lançado em 2014, que permitia ao usuário dublar a voz de seus artistas preferidos. Em menos de um ano, o Douyin já contava com mais de 100 milhões de usuários ativos e 1 bilhão de visualizações diárias de vídeos.
Foi então que a história começou a se ocidentalizar. Em setembro de 2017, a ByteDance fez um “rebranding” internacional e disponibilizou o Douyin para mercados fora da China, com o nome de TikTok (no país asiático o título original permanece).
Havia, no entanto, dois poréns. O concorrente Musical.ly já tinha alcance global e um público fiel em diversos mercados em que o TikTok queria entrar, entre eles Estados Unidos, Europa e Brasil. Como os serviços de ambos eram parecidos, não haveria estímulo para um usuário trocar de aplicativo.
A solução para Zhang, hoje uma das dez pessoas mais ricas da China, foi comprar, em novembro de 2017, o Musical.ly por um valor estimado em US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões), com participação de investidores, depois de o Facebook ter feito uma investida fracassada.
Conhecida na China como “fábrica de apps”, a ByteDance, especializada em plataformas móveis com recursos de inteligência artificial, é hoje a startup mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) —e está se preparando, segundo especialistas, para uma futura oferta pública de ações em bolsa.
Se hoje o TikTok é o fenômeno que é, um dos méritos se deve à decisão de encerrar o Musical.ly de forma gradual. Apenas em agosto de 2018 seus usuários foram avisados que o serviço havia sido descontinuado, porém bastaria baixar o TikTok para que todo o conteúdo armazenado no antigo dispositivo fosse recuperado.
A história é importante, mas não explica tudo. Afinal, por que algumas redes explodem e outras não? Uma mistura de elementos aleatórios contribuiu para fazer do TikTok uma sensação, uma espécie de sopa primordial adaptada ao ambiente digital.
O Vine foi um serviço de vídeos de até seis segundos fundado em junho de 2012, comprado pelo Twitter em outubro do mesmo ano. Era preciso ser criativo para criar vídeos virais tão rápidos, princípio fundamental do TikTok.
Em 2013, o Vine era o aplicativo que mais crescia no mundo, segundo o GlobalWebIndex. No entanto, na mesma época o Snapchat, cujo conteúdo desaparecia depois de publicado, despontava como fonte de inovações, ao trazer o formato vertical para o smartphone.
Mark Zuckerberg, dono do Facebook, tentou comprar o Snapchat em 2013, mas ouviu um não do fundador Evan Spiegel, então com 23 anos.
Em agosto de 2016, Zuckerberg revidou. Lançou o Instagram Stories, ferramenta de fotos e vídeos na vertical que aparecem em forma de carrossel, clone do Snapchat. O tiro foi certeiro: em janeiro de 2019 o Instagram tinha 500 milhões de usuários ativos no Stories. Com isso, veio a consolidação da produção e consumo de conteúdo em redes sociais no formato vertical. Hoje, é quase obrigatório uma rede social possuir o formato Stories.
Já o Snapchat perdeu US$ 1,3 bilhão em valor de mercado quando a celebridade digital Kylie Jenner tuitou, em fevereiro de 2018: “Sooo does anyone else not open Snapchat anymore? Or is it just me... ugh this is so sad” (então, ninguém mais abre o Snapchat? Ou sou só eu… ugh, isso é tão triste).
Naquele mesmo momento, o YouTube atraía cada vez mais usuários influentes, muitos deles ex-viners, em busca de crescimento e monetização. Em outubro de 2016, o Twitter anunciou o fim do Vine, cuja vida foi quase tão curta quanto a de seus vídeos.
Toda rede social que cresce acumula usuários e definha deixa uma legião de órfãos pelo caminho. Em pouco tempo, contudo, os usuários encontram outra rede. Para o lugar do Vine, havia um app de vídeos curtos e criativos à disposição, o Musical.ly, cuja possibilidade de dublar um pedaço da música em 15 segundos era o principal atrativo.
Alex Zhu, um dos fundadores do Musical.ly e hoje designer de produtos no TikTok, afirmou em 2016 que o aplicativo permitia a qualquer um ser parte do entretenimento. Quando houve a fusão, ele afirmou que “combinar o Musical.ly com o TikTok é um passo natural em direção a nossa grande missão de permitir que todos possam ser um criador”.
A geração Z (nascida de meados de 1990 até 2010) estava à procura de uma nova rede social, da qual seus parentes não fizessem parte, em um momento em que o Facebook estava sob pressão após escândalos políticos de proliferação de fake news.
Os mais jovens costumam ser os “early adopters” (primeiros usuários) de uma nova rede social. Zhu compara a criação de uma rede com a fundação de um país, em um processo em que os adolescentes seriam migrantes em busca de um sonho na nova nação.
O influenciador brasileiro Kaique Brito, 15, é um desses desbravadores. “O TikTok já existe há tanto tempo, eu me pergunto: ‘Por que as pessoas só estão vendo agora?’ É estranho para a gente”. O jovem tem feito sucesso com vídeos em que esbanja consciência política ao ironizar, por exemplo, o racismo reverso. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
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