Há ainda quem procure serviços de traslado com carros blindados para o trajeto que, partindo da Zona Sul ou da Barra, pode custar R$ 600

Flávia Junqueira

RIO — A violência criou uma “escala extra” para alguns cariocas que viajam e precisam chegar ao Aeroporto Internacional Tom Jobim/ Galeão, na Ilha, durante a noite ou madrugada, ou sair de lá nesse mesmo horário. Moradores da Região Metropolitana já são 15% dos hóspedes que pernoitam no hotel do Terminal 1. São pessoas que, buscando evitar a violência que aterroriza quem trafega pela Linha Vermelha , estão preferindo fazer esse deslocamento na tarde anterior ao voo a se arriscar pela cidade com dólares, passaportes e, principalmente, crianças, depois que o sol se põe. Há ainda quem procura serviços de traslado com carros blindados para o trajeto que, partindo da Zona Sul ou da Barra, leva de 30 a 40 minutos e custa a partir de R$ 600.

Números do aplicativo Fogo Cruzado apontam que não se trata de um medo infundado. Este ano, até o último dia 16, a Linha Vermelha registrou cinco tiroteios e chegou a ser fechada duas vezes em função de operações policiais. No mesmo período do ano passado, houve uma troca de tiros.

No último dia 11, após ver imagens de um tiroteio que bloqueou a via por cerca de 20 minutos na altura do Caju, a nutricionista Tatiana de Jesus, de 44 anos, moradora da Tijuca, não teve mais dúvidas. Reservou um quarto num hotel dentro do Terminal 1, onde passou com a família a noite anterior ao voo para Orlando, que saiu do Rio às 7h da última quarta-feira. Pagou R$ 565 pelo quarto quádruplo, onde dormiu com a irmã e o sobrinho Arthur, de 2 anos.

— Minha irmã, mãe do Arthur, tinha feito a sugestão porque teríamos que chegar ao aeroporto às 4h, três horas antes do embarque. Quando vimos as cenas do tiroteio na Linha Vermelha, todos concordamos com ela. Tivemos um custo a mais, mas achamos que valia a pena para evitar o risco de passar pela via deserta com uma criança — disse Tatiana.

A mesma iniciativa tiveram o empresário Hélio Gonçalves, de 65 anos, e sua mulher, Maria Conceição Silva, de 54, moradores da Barra, que também fariam check in às 4h.

— Em função da violência nas linhas Vermelha e Amarela, as pessoas que vão embarcar bem cedo estão sendo obrigadas a se deslocar para o aeroporto antes do anoitecer para evitar assaltos — disse Hélio.

As duas famílias não estão sozinhas nessa busca por meios de driblar a insegurança.

— Do meio do ano passado para cá, aumentou bastante o número de moradores do Rio, principalmente da Barra, do Recreio e de Niterói, que estão pernoitando no nosso hotel para evitar a Linha Vermelha e outras vias perigosas, como a Amarela, de madrugada. Infelizmente, chegamos a esse ponto — diz Tamara Harb, executiva de vendas de um hotel dentro do Terminal 1, onde o pernoite para casal custa R$ 377, com café da manhã e transporte para o Terminal 2.

Outra opção a 500 metros do aeroporto é um hotel que recebeu, no primeiro trimestre deste ano, 6,2% de cariocas. O pernoite para casal custa a partir de R$ 339, com café da manhã e serviço de van gratuito 24 horas para levar os passageiros até o aeroporto.

A demanda vem crescendo ao ponto de uma sala VIP, com suítes e banheiros, no edifício-garagem do Terminal 2 ter estendido seu horário de funcionamento, desde junho do ano passado, para 24 horas. Aumentou seu público em 118% entre fevereiro de 2018 e o mesmo mês deste ano. O valor por pessoa para usar o serviço é de R$ 130 e inclui o uso de chuveiro e bufê de sanduíches, petiscos e bebidas.

— Nosso horário de pico é o final da tarde, com passageiros aguardando a abertura do check in de madrugada, e pela manhã, com pessoas que chegam em voos muito cedo e aguardam clarear para sair. Temos recebido muitas famílias com crianças — diz Marcia Peixoto, gerente de vendas e marketing da empresa que oferece o serviço.

Mercado se adapta

E é de olho nesse público que o mercado já está se adequando. No lounge do edifício-garagem, único fora da área de embarque, uma das salas de reuniões será transformada em Espaço Kids.

Para atender melhor as famílias, Elson Freire, sócio de uma empresa de transporte executivo, acaba de somar à frota blindada de cinco sedans uma van para grupos.

— Desde outubro, aumenta o número de moradores do Rio usando traslado blindado, pessoas que conhecem a cidade e se dispõem a pagar a partir de R$ 600. São em média quatro serviços por mês, principalmente de famílias da Barra — diz Elson.

Apesar de seus carros terem blindagem 3A, a mais resistente permitida para civis, Elson adverte que nunca há 100% de segurança:

— O blindado dá uma sensação de segurança. E é isso que falta hoje ao carioca. Fonte: https://oglobo.globo.com

Corpo de Bombeiros trabalha com o número de pelo menos 14 desaparecidos após construções desabarem na comunidade do Rio

No fim da noite de domingo (14/04/19), os bombeiros encontraram o corpo de uma mulher sob os escombros dos dois prédios que desabaram na Muzema, no Itanhangá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro na última sexta-feira (12). A vítima ainda não foi identificada.

Os trabalhos de busca entraram no quarto dia na manhã desta segunda-feira (15) e é feito com a ajuda de cães farejadores e informações dadas pelos moradores da área. Dez pessoas morreram, e os bombeiros trabalham com o número de pelo menos 14 desaparecidos.

Segundo a prefeitura da capital fluminense, os prédios que desabaram “eram construções não autorizadas pelos órgãos municipais”. Em nota, o governo informou que os edifícios estavam interditados desde novembro de 2018.

A região das construções, que inclui outros edifícios, é uma Área de Proteção Ambiental (APA) que só permite que casas sejam erguidas. “Na Muzema, as construções não obedecem os parâmetros de edificações estabelecidos, como afastamento frontal, gabarito, ocupação, número de unidades e de vagas”, destaca a nota.

O Rio de Janeiro se encontra em estado de calamidade e tem enfrentado chuvas fortes nos últimos dias. Na segunda-feira (18), um temporal deixou 10 pessoas mortas e bairros submersos. Em 24 horas, a chuva chegou a 323 milímetros, de acordo com dados do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). Fonte: www.metropoles.com

Claudio José de Oliveira Rodrigues foi sepultado na tarde deste domingo

Evelin Azevedo

 

RIO - Eram quase 17h quando o corpo do pastor Claudio José de Oliveira Rodrigues, de 40 anos, foi sepultado no Cemitério do Pechincha, na Zona Oeste do Rio. O homem é uma das nove vítimas do desabamento dos dois prédios na Muzema. A esposa, Adilma Rodrigues, está internada no hospital Lourenço Jorge, na Barra, em estado grave, e não sabe da morte do marido. A filha do casal, a pequena Clara de 10 anos, teve ferimentos leves e esteve no enterro, consolando seus parentes.

O cortejo e o sepultamento foi conduzido por músicas evangélicas. O sobrinho de Cláudio, Bruno Rodrigues, passou a noite de segunda-feira na casa do tio. Na terça, ao ver a destruição causada pela chuva que assolou o bairro, decidiu ir para casa.

— Ele morava no apartamento há uma semana. Deu o carro de entrada e pagaria o resto parcelado. Não sei quanto ficou no total.

O velório tinha mais de cem pessoas, todos muito comovidos com a morte do líder religioso. Fieis da igreja Assembleia de Deus Ministério Missões fizeram uma camisa em homenagem a Cláudio, com um versículo bíblico nas costas.

Sobre o caixão de Cláudio havia uma camisa do Muzema Futebol Clube, time que o pastor jogava nos fins de semana. De acordo com Bruno, a vítima é ex-jogador de futebol, tendo passado por times da Europa. Enquanto jogava bola, fazia também um trabalho missionário.

— Ele era pastor há 15 anos. Fazia parte dos “Atletas de Cristo”. Ele voltou para o Brasil quando a esposa ficou grávida — relembra.

O irmão de Cláudio, o comerciante José Carlos Rodrigues, de 49 anos, mora em São Paulo e veio ao Rio para o sepultamento do irmão mais novo.

— A última vez que falei com ele foi na quinta-feira às noite, ele estava organizando a limpeza da região onde morava, que ficou muito destruída após a chuva. Ele foi dormir às 4h da manhã — diz José Carlos.

Enquanto conversavam por aplicativo de mensagens, os irmãos faziam planos para o futuro.

— Disse para ele que tinha vontade de abrir um restaurante no nordeste. O Cláudio queria que fosse aqui no Rio, falou que os amigos jogadores de futebol poderiam ajudar na divulgação. Mas ele disse que se eu fosse abrir no nordeste, ele iria comigo. Só que aconteceu essa tragédia — contou José Carlos. Fonte: https://oglobo.globo.com

O youtuber tem mais de 35 milhões de seguidores

Através do Twitter o youtuber Whindersson Nunes pediu ajuda ao revelar que tem se sentido muito triste e angustiado e que até mesmo teria perdido a vontade de viver.

Dono do maior canal do Youtube no Brasil, com 35 milhões de seguidores, o humorista declarou que só tem conseguido ser feliz no palco e que entende que precisa de ajuda médica.

Mesmo com fama e muito dinheiro, ele entende essas coisas não são suficientes e não o fazem ter vontade de continuar vivo.

“Sinto uma angústia todos os dias, todos os dias, algumas risadas, algumas brincadeiras, e depois lá estou eu de novo com esse sentimento ruim.  Me sinto mal por não poder me ajudar, mesmo eu às vezes ajudando alguém, procuro ajuda nos amigos, na família. Mas eu me sinto tão triste, tão triste”, escreveu.

Na sequência de tuítes ele revela: “Por favor, me perdoe por falar isso, por favor, eu amo vocês demais, demais mesmo, f**** o dinheiro, os números, mas eu não sinto tanta vontade de viver, me desculpe, eu precisava falar para alguém a não ser a minha esposa que é incrível”.

Whindersson deixa claro que nunca tentou tirar a própria vida, mas está muito incomodado com as pessoas em sua volta que só pensam em tirar proveito do seu sucesso. Fonte: www.gospelprime.com.br

O momento mais significativo do silêncio de Jesus é a Paixão. Aqui o silêncio é muito mais denso do que as palavras. Na Paixão, Jesus fala poucas vezes, nunca para se defender, mas apenas para explicar a sua identidade. O silêncio é uma palavra importante para explicar quem ele é.

A reflexão é do biblista e sacerdote italiano Bruno Maggioni , professor da Universidade Católica de Milão. O artigo foi publicado no jornal italiano Avvenire, 10-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Quando se menciona o silêncio de Jesus, imediatamente o pensamento se volta para o silêncio da Paixão. E, na verdade, é ali que o silêncio atingiu o ponto mais alto de seu poder expressivo. Às vezes, o silêncio diz mais do que as palavras.

Mas os Evangelhos não falam apenas do silêncio da Paixão. Há também o silêncio do homem que permanece em silêncio diante de Jesus, ou porque a sua palavra o enche de admiração, ou porque a sua verdade o incomoda. E há o silêncio de Jesus diante de questões espúrias, ou inúteis, aqueles que fingem interrogá-lo. E há o silêncio que Jesus impõe a quem gostaria de falar com ele antes de ter um vislumbre da novidade, que é a Cruz.

Para a pergunta feita por Jesus na sinagoga de Cafarnaum (Mc 3, 1-6), se era melhor, no sábado, salvar a vida ou destruí-la, os fariseus, que estavam a observá-lo, não responderam: "Mas eles se calavam". Não é o silêncio de quem não sabe e está prestando atenção, mas é o silêncio de quem observa para acusar. É o silêncio do homem que, não tendo nenhuma razão para se opor a uma verdade que o incomoda, recorre à violência para silenciar o profeta que a pronuncia.

E, de fato, o episódio termina dizendo que "os fariseus saíram da sinagoga e, junto com os herodianos, faziam um plano para matar Jesus" (3, 6). Esse é um silêncio obstinado, imóvel, consciente, resultado de um coração endurecido, que não vai se deixar, por motivo algum, perturbar pela pergunta que o coloca em questão. Um silêncio irritante, um dos poucos casos em que os evangelistas escrevem a indignação de Jesus: "Jesus então olhou ao seu redor com indignação, entristecido com a dureza dos seus corações". Indignado e triste: a raiva e a compaixão. Por trás da obstinação que desperta indignação, Jesus descobre o vazio dessas pessoas e sente pena delas. Um homem que se fecha para a escuta se fecha para a vida.

Diante de perguntas insinceras, Jesus opõe o silêncio. Assim foi diante dos fariseus que lhe pediram um "sinal do alto": "E, deixando-os, Jesus entrou de novo na barca e se dirigiu para a outra margem" (Mc 8, 13).

Após a purificação do templo (Mc 11, 27-33), fazem a Jesus uma pergunta importante ("Com que autoridade fazes tais coisas?"), mas insincera; e ele não responde. É inútil responder se não houver sinceridade na busca. Jesus não está disposto a ter um diálogo fingido.

Comovente e majestoso, em seguida, é o silêncio de Jesus diante de Herodes (Lc 23, 8-11), que lhe interroga "com muitas perguntas". Mas essas são perguntas curiosas, superficiais, porque não surgem do desejo da verdade, mas da esperança de ver algum prodígio. E Jesus não responde.

Mais do que os outros evangelhos, o de Marcos recorda várias vezes que Jesusimpunha o silêncio àqueles que queriam divulgar a sua messianidade. Não permitia que os demônios falassem dele "porque o conheciam" (Mc 1, 25.34). Ordena ao leproso a não contar a ninguém (1, 44). Recomenda vivamente que ninguém fique sabendo da ressurreição da filha de Jairo (5, 43). Também dá aos discípulos ordens estritas para não contar a ninguém sobre a sua messianidade (8, 30).

Mas, depois, diante do sumo sacerdote e do Sinédrio, será Ele mesmo que vai proclamá-la abertamente (14, 61). O fato é que as circunstâncias mudaram: antes, a sua messianidade corria o risco de ser mal interpretada; durante a Paixão, não mais. O Messias já não corre o risco de ser separado da Cruz. Pelo contrário, é claro para todos que a sua messianidade deve ser lida precisamente a partir da Cruz, seja para reconhecê-la (15, 39), seja para rejeitá-la (15, 29-32). Não basta a coragem do anúncio para fazer um verdadeiro discípulo. Também deve haver o espaço de silêncio necessário para compreender a novidade de Jesus. Caso contrário, fala-se d'Ele sem comunicar a novidade que surpreende, diante da qual a indiferença não tem lugar (como sempre, ao invés, diante do que é dado como certo), mas apenas o sim e o não.

É surpreendente o silêncio de Jesus diante da morte de Lázaro (Jo 11). Jesus deixa cair no silêncio a demanda das irmãs: "Senhor, o teu amigo está doente" (11, 2). Jesus se cala diante de uma pergunta que nasce da angústia, de uma pergunta feita por uma pessoa amada. Esse comportamento pode parecer desconcertante. Na realidade, é o espelho do silêncio de Deus, um silêncio que o próprio Jesus encontra na sua oração no Getsêmanie na sua pergunta sobre a Cruz.

O relato do Getsêmani (Mc 14, 32-42) é, aparentemente, um diálogo. Jesus fala cinco vezes, sempre dirigindo-se para alguém: aos discípulos ou ao Pai. Mas ninguém lhe responde, quase como se fosse um monólogo. As cinco palavras de Jesus caem no vazio, até mesmo a sua oração ao Pai.

Mas queremos comentar esse texto com um poema do padre Davide Turoldo. Os seus últimos poemas foram reunidos em um livro intitulado Canti ultimi (Ed. Garzanti, Milão, 1991). Últimos porque são os últimos cantos da sua vida, mas últimos também porque falam da experiência última do homem, a mais profunda, a mais reveladora: o homem diante da morte, o homem na sua verdade nua. O Pe. Davide viveu a sua longa experiência de dor com o olhar fixo na Cruz de Jesus.

Na sua poesia, a experiência de Jesus e a sua própria se sobrepõem, iluminando-se reciprocamente. Entre os seus poemas mais belos está, talvez, esta releitura do Getsêmani: "Te invocava com nome muito terno:/ o rosto no chão / e pedras no chão banhadas / com gotas de sangue:/ as mãos seguravam punhados / de relva e de lama: / repetia a oração do mundo:/ "Pai, Abba, se possível"... / só um raminho de oliveira / balançava acima da sua cabeça / um silencioso vento...".

O motivo do silêncio de Deus é recorrente na poesia de Turoldo: ele o entrevê na paixão de Jesus e o encontra em si mesmo: "Mas nem um espinho Tu / tiraste da tua coroa... e nem uma mão / despregaste do lenho...". A experiência do silêncio de Deus não fala da fraqueza da fé, mas sim da profundidade e da humanidade da fé, e leva para o centro do homem e da história, lá onde Deus e o homem parecem se contradizer, onde Deus parece ausente ou distraído, onde a morte parece ter a última palavra sobre a vida e a mentira, sobre a verdade. Mas, se compreendido no mistério de Cristo, então o silêncio de Deus aparece na sua realidade, ou seja, como uma forma diferente de falar.

De fato, no Getsêmani, o Pai falou: não com o milagre que liberta da morte, mas com a coragem de enfrentar a morte, atravessando-a. Se, no início, Jesus está angustiado e petrificado, no fim, após de ter rezado, Ele voltou a ficar sereno e pronto: "Levantem-se! Vamos! Aquele que vai me trair já está perto" (Mc 14, 42).

O momento mais significativo do silêncio de Jesus é a paixão. Aqui o silêncio é realmente mais denso do que as palavras. Na paixão, Jesus fala poucas vezes, nunca para se defender, mas apenas para explicar a sua identidade. O silêncio é uma palavra importante para explicar quem Ele é.

Solicitado pelo sumo sacerdote para responder às muitas acusações, Jesus se cala (Mc 14, 60). É o silêncio de quem, também na humilhação, ainda conserva intacta a sua dignidade. É o silêncio de quem está lucidamente consciente da insinceridade dos juízes, que fingem um interrogatório, já tendo decidido,na realidade, a condenação: é inútil se defender. A verdade se cala diante da violência, não porque não tenha nada a dizer, mas porque já disse tudo e é inútil dizer de novo. Acima de tudo, é o silêncio do justo, que, diante das acusações, não se defende, porque colocou a sua confiança inteiramente no Senhor, que não abandona.

Esse silêncio de Jesus sugere diversas alusões ao Antigo Testamento. A mais conhecida é a de Isaías 53, 7: "Maltratado, aceitou a humilhação e não abriu a boca". Diante dos homens que o condenam por causa da sua justiça, o silêncio do servo do Senhor expressa dignidade; e diante de Deus expressa aceitação e confiança: "Estou em silêncio, não abro a boca, porque és Tu quem ages" (Sl 39, 10). Esse silêncio de Jesus foi retomado depois e interpretado em um hino da primeira comunidade cristã: "Ultrajado, não respondia com ultrajes; sofrendo, não ameaçava vingança, mas confiava naquele que julga com justiça" (1Pd 2, 23).

Nos relatos da paixão, ao lado dos personagens expressamente nomeados, está sempre presente - aparentemente na sombra, mas na realidade muito luminosa - a figura do Justo sofredor, que Jesus revive e engrandece. É uma figura sem tempo, presente em todos os momentos da história e em todos os lugares. Jesus é a sua gigantografia. É a figura do homem que anuncia a verdade e, justamente por isso, é atingido. Como já observado, uma característica importante dessa figura é o silêncio. Não expressa indiferença, mas dignidade. E é um silêncio que fala mais do que muitas palavras.

A cena dos ultrajes (Mc 14, 65) é de surpreendente densidade. Não há uma palavra a mais, nem um adjetivo, nem uma redundância, nem alguma aparência de retórica. Mas, justamente por isso, a figura de Jesus insultado e espancado é esculpida ao vivo, como em uma pedra. Em uma espécie de jogo de "cabra-cega", com o rosto coberto, golpeado, Jesus tem que adivinhar quem bate nele. Ele afirmou ser o Messias e profeta, que o demonstre!

Mas Jesus está em silêncio e não adivinha. E assim, de um lado, a pretensão de ser o Messias, que está sentado à direita de Deus e que vem sobre as nuvens do céu; por outro, o silêncio de um pobre homem que nem sequer (parece) sabe quem o fere. A evidência contra a pretensão, aqui está o contraste que tanto faz rir. Mas aqui também está a razão que faz crer. O silêncio de Jesus, de fato, pode ser lido de duas maneiras: como a prova da total improcedência da sua pretensão messiânica, ou como a revelação da surpreendente e fascinante novidade do seu ser Messias. Um Messias que está no jogo e adivinha quem o golpeia é uma absoluta obviedade. Ao invés, um Messias que está no jogo do seu jeito e não adivinha quem o fere, mas permanece em silêncio revela toda a sua diferença, uma diferença teológica, a diferença que existe entre o modo com que o homem imagina Deus e o modo como Deus realmente é.

No relato joanino do processo romano, também se menciona o silêncio de Jesus (19, 9). Ele respondeu à pergunta sobre a sua realeza, até mesmo demorando para deixar clara a diversidade. A novidade de Jesus não pode abrir mão da palavra que a explica. Mas também precisa do silêncio. Jesus permanece em silêncio nos dois momentos culminantes: quando a sua realeza é ridicularizada (19, 1-3) e quando ela é mostrada em público (19, 5). Justamente quando a sua realeza, ridicularizada e rejeitada, tinha maior necessidade de uma palavra ou de um sinal, Jesus não diz uma palavra nem faz um gesto.

Mas a anotação explícita do silêncio de Jesus, João reserva para a pergunta mais importante (19, 9): "De onde tu és?". Aqui não está mais em discussão simplesmente a sua realeza, mas sim o mistério mais profundo da sua origem. E sobre isso Jesus se cala. Não colabora, deixando Pilatos sozinho diante da pergunta que o perturba: ou porque é inútil dizer, uma vez que tudo já foi dito; ou porque a resposta deve ser buscada nos fatos que Pilatos vê e não nas palavras que ele poderia ouvir; ou porque é uma pergunta que só pode ser respondida por quem a faz. Diante do mistério que o interpela e o inquita, cada homem deve encontrar pessoalmente a resposta. É uma decisão pessoal que não pode ser delegada a ninguém, uma resposta que nem Deus pode dar no seu lugar.

Nos relatos de Marcos (15, 24-39) e Mateus (27, 32-50) em torno do Crucificado há muitos que falam: os transeuntes, os sacerdotes, os guardas, os dois ladrões. Todos falam de Jesus e contra Jesus, mas Ele se cala. Dirige uma pergunta para o seu Deus ("Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?") que cai no silêncio. Morreu com um grito sem palavras: "Mas Jesus deu um forte grito e expirou". E, no fundo, mais nítida do que nunca, a grande figura do Justo sofredor, evocada pelo Salmo 22.

O Pai falará, mas depois, com a ressurreição. A Cruz é o momento em que cabe ao Filho manifestar toda a sua confiança no Pai. Cabe ao crucificado manifestar até que ponto um Filho de Deus compartilha a experiência do silêncio que o homem encontra diante do seu Deus. Cabe ao Crucificado revelar até que ponto chega o amor de Deus. Toda essa surpreendente revelação está contida no silêncio de Jesus na Cruz. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Ao menos 13 pessoas ainda eram consideradas desaparecidas; prédios vizinhos aos que desabaram foram interditados e evacuados.

As buscas por desaparecidos na tragédia da Muzema, comunidade na Zona Oeste do Rio, entram no segundo dia neste sábado (13). Ao menos 12 pessoas são consideradas desaparecidas no local onde dois prédios desmoronaram no início do dia anterior.

Pela manhã, uma equipe de mais 30 bombeiros chegou ao local para reforçar os trabalhos. Cães farejadores auxiliam nas buscas.

Com a localização e retirada de mais dois corpos - de um homem e de uma mulher - nesta madrugada, chegou a seis o número de pessoas mortas na tragédia. Dez pessoas ficaram feridas e uma delas, um garoto de 12 anos resgatado após cerca de 15 horas soterrado, morreu nesta manhã no hospital para onde foi socorrido.

No final da noite de sexta-feira (12), os bombeiros resgataram com vida o menino de 12 anos que estava sob os escombros. Segundo a corporação, o resgate de Hilton Guilherme Sodré de Souza foi por volta das 23 horas.

Com fratura em uma das pernas e ferimentos no rosto, mas consciente, o garoto deixou o local de ambulância e foi levado para o Hospital Miguel Couto, na Gávea. Os pais dele, Hilton Berto Rodrigues Souza e Maria de Nazaré Sá Sodré, estão entre os desaparecidos.

Com a confirmação da morte do garoto, chegou a sete o número de mortos e nove feridos. Fonte: https://g1.globo.com

Ao menos duas pessoas morrem e duas ficam feridas em desabamento de prédios na Muzema, Zona Oeste do Rio

Há 17 desaparecidos, e corpo de Bombeiros trabalham no resgate de mais vítimas em condomínio na comunidade, no Itanhangá

RIO - Ao menos duas pessoas morreram e duas ficaram feridas no desabamento de dois prédios de seis andares na manhã desta sexta-feira no Condomínio Figueira do Itanhangá, na favela da Muzema, no Itanhangá, Zona Oeste do Rio. Equipes do quartel do Corpo do Bombeiros de Jacarepaguá estão no local, na Estrada de Jacarepaguá, 370, em busca de mais vítimas. Segundo a corporação, há 17 desaparecidos e a área de isolamento foi ampliada porque outros dois prédios correm risco de cair.

Moradores estão improvisando macas para ajudar a socorrer pessoas. De acordo com um morador, um homem, uma mulher e uma criança foram resgatados com vida. Segundo a prefeitura, as duas construções eram irregulares. A região é conhecida por ser comandada pela milícia.

Em entrevista ao Bom Dia Rio, uma moradora, identificada como Érica, afirmou que a mãe, Maria Silva de Abreu, estava em casa e pode estar embaixo dos escombros de um dos prédios.

- Aqui, constroem sem parar, é uma poeirada sem fim. Só pensam em construir e vender, não importa as condições - lamenta a moradora.

Um morador, de prenome Edvaldo, que morava no primeiro andar de um dos prédios há mais de um ano, disse que, quando ouviu o barulho do teto caindo, correu para a sala e conseguiu escapar.

- Tudo desabou em cima de mim. Os vizinhos tiraram uma parede da frente, consegui sair pela sala. No desespero, você não quer mais chegar perto do prédio, quero ficar bem longe disso aí - disse Edvaldo. Fonte: https://oglobo.globo.com

Francesc Miralles

A verdadeira liberdade pode residir em conseguir ser feliz sem precisar da aprovação alheia

UM DOS LIVROS mais populares dos últimos anos no Japão reúne as conversas entre um jovem insatisfeito e um filósofo que lhe ensina, entre outras questões, a arte de não agradar aos outros. É um tema sensível numa cultura tão complacente como a nipônica, mas este compêndio de conversações entrou também nas listas de mais vendidos dos Estados Unidos, e no Brasil foi publicado como A Coragem de Não Agradar (Sextante).

O mestre é Ichiro Kishimi, especialista em filosofia ocidental e tradutor de Alfred Adler, um dos três gigantes da psicologia junto com Freud e Jung. E é justamente o pensamento de Adler que articula o diálogo com o jovem Fumitake Koga sobre como se emancipar da opinião alheia sem se sentir marginalizado por causa disso.

O debate socrático que eles mantêm ao longo das mais de 260 páginas do livro parte dessa ideia central: todos os problemas têm a ver com as relações interpessoais. Nas palavras do próprio Adler, “se as pessoas querem se livrar dos seus problemas, a única coisa que pode fazer é viver sozinhas no universo”. Como isso é impossível, sofremos por alguma destas razões ao nos relacionarmos com os outros:

- Sentimos um complexo de inferioridade em relação a quem “conseguido mais” do que nós.

- Sentimo-nos injustamente tratados por pessoas que amamos ou ajudamos e que não nos correspondem como esperamos.

- Tentamos desesperadamente agradar os outros para obtermos sua aprovação.

Este último ponto se transformou em um vício generalizado. Podemos vê-lo claramente nas redes sociais, onde publicamos posts procurando a aprovação dos outros na forma de curtidas e comentários. Quando uma foto ou uma reflexão importante para nós obtém poucas reações, podemos chegar a nos sentir ignorados. Também nas relações analógicas, muitos problemas interpessoais têm a mesma origem: não recebemos do outro o que acreditamos merecer. O fato de não nos agradecerem suficientemente por alguma delicadeza que fizemos, por exemplo, pode desatar o ressentimento e esfriar uma amizade.

Sob este desejo de concessões há uma ânsia de reconhecimento. Se o outro me agradecer, se apreciar o meu trabalho, se corresponder ao meu favor com um ato amável, então me sentirei reconhecido. Se isso não acontecer, interpreto como se eu não tivesse feito nada, como se não existisse para o outro. Essa visão é um poderoso gerador de problemas, já que as relações nunca são totalmente simétricas. Há pessoas que desfrutam dando, e outras que transmitem a impressão, mesmo que incorreta, de que não querem receber nada. Isso provoca muitos mal-entendidos, somado ao fato de que cada indivíduo tem uma forma diferente de expressar seu amor e gratidão. Há pessoas que verbalizam de maneira imediata e direta o que sentem por nós, e outras que nos apreciam igualmente, mas têm menos facilidade para expressar amor, ou o fazem de forma diferida, quando encontram o momento e lugar adequados.

Todas as opções são corretas, sempre que nos liberemos da ânsia por encontra uma compensação imediata e equitativa, como em um comércio no qual será preciso receber imediatamente pela mercadoria entregue.

Conforme afirma o professor Ichiro Kishimi, “quando uma relação interpessoal se alicerça na recompensa, há uma sensação interna que diz: ‘Eu lhe dei isto, então você tem que me devolver aquilo’”, o que é uma fonte inesgotável de conflitos.

Porque, além das diferentes maneiras de expressar afeto, encontraremos pessoas que simplesmente não nos entendem ou inclusive não gostam de nós. Fazer um drama por causa disso transformará nosso dia a dia em um terreno fértil para os desgostos. A verdadeira liberdade inclui não nos importarmos com o fato de algumas pessoas não irem com a nossa cara, porque estatisticamente é impossível agradar a todos. Deixar de nos preocupar com o que os outros acham de nós, especialmente os que não nos entendem, é o caminho para a serenidade.

“Quando desejamos tão intensamente que nos reconheçam, vivemos para satisfazer as expectativas dos outros”, afirma Ichiro Kishimi, e com isso já deixamos de ser livres. Não exigir contrapartidas e se permitir viver à sua maneira, dando-se inclusive o direito de não agradar, é algo que traz liberdade, paz mental e, afinal, melhores relações com demais.

Não leve para o pessoal

- Em Los Cuatro Acuerdos, célebre ensaio publicado em 1998 por Miguel Ruiz, a segunda lei diz: “Não leve nada para o lado pessoal”. O médico mexicano argumenta que para manter o equilíbrio emocional e mental não se pode dar importância ao que ocorre ao nosso redor, já que “quando você encara as coisas de forma pessoal, sente-se ofendido e reage defendendo suas crenças e criando conflitos. Faz uma montanha a partir de um grão de areia”.

- Deixar de lado a necessidade de ter razão. Parar de gastar energia em tentar convencer os outros, que têm suas próprias crenças, é profundamente libertador. Quem anda pelo mundo levando tudo para o lado pessoal vê inimigos por toda parte e nunca consegue ficar verdadeiramente tranquilo, já que sempre tem contas pendentes que circulam por sua mente, causando sofrimento.

- Segundo Miguel Ruiz, nada do que as outras pessoas fizerem ou disserem deveria nos fazer mal se assumimos o seguinte axioma: “Você nunca é responsável pelos atos de outros; só é responsável por si mesmo”.

Francesc Miralles é escritor e jornalista experiente em psicologia.

Fonte: https://brasil.elpais.com

Chegando- OU TENTANDO CHEGAR- no Rio de Janeiro nesta terça-feria, 9 de abril-2019.

O número acaba de subir para 10. Depois de um corpo ser resgatado no morro da Babilônia, na Zona Sul, a GloboNews confirmou com o Corpo de Bombeiros que um outro morador morreu afogado em Santa Cruz, na Zona Oeste.

Dois prédios sofreram com deslizamentos na rua Barão da Torre, em Ipanema, na Zona Sul do Rio.

"Os piscinões são um sucesso. Foram dimensionados corretamente, acho que pro Jardim Botânico deveriam ter 40 milhões de litros. Precisamos fazer em outras áreas da cidade", finalizou o prefeito Marcelo Crivella em entrevista à TV Globo.

"A partir do momento que a chuva nos surpreendeu, fomos chegando para cá. Estamos trabalhando há mais de 12 horas. Nós deveríamos ter equipes onde tivéssemos a maior possibilidade de chance de problemas. Já tinha pensado no problema que tivemos na vez passada (na chuva em fevereiro) e infelizmente não implantamos. Na próxima vez, assim que for decretado o estado de atenção, vamos nos reunir e vamos decidir juntos", disse Crivella.

Quatro comportas na cidade do Rio, segundo o prefeito do Rio, foram abertas para escoar a água das chuvas. "O presidente da Rio Águas me garantiu que todas elas estavam abertas. Mas tivemos grande quantidade de chuva e um aumento de nível da Lagoa Rodrigo de Freitas".

Crivella afirmou ainda que 15 carros de sucção estão sendo utilizados para diminuir os impactos da chuva, e agradeceu à Cedae e à empresa responsável na Zona Oeste. "Uma parte deste lixo atrapalhou a drenagem", lembrou também sobre o lixo nas ruas.

Em entrevista à TV Globo, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella afirmou que a prefeitura não tem funcionários próprios para os setores responsáveis em caso de chuvas fortes como as de segunda-feira.

"Houve atraso em alguns pontos principais da cidade. Desde ontem, temos feito um trabalho hercúleo. Amanhã de manhã, tenho certeza que apenas a avenida Niemeyer estará fechada", afirmou Crivella. Fonte: https://g1.globo.com

O homem, que é separado da mãe, ficou revoltado ao ver o filho brincando com um batom e com o rosto sujo de maquiagem; vitima foi atendida no Hospital da Criança de Uberaba (MG) e o agressor, detido

Por Redação

Uma criança de apenas três anos foi espancada pelo próprio pai, na noite desta segunda-feira (8), na cidade de Uberaba (MG). A agressão teria motivação homofóbica.

De acordo com o Boletim de Ocorrência, registrado pela mãe, o menino estava na casa do pai com a irmã de 13 anos e levou chineladas do homem nas costas. O motivo foi o fato da criança ter brincado com um batom e sujado o rosto de maquiagem. “Na minha família não tem viado”, teria afirmado o agressor.

A irmã da criança, então, contatou a mãe, que é separada do homem, e ela teria saído do trabalho para buscar os filhos e prestar queixa na polícia. Antes, ainda teria sido ameaçada pelo ex-companheiro.

Por conta das lesões, o menino teve que ser atendido no Hospital da Criança de Uberaba. Ele foi liberado e passa bem.

Já o pai da criança foi localizado em sua casa pela Polícia Militar e detido. Ele confessou o crime e disse que havia ingerido bebida alcoólica. Segundo a Polícia Civil, foi liberado após assinar um Termo Circunstânciado de Ocorrência (TCO) por maus-tratos e passará por uma audiência no juizado especial da cidade. Fonte: www.revistaforum.com.br

Renato Santino

Conheça as funções que logo estarão disponíveis no seu celular

O WhatsApp está constantemente mudando. Se você utiliza apenas a versão convencional do aplicativo, as novidades podem chegar de forma mais espaçada, mas o público que se aventura com a versão beta sempre recebe uma atualização experimental para conferir antes do resto dos usuários.

Neste momento, o aplicativo está testando uma série de novos recursos que devem chegar a qualquer momento. Alguns deles já estão disponíveis para os usuários do beta; outros foram confirmados, mas ainda não estão acessíveis, enquanto outros são esperados há algum tempo.

Veja as novidades que estão a caminho:

Reprodução automática de áudio no Android

Usuários do iOS já têm desde o ano passado este recurso, e ele finalmente começou a chegar para usuários do Android. A função é extremamente útil para quem já se deparou com aquele “paredão” de áudio ao abrir o WhatsApp, com várias mensagens enviadas na sequência.

O WhatsApp agora vai entender quando muitas mensagens de áudio forem enviadas em um espaço de tempo curto e engatará a reprodução da próxima assim que a execução da primeira terminar.

A função já está disponível para usuários da versão beta do WhatsApp para Android e não deve demorar muito para chegar a todos os usuários.

Modo escuro

Um pedido antigo do público, que pode ser útil em vários aspectos. O modo escuro tem a vantagem mais óbvia de tornar o uso do aplicativo mais confortável quando você está em ambientes escuros, sem precisar levar um jato de luz na cara.

Além disso, para quem usa celulares com tela AMOLED, existe uma segunda vantagem. Como cada pixel é individualmente aceso para formar a imagem na tela, o modo escuro permite que os pontos pretos se mantenham totalmente apagados, o que ajuda a economizar energia. Se você usa muito o WhatsApp, o ganho de autonomia do celular pode ser considerável.

O recurso ainda está em desenvolvimento interno e não está acessível nem mesmo na versão beta, mas ele deve começar a chegar aos primeiros usuários em breve.

Dedo-duro de spam

Assim como sua empresa-mãe, o Facebook, o WhatsApp tem lidado com seus próprios problemas com boatos, com impacto bastante negativos na sociedade. Na Índia, onde a presença do aplicativo é muito forte, houve ondas de linchamentos resultantes de correntes falsas compartilhadas sem cuidado; no Brasil, também não precisamos ir muito longe para lembrar de como o app virou uma arma para difusão de mentiras durante as eleições.

Há algum tempo, o aplicativo começou a mostrar quando uma mensagem é encaminhada em vez de redigida pelo próprio remetente. Agora, o próximo passo é mostrar quando aquela mensagem foi encaminhada muitas vezes, o que poderá ser feito olhando os dados de uma publicação. Lá haverá a informação de quantas vezes aquela mensagem foi encaminhada, o que reforça seu caráter viral e, muito provavelmente, falso.

A função ainda não foi implementada, mas deve chegar primeiro à Índia, onde a questão dos boatos é fortíssima e onde haverá eleições dentro de pouco tempo.

Bloqueio por impressões digitais

A autenticação em duas etapas do WhatsApp é útil para impedir que alguém use sua conta sem permissão, mas ela não é o método mais eficaz de bloqueio do app para impedir que alguém acesse seu perfil se tiver o celular em mãos. Em breve, será possível bloquear o

WhatsApp com biometria.

No iOS, essa função foi implementada com suporte ao FaceID e TouchID, e agora está em desenvolvimento para o Android. Com ela, você poderá utilizar usar a impressão digital cadastrada no seu celular para impedir que outras pessoas leiam suas conversas.

Trata-se de mais uma função que está em desenvolvimento interno e ainda não tem previsão de lançamento, mas está a caminho.

Pagamentos

O WhatsApp já havia anunciado há algum tempo uma função de pagamentos, que permite a transferência de dinheiro entre usuários, visando inicialmente a Índia. O Brasil deve estar entre a próxima leva de países a receber a funcionalidade.

Espera-se que em algum momento seja implementado um sistema que utilize criptomoedas, mas por enquanto, no entanto, o WhatsApp Payments funciona sem depender delas. Na Índia, ele opera integrado ao UPI, o sistema unificado de pagamentos do país, que integra bancos e instituições financeiras locais, o que significa que você pode associar seu WhatsApp a uma conta bancária e transferir seu dinheiro a partir da sua conta corrente.

Na Índia, para usar o recurso é necessário fazer a verificação do número telefônico mais uma vez para fazer a associação do app a uma conta bancária. Então, basta abrir uma conversa com outro usuário habilitado a receber pagamentos, selecionar o ícone de pagamentos e definir a quantia a ser transferida.

Ainda não se sabe quando essa função pode chegar ao Brasil.

Busca avançada de mídia

O WhatsApp vai ganhar mais um recurso para facilitar a vida de quem costuma buscar por mensagens ou imagens antigas no aplicativo. O recurso, chamado de Pesquisa Avançada, está em desenvolvimento e deve dar as caras dentro de algum tempo para usuários do Android e do iOS.

A vantagem da busca avançada é que é possível filtrar as categorias de busca. Em vez de pesquisar apenas por mensagens, é possível observar também as imagens, GIFs, vídeos, documentos, links e áudio que são trocados por meio do WhatsApp. Atualmente, não há um modo simples de recuperar arquivos de mídia que são enviados ou recebidos por meio do app.

O recurso foi descoberto primeiro no iOS, ainda em desenvolvimento interno, e está inacessível, mas chegará primeiro aos celulares da Apple e, posteriormente, aos aparelhos Android. Fonte: https://olhardigital.com.br

Dois casos de injúria racial ocorridos em plena Savassi, região Centro-Sul de BH, tiveram investigação aberta pela Polícia Civil. Um deles ocorreu nessa terça-feira (2), dentro da loja da Vivo, na Praça Diogo de Vasconcelos. No local, funcionários contam que Sílvio Augusto Catão, 60 anos, ficou furioso com a falta de uma informação nos panfletos e xingou atendentes e clientes que estavam na loja. 

 “Ele se exaltou de forma totalmente desnecessária, viu a aliança no meu dedo e falou: você é casada com mulher, né? Você é sapatão”, disse uma funcionária. “Ele começou a gritar: sapatão, me chamou de lixo, analfabeta, que eu recebia salariozinho, que ele era PHD”, detalhou a atendente, que diz ter ficado sem reação. Mesmo assim, só não foi agredida porque um colega de trabalho interviu e virou alvo do homem.

“Quem você é, seu negrinho? Telefonia é assim: só trabalha viado, sapatão. Olha só, um negrinho desse, atrevido e analfabeto, lixo”, contou o funcionário. 

Outro cliente que estava na loja tentou acalmar os ânimos, mas também foi chamado de macaco. Ele partiu para cima do homem, que correu e deu de frente com  policiais militares que já tinham percebido algo de errado. Sílvio foi preso em flagrante. “Durante o boletim, com quatro policiais na sala, ele fez sinal de arma de fogo com a mão e disse que não iria ficar assim”, disse a atendente ofendida.

Procurado pela reportagem da Itatiaia, Sílvio, que seria servidor da justiça federal, disse que não fala com meros repórteres.

 Advogado 

O outro caso investigado é do advogado Eduardo Nogueira Reis, 60 anos. Ele ofendeu e agrediu uma criança autista dentro da Lojas Americanas, no Pátio Savassi, na região Centro-Sul de BH. O caso ganhou repercussão nessa terça-feira (3), Dia Mundial de Consciência do Autismo. Eduardo chegou a ser preso, mas foi solto após pagar fiança.
 Fonte: http://itatiaia.sili.com.br

Quantas crianças vão ter de morrer?’ Hospital e Conselho Tutelar investigam se houve negligência.

Por Fábio Castro e Paula Resende, G1 GO

A família de Diogo Soares Carlo Carmo, de 5 anos, que morreu após esperar por atendimento por mais de 15 horas, está revoltada. Ele faleceu no corredor do Hospital Materno Infantil, em Goiânia. Um vídeo mostra o desespero da mãe do menino após saber da morte do filho.

“Quando [funcionários] chegaram correndo, correram com ele para dentro falando que iam reanimar o menino, mas já estava morto. Meu sobrinho morreu num corredor, meu sobrinho não volta mais, quantas crianças vão ter de morrer?”, desabafa a tia Divina Soares de Almeida.

Portador de Síndrome do Down, Diogo morreu na tarde de quinta-feira (28), onde deu entrada pela manhã. O corpo dele foi enterrado nesta tarde em um cemitério municipal de Goiânia.

Saga por atendimento

Diogo passou mal na segunda-feira (25), e os pais o levaram ao Centro de Atendimento Integral à Saúde (Cais) de Campinas. “Estava com suspeita de dengue, passaram medicação, retornou para casa”, disse Vinícius Alexandre, tio do garoto.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou, em nota, que o paciente foi atendido “com queixas de alergia e febre naquele dia. O exame de sangue estava normal. Ele recebeu atendimento e foi medicado de acordo com o quadro clínico que se apresentou no momento”.

Como o menino não melhorou, os pais o levaram na quinta-feira (28) ao HMI. A unidade está superlotada e interna pacientes em cadeiras da sala de espera e corredores. Em uma das cadeiras, estava Diogo.

O menino deu entrada no HMI com prioridade amarela. Isto significa que o paciente precisa de atendimento médico, mas sem risco imediato. Por e-mail, a Secretaria de Estado da Saúde disse que "a criança foi atendida e permaneceu nas cadeiras com a mãe, recebendo o tratamento prescrito e aguardando vaga em leito".

"Porém, o quadro da criança evoluiu com muita gravidade não respondendo às manobras de ressuscitação na sala de reanimação, e às 13:55 foi constatado óbito", afirma. O corpo de Diogo foi encaminhado para o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), para elucidação da causa da morte.

Investigação

Conselheiros tutelares visitaram o hospital na manhã desta sexta-feira e constataram que a unidade segue superlotada. "Estamos requisitando aqui do Cais de Campinas e do HMI o prontuário para saber o que aconteceu. Se houve negligência médica, vamos fazer representação junto ao Ministério Público e à Polícia Civil”, afirmou o conselheiro Diego Peres.

A direção do hospital disse que também vai apurar as circunstâncias da morte da criança. “Nós vamos investigar, vamos ver direitinho o que aconteceu, mas garanto que não houve problema de atendimento. Eu acho precoce ainda a gente afirmar uma coisa dessas, a gente tem crianças que evoluem muito rapidamente para o óbito independente da unidade em que está”, disse Rita de Cássia Leal.

Falta de leitos

A falta de leitos no HMI foi denunciada em outras situações por pais de pacientes que também estavam recebendo tratamento nos corredores da unidade. Mães relataram que estavam há dias com os filhos em cadeiras.

Na época, a administração do hospital informou que a superlotação ocorria por falta de especialistas na rede pública municipal. Outra razão apontada foi a política deles de não negar atendimento a quem os procura, mesmo que os casos sejam menos complexos do que os usualmente recebidos pelos médicos do local.

Também na época das denúncias, a a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse que planeja inaugurar uma maternidade ainda este ano para desafogar o atendimento pediátrico.

Desabafo de médica

Antes da morte de Diogo, no domingo (24), uma pediatra escreveu uma carta de desabafo sobre a situação do hospital. Na ocasião, havia dois médicos de plantão para consultas, partos, análise de pacientes e orientação de residentes: "Trabalhamos ininterruptamente o dia todo".

Mesmo depois de 12 horas de plantão, a pediatra disse que não teve coragem de ir embora e deixar os pacientes. Ela também cita a situação das enfermeiras: "Enfermagem reduzida trabalhando, incansavelmente, com inúmeros medicamentos para fazer e mães para atender".

"Tínhamos nas cadeiras pacientes de UTI, de enfermaria de alta complexidade, pós-operatório. E consultas que não paravam de chegar. Sensação de estar em um barco à deriva e sem esperanças de melhoras", relata. Fonte: https://g1.globo.com

O golpe de 1964 para iniciantes (e para os desmemoriados) (por Ricardo Almeida)

Ricardo Almeida (*)

 

“A história é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue”.
Chico Buarque e Pablo Milanes

Os monstros saíram novamente do armário. Poderia ser mais uma história de ficção, se tudo não estivesse registrado em relatórios oficiais da CIA, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Comissão Nacional da Verdade. Seria uma viagem ao passado se aquela tragédia de 1964 não tivesse sido transformada numa grande farsa. Afinal, houve um golpe civil-militar no Brasil? Será que havia uma ameaça comunista em 1964? É preciso desmitificar essas narrativas dos militares de plantão e colocar argumentos baseados em fatos fáceis de comprovar (uma pesquisa rápida no Google) na ordem dos acontecimentos e nos seus devidos lugares.

Assim, este artigo propõe uma busca pela verdade por meio de 21 pequenas reflexões que possam contribuir para esclarecer as novas gerações, os mentirosos e os desmemoriados sobre os 21 anos de regime militar no Brasil:

  1. O governo João Goulart foi derrubado com uma forte oposição no parlamento e na grande mídia da época (rádios e jornais) e com pouquíssima resistência popular. Goulart era um advogado proprietário de terras no Rio Grande do Sul e queria fazer no Brasil o que a Europa e os EUA já tinham realizado havia mais de 150 anos: fortalecimento da indústria nacional, reforma agrária para fixar as famílias no campo, aumentar e diversificar a produção de alimentos, redistribuição de renda, aprovação de uma legislação de caráter trabalhista, ampliação da oferta de educação gratuita e de qualidade, além de outras reformas burguesas e democráticas;
  2. Um pouco antes, em 1959, a sociedade conservadora e conspiradora havia criado o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), que teve dois braços de atuação política: a) a PROMOTION S/A, uma agência de publicidade encarregada de disseminar a propaganda política nas estações de rádio, jornais, revistas e canais de televisão; b) a Ação Democrática Popular (ADEP), encarregada de financiar as campanhas eleitorais e eleger os seus representantes nos legislativos e governos de todo o país. Os recursos provinham da CIA, de empresas multinacionais ou “nacionais” associadas ao capital estrangeiro.  Em 1961, foi criado o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), que reunia a elite do empresariado brasileiro, diretores de empresas multinacionais, dirigentes das associações empresariais, militares, jornalistas, intelectuais, mulheres conservadoras e jovens tecnocratas;
  3. Assim como nos dias atuais, para explorar o povo e vender as riquezas do país, essas organizações formaram o núcleo conspirador do golpe e utilizaram as bandeiras anticorrupção e de ameaça do comunismo, pois assim elas conseguiam desviar a atenção e amedrontar as pessoas que não estavam bem informadas sobre as disputas em curso. No final de 1963, estava formado um cenário de polarização política e o governo Goulart não conseguia aprovar mais nada no Congresso;
  4. O partido que tinha a maior base eleitoral entre os operários urbanos e os pequenos e médios agricultores era o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado por Getúlio Vargas. O seu programa propunha principalmente o desenvolvimento industrial, a nacionalização dos recursos naturais e mais investimentos em educação pública;
  5. A luta armada estava fora dos planos dos partidos de esquerda. Os dois partidos comunistas (PCB e PCdoB) defendiam uma revolução democrática burguesa e anti-imperialista no Brasil que, segundo alguns clássicos do marxismo, seria uma etapa necessária para a industrialização do país e assim criar uma classe operária, para depois lutar pelo socialismo;
  6. O mundo vivia um período de Guerra Fria, com intensas disputas econômicas, diplomáticas e ideológicas entre os EUA e a URSS, e pela conquista de territórios;
  7. Havia movimentos pela reforma agrária, como as Ligas Camponesas, no nordeste, e a entrega de títulos a agricultores sem terra, no Rio Grande do Sul. Também foram realizadas algumas estatizações de empresas norte-americanas, como foram os casos da Light,  ITT, Bond and Share, entre outras;
  8. Em 1962, o presidente João Goulart assinou a Lei da Remessa de Lucros, que limitava o envio do lucro das empresas estrangeiras para o exterior, mas a regulamentação da lei só ocorreu no início de 1964 (apenas dois meses antes do golpe);
  9. A ditadura militar acabou com os partidos políticos, cassou 173 deputados e retirou os direitos políticos de 509 opositores e decretou uma forte censura à imprensa e às artes em geral. Foi criada a Operação Bandeirante (Oban), um centro de informações e investigações, e  o DOI-Codi, um órgão de repressão (e tortura) à opositores políticos;
  10. Foi implementada uma reforma educacional de conteúdo ideológico e tecnicista, tanto no ensino básico como no ensino superior. As universidades foram enquadradas no famigerado acordo MEC-USAID (United States Agency for International Development) que fragmentou as faculdades e perseguiu os estudantes que se organizavam para resistir;
  11. Milhares de pessoas foram exiladas, políticos, professores, militares e servidores públicos foram cassados e centenas de “opositores” foram mortos e “desaparecidos” pela ação de grupos militares e paramilitares;
  12. A Rede Globo foi fundada um ano após o golpe e cumpriu um papel de padronização ideológica da “opinião pública”, em todo o território nacional;
  13. As ações armadas de pequenos grupos de esquerda ocorreram bem depois do golpe, principalmente após 1969, quando os generais decretaram o Ato Institucional Nº 5, o AI-5 (em 1968), que acabou com todos os direitos civis constitucionais, proibindo reuniões, manifestações, revogando o habbeas corpus e permitindo prender sem um
    devido processo legal;
  14. Com o auxílio da CIA, os militares brasileiros exportaram golpes de Estado e métodos de tortura para outros países da América do Sul (Uruguai e Chile, em 1973, e Argentina, em 1976) e, apesar da farta documentação e provas, até hoje não foram condenados por estes crimes;
  15. Os governos militares abriram as portas para a exploração das riquezas naturais do Brasil e dos demais países de Nuestramérica, para a implantação empresas multinacionais, com o objetivo de exportar a matéria-prima e se beneficiar de mão-de-obra barata;
  16. A dívida do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI) cresceu vertiginosamente, com juros exorbitantes, pois o plano dos golpistas exigia investimentos em infraestrutura para a instalação de empresas estrangeiras e para tornar o país ainda mais dependente;
  17. O general Golbery do Couto e Silva, por exemplo, um dos cérebros do regime militar, formulou a Doutrina de Segurança Nacional, que buscava o alinhamento do Brasil com os EUA e a luta contra o “inimigo interno”, criou o Serviço Nacional de Inteligência (SNI) e, por estranha coincidência, presidiu a filial da empresa norte-americana Dow Chemical para toda a América Latina, uma das maiores fabricantes de agrotóxicos do mundo. Só para ter uma ideia, em 2015, a Dow Chemical uniu-se à Du Pont, ampliando os seus negócios na área de plásticos e sementes, ultrapassando o faturamento da Monsanto;
  18. As empresas brasileiras nas áreas de energia, da construção civil e do agronegócio foram a que mais enriqueceram, pois desde aquele tempo elas estiveram sintonizadas com a estratégia de dominação norte-americana;
  19. Com a priorização do agronegócio, milhões de famílias foram expulsas do campo e formaram imensos cinturões de miséria nas pequenas, médias e grandes cidades. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2015), atualmente 84,72% da população brasileira vivem em áreas urbanas e apenas 15,28% vivem em áreas rurais. A região Sudeste possui o maior percentual de população urbana (93,14%) e a região Nordeste conta com o maior percentual de habitantes vivendo em áreas rurais (26,88%);
  20. Os principais lemas dos governos militares eram “Exportar é o que importa!”, “Primeiro crescer para depois dividir” e “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Tratava-se de um plano internacional de dominação norte-americana, inserido num mundo que já estava se globalizando;
  21. Com a crise internacional do petróleo, a partir de 1973, com a alta significativa no custo de vida, o arrocho salarial e a inflação fora de controle, e com a denúncia de vários casos de corrupção, o regime militar começou a perder apoio político-eleitoral em vários estados brasileiros. Apesar das diversas manobras casuísticas, foram obrigados a promover uma “distensão lenta, gradual e segura”: em 1979 houve uma anistia parcial (os militares envolvidos em tortura também foram anistiados), a volta dos exilados e a liberdade partidária, em 1985, a eleição de um governo civil, via colégio eleitoral (Congresso Nacional), em 1988, o fim da censura prévia, com a promulgação da nova Constituição Federal e eleições diretas para presidência da República somente em 1989, 25 anos após o golpe.

É importante reconhecer que no período militar houve um longo processo de industrialização (globalizada) no Brasil e que, contraditoriamente, na década de 70 e 80, intensificaram-se amplos movimentos de resistência operária e popular, de diversas organizações sindicais, estudantis, agrárias e profissionais que lutaram por melhores condições de vida, por justiça social e pela volta da democracia. Ao mesmo tempo, a juventude brasileira respirou ares de rebeldia vindos dos protestos contra a Guerra do Vietnã e do Festival de Woodstock, nos EUA, e das manifestações do Maio de 68, na França.

Existem diversos livros e uma farta documentação oficial que comprovam essas afirmações, mas é preciso remexer mais fundo no passado para combater os mal-intencionados, pois o golpe de 1964 não passou de um plano de dominação econômica, política e cultural do capitalismo internacional. Qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência, pois ainda há uma orquestração por parte dos EUA, na qual a Rede Globo cumpre o seu papel ideológico estratégico e o STF foi transformado num enfeite institucional. No entanto, existem importantes diferenças: a sociedade civil está mais organizada, há uma intensa troca de informações em âmbito nacional e internacional, graças à internet, e existe uma forte resistência de vários países à violação dos direitos humanos e à apologia aos crimes de Estado.

Como as novas gerações possuem muito mais informações do que as que viveram em 1964 e a recente experiência democrática ainda está latente na memória do povo brasileiro, pode ser que ocorra uma multiplicação dessas reflexões nas reuniões familiares, nos condomínios, nas associações de bairros, nos sindicatos, nas organizações profissionais e nos diferentes coletivos. Se for assim, talvez num futuro próximo possamos deixar para trás mais um período triste da história do Brasil, e desta vez, quem sabe, com o julgamento e a condenação dos vendilhões da Pátria.

Para finalizar, é bom lembrar que o golpe civil-militar ocorreu no dia 1º de abril – Dia dos Bobos ou da Mentira – e não no dia 31 de março, como dizem as pessoas mal informadas. Em nenhum desses dias existe algo a ser comemorado, muito pelo contrário… Mas é preciso refletir junto a quem não viveu ou esqueceu este passado, sob pena de ficarmos preso a ele, mas também para nos libertarmos das mordaças, dos traumas e das mentiras que voltaram a ser repetidas.

P.S. Este artigo não tem a intenção de esgotar a reflexão sobre o golpe de 1964, e sim a de compartilhar um roteiro de pequenas memórias coletadas junto a um grupo de amigos e amigas, via Whatsapp. Está sendo publicado em memória do jornalista Vladimir Herzog, do metalúrgico Manuel Fiel Filho, do estudante Edson Luis de Lima Souto e de tantos outros brasileiros e brasileiras que foram assassinados e/ou permanecem “desaparecidos”.

(*) Consultor em Gestão Projetos TIC. Fonte: https://www.sul21.com.br

Os problemas emocionais não são uma escolha, e ninguém deseja atravessar uma depressão nem passar por momentos de ansiedade. Eles simplesmente podem surgir, após um período de acúmulo de situações e circunstâncias complicadas em nossas vidas. Existe uma falsa crença de que a ansiedade e a depressão são sinais de fraqueza e de incapacidade diante da vida. Mas não, uma pessoa com ansiedade, depressão ou sintomas mistos NÃO está louca e nem tem uma personalidade fraca ou inferior aos outros.

É triste e esgotador lutar contra isso, mas é uma realidade social que não podemos ignorar. Assim, apesar dos avanços da ciência, o inconsciente moderno que envolve nossa sociedade ainda pensa que os problemas emocionais e psicológicos são sinônimos de fragilidade e vulnerabilidade.

Por isso, dado que a depressão e a ansiedade não são contempladas como feridas que precisam de atenção, é comum ouvir discursos circulares com argumentos do tipo “relaxe”, “não é para tanto”, “comece a se mexer, a vida não é isso”, “você não tem razões para chorar”, “comece a amadurecer”, etc.

São comuns, não é verdade? De fato, é provável que em algum momento tenhamos sido vítimas ou até proferido este tipo de discurso. Por isso é fundamental realizar um exercício de conscientização e dar à dor emocional a importância que ela tem e merece.

Assim, da mesma forma que não iríamos ignorar a dor causada por fortes pontadas no estômago ou uma enxaqueca terrível, não deveríamos ignorar a dor emocional.

Não podemos esperar que estas feridas emocionais se curem sozinhas, devemos trabalhar para extrair delas o significado presente em seus sintomas. Ou seja, devemos consultar um psicólogo que nos ajude e nos proporcionar estratégias para fazer frente a esta grande dor emocional causada pela ansiedade e pela depressão. Seguindo com nosso exemplo, assim como deixamos de consumir a lactose quando descobrimos que somos intolerantes a ela, devemos “deixar de consumir”aqueles pensamentos e circunstâncias que infeccionam nossa ferida emocional.

Não valem curativos ou vendas: devemos limpá-las e curá-las verdadeiramente. Por isso, neste artigo pretendemos normalizar aquelas sensações das pessoas que possuem problemas emocionais deste tipo. Vejamos mais sobre eles para podermos compreender e nos conscientizar… Fonte: https://www.contioutra.com

Um professor de ciências da zona rural do Quênia, que doa a maior parte de seu salário para apoiar os alunos mais pobres, ganhou um prêmio de US$ 1 milhão (R$ 3,9 milhões) ao ser eleito o melhor professor do mundo. A reportagem é de Sean Coughlan, publicada por BBC News, 24-03-2019.

Peter Tabichi, membro da ordem religiosa franciscana, ganhou o Global Teacher Prize de 2019, conferido pela Fundação Varkey, organização de caridade dedicada à melhoria da educação para crianças carentes.

Tabichi foi elogiado por suas realizações em uma escola sem infraestrutura, em meio a classes lotadas e poucos livros didáticos. Ele quer que os alunos vejam "a ciência é o caminho certo" para ter sucesso no futuro.

O prêmio, anunciado em uma cerimônia em Dubai, reconhece o compromisso "excepcional" do professor com os alunos em uma parte remota do Vale do Rift, no Quênia. Ele doa 80% de seu salário para apoiar os estudos dos seus alunos, na Escola Secundária Keriko Mixed Day, no vilarejo de Pwani. Se não fosse a ajuda do professor, as crianças não conseguiriam pagar por seus uniformes ou material escolar.

Melhorando a ciência

"Nem tudo é sobre dinheiro", diz Tabichi, cujos alunos são quase todos de famílias bem pobres. Muitos são órfãos ou perderam um dos pais. Seu objetivo é que os estudantes tenham grandes ambições, além de promover a ciência, não apenas no Quênia, mas em toda a África, diz.

Ele venceu entre outros dez mil indicados de 179 países, entre eles a professora Debora Garofalo, que ensina matérias de tecnologia em uma área carente de São Paulo.

Mas Tabichi diz que enfrenta "desafios com as instalações precárias" de sua escola, inclusive com a falta de livros ou professores. "A escola fica em uma área muito remota. A maioria dos estudantes vêm de famílias muito pobres. Até pagar o café da manha é difícil. Eles não conseguem se concentrar, porque não se alimentaram o suficiente em casa", contou em entrevista publicada no site do prêmio.

As classes deveriam a ter entre 35 e 40 alunos, mas ele acaba ensinando grupos de 70 ou 80 estudantes, o que, segundo o professor, deixa as salas superlotadas.

A falta de uma boa conexão de internet faz com que ele vá até um café para baixar os materiais necessários para suas aulas de ciências. E muitos dos seus alunos andam mais de 6km em estradas ruins para chegar à escola.

No entanto, Tabichi diz que está determinado a dar aos alunos uma chance de aprender sobre ciência e ampliar seus horizontes. Seus estudantes foram bem sucedidos em competições científicas nacionais e internacionais, incluindo um prêmio da Sociedade Real de Química do Reino Unido.

Fora da sala de aula

Tabichi diz que parte do desafio tem sido persuadir a comunidade local a reconhecer o valor da educação, o que leva a visitar famílias cujos filhos correm o risco de abandonar a escola.

Ele tenta mudar a mentalidade de pais que esperam que suas filhas se casem cedo - encorajando-os a deixar as meninas continuarem seus estudos. O professor também ensina técnicas de cultivo mais resistentes aos moradores dos arredores, já que a fome é uma realidade frequente na região.

"Insegurança alimentar é um grande problema, então ensinar novos jeitos de plantar é uma questão de vida ou morte", disse em entrevista à Fundação Varkey. Além do contato com as famílias, a atuação de Tabich se estende aos "clubes da paz"que ele organiza na escola, para representar e unir as sete tribos presentes ali. A violência tribal explodiu no Vale do Rift depois da eleição presidencial de 2007 e houve muitas mortes em Nakuru.

"Para ser um grande professor você tem que ser criativo e abraçar a tecnologia. Você realmente tem que abraçar essas formas modernas de ensino. Você tem que fazer mais e falar menos", ele disse à fundação.

O prêmio

O prêmio conferido a ele busca elevar o status da profissão de docente. O vencedor do ano passado foi um professor de arte do norte de Londres, Andria Zafirakou. O fundador da premiação, Sunny Varkey, diz esperar que a história de Tabichi"inspire os que procuram entrar na profissão e seja um poderoso holofote sobre o incrível trabalho que os professores fazem no Quênia e em todo o mundo, diariamente".

"As milhares de indicações e inscrições que recebemos de todos os cantos do planeta são testemunho das conquistas dos professores e do enorme impacto que eles têm em as nossas vidas", diz. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Pesquisador inglês Jamie Bartlett chama atenção para a cidadania na Internet: "Que dados estamos criando? Com quem estamos compartilhando?"

ETHEL RUDNITZKI (AGÊNCIA PÚBLICA)

“Fomos muito ingênuos”, adverte o pesquisador e jornalista inglês Jamie Bartlett. Para ele, nos primórdios da Internet “havia uma ampla visão de que o simples fato de tornar a informação mais disponível e permitir que todos pudessem criar e compartilhar informação transformaria o nosso ambiente em mais informado, politizado e racional.”

Não foi o que aconteceu, e segundo ele a radicalização atual nem era tão difícil de prever. Para Bartlett, os grupos radicais chegaram antes à Internet por estarem fora dos jornais e do mainstream. “Mas o mais importante é que todos nós nos tornamos mais radicais”, explica. “Pulamos de um assunto para outro e somos apresentados a mais e mais conteúdos apelativos e sensacionalistas para manter nosso vício nas redes.” Como resultado, somos expostos a argumentos emocionais radicais e acabamos xingando e vociferando nas redes sociais.

Autor do recém-lançado livro The people vs tech: How the internet is killing democracy and how we save it (O povo vs tecnologia: como a internet está matando a democracia – e como podemos salvá-la, em tradução livre), ainda inédito no Brasil, Bartlett faz parte da Demos, um think tank britânico que reúne especialistas em educação e tecnologia para pesquisar temas relacionados à política.

Em entrevista à Pública, Bartlett fala sobre a radicalização promovida pelo ambiente online, desinformação, campanhas digitais e outros perigos da rede para a democracia.

Mas, mais do que constatar os problemas, o pesquisador propõe soluções para avançarmos junto com a tecnologia. Entre elas, um departamento governamental dedicado a fazer uma auditoria de algoritmos e uma base de dados pública, com registros instantâneos, de toda propaganda eleitoral publicada nas redes. Leia a entrevista a seguir:

 

Pergunta. O surgimento da Internet, e depois das redes sociais, veio com a expectativa de uma maior democratização da informação e do debate público. Ao longo do tempo, essa ideia desapareceu. Pesquisadores, incluindo você, mostram que, ao contrário de democratizar, o ambiente virtual potencializou discursos radicais e extremistas. Por que isso aconteceu?

Resposta. A primeira coisa que precisamos entender é por que fomos tão ingênuos no início. Havia uma ampla visão de que o simples fato de tornar a informação mais disponível e permitir que todos pudessem criar e compartilhar informação transformaria o nosso ambiente em mais informado, politizado e racional. Eu penso que boa parte da razão para essa crença veio do fato de que a maioria das pessoas por trás dessa tecnologia são pessoas da costa oeste dos Estados Unidos, da Califórnia. Pessoas extremamente liberais e grandes defensoras dos poderes naturais da livre informação e alienados das reais questões do mundo. E isso é só uma das explicações. Foi uma ingenuidade criar essas expectativas. As pessoas assumiram que a internet e as redes sociais seriam extremamente livres e que não haveria controle sobre as informações que estariam ali. Ninguém pensou nas consequências.

Mas, olhando com mais atenção, era possível ver que não seria bem assim. Na maioria das novas tecnologias, são as pessoas mais radicais, marginais e até criminosos que primeiro aprendem suas possibilidades. Eles têm essa vantagem, pois, na maioria das vezes, os mais autoritários se consideram excluídos, então dedicam boa parte de sua vida a novas técnicas e tecnologias.

O que eu descobri foi que, se você observar grupos de extrema direita, e até alguns grupos radicais de esquerda, na maioria das democracias, são eles os primeiros usuários de novas tecnologias. Neonazistas, por exemplo, encontraram maneiras de usar as redes sociais para espalhar suas mensagens, porque eles são determinados e não tinham outra forma de fazer isso. Se você os tira da mídia tradicional, é natural que eles procurem outros meios.

Adicione a isso o fato de que em troca da gratuidade das redes sociais nós damos a elas [as empresas de tecnologia] nossos dados. Assim elas tornam essas plataformas ambientes viciantes, para que fiquemos mais tempo lá, fornecendo ainda mais dados. E nossa tendência é clicar naquilo que for mais extremo, radical, inacreditável, pessoal.

 

  1. Isso deixou as pessoas mais radicais, ou foram os extremistas que se tornaram mais fortes?
  2. Boa pergunta. Eu acho que os radicais cresceram nas plataformas digitais porque tinham essa vantagem de serem usuários há mais tempo. Mas o mais importante é que todos nós nos tornamos mais radicais — não exatamente extremistas, mas somos exponencialmente expostos a conteúdos radicais e apelativos. Não temos a intenção de falar sobre essas temáticas, mas elas nos são apresentadas. Assim, quando entramos nessas plataformas, gritamos uns com os outros, discutimos sobre coisas pequenas, discordamos sem ao menos escutar o outro lado. Pulamos de um assunto para outro e somos apresentados a mais e mais conteúdos apelativos e sensacionalistas para manter nosso vício nas redes. E o resultado é que nos tornamos mais extremos.

 

  1. E como Trump, nos EUA, e Bolsonaro no Brasil se beneficiaram desse ambiente polarizado?
  2. Na minha opinião, esses políticos se baseiam em frases de efeito e soluções simplistas. E é exatamente isso que funciona nas plataformas de redes sociais. Discursos populistas sempre foram apelativos. Sempre se trata de apelar para o emocional, tratar problemas complexos com soluções fáceis.

As redes sociais são excelentes ambientes para amplificar essas mensagens porque não são tratadas como nos jornais, por exemplo. Com as notícias, temos que nos sentar e pensar sobre o que lemos. Não somos guiados por emoções. Mas nessas plataformas, sim. Quando compartilhamos conteúdos, esperamos respostas, curtidas, então é mais provável que publiquemos conteúdos que nos fazem sentir raiva ou animação do que conteúdos profundos e reflexivos.

 

  1. Você acredita que essa radicalização impulsionada pelas redes é igual para a direita e para a esquerda?
  2. É uma pergunta muito difícil de responder. Eu acredito que o discurso político que funciona nas redes pode ser tanto de direita quanto de esquerda.

 

  1. Qual é o papel da desinformação nesse processo de radicalização online?
  2. O problema não é a desinformação em si, mas o fato de haver diversas categorias de notícias falsas nas redes, e todas elas causam um efeito importante.

Na Internet você acha todo e qualquer tipo de informação, verdadeira ou falsa. Há aquelas postadas por veículos de notícias e as que são apenas histórias de pessoas e também podem ser confiáveis. E há aquelas que são ruins e mentirosas. Ninguém sabe qual é verdadeira e qual é falsa. Então, no que as pessoas confiam quando não sabem no que acreditar é simplesmente em suas próprias intuições e emoções. Você confia no personagem que você acha que combina mais com você e fala coisas que você acredita. E isso é mais um elemento que beneficia os populistas porque eles geralmente são melhores em convencer as pessoas.

Não é simplesmente a desinformação pela desinformação, é que a informação circula em bolhas. Na rede você encontra dados e estatísticas para embasar qualquer opinião que você tenha. Cada um tem seus próprios fatos. E eles não estão exatamente certos, mas na internet é possível encontrar tanta coisa que existe informação para o que você quiser, tudo que valide sua opinião.

E estar envolvido em tanta informação assim é mais preocupante que as próprias notícias falsas. Por que é isso que faz com que as pessoas não saibam no que acreditar e parem de prestar atenção nos jornais para guiarem-se apenas pelos sentimentos. E é também isso que está tornando os políticos mais radicais, porque ninguém mais tem a autoridade sobre a verdade ou sobre os fatos.

 

  1. No seu livro, você fala muito sobre o disparo de mensagens na campanha de Donald Trump com a ajuda de dados fornecidos pela empresa Cambridge Analytica. Você pode explicar como essa empresa ajudou Donald Trump, que não era do meio político, a ganhar as eleições nos EUA?
  2. A tecnologia usada não era única ou inovadora, e vem sendo usada por publicitários há muito tempo. Eles basicamente identificaram pessoas que acreditavam que eram mais suscetíveis de serem convencidas pela campanha. O que eles fizeram foi construir perfis detalhados de milhões de americanos usando dados disponibilizados publicamente na internet. Esses dados, que podem ser comprados, incluem coisas como o valor da sua casa, que carro você tem, que revistas assina e muito mais. Eles pegaram o máximo de informações das pessoas que conseguiram e dividiram elas em grupos, enviando conteúdo mais provável de convencê-las.

 

  1. Além de eleições, essa tecnologia pode influenciar outros aspectos da nossa vida. Somos bombardeados com anúncios personalizados, é como se as empresas soubessem mais de nós que nós mesmos. Como isso afeta a democracia?
  2. Para mim, o maior problema é a popularização dessas técnicas de publicidade com dados, especialmente quando não há regulação. Significa que qualquer um pode dizer que seu opositor está trapaceando.

Qualquer um que perder uma eleição pode dizer que o adversário está usando dados de pessoas indiscriminadamente e manipulando eleitores com publicidade. E isso compromete a integridade de qualquer pleito. Quando você usa essas técnicas, na cabeça das pessoas, isso compromete a integridade de uma eleição.

 

  1. Você não acha que a popularização dessas técnicas de publicidade vai fazer as pessoas questionarem suas escolhas e atitudes online?
  2. É o seguinte: ninguém acha que foi influenciado por um anúncio. Nunca. As pessoas sempre falam: “Ai, isso não me afeta”. Mas, então, por que os publicitários investem tanto nas redes sociais? Por que eles já testaram e viram que realmente funciona.

Uma das razões pelas quais eu escrevi meu último livro foi para tornar as pessoas mais conscientes da maneira como seus dados estão sendo usados. E eu acho que as pessoas estão cada vez mais preocupadas.

 

  1. Você vê um crescimento em outras formas de usar a Internet?
  2. Sim, eu vejo. Acho que está crescendo e melhorando. No Reino Unido, nós temos VPN [redes privadas individuais], que nos dá mais proteção de dados, e significa que empresas só conseguirão coletar nossos dados se dermos autorização, e isso nos dá o direito de pedir nossos dados de volta também. Já existem empresas que ajudam as pessoas a recuperar seus dados de outras empresas, novas redes sociais estão surgindo. Então, existem pequenas iniciativas nesse sentido. Eu não sei se vai funcionar, ou se vai fazer muita diferença, mas eu vejo melhora.

 

  1. Existem maneiras de minimizar os efeitos dessa falta de privacidade online sem ser pela via completamente anônima e criptografada. No seu livro, uma das soluções que você sugere é o policiamento dos algoritmos. Você pode explicar como isso funcionaria?
  2. Sim. O que podemos fazer é criar formas de controle democrático sobre os sistemas que possuem nossos dados pessoais. Uma das maneiras de fazer isso é da mesma maneira que fiscalizamos nossas instituições como escolas, serviços de saúde etc., para garantir que eles estejam funcionando. Com os algoritmos isso não é feito. Ninguém sabe se certos tipos de notícias estão sendo privilegiados pelos algoritmos, por exemplo. Eu não tenho a exata solução para isso, mas eu acho que é preciso criar um sistema de fiscalização.

A lógica é: se há um poder, é preciso criar um sistema de fiscalização.

 

  1. Sim, mas isso precisaria ser feito pelo poder público, e os políticos que temos atualmente mostram muito pouco conhecimento sobre as questões do ambiente digital. Prova disso foi a audiência realizada com Mark Zuckerbergno Congresso americano. Você acha que essa equipe é capaz de formular políticas públicas eficientes nesse sentido?
  2. Eu acho que é possível. Não é preciso ser um engenheiro de computação para pensar em soluções para esses problemas digitais. Eu só acho que é preciso disposição e investimento. Por que não seria possível instalar um departamento para fiscalizar algoritmos? Para mim parece possível e plausível, apesar das dificuldades.

 

  1. Mas os problemas que temos são urgentes. Como cidadãos, o que podemos fazer?
  2. O que eu mais tenho dito é que precisamos olhar nosso comportamento online como um passo. Eu acredito que temos o dever, como cidadãos, mais importante do que votar, de refletir sobre nosso comportamento online. Que dados estamos criando? Com quem estamos compartilhando? Que plataformas estamos usando?

Porque, toda vez que compartilhamos nossos dados, estamos contribuindo para a sociedade de controle que vivemos atualmente.

 

  1. E as plataformas? Você acha que elas devem ser mais bem reguladas? De que maneira?
  2. Sim. Eu acho que há regulações que podemos criar. A mais fácil delas seria definir essas empresas como publicitárias e investigá-las para combater oligopólios e promover a livre concorrência. Não pensá-las como plataformas de redes sociais.

Temos que ficar atentos às aquisições que essas empresas fazem, porque muitas vezes elas compram plataformas menores antes mesmo que estas se tornem competitivas. Então, temos que bloquear esse tipo de compra.

E há algumas outras coisas, como regular o conteúdo que circula nesses lugares, como o discurso de ódio. E multá-las caso não removam esses conteúdos.

 

  1. Que outras medidas legais precisam ser tomadas na sua opinião?
  2. Devemos atualizar as legislações eleitorais urgentemente, porque elas estão ultrapassadas. Uma das coisas que eu proponho é que todos os anúncios usados em campanhas eleitorais devem ser publicados em tempo real num banco de dados público para todos verem. Eu acho uma medida importante e fácil de ser implementada. Acho que isso pode aumentar a confiabilidade das eleições.

E também precisamos melhorar de uma maneira geral o sistema educacional, porque nenhum dá a verdadeira atenção para o estudo dos problemas de desinformação, deep fakesfake news. E as pessoas convivem com isso todos os dias. Portanto, precisamos de uma drástica melhora na maneira como ensinamos media literacy [alfabetização midiática]. Estamos muito atrasados. Fonte: https://brasil.elpais.com