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"Todo cristão é chamado a dar testemunho com a sua vida, embora não chegue ao derramamento do sangue, fazendo de si mesmo um dom a Deus e aos irmãos", disse o Papa na Audiência Geral, ao dedicar sua catequese ao testemunho dos mártires.
Bianca Fraccalvieri - Vatican News
O testemunho dos mártires foi o tema da catequese do Papa na Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Praça São Pedro, com a participação de milhares de fiéis.
Francisco deu continuidade ao ciclo sobre o zelo apostólico, detendo-se desta vez não em uma pessoa singular como São Paulo, mas na multidão dos mártires: homens e mulheres das mais diversas idades, línguas e nações, que deram a vida por Cristo.
Não "heróis", mas frutos maduros da vinha do Senhor
Depois da geração dos Apóstolos, foram eles as "testemunhas" por excelência do Evangelho. O primeiro foi Santo Estêvão, lapidado fora das muralhas de Jerusalém. Os mártires, porém, advertiu o Papa, não devem ser vistos como "heróis" que agiram individualmente, como flores despontadas num deserto, mas como frutos maduros e excelentes da vinha do Senhor, que é a Igreja.
De fato, participando assiduamente na celebração da Eucaristia, os cristãos sentem-se impelidos pelo Espírito a organizar a sua vida sobre a base daquele mistério de amor, ou seja, como o Senhor Jesus deu a sua vida por eles, assim também eles podiam e deviam dar a vida por Ele e pelos irmãos. "Os mártires amam Cristo na sua vida e O imitam na sua morte."
Os mártires perdoam sempre os algozes
À imitação de Cristo e com a sua graça, os mártires fazem com que a violência recebida de quem recusa o anúncio do Evangelho se torne uma ocasião suprema de amor, que vai até ao perdão dos próprios algozes. "É interessante isto: os mártires perdoam sempre os algozes."
Embora o martírio seja pedido a poucos, "todos, porém, devem estar dispostos – diz o Concílio Vaticano II – a confessar a Cristo diante dos homens e a segui-Lo no caminho da cruz em meio das perseguições que nunca faltarão à Igreja".
Assim os mártires mostram-nos que todo cristão é chamado a dar testemunho com a sua vida, embora não chegue ao derramamento do sangue, fazendo de si mesmo um dom a Deus e aos irmãos.
O Pontífice voltou a repetir que os mártires são mais numerosos no nosso tempo do que nos primeiros séculos e citou o Iêmen como terra de martírio, lembrando as religiosas, os religiosos e os leigos que ali perderam a vida recentemente.
“Portanto, oremos para não nos cansarmos de dar testemunho do Evangelho até em tempos de tribulação. Que todos os santos e santas mártires sejam sementes de paz e de reconciliação entre os povos, por um mundo mais humano e fraterno, à espera que se manifeste plenamente o Reino dos céus, quando Deus será tudo em todos.” Fonte: https://www.vaticannews.va
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Espiritualidade na medicina: ‘Fé não garante cura, mas sem ela fica mais difícil’, diz geriatra
Para Fábio Nasri, coordenador de grupo focado no tema do Hospital Albert Einstein, pesquisas mostram que tratamento de pacientes deve considerar também suas crenças
O geriatra Fábio Nasri Maria Isabel Oliveira
Por Elisa Martins — São Paulo
Desde os tempos dos “primeiros médicos”, os xamãs e curandeiros, espiritualidade e medicina caminharam juntas. Depois, se separaram, como se fossem opostas. A relação tem sido resgatada recentemente, no Brasil e no mundo, puxada por pesquisas que mostram a influência da espiritualidade em desfechos favoráveis de saúde.
No mês passado, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, criou um grupo médico-assistencial focado no tema. O objetivo é aprofundar os conhecimentos na combinação entre espiritualidade e medicina, e em como ela pode aumentar o bem-estar de pacientes, inclusive levando líderes religiosos para os leitos, quando solicitados.
Em entrevista ao GLOBO, o coordenador do grupo, o geriatra Fábio Nasri, é enfático: “Quando o paciente entra no hospital, não pode entrar só o coração, o apêndice. É preciso considerar toda a dimensão dele, inclusive a espiritualidade. Ela pode ser mais uma ferramenta poderosa de saúde”.
Por muito tempo a medicina foi tida como uma área objetiva e direta, e a espiritualidade, como algo subjetivo, quase como se uma fosse impeditiva da outra. Afinal, elas combinam?
A espiritualidade é parte das pessoas. Mesmo quem não tenha uma fé, crença ou religião, interage com a natureza, com o clima, com o sol. Não podemos negligenciar essa dimensão nas pessoas, seria apartar algo intrínseco ao cuidar da saúde delas. Houve uma separação no passado. Mas a tendência hoje no Brasil e no mundo é de juntar esses valores novamente. Não há como atender um paciente, dar a notícia de que ele tem um câncer, dizer que ele vai fazer uma cirurgia complicada ou que tem uma doença crônica sem atendê-lo como um ser completo. E a espiritualidade não pode ficar de fora. Pode, inclusive, ser ferramenta adicional no arsenal terapêutico.
Os “primeiros médicos” eram líderes espirituais, os xamãs. Como se deu essa separação?
Vem de muito tempo. Desde a teoria da razão de (René) Descartes, houve interesse também da Igreja de que houvesse essa separação. Como se fosse um acordo do tipo: "Olha, vocês ficam com o corpo, a gente fica com a alma". Ao mesmo tempo, a Ciência começou a se desenvolver, e houve uma espécie de materialização das sensações. A medicina seguiu um curso reducionista.
O que levou à reaproximação?
Começaram a acontecer fatos que chamavam a atenção, em vários campos da Ciência médica. Primeiro as experiências de quase-morte, em que pessoas que passavam por períodos de morte momentânea e retornavam relatavam experiências de encontrar entes queridos. Outros pesquisadores começaram a publicar casos de lembranças de vidas passadas. Existem relatos impressionantes de crianças que em idade muito tenra lembravam de vidas pregressas. Ao mesmo tempo, tornaram-se mais conhecidos desfechos favoráveis de saúde em pessoas com a espiritualidade mais presente. Elas iam melhor em uma série de quesitos.
Que efeitos a espiritualidade produzia nesses pacientes?
Passavam melhor pelas doenças, pelo pós-operatório. Não falo de cura, mas de vivência do processo, de como atravessam um período duro. Pesquisas ao longo do tempo mostram que quem realmente acredita, tem fé, tem uma evolução melhor. Isso chamou atenção, e os estudos aumentaram. É um caminho sem volta.
A Ciência comprova esses benefícios?
Diversos artigos mostram isso. Quando uma pessoa faz uma prece, independentemente da religião, a frequência cardíaca tende a diminuir, a pressão cai. Há uma série de fenômenos pensando em neurotransmissores e estimulação cerebral que fazem bem às pessoas que têm a espiritualidade intrínseca. Diminui a atividade do sistema simpático, responsável por aumentar a pressão e a frequência cardíaca. Melhora a perfusão cerebral. Ativa sensações ligadas a prazer e bem-estar libera ocitocina, serotonina. E não necessariamente precisa de um templo para isso. A pessoa pode admirar música, o pôr do sol, meditar, fazer yoga. Normalmente quem segue esses preceitos acaba sendo mais saudável, por questão de conduta. Mas também existe um outro lado.
Quando a espiritualidade pode fazer mal à saúde?
Existem pessoas que se dizem religiosas, mas não incorporam esses valores em suas vidas. Então não colhem os benefícios. Existem também as que acham que só a crença vai curá-las. E desistem do tratamento. Ou vão a outros lugares onde entendem que vão ser curadas, mas não são espaços de índole adequada. É preciso cuidado também. O que vemos na medicina é que não dá para sair dizendo que a fé é garantia de cura. Mas dá para dizer que sem ela é mais difícil.
A delicadeza do tema explicaria por que médicos ainda são receosos de abordá-lo em consulta?
Existem pesquisas que mostram que os pacientes gostariam que os médicos abordassem esse tema no consultório. E existem pesquisas entre médicos, inclusive no Brasil, que é líder de estudos na área, que indicam que eles gostariam de falar mais sobre isso com os pacientes. Mas há médicos que receiam que os pacientes achem que eles querem levá-los para a igreja deles. Além disso, numa consulta em que o médico tem de verificar pressão, colesterol, tratar câncer, avaliar a memória etc, nem sempre sobra tempo. Mas o principal motivo é que os médicos não têm treinamento para isso. Não é só sair perguntando: “E aí, você tem alguma religião?” Há uma estratégia, e poucas escolas brasileiras oferecem aulas sobre isso.
A pandemia reforçou a importância da espiritualidade em momentos críticos?
Outro dia, cheguei no hospital cedinho para ver pacientes e me surpreendi quando vi a equipe que estava pegando o plantão formar uma roda e fazer uma prece para que tudo corresse bem, para que pudessem ser instrumento de auxílio aos doentes. Vi depois que era prática em vários momentos no hospital. E isso talvez seja um efeito pós-pandemia. Um dos maiores pesquisadores dessa área já preconizava os benefícios de que médicos orassem junto com os pacientes antes de uma cirurgia ou procedimento. Mas ainda não é algo muito difundido.
Para que lado caminham as pesquisas?
Muitos estudos mostram a associação positiva entre espiritualidade e bons desfechos em saúde. Várias sociedades médicas brasileiras já incorporaram esse tema. O pulo do gato é como isso acontece. É fácil explicar e a pessoa entender que no momento em que ora, medita ou vai a uma cachoeira isso traz benefícios para os sistemas endócrino, cardiovascular, etc. O problema é como isso acontece no nível da célula. Qual é a proteína? Como essa energia entra? É algo do DNA? Não sabemos. Precisamos abrir a cabeça. Ainda vai demorar para descobrir. Fonte: https://oglobo.globo.com
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O Papa: a Igreja não é uma casa somente para alguns, é para todos
Publicamos trechos da entrevista com Francisco realizada por Paolo Rodari para a rádio e televisão suíça (RSI), que será transmitida em horário nobre no domingo, 12 de março, véspera do décimo aniversário da eleição: entre os temas da conversa, as prioridades do pontificado, a acolhida de todos, a guerra na Ucrânia e outros conflitos, as relações com o predecessor, a vida após a morte.
PAOLO RODARI
Casa Santa Marta, a residência onde Francisco mora. As portas estão abertas para a RSI, rádio e televisão suíça de língua italiana, para uma entrevista com o Papa dedicada aos dez anos de seu pontificado que a partir de domingo à noite, 12 de março, estará disponível na íntegra no site www.rsi.ch. Francisco não pensa em renunciar, mas explica o que eventualmente o levaria a fazê-lo: "Um cansaço que não faz você ver as coisas com clareza. A falta de clareza, de saber avaliar as situações". Há dez anos não mora mais em Buenos Aires. Daquele tempo, sente saudades de "caminhar, andar pelas ruas". Mas está bem em Roma, "uma cidade única", ainda que não faltem preocupações. Estamos "em uma guerra mundial", diz ele. "Começou em pedaços e agora ninguém pode dizer que não é mundial. Porque as grandes potências estão todas emaranhadas. E o campo de batalha é a Ucrânia. Todos lutam lá." O Papa conta que Putin sabe que gostaria de encontrá-lo, "mas ali estão todos os interesses imperiais, não só do império russo, mas dos impérios de outras partes".
Santo Padre, o que mudou nestes dez anos?
Sou velho. Tenho menos resistência física, a do joelho foi uma humilhação física, mesmo que já esteja curando bem.
Foi difícil para o senhor andar de cadeira de rodas?
Eu me envergonhava um pouco.
Muitos o descrevem como o Papa dos últimos. O senhor se sente assim?
É verdade que tenho preferência pelos descartados, mas isso não significa que descarte os outros. Os pobres são os favoritos de Jesus, mas Jesus não manda embora os ricos.
Jesus pede para levar qualquer pessoa à sua mesa. O que isto significa?
Significa que ninguém está excluído. Quando eles não foram à festa, disse para às encruzilhadas das estradas e chamar todos, doentes, bons e maus, pequenos e grandes, ricos e pobres, todos. Não devemos esquecer isto: a Igreja não é uma casa para alguns, não é seletiva. O santo povo fiel de Deus é este: todos.
Por que algumas pessoas se sentem excluídas da Igreja devido às suas condições de vida?
Sempre há pecado. Há homens de Igreja, mulheres de Igreja que fazem a distância. E isso é um pouco a vaidade do mundo, se sentir mais justo que os outros, mas não está certo. Somos todos pecadores. Na hora da verdade põe a sua verdade sobre a mesa e você verá que é um pecador.
Como imagina a hora da verdade, a vida após a morte?
Não posso imaginá-la. Não sei o que será. Só peço a Nossa Senhora que esteja ao meu lado.
Por que o senhor escolheu morar na Santa Marta?
Dois dias depois da eleição fui tomar posse do palácio apostólico. Não é tão luxuoso. É feito bem, mas é enorme. A sensação que tive foi como a de um funil invertido. Psicologicamente eu não tolero isso. Por acaso passei em frente ao quarto onde moro. E eu disse: "Vou ficar aqui." É um hotel, moram lá quarenta pessoas que trabalham na cúria. E vêm pessoas de todos os lugares.
Sente falta de alguma coisa de sua vida anterior?
Caminhar, andar pelas ruas. Eu andava muito. Usava o metrô, o ônibus, sempre com as pessoas.
O que pensa da Europa?
Neste momento existem muitos políticos, chefes de governo ou ministros jovens. Eu sempre digo a eles: conversem uns com os outros. Este é de esquerda, você é de direita, mas vocês dois são jovens, falem. É o momento do diálogo entre os jovens.
O que traz um Papa quase do fim do mundo?
Algo que escreveu a filósofa argentina Amelia Podetti me vem à mente: a realidade é melhor vista dos extremos do que do centro. Da distância se entende a universalidade. É um princípio social, filosófico e político.
O que lembra dos meses de confinamento, sua oração solitária na Praça São Pedro?
Chovia e não havia ninguém. Eu senti que o Senhor estava lá. Era algo que o Senhor queria nos fazer entender a tragédia, a solidão, a escuridão, a peste.
Existem várias guerras no mundo. Por que é difícil entender o drama?
Em pouco mais de cem anos houve três guerras mundiais: '14-18, '39-45, e esta é uma guerra mundial. Começou aos poucos e agora ninguém pode dizer que não é mundial. As grandes potências estão todas emaranhadas. O campo de batalha é a Ucrânia. Todos lutam lá. Isso faz pensar na indústria de armas. Um técnico me dizia: se as armas não fossem produzidas por um ano, o problema da fome no mundo estaria resolvido. É um mercado. A guerra é travada, velhas armas são vendidas, novas são testadas.
Antes do conflito na Ucrânia, o senhor se encontrou várias vezes com Putin. Se o encontrasse hoje, o que diria a ele?
Eu falaria com ele claramente como falo em público. Ele é um homem culto. No segundo dia da guerra, fui à embaixada russa na Santa Sé para dizer que estava disposto a ir a Moscou com a condição de que Putin me abrisse uma brecha para negociar. Lavrov me escreveu agradecendo, mas não é o momento. Putin sabe que estou à disposição. Mas há interesses imperiais lá, não apenas do império russo, mas de outros impérios. É próprio do império colocar as nações em segundo lugar.
Quais outras guerras o senhor sente que são mais próximas?
O conflito do Iêmen, da Síria, os pobres Rohingya de Mianmar. Por que esses sofrimentos? As guerras machucam. Não há espírito de Deus, não acredito em guerras santas.
Muitas vezes fala sobre fofoca. Por que?
A fofoca destrói a convivência, a família. É uma doença oculta. É a peste.
Como foram os dez anos de Bento XVI na Mater Ecclesiae?
Bom, ele é um homem de Deus, quero muito bem a ele. A última vez que o vi foi no Natal. Ele quase não conseguia falar. Falava baixo, baixo, baixo. Foi necessário que traduzissem suas palavras. Era lúcido. Fazia perguntas: Como é isso? E esse problema lá? Ele estava atualizado sobre tudo. Foi um prazer falar com ele. Pedia-lhe opiniões. Ele dava o seu parecer, mas sempre equilibrado, positivo, sensato. Da última vez, porém, se via que estava no fim.
As exéquias foram sóbrias. Por que?
Os mestres de cerimônias tinham "quebrado a cabeça" para fazer as exéquias de um Papa não reinante. Era difícil fazer a diferença. Agora eu disse para estudar a cerimônia dos funerais dos futuros Papas, de todos os Papas. Eles estão estudando e também simplificando um pouco as coisas, tirando as coisas que estão liturgicamente erradas.
O Papa Bento XVI abriu caminho para a renúncia. O senhor disse que é uma possibilidade, mas que atualmente não a contempla. O que pode levá-la a renunciar no futuro?
Um cansaço que não nos faz ver as coisas com clareza. A falta de clareza, de saber avaliar as situações. Até o problema físico, talvez. Eu sempre pergunto sobre isso e sigo os conselhos. Como estão as coisas? Você acha que devo... às pessoas que me conhecem, até mesmo alguns cardeais inteligentes. E eles me dizem a verdade: continua está bom. Mas por favor: grite em tempo.
O senhor quando saúda, pede a todos para rezar pelo senhor. Por que?
Tenho certeza que todos rezam. Aos que não creem, digo: rezem por mim e se não rezarem me mandem boas ondas. Um amigo ateu me escreve: … e eu te mando boas ondas. É uma forma pagã de rezar, mas é um querer bem, e querer bem ao outro é uma oração. Fonte: https://www.vaticannews.va
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Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém (PA)
A Sagrada Escritura nos diz que há um tempo para cada coisa. Então é preciso saber discernir o momento certo de cada uma; quando iniciar e também quando terminar. “Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa. Tempo para abraçar e tempo para se separar” (Ecle 3,1.5). Há um tempo para abraçar responsabilidades, permanecer nelas, encarar desafios, carregar peso, dar a própria contribuição servindo com alegria e generosidade.
Também há o tempo de abandonar o que se assumiu, de renunciar responsabilidades; tempo de reconhecimento de que a missão foi cumprida ou que as forças se esgotaram. Visto que só Deus é eterno, só as coisas divinas têm duração eterna (cf. Ecle 3,14). Somos todos marcados pela vulnerabilidade, por isso, com humildade é necessário reconhecer o momento justo de passar as nossas responsabilidades para outros. Essa é a sábia hora da sucessão.
Apego a cargos: a vaidade gera sofrimento
Somos estrangeiros sobre a terra (cf. Hb 11,13;1Pd 2,11). Neste mundo somos todos peregrinos caminhando rumo à nossa casa definitiva, a pátria celeste (cf. Hb 11,16;13,14). Por isso, como bem nos recorda a liturgia, somos convidados a viver com sabedoria entre as coisas que passam, abraçando as que não passam. Os cargos passam, os serviços mudam, as funções cessam, as nossas forças diminuem, a visão e a sensibilidade se perdem, o dinamismo da vida se enfraquece e tornamo-nos lentos. Por isso, não há motivos para o apego; a vaidade gera sofrimento quando se reconhece que é chegada a hora da mudança.
É triste encontrarmos comunidades, paróquias e outras instituições em situação de crises e conflitos, tristeza e mágoas, indignação e protestos por causa da mudança de líderes. Quem ama a Igreja serve sempre e não precisa de cargos, nem status. É bom que não esqueçamos que as possibilidades de servir, são muito mais abundantes do que a oferta de cargos. Quem quer cargos, não serve porque é vaidoso! Jesus nos alertou: “o maior de vocês deve ser aquele que serve a vocês” (Mt 23,11); “Estou no meio de vocês como quem está servindo” (Lc 22,27).
Na Igreja, ter cargos não é um direito, é um dom, é uma graça; é uma realidade que nos é conferida e, por isso, também tirada e transferida. Somente gratuitamente, com liberdade e desapegados, é que servimos como convém. Jesus nos ensina que no amor está o fundamento do serviço de líder (cf. Jo 21,1-19).
Só Jesus é permanente
Na Igreja as transferências de responsabilidades e alternância de funções é uma realidade que faz parte da sua natureza. Ninguém tem cadeira cativa! As mudanças fazem parte do caráter missionário, itinerante e peregrino da Igreja neste mundo, porque estamos em trânsito. Na Igreja todos mudamos em virtude das exigências do Reino de Deus. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8). O status de imutabilidade é unicamente reservado ao Senhor do tempo e do universo.
Na Igreja todos mudamos por causa da nossa obediência e disponibilidade à sua missão. Mudaram os apóstolos, mudam os papas, os cardeais, os bispos, os párocos, os superiores das congregações e devem mudar também todos os níveis de liderança em todos os contextos eclesiais. O Direito Canônico nos apresenta com naturalidade a questão das transferências em virtude da obediência à Igreja (cf. Cân 273); mas também por causa das necessidades e da utilidade ao povo de Deus. Isso deve acontecer todas as vezes quando o ordinário (bispo ou pároco), após justo discernimento, achar conveniente, por necessidade e por amor ao povo de Deus (cf. Cân. 1748).
Lamentavelmente, talvez por falta da justa compreensão, há pessoas que, como já afirmou o Papa Francisco, estão contagiadas pela “síndrome de eternidade” em seus cargos. O apego a cargos enfraquece a vida da Igreja; quando alguém por anos ou décadas, se mantém na mesma função, se empobrece pessoalmente e, dependendo da sua mentalidade e forma de atuação, gera graves perdas para a comunidade.
A sucessão na Sagrada Escritura
A Bíblia nos apresenta uma longa série de sujeitos que reconheceram o momento da justa mudança transferindo suas responsabilidades para outros. Assim encontramos a natural sucessão entre os patriarcas no serviço de liderança do povo de Deus: Abraão, Isaac, Jacó, José; o profeta Elias cede sua missão a Eliseu, o sacerdote Eli dá lugar a Samuel (cf. 1Sm 3-4) e, este por sua vez, idoso, estabeleceu seus filhos como juízes em seu lugar (cf. 1Sm 8,1-5). Certo é que nem todas as sucessões foram serenas como aquela da passagem do Rei Saul para Davi.
Merece especial atenção a passagem da liderança de Moisés para Josué. Certo dia, dirigindo-se a todo o povo Moisés declarou: “Tenho hoje cento e vinte anos e já não posso deslocar-me…”. Depois Moisés chamou Josué e, diante de todo Israel, lhe disse: “Sê forte e corajoso, pois és tu que introduzirás este povo na terra que o Senhor sob juramento prometeu dar a seus pais, e és tu que lhe darás a posse dela. O Senhor, que é o teu guia, marchará à tua frente, estará contigo e não te deixará nem te abandonará. Por isso, não temas nem te acovardes” (Dt 31,1.6-8).
Essa narração é comovente! Moisés idoso, cansado, desgastado, percebeu com sabedoria que era chegada a hora de passar o comando para alguém mais novo. O jovem Josué foi o escolhido! E já estava sendo preparado havia muito tempo! O bom líder, pensando no futuro, capacita sucessores. Apesar do temor, Josué aceitou a responsabilidade de continuar o processo de libertação do povo caminhando rumo à Terra Prometida. Otimista, Moisés anima o seu sucessor, sem ciúmes, nem temor!
Um dos mais graves males das instituições contemporâneas é a crise de liderança. Lamentavelmente isso acontece porque muitos se mantiveram a todo custo no poder por muito tempo, e não prepararam novos líderes. Líderes apegados aos próprios cargos provocam prejuízos aos liderados (povos, grupos, instituições), porque olham para si mesmos e não percebem que um dia deverão abandonar suas funções.
Quem não pensa no dinamismo da missão da Igreja, mas olha somente para o próprio cargo, é um líder egoísta, vaidoso, carente da visão de conjunto e de futuro. É preciso não ter medo de envolver novas pessoas e, se possível, mudar de ofício.
Também Jesus de Nazaré ao longo da sua vida terrena sempre manifestou a seus discípulos a consciência da sua provisoriedade corporal neste mundo (cf. Jo 7,33; 12,35; 14,1-4.30). São Paulo teve clara consciência de ter chegada a hora do fim da sua missão dizendo: “chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé. Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me entregará naquele Dia” (2Tim 4,6-8). Em cada comunidade há sempre muitas formas de engajamento no bom combate da fé. Quando percebemos isso nunca brigamos por cargos. Cada um é chamado a não procurar os próprios interesses, a exemplo de Cristo que, desapegou-se de seu status de ser igual a Deus, esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo (cf. Fl 2,6-8). A disputa por cargos e status, desde o início da Igreja, tem gerado mal estar entre os discípulos de Jesus (cf. Mt 20,24). Cristo nos recorda que quem quer tornar-se grande deve aprender a servir e quem quer ser o primeiro deve fazer-se servo de todos (cf. Mt 20,26-28).
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
Quais são as causas do apego a cargos?
Por que em muitas de nossas comunidades há dificuldade da mudança de líderes?
Quais são as consequências do apego à cargos?
Fonte: https://www.cnbb.org.br
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Apresentado na sede de La Civiltà Cattolica, em Roma, o livro que repropõe o último texto do cardeal Martini, integrado com considerações e comentários de Francisco sobre o ministério episcopal em uma ótica sinodal. Padre Casalone: contém intuições que inspiram quem realiza um serviço de responsabilidade em uma comunidade humana, eclesial e civil, porque indica um estilo de relacionamento, uma forma de exercer a autoridade que promove a pessoa, eleva as consciências e constrói comunidade.
Antonella Palermo - Vatican News
"Dois bispos que guardam e acompanham o rebanho de Deus". Cada um com um estilo distinto e a herança do comum seguimento nas pegadas de Inácio de Loyola". Foi assim que a irmã Nicla Spezzati, adoradora do sangue de Cristo, entrelaçou a experiência pastoral do falecido arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, e a do Bispo de Roma, o Papa Francisco, autores do livro "O Bispo o Pastor. A autoridade na Igreja é sempre "ao serviço" (San Paolo edizioni) apresentado neste dia 24 de fevereiro, na sede de La Civiltà cattolica, em Roma.
Casalone: um livro profundo e inspirador
O volume coloca novamente em circulação O Bispo, um texto hoje que não se encontra de Martini, acompanhado das considerações e comentários do Pontífice que nos permitem aprofundar o tema do vínculo entre o bispo e o povo. Foi a Fundação dedicada a Martini que propôs sua publicação por ocasião do décimo aniversário de sua morte. A Fundação quis ir além de uma simples operação celebrativa, criando uma continuidade entre as reflexões dos dois jesuítas, num momento em que a sinodalidade assume uma importância crucial.
"Este é o último livro que Martini escreveu e, portanto, reúne toda sua sabedoria a partir da experiência que teve, um livro profundo em toda sua simplicidade", diz padre Carlo Casalone SJ, presidente da Fundação Carlo Maria Martini. "E então ele tem muitas intuições que inspiram ou podem inspirar qualquer pessoa que realiza um serviço de responsabilidade em uma comunidade humana, seja eclesial, como é o caso do bispo ou outras formas de ministério, ou civil, porque ele indica um estilo de relacionamento, uma forma de exercer autoridade que promove a pessoa e é obediente à dinâmica da comunidade como um todo". Martini", aponta, "cuida da comunidade e ao mesmo tempo exerce a autoridade como um serviço às consciências para que elas não se abstenham da vida comunitária". Em certo sentido, ele volta ao conceito original de autoridade que significa "fazer crescer", fazer o outro autor, capaz de assumir na primeira pessoa aquelas responsabilidades que são próprias também em relação aos outros, e isto constrói a comunidade".
O Pastor, um homem de oração e misericórdia
As páginas do Bispo de Roma sobre as peculiaridades do pastor enfatizam como esta é uma figura que não nasceu em um laboratório, e que deve sempre se esforçar para se valer dos conselhos de seu clero e de seu povo, evitando todas as formas de carreirismo. No seu texto, o Papa Francisco escreve que Martini pretendia pintar uma imagem viva do bispo, concreta e sem falsas pretensões, usando "extrema franqueza". Revendo as reflexões que mais o marcaram, o Papa enfatiza a relação imprescindível com o Senhor que o bispo deve ter essencialmente na oração, a peculiaridade de ser um "homem de misericórdia", o fato de que ele deve agir como um "médico em um hospital de campo" e não deve negligenciar a relação com os jornalistas.
Este é um ponto que ele considera tão importante quanto o arcebispo de Milão. "Mesmo que alguns erros possam acontecer", diz Francisco, "devido a seu despreparo, o bispo deve saber que 'o importante é conduzir o barco em direção ao porto, comunicar-se verdadeiramente com o povo, saber entrar em uma relação quase pessoal com a ajuda da mídia'.
Especialmente em vista dos trabalhos sinodais atuais, Francisco enfatiza a necessidade de que o bispo, assim como Martini escreve, manifeste a comunhão com os outros bispos e com o Papa, e toda a paternidade espiritual para com os sacerdotes. E ele convida à reflexão sobre a necessidade de meios simplificados e rápidos de receber opiniões. Ciente de que não existe um pastor "standard" para todas as Igrejas, Francisco descreve brevemente o bispo como "aquele que vela, apoiando pacientemente os processos pelos quais o Senhor leva avante a salvação de seu povo". E recorrendo mais uma vez à metáfora do cheiro das ovelhas, ele acrescenta:
"Não basta vigiar, é preciso ter a mansidão, a paciência e a constância da caridade (Papa Francisco)".
Martini e Francisco, homens de escuta fraterna e universal
Nas palavras da irmã Nicla - que viveu recentemente a experiência sinodal em Praga n etapa continental europeia, onde a delegação italiana da qual ela fazia parte expressou sua voz fazendo muito uso do legado de Martini - o contínuo paralelismo entre Martini e Bergoglio se traduz em destacar como ambos "são bispos que recordam, a cada hora, a terra de origem e de realização, com a vitalidade dos homens em constante busca. Vitalidade que se torna um discernimento vigilante, um guia para escolher o essencial em cada circunstância". Ambos nos convidam a levar a sério o fato de nos tornarmos vizinhos, promovendo uma fraternidade que não só é desejada, mas possível. Ambos convidam "a escutar com o ouvido do coração" os pobres, prisioneiros, intelectuais, crentes e não crentes, jovens, evitando qualquer miopia particularista e sem recorrer precipitadamente, aponta a religiosa, a respostas pré-embaladas. Ambos se fazem intercessores pela paz.
Bizzeti: Martini em diálogo com as novidades da história e das pessoas
A apresentação do livro foi selada por monsenhor Paolo Bizzeti SJ, Vigário Apostólico da Anatólia, que compartilhou seu testemunho de uma região ferida, onde o exercício da autoridade episcopal tem que lutar, por um lado, com escassos recursos humanos e materiais e, por outro, com uma variedade de ritos e "modelos" de bispos que "devem necessariamente interpelar", também na ótica de realizar um efetivo caminho ecumênico. Bizzeti recorda sua relação com o cardeal Martini: desde o tempo em que era reitor do Pontifício Instituto Bíblico ("um homem tradicional, no melhor sentido do termo"), até a época da 32ª Congregação da Companhia de Jesus ("um homem que, embora já muito estruturado, se questionava, não se afastava de enfrentar as novidades da época"); desde o tempo em que em Milão reconhecia com extrema lucidez a complexidade do ministério e os inevitáveis limites a ele associados, até o período, finalmente, de Jerusalém, quando uma séria reflexão sobre o mistério da morte o ocupava e o preocupava.
Bizzeti também enfatiza a abertura total com que Martini concebeu e viveu sua missão pastoral: relações com judeus, com várias Igrejas locais, com não-crentes, em um estilo que nunca foi impositivo. Porque, de fato, trata-se de levar em conta constantemente o fato de que, ao mesmo tempo em que se impõe, espalharia o rebanho, por outro lado - nas palavras de Inácio de Antioquia - "onde está o bispo, aí está a Igreja". O importante é tirar o bispo de seu nicho, como escreve Martini, e vê-lo em contato com o povo. Mais sinodal do que isso... Fonte: https://www.vaticannews.va
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Jovem encontrado no rio Iguaçu após se jogar da ponte dos Arcos em União da Vitória era seminarista
Já foi identificado pelo Instituto Médico Legal – IML de União da Vitória o corpo encontrado nas águas do rio Iguaçu após se jogar da ponte dos Arcos. Se trata de Vanderson Daniel Openkovski.
Vanderson tinha 20 anos e era natural de Rebouças. Ele estava cursando o 1º ano de Teologia no Seminário Diocesano de União da Vitória.
O jovem se jogou nas águas do rio Iguaçu na tarde de quinta-feira, sendo que após quatro dias de buscas, seu corpo foi encontrado nesse domingo, dia 26, na região de Porto Vitória. Fonte: https://canal4.tv.br
O Corpo de Bombeiros de União da Vitória foi acionado por volta das 10h40 deste domingo, 26, em Porto Vitória depois que populares avistaram um corpo boiando no Rio Iguaçu.
A equipe realizou buscas pelo local, no período da tarde, por volta das 15h40 o corpo foi localizado. A vitima é um jovem de 20 anos identificado como Vanderson Daniel Openkovski.
Vanderson era aluno no 1º ano de Teologia no Seminário Diocesano de União da Vitória, ele era natural de Rebouças.
A Diocese emitiu uma nota sobre o falecimento:
A Diocese de União da Vitória noticia com profundo pesar o falecimento do Seminarista Vanderson Daniel Openkovski.
Natural da cidade de Rebouças, Vanderson tinha 20 anos de idade e estava cursando o 1º Ano de Teologia, no Seminário Diocesano, em União da Vitória.
Unidos na fé, com seus pais, demais familiares e amigos, pedimos ao Espírito Santo Consolador, que fortaleça o coração de todo nós, que neste momento de luto, sofremos com a perda do Seminarista Vanderson. Fonte:
https://www.facebook.com/jornalidealnews
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A publicação da Diocese de União da Vitória noticiou e lamentou na madrugada desta segunda-feira (27/02), por volta de 1h, o falecimento de Vanderson Daniel Openkovski, seminarista natural de Rebouças.
A informação foi divulgada algumas horas depois de um corpo ter sido encontrado no rio Iguaçu, sem a relação confirmada oficialmente entre as duas situações. O seminarista será sepultado na manhã desta segunda-feira, em Rebouças. Fonte: https://www.facebook.com/portalculturasulfm
A família Rcc Diocese União da Vitória está de Luto pelo falecimento do Seminarista Vanderson Daniel Openkovski.
O mesmo era participante do Grupo de Oração Beata Helena Guerra no seminário Rainha das Missões e filho do ex- coordenador Diocesano da RCC Vanderlei Openkovski.
Nos unamos a família e amigos nesse momento de dor e rezemos pela sua alma e descanso eterno.
"Eu sou a Ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá." Jo 11, 25. Fonte: https://www.facebook.com/rccuniao
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Rapaz se joga de ponte e é levado pelas águas do Iguaçu, em União da Vitória
Bombeiros estão realizando varredura superficial no Rio Iguaçu, em busca do desaparecido.
Por volta das 16h desta quinta-feira (23), um rapaz foi visto se jogando da Ponte dos Arcos em União da Vitória. Um popular, que viu a cena, acionou imediatamente o Corpo de Bombeiros, que realiza buscas nesse momento.
Ainda não se tem informação da identidade do homem, porém testemunhas dizem que aparentava ser jovem, teria subido no topo dos arcos e se jogado de costas, sendo levado pelas águas do Rio Iguaçu.
Em grupos de WhatsApp, o popular que viu o ato e acionou os bombeiros diz que “Já na hora que vi o cidadão se jogando liguei para os bombeiros, infelizmente o rapaz não fez intenção nenhuma de se salvar, simplesmente descia sem sequer agitar os braços”.
Bombeiros fazem buscas superficiais, porém se chover as buscas precisarão ser suspensas. Fonte: https://canoinhasonline.com.br
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Descanse em paz menino! E que Deus conforte a família.
Ao mesmo tempo é necessário e urgente buscar estratégia de debate na igreja sobre saúde mental. É preciso repensar como Igreja uma ajuda no âmbito de saúde mental desde a dimensão psicológica aos religiosos sejam (padres e seminaristas).
É preciso falar de saúde mental na igreja. Existe muitas pessoas tóxicas nesse ambiente.
Só rezar não soluciona os problemas. O pietismo vazio não ajuda em nada. Muito pelo contrario, leva a situações muito doloroso.
Não se pode só lamentar e depois esquecer.
A saúde mental precisa estar na agenda de formação em todos os sentidos. É preciso ser mais humano com o humano!
Daniel Andres Baez Brizueña. Fonte: https://www.facebook.com/danan1011
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Um empresário de Ancara ofereceu uma casa para Mesut Hancer e propôs contratá-lo como funcionário administrativo em sua rede de televisão privada
Por AFP — Ancara
O momento de um pai segurando a mão da filha morta, registrado por um fotógrafo da AFP, foi uma das imagens que deram a volta ao mundo após o terremoto devastador de 6 de fevereiro na Turquia e na Síria.
Quase três semanas depois desta catástrofe que deixou mais de 44 mil mortos na Turquia, Adem Altan, o repórter fotográfico que registrou a imagem, voltou a se encontrar com o turco Mesut Hancer.
Pai de quatro filhos, entre eles a adolescente Irmak, que morreu aos 15 anos sob os escombros de um imóvel de oito andares, Hancer deixou recentemente a cidade de Kahramanmaras, no sudeste da Turquia, e foi morar na capital, Ancara.
— Também perdi minha mãe, meus irmãos e meus sobrinhos no terremoto. Mas não há nada comparável a enterrar um filho — explica o homem, na faixa dos 40 anos. — É uma dor indescritível.
Sua família tenta agora reconstruir a vida longe da arrasada Kahramanmaras, localizada perto do epicentro do tremor de magnitude 7,8, que também sacudiu o norte da Síria, causando quase 6 mil mortes no país. No total, o desastre matou mais de 50 mil pessoas.
A foto de Hancer, petrificado de dor e indiferente ao frio e à chuva, vestindo um casaco impermeável laranja, simbolizou a tragédia vivida por milhares de pessoas e gerou uma onda de solidariedade.
Um empresário de Ancara ofereceu-lhe uma casa e propôs contratar Hancer como funcionário administrativo em sua rede de televisão privada.
Filha é retratada como um anjo
Na sala de estar de sua casa nova, ele pendurou um quadro, presente de um artista, no qual Irmak é retratada com asas de anjo ao lado do pai.
— Não consegui soltar sua mão. Minha filha dormia como um anjo em sua cama — explica o pai, separado violentamente de um de seus filhos.
Quando o terremoto ocorreu, às 4h17 locais de 6 de fevereiro (22h17 do dia 5, horário de Brasília), Hancer trabalhava em sua padaria.
Imediatamente, ligou para a família e soube que sua casa tinha sofrido danos, mas não tinha desmoronado, e que sua mulher e que três de seus quatro filhos estavam sãos e salvos.
Mas a família não tinha notícias da filha caçula, Irmak, que naquela noite dormiu na casa da avó para passar mais tempo com as primas de Istambul, que tinham ido visitá-los.
Então, Hancer, muito preocupado, foi rapidamente para a casa da mãe e ali se deparou com o imóvel transformado em uma montanha de escombros. Em meio às ruínas, encontrou o corpo da filha.
Nenhuma equipe de socorristas apareceu na área nas 24 horas que se seguiram à catástrofe.
Hancer e outros moradores tiveram que se virar para tentar encontrar seus familiares e conhecidos debaixo dos escombros.
Ele tentou retirar o corpo da filha morta, erguendo blocos de concreto com as mãos. Mas era uma tarefa impossível.
Desesperado, frustrado e tomado por uma profunda tristeza, sentou-se ao lado do cadáver de Irmak.
— Peguei a mão dela, acariciei seu cabelo e beijei suas bochechas — lembra.
Minutos depois, viu o repórter fotográfico que retratava as consequências do terremoto.
— Faça fotos da minha filha — murmurou com a voz embargada por uma dor difícil de esquecer. Fonte: https://oglobo.globo.com
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O Jornalismo profissional sobrevive
A desmoralização da imprensa profissional foi uma bandeira de campanha do então candidato Jair Bolsonaro em 2018 e se tornou uma política informal de governo após sua posse como presidente da República. Se é verdade que a vida de jornalistas que cobrem o exercício do poder nunca foi cômoda, não há precedentes para o que aconteceu no País nos últimos quatro anos desde pelo menos o fim da ditadura militar.
Quando não o fez pessoalmente, Bolsonaro açulou seus ministros, auxiliares e apoiadores mais radicalizados para ameaçar e agredir jornalistas. Como chefe de governo, o presidente dificultou tanto quanto pôde o exercício da liberdade de imprensa assegurada pela Constituição, seja banalizando a edição de decretos de sigilo, seja autorizando que órgãos da administração federal se esquivassem de determinações da Lei de Acesso à Informação.
Durante o governo Bolsonaro, os ataques a jornalistas e à liberdade de imprensa atingiram escala inaudita. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) bem destacou há poucos dias, durante a cerimônia de entrega do Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2022, que nos últimos quatro anos aumentaram os processos judiciais contra jornalistas por supostos crimes cometidos contra a honra. Trata-se de mais uma forma de constranger o livre exercício de uma profissão que, nunca é demais lembrar, é protegida pela Constituição, regulamentada por lei e orientada por um código de ética muito rigoroso.
A bem da verdade, essa sórdida campanha para desacreditar o trabalho da imprensa – e, assim, minar a confiança dos cidadãos no trabalho dos jornalistas como forma de turvar a compreensão da realidade – não é um problema exclusivo da sociedade brasileira. Diversos países têm lidado com um dos grandes desafios da atual quadra do século 21: o restabelecimento de um consenso social mínimo acerca do que seja fato. A peculiaridade do caso brasileiro é que Bolsonaro, como chefe de Estado e de governo, pôs-se a liderar essa cruzada contra a imprensa profissional enquanto guardiã da verdade factual.
É típico de populistas que flertam abertamente com o autoritarismo atacar as instituições democráticas que, à sua maneira, traçam uma linha muito bem definida entre realidade e ficção. Não surpreende, portanto, que a imprensa profissional, como guardiã dos fatos, tenha sido alçada por Bolsonaro à condição de “inimiga do povo”. O mesmo aconteceu com instâncias do Poder Judiciário, como guardião das leis, e com as universidades, como centros de produção de conhecimento científico.
Essa disrupção provocada por Bolsonaro impôs desafios não apenas ao jornalismo, mas também aos tribunais superiores. No afã de salvaguardar a democracia nesses tempos esquisitos, ministros que devem zelar pelas liberdades garantidas pela Constituição tomaram decisões que, em alguns momentos, acabaram por enfraquecê-las. A liberdade de expressão não é absoluta, como nenhum direito é, mas é preciso ficar atento para que o remédio contra o golpismo não se torne veneno contra a democracia.
A despeito da magnitude de todos os ataques que sofreu, o jornalismo profissional resistiu e mostrou seu inestimável valor para a construção de uma sociedade mais bem informada e, consequentemente, mais livre e participativa. Todo o descalabro do governo Bolsonaro só veio à luz pelo incansável trabalho de jornalistas que não se intimidaram e desafiaram as barreiras que foram erguidas para dificultar o exercício da profissão.
Este jornal manteve a sociedade bem informada durante um governo que se notabilizou, entre outras razões, por sua recalcitrante hostilidade à imprensa profissional. A revelação de casos como o das “rachadinhas” da família Bolsonaro, o famigerado “orçamento secreto”, “os pastores do MEC” (esquema de corrupção montado no Ministério da Educação), entre tantas outras reportagens, deram ao Estadão papel de destaque no trabalho da imprensa de lançar luz onde o governo Bolsonaro queria que prevalecesse a sombra.
Em menos de um mês, Bolsonaro deixará o poder. Já a imprensa profissional seguirá onde sempre esteve: a serviço da sociedade, publicando as informações que apura com técnica, rigor ético e espírito público. Fonte: https://www.estadao.com.br
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Para as mulheres negras, violências iniciam-se na concepção, passando pela saúde, educação, moradia e mercado de trabalho, finalizando com a interrupção da vida.
Amini Haddad Campos e Karen Luise Vilanova Batista de Souza, O Estado de S.Paulo
O movimento mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher teve início em 1981, intitulado “as mariposas” em homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, assassinadas em 25 de novembro de 1960, na República Dominicana, quando foram submetidas às mais diversas situações de violência e tortura. Na data, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
No Brasil, os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher consolidam ações entre 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Violências contra mulheres, em especial contra negras, externam uma naturalizada “cultura” que hierarquiza homens e mulheres (subjugação do feminino) e pessoas brancas e negras (subjugação racial), com consequências sociais gravíssimas.
Segundo estudos (Violence against Women, do UN Department of Public Information) são decorrências desses condicionamentos do feminino a violência doméstica/familiar, a sexual e a psicológica; as ofensas e a exposição da intimidade nas mídias; o tráfico internacional de mulheres/meninas; a mutilação genital feminina; o matrimônio forçado; os leilões de meninas/mulheres; os feminicídios; a violência econômica (exploração doméstica, desnível na herança, diferenças salariais; a violência obstétrica; a seleção pré-natal à garantia de nascimento de meninos; o aborto de fetos femininos (desqualificação estabelecida); a eliminação de embriões femininos; a desnutrição de bebês meninas (do não desenvolvimento à morte); a delimitação de atividades (imposição); a limitação da identidade/personalidade, com imposição de véus, burcas, xadores; o turismo sexual; o descrédito/desqualificação de testemunhos de mulheres; o impedimento à cidadania (trabalho, votar/ser votada); a violência política contra mulheres; a perseguição; a discriminação representativa nas cúpulas (ausência de mulheres); a desqualificação feminina nas promoções de carreira (uso de termos pejorativos), entre outras ocorrências e situações categorizadas por vulnerabilidades múltiplas, que condicionam gradações majoradas de violações aos direitos humanos de mulheres e meninas.
Não se deve descurar das suscetibilidades profundas na sociedade. Assim, veem-se potencializadas as violações conforme perfil feminino, na modalidade de análise existencial (raça, etnia, deficiência) ou circunstancial (violações no momento do parto ou de atendimento médico, por exemplo).
Os direitos humanos são universais, mas as práticas para lhes darem concretude partem de paradigmas nos quais as mulheres e as pessoas negras não se sentem contempladas. Por isso, compete a todas as pessoas a adoção de práticas que busquem a superação do histórico emudecimento desses sujeitos, com a construção de um novo tempo no qual todas e todos sejam vertentes nobres de iniciativas à promoção da equidade. É importante que a sociedade civil e seus representantes possam dialogar com vistas à superação dessas modalidades de violência.
É nesse contexto que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) assumiu relevante compromisso à representação feminina nos espaços de poder, ciente de que há relação direta entre a invisibilidade do feminino e as graves violações aos direitos humanos, conforme expresso na Declaração de Pequim.
Com esse foco, foram adotadas ações para o desenvolvimento de políticas judiciárias de promoção da equidade para efetiva participação feminina, expressa na Resolução CNJ n.º 255/2018, bem como delimitação de acesso à justiça, conforme orientação para julgamento com perspectiva de gênero, por meio da Recomendação CNJ n.º 128/2022. A campanha dos 21 dias de ativismo pela equidade e fim da violência contra mulheres e meninas é mais uma ação do Conselho Nacional de Justiça que visa alcançar o equilíbrio e a justiça para todas as pessoas.
A escolha simbólica do Dia da Consciência Negra para dar início a essa agenda guarda consigo a necessidade de dar visibilidade ao que as estatísticas recorrentemente demonstram: mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2021) e de outras tantas violações de direitos humanos que as colocam na base da pirâmide social.
Para as mulheres negras, em razão de sua dupla vulnerabilidade, as violências contra elas iniciam-se desde a sua concepção, passando pela saúde, educação, moradia e mercado de trabalho, finalizando com a interrupção de suas vidas, expressão máxima das violências de gênero e de raça, em processos de constante negação de humanidade.
Em uma sociedade democrática, evidencia-se um dever à existência do valor humanidade. Reconhece-se que a consecução desse valor, representativo de todas as pessoas, é sustentado no vetor do artigo 3.º da Constituição federal, que prevê como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
*JUÍZAS AUXILIARES DA PRESIDÊNCIA DO CNJ. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
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Jornalismo – a coragem de mudar
Fenômeno das redes estourou a bolha em que se confinavam alguns jornalistas que produziam notícias para muitos, menos para seu leitor real.
Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo
O jornalismo está fustigado não apenas por uma crise grave. Vive uma mudança cultural vertiginosa, mas fascinante. A revolução digital é um processo disruptivo. Quebra todos os moldes e exige uma baita reinvenção corporativa e pessoal. Quem não tiver disposição de mudar a própria cabeça, rápida e efetivamente, deve tirar o time de campo. A aceleração da mudança não admite demora nas tomadas de decisão. No nosso mundo informativo, o desafio não admite olhar de retrovisor.
O jornalismo vai morrer? Não. Nunca se consumiu tanta informação como na atualidade. Mas o modelo de negócios está na UTI. A publicidade tradicional evaporou. E não voltará. Além disso, perdemos o domínio da narrativa.
O modo de produzir informação e o diálogo com o consumidor romperam o esquema a que estávamos confortavelmente acostumados. As pessoas rejeitam intermediações – dos partidos, das igrejas, das corporações, dos veículos de comunicação.
O que fazer? Olhar para trás? Tentar fazer mudanças cosméticas? Fazer o papel ridículo das velhas de minissaia? Não. Precisamos olhar para a frente e descobrir incríveis oportunidades.
Mas é preciso, previamente, fazer uma autocrítica corajosa a respeito do modo como vemos o mundo e da maneira como dialogamos com ele.
Na prática, entre outras coisas, trata-se de entender que a produção da notícia começa pelo leitor. Nessa lógica, a audiência deixa de ser simples destinatária da informação para ser também sua proponente. Um processo fácil de ser descrito, mas, como em toda mudança de paradigma, altamente complexo em sua execução.
Nós, os profissionais da imprensa, por mais absurdo e contraditório que isso possa parecer, nos acostumamos a trabalhar de costas para a audiência. Uma frase que circula na classe é de que “jornalistas escrevem para jornalistas”. Ainda que dita quase sempre em tom de brincadeira, revela a sombria face da vaidade da nossa profissão. Será que, de fato, por vezes não temos esquecido nossa função social para buscar a admiração e sintonia de valores de colegas que, seguramente, terão acesso ao material que publicamos e postamos?
No jornalismo, abalado pela avalanche digital e que aos poucos e sofridamente se reergue, não há lugar para a presunção. A única obsessão permitida são os leitores. Eles são a peça-chave do trabalho editorial. Precisamos descobrir quem são, suas demandas reais, suas circunstâncias, seus interesses. Precisamos confessar a nós mesmos, envergonhados, que desconhecemos o rosto deles.
Abrir canais de diálogo, com sinceridade e verdadeiro interesse, é uma forma simples e barata de fortalecer os vínculos com a audiência. Passamos décadas certos de que éramos essenciais na vida da sociedade. E, de fato, parece-me que somos. Mas precisamos abrir-nos para o público, para que ele também reconheça o valor do jornalismo que faz diferença em sua vida.
Impõe-se colocar a audiência no centro do processo. Já não basta que definamos nós o que precisam os consumidores de informação. É preciso ouvir o que eles têm a dizer. Interagir com eles. Captar suas sugestões. Aceitar suas críticas. Abrir nossos espaços. O fenômeno das redes sociais estourou a bolha em que se confinavam alguns jornalistas que produziam notícias para muitos, menos para o seu leitor real.
Conversar com o leitor não é uma carga. É uma necessidade. E deve ser um prazer. Precisamos correr. Do contrário, corremos o risco de perder o momento da virada.
Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre.
Jornalismo sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma perigosa doença que contamina redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento.
É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história.
Sucumbe-se, frequentemente, ao politicamente correto. Certas matérias, algemadas por chavões inconsistentes que há muito deveriam ter sido banidos das redações, mostram o flagrante descompasso entre essas interpretações e a força eloquente dos números e dos fatos. Resultado: a credibilidade, verdadeiro capital de um veículo, se esvai pelo ralo dos preconceitos.
É preciso encantar o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência. Além disso, os consumidores estão cansados do baixo-astral da imprensa. A ótica jornalística é, e deve ser, fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende o produto. O cidadão que aplaude a denúncia verdadeira é o mesmo que se irrita com o catastrofismo que domina muitas de nossas pautas.
O papel da informação no conturbado momento nacional mostra uma coisa: o jornalismo está mais vivo do que nunca.
*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
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Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita e Jornalista.
Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 5 de maio-2022.
Neste domingo, se a gente não aprisionar o Espírito Santo em nossas ideias conservadoras e em nosso mundinho e grupinhos fechados recheado de conceitos e pré-conceitos, mas ao contrário, nos abrir ao ruah, o vento ou sopro de Deus, o hálito de vida porque, “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Coríntios 12,7). Talvez seja Pentecostes, afinal, Ele sopra onde quer.
Neste domingo, se a gente abrir o coração e deletar o ódio que corrói as nossas relações - seja no campo social, profissional, político ou religioso- talvez seja Pentecostes, por que a sua presença em nossa vida não é ódio, fake News e violência, ao contrário, viver segundo o Espírito é saborear os seus frutos- digo; o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio, afinal, Ele sopra onde quer. ((Gl 5: 22-23)
Neste domingo, se a gente se livrar da religião mercadológica e lucrativa onde tudo pode em nome do aumento da nossa conta bancária, do Ibope e dos likes nas mídias sociais, mas acreditar que de fato hoje nasceu a Igreja (Atos dos Apóstolos 2,1-11). Talvez seja Pentecostes e, esse Sopro Divino venha limpar a nossa mente poluída com ideias produtivas, lucrativas, afinal, Ele sopra onde quer
Neste domingo, se a gente abrir a nossa mente para o Espírito Santo, talvez seja Pentecostes e teremos Fortaleza para vencer as adversidades da pandemia do novo coronavírus, usaremos a Sabedoria na hora dizer sim ou não, pautaremos a nossa leitura bíblica com a Ciência Divina, teremos o Conselho como companheiro em nossas relações, seremos homens e mulheres capazes de nos abrir ao Entendimento, pautaremos a nossa fé na Piedade autêntica e verdadeira e, às 24 horas, teremos o Temor de Deus, afinal, Ele sopra onde quer
Neste domingo, se a gente não aproveitar da devoção ao Divino Espírito Santo para continuar apoiando os velhos coronéis da política neste ano eleitoral, talvez seja Pentecostes e, nos comprometendo com a justiça social, a defesa do planeta terra neste Dia Mundial do Meio Ambiente- a nossa casa em comum- possamos assumir o nosso protagonista de cidadãos conscientes. Afinal, Ele sopra onde quer.
Neste domingo, se a gente gritar contra a injustiça social, a violência, o desemprego, o fanatismo político e a fome em nossa cidade e, de mãos dadas, construirmos a nossa história inspiradas na Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo caminhando na Unidade enquanto cristãos porque “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Coríntios 12,7). Talvez seja Pentecostes. Afinal, Ele sopra onde quer.
Neste domingo, se a gente não esquecer que recebemos a ação do Espírito Santo em nossa vida através do batismo e da Crisma: “Recebereis o poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra. (At 1, 8) e que, cheios do Espírito, não vamos ter medo de estender as mãos e abrir os nossos corações para os jovens- nossos filhos e netos- no mundo da droga e do tráfico em nossa cidade- acolhendo, compreendendo e encarando de frente essa realidade que domina as nossas famílias – muitas delas igrejeiras e devotas. Talvez seja Pentecostes, afinal, Ele sobre onde quer.
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Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita e Jornalista.
Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 28 de maio-2022.
Quando somos fracos na fé e desistimos dos nossos objetivos nos fechando em nosso mundinho, não é o Espírito Santo que está do nosso lado, porque Ele nos concede o Dom da Fortaleza nos proporcionando coragem, foco e disposição para caminhar. Com este Dom vencemos os medos, as síndromes e depressão causada pela pandemia, o desemprego, a violência e o tráfico em nossos morros. Com este Dom, somos capazes de sermos fiéis à vida cristã neste mundo da relatividade, da mundanidade, do consumismo e do tudo pode em nome do prazer, do poder e do ter.
Quando nós nos fechamos em nossas ideias e conceitos e não nos abrimos para a vontade da Boa Nova, não é o Espírito Santo, por que Ele nos concede o Dom da Sabedoria que nos adentra na mensagem revelada no Santo Evangelho e nos ajuda a compreender melhor a nossa fé e os acontecimentos da vida que, segundo o santo Carmelita, São Tito Brandsma, nos faz “ver o mundo com Deus no fundo”.
Quando negamos a ação do Espírito Santo na vida dos cientistas no combate a pandemia do novo coronavírus, seja através de uma crítica ou mesmo do nosso não à vacina, não é o Espírito Santo que está conosco, por que Ele nos concede o Dom da Ciência, e com este podemos aprimorar a nossa inteligência para crescermos na devesa da vida e da nossa própria fé, afinal, fomos criados para Deus e, segundo Santo Agostinho, “Só N`Ele podemos descansar”.
Quando somos motivos de divisão, seja por questões religiosa, política ou social e fugimos da missão de conselheiros na família, não é o Espírito Santo que está conosco, por que Ele nos deu o Dom do Conselho, com este Dom, somos capazes de sair de cima do muro por que “Todas as coisas têm o seu tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora […]” (Ecl 3, 1-8). Ou seja, é o Espírito Santo que vai nos inspirará a dizer sim ou não na hora certa.
Quando desprezamos o nosso próximo porque é analfabeto e por não ter tido as mesmas oportunidades que nós- seja de frequentar ou boa Escola ou faculdade- não é o Espírito Santo, por que Ele nos concede o Dom do entendimento para compreender as verdades reveladas por Deus. Esse dom, Santa Teresinha do Menino Jesus, Carmelita, e tantos homens e mulheres que- sem o conhecimento da cátedra- receberam. Por esse Dom, podemos visualizar e ter consciência do nosso pecado e da ausência de Deus em nosso caminhar.
Quando nós nos fechamos em nossas devoções- muitas vezes alienadas e descomprometidas com a vida, não é o Espírito Santo, porque Ele nos concede o Dom da Piedade para vivermos uma relação comprometida e amorosa com Deus e com o próximo a partir do Evangelho. Piedade autêntica e verdadeira não é fanatismo ou desprezo dos documentos oficiais da Igreja, mas união com o magistério porque “Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo aos Apóstolos: ‘Quem vos escuta escuta-me a Mim’ (Lc 10,16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que os seus pastores lhes dão, sob diferentes formas”. Sim, é preciso – sob pena de se criarem cismas ou “magistérios” paralelos – dar, sob o grau de assentimento que os pronunciamentos do Papa e dos Bispos o exijam, adesão aos seus ensinamentos e orientações; do contrário, podem recusar a voz do Pastor para seguir a um ladrão ou mercenário que, evidentemente, não é pastor (Jo 10,11-16). Afinal, quem diz: “Não siga o Magistério da Igreja”, de modo indireto ou até inconsciente, afirma: “Sigam a mim e às minhas doutrinas”. Eis o grave perigo! (Catecismo da Igreja).
Quando defendemos políticas assassinas contra a vida- seja o porte de armas, a volta da Ditadura militar, o aborto ou ameaçamos o sistema democrático do país- não é o Espirito Santo que está do nosso lado, por que Ele nos concede o Dom do Temor para amá-lo de todo o coração e, amar a Deus é essencialmente amar o nosso próximo que padece vítima de diversos políticos que se dizem cristãos, mas na verdade- diante de suas atitudes e projetos de governo- não temem, não amam e não respeitam o nosso Bom Deus. Portanto, o Dom do Temor é saber reverenciar, respeitar e reconhecer Deus em nosso caminhar enquanto Senhor da nossa Existência. Somente Ele é nosso tudo!
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Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita da Ordem do Carmo e Jornalista.
Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 21 de maio-2022.
Quer ser um padre bonzinho e admirado por todos? Muito simples, seja medíocre. Isso mesmo! Esqueça o que Jesus falou sobre pobres, compaixão, inclusão social e defesa da vida. Finja que você mora em uma cidade onde não tem corruptos. Esqueça essa história de proteção do meio ambiente ou a defesa dos pobres. Não fale em questões políticas ou sociais. Portanto, a mediocridade é a solução para você ser amado, admirado e reconhecido por todos.
Quer ter uma vida “estável” sem muito agito, ou uma caminhada calma sem tempestades? Muito simples, seja medíocre! Dessa forma ninguém vai notar que você veio ao mundo para ser protagonista da sua história e fazer história. Pare com esta baboseira de ser autêntico e ter personalidade própria, fazendo assim, você não vai ter que enfrentar os fracassados e invejosos que ficam estacionados de braços cruzados, prontos para te criticar, apontar o dedo e condenar. Portanto, a mediocridade é a solução para os seus medos e a sua falta de coragem em tomar decisões e enfrentar a vida.
Quer ser uma freira, um frade, um monge, um missionário consagrado ou um seminarista amado por todos? Eu tenho a solução! Seja medíocre e não questione se a comunidade está sendo fiel aos seus objetivos. Deixe de lado essa história de fraternidade, correção fraterna, profetismo, missão, “sentir o cheiro das ovelhas” ou “eles tinham tudo em comum”. O que vale é a falsa harmonia e a cara de paisagem às 24 horas. Portanto, a solução real e sincera para caminhar na vida religiosa com sucesso é a mediocridade nua e crua.
Quer ser elogiado por todos? Simples, seja medíocre. Isso mesmo, sendo uma marionete nas mãos dos outros você não vai se dá ao trabalho de construir os seus caminhos e, com certeza, não vai ter quer cair, porque sempre haverá pessoas do seu lado para te guiar, controlar e falar o que você deve fazer, pensar ou se posicionar frente os diversos assuntos e problemas do mundo social, econômico, político e religioso. Portanto, a mediocridade será sempre a sua tábua de salvação.
Quer ser bonzinho e santinho na convivência diária? Para esta formula eu também tenho o caminho mais curto e fácil. Do que que estou falando? Da mediocridade, claro! Isso mesmo! Finja ser santo às 24 horas e seja medíocre. Seja bonzinho, tipo maria vai com as outras! Sendo assim, você vai ser um verdadeiro medíocre carimbado e será feliz para sempre! Quer dizer, feliz não, uma xerox da felicidade. Pelos menos você não será vítima de críticas e interrogações no trabalho, na família, na Igreja ou no círculo de amizade. Portanto, a mediocridade é o melhor antídoto para a sua vidinha sem sal e sem açúcar.
Agora é o seguinte... Você quer ser autêntico, verdadeiro e único como todos deveria ser? Não tenha medo da cruz! denuncie os políticos revestidos de cordeiros- mas na verdade são os lobos modernos- que devoram os pobres. Não silencie diante de um seguimento comunitário com segundas intenções e grite contra uma religião fanática, mercadológica e interesseira. Fale para os quatro cantos que você encontrou Jesus Cristo e a sua Boa Nova, e não uma religião apenas de emoção, milagres, prosperidade, lambe-lambe, doce de coco ou suco de maracujá que fecha os olhos os excluídos. Não seja marionete e tenha a sua opinião sobre espiritualidade, política, economia e a própria vida. Enfim, não use máscaras e não tenha medo de ser você. E tenho dito!
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Renova-se o convite promovido pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano: de 22 a 29 de maio, no sétimo aniversário da encíclica do Papa Francisco, uma campanha de conscientização, iniciativas e boas práticas para enraizar a urgência de proteger a casa comum
Vatican News
A Semana Laudato si' está de volta, apresentando eventos com ressonância global, regional e local, cada um vinculado a um objetivo particular da encíclica Laudato si' e dos sete setores da Plataforma de Iniciativas Laudato si'. Todos eles serão focados no conceito de ecologia integral. Espera-se a participação de centenas de milhares de católicos para intensificar os esforços da Plataforma de Iniciativas: este é um novo instrumento que permite as instituições, as comunidades e as famílias de implementarem plenamente o Documento do Papa.
Biodiversidade, conflitos, crises climáticas, acolhida dos pobres
Entre os tópicos principais que serão explorados estão: como os católicos podem combater o colapso da biodiversidade; o papel dos combustíveis fósseis nos conflitos e na crise climática; como todos os cidadãos podem acolher os pobres na nossa vida diária. Entre os encontros programados, há um centralizado na possibilidade de dar força às vozes indígenas que terá a participação da Irmã Alessandra Smerilli, Secretária do mesmo Dicastério.
O programa: foco em aumentar a força das vozes indígenas
“Resposta ao Grito da Terra" é o tema da segunda-feira, 23 de maio, com um evento que será transmitido ao vivo da Universidade Católica Australiana de Roma. O tema será como reequilibrar os sistemas sociais com a natureza e contará com a participação do Padre Joshtrom Kureethadam: a sua contribuição será importante para dar força às vozes indígenas em vista da conferência da ONU sobre biodiversidade que será realizada este ano. O tema do dia seguinte será "Apoiar a ECO-mmunity: Acolher os pobres". A quarta-feira será dedicada à economia ecológica, analisada sob o aspecto dos combustíveis fósseis, da violência e da crise climática. Enquanto que na quinta-feira 26, o tema será a adoção de estilos de vida sustentáveis: investimentos coerentes com a fé. Na sexta-feira à tarde terá a pré-estreia de um documentário sobre a "Laudato si". No sábado à noite, será aprofundado o âmbito da espiritualidade ecológica. Por fim, no domingo 29 de maio será concluído com o tema da resiliência e empoderamento da comunidade como parte do caminho sinodal. Para as 15h deste dia conclusivo está previsto um encontro de oração.
Oradores internacionais
Os outros palestrantes serão: Theresa Ardler, Oficial de Ligação da Pesquisa Indígena na Universidade Católica Australiana, diretora e proprietária da Gweagal Cultural Connections; Vandana Shiva, fundadora da Navdanya Research Foundation for Science, Technology and Ecology na Índia e presidente da Navdanya International; Angela Manno, artista premiada; Greg Asner, diretor do ASU Centre for Global Conservation Discovery and Science.
O programa completo da Semana Laudato si' Week – está disponível no link LaudatoSiWeek.org – e inclui eventos em Uganda, Itália, Irlanda, Brasil e Filipinas e - com exceção do documentário - será transmitido nos canais Facebook e YouTube do Movimento Laudato si'. Fonte: https://www.vaticannews.va
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Tito Brandsma
Letra e música: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm
Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 08 de março-2022
1-A Igreja, ao Carmelo agradece, uma escola de santidade e oração. A Igreja, ao Carmelo enaltece: Fraternidade, Profetismo e Missão.
Tito Brandsma, Carmelita, Jornalista, nosso irmão. Com o Santo Escapulário vamos juntos em Missão.
2-Precisamos, em tempos difíceis, com Elias, na fonte beber. Nos porões, da humanidade, a verdade e a paz, sempre há de vencer.
3- No Carmelo, se pensar em Maria, é a nossa própria vocação. Comungar, todos os dias, pra chegar à contemplação.
4-A missão, dos carmelitas, não é grandes coisas fazer, mas, nas pequenas coisas, com grandeza, sempre viver.
5- A imprensa, depois dos templos, é o primeiro púlpito para ensinar. É a força da palavra e da verdade, contra a violência das armas a matar.
6- Pobre mulher, eu rezarei por você... Ainda que não saiba rezar. Pode pelo menos dizer: "Rogai por nós pecadores... Disse, com fé.
7-Oração, não é um oásis no deserto da vida, mas é vida, em nosso viver. Meditando, na Boa Nova, seguindo Jesus Cristo para crescer.
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Frei Petrônio de Miranda, O. Carm
Convento do Carmo, São Paulo. 23 de março-2012.
Vida? Que vida? No morro não se nasce, não tem passos, não tem laços, não tem braços. No morro tem fracasso, tem um grito, um suspiro, um lamento, um olhar e um destino já marcado, traçado, crucificado, condenado, amarrado e deletado.
No morro do Alemão ele nasceu. Era um dia de chuva. Os raios e trovões o acolheram naquela tarde quente. Sua mãe, Teresa Joaquina da Silva, vítima de um estupro com o traficante Pedrão da Pedra Lascada Quente, foi mais uma vítima das estatísticas violenta contra a mulher.
Mulheres? No morro não tem mulheres. Lá tem objetos do prazer. Cobaia para traficar, bumbum para alegrar, cabelos para enfeitar, sorriso para enganar e carne para saborear.
A família de Teresa era da Igreja do Apocalipse Ardente. Não importava se foi estupro ou não, para eles a criança tinha que nascer. Aborto era coisa do diabo e pecado mortal.
Pecado mortal? No morro não tem pecado. Todos querem sobreviver, lutar, ganhar a vida, cantar, ultrapassar os conceitos e pré-conceitos. Falar com Deus com o baseado na mão e dar glórias a Jesus com um tiro de escopeta.
Mesmo assim, aquela aflita mãe tentou várias vezes matar o filho. Todas em vão. Foram nove meses gerando uma criança que seria vítima do destino ensanguentado e da falta de sorte. Destino por seguir os passos do pai e falta de sorte pôr a sua infância roubada.
Destino? Que destino! Destino se faz na raça, na luta e labuta, no tiro e no grito, no agito e na raça.
No dia treze de janeiro de 2013 nascia Pedrinho. Sua cor negra já trazia a marca da discriminação. Os seus olhos pareciam assustados, suas mãos inquietas eram como se já estivessem pedindo socorro.
Socorro? No morro não tem socorro, tem sorte, tem luta, labuta, corrida contra o tempo a morte e a sorte. Sim meu velho, no morro se vive o céu de manhã, o purgatório à tarde e o inferno à noite.
Por alguns anos aquela criança foi à alegria da casa. Teresona, nome de guerra da mãe, voltou a se encontrar com o traficante Pedrão. Entre a violência doméstica, o choro e a miséria, o menino crescia e convivia em um mundo cão.
Mundo cão? Cão é o dia cinzento, escuro e frio. Sim, frio nos becos, rua e vielas marcadas pelas balas berdidas, os sonhos partidos e as vidas cruzadas.
Aos oito anos Pedrinho desceu o morro. Mas para onde ele foi? Para a escola? Para o Parque de Diversões? Não, não... Ele foi apresentado ao tráfico por seu pai. Religiosamente todos os dias às 13 horas, horário de pico na Praia do Leblon, lá estava o menino entre os carros, transeuntes e os turistas vendendo drogas, pedindo dinheiro e, muitas vezes, fazendo pequenos furtos.
Pai? Que pai? No mundo das drogas não se ama, não se perdoa, não se conversa, não se confia. Lá se troca, se vende, se mata, se consome e se despedaça.
Ao voltar para casa era recebido com gritos e a saudação das grandes mãos de sua mãe. Eram gritos de alegria? Sua mãe o abraçava? Não, não... Drogada e bêbada, aquela infeliz mulher xingava o filho e com as suas mãos batia no seu rosto e nas costas como se estivesse se vingando do estupro do seu pai. A cena se repetiu ao longo de cinco anos. Por sua vez, Pedrinho crescia cresceu revoltado e prometia a si mesmo que um dia daria um fim naquele inferno familiar.
Inferno? Inferno é ser negro, discriminado, favelado, sem ter nome, status social, uma família para amparar, uma mãe carinhosa para conversar e irmãos para brincar.
Finalmente naquela tarde, após roubar um turista na Lagoa, seguindo os mesmos passos do pai, Pedrinho comprou uma arma. Ao subir o morro estuprou uma mulher. A pobre jovem gritava, pedia socorro e como se estivesse voltado no tempo o menino viu nos olhos da vítima a sua própria mãe sendo violentada por seu pai. Passado e presente se encontraram naquela paranoia psicológica. O então adolescente, nos seus 17 anos não suportou a tal angustia e perturbação mental, pega o revólver calibre 38 de fabricação do exército e tira a sua própria vida.
Vida? Que vida? Foram 17 anos de morte. Sonhos despedaçados, alegria roubada, infância perdida, família falida e adolescência repartida. Sim meu caro leitor, céu e inferno, fogo e frio, destino e sorte. Tudo, tudo tinha parado no tempo e no espaço com aquele tiro fatal. Pedro da Pedra Lascada Quente- o pai ou Pedrinho- o filho? Não sei, só sei que as vidas se cruzaram, o temo parou, o morro sangrou e Teresa Joaquina da Silva- a mãe, até hoje nunca mais sonhou.
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Arie G. Kallenberg
São muito poucos os textos dos primeiros autores Carmelitas que estabeleceram uma relação clara com a Ressurreição. Existe um texto notável escrito entre 1317 e 1345/1352 por John Baconthorpe, Laus Religionis Carmelitanae 48, pouco depois de 1312, o ano em que o Ordinário de Siberto de Beka foi prescrito para toda a Ordem. O capítulo 2 de Laus Religionis Carmelitanae aborda o modo como os Carmelitas mostram nos seus hábitos a graça da Ressurreição 49. Escreve Baconthorpe:
"Quando Cristo foi glorificado, o esplendor da sua divindade sobrepôs-se à sombra da sua humanidade – visto que a sua face resplandecia gloriosamente como o sol e as suas vestes eram brancas como a neve - como se durante algum tempo e de forma mística, envolvesse com carícias as vestes e as capas dos Carmelitas, mostrando a gloria da sua Ressurreição. Nessa mesma transfiguração apareceu o Pai dos Carmelitas, Elias, juntamente com Moisés. como testemunha da Lei, prefigurando misticamente a gloria e o esplendor da graça [da Ressurreição]" 50.
Ao estudar mais profundamente o significado das duas cores (cinza e branco) dos mantos dos Carmelitas, no qual o branco simboliza o tempo de Graça e a união a Maria, conclui o capítulo com as seguintes palavras: "Então o apóstolo diz: 'Saiamos das trevas e lutemos com as armas de luz'. Desta forma, passamos do tempo da Graça para a glória da Ressurreição eterna" 51. Também no terceiro capítulo que trata o "Elogio do traje da Ordem dos irmãos Carmelitas" Baconthorpe estabelece uma relação entre o manto dos Carmelitas e a Ressurreição: "era então certo que os Carmelitas, que representavam tempos antigos com as suas roupas, deveriam agora mostrar a futura glória imaculada dos crentes de uma forma respeitável com os seus esplêndidos mantos. Isto acontece então no tempo de Graça". 52 Ele refere-se aqui ao facto de que o antigo manto de duas cores ter sido mudado para branco. Na sua opinião, esta mudança aconteceu graças à intervenção divina para que desse modo os Carmelitas pudessem "mostrar claramente aos crentes a paz eterna e a glória da Ressurreição" 53. De seguida diz que está a falar de uma ligação direta à liturgia dos Carmelitas que mais do que os outros celebram a Ressurreição do Senhor: "e particularmente estes irmãos celebram nas suas igrejas a liturgia da Ressurreição do Senhor, de um modo mais especial do que todos os outros” 54. Este testemunho de John Baconthorpe pode ser considerado extraordinário por causa da relação explícita que estabelece entre a Ressurreição e a primeira liturgia Carmelita. Segundo os seus textos é óbvio que a liturgia da Ressurreição não é mera recordação de um acontecimento histórico, mas antes uma realidade dinâmica que passou da liturgia até ao âmago do pensamento e da vida espiritual dos Carmelitas medievais. Apesar de, até hoje, nenhum dos estudos de outros textos espirituais medievais ter produzido pontos de contato entre os elementos referidos, ainda assim estou convencido que ao longo dos séculos a influência da liturgia da Ressurreição, consciente ou inconscientemente, deixou a sua marca na maneira de pensar e de agir dos Carmelitas, uma vez que tinha de ser celebrada em todos os seus mosteiros desde o início do século XIV até ao século XVI. Num estudo recente sobre a Regra dos Carmelitas, Kees Waaijman55 abordou o tema da Ressurreição, não diretamente em termos da liturgia, mas dentro do contexto da Regra.
Seguem-se algumas afirmações da sua obra. A primeira citação refere-se ao capítulo décimo da Regra, capítulo que trata do oratório e da prática da união.
"Os antigos monges do deserto celebravam a Eucaristia uma vez por semana. No século XIII era diferente. A maioria das comunidades religiosas juntava-se todos os dias para a Eucaristia. A reunião diária dá uma estrutura rítmica à vida. O facto de se juntarem diariamente, de manhã cedo, ao crepúsculo, dá ao dia um ritmo básico. O nascer do sol que conquista a noite deve ter sido intuitivamente entendido como sinal do Ressuscitado” 56
O encontro dos irmãos tinha uma dimensão litúrgica. O facto de virem todos juntos para a Eucaristia quase lembra a Ressurreição:
"A Eucaristia, afinal de contas, começa onde nós permitimos que o Senhor nos una num só. Ele convida-nos a escutar a sua palavra para que ela nos toque, forme o desejo no nosso coração e nos faça procurar a sua presença. Ele convida-nos a tornar o seu corpo e sangue, para nos lembrarmos d'Ele e nos identificarmos com Ele, para que entremos na sua morte e sejamos encontrados pelo próprio Deus.
A Eucaristia radicaliza o ato de sair de nós próprios: não somos nós quem vimos: mas somos conduzidos, conduzidos para a vastidão do Mundo para a profundeza da Morte para sermos encontrados, para sermos reunidos, para sermos unidos.
Esta é a perspectiva mística do facto de se reunir para a celebração da Eucaristia. Este movimento místico está lindamente representado através das palavras ‘de manhã cedo’, palavras que evocam a marcha silenciosa de Maria Madalena até ao túmulo: 'No primeiro dia da semana, ainda era escuro, Maria de Mágdala foi ao túmulo de manhã cedo...' (João 20:1). De manhã cedo os Carmelitas reúnem-se no oratório, e ninguém ocupa o centro. Como a noiva do Cântico dos Cânticos, também eles, enquanto ainda é noite, procuram Aquele a quem as suas almas amam.
À procura do amor através da escuridão da noite segue-se a experiência da Páscoa na escuta da voz suave: 'Miriam', o teu querido nome pronunciado por aquele que é amado pela tua alma. Segue-se a resposta não menos terna: 'Rabbouni'. Esta é a Páscoa do amor, a profundidade mística da Eucaristia. Aqui esta o coração do Carmelo". 57
No seu comentário sobre capítulo da Regra que trata o capítulo semanal, Kees Waaijman continua as suas reflexões sobre o Domingo, como o dia da celebração da Ressurreição:
"Identidade e reciprocidade soam mais profundamente quando colocadas no contexto do amor do Ressuscitado. A Eucaristia no dia da Ressurreição, a referência ao amor de Maria Madalena, a reunião dos apóstolos no primeiro dia da semana e o aparecimento no meio deles d'Aquele que ressuscitou - tudo isto centraliza o capítulo no contexto do amor d'Aquele que ressuscitou e se entregou na sua Palavra, no seu Corpo e Sangue…”58.
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46 Kallenberg, Fontes. 292.
47 Idem, op. cit., 56.
48 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage. Roma, Institutum Carmelitanum 1989, 176-177.
49Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage. 249: Capitulum II, Quod Carmelitae ostendunt in habitu gratiam resurrectionis.
50 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 249: “Cum etiam ipse Christus transfiguratus est, super umbram humanitatis suae claritas apparuit deitatis, quia resplenduit facies eius sicut sol, et vestimenta eius facta sunt alba sicut nix, ac si mystice habitum Carmelitarum et cappam pro tempore, quasi super umbram <humanitatis> gloriam resurrectionis praemonstrando, baiularet. In ipsaque transfiguratione pater Carmelitarum Elias cum Moyse apparuit velut Legis testes, et gloriam ac splendorem gratiae mystice praefigurantes".
51 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 251: Unde apostolus: "Abiiciamus opera tenebrarum et induamur arma lucis". Et sic de tempore Gratiae pervenitur ad gloriam resurrectionis perpetuae.
54 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 251: Et ipsi quidem fratres officium resurrectionis Dominicae in ecclesia ceteris specialius exercent.
55 Kees Waaijman. De mystieke ruimte van de Karmel. Een uitleg van de Karmelregel. Kok Kampen-Carmelitana Gent. 1995. 230 pp.
56 Kees Waaijman. De mystieke ruimte van de Karmel, 100.
52 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 251: Dignum igitur fuit ut Carmelitae, qui tempora priora cum indumenti speculo monstrabant, ordinatim futuram resurrectionis gloriam fidelium, non habentem maculam, cum cappa splendida praesentarent. Unde sub tempore Gratiae.
53 Adrianus Staring, Medieval Carmelite Heritage, 251: ut sic pacem aeternam et resurrectionis gloriam...palam ostenderent fidelibus
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Arie G. Kallenberg
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38 Sibertus de Beka, Ordinaire, 9.
39 Joannes Cassianus, Collationes XXI, 11, 20; citado em Kees Waaijman, De Mystieke ruimte van de Karmel. Een uitleg van de Karmelregel. Kok Kampen-Carmelitana, Gent, 1995, 124.
40 Louis van Tongeren, Exaltio crucis, passim.
No livro Exaltatio Crucis 40, Louis van Tongeren descreve como as diferentes comemorações à volta da Cruz, especialmente a da Descoberta e a da Exaltação da Cruz, se desenvolveram ao longo dos séculos. Acerca deste assunto escreve: "A informação mais antiga relata uma festa para a dedicação anual de duas igrejas erguidas em Jerusalém em locais sagrados: a Basílica dos Mártires perto do Gólgota e (...) a chamada Igreja do Santo Sepulcro ou Igreja da Ressurreição" 41.
No princípio do século quarto, "de acordo com a tradição enraizado principalmente na lenda, Helena, a mãe de Constantino, o Grande, encontrou a cruz na qual Jesus morreu em Jerusalém. No lugar onde a encontraram depressa edificaram uma basílica em memória da cruz. Essa basílica dos Mártires foi inaugurada em 335 e pouco tempo depois transformou-se num grande complexo, enquanto, por cima do túmulo de Jesus que estava situado perto da Basílica foi construída a igreja da Ressurreição (...)" 42. Numa primeira fase Eusébio de Cesareia estabeleceu uma ligação entre a cruz e a Ressurreição. Dado que ele "substituiu a cruz pelo túmulo... Do ponto de vista de Eusébio a Ressurreição constituiu o coração e a alma da fé e ele desejava relacionar o túmulo com Constantino. Era seu objetivo, acima de tudo, acentuar a ressurreição e o túmulo, e não a cruz, porque queria principalmente realçar a divindade de Cristo e não o seu sofrimento" 43. Não demorou muito até que a cruz fosse vista como a cruz triunfante por meio da qual veio a salvação e onde Cristo reina como um rei 44. In hoc signo vinces: neste símbolo vencerás. Isto foi assim durante séculos.
Por volta de 1200 "deu-se no Ocidente uma mudança dramática na maneira de ver a cruz. A atenção centrou-se no Jesus histórico. Como resultado do trabalho de Bernardo de Claraval (1090-1153) e Francisco de Assis (1181/1182-1226) o modo de entender a cruz sofreu uma mudança decisiva. A ênfase já não era no Cristo crucificado vencedor da morte, mas no Cristo terrestre, que sofreu e morreu na cruz. Graças a uma interpretação realista de Mat. 10, 38 e 16, 24 relativa ao carregar a cruz à imitação de Cristo, fundamental era a identificação com o sofrimento de Cristo. O Cristo que viveu e triunfou na cruz da gloria deu lugar a um Cristo que sofreu uma morte dolorosa na cruz' 45.
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A Via-Sacra voltou a ser realizada no Coliseu de Roma, com a participação de milhares de fiéis. Um momento tocante foi representado por duas mulheres, uma ucraniana e outra russa, que juntas carregaram a Cruz na XIII Estação, que narra a morte de Cristo.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
A Paixão de Cristo encarnada na vida das famílias: o Coliseu de Roma concentrou hoje as alegrias e cruzes dos lares, durante a Via-Sacra desta Sexta-feira Santa, com a participação de dez mil pessoas.
Adentrando na cotidianidade de pais, avós e filhos, foram tocados temas da atualidade, como a educação, a pobreza, a migração, a pandemia, a doença e também a guerra. De fato, um dos momentos mais tocantes foi vivido durante a XIII Estação, que narra a morte de Jesus. Neste momento, a Cruz é carregada por duas famílias, uma ucraniana e outra russa, em especial por duas mulheres amigas que trabalham juntas em Roma. A câmera flagra o olhar de cumplicidade entre elas, enquanto o Pontífice cobre com a mão o seu rosto em profunda oração.
O texto da meditação foi modificado no decorrer da celebração, para dar mais espaço à oração e ao silêncio, como explicou a Sala de Imprensa da Santa Sé: "Diante da morte, o silêncio é mais eloquente do que as palavras. Detemo-nos, portanto, num silêncio orante e cada um, no coração, reze pela paz no mundo."
Ao final das 14 estações, o Papa Francisco recitou a seguinte oração:
Pai misericordioso, que fazeis nascer o sol sobre bons e maus, não abandoneis a obra das vossas mãos, pela qual não hesitastes em entregar o vosso único Filho, nascido da Virgem,
crucificado sob Pôncio Pilatos, morto e sepultado no coração da terra, ressuscitado dentre os mortos ao terceiro dia, aparecido a Maria de Magdala, a Pedro, aos outros apóstolos e discípulos, sempre vivo na santa Igreja, o seu Corpo vivo no mundo.
Mantende acesa nas nossas famílias a lâmpada do Evangelho, que ilumina alegrias e sofrimentos, fadigas e esperanças: cada casa espelhe o rosto da Igreja, cuja lei suprema é o amor. Pela efusão do vosso Espírito, ajudai a despojar-nos do homem velho, corrompido pelas paixões enganadoras, e revesti-nos do homem novo, criado segundo a justiça e a santidade.
Segurai-nos pela mão, como um Pai, para que não nos afastemos de Vós; convertei ao vosso coração os nossos corações rebeldes, para que aprendamos a seguir desígnios de paz; fazei que os adversários se deem as mãos, para que saboreiem o perdão recíproco;
desarmai a mão levantada do irmão contra o irmão, para que, onde há ódio, floresça a concórdia.
Fazei que não nos comportemos como inimigos da cruz de Cristo, para participar na glória da sua ressurreição. Ele que vive e reina convosco, na unidade do Espírito Santo, para sempre. Amém. Fonte: https://www.vaticannews.va
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Orani Joao, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Esta semana – a Semana Santa – é um tempo propício para meditarmos, de modo mais especial, sobre os últimos acontecimentos da vida de Jesus Cristo, Nosso Senhor, em sua entrega plena de amor por nós.
Reflitamos sobre o início de tudo ou o início do fim da vida pública de Cristo neste mundo. É a história de um inocente traído, preso sem direito à ampla defesa, e abandonado pelos seus… Isso é o que vemos se olharmos, cruamente, para os relatos da prisão, sem levarmos em conta a total entrega de Jesus por você e por mim, naquela noite, depois de lavar os pés dos Apóstolos e querer ficar conosco, de modo perpétuo, na Eucaristia.
O primeiro ponto que nos chama a atenção é a traição de Judas, um dos doze, que sempre esteve com o Senhor. Por 30 moedas de prata ele entrega o Mestre e amigo com quem convivera por três anos e de quem fora discípulo. No meio dos discípulos, há um traidor…
O Senhor que é verdadeiro Homem também é verdadeiro Deus e, por isso tudo sabe, de modo a prever: “Um de vós há de me trair”. Cada um dos doze não apontou para o irmão, mas, ao contrário, examinou a própria consciência: “Acaso, serei eu, Senhor? ”, até que o verdadeiro culpado surge. É Judas. Pega o pão, come e sai para concretizar sua traição nefasta e vergonhosa. Volta com os soldados – que também cumpriam ordens – e ainda tem a desfaçatez de dar um beijo no Senhor, que o recrimina docemente: “Judas, com um beijo traís o Filho de Deus? ”
Tudo, porém, já estava feito e o desenlace, que já conhecemos, será celebrado nos próximos dias. O desespero não constrói nada de bom, só leva a desatinos, como o de Judas. Enforcou-se! Seu psicológico não aguentou tamanha covardia para com Aquele que só fez o bem a todos. Peçamos, aqui, duas graças a Deus: a de ser como os Apóstolos, na hora da Ceia, antes de acusar alguém, examinar primeiro a nossa consciência: “que fiz eu de mal, Senhor? Como posso mudar de vida?…” Mas também a de não ser como Judas que trai o Senhor, não mais por 30 moedas, mas, talvez, por um cargo, por um status social, pelo poder etc.
O segundo ponto desta meditação é o despojamento de Cristo totalmente humano ali no Horto das Oliveiras. Quando Pedro corta a orelha do servo do chefe de polícia, Jesus cura o ferido e repreende o líder do Colégio Apostólico mandando-o guardar a espada. Se não quisesse dar a vida por nós, pediria ao Pai e Ele mandaria legiões de anjos que, em pouco tempo, reduziria as centúrias de soldados a cinzas. Mas não é hora da grandeza, e, sim, do despojamento total.
Charles de Foucauld, assassinado em 1916, no Marrocos, Beato da Igreja, aprendeu com o Pe. Huvelin, seu diretor espiritual, uma verdade que bem se aplica a este momento da vida de Jesus e da nossa: “Aprendamos uma coisa, dizia o padre, devemos buscar sempre o último lugar, mas Cristo já o ocupou de tal maneira que só nos resta o penúltimo”. Ora, de Jesus aprendamos a superar a violência, derramando mais amor e nunca (nunca) sangue inocente.
O terceiro ponto, dentro da dramática prisão de Jesus, é a negação covarde de Pedro. Esteve sempre com o Senhor, tem o primeiro lugar entre os doze, fala, em sua teimosia, que vai morrer no lugar de Jesus, mas, na hora decisiva, nega o Mestre como o próprio Senhor previra. “Eu não conheço esse homem”. Que fracasso o de Pedro e também o nosso quando o Evangelho nos chama a dar testemunho de nossa fé com sadia radicalidade. Falamos também: “Estou pronto a morrer pelo Senhor”, mas depois O negamos, nem sempre somos fiéis até o fim.
É preciso, contudo, lembrar que, longe de entrar em um desespero angustiante, Pedro se arrependeu de sua covardia e chorou amargamente. Depois da Ressurreição, reafirmou por três vezes seu amor a Cristo, assumiu a sua função, pregou, de modo destemido, o Evangelho e morreu mártir, em Roma, crucificado de cabeça para baixo. Não se achou digno de falecer como Jesus. Aprendamos com Pedro, não a teimosia nem muito menos a covardia, mas o arrependimento salutar que perdoa as nossas faltas e restitui a nossa dignidade perdida.
O quarto ponto é o julgamento de Jesus em si. Quem O julga tenta se livrar do pecado de condenar um inocente, enquanto Jesus assume os pecados da humanidade. Eis a oposição entre a humildade do Deus-Homem e a arrogância de alguns homens que se julgam deuses e aptos a condenar à morte um inocente. Sem entrar nos detalhes longos do que ocorreu, pois os veremos na Sexta-feira Santa, na Celebração da Paixão, deixo um ponto para reflexão.
Os acusadores e condenadores de Jesus sabem que prendem e condenam um homem puro e soltam Barrabás, um malfeitor. No “calor” do momento pedem que o sangue de Cristo caia sobre eles em forma de maldição. Contudo, Jesus não paga o mal com o mal, mas, sim, com o bem. Retribui-lhes com a bênção de seu sangue redentor, ela dá a cada pecador, sinceramente arrependido, a graça do perdão e da vida eterna. Pensemos nisso. Amém! Fonte: https://catequizar.com.br
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