UNAÍ-MG: Festa Junina.
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SÃO JOÃO DA CRUZ, CARMELITA: A Noite Escura.
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Frei John Welch, O. Carm. Whitefriars Hall, Washington
A metáfora da noite escura de João da Cruz nos lembra que a experiência de amor de Deus, não é sempre uma experiência pronta da união de toda criação. Na noite escura o amor de Deus se aproxima de uma maneira que parece negar-nos, parece que Deus está contra nós. Mas João afirma que nada no amor é escuro ou destrutivo, mas por causa da nossa necessidade de purificação, é que experimentamos o amor como escuro.
João nos dá uma descrição convincente sobre os momentos da vida em que se desvanecem as consolações e orar é impossível. O desejo está ainda presente, mas se esgotou no esforço para libertar-se dos ídolos. O teólogo Karl Rahner comentou que todas as sinfonias da vida permanecem sem conclusão. Em cada relação, em cada posse sempre haverá um momento em que surgirá a sensação de carência . Esta frustração do desejo e a atração por algo mais além, é a inquietude que causa o contínuo convite de Deus para uma união mais profunda.
Quando os deuses morrem durante a noite, se eclipsa a personalidade. Carl Jung, o psicólogo, disse que não podia distinguir os símbolos dos deuses que representam o ser humano. Quando uma pessoa perde seu Deus-símbolo a personalidade começa a desintegrar-se. Esta afeição obscura permanece até que emerja um novo símbolo-Deus antigo.
O conselho que dá João da Cruz durante esta crise na vida é de muita ajuda. Ele nos dá certeza de que o amor de Deus está em algum lugar presente no meio dos restos da vida, mas que inicialmente não será experimentado como amor. João aconselha paciência, confiança e perseverança. Esta atividade amorosa de Deus nos liberta dos ídolos e restabelece a saúde de nossas almas. Os “deuses” morrem na noite e a alma necessita passar por um processo de sofrimento. O caminho incorreto seria solucionar ou curar esta condição artificialmente, ou nega-la totalmente. João aconselha a enfrentar a condição, entrar nela com paciência, e ali onde o coração estiver lutando com mais força, ficar atentos à chegada do amor. João nos convida a uma “atenção amorosa” na escuridão; é tempo de ser um guardião na noite. A contemplação é uma abertura ao amor transformante de Deus, especialmente quando Ele aparece disfarçado .
A intensa experiência que João chama a noite do espírito é simultaneamente uma forte experiência de nosso pecado, da finitude de nossa condição humana, e a sempre emergente transcendência de Deus. Enquanto se está nesta condição as palavras carecem de significado. João escreve que é tempo de “moer o pó”. Tudo o que cada um pode fazer é realizar o próximo ato de amor que se apresente. No deserto o peregrino continua sua viagem existencial, apoiado numa verdadeira fé bíblica. João está convencido de que somente no contexto desta fé purificada é pode acontecer a relação com Deus. Como aconteceu com Teresa de Lisieux que seu pensamento sobre o céu se desvaneceu, ao peregrino que já não possui o objeto de sua esperança, recorda que a esperança é aquilo que ainda não se possui.
Os escritos de João não se limitam ao sofrimento. Sua poesia e seus comentários, foram escritos a partir do outro lado das lutas. A noite se converteu numa experiência iluminadora e num guia mais seguro que o dia. A chama que uma vez doeu agora é cauterizada e curada . E a ausência que o levou `a procura do Amado se revela como uma Presença compassiva escondida no seu desejo.
OLHAR CARMELITANO: A Venerável Ordem Terceira em Portugal
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Pelo que sabemos, o primeiro núcleo da Ordem Terceira do Carmo surgiu em Lisboa, na Igreja de Santa Maria dos Carmelitas, em 28 de novembro de 1629, como sugere um letreiro na primitiva capela do convento. A expansão dos terceiros está intimamente ligada à entranhada devoção mariana do povo português, particularmente no que se refere ao Escapulário do Carmo.
O organizador da Ordem terceira lusitana foi frei Pedro de Melo (+1635), que publicou a primeira Regra dos Terceiros em língua portuguesa (1630), contido num devocionário destinado a eles, obra que, infelizmente, se perdeu. Provavelmente frei Pedro deixou se orientar pela Regra de Terceiros do Prior-geral da Ordem, Teodoro Straccio, oficialmente publicada somente em 1637. Interessante notar que uma das fontes do livro de Straccio foi precisamente um tratado composto por frei João Silveira (1592-1687), por ordem do provincial de Portugal. Diversas foram as Regras para Terceiros publicadas em anos posteriores. Destacamos a de frei José de Jesus Maria, no seu Tesouro Carmelitano, cuja primeira edição é de 1705. Teve grande influência em todo o território lusitano e suas colônias. Conserva os votos, mas no final da Regra, ao tratar das obrigações, não faz mais menção dos votos! Tudo que a Regra contém — diz frei José de Jesus Maria — são conselhos e diretrizes para facilitar o caminho da salvação. O texto de frei Miguel de Azevedo (+1811), editado em Lisboa, no ano de 1778, consagra uma outra concepção dos votos de Terceiros. São considerados simples propósitos que não implicam nenhuma obrigação moral. Influenciou fortemente a vida da Ordem terceira, tanto em Portugal quanto no Brasil.
Notamos, assim, uma significativa evolução da Ordem terceira do Carmo: de uma associação só para mulheres, com voto expresso de ‘castidade perfeita’, chega-se a uma associação com voto de castidade ‘segundo o próprio estado’. Por volta de 1600 vemos surgir o que será chamada depois de ‘Ordem Terceira Secular do Carmo’, isto é, uma associação de fiéis que vivem no mundo e que, sob a obediência da Ordem do Carmo e segundo o seu espírito, se esforçam por alcançar a perfeição cristã pela observância da Regra terceira. O fim principal, portanto, é ‘uma vida mais perfeita, segundo o ideal carmelitano’, ou seja, união íntima com Deus pelo espírito de oração e uma terna devoção à Virgem Puríssima do Carmo. Semelhante estilo de vida deve contribuir para promover, no próprio ambiente em que vive o terceiro, o bem da Igreja e a salvação das almas.
Foi a Ordem Terceira que, em Portugal, manteve viva a devoção de Nossa Senhora do Carmo e o culto ao Santo Condestável durante a supressão da Primeira Ordem em terras lusitanas.
CARMELITAS: UMA COMUNIDADE CONTEMPLATIVA NO MEIO DO POVO
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Frei Joseph Chalmers, O. Carm.
Somos os irmãos da Virgem Maria do Monte Carmelo. Nossa Ordem começou porque os eremitas latinos no Monte Carmelo quiseram reunir-se como uma comunidade de irmãos. Eles já haviam vivido juntos bastante tempo para experimentar a proposta do estilo de vida que eles levaram a Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém, para que ele pudesse dar-lhes a aprovação eclesiástica. Quando a “ formula vitae” de Alberto foi formalmente aceita como uma Regra pelo Papa Inocêncio IV em 1247, os eremitas foram inseridos no novo movimento dos mendicantes que era muito forte na Europa daquele tempo. Os eremitas Carmelitas se tornaram frades chamados ao serviço do povo. Uma das características dos mendicantes era que eles viviam no meio do povo e não em grandes mosteiros como os monges.
Apesar do fato de que a Ordem é claramente chamada ao apostolado ativo, a contemplação continua sendo um elemento fundamental de nossa vocação. Nós nos entendemos como comunidades contemplativas a serviço do povo de Deus no meio do qual vivemos. Graças a Deus já passamos dos tempos em que nós buscávamos nossa identidade. Nossa identidade está clara! Agora temos que viver as implicações de nosso carisma na vida de cada dia.
Temos que viver uma vida de obediência a Jesus Cristo e servir-lhe fielmente com um coração puro e reta consciência e fazemos isto através do compromisso de buscar o rosto do Deus vivo (a dimensão contemplativa da vida), em fraternidade, e no serviço (diakonia) no meio do povo (Const, 14). Estes três elementos estão estreitamente ligados entre si pela experiência do deserto que é a experiência da ação purificadora de Deus em nossas vidas. A contemplação determina a qualidade da nossa vida fraterna e do nosso serviço no meio do povo de Deus (Const, 18). A meta da contemplação é a de ser transformados em Deus e assim veremos a realidade com os olhos de Deus e amaremos com o seu coração (Cf. Const, 15).
Uma atitude contemplativa nos permite descobrir a presença de Deus nos outros e apreciar o mistério daqueles com quem partilhamos nossas vidas (Const, 19). Somos chamados a viver em comunidade, para partilhar nossas vidas com os outros, mas sobretudo com nossos irmãos e é isto em si mesmo um testemunho para outros, que Deus está presente em nosso meio e através deste testemunho Deus tocará os corações de muitas pessoas.
Pode-se falar coisas bonitas sobre a comunidade e seu significado teológico, mas todos sabemos que a realidade de uma comunidade religiosa é algo muito diferente. Nossas comunidades refletem a realidade da Igreja e do mundo em que vivemos. Somos pecadores redimidos e tentamos fazer a vontade de Deus. Não somos perfeitos como individuos e por conseguinte ainda não podemos ter comunidades perfeitas.
Há uma sede de se viver em comunidade em nosso mundo e todavia ao mesmo tempo o individualismo está desenfreado. Esta tensão está presente em nossas próprias vidas, porque claramente somos afetados pelo mundo em que vivemos. Somos atraídos pela comunidade, mas ao mesmo tempo somos tentados a colocar nossas próprias necessidades e desejos sobre todas as coisas, a julgar tudo pelo modo como nos afeta. Viver em comunidade não é fácil e ainda que estamos comprometidos a viver em comunidade, é crucial reconhecer a tendência que existe em todos nós de iludir suas demandas e encerrar-nos em nossos próprios egoísmos. Esta é a realidade de pecado em nossas vidas, mas somos redimidos. Claramente a redenção alcançada por Cristo para nós não nos fez santos ainda; estamos a caminho. Cristo nos oferece uma maneira de crescer além de nossas limitações, devemos, porém, aceitar a salvação que ele oferece. A primeira fase é reconhecer que não está tudo bem.
Como está a experiência de vida em nossas comunidades carmelitas? “A multidão dos que creram tinha um só coração e um só alma e nenhum tinha por própria coisa alguma, mas tinham tudo em comum.” (Atos 4,32). Se esta é experiência de vida na comunidade de vocês, vocês são verdadeiramente felizes, mas suponho que esta não é experiência de vocês. Eu diria que o melhor que se pode dizer é que a comunidade é bastante agradável e que vocês chegaram entre si a uma aceitação mútua de uns aos outros. Na pior das hipóteses.. pode ser muito difícil e uma realidade muito diferente da que buscamos e que escapa em cada oportunidade. Por que nossa comunidade não é perfeita? Podemos jogar a culpa no Provincial e seu Conselho ou colocar-nos nesta situação terrível, ou culpar ao irmão X de nossa comunidade, culpamos os nossos irmãos com quem é impossível formar uma verdadeira comunidade apesar de nosso desejo. Poderíamos também tentar culpar a Deus, mas se nos encontramos culpando a todos com a exceção de nós mesmos, temos que pensar que pode existir um outro problema. Pode ser possível também que outros nos achem difíceis e em seus corações estão culpando-nos pela falta de comunidade real.
Nós vivemos juntos, mas temos experiências muito diversas. Entramos na comunidade com nossa própria experiência particular de vida que nos marcou para bem ou para mal. Chegamos na comunidade com nossa própria carga e comumente com expectativas muito diferentes. Podemos usar a mesma palavra, “comunidade”, mas podemos querer dizer coisas muito diferentes. Eu creio que o primeiro passo para melhorar nossa vida de comunidade é aceitar que nós somos diferentes e que buscamos coisas diferentes. Necessitamos aceitar-nos em toda nossa diversidade e tentar ver nesta realidade humana algo da riqueza de Deus. Cada individuo é na verdade um mistério. Precisamos aceitar o fato de que alguns indivíduos estão tão profundamente marcados pelos vaivéns da vida que não podem viver uma vida normal. Quando sua conduta causa danos à vida da comunidade, alguém tem que falar honestamente e os responsáveis devem oferecer a estes indivíduos a possibilidade de encontrar uma ajuda para viver uma vida mais equilibrada. Sei que isto não é fácil, mas o resultado de não desafiar a conduta imprópria é que o indivíduo “difícil” acabará por infernizar a vida da comunidade. Pessoas como estas são uma minoria, mas todos nós precisamos, de vez em quando ser desafiados para ser fiéis à vocação a que fomos chamados. Este desafio pode vir constantemente a nós através da vida diária com os outros. Pregamos o Evangelho, mas a comprovação de nossas palavras estão em nossos feitos. É muito fácil amar a um vizinho se não temos vizinhos. A forma como realmente vivemos em comunidade, nos dirá se realmente somos homens de oração e manifestará a verdade aos demais. A autenticidade de nossa oração será óbvia através de nosso contato diário com nossos irmãos.
Ainda que viver a realidade da comunidade não é tarefa fácil, é a maneira que Deus escolheu para nós. Se a vocação não é algo imposto em nós desde o exterior e sim parte de nossa realidade interior, que descobrimos pouco a pouco, então o desejo ardente da comunidade e a habilidade de vivê-lo está escrito no profundo de nosso ser. Por causa da nossa natureza decaída, temos coisas fora de equilíbrio mas os elementos da vida de comunidade podem ajudar-nos a crescer, se desejamos seguir a Cristo no deserto.
Não há ganho sem dor. Crescer é doloroso, mas a dor nos torna homens maduros. Há um sério perigo na vida religiosa de se permanecer imaturo por toda a vida. Recebemos o que necessitamos da comunidade e tanto faz se trabalhamos ou não. Se somos pessoas difíceis, receberemos tudo para assegurar que permanecemos felizes e para que os outros possam ter alguma paz. Então podemos ser como crianças mimadas. Seguir Cristo leva inevitavelmente à cruz de uma forma ou de outra. Isto não é um castigo, mas é a maneira pela qual Deus nos ajuda a tornar-nos o que Ele sabe que podemos ser. Através de nossa experiência de vida, Deus nos purificará e aparará nossas arestas. Não vamos gostar no momento, mas o resultado final vale a pena. Uma parte desta purificação terá lugar através de nossa vida em comunidade. Queremos permitir a ação de Deus em nossas vidas ou queremos rechaçá-la e seguir a nossa vontade. Esta é a diferença entre trabalhar para Deus e fazer o trabalho de Deus. Trabalhar por Deus significa fazer o que queremos e assumimos que isto também deve ser o que Deus quer. Fazer o trabalho de Deus pode ser muito diferente - ou fazer o que Deus realmente está buscando de nós, requer um discernimento cuidadoso e um escutar silencioso da voz sutil e doce de Deus que nos fala através das pessoas mais inesperadas.
As Constituições assinalam os principais elementos de nossa vida que podem ajudar-nos a crescer como indivíduos e como irmãos (31). O primeiro está “na participação comum na Eucaristia, através da qual nos tornamos um só corpo, e que é fonte e cume da nossa vida e, dessa forma, sacramento da fraternidade.” Celebramos a Eucaristia em comum em nossas comunidades? Isto está prescrito em nossa Regra e era um exigência muito rara para os eremitas. Estou propondo uma Eucaristia comum não porque é parte de nossa Regra e sim porque é a maior ajuda que nós temos para construir a nossas comunidades. Eu estou bem consciente de que se pode alegar todas os tipos de razões pelas quais a Eucaristia comum não é conveniente, mas onde há a vontade, encontra-se uma forma. Às vezes pode-se usar as necessidades do apostolado como uma desculpa para não se participar de atividades comunitárias. Neste caso necessitamos olhar nossas vidas com grande honestidade e perguntar-se: Que estou buscando? Que quero fazer com minha vida e que Deus quer de mim? Como se adapta meu estilo de vida com minha vocação Carmelita?
O segundo elemento mencionado nas Constituições é similar ao primeiro, é a celebração comum da Liturgia das Horas. Pode ser que alguns de nós todavia estamos padecendo da experiência do passado onde em alguns casos, a comunidade reunida dizia muitas orações mas os membros individuais não se entendiam uns com os outros. Podemos utilizar a oração para “massagear” nosso próprio ego em lugar de ser uma abertura para a purificação e para a ação curativa de Deus, mas esse perigo não é uma razão para deixar a oração como indivíduos ou como comunidades. Santa Teresa de Ávila disse que com respeito à oração necessitamos ter uma determinação muito grande para seguir fazendo-a e nunca render-se. Se queremos louvar a Deus juntos como irmãos, a Igreja nos tem dado uma oportunidade preciosa por meio da Liturgia das Horas com a qual nos unimos com a Igreja inteira para oferecer a Deus o sacrifício de louvor. É por conseguinte possível reavivar nossas celebrações litúrgicas para que não se tornem rotineiras.
O elemento seguinte mencionado nas Constituições para a edificação da comunidade é a escuta orante da Palavra. Esta é portanto parte da celebração da Eucaristia e da Liturgia das Horas, mas também se recomenda por meio da Lectio Divina, onde juntos lemos e refletimos a Palavra de Deus, damos nossa resposta a esta Palavra em nossas próprias palavras e em silêncio, onde permitimos à Palavra formar nossos corações e unificarmos. Não podemos ter comunidades orantes se nós não somos indivíduos orantes. Cada um de nós é responsável pela saúde da comunidade. Ser piedoso não significa necessariamente dizer muitas orações, mas permitir que nossa oração nos transforme a nós e ao modo como nós nos relacionamos com os outros.
As Constituições reconhecem que necessitamos discutir preocupações comuns e por isto a reunião comunitária é um elemento importante na vida da comunidade. Se não discutimos coisas que nos envolvem, elas se tornarão problemas que podem destruir a harmonia de qualquer comunidade. Na reunião comunitária tem que se tratar das coisas de cada dia, mas também os aspectos espirituais da vida da comunidade. Certas habilidades básicas são importantes para uma reunião da comunidade. Se vocês sabem que não as têm, ou desconfiam disto, por que um dos outros irmãos não pode organizar a reunião?
Também as Constituições nos animam a partilhar a mesa e recreação em comum. Se nunca estamos juntos, nunca cresceremos em unidade. Se estamos juntos, por certo há um risco de conflito, mas se existe boa vontade para dialogar, estes problemas podem ser superados e podem ser de fato um elo de unidade entre nós. Cada um de nós deve examinar nossa própria consciência. Eu estou pronto a dialogar de verdade com meus irmãos? Tenho sempre razão e os outros nunca? É possível que algumas de suas críticas tenham algo de verdade? Neste caso que faço?
Finalmente as Constituições nos animam a trabalhar juntos e partilhar nossas alegrias, nossas ansiedades e amizades. É importante celebrar as datas ordinárias juntos, como por exemplo: aniversários de nascimento, votos, ordenação, etc. Também é importante estarem ali quando temos problemas. Sempre salvaguardando o direito da comunidade a sua vida privada, é muito bom partilhar os nossos próprios amigos pessoais com a comunidade.
A comunidade religiosa é uma realidade humana e por conseguinte não é perfeita, mas é o ambiente em que somos chamados para responder ao amor gratuito de Deus para conosco. É o lugar privilegiado onde podemos crescer como seres humanos, como cristãos e como religiosos. Aceitemo-nos com todas nossas faltas, esforcemo-nos para amar-nos como Cristo nos amou e a valorizar os demais como irmãos e co-herdeiros do Reino de Deus. De vez em quando, por certo, não manteremos nossos ideais altos, mas essa não é uma razão para deixar estes ideais e conformar-nos com a mediocridade. Cristo prometeu estar conosco e podemos confiar nessa promessa. Se o permitimos, ele amará a nossos irmãos através de nós. Se nossa experiência de comunidade não tem sido boa, por que não tentamos seguir o princípio de nosso irmão, São João da Cruz que disse, “Onde não há amor, coloque amor e encontrará amor?” Se há amor dentro de uma comunidade, todos os obstáculos podem ser superados. A vida comunitária não será perfeita, mas saberemos que somos aceitos pelo que somos, o qual nos dará a confiança para ir ao encontro dos outros e partilhar esse amor com eles. Nossa vida comunitária levará o testemunho da verdade do Evangelho que Cristo rompeu as barreiras que separavam as pessoas entre si e que seu amor pode curar.
Se desejamos correr o risco de amar a nossos irmãos, cumprimos o artigo de nossas Constituições que diz “A fraternidade, segundo o exemplo da comunidade de Jerusalém, é uma encarnação do amor gratuito de Deus e interiorizado através de um processo permanente de esvaziamento do ego centrismo – também possível em comum – para uma centralização autêntica em Deus. Assim, podemos manifestar a natureza carismática e profética da vida consagrada do Carmelo e podemos inserir harmonicamente nela o uso dos carismas pessoais de cada um a serviço da Igreja e do mundo.” (30).
Leia em espanhol. Clique aqui:
*OLHAR CARMELITANO: A Autoridade no Carmelo
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FREI CARLO CICCONETTI, O.CARM.
O grupo de eremitas, "moradores do Monte Carmelo junto à Fonte", apresenta-se logo sob o signo da Autoridade-Obediência: estão sob a obediência de Brocardo e desejam exprimir a sua voluntária e total "obediência" a Cristo Jesus, reconhecendo-Lhe a "Soberania" universal (Regra 1 e 2), sacramentalmente manifestada na sua Igreja e nos seus Pastores. Desde os inícios procuram a aprovação da Igreja. "Alberto, por graça de Deus chamado a ser Patriarca da Igreja de Jerusalém, aos amados filhos Brocardo e outros eremitas, que vivem debaixo da sua obediência junto à Fonte, no Monte Carmelo, saúde no Senhor e bênção do Espírito Santo" (Regra 1).
A Autoridade - um conceito tão irritante e dissonante para a nossa mentalidade - qualificada como "graça de Deus e vocação" desde as primeiras linhas da nossa Regra. O poder de governar é "graça" ou Charis em grego, donde "carisma", "dom" de Deus. Con-corre junto com os outros múltiplos "carismas" para a edificação da sua Igreja (1Cor 12,4-11.28; Ef 4,7.11-16). Aprofunda as suas raízes na Ágape Divina; é expressão de amor. A graça, por defini-ção, é "participação e comunicação da vida divina".
É VOCAÇÃO, posto que ninguém se arroga a autoridade (na Igreja), como o ministério sacerdotal, se para ele não for chamado por Deus. Dele vem toda a paternidade no céu e na terra (Ef 3,15: Jo 19,10-11; Hb 5,1-10). Concretamente, Alberto foi "chamado", isto é, eleito pelos que tinham voz no Capítulo dos Cônegos Regulares do Santo Sepulcro de Jerusalém; mais tecnicamente: o "postula-ram", porquanto não teria tido voz passiva naquela Igreja.
Mas a Vocação, por último, vem de Deus. Deus chama e dá a cada um "um Carisma ou uma diaconia" (1Cor 12,4-11; Ef 4.7.11-16), inclusive, "o carisma do governo" ou a "chamada" ao governo (1Cor 12,28), por meio da Igreja e a favor do Povo de Deus. Esta é a fonte primeira da legitimidade da Autoridade de Alberto, mas não seria suficiente se os eremitas não estivessem eles próprios "em Cristo", isto é, batizados e membros da Igreja, ou melhor, membros desta Igreja particular, a Igreja de Jerusalém. Na sauda-ção-bênção vem expressa a finalidade da Autoridade, a salvação (ou saúde) no Senhor, os dons do Espírito Santo para o "homem novo".
A Tradição dos Padres da Igreja e da vida monástica mencionada logo em seguida e também ao falar da Oração Litúrgica (2.11) completa esta visão das relações intra-eclesiais, que são parte da experiência fundacional do Carmelo.
A Ordem do Carmo, apresentando a Regra, segundo a qual promete viver na obediência a Cristo, e explicitando de vários modos o seu serviço ou carisma peculiar conforme ao qual se compromete com a Igreja, subscreveu com a Igreja um Pacto público; por isto recebe da Igreja a Autoridade para o exercício fiel do seu carisma. Na ótica do Pacto bíblico que, em união com as promessas de Deus, provê a um "capitulado" (confirmado em "capitulares") da Aliança, a Torah, este "Pacto" também significa a assunção de deveres nos relacionamentos com toda a Igreja. Será sancionado a nível universal nas várias intervenções dos Papas a favor da Ordem e garantido com a observância das suas leis fundamentais. Cada irmão, que com a Profissão religiosa se compromete perante a Igreja e com a Ordem, entra na ótica desta Aliança.
Alberto, Patriarca de Jerusalém, laureado "in utroque jure", na nossa Regra une em um triângulo ideal, com sábio equilíbrio, Bíblia, Teologia (a Eclesiologia recebida dos Santos Padres da Igreja) e o Direito, como código e instrumento de comunhão; não apenas nesta saudação inicial, mas, aqui e ali, em toda a sua "Forma vitæ".
Evocada a fonte da sua Autoridade em relação aos eremitas de junto à Fonte, "estabelece", quer dizer, ordena com Autoridade o que segundo a tradição da igreja é necessário para viver "con-cretamente" em obediência a Cristo. Com evidente ênfase no latim, quer uma Autoridade, um Prior, "um eleito entre eles": "illud in primis statuimus...", porque se queres viver realmente "debaixo da Soberania de Cristo", no seu "obséquio", deves começar por reconhecer, "acima de ti, alguém que o representa", que Lhe faz as vezes (Regra 4.23: cf. Rm 13,1), para que inicies o caminho ao inverso daquele de Adão (Regra 4). A Autoridade do Prior é meio, não é fim: o Prior não visa impor a sua vontade, mas "guiá-los à obediência a Cristo" (Const. n.48).
Nós não temos de ter medo de falar de potestade-poder ou de Autoridade quando sabemos que autoridade "entre nós" não é igual à que "de fato" exercitam os "poderosos" do "mundo" (Regra 22 - cf.Mt 20, 25-26), mas está revestida das qualidades do serviço evangélico.
Ninguém trate de impor um Prior à Comunidade (Gregório IX), por que entre a Autoridade e aqueles sobre os quais preside se contrai um pacto bilateral: os irmãos elegem: eles também exercem desta maneira um poder, uma Autoridade; a pessoa "eleita" aceita e de qualquer maneira exerce um direito, um poder; só então, pelo mútuo consentimento confirmado pela Autoridade Superior, se estabelece a aliança entre a pessoa que foi chamada a se revestir da Autoridade e os irmãos que prometeram obediência. Os teólogos-juristas do tempo enxergavam a eleição para um cargo por parte de uma comunidade, e não apenas a do Bispo na sua Igreja Diocesana, como um "pacto esponsal", uma relação, portanto, ditada pela Caridade, pelo Amor.
A Autoridade "vém de Deus", "os Superiores fazem as vezes de Deus", são um "serviço" e um "ministério" (PC14: câns 618,619). Estas são afirmações válidas até o dia de hoje e que aprofundam as suas raízes na concepção teológica e antropológica da Bíblia, recebida da Patrística e da Tradição da Vida Monástica. Pressupõe-se, naturalmente, a fé, que leva à esperança e ao amor. Para a teologia cristã isto inclusive é válido para a autoridade ci-vil: o homem é o fim e a medida de todas as instituições huma- manas e divinas.
Na Ordem do Carmo, como em outros Institutos Religiosos, a Autoridade está orientada para o bem e o serviço da própria Igreja e, mais diretamente, para o "serviço" daqueles fiéis-súditos que com a profissão religiosa abraçam a vida e a santidade da Igreja na "Forma de Vida" carmelita, aprovada canonicamente pela própria Igreja. A profissão entra na ótica daquela Aliança Esponsal da Igreja, pacto de amizade e de plena identificação com o seu mistério" (1Tm 5,9-15). A Regra e as Constituições são o "capitulado" desta Aliança, o "Código de Comunhão". Vivido e interpretado no interior das ordenações da Igreja. Não quer dizer que se trancam os espaços para a "liberdade de consciência", que permanece sempre a última instância, ou da liberdade "profética" autenticamente tal.
*XVº CONSELHO DAS PROVÍNCIAS. [REFLEXÕES TEOLÓGICAS SOBRE O PODER DE GOVERNO NA ORDEM DO CARMO]
OLHAR CARMELITANO: Fatos da Vida de Teresinha
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A visão da Igreja
No tempo de Santa Teresinha, no fim do século passado, na França, a visão de igreja que predominava era proveniente do rigorismo do Jansenismo. Deus ficou distante. Um Deus exigente e moralista. A vida comunitária do Carmelo era marcada por esta visão de Deus. Havia um manual, feito em 1842, chamado “O Tesouro do Carmelo”. Era um resumo da espiritualidade dos mosteiros da França. Mistura proveniente de Santa Teresa e do Cardeal Bérulle. Tinha forte influência do rigorismo de Jansênio. O uso frequente deste manual fez com que não se liam os grandes mestres espirituais. De S. João da Cruz só se lia a Subida do Monte Carmelo. Espiritualidade rigorista, ascética, moralista e individualista. Na Biblioteca do mosteiro de Lisieux só havia um único exemplar da Bíblia traduzida para o francês e este nem sequer era completo, pois faltavam os livros deuterocanônicos. Para uma irmã poder ler a Bíblia precisava de licença da superior.
Teresinha nasce e cresce dentro deste contexto. Quando ela está no fim da sua vida, a gente capta dos escritos dela uma visão de igreja que significa uma ruptura com este modo de ser e de viver. Para avaliar a novidade de tudo isto que apareceu na vida dela, convém não esquecer que ela era uma moça de apenas 15 anos quando entrou no convento. Ela nunca frequentou escola nenhuma. Tinha vários problemas, mas decidida em seguir a vocação que sentia dentro de si mesma.
Deus como amor e ternura.
Em Teresinha transparece uma nova imagem de Deus, fruto da sua experiência. O seu jeito de lidar com Deus era uma crítica ao jansenismo. Na história de uma alma a gente consegue seguir mais ou menos a gênese desta novidade. A experiência da vivência do próprio pai, o trauma que viveu com a perda da mãe. A experiência vivida na noite de Natal em que de repente conseguiu superar o seu problema afetivo e ter um domínio maior.
Ela soube viver todos estas aspectos da sua vida em estreita ligação com a sua fé. Ela fazia da sua vida pessoal o que nós tentamos fazer hoje: ligar fé e vida. E houve uma iluminação mútua. Talvez aqui esteja uma das maiores contribuições de Teresinha: a nova imagem de Deus e a repercussão que isto tem na vida pessoal e comunitária das pessoas.
No coração de minha mãe a igreja eu serei o amor
Por exemplo, lendo sua vida, como jovem, sentia impulsos grandes e desejos enormes. Ela queria ser tudo ao mesmo tempo e percebia que isto não era possível. Mas por outro lado pensava, se este desejo existe em mim, deve haver um caminho para realiza-lo. Lendo a Bíblia, ela descobriu: “No coração de minha mãe a Igreja, eu serei o amor!”.
O CORAÇÃO DE JESUS: Santa Maria Madela de Pazzi, Carmelita
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O Presente artigo quer trazer uma contribuição modesta à história da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, na época anterior ás revelações de Paray-le-Monial, pondo à luz aquilo que a respeito do Sacratíssimo Coração de Jesus têm de mais relevante os êxtases de Santa Maria Madalena de' Pazzi. Esta grande Santa do Carmelo, de fato, no que diz respeito à devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus, foi desmerecidamente deixada no esquecimento. J. Bainvel, por exemplo, no seu artigo sobre o Coração de Jesus no Dictionnaire de Théologie Catholique (t.III, col.271-351) sobre a nossa Santa refere apenas o seu testemunho sobre a devoção de São Luís de Gonzaga ao Sacratíssimo Coração de Jesus (col. 314 - veja I, 118).
A Santa do Carmelo foi conduzida a outras contemplações profundas, que talvez poderiam facilmente juntar-se ao seu referido assunto; de fato mais de uma vez foi arrebatada em êxtase na contemplação da chaga do Lado Sagrado do Redentor. Todavia no presente artigo foram tomados em consideração os traços dos seus êxtases, que se referem diretamente ao Sacratíssimo Coração de Jesus.
Prelúdio das maravilhosas revelações de Paray-le-Monial foram aquelas que, um século antes, o Senhor se dignava fazer à mística Santa do Carmelo, Santa Maria Madalena de' Pazzi.
A esta alma eleita, para quem parecia que não existiam mais as barreiras entre o tempo e a eternidade diante dos êxtases constantes, durante os quais mergulhava na contemplação do mistério de Cristo, muitas vezes o Senhor mostrou o seu Coração divino. Entre ardentes chamas e raios brilhantes, como símbolo do imenso amor que trazia pelos homens, a Santa viu o Coração de Jesus, aquele Coração de carne, ferido pela lança, que então a ela se revelava assim como um século mais tarde se revelou a Santa da Visitação, Santa Margarida Maria Alacoque: era como "o ninho" do amor de Jesus pelos homens (II 346), amor imenso, que se fez patente pela chaga que nele abriu a lança do centurião (II 431).
Brilhante como o sol, chamejante como uma fornalha ardente, lançando raios de fogo, Jesus mostrou o Seu Coração a Santa Margarida Maria (Vie et oeuvres 2e ed. T.II p.381).
De visão semelhante gozou Santa Maria Madalena: "Ó humanidade do meu Cristo!... Flores estão nos teus pés, nas tuas mãos frutos e pedras preciosas, mas no Coração flechas em grande abundância!" ─- exclama um dia a Santa arrebatada em êxtase (II 441). Em outra ocasião "via sair do Coração de Jesus uma grandíssima fornalha de amor, que continuamente emitia setas e raios de fogo sobre os corações dos seus eleitos" (II 259).
As místicas elevações sobre o Coração de Jesus, que a Santa do Carmelo proferia, arrebatada em êxtase, são um comentário antecipado e admirável das mensagens de misericórdia transmitidas desde Paray-le-Monial.
"As almas fervorosas chegarão em breve tempo a grande perfeição", dizia o Coração de Jesus a Santa Margarida Maria. A Santa Maria Madalena Jesus concedeu contemplar a perfeição que alcançam estas almas fervorosas ─- as verdadeiras esposas que repousam no Teu divino beneplácito ─- entrando no divino Coração pela chaga do Lado sagrado, que ficou aberta, diz a Santa, como "porta (...), para que pudessem entrar com o desejo de repousar naquele Coração" (II 431). A linguagem que a Santa no rapto do êxtase usa ao descrever-nos a perfeição alcançada pela alma no Coração de Jesus é a linguagem da mais alta mística, feita de contrastes e paradoxos, visto que deseja exprimir experiências inefáveis de um modo inacessível aos sentidos. Vede: "Bem-aventurada pelo amor se inebria e não fica saciada; sacia-se e sempre tem sede; consuma-se e não é destruída; morre pela doçura numa vida eterna e é uma vida como uma morte, porque nada sente de si mesma, mas tudo de Deus; e é uma morte toda vida, porque é completamente bem-aventurada sem nunca ver o fim. «In nidulo meo moriar» desta morte, que é vida, mas «multiplicabo dies», pois viverei sempre felicíssima e por toda a eternidade que há de seguir-se" (II 431). A alma vive de amor "com um total abandono que faz de si mesma, em tudo e através de tudo, (estar) em Deus" (II 169), amor com o qual ama ao seu próximo também e "não ama somente as criaturas próximas dela e as ajuda, mas extende-se o seu amor às almas do Purgatório e as ajuda com sufrágios, esmolas e outras orações e obras de piedade" (II 169). É a perfeição enfeixada na caridade.
Nas revelações de Paray-le-Monial Jesus prometeu aos devotos do Seu Coração divino a paz às suas famílias, a consolação nas suas penas, prometeu ser o seu refúgio seguro na vida e na morte; à Sua esposa fiel do Carmelo o Senhor revelou quanta paz, consolação, segurança encontrariam as almas no seu Coração! Mostrou, de fato, à Santa extática o Seu Coração divino como um precioso vaso que continha um "puro, atraente, doce e delicado licor" que - como entendeu a Santa ─- era o "puríssimo e simplicíssimo amor de Deus". Pois bem, este licor precioso, que a alma hauria do Coração de Jesus, a confortava de um modo maravilhoso, porque ele "sacia todos os desejos, cura todas as enfermidades, tranqüiliza nas tribulações e pacifica a alma com Deus; daí, encontrando-se a alma tão pacificada com Deus, não se aquieta se não vê ainda os próximos na mesma paz: e esta é aquela paz que supera todos os sentidos (...). A alma que possui tal precioso licor recebe na terra um penhor do Paraíso e está adornada de todas as virtudes" (III 389).
"A devoção ao Meu Coração afervorará as almas tíbias", confiava Jesus a Santa Margarida Maria. Santa Maria Madalena foi arrebatada um dia em êxtase, quando contemplava o Seu Senhor. Viu então como do Seu Coração borbulhava "uma fonte belíssima", cuja água bebida pelas almas produzia nelas dois efeitos: "refrescava e aquecia: primeiro refrescava aquelas que estavam queimadas pelo fogo da soberba; depois aquecia os tíbios, fazendo-os todos fervorosos de amor no serviço de Deus" (II 269).
"No Meu Coração os pecadores hão de encontrar a torrente e o oceano da misericórdia", dizia Jesus nas aparições de Paray-le-Monial. A Santa do Carmelo compreendeu qua a chaga aberta do Coração de Jesus era "uma porta, por onde poderemos entrar à vontade para recolhermos os mais ricos tesouros da divina misericórdia, se tivermos vontade" (II 431).
Este amor de Jesus ─- como foi contemplado pela Santa do Carmelo e pela Santa da Visitação e cujo símbolo era o Coração de Jesus que elas viam brilhante como um sol em meio de raios e de chamas ─- era, sem dúvida, um amor glorioso, mas Jesus quis que Santa Margarida Maria ouvisse os tristes lamentos do Seu Coração amargurado ─- dizia Ele ─- com a ingratidão dos homens, daqueles, principalmente, que mais deviam amá-Lo. Pois bem! Nem mesmo esta nota característica das revelações de Paray-le-Monial faltou nas revelações do Carmelo. Um dia, encontrando-se em oração diante do Santíssimo Sacramento exposto para as Quarenta Horas, Santa Maria Madalena foi arrebatada em êxtase: apareceu-lhe Jesus "derramando grande quantidade de sangue pelas suas sagradas Chagas abertas", demonstrando "um tão grande amor por todas as criaturas" e do Seu Coração saíam "algumas chamas como pequeninos fachos". À vista de tanto sangue, exclamou a Santa: "É desprezado pela criatura ingrata o Sangue que pelas suas cinco Chagas derrama o Verbo Humanado; é desprezado o amor que, ao derramá-lo, ele está demonstrando". Convidou-a então Jesus a contemplar os pecados das almas, que eram mais obrigadas a amá-Lo e que são a causa dos tormentos que padece" (II 171).
O Coração de Jesus reservou para Santa Margarida Maria a missão de transmitir a todas as almas as mensagens de misericórdia e revelar-lhes os tesouros de amor, que Ele encerra, para atraí-las todas para junto de si.
As místicas elevações da Santa do Carmelo, arrebatada em êxtase na contemplação do Sacratíssimo Coração de Jesus, preludiam as harmonias de Paray-le-Monial. Umas e outras se fundem na mesma visão do Coração de Jesus, que nos pede o nosso pobre coração e nos dá em troca o Seu, que é fonte de todo o bem pelo tempo e pela eternidade.
OUVIR O INAUDÍVEL É IMPRESCINDÍVEL
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Frei Gilvander Luís Moreira, O. Carm
Um amigo me confidenciou, em São Paulo: "Outro dia eu estava parado no semáforo. Chegou um mendigo para pedir dinheiro. Eu disse para ele todo cheio de moral:"- Se você não fosse beber pinga, eu te daria dinheiro." O mendigo, sorrindo e de braços abertos, me disse: "- Você disse que não me dá dinheiro, porque sou um vagabundo cachaceiro. Se você viesse dormir comigo umas duas noites aqui na calçada, neste frio lascado, você veria que a pinga é o meu cobertor. Bebo para esquentar meu corpo. Senão não agüento o frio e morro, como muitos outros colegas já morreram. Mas como você dorme no seu quarto quentinho, com ar condicionado, com 2 ou 3 cobertores, é muito fácil para você me chamar de cachaceiro. Bem dizia meu amigo: "Vemos o mundo a partir de onde estão os nossos pés. "Os seus pés estão num bom apartamento e de lá você contempla o mundo."
Eu estava visitando os barracos na favela Massari, no Parque Novo Mundo, em São Paulo. Entrei num barraco, onde Adriana estava lavando roupa e com o som ligado no último volume. Achei muito alto e perguntei: "- Adriana, por que você gosta do som assim tão alto?" Ela baixou o Som um pouquinho e me respondeu: "- Gosto do som muito alto, porque se abaixo o Som, eu penso e se eu penso, choro, porque a vida para nós favelados é muito dura. Escutar música, no último volume, foi um jeito que encontrei para driblar o monte de problemas que a vida nos oferece; um jeito para sobreviver, já que não temos o direito de viver." Adriana e aquele mendigo lá de São Paulo despertaram em mim a seguinte reflexão: Ouvir o inaudível é imprescindível para quem quer guiar o povo.
Apenas quando se aprende a ouvir o coração (e estômago, pés, mãos...) das pessoas, seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas, um líder pode inspirar confiança em um povo, entender o que está errado e atender às reais necessidades dos cidadãos. A morte de um país começa quando os líderes ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem mergulhar a fundo na lama das pessoas para ouvir seus sentimentos, desejos e opiniões reais.
ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: João de São Sansão
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Maria Valabek. O. Carm
A alma da Observância, um místico que foi chamado do João da Cruz francês, é o irmão leigo cego João de São Sansão (1571-1636). Espelhando os místicos Renanos como Ruysbroek e Herp, João alcançou o mais alta da união transformante; em contraste com seu confrade João da Cruz, ele tentou descrever esta mais alta, experiência pessoal da oração Cristã. Incansavelmente, ele ensinou que todos são chamados à vida mística, isto é, experienciar de algum modo mesmo aqui na terra o próprio Deus e sua real/atual presença. Para os Carmelitas, saborear a presença de Deus mesmo aqui na terra é mais importante que qualquer outra tarefa ou trabalho: “O ponto mais importante... é vacare Deo continuamente.”[1] Ou mais precisamente: “Em completa pureza de espírito e corpo, em uma viva, atual e constante presença de Deus... nisto consiste a base do espírito da nossa Ordem.”[2]Ele insiste na oração contemplativa para os jovens estudantes, com a idéia que se eles fossem enraizados nela, mais tarde, quando lhes fossem dadas responsabilidades pastorais, eles estariam habituados a viver pela essência de sua vida no Carmelo. Tão frequentemente se vive em um nível externo mesmo em seu próprio cuidado/own regard; sua luta espiritual deve ser de uma constante interiorização.[3] Ele resolutamente insiste que esta vida mística não é acima de tudo trabalho nosso, mas pelo contrário a constante iniciativa de Deus. No entanto, Deus tem dado à nossa natureza uma suscetibilidade para esta vida de intimidade com Ele. O espírito de João é evidente nas Constituições da Reforma Turonense.
“É necessário que um tempo conveniente e lugar sejam dados aos neo-professos, assim que eles possam estar mais profundamente imbuídos com o espírito do nosso Instituto, e implantar virtudes em suas mentes, e transferir todos os seus afetos em Deus, para que em tempo {so thet in time} eles possam avançar em conversações interiores com Deus e na doce presença de Deus, que fora de dúvida constitui e faz o verdadeiro Carmelita.[4]
Indubitavelmente, a vida interior de oração de cada carmelita seguirá as potencialidades de sua personalidade, de seus dons naturais e sobrenaturais. O que é importante em todas as formas de oração é o afeto de suas potências internas a Ele com quem um diálogo se instala. Mesmo no Ofício Divino o que é importante é estar inflamado com o amor divino.[5] Na meditação, também, há a necessidade de “escutar mais que falar, não trabalhar demais com o intelecto, mas também não ficar negligente ou relaxado/preguiçoso.”[6] Deveria haver tanta reflexão quanto fosse necessária para surgir afetos e amor pelo Senhor.
A forma de oração preferida pelo irmão leigo cego era a aspirativa. Esta não é o que comumente é chamada de oração jaculatória. Ele mesmo dá a exata descrição:
“ Uma aspiração não é meramente qualquer tipo de diálogo afetivo, mesmo que em si este último seja um bom exercício, e dele nasça e proceda a aspiração. Ela é uma amorosa e inflamada confiança (élancement) do coração e do espírito, pelo qual a alma supera-se a si mesma e todas as coisas criadas e une a si mesmo com Deus na vividez/vivacidade de sua amorosa expressão. Esta expressão supera todo sensível, racional, intelectual, ou compreensível amor. Pela impetuosidade do Espírito de Deus e seu próprio esforço, ela alcança a divina união, não em sua completa essência, mas por uma espécie de transformação pelo Espírito de Deus.”[7]
Esta confiança interior para a comunhão com o Senhor no amor pressupõe uma vida de constante purificação dos amores nocivos/doentios puramente humanos, e isto inclui todos os meios normais para preservar um coração puro, como o silêncio e a solidão. É inútil forçar este tipo de oração; é Deus mesmo que enche-nos com o seu Espírito. A plenitude do dom do Espírito faz-nos ansiar/esperar/desejar por sua presença ainda mais. Não é uma questão de sentimentos ou desejos, mas uma direta comunhão com Deus. Quatro passos podem ser distinguidos nesta oração. 1) Tudo de si mesmo e tudo da criação é sacrificado por causa do Senhor que é o centro da atenção; 2) A Deus se suplica que ele nos envie seus maravilhosos dons; 3) todos os passos imagináveis são dados para tornar-nos semelhantes a Deus, acolhendo Deus no modo como ele se digna dar-se a si mesmo a nós; 4)sendo unido a Deus de um modo mais elevado. Este não é um exercício fácil que é assimilado em um único dia. Há a necessidade de um esforço perseverante, combinado com uma profunda vida interior, em vista de ir além de todas as imagens e repousar somente em Deus. Nos últimos estágios, a oração aspirativa será mais simples.[8]
Devido à extrema pobreza de imagens devido à sua cegueira, a linguagem de João é difícil às vezes; contudo, ele tenta descrever que a contemplação abarca, supera, vai além de todas as outras coisas. A um certo ponto a alma que foi deixada a si mesma uma presa para Deus, não pode resistir à supereminente bondade, verdade e beleza de Deus. Ela permite-se ser totalmente permeada e possuída por Ele. Esta experiência deixa a alma confusa, porque de suas outras experiências, tão parciais e limitadas, ela acha esta tão difícil de descrever sua comunhão com o Objeto-Tudo. O contemplativo está convencido que para conhecer Deus nesta toda envolvente experiência é “não conhecer” a Ele no sentido ordinário. Há uma frustração na tentativa de expressar a experiência contemplativa. Por esta razão, o contemplativo por um lado esta cheio de luz mas, por outro lado cheio de escuridão. Aqueles que chegam a este alto degrau de oração dizem coisas que fazem sentido somente a outros que tiveram experiências similares.
João de São Sansão constantemente relembra aos Carmelitas por sua vez a voltarem-se para dentro de si para repararem na {se dêem conta de} sua inclinação para Deus ao nível do consciente. Ele refere-se ao scintilla animae, aquela centelha central da alma onde Deus habita em nosso ser, nossa vida verdadeira e razão de ser de nossa pessoa inteiramente. Tudo o mais é julgado e submetido a esta comunhão que transforma a alma e tudo que ligado à alma de acordo com a Vontade Dele que é Tudo.[9] Não é mais uma questão da aspiração, mas do ser completamente vencido e possuído desde o Alto, pela infinita Beleza e Essência de Deus. Isto não é nada mais do que o céu na terra que Deus prodigaliza seus amigos mais queridos.[10] A alma é deificada e transformada.
[1] Oeuvres spirituelles, ed. Donatien de S, Nicolas, Rennes, 1659; II, 857
[2] Ibid., II, 850.
[3] Cfr. SUZNNE-MARIE BOUCHEREAUX, La Reforme dês Carmes en France et Jean de Saint-samson, Paris, 1950, 184-185.
[4] Regula et Constitutiones, Paris, 1636, II chap. 6, citado por KILIAN HEALY, Methods of Prayer in the Directory of the Carmelite Reform of Touraine, Rome, 1956, 17.
[5] Observations sur la Règle, chap. VII, 684, cited by BOUCHEREAUX, La Réforme, 213.
[6] Exercise journalier, cited by BOUCHEREAUX, La Réforme, 215.
[7] Lê Miroir et lês flammes de l’amour divin, D. 321, cited by and commentede on by CANISIUS JANSEN, O.CARM., L’Oraison aspirative chez Jean
[8] Cfr. BRANDSMA, Beauty of Carmel, 109-110.
[9] Ibid., 111.
[10] Cfr. Lês Contemplatives IV, 405 in BOUCHEREAUX, La Reforme, 217.
ESCAPULÁRIO DO CARMO: NATUREZA E CARÁTER
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O Escapulário é essencialmente uma veste. Quem o recebe, em virtude de o ter recebido, é associado à Ordem do Carmo num grau mais ou menos íntimo. O Escapulário ou bentinho, de fato, é a miniatura do hábito desta Ordem, que para viver no seguimento e serviço de Jesus Cristo, escolheu a experiência espiritual da familiaridade com Maria, irmã, mãe e modelo.
A agregação à Família Carmelitana e a familiaridade com Maria assumem um caráter fundamentalmente comunitário e eclesial, porque Maria "ajuda todos os seus filhos, onde quer e como quer que vivam, a encontrarem em Cristo o Caminho rumo à casa do Pai. E assim o Escapulário é um pequeno "sinal" do grande ideal do Carmelo: intimidade com Deus e amizade entre os discípulos.
CARMELITAS: SENTIR COM A IGREJA A PROFECIA
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Frei Egídio Palumbo O. Carm
Tradução de Frei Pedro Caxito, In Memorim. ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 ).
Se a primazia consiste na experiência do Deus-Trindade, então a Espiritualidade Carmelitana não pode deixar de ser eclesial e profética. Recordamos, por exemplo, a atenção eclesial de Teresa de Ávila [Reforma da Vida Religiosa X Reforma Luterana (orações e sacrifícios pela conversão dos luteranos) - Missões na Índia]; a não menos profunda de Maria Madalena de Pazzi (Renovação da Igreja e da Vida Religiosa); a sensibilidade eclesial de Teresa de Lisieux, que estabelece o primado do Amor como o coração da vocação apostólica da Igreja; o carinho com os pobres por parte de Ângelo Paoli; a atenção às trágicas circunstâncias do seu tempo por parte de Tito Brandsma; a preocupação eclesial e social, que tiveram as fundadoras dos nossos Institutos femininos de Vida Apostólica etc.
*0 CARMELO A SERVIÇO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO: Carisma, Espiritualidade e Missão - Apontamentos - Fraternità Carmelitana- Pozzo di Gotto - 1993. Tradução, Frei Pedro Caxito O.Carm. In Memoriam
Creio na Igreja santa católica.
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Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, In Memoriam (* 30/11/ 1931 +11 /07/ 2014).
Deus convocou por meio de seu Filho, feito carne e história humana, um novo povo. A santidade da Igreja não tem sua origem na própria Igreja, mas nessa iniciativa de Deus: “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra aquela que ele purifica pelo banho da água” (Ef 5,25-26). Por isto, a santidade da Igreja também não é fruto da santidade dos seus membros. A pergunta que se faz aos catecúmenos: você quer ser batizado? equivale a: você quer fazer-se santo? Isto faz entender melhor por que Paulo ao escrever uma carta à comunidade dos cristãos em Corinto, se dirige “aos que foram santificados no Cristo Jesus, chamados a ser santos” (1Cr 1,2).
A santidade da Igreja não é um toque de espiritualidade ou um enfeite, mas é uma dinâmica que lhe é intrínseca e qualificativa. Por isto a Igreja não seria ela mesma se não fizesse da vocação universal à santidade uma urgência da sua pastoral permanente. Na sua carta programática para o terceiro milênio, o Papa João Paulo II escreve: “Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade”.
Mas, também é bom reconhecer que a história da Igreja, inserida na história dos homens, não é sempre, sob muitos aspectos, uma narração gloriosa. Já no século III falava-se da Igreja como um corpo misturado de santos e pecadores. São Cipriano, bispo e mártir, dizia que para a Igreja a santidade é um dom, para seus membros uma tarefa. Por isso a santidade doada por Cristo à sua Igreja, não é anulada, embora não deixe de ser turvada pela infidelidade à vocação à santidade por parte de seus membros
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, In Memoriam- Eremita Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
SENHOR DOS PASSOS DE CACHOEIRA-BA: Um olhar.
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O Prior eleito da Ordem Terceira do Carmo da cidade de Cachoeira-BA, Sr. Antônio, conta a história e a devoção do Senhor dos Passos, uma das grandes devoções da cidade. NOTA: Este vídeo foi gravado antes da Eleição para Prior daquele Sodalício.
CARMELITAS: ESCONDE-TE NA TORRENTE DO CARIT- 01
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Da: “Forma de vida dos primeiros monges” (ano 1370)
Elias, o primeiro monge, institui a vida monástica por inspiração de Deus. Do Retiro de Elias no Deserto. Do duplo fim da vida eremítica e da renúncia aos bens terrenos.
Este Elias, Profeta de Deus, foi o primeiro de todos os monges que existiram e nele teve princípio a santa e gloriosa instituição monacal.
Com a ânsia que sentia pela divina contemplação e o veemente desejo de progredir na virtude, retirou-se para longe das cidades e despojando-se de todos os interesses terrenos e mundanos, se propôs começar a viver a vida eremítica, religiosa e profética, consagrando-se a ela como ninguém até então havia feito, e com a inspiração e o impulso do Espírito Santo, começou a vivê-la e a instituiu.
Porque, aparecendo-lhe o Senhor, lhe ordenou que fugisse dos povoados dos homens e se escondesse no deserto, e vivesse dali em diante a vida monástica da maneira que lhe havia inspirado.
Isto se prova claramente com as palavras da Sagrada Escritura. Referindo-se a isto, lê-se no Livro dos Reis: “E falou o Senhor a Elias, dizendo-lhe: Sai daqui dirija-te para o Oriente e esconde-te na fonte do Carit, que está defronte o Jordão. Ali beberás da fonte e mandei aos corvos que te levem de comer.” (III Rs, 3,4).
O Espírito Santo pôs em Elias um veemente desejo de executar tão santo e tão conveniente mandato que lhe havia inspirado, e o escolheu e fortaleceu para que pusesse em prática tão desejadas promessas.
CARMO DE SALVADOR: Corpus Christi-01
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SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS: PROCLAMAI-O SOBRE OS TELHADO
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Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam. ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 ).
Estamos em pleno mês de junho, mês do Sagrado Coração de Jesus. É um convite a celebrarmos o amor, as misericórdias do Coração do nosso Deus feito homem, que veio morar entre nós, "não para chamar os justos, mas os pecadores" (Mt 9,13).
Por vocação batismal "sacerdotes e reis, uma nação consagrada, um povo que Deus adquiriu para proclamarmos as suas obras maravilhosas" (1Pd 2,9), pela mesma vocação batismal devemos ser também "profetas do Altíssimo", gente que, como todo profeta, fala em nome de Deus, comunica o plano de Deus, que é plano de misericórdia e de amor e de salvação para o seu Povo. Ele, que se preocupa com todos os pardais do mundo e com um só fio de cabelo da nossa cabeça, está sempre muito mais preocupado com o bem e a felicidade de todos nós, seus filhos e filhas.
"Se a transgressão de um só, (Adão), levou a multidão humana à morte, de um modo bem mais elevado se derramou em abundância sobre todos a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo. (...) De um modo muito mais elevado aqueles que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão na Vida por meio de um só, Jesus Cristo" (Rm 5,15-17).
É, portanto, necessário não ter medo e, como Jeremias, sentir o Senhor ao nosso lado como forte Guerreiro. Não ter medo dos homens nem vergonha do Evangelho da Vida, da dignidade, da pureza, da honra, do direito, da justiça e da paz.
É o próprio Jesus quem declara: "Todo aquele que se declarar em meu favor diante dos homens, eu também me declararei em seu favor diante do meu Pai que está nos céus; mas aquele que me renegar diante dos homens, eu também o renegarei diante do meu Pai, que está nos céus", quando vier, cheio de glória, para julgar os vivos e os mortos.
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS: RICO DE MISERICÓRDIA
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Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam. ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 ).
"Mas Deus, rico de Misericórdia, graças ao grande amor com que nos amou, mortos que estávamos por causa dos pecados, nos fez reviver com Cristo: de graça, na verdade, fostes salvos" (Ef 2,4-5).
Misericordioso, o Coração de Jesus sente-se comover diante da miséria do povo cansado e abatido como ovelhas que não têm um pastor. Misericordioso quer dizer "um coração compadecido diante da miséria". E Ele é misericordioso. "Andava em volta por todas as cidades e aldeias, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda doença e enfermidade" (Mt 9,35).
Diz São Paulo aos Romanos: "Pois bem a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores. (...) É por Ele que já desde o tempo presente recebemos a reconciliação"
É misericordioso e quer que o ajudemos a ser misericordioso: chama aqueles que Ele quer e "lhes dá o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo tipo de doenças e enfermidades" (Mt 10.1), como Ele estava fazendo. "Proclamai que o Reino dos Céus está chegando. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, sarai os leprosos, expulsai os demônios" (Mt 10,7-8).
Mas aqueles doze são poucos demais. "O Mediador único entre Deus e os homens" pede aos Homens que peçam ao Dono para mandar mais gente para a sua colheita. A messe está loura, esperando pela colheita (cf Jo 4,35), porque "Messe" é plantação já ansiosa por ser colhida. E o Dono deve ter pressa!...
"Eu vos carreguei sobre asas de águia" como a águia carrega os seus filhinhos (Ex 19, 4). "Sacerdotes e reis, uma nação consagrada, um povo que Deus adquiriu para proclamarmos as suas obras maravilhosas" (1Pd 2,9), o seu amor e a sua misericórdia, devemos estar com Ele no seu esforço por libertar o irmão de toda miséria espiritual e material. "Filhinhos, não amemos com palavras ou com a língua, mas com os atos e com a verdade" (1Jo 3,18).
DEUS DE MISERICÓRDIA
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Frei Pedro Caxito O. Carm. In Memoriam. ( *31/12/1926 +02/09/ 2009 ).
Estamos em pleno mês de junho, mês do Sagrado Coração de Jesus. É um convite a celebrarmos o amor, as misericórdias do Coração do nosso Deus feito homem, que veio morar entre nós, "não para chamar os justos, mas os pecadores" (Mt 9,13).
"As misericórdias do Senhor eternamente cantarei!" (Sl 88,2) dizia o salmista, repetia sempre Santa Teresa de Jesus e devemos nós mesmos sempre proclamar.
Aquelas "entranhas de misericórdia do nosso Deus que, para nos visitar nos fez vir lá do alto o Sol Nascente" (Lc 1,78), Jesus que de Maria veio até nós em Belém.
Aquele Coração cheio de misericórdia, que como Bom Samaritano se inclinou sobre a pobre humanidade prostrada no caminho, sobre a pecadora da casa de Simão, o fariseu, sobre Mateus, Zaqueu e o paralítico de Cafarnaum e o outro da beira de Betesda, a piscina da "casa da misericórdia", sobre a adúltera envergonhada e tantos pecadores, sobre as criancinhas rejeitadas, sobre os pobres e sobre os doentes, porque "são os doentes que precisam de Médico e não os sãos" (Mt 9,12).
«Andai, portanto, de volta para as vossas casas, a fim de aprenderdes o que é: "Quero misericórdia e não sacrifício" » (Mt 9,13), sacrifícios de bodes e carneiros (cf Os 6,6).
Junho nos convida a vivermos a bem-aventurança: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque misericórdia encontrarão" (Mt 5,7).
Junho nos pede para reconhecermos as misericórdias do coração do nosso Deus, nelas confiarmos e as imitarmos. "Sede misericordiosos como é misericordioso
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