O que está acontecendo conosco?
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É o nós contra todos. O outro é uma ameaça. Saímos à rua vestidos para matar
Enterro de Gabriela Anacelli, torcedora do Palmeiras que morreu em consequência de uma briga de torcidas no último sábado - Rubens Cavallari/Folhapress
Nas últimas semanas, escrevi duas colunas (23 e 29/6) sobre o fato de que, por qualquer motivo, brasileiros sacam facas, pistolas e barras de ferro, e partem com fúria assassina para cima uns dos outros. Crianças sofrem violência fatal por pais ou tutores. Mulheres são agredidas ou mortas por maridos ou namorados. E o futebol se tornou uma catarse do mal, em que massas de torcedores alvejam adversários com rojões, trocam garrafadas, depredam patrimônio e juram terror a seus próprios jogadores.
As duas colunas se compunham de notícias colhidas na mesma semana. Perguntei: o que está acontecendo conosco?
Há dias, o levantamento de um órgão internacional dedicado a medir a paz —e, por conseguinte, a violência— tornou ainda mais premente a pergunta. O Brasil é um dos 35 países mais perigosos do mundo. Os critérios usados foram o envolvimento em conflitos, o nível de segurança baseado nas taxas de criminalidade e a quantidade de armamento em circulação.
O Brasil não está em guerra com ninguém, mas, dentro de suas fronteiras, tem uma facção capaz de produzir o 8/1. O país bate recordes em crime organizado, polícia com licença para matar e execuções entre os dois grupos a resultar em comunidades sob permanente tiroteio. O número de armas em poder de particulares, autointitulados caçadores, atiradores e colecionadores, quintuplicou nos últimos anos e explica a facilidade com que as pessoas se matam no dia a dia. Em 2022, ano da pesquisa, foram 40,8 mil mortes violentas no país —média de 110 vítimas por dia.
O Brasil sempre foi violento, fruto de desigualdade, racismo, homofobia, ignorância, brutalidade policial, leis complacentes, certeza de impunidade e corrupção geral. E não vai ficar assim. Vai piorar.
Estamos sendo impregnados pelo discurso do ódio. É o nós contra todos. O outro é uma ameaça. Saímos à rua vestidos para matar. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Mãe de jogador morto após acidente de trânsito passa quatro horas velando o corpo no asfalto: 'Me deixem aqui'
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Mãe de jogador morto após acidente de trânsito passa quatro horas velando o corpo no asfalto: 'Me deixem aqui'
Lucas de Oliveira, de 21 anos, voltava de um pagode em São Cristovão, quando o carro onde estava com amigos bateu em um poste e capotou
O jovem Lucas Oliveira, jogador de futsal, morre em acidente de carro na av Dom Hélder Câmara, próximo da entrada do Jacarezinho. A mãe chora ao lado do corpo. Gabriel de Paiva/ Agência O Globo
Por Jéssica Marques — Rio de Janeiro
A auxiliar administrativa Josi Durval acordou, nesta segunda-feira, com uma ligação por volta das 6h30. Era Pedro Wigg, de 21 anos, irmão de consideração de seu filho Lucas de Oliveira, da mesma idade. Na linha, ele deu a notícia sobre um acidente envolvendo o rapaz no viaduto de Benfica, Zona Norte do Rio. Sem saber detalhes, Josi saiu de casa imediatamente. Ela mora do outro lado da cidade, em Piedade, Zona Oeste, e, com o marido, dirigiu cerca de 20 minutos para ir ao encontro do filho. Ao chegar no local, o susto: Lucas estava morto e seu corpo estirado no chão. Ao lado dele, um carro destruído.
Os destroços espalhados pela via e a destruição do Nissan March, veículo onde estava Lucas, denunciavam a violência da batida. Segundo testemunhas, o carro atingiu um poste na descida do viaduto, rodou três vezes e parou cerca de 30 metros depois perto da calçada. Lucas foi arremessado para fora do carro, batendo a cabeça no asfalto. Entre os feridos, estavam ainda mais três amigos. Dois continuam internados, mas fora de perigo. O outro já recebeu alta.
A mãe do jogador ficou quatro horas à espera da perícia da Polícia Civil, uma saga de dor e tristeza observando o corpo do menino no asfalto. Aos gritos e choro, Josi se recusou a sair do lado de Lucas. “Meu filho, porque você se foi assim. Meu deus, não dá para acreditar! Me deixem aqui. Não quero sair daqui”, desabou.
Ajoelhada ao lado do corpo, coberto por uma manta de alumínio, e machada de sangue, Josi orava enquanto segurava a mão do filho, tinha esperança de que ele fosse sair daquela situação.
— A mãe dele está em choque. Ela não está em condições de falar com ninguém. Nenhuma mãe deveria passar por isso. É muito dolorido — afirmou Pedro Wigg, enquanto segurava os pertences dela e conversava com os policiais. Quanto mais os parentes tentavam tirar Josi do local para poupá-la do sofrimento, mais a mãe do jogador queria ficar.
O caso foi registrado na 25ºDP, no Engenho de Dentro, como homicídio culposo na direção de veículo automotor. O motorista, de 25 anos, era amigo das vítimas.
Férias no Brasil
Jogador de futsal em Portugal, Lucas estava na cidade há 18 dias aproveitando as férias. Ele passou uma temporada de 11 meses na Europa, longe da família e dos amigos. Segundo o pai, Rodrigo Pereira, o filho gostava de se divertir e estava animado por renovar o contrato com o time, o Boa Esperança, de Portugal.
Na noite anterior ao acidente, ele foi a um pagode em São Cristóvão. Na volta, saiu com quatro amigos: um ao volante, que saiu sem prestar socorro, foi identificado e chamado para depor, e outros três como passageiros, socorridos pelos bombeiros às 6h17.
O carro que transportava os jovens ficou totalmente destruído. A lataria traseira estava destroçada e com as portas arrancadas. O airbag foi acionado. No porta-malas estavam embalagens de cerveja amassadas e alguns pertencentes das vítimas, como tênis.
Enquanto a mãe de Lucas estava aos prantos, inconsolável, parentes, amigos e curiosos no local faziam silêncio. “Parece cena de um filme de terror”, comentou uma senhora.
O "rabecão" da Defesa Civil foi acionado às 11h06, chegando ao local 12 minutos depois para a remoção do corpo. Enquanto os agentes preparavam o saco para colocar Lucas, Josi passou mal e foi amparada por parentes. Ela foi a última a sair do local.
Notas da Polícia
Em nota, a Polícia Civil afirmou que agentes da 25ª DP foram comunicados do ocorrido às 9h45, quando a perícia foi acionada. E que "imediatamente, as equipes se mobilizaram para ir ao local e iniciar a apuração do crime. A polícia não comentou a espera de quatro horas pelos familiares da vítima".
Já a Polícia Militar informa que "a primeira equipe chegou ao local às 5h45, providenciando de imediato acionamento do Corpo de Bombeiros para socorrer as vítimas. Três foram socorridas para duas unidades de saúde - uma para o Hospital Municipal Souza Aguiar e duas para o Hospital Estadual Getúlio Vargas. Uma quarta vítima já estava em óbito no local do acidente, conforme constatato por médico da Defesa Civil". Fonte: https://oglobo.globo.com
O dever de regular as redes sociais
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Lobby das big techs é parte da vida democrática, mas não pode impedir o Congresso de fazer seu trabalho: o País continua necessitado de uma adequada regulação das redes sociais
O Estadão relatou como o Google e a Meta – dona do Facebook, WhatsApp e Instagram – atuaram junto aos parlamentares para que o Projeto de Lei (PL) 2.630/2020, o PL das Fake News, fosse retirado da pauta de votação da Câmara. Especialmente intenso durante duas semanas, o lobby das empresas de tecnologia surtiu efeito. Segundo o jornal, ao menos 33 deputados mudaram de posicionamento entre a aprovação do requerimento de urgência do PL 2.630/2020, no dia 19 de abril, e a retirada de pauta, no dia 2 de maio.
A mobilização política promovida pelas big techs em torno ao PL das Fake News despertou controvérsias. Para o presidente da Câmara, Arthur Lira, ela ultrapassou “os limites do contraditório democrático”. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), chegou a estabelecer, por liminar, o que o Google e outras empresas poderiam dizer sobre o projeto de lei, o que representou evidente abuso. No Estado Democrático de Direito, juiz não é árbitro do debate público. Por sua vez, a Polícia Federal abriu investigação para apurar a conduta do Google no caso. Segundo Marcelo Oliveira Lacerda, diretor de Relações Governamentais e Políticas Públicas do Google, a empresa gastou R$ 2 milhões na campanha contra o projeto.
Se há indícios de alguma ilegalidade, é necessário, por óbvio, apurá-los. De toda forma, faz parte do jogo democrático o lobby de empresas, organizações da sociedade civil e grupos de interesse. Da mesma forma, também faz parte da vida legislativa – portanto, não deve ser motivo de escândalo – que um projeto de lei seja retirado de pauta, em razão de algum tipo de pressão. E o mesmo se deve dizer da mudança de posicionamento de parlamentares em relação ao PL 2.630/2020. É assim que o regime democrático funciona.
Mais do que uma deficiência em si, os efeitos do lobby das big techs sobre a tramitação do PL das Fake News revelam um Congresso permeável às influências da sociedade civil, o que, a princípio, é positivo. O Legislativo não pode ser indiferente à sociedade. Outra questão se refere ao modo como essa pressão sobre o Congresso é feita. Certamente não é positivo para o regime democrático que o debate público seja tomado por desinformação, suscitando falsos e desproporcionais medos na população. Nesse caso, em vez de liberdade, haveria manipulação e dominação.
Não existem respostas fáceis para essas tensões. Há, no entanto, alguns princípios fundadores que não podem ser esquecidos. Há liberdade de expressão no País. Um juiz não tem competência para arbitrar o que pode ser dito no debate público. Por outro lado, a convivência social pacífica – o que inclui o exercício das liberdades individuais – demanda um mínimo de regulação jurídica. Demanda a lei.
A própria trajetória da tramitação do PL das Fake News ilustra a necessidade de um marco regulatório adequado para as redes sociais. Não para autorizar que o ministro Alexandre de Moraes faça o que fez – o que é inconstitucional –, mas para proporcionar um ambiente em que os direitos de todos sejam respeitados, sem a prevalência do poder de alguns sobre todos os demais. A ausência de normas jurídicas adequadas impede a devida responsabilização, com a vigência da lei do mais forte.
Em artigo no Estadão (‘Fake news’, censura e anonimato, de 2/6/2023), Afranio Affonso Ferreira Neto advertiu que o cenário atual das redes sociais, sem a devida identificação dos usuários, constitui “a irresponsabilidade do descarado e lucrativo anonimato”, o que contraria a Constituição. “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”, diz o art. 5.º, IV.
É necessário retomar a tramitação do projeto de lei sobre a regulação das redes sociais. O lobby faz parte da vida democrática. Mas não faz parte da vida democrática que o Congresso, órgão por excelência da representação popular, fique refém de algum lobby. A retirada de pauta do PL 2.630/2020 não pode significar o abandono do projeto. O País continua carente de um marco adequado. O Congresso tem uma tarefa importante a cumprir. Fonte: https://www.estadao.com.br
O eco do silêncio
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O eco do silêncio
Em crônica, leitor da Folha analisa a importância da quietude para conexão interna
Vista da cidade de São Paulo do Pico do Jaraguá às 8h38 da manhã - Eduardo Knapp/Folhapress
Vinicius Szabo
Em meio à cacofonia ensurdecedora do mundo moderno, há uma qualidade única no silêncio que muitas vezes passa despercebida. É nos momentos de quietude e ausência de ruídos que encontramos um espaço para nos conectarmos com nós mesmos, refletir sobre nossos pensamentos e permitir que nossa mente encontre a serenidade tão necessária.
Numa era em que somos constantemente bombardeados por informações, notificações incessantes e uma infinidade de estímulos, é fácil perdermos o contato com a nossa essência. O ruído externo cria uma cortina que nos separa do mundo interior, impedindo-nos de mergulhar nas profundezas do nosso ser.
No entanto, quando encontramos momentos de silêncio, mesmo que breves, somos presenteados com uma oportunidade de nos reconectar. O silêncio se torna um aliado valioso, seja ao acordar nas primeiras horas da manhã, quando a cidade ainda está envolta em um manto de calma, ou ao buscar refúgio em um parque tranquilo durante a tarde.
São nesses momentos de quietude que as vozes internas têm espaço para emergir. Pensamentos se desenrolam como fios de um novelo, permitindo que observemos nosso íntimo de maneira mais profunda. É como se, no silêncio, encontrássemos um espelho que reflete nossa essência mais genuína.
Além disso, é no silêncio que encontramos a possibilidade de escutar o mundo ao nosso redor de maneira mais atenta. A brisa sussurra segredos, as árvores dançam com suas folhas ao ritmo do vento e os pássaros entoam melodias encantadoras. Quando nos permitimos abraçar o silêncio, somos envolvidos por uma sinfonia natural, cheia de harmonia e beleza.
Portanto, convido você, caro leitor, a abraçar o silêncio em meio ao caos. Busque instantes de tranquilidade em seu cotidiano agitado. Permita-se ouvir o eco que emana dessa ausência de ruídos. Descubra a riqueza que existe no silêncio e deixe-o ecoar em sua vida, trazendo clareza, introspecção e paz.
Pois é nesse encontro com o silêncio que descobrimos a nós mesmos e nos tornamos mais conscientes do mundo que nos cerca. Que possamos nos lembrar da importância desse espaço valioso, presenteando nossos sentidos com a melodia suave e profunda do silêncio.
O blog Praça do Leitor é espaço colaborativo em que leitores do jornal podem publicar suas próprias produções. Para submeter materiais, envie uma mensagem para Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Pastor André Valadão diz que Deus mataria todos os LGBTQIA+ se pudesse
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Pastor André Valadão diz que Deus mataria todos os LGBTQIA+ se pudesse
Em vídeo posterior, religioso afirma que fala foi retirada do contexto e culpa 'grande mídia' por repercussão
André Valadão, pastor da Lagoinha Church Orlando, faz pregação anti-LGBTQIA+ - Reprodução/lagoinhaorlandochurch no Instagram
Um mês depois de dizer que "Deus odeia o orgulho", inaugurando uma ruidosa campanha anti-LGBTQIA+ na igreja onde prega em Orlando (EUA), o pastor André Valadão afirmou que é preciso "resetar" os membros dessa comunidade e que, se Deus pudesse, "matava tudo e começava tudo de novo".
A fala apareceu em culto neste fim de semana. Primeiro Valadão ironiza: "O que vale é toda forma de amor, deixa casar, deixa viver". Aí os fiéis se horrorizam quando homens e mulheres dançam na frente de crianças com genitálias expostas em paradas que enaltecem o respeito à diversidade sexual, afirma na sequência.
É quando diz: "Então agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer ‘nananinanão’, ‘pó’ parar, reseta. Aí Deus fala: não posso mais, já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava tudo de novo. Mas já prometi a mim mesmo que não posso, então agora tá com vocês".
Valadão disse à Folha que sua declaração foi tirada de contexto e enviou o link de um vídeo que compartilhou nesta segunda (3). Na peça, ele culpa "a grande mídia" pela repercussão do culto.
"Pelo amor de deus, gente, não digo [para] nós aniquilarmos pessoas. Digo que cabe a nós levar o ser humano ao princípio daquela que é a vontade de Deus", diz ali. Usa Gênesis, o primeiro dos livros bíblicos, para justificar a parte em que cita uma matança generalizada de pessoas da comunidade LGBTQIA+.
Lá está o dilúvio que Deus teria armado para fulminar a humanidade, à exceção de Noé, o construtor da arca, e sua família. A providência divina destruiu a todos "por causa da libertinagem, daquilo que um cristão genuíno considera contrário à vontade de Deus", afirma Valadão.
Na legenda do post, o líder evangélico diz que "nunca será sobre matar, segregar, mas será, sim, sobre resetar, levar de volta à essência, ao princípio".
O discurso de Valadão levou Fabiano Contarato (PT-ES), primeiro senador abertamente gay do Brasil, a dizer que entrará com uma representação criminal contra o pastor, a quem acusa de manipular a fé e incitar a violência. "Por tudo que sou, pelo que acredito, pela minha família e por tudo que espero para a sociedade, não posso me calar diante do crime praticado por André Valadão", diz Contarato.
A Aliança Nacional LGBTI+ foi outra a se manifestar. Seu presidente, Toni Reis, disse que a associação acionaria o Ministério Público Federal contra a fala preconceituosa do pastor.
André Valadão assumiu no fim de 2022 a liderança da Lagoinha Global, com mais de 700 templos no Brasil e no mundo. Subiu na hierarquia após seu pai, o pastor Márcio Valadão, nome respeitado no meio, se aposentar.
Ele se afastou após anunciar a morte por infarto do ex-ator Guilherme de Pádua, assassino de Daniella Perez que virou pastor da igreja, num vídeo peculiar. "Caiu e morreu. Morreu agora, agorinha", informou sorrindo. O tom insólito levantou suspeitas sobre senilidade e abriu espaço para o filho.
Ainda que a matriz da Lagoinha, em Belo Horizonte, esteja a cargo de outro pastor, Flavinho, André Valadão conquistou poder após a saída do patriarca. Ele já vinha cumprindo o papel mais midiático da família nos últimos anos. Em 2022, foi um dos apoiadores evangélicos mais entusiasmados de Jair Bolsonaro (PL).
"O André, desde a sua juventude, despertava polêmicas", diz o pastor Bob Luiz Botelho, membro-associado das Nações Unidas para assuntos religiosos e fundador do Evangélicxs Pela Diversidade.
"Ele sempre pregou discursos que padronizam a fé, essa postura de dizer que para você chegar numa espiritualidade X, precisa fazer o caminho A, não existe B ou C. Tem sempre que ser do jeito que ele quer, um garoto mimado que se recusa a fazer um estudo sério sobre qualquer tema. Um verdadeiro coach que nada tem a ver com o evangelho plural de Jesus." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Anomia na Amazônia
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Como mostra relatório da ONU, o narcotráfico na Amazônia está exacerbando o círculo vicioso em que a miséria, a devastação e a violência se reforçam umas às outras
Segundo o Relatório Mundial de Drogas da ONU, na década passada o número de usuários de drogas no mundo aumentou 23%; e o de pessoas com transtornos por uso de substâncias, 45%. É uma trágica ironia que essa escalada de intoxicação esteja sendo, em larga medida, bombeada pelo “Pulmão do Mundo”, como a Amazônia é popularmente conhecida. Nos últimos anos, o círculo vicioso em que a miséria, a devastação e a violência se retroalimentam foi dinamizado com esteroides pelo narcotráfico. A Amazônia é central para a trevosa saga do tráfico, que está transformando o Brasil de um tradicional consumidor da cocaína de vizinhos em um dos maiores exportadores do mundo.
Segundo a Polícia Federal, entre 2015 e 2019 as apreensões de cocaína em portos brasileiros explodiram: de 1,5 tonelada para quase 67 toneladas ao ano. A ONU estima que o País responda por 7% das apreensões globais, só atrás de Colômbia (34%) e EUA (18%). O Brasil é a quarta maior origem para a Oceania e a primeira para a Ásia e a África, e está se tornando para a Europa o que o México é para os EUA.
A Amazônia é não só uma rota disputada para escoar a cocaína de países vizinhos nos portos do Norte e Nordeste, mas tem se mostrado um ambiente propício à ramificação e entrelaçamento de uma gama de crimes.
Em primeiro lugar, ela é vasta e difícil de monitorar. A Amazônia legal compreende quase dois terços do território nacional. Fosse um país, seria o sexto do mundo. No Brasil, abarca fronteiras com os maiores produtores de coca do mundo: Colômbia e Peru, além da Bolívia.
Entre 2012 e 2022 as apreensões de cocaína na Amazônia saltaram de 6 toneladas por ano para mais de 30. O narcotráfico está “exacerbando e amplificando um leque de outras economias criminais”, alerta a ONU, “incluindo ocupação ilegal de terras, mineração ilegal, tráfico de madeira e espécies selvagens, e outros crimes que afetam o meio ambiente”.
Segundo o Relatório, o cultivo da coca tem impacto mínimo sobre o desmatamento. O verdadeiro catalisador é a lavagem dos lucros do tráfico. Em parte, isso se deve “à abundância de recursos naturais junto a uma presença limitada do Estado, corrupção persistente e fatores estruturais relacionados à informalidade, desigualdade e desemprego”. Organizações como o PCC e o Comando Vermelho estão se diversificando em atividades altamente lucrativas. As redes tecidas por elas aceleram o desmatamento, mas também “crimes convergentes que variam de corrupção, crimes financeiros e tributários, homicídio, assaltos, violência sexual, exploração de trabalhadores e menores, até a violência àqueles que defendem o meio ambiente, incluindo indígenas”. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 1980 e 2019 os homicídios caíram 19% no Sudeste, enquanto no Norte aumentaram 260%.
A repressão a esse “ecossistema do crime” é mais complexa do que o combate à criminalidade urbana tipicamente conduzido pelos Estados. Primeiro, porque essas organizações são transnacionais, exigindo cooperação internacional entre as nações envolvidas na cadeia do tráfico, da produção ao consumo. O Exército é crucial, especialmente na guarda de fronteiras e terras públicas. Mas o mero envio indiscriminado de forças militares tem se mostrado caro e pouco efetivo. Como aponta o Fórum, “é preciso investir no fortalecimento de mecanismos integrados de comando e controle, que conectam esferas federal e estadual, e, em especial, diferentes órgãos e Poderes (Polícias, MP, Defensorias, Ibama, ICMBio, Judiciário, entre outros)”. De resto, regulações excessivas de proteção ambiental, por mais que sejam bem-intencionadas, podem sufocar oportunidades econômicas, aprofundando a pobreza, que, por sua vez, forma um amplo estoque de recrutamento para os orquestradores de crimes socioambientais.
O fato é que, se o País continuar a permitir que a Amazônia seja sequestrada por um narcoestado paralelo, essa fonte de riquezas naturais e saúde climática produzirá efeitos cada vez mais tóxicos para a humanidade e sua “casa comum” – e eles serão particularmente agudos para o Brasil. Fonte: https://www.estadao.com.br
Por que 28 de junho é o dia internacional do orgulho LGBTQIA+
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Marco fundador do movimento está em episódio de batida policial no bar nova-iorquino de Stonewall há mais de 50 anos
É numa modesta construção no número 53 da rua Christopher, em Nova York, que se encontram as origens da explicação para o 28 de junho ser, há mais de 50 anos, celebrado como a principal data de resistência da comunidade LGBTQIA+.
O que se transformou numa manifestação que une festas e atos políticos que ocupam o espaço público para celebrar o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ teve como marco fundador um episódio que opôs violência e exclusão à resistência a favor da diversidade.
Em 28 de junho de 1969, durante as primeiras horas da madrugada, policiais à paisana do Departamento de Polícia de Nova York fizeram uma batida no bar nova-iorquino Stonewall Inn, um dos mais populares entre a comunidade LGBT da região e uma espécie de refúgio em meio a uma era de intolerância.
O alvo da operação eram locais frequentados por "doentes mentais" —forma discriminatória como pessoas LGBT eram descritas pela Associação Americana de Psicanálise à época. Até 1961, todos os estados americanos tinham leis que proibiam a homossexualidade. E por muito tempo elas vigoraram.
Foi apenas em 2003 que a Suprema Corte dos EUA, por 5 votos a 4, invalidou uma antiga decisão e eliminou a proibição da homossexualidade em nove estados que ainda a sustentavam.
Durante a batida em Stonewall Inn, quando várias pessoas foram levadas sob custódia —e os relatos dão conta de que os detidos eram, em especial, gays, lésbicas e pessoas trans—, um grupo resistiu. E a ele se somaram mais pessoas que ficaram sabendo do episódio.
A mobilização e a resistência duraram cinco dias. A "revolta", como o movimento é descrito por parte da historiografia, começou como um protesto espontâneo contra o crônico assédio policial e a discriminação contra pessoas LGBTQIA+ numa década efervescente para o movimento de direitos civis.
Um ano após o episódio, em 28 de junho de 1970, uma manifestação partiu do local do bar e caminhou mais de 4 km em direção ao Central Park, cartão-postal de Nova York, naquela que é considerada a primeira marcha do orgulho LGBT no país. O evento ecoou para outras nações.
"Provavelmente somos o grupo minoritário mais assediado e perseguido da história, mas nunca teremos os direitos civis que merecemos a menos que paremos de nos esconder em armários e no anonimato", disse na ocasião Michael Brown, 29, ao jornal The New York Times.
Os números da mobilização variaram —policiais falavam em "mais de mil", enquanto organizadores estimavam um público de 20 mil pessoas. Mas o consenso dos que conversaram com o jornal americano ia na linha do que disse Martin Robinson, 27: "Nunca tivemos uma manifestação como esta."
O reconhecimento da discriminação na época tem ganhado espaço também nas fileiras da polícia americana. Em 2019, no marco dos 50 anos de Stonewall, o então comissário da polícia de Nova York, James P. O'Neil, pediu desculpas pelo caso, que descreveu como um erro.
"Sei que o que aconteceu não deveria ter acontecido. As ações do Departamento de Polícia foram erradas, pura e simplesmente. As atitudes e as leis eram discriminatórias e opressivas. Peço desculpas."
O movimento em território americano teve pouco impacto no Brasil à época, o que se explica pelo momento histórico que o país vivia: a ditadura militar. Como hoje se tem vasto conhecimento registrado, gays, lésbicas e pessoas trans eram alguns dos grupos perseguidos, e por vezes torturados, por militares.
Iniciativas brasileiras mais amplas começaram a surgir paralelamente à abertura do regime militar, com foco geográfico no eixo Rio-São Paulo e, na segunda metade da década de 1970, com marcos fundantes como a criação do jornal "Lampião da Esquina" e do grupo Somos.
Já nos anos 1980, organizaram-se grupos por todo o país, que desempenharam importante papel na luta pelos direitos humanos e civis dos homossexuais. Esses grupos foram fundamentais na proposição de respostas à sociedade civil sobre a epidemia da Aids. As comemorações brasileiras do 28 de junho, no entanto, vieram apenas no final dos anos 1990. A primeira Parada do Orgulho GLT —à época a sigla só abrangia gays, lésbicas e travestis— ocorreu em 1997 e reuniu cerca de 2.000 pessoas. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Meus influencers favoritos
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Homens e mulheres que me influenciaram e que segui pela vida afora
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Raro o dia em que não leio sobre algum famoso influencer em evidência por qualquer coisa importante. Já sei, só nesta frase há quatro pleonasmos. Se é influencer é porque deve ser famoso e, se está em evidência, é porque disse ou fez algo importante.
Mas não será assim o maravilhoso mundo dos influencers? E todos com três ou mais milhões de seguidores. Ao saber disso, pergunto-me vexadíssimo: por que não sou um desses milhões e não sigo um influencer?
Digo influencer no masculino, mas são, em grande maioria, mulheres. E que mulheres! Regulamentarmente louras, com quilômetros de cabelo, grandes beiços, dentes escovados com Omo, cinturas simbólicas, peitos mansfieldianos, bundas infladas e nomes como Karyne ou Thayanna. Não duvido que sejam seguidas o dia inteiro, tanto por rapazes sarados quanto por velhos ofegantes, mas não devem ser esses os seguidores que elas influenciam. Imagino que sua influência seja uma coisa mais platônica, conselheiral, quase filosófica.
Bem, se é assim, eu também já tive meus influencers e fui um ávido seguidor do que eles diziam, faziam, escreviam ou pensavam. Eram jornalistas e escritores como José Lino Grünewald, Carlos Heitor Cony, Ronaldo Bôscoli, Millôr Fernandes, Paulo Francis, Ivan Lessa, Telmo Martino. Aprendi muito ao privar com eles, alguns durante anos e em bases diárias. E, entre outros com quem trabalhei e aprendi, o caricaturista Alvarus, o escritor Marcos Santarrita, o repórter Fernando Pessoa Ferreira. Todos já morreram e todos souberam quanto me influenciaram. Sem falar nos que ainda estão entre nós e que continuo seguindo.
Tive a sorte de ser influenciado também por grandes mulheres: amigas ou colegas como Danuza Leão, Germana de Lamare e Tuca Magalhães —lidas, cultas, maduras, habituadas a dinamitar tabus e de uma coragem que vi em poucos homens. E, embora nem precisassem, todas bonitas. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Mais 19 milhões de refugiados
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Guerra na Ucrânia, com seus 11,6 milhões, responde pela maioria dos deslocados de 2022
Parte dos efeitos de guerras e perseguições tem sido refletida nas estatísticas anuais divulgadas pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Os dados de 2022, conhecidos no último dia 16, não poderiam ser mais dramáticos. O número de pessoas deslocadas de seus locais de origem aumentou em 19 milhões nesse período, o que elevou a estimativa dos que vivem nessa condição a 108 milhões. Para ter uma dimensão, esse universo equivale à população dos Países Baixos.
Esse contexto desafia o arcabouço internacional de direitos humanos construído nos últimos 70 anos e expõe um dado ainda mais grave. Segundo o relatório da Acnur Tendências Globais, elaborado com base nas estatísticas anuais fornecidas pelos países das Nações Unidas, 40% dos 108 milhões de deslocados são compostos por crianças, grupo mais suscetível à violência extrema. Elas somam 43,2 milhões.
Segundo a estimativa da Acnur, 62,5 milhões de pessoas foram obrigadas a se deslocar dentro de seus próprios países, enquanto 35,3 milhões refugiaram-se no exterior, sobretudo em países vizinhos, a maioria deles tão pobres como os de origem. Outros 5,4 milhões de pessoas solicitaram a autoridades estrangeiras o status de refugiado – grupo que aumentou em 2,6 milhões somente em 2022.
O quadro de 2022 mostrou-se afetado sensivelmente por velhos conflitos na África e no Oriente Médio, somados a outros recentes, como o da Ucrânia. Também evidenciou as terríveis condições de sobrevivência em países submetidos a regimes autoritários, como a Venezuela, e naqueles em que há perseguições continuadas contra minorias étnicas, religiosas, de gênero e orientação sexual, como Afeganistão e Mianmar.
A guerra da Rússia contra a Ucrânia respondeu por 61% dos 19 milhões de deslocados em 2022. Os ucranianos forçados a fugir de seus lugares de origem somaram 11,6 milhões, dos quais 5,9 milhões se mudaram para outras regiões do país. A parcela de 5,7 milhões restantes procurou abrigo no exterior, sobretudo na Polônia e na República Checa. Nas Américas, o total de deslocados cresceu 17% em 2022 ante o ano anterior.
É importante ressaltar que os números da Acnur refletem as histórias de busca pela sobrevivência que tiveram o desfecho esperado. Os 108 milhões de deslocados alcançaram um local onde a vida é possível. Nem sempre é assim. O naufrágio de embarcação de pesca precária e sobrecarregada de migrantes na costa da Grécia, no último dia 14, faz parte de uma série de tragédias que tornaram o Mediterrâneo um “mar da morte”. Deixou 79 mortos.
Ao comentar o relatório, o alto comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi, afirmou o óbvio: faz-se necessário um maior esforço para selar a paz e impedir que novas guerras venham a ocorrer, ou então não haverá chances de regresso. As estimativas da Acnur para 2023, porém, já consideram conflitos para os quais não há esperança de solução em breve. A agência prevê mais 35,4 milhões de deslocados neste ano. Parte deles, certamente, sem esperanças de voltar ao lar. Fonte: https://www.estadao.com.br
Mulher envenena marido e filhos na Bahia, e filma homem agonizando até a morte
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A suspeita confessou o crime à polícia, que investiga a motivação do assassinato
Mulher é presa após confessar ter envenenado o marido e os dois filhos Divulgação
Por O Globo
Uma mulher, de 26 anos, foi presa após confessar ter envenenado o marido e os dois filhos, um menino de 4 anos e uma menina de 1 ano e oito meses. O caso aconteceu na noite de sábado (17), no bairro Princesa Isabel, em Ilhéus, na Bahia. A suspeita filmou o momento em que o marido agonizava após ingerir o veneno.
Um inquérito foi instaurado para apurar a motivação do crime. Até o momento, a Polícia Civil da Bahia também não sabe por que a suspeita teria gravado toda a ação. No vídeo, é possível ver o homem sentado no sofá babando após ser envenenado. Em outro momento, ele aparece no chão reclamando de dores. Ao fundo, as crianças gritavam ao ver a situação.
Em nota, a Polícia Civil da Bahia informou que a mulher foi conduzida a 7ª Coordenadoria de Polícia do Interior de Ilhéus por uma guarnição da Polícia Militar. Foram expedidas as guias de perícia e remoção dos corpos das vítimas para que seja investigado qual substância teria causado a morte dos três. Fonte: https://oglobo.globo.com
Uganda, milicianos islâmicos massacram jovens em uma escola
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A escola onde ocorreu a agressão: quase todas as vítimas são estudantes. (AFP or licensors)
Até o momento, 41 pessoas foram mortas no ataque noturno realizado por homens da Força Democrática Aliada, um grupo rebelde muçulmano que semeou o terror na Escola Secundária de Lhubirira, massacrando 41 pessoas, dos quais 38 estudantes, e sequestrando várias alunas.
Sofiya Ruda – Vatican News
Pelo menos 41 pessoas, incluindo 38 estudantes, foram mortas em um ataque de rebeldes das Forças Democráticas Aliadas (ADF) a uma escola no oeste de Uganda, perto da fronteira com a República Democrática do Congo. A escola, que é mista e de propriedade privada, está localizada no distrito ugandense de Kasese. Alguns meninos foram mortos, enquanto várias alunas foram sequestradas.
Tragédia na escola
O prefeito Selevest Mapoze, da cidade de Bwera, disse que entre as vítimas do ataque à escola secundária de Lhubiriha estavam 38 alunos, um guarda e dois membros da comunidade local que foram baleados do lado de fora do estabelecimento. O porta-voz da polícia, Fred Enanga, anunciou que as pessoas encontradas sem vida foram transferidas para o Hospital de Bwera. Outras oito pessoas, que estão em estado crítico na instituição, foram resgatadas. De acordo com as autoridades, os responsáveis pela tragédia são as Forças Democráticas Aliadas (Adf), um grupo rebelde islâmico acusado de lançar muitos ataques contra civis nos últimos anos, especialmente contra comunidades em áreas remotas do leste do Congo. Somente na semana passada, um vilarejo na República, próximo à fronteira com Uganda, foi atacado. Cerca de cem habitantes fugiram por alguns dias e depois voltaram para suas casas.
A busca pelos alunos sequestrados
De acordo com algumas fontes, cerca de 20 estudantes foram sequestrados pelos milicianos durante o ataque; de acordo com outras, foram seis estudantes do sexo feminino. O exército de Uganda informou em um comunicado que as tropas dentro da República Democrática do Congo "estão perseguindo" os rebeldes das Forças Democráticas Aliadas "para resgatar as pessoas sequestradas". A polícia informou que as tropas ugandenses avistaram os agressores no Parque Nacional de Virunga, o mesmo parque onde o embaixador italiano Luca Attanasio foi morto em uma emboscada. Joe Walusimbi, funcionário que representa o presidente de Uganda na área de Kasese, disse à Associated Press por telefone que as autoridades estão tentando verificar o número de vítimas e sequestrados. "Alguns corpos foram queimados e agora estão irreconhecíveis", disse ele.
As Forças Democráticas Aliadas
Originalmente rebeldes ugandenses de maioria muçulmana, as Adf estão entrincheiradas desde meados da década de 1990 na parte oriental da República Democrática do Congo, onde se acredita que tenham massacrado milhares de civis. Em 2019, eles juraram lealdade ao autodenominado Estado Islâmico, que os apresenta como sua filial na África Central, e também são acusados de ataques jihadistas em solo ugandense. Esse não é o primeiro ataque a uma escola em Uganda atribuído ao Adf. Em junho de 1998, 80 alunos foram queimados vivos em seus dormitórios em um ataque da Adf ao Instituto Técnico de Kichwamba, próximo à fronteira com a RDC. Cerca de 100 alunos foram sequestrados. Fonte: https://www.vaticannews.va
Suicídios aumentam na Venezuela no rastro de crise econômica e humanitária
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Pesquisa revelou que venezuelanos sentem raiva, tristeza e preocupação relacionadas a situação do país
Por Florantonia Singer, El País — Caracas
Uma cidade encravada no meio das montanhas nos Andes venezuelanos ostenta o primeiro lugar em uma lista dolorosa. Mérida registra 40% do total de mortes por suicídio na Venezuela. Em um mesmo fim de semana, dois moradores — um adolescente de 15 anos e um homem de 37 — se jogaram de um viaduto da cidade e a notícia não parece ser um fato isolado. Em 2023, depois de uma ligeira queda, os números parecem estar em alta novamente, segundo pesquisadores. O Observatório Venezuelano da Violência (OVV) contabilizou, até meados de maio, 162 suicídios em todo o país e 32 tentativas, segundo registros da mídia venezuelana.
A falta de estatísticas públicas e de clareza sobre a classificação de mortes em “de intenção não determinada” — que vem crescendo, nas últimas duas décadas nas informações oficiais — tornam difícil analisar o fenômeno do suicídio na Venezuela. A estimativa é que o índice de sub-registro de casos seja de pelo menos 49%. E os dados publicados por pesquisadores despertam preocupação.
— Estão ocorrendo 1,2 suicídios por dia e se essa tendência for mantida vamos superar os 400 casos no fim do ano, um número maior do que nos anos passados — disse o geógrafo Gustavo Páez, diretor da OVV em Mérida.
Para o pesquisador, a violência contra si mesmo na Venezuela flutua no ritmo impresso pela crise humanitária. O país não tem os índices mais altos de suicídios na América do Sul — lista encabeçada pela Guiana, Suriname, Bolívia e pelo Uruguai. Também não está acima da média mundial de 9 mortes a cada 100 mil habitantes. Só que entre 2015 e 2018 passou de 3,8 para 9,3 suicídios a cada 100 mil. O índice se mantém em cerca de 8 e são os homens de 30 a 64 anos e os jovens de 15 a 24 os mais vulneráveis.
Nos últimos anos, registrou-se uma leve queda que Páez atribui à migração massiva de venezuelanos e a leve recuperação econômica, mas que não chegou a levar o país às taxas anteriores ao que foi a pior crise econômica já enfrentada pela Venezuela, em que o tamanho da economia do país produtor de petróleo foi reduzido em um terço em menos de uma década e aumentou a desigualdade.
O pesquisador adverte que o suicídio é um fenômeno multifatorial em que se combinam condições individuais, familiares e sociais e que a tendência este ano, quando se percebem as falhas dessa frágil melhoria econômica, pode ser de alta nas estatísticas.
— Se a situação voltar a se agravar, podemos esperar uma alta. No ano passado, houve certa recuperação, saímos da hiperinflação, mas 2023 trouxe de volta o freio econômico e isso começa a ter impacto, por isso continuamos vendo muita gente seguindo pela selva do Darién (a rota de imigração para chegar aos Estados Unidos, entre o Panamá e a Colômbia, considerada uma das mais perigosas do mundo). A emergência humanitária que não terminou combinada a fatores individuais e familiares causam dano e degradam a saúde mental do venezuelano — afirmou Páez.
Preocupação, raiva e tristeza
O estudo Psicodata, apresentado este ano pela Universidade Católica Andrés Bello revela o estado de ânimo da nação. Baseados em uma pesquisa feita no fim do ano passado e início deste ano, os pesquisadores descobriram que 90% dos entrevistados sentem preocupação com a situação do país, 79% afirmaram sentir raiva por saber onde chegou a Venezuela e 73% sentem tristeza em pensar no futuro do país. Além disso, quatro a cada 10 venezuelanos garantiram que, com frequência, seu estado de ânimo se deteriorou por estes motivos. Outros 64% sentem os problemas econômicos como principal fonte de estresse. A pesquisa também revelou que o luto ligado à morte ou êxodo massivo de venezuelanos também está afetando a estabilidade emocional e pessoal de quem fica.
Páez acaba de terminar uma investigação baseada em entrevistas de parentes e pessoas relacionadas a 80 casos de suicídio ocorridos em 17 municípios rurais de Mérida. Em ao menos 21,6% dos casos, os problemas familiares ligados a perdas financeiras, pobreza, impossibilidade de conseguir emprego, de ter dinheiro suficiente para viver ou comprar comida e à migração de parentes estão entre os principais fatores de risco identificados.
Há também casos relacionados a problemas de casal, depressão e ansiedade, exposição excessiva a agrotóxicos e um outro grupo de exemplos envolvendo a violência machista que se manifesta na impossibilidade de homens e mulheres expressarem emoções e no bullying ligado a identidade de gênero e orientação sexual.
Mérida foi um dos estados andinos mais atingidos pelos apagões ocorridos no país, assim como pela escassez de combustível — sendo que as filas de vários dias para abastecer ainda fazem parte do cotidiano fora da capital Caracas.
— Em Mérida, se cruza várias vezes por dia o umbral da frustração — disse a psiquiatra Stefany Pinto, que dirige um grupo de apoio de pessoas com ideação suicida que atende entre 30 a 50 pessoas regularmente e é promovido pela ONG Movimento Somos.
— A emergência humanitária segue sendo um problema, não acabou. Há muto luto não trabalhado associado à Pandemia e à emergência — afirma Jau Ramírez, que comanda a ONG que atua na defesa da comunidade LGBTQIA+ e que abriu outros grupos de apoio em cidades pelo país como San Cristóbal, Maracaibo e em Caracas. Fonte: https://oglobo.globo.com
O uso astuto da internet
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É preciso desligar o poder de remunerar a mentira. Canal do mundo sombrio, falar de ‘big tech’ é falar de uma ferida que já é incorrigível
O sociólogo Paulo Delgado escreve mensalmente na seção Espaço Aberto
Se um boi pudesse usar as redes sociais, certamente o faria como quadrúpede. Mosca varejeira que faz o indivíduo se render à sua picada e, engolido sem esforço, deixá-la digerir seu mundo. Colecionadoras de fantasma em troca do fastio de efusões, as gigantes digitais são o maior sim que o poder já ousou criar. Com faceta velhaca, faz-se aliado do usuário enquanto absorve todas as coisas de quem obedece mais. Canal da adversidade, quer se ver como fortuna.
A fraude intrínseca das redes sociais é a pretensão de saber o modo de funcionamento do indivíduo e se achar espelho da realidade. Quando, na verdade, criaram um padrão – subgênero-gente-digital – tirado da fragilidade da identidade e das ninharias da personalidade. Amo que cindiu e alienou a pessoa a instâncias externas e com práticas desleais de causar sensação, combinadas com almas intrusivas, ilegais e nocivas, usurpou a grandeza da internet. Os atos contradizem os ares de direito que se deram. Malignidade da sagacidade, como foi fácil fabricar um ser rendido!
Moraes, Dino e Orlando foram direto ao ponto ao dizer que o que é crime na vida real é crime na internet. Estrada pedregosa de conexões táteis, virou sinônimo de monopólios abusivos que violam a soberania do País e dão majestade ao espírito de porco.
Não basta a descrença no sobrenatural e em impulsos sacrílegos. É a lei que bota limite no furor de incontroláveis. O virtual/digital, berço da repetição e túmulo da fala, não pode ser subestimado. Magnatas da instantaneidade, obcecados em dominar o mercado da crença, não imaginavam que o Brasil os confrontaria, como o fez a União Europeia. Loja de brinquedo dos segredos interiores adora a pessoa intencional irrefletida.
O que tais empresas fazem é blefar com a noção de liberdade impondo ao elemento afetivo o paradoxo meio moderno/modo primitivo. Vigilância e dependência do usuário vendidas como liberalismo ordinário.
Como não querem sofrer na própria carne, dizem que apenas dão espaço para a manifestação do outro. Compilam e distorcem biografias e fatos como as galinhas ciscam; imaginam que não é demonstrável o mal que propagam. Crescem em influência vendendo a ideia de que liberdade é escolher seus próprios deuses. Exploram o sentimento humano sem participar de sua formação. Fustigam instituições que ameaçam sua sobrevivência.
Como avançaram esbarrando nos destroços de políticas, culturas e espiritualidades decadentes, impuseram à sociedade a descrença no limite. Canal preferido do indivíduo-gangue, sócio do aliciamento que computador, celular ou qualquer aparelho sem controle o oferece para agir errado e escapar sem culpa.
Reservatórios de segredos de deslumbrado clube de egos instantâneos, apontam o dedo, fotos, vídeos, intimidade, publicidade e pesquisa. Carcereiros dos níveis profundos da vaidade, enfeitiçam pessoas em piqueniques da leviandade de expressão e despotismo espiritual, mais moderna forma de moagem da vida humana.
Quando a vítima da própria esperança ou desespero usa rede social, a estabelece para si como valor. Impregnada, ninguém a convence de que é empurrada, e não atraída pelo destino. Nem percebe que se oferece à dissecação como alma que não sabe se salvar. O ermo habitado do virtual facilita o incitamento; as bobagens que entopem a tela, seu natural. É como cair da vida.
A liberdade sem discernimento predomina nas mídias sociais. No ranking dos conectados, é corriqueiro falar e agir com opinião emprestada e achar que tudo está bem se obtém seguidores. A ação sem sabedoria captura o lado vil da personalidade e pode levar às vias de fato. O freio de arrumação se justifica ao buscar compreensão melhor da convivência humana diante das modernas patologias sociais. Para salvar a internet da manipulação e não deixar que por ela trafegue perversidade, irrefletida ou culpada. Como está, é repositório de um mundo que não se envergonha, de baixa estima coletiva. E, ao abusar da paciência humana, voa acima de sua credulidade para cair das alturas no crime ou na aceitação do mal recreativo.
Aplicar a lei, e buscar manter a superstição dentro de certos limites, ajuda a coibir o antissocial e enfraquecer a convicção de que é normal usar de forma torpe rede online, pela convicção de que a desonestidade virtual não é do mundo real. Recuperar a graça da cultura e não renunciar ao esforço cognitivo é recusar a dar o salto mortal que idolatra os predadores da internet.
Ao contrário do que se pensa, as big techs são o oposto da sociedade aberta, informada e livre. Sua força é dirigir e vigiar o comportamento. O uso de clichês e adaptação (in)consciente a uma forma especial de culto cria o lugar do curioso sem escolha. Ali, o sonho de uma vida racional está em jogo. Inverte o afeto dos assíduos e os faz deitar e rolar no colapso da cultura humanista. Um arsenal de benzedeiro em prontidão, delegado do distrito afetivo de usuários.
Por fora bela viola, por dentro pão bolorento. Não há como melhorar um erro. É preciso desligar o poder de remunerar a mentira. Canal do mundo sombrio, falar de big tech é falar de uma ferida que já é incorrigível.
* SOCIÓLOGO. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://www.estadao.com.br
Redes geram ‘epidemia’ de má saúde mental entre adolescentes: ‘tiraram minha qualidade de vida’
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Comparação com imagens de corpos perfeitos são caminho para distúrbios alimentares
Redes sociais geram ‘epidemia’ de problemas de saúde mental entre adolescentes Freepik
Por El País
Emma Lembke tinha 12 anos quando seus pais finalmente permitiram que ela fizesse sua primeira conta em uma rede social, o Instagram, em seu celular. “O mundo se abriu para mim”, diz a jovem, agora com 20 anos e estudante do segundo ano na Universidade de Washington, em St Louis. Antes de se sentir excluída quando seus amigos interrompiam as conversas para olhar seus telefones, ela agora tinha, pensou, o mundo com a um clique de um botão. De sua casa no estado americano do Alabama, “de repente ela pôde ter acesso a tudo, a pessoas de todos os lugares, para aprender coisas novas”.
Do Instagram foi para outros aplicativos e plataformas, como o Snapchat, um serviço de mensagens muito popular entre os adolescentes. Em pouco tempo, "em vez de brincar", ela passava cinco ou seis horas por dia "passando o dedo pela tela sem pensar" para ver as últimas notícias, quantas curtidas suas fotos e mensagens acumulavam, os amigos dela, o que disse quem e o que responderam, junto com imagens de pessoas incrivelmente lindas e felizes.
“Eu me comparava o tempo todo com as pessoas com quem estava saindo”, explica Lembke. "Estava olhando e olhando as redes, e cada vez me sentia pior, o tempo todo me valorizava pelas curtidas que recebia, pelos comentários que meus amigos me davam, pelos seguidores que acumulei."
Sua ansiedade social disparou. Suas tendências depressivas tornaram-se extremas. Sua auto-estima despencou. Essas imagens de corpos perfeitos com os quais ela se comparou a levaram ao caminho dos distúrbios alimentares. Os algoritmos dos vários aplicativos enviaram a ela conteúdo que reforçou suas inseguranças e "abençoou" seu comportamento doentio. “As redes sociais tiraram minha qualidade de vida”, resume.Até que um dia, aos 15 anos, disse chega: “Soou um alerta no meu celular e minha reação instantânea foi ir buscar. E então veio o momento da ruptura. Eu me perguntei por que estou permitindo que esses aplicativos tenham tanto poder sobre mim?"
O que Lembke viveu naqueles anos, sua dependência das redes sociais e o impacto em sua saúde mental, não é de forma alguma uma experiência isolada. Cada vez mais adolescentes nos Estados Unidos sofrem de algum tipo de problema de saúde mental, uma tendência que começou a ser detectada antes da pandemia. E cada vez mais estudos, e profissionais, alertam para uma relação direta entre esta crise e o tempo passado nas redes sociais.
Os números são impressionantes. Cerca de 40% dos alunos do ensino médio dizem que se sentiram tão deprimidos que a tristeza os impediu de realizar seus estudos normais ou atividades esportivas por pelo menos duas semanas, de acordo com a última edição do estudo bienal Youth Risk Behavior Survey, preparado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças. A tendência é mais forte entre as meninas: 57%, ou quase três em cada cinco, relatam sentir-se "persistentemente tristes ou sem esperança", o número mais alto em uma década. 30% deles admitem ter pensado em suicídio, percentual que cresceu 60% nos últimos 10 anos.
Os psicólogos também falam de um aumento de casos de transtornos alimentares, ou adolescentes que sofrem de ansiedade. De uma escalada no número de menores que chegam ao pronto-socorro após terem se machucado deliberadamente. Em qualquer reunião de pais com filhos adolescentes, é comum haver alguém que conheça pelo menos um caso de problemas de saúde mental em seu ambiente.
“Todos os indicadores de saúde mental e bem-estar psicológico tornaram-se mais negativos entre adolescentes e jovens adultos desde 2012”, descreve a Jean Twenge, professora de psicologia da San Diego State University, em seu livro Generations. Twenge foi pioneira no campo da investigação científica que alerta para os perigos da hiperconectividade para os mais novos: “A tendência é chocante pela sua consistência, dimensão e amplitude”.
Não é coincidência que os números tenham crescido desde aquele ano, segundo a especialista: por volta dessa data, a popularidade dos smartphones explodiu, e plataformas como o Facebook introduziram o botão "curtir" nas mensagens. “A maneira como os adolescentes passam o tempo fora da escola mudou fundamentalmente em 2012”, diz ela em seu livro. O tempo que dedicam a estar com os amigos, ou a atividades físicas, tem sido progressivamente reduzido para o passar a interagir através das redes. Ou até mesmo para dormir, atividade fundamental para o bem-estar.
Uma década de crescimento exponencial
Em 2009, apenas metade dos adultos nos Estados Unidos usava smartphones. Em 2012, metade dos adolescentes já estava nas redes sociais. Hoje, 95% dos adolescentes usam uma dessas plataformas digitais. E um terço dos meninos entre 13 e 17 anos admite consumi-los constantemente . Em 2021, um adolescente médio passou 8,4 horas por dia em frente a uma tela, ante 6,4 horas em 2015, segundo a ONG Common Sense Media.
Os dados que Twenge oferece em seu livro são contundentes. Entre 2011 e 2021, dobrou o número de adolescentes e jovens com depressão. E naquele último ano, aproximadamente 30% das meninas adolescentes e 12% dos meninos sofreram de depressão clínica. Não se trata apenas de sintomas, mostra-se também nos fatos: “Em 2019, o número de adolescentes que acabaram com a vida dobrou do que há apenas doze anos”.
A American Psychological Association (APA) considera que, por si só, as redes não são boas nem más. Podem, de fato, ser benéficas para ultrapassar sentimentos de isolamento, para descobrir pessoas ou para ajudar a desenvolver a criatividade. Mas o seu consumo excessivo pode trazer consequências, qualifica a associação profissional, que publicou em maio uma lista de 10 recomendações para o uso das redes entre adolescentes. Entre elas, limitar seu uso para conteúdos relacionados à beleza ou aparência, minimizar o acesso a conteúdos discriminatórios ou abusivos, ou reduzir o tempo de consumo para que não interfira no sono ou nas atividades físicas necessárias para um desenvolvimento físico e mental saudável.
“Os riscos e benefícios dependem muito do conteúdo que os adolescentes visualizam, do tempo ou contexto em que o usam e dos fatores de risco individuais”, diz Sarah Domoff, da Universidade Central de Michigan.
Além disso, para os mais novos é conveniente que os pais supervisionem os conteúdos que os filhos veem e falem sobre eles com as crianças. “Assim como se pede aos jovens que aprendam antes de receberem uma carteira de motorista, nossos jovens também precisam ser educados no uso saudável e seguro das mídias sociais”, diz a presidente da APA, Thelma Bryant.
Nem todos os menores são afetados pelo uso de telas. Fatores como a taxa de maturidade, diferente para cada criança, entram em jogo. "Os riscos e benefícios dependem muito do conteúdo que os adolescentes estão visualizando, quando ou em que contexto o estão usando e de fatores de risco individuais", diz Sarah Domoff, professora associada do Departamento de Psicologia da Central Michigan University.
Em relação ao conteúdo, “mensagens que mostram corpos idealizados ou irrealistas podem suscitar preocupações sobre a imagem corporal; os adolescentes também podem correr o risco de desenvolver comportamentos alimentares pouco saudáveis quando veem mensagens que promovem distúrbios alimentares. O mesmo pode ser dito do conteúdo que promove a automutilação”, explica Domoff em um e-mail.
Outro fator prejudicial é o tempo que o adolescente passa nas redes. Se você continuar com eles quando deveria estar dormindo, a quantidade e a qualidade do seu sono podem ser reduzidas. "O sono insuficiente pode ser um fator em vários aspectos da saúde do adolescente, incluindo regulação do humor e irritabilidade", explica este médico. Em certos casos, alguns jovens podem desenvolver tal dependência das redes que acaba afetando seu comportamento diário, seu desempenho na escola e suas relações com familiares e amigos.
Meninas são mais afetadas
Meninas, como Emma Lembke, são mais afetadas pelo impacto das plataformas sociais. “Eles gastam mais tempo com eles, e as redes estão mais fortemente ligadas à infelicidade e à depressão do que outras formas de mídia digital”, escreve Twenge. Nos Estados Unidos, 22% dos alunos por volta dos 15 anos passam sete horas ou mais por dia olhando suas mensagens, segundo dados.
45% dos adolescentes que consultam a mídia digital admitem ficar impressionados com o drama em suas redes, em comparação com 32% dos meninos, segundo pesquisa do Pew Center. Elas também são mais propensas a sentir que seus amigos não as estão incluindo nas atividades (37%, contra 24% dos homens) ou se sentirem pior com relação à própria vida (28%, contra 18% entre os homens).
O último especialista a emitir o alerta foi o cirurgião geral (a mais alta autoridade médica dos Estados Unidos), Vivek Murthy , que publicou um alerta de 19 páginas em maio. Embora a extensão do perigo não seja totalmente clara, destacou que "existem amplas indicações de que as redes sociais também carregam um profundo risco de danos à saúde mental e ao bem-estar de crianças e adolescentes". Murthy sugere que os pais dos adolescentes elaborem um plano que estabeleça limites e regras de utilização das plataformas e que proteja os dados pessoais.
Diante das críticas, as empresas de tecnologia respondem que instalaram mecanismos de controle em seus aplicativos que os pais podem usar para monitorar o uso feito por seus filhos. Mas organizações como a Common Sense Media denunciam que em muitos casos esses controles são ineficazes e que as empresas mantêm algoritmos que podem enviar conteúdos prejudiciais aos mais jovens, coletam dados sobre eles e enviam anúncios personalizados e incluem mecanismos que criam dependência em suas redes. como os botões "curtir".
“Se não podemos apresentar com segurança evidências de que a mídia social é segura para crianças, por que as empresas de tecnologia podem direcioná-las com seus produtos? As crianças não são experiências de laboratório, e os mecanismos viciantes das redes sociais continuarão a afetar o bem-estar dos jovens se não agirmos”, denunciou o fundador da ONG, James Steyer, em comunicado após o alerta de Murthy.
As vozes para que o setor seja regulamentado são cada vez piores. Em março, o Comitê Judiciário do Senado realizou uma audiência sobre os riscos das mídias sociais para os muito jovens. Em estados como Califórnia, Colorado ou Texas, os legisladores locais propuseram medidas para penalizar o conteúdo prejudicial ou o uso do algoritmo para criar dependência. Montana é o primeiro estado a banir o TikTok em seu território .
Uma dessas vozes é precisamente a de Emma Lembke. Depois da sua experiência com as redes, aos 17 anos fundou a ONG Log Off, com a qual procura, por um lado, sensibilizar os adolescentes para o uso das redes sociais com conhecimento de causa e bom senso. Por outro, pressionar os legisladores a regulamentar o setor, mas levando em consideração as vozes dos adolescentes, nativos do mundo digital, que encontram muitos benefícios e que conhecem os riscos. "Leis não podem ser aprovadas sem a opinião dos atingidos, daqueles a quem vão proteger", explica o estudante. Ela mesma foi uma das testemunhas na audiência do Comitê Judiciário.
O que deveriam ser, na sua opinião, as redes sociais? “Socialmente útil”, pensa, “que os jovens do mundo não tenham que contar os likes , o número de comentários ou seguidores. Que eles possam se conectar com outras pessoas de maneira produtiva.” Além disso, eles devem ser transparentes: “Abrir o algoritmo para pesquisadores acadêmicos e reguladores, para que eles possam ver áreas de melhoria. No momento, realmente não entendemos como eles funcionam porque não temos as informações." E uma última exigência: que as empresas consultem seus usuários: "Assim elas entenderão melhor como seus clientes podem se beneficiar e vice-versa, quando estão sendo prejudicados". Fonte: https://oglobo.globo.com
Trecho da BR-040 onde caminhão tanque tombou e pegou fogo é conhecido como 'curva do terror'.
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Trecho da BR-040 onde caminhão tanque tombou e pegou fogo é conhecido como 'curva do terror'
Em média, um acidente grave por mês é registrado no Km 96. Acidente aconteceu no começo da manhã do feriado de Corpus Christi. Motorista do veículo morreu no local
Caminhão tombou e pegou fogo numa curva da BR-040 Fabiano Rocha
Por Isabelle Resende e Giulia Ventura — Rio de Janeiro
Desde janeiro deste ano, a Concer registrou seis acidentes no trecho do quilômetro 96 da subida da Serra de Petrópolis, na BR-040. Uma média de um acidente por mês. O local onde um caminhão tanque, transportando 44 mil litros de combustível, pegou fogo após tombar numa curva é chamado popularmente de 'curva do terror'. O acidente, que provocou a morte do motorista do veículo, aconteceu por volta das 6h20 desta quinta-feira. Outros seis veículos foram atingidos pelas chamas e uma pessoa teve ferimentos leves. Durante pouco mais de sete horas a pista no sentido Juiz de Fora ficou interditada para o trabalho dos Bombeiros e limpeza da pista.
O delegado Alexandre Ziehe, titular da 61ª DP (Xerém), onde a ocorrência do acidente foi registrada, relata que são constantes os engarrafamentos provocados por capotamentos neste trecho e que a região é conhecida como curva do terror.
— Sou morador de Petrópolis, usuário da serra de Petrópolis há muito tempo. Toda hora é engarrafamento, problemas, capotamento. A nova subida da serra nunca vem. É a curva do terror. É o terror para as pessoas que usam a rodovia, provocam o caos para o usuário e para o turista da cidade — conta o delegado.
Há pelo menos sete anos, as obras da nova pista de subida da serra de Petrópolis deveriam ter sido entregues pela concessionária que administra a rodovia. O novo trecho, que substituiria a atual subida da Rio-Petrópolis, deveria estar em operação desde 2016.
— Essa é uma dívida com os usuários da rodovia, com os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais e com o país como um todo. As obras foram previstas ainda em meados dos anos de 1990 e já deveriam estar prontas há pelo menos uma década. O fato é que isso precisa ser corrigido e o governo federal precisa encontrar soluções para resolver o que, hoje, é um dos maiores gargalos logísticos do país — ressalta o gerente de Infraestrutura da Firjan, Isaque Ouverney.
No projeto, a pista nova acompanha 15 quilômetros do traçado da pista de descida, além de um túnel de quatro quilômetros e meio desembocando em Petrópolis. No total, o novo trecho teria 20 quilômetros de extensão.
Iniciadas em maio de 2013, apenas 50% das obras foram executadas. A concessionária alega que a União descumpriu o acordo de pagamento firmado no 12º Termo Aditivo ao contrato de concessão, e que, por isso, interrompeu as obras. Segundo a Concer, a União descumpriu as condições pactuadas para custear o empreendimento, o que teria provocado um desequilíbrio financeiro à empresa. A queda de braço entre a concessionária e a União foi parar na justiça e segue sem uma resolução.
Em nota, a Concer informa que "as obras da Nova Subida da Serra de Petrópolis (NSS) estão previstas no Edital da licitação". O texto também lembra que a "BR-040 na atual Serra de Petrópolis é uma rodovia centenária"e que a NSS já está 50% pronta e a concessionária está preparada para "a retomada imediata das obras da NSS, visando o atendimento de todas as partes interessadas e o interesse público.
O governo federal estuda fazer uma nova licitação. Numa audiência realizada em abril desse ano entre o secretário executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, e representantes da Firjan, foi discutida a possibilidade de se fazer uma nova licitação da BR-040, aumentando o trecho até Belo Horizonte. Na ocasião, o secretário disse que estar empenhado em resolver o problema.
Tragédia na pista
O motorista do caminhão de combustível, Leandro Ribeiro, trabalhava há pelo menos quatro anos na rede de postos Amigão Saraiva, sediada no município de Paraíba do Sul. Sua família é da cidade de Pequiri, no interior de Minas Gerais.
A rotina de Leandro era pegar o combustível na base da Petrobras em Duque de Caxias e distribuir aos postos de gasolina na região de Petrópolis, Itaipava, Paraíba do Sul, Duque de Caxias e outros municípios vizinhos. O caminhão que ele dirigia tem capacidade para transportar até 40 mil litros de gasolina ou diesel.
No momento do acidente, ele se dirigia a Petrópolis. O caminhão virou numa curva da BR-O40, na altura de Duque de Caxias e incendiou.
Interdição prejudica viagens
O acidente acabou atrasando as viagens de quem havia programado passar o feriadão fora de casa. A Rodoviária Novo Rio informou que os passageiros mais afetados com a interdição foram os que compraram passagens para o trecho Rio-Petrópolis, operado pela Única-Fácil. Os motoristas tiveram que subir a serra pelo município de Teresópolis, o que faz a viagem ter a duração de três horas, quando normalmente é de uma hora e meia. Os passageiros que precisaram remarcar a viagem tiveram que procurar as empresas para mudar a data.
Já a Guanabara, que também utiliza aquele trecho da BR-040 para destinos como Minas Gerais, também usou rotas alternativas, o que está aumentou o tempo da viagem. As linhas afetadas foram a Rio-Juiz de Fora e Rio-Belo Horizonte, cujos ônibus seguiram pela Dutra e depois até três Rios pela BR-393. O atraso máximo registrado no trajeto de viagem foi de uma hora nos primeiros horários da manhã desta quinta-feira, mas no início da tarde a grade estava normal. Os ônibus da empresa da linha Petrópolis-Belo Horizonte seguiram por Três Rios também. Fonte: https://oglobo.globo.com
Exército dá suporte emocional e religioso para Mauro Cid na prisão
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Por Bela Megale
Nada de abandonar o soldado “ferido”. Além de manter o salário e a residência na vila militar do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, o Exército tem dado suporte em outras frentes ao tente-coronel.
A Força passou a disponibilizar o que chama de “apoio emocional” a ele e sua família, com visitas e acompanhamentos de membros do Exército a Cid na prisão. Outra frente é o suporte religioso, com a disponibilização de lideranças religiosas para conversas com o coronel e seus familiares.
O apoio não é restrito a Mauro Cid e se estende aos outros dois militares presos na ação que mirou fraudes em cartões de vacina, inclusive do ex-presidente Bolsonaro. Também estão detidos o sargento Luis Marcos dos Reis, que era subordinado a ele, e o capitão da reserva do Exército, Sérgio Cordeiro, que foi assessor de Bolsonaro. Fonte: https://oglobo.globo.com
Mãe mata filho de 4 anos e tira a própria vida em MG; em carta, ela diz temer ser presa
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Marido encontrou a esposa e o filho de 4 anos mortos em casa localizada no município de Arcos, no Centro-Oeste mineiro
Mãe e filho foram encontrados mortos nessa sexta-feira (2/6) na cidade de Arcos, no Centro-Oeste de Minas Gerais. A mulher tinha 21 anos, e a criança, apenas 4 anos. De acordo com informações do jornal O Tempo, a mulher teria matado o garotinho e, na sequência, tirado a própria vida. Uma carta deixada indica que ela estava com uma dívida, não teria condições de quitá-la e, por isso, temia ser presa.
Segundo informações da Polícia Militar (PM), o pai da criança e companheiro da jovem, de 25, encontrou os corpos na casa. Aos policiais ele contou que chegava do trabalho, encontrou o portão trancado, o que causou estranheza. Além disso, o menino não o recebeu, como fazia todos os dias.
O rapaz, então, pulou o muro do imóvel e encontrou a chave no portão. Ao entrar na casa, conforme consta na ocorrência, viu o filho caído e a companheira com um fio amarrado no pescoço. Vizinhos foram chamados e o socorro acionado até o endereço.
A carta estava na porta da galedeira. Nela, a mulher disse que estava devendo um benefício recebido do governo federal e não teria condições de devolver os valores, muito menos pagar um advogado para defendê-la. Fonte: https://fanoticias.com.br
Desafios de escrever sobre livros de que não gostamos
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Ler continuação de 'Menino do Pijama Listrado' me ajudou a entender erros de escrever sobre Holocausto
Escritora, doutora em filosofia e literatura alemã pela University College Cork e mestre em filosofia pela Universidade de Tel Aviv.
Cena do filme "O Menino do Pijama Listrado" (2008), dirigido por Mark Herman - Divulgação
Semanas atrás publiquei na Folha uma resenha de "Por Lugares Devastados", o mais novo livro de John Boyne, o mesmo autor de "O Menino do Pijama Listrado", obra que, apesar do sucesso, é reconhecidamente precária em seu tratamento a questões relacionadas ao Holocausto.
Uma das principais queixas dirigidas ao "Menino do Pijama Listrado" é a de que o romance voltado para o público infantojuvenil apresentaria uma visão distorcida da história e, principalmente, do que acontecia nos campos de concentração, sendo, portanto, inadequado para fins educativos.
Outra crítica recorrente é a de que a trama do livro geraria entre os leitores certa dificuldade em operar uma distinção entre vítimas e algozes, colaborando, deste modo, para a possibilidade da perpetuação de estereótipos antissemitas.
"Por Lugares Devastados" é uma continuação de "O Menino do Pijama Listrado" e, como eu tento mostrar na minha resenha, acaba reproduzindo alguns dos mesmos problemas do seu antecessor, mostrando-se, inclusive, incapaz de propor qualquer reflexão mais cuidadosa a respeito de temas como a culpa e a responsabilidade.
No entanto, o meu texto desta semana não é exatamente sobre os livros de John Boyne, nem sobre como o autor costuma lidar com o Holocausto, e, sim, sobre a dificuldade que senti ao escrever a respeito de uma obra sobre a qual não tenho uma opinião positiva.
Há quem diga que não existe nada mais fácil e prazeroso do que falar mal do que não gostamos, como se estivéssemos em um grupo de amigos ridicularizando um estranho com o simples propósito de fazer troça, mas a verdade é que a atividade crítica deve ser exercida com redobrada seriedade, tomando cuidado para que não seja confundida com o escárnio, pois quem julga uma obra literária ou qualquer outra expressão cultural pode até não gostar do que leu ou do que teve acesso, mas tem a obrigação de apresentar as suas ressalvas de modo claro e razoavelmente consciente.
Em "Crepúsculo dos Ídolos", o filósofo alemão Friedrich Nietzsche traz uma imagem da qual gosto bastante e que talvez nos ajude a entender o quão delicado é o trabalho do crítico, mesmo nas ocasiões em que ele precisa escrever sobre aquilo que não lhe agrada:
"Fazer perguntas com o martelo e talvez ouvir, como resposta, aquele célebre som oco que vem de vísceras infladas —que deleite para alguém que tem outros ouvidos por trás dos ouvido— para mim, velho psicólogo e aliciador, ante o qual o que queria guardar silêncio tem de manifestar-se...".
Esse martelo ao qual Nietzsche se refere não é aquele que normalmente utilizamos para arrebentar paredes, mas, sim, a ferramenta empregada pelos músicos para afinar os seus respectivos instrumentos. Quem pretende escrever algo sobre o que não gosta deve fazer uso de uma metáfora semelhante a fim de se tornar capaz de apreender as nuances de um texto e de perceber quando algo não soa bem.
É justamente por isso que não é fácil escrever sobre algo de que não gostamos, pois o primeiro impulso é achar que, por não conseguirmos apreciar uma obra, não precisaríamos prestar atenção aos seus detalhes. No entanto, se teimamos em manter essa postura, corremos o risco de julgarmos a obra mal e apressadamente.
Talvez seja por isso que algumas pessoas evitam escrever sobre os livros de que não gostam, mas se todos nós fizermos isso, acabaremos prejudicando o desenvolvimento da crítica e, consequentemente, a formação do leitor.
Isto é assim porque a principal tarefa do crítico não é simplesmente a de emitir uma opinião, mas a de nos ensinar a ler melhor e mais diligentemente, prestando atenção aos detalhes que causam desconforto em um texto, nos habilitando a emitir uma opinião própria sobre os livros que chegam até nós.
Apesar de ser uma tarefa difícil, ao escrever sobre os livros de que não gostamos aprendemos a identificar alguma qualidade, por mais distorcida que seja, em algo que normalmente não chamaria a nossa atenção —e isso, consequentemente, nos ajuda a ter uma visão mais abrangente da nossa cultura, nos permitindo refletir sobre alguns de seus aspectos mais problemáticos, como vem a ser o caso do tratamento recreativo que Boyne aparenta dar ao Holocausto em seus textos.
Assim, não fosse o convite para escrever a resenha de "Por Lugares Devastados", eu jamais teria lido o livro. E sem essa experiência, eu também não teria sido capaz de vislumbrar e comentar a respeito das deficiências que autores célebres, como o próprio John Boyne, apresentam ao tentar escrever sobre um dos eventos mais terríveis do século 20. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Netflix atropela assinantes para aumentar sua receita
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Um contrato não pode ser alterado quando já está em vigor
Logotipo da Netflix na sede em Los Angeles, California - Patrick T. Fallon - 14.set.22/AFP
A Netflix, serviço online de streaming de vídeo por assinatura, decidiu modificar unilateralmente sua política de compartilhamento de senha. A partir deste mês de maio, os usuários foram comunicados de que só poderiam compartilhar senhas com moradores da mesma casa. A questão é: um contrato não estabelece as bases dos relacionamentos comerciais? Então, como pode ser alterado enquanto está em vigor?
Em virtude da quantidade de consultas recebidas de consumidores a respeito desse comunicado, o Procon-SP notificou a Netflix para prestar esclarecimentos. E está orientando os usuários insatisfeitos a registrar reclamações formais, a fim de que possa avaliar se a forma de cobrança e a tecnologia utilizada para rastrear os acessos estão de acordo com o CDC (Código de Defesa do Consumidor).
O Procon-RS também notificou o streaming sobre a cobrança de taxa para o assinante pelo uso do serviço fora do endereço residencial.
Segundo o diretor do Procon gaúcho, Rainer Grigolo, se o consumidor contrata duas telas simultâneas, não cabe ao fornecedor definir qual o grau de parentesco, afetividade e o endereço residencial, porque o contrato não é vinculado a um endereço, ao contrário do que acontece com a TV a cabo.
O Procon RS também está averiguando questões relativas à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), "pois a empresa não pode manter monitoramento e coleta de dados que afrontem a privacidade do consumidor".
Multiplicaram-se as reclamações sobre a cobrança das telas adicionais, mesmo para planos premium, que se caracterizavam justamente pela possibilidade de assistir várias telas simultaneamente.
Como sempre, vejamos o que estabelece o CDC. Na seção II, das cláusulas abusivas, o artigo 51 diz que serão nulas as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: "XIII – autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração".
No artigo 47 do CDC, outro esclarecimento: "As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor". Ou seja, se o assinante perder alguma coisa com as mudanças contratuais, teria de ser compensado, por exemplo, com redução do preço da mensalidade ou outro benefício.
Já o artigo 71 do Código Civil determina o seguinte: "Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas". Como, então, dentro da lei, a Netflix pode limitar o uso do streaming a uma residência?
Uma boa pergunta para o SNDC (Sistema Nacional de Defesa do Consumidor). Fonte: https://www.folha.uol.com.br
Polícia prende 33 pessoas em operação contra grupo suspeito de aplicar o golpe dos nudes
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Foram cumpridos 41 mandados de prisão em 11 cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina na manhã desta segunda-feira (29).
Por g1 RS e RBS TV
A Polícia Civil prendeu, durante operação na manhã desta segunda-feira (29), 33 suspeitos de participar de uma organização criminosa que aplicou o golpe dos nudes em 12 estados brasileiros. As prisões ocorreram em 11 cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (saiba quais abaixo). Segundo a polícia, sete deles já estavam em cadeias.
O esquema foi tema do programa Linha Direta, da Rede Globo, na última quinta-feira (25). O golpe tinha como alvos homens que eram atraídos nas redes sociais por mulheres, com as vítimas trocavam fotos íntimas. Em seguida, uma suposta terceira pessoa entrava na conversa e dizia que a mulher era, na verdade, uma menor de idade, e começava a cobrar dinheiro para que o homem não tivesse suas fotos expostas (entenda mais abaixo).
No Rio Grande do Sul, as prisões desta segunda aconteceram em Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Gravataí, Alvorada, Viamão, Tramandaí e Imbé. Em Santa Catarina, as ações foram em Florianópolis.
Foram cumpridos 11 mandados de prisão preventiva; 30 de prisão temporária; 33 de busca e apreensão; e 25 bloqueios de contas bancárias.
Desde o começo da investigação policial, há quase um ano, pelo menos 140 pessoas foram presas só no Rio Grande do Sul. Os suspeitos atraiam empresários, médicos e até políticos. A investigação identificou 80 vítimas do golpe em todo o país. Só uma delas teria perdido mais de R$ 100 mil. O prejuízo total chega a R$ 5 milhões.
Pessoas que sofreram o golpe foram identificadas nos seguintes estados: Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Vítimas atraídas nas redes sociais
O crime consiste na extorsão de usuários de redes sociais, geralmente homens mais velhos, após o envio de fotos íntimas, na maioria das vezes por jovens mulheres. Depois da troca de mensagens, um suposto parente ou autoridade policial entra em contato dizendo que a jovem era, na verdade, menor de idade. Os golpistas, então, tentam extorquir dinheiro das vítimas para que elas não sejam expostas.
Os criminosos chegavam a montar cenários para simular delegacias e filmar a encenação do momento em que seria feito o registro da ocorrência por pedofilia contra as vítimas de estelionato. Delegacias falsas da Polícia Civil foram descobertas em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
A Polícia Civil descobriu, ainda, que uma adolescente de 17 anos foi aliciada pela organização criminosa. Ela se fotografava, recebia entre R$ 100 e R$ 200 por "pacote de imagens" e as fotografias eram usadas no esquema.
Há suspeita do aliciamento de outras adolescentes e também de jovens de 18 ou 19 anos que se passavam por menores de idade.
A organização criminosa é suspeita dos crimes de extorsão, corrupção de menores, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e porte ilegal de arma de fogo.
As cidades em que ocorre a operação
Florianópolis
São Cristóvão do Sul
Porto Alegre
Sapucaia do Sul
Tramandaí
Santa Vitória do Palmar
Gravataí
Viamão
Cachoeirinha
Joinville
Canoas
Como denunciar
A Polícia Civil destaca que nenhum policial liga ou manda mensagens para a exigência de qualquer tipo de valor, para negociar cumprimento de mandados ou deixar de cumprir mandados de prisão. Caso esse tipo de situação aconteça, é orientado que seja feito o registro de um boletim de ocorrência em uma delegacia.
Disque denúncia – 08005102828
WhatsApp e Telegram - (51) 9 8444-0606. Fonte: https://g1.globo.com
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