Frei Carlos Mesters, Carmelita

A Regra do Carmo pede: “Permaneça cada um em sua cela ou na proximidade dela, meditando dia e noite na Lei do Senhor e vigiando em orações” (RC 10).  Neste ponto, temos como mestra e guia Maria, a Mãe de Jesus. Diz o Evangelho de Lucas: “Enquanto Jesus dizia essas coisas, uma mulher levantou a voz no meio da multidão, e lhe disse: "Feliz o ventre que te carregou, e os seios que te amamentaram." Jesus respondeu: "Mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus

e a põem em prática." (Lc 11,27-28)

A Bíblia fala muito pouco da Mãe de Jesus. Só sete livros a mencionam: Gálatas (Gl 4,4), Marcos (Mc 3,20-21.31-35), Lucas (Lc 1 e 2; 11,17), Atos (At 1,13), Mateus (Mt 1 e 2), João (Jo 2,1-13; 19.25-26) e Apocalipse (Apc 12,1-17). Ela mesma fala menos ainda, pois cinco destes sete livros só falam sobre Maria. Ela mesma não fala. Maria só fala em dois livros: Lucas e João. E mesmo estes dois livros conservam apenas sete palavras de Maria. Nada mais!

1ª Palavra:      "Como pode ser isso se não conheço homem!" (Lc 1,34)

2ª Palavra:      "Eis aqui a serva do Senhor!" (Lc 1,38)

3ª Palavra:      "Minha alma louva o Senhor!" (Lc 1,46)

4ª Palavra:      "Meu filho porque fez isso conosco?" (Lc 2,48).

5º Palavra:      "Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3)

6ª Palavra:      “Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)

7ª Palavra:       O silêncio ao pé da Cruz, mais eloqüente que mil palavras! (Jo 19,25-27)

Os evangelhos apresentam a Mãe de Jesus como mulher silenciosa. Apenas sete palavras! A prática do silêncio capacita as pessoas para meditar e escutar a Palavra de Deus nos fatos da vida. O que mais nos falta hoje é o silêncio. Não é fácil fazer silêncio. Não é fácil escutar. Muito barulho, não só ao redor, mas também dentro de nós. Condição para poder escutar é saber fazer silêncio, sobretudo dentro de nós.

Cada uma daquelas sete palavras da Mãe de Jesus nos faz saber como ela fazia para escutar os apelos de Deus, mesmo lá onde não havia palavras, mas apenas o silêncio de uma situação humana pedindo socorro. Além disso, tanto Lucas como João, ambos oferecem uma chave importante para entender o relacionamento de Maria com a Palavra de Deus.

O evangelho de Lucas, quando fala de Maria, pensa nas Comunidades e apresenta Maria como modelo. Na maneira de Maria relacionar-se com a Palavra de Deus, Lucas vê a maneira mais correta para a comunidade relacionar-se com a Palavra de Deus: descobri-la, escutá-la, acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entende ou quando ela a faz sofrer. A chave para isto nos é dada no elogio à sua mãe: “Feliz quem ouve a Palavra de Deus e a coloca em prática” (Lc 11,27).

O evangelho de João costuma descrever os episódios da vida de Jesus sob a dupla a dimensão de história e de símbolo. Assim, para João, os dois acontecimentos que falam da Mãe de Jesus, a saber, as bodas de Caná (Jo 2,1-5) e ao pé da Cruz (Jo 19,25-27), são, ao mesmo tempo, história e símbolo. Para João, a Mãe de Jesus é o símbolo do Antigo Testamento. Ela aguarda a chegada do Novo Testamento e contribui para que o Novo chegue. Maria é o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Nos dois episódios, tanto em Caná como ao pé da cruz, devemos ver o que diz a história e o que sugere o símbolo. 

Vamos ver de perto de que maneira aquelas sete palavras nos ensinam como escutar os apelos de Deus e colocá-los em prática. Neste artigo veremos as três primeiras palavras: 1ª Palavra: "Como pode ser isso se não conheço homem algum!" (Lc 1,34). 2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38). 3ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu Salvador!" (Lc 1,46). 

1ª Palavra. "Como pode ser isso se não conheço homem algum!" (Lc 1,34)

A palavra do anjo Gabriel era transparente, não deixava dúvida. Dizia claramente o que Deus estava pedindo a Maria, a saber: ser a mãe do Messias, daquele que viria realizar as promessas dos profetas, a esperança de todo o povo. Maior missão e glória não era possível imaginar para uma moça daquela época.

Maria não se exalta, nem se sente privilegiada. Ela escuta o apelo de Deus, confronta-o com a sua condição humana e pergunta: “Como pode ser isso, se não conheço homem algum!”

Não é falta de fé, nem medo, nem recusa, nem falsa humildade. Mas realismo humilde, sem exaltação. Maria não quer ser a causa de que o plano de Deus corra perigo de fracassar devido às limitações da sua condição humana. Pois dentro da situação concreta em que ela se encontrava, a proposta do anjo não poderia ser realizada: “Não conheço homem algum!”.

2ª Palavra. "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38)

O anjo esclarece: “O Espírito Santo descerá sobre ti!” Esclarecida pelo anjo, Maria não hesita nem volta atrás, mas se oferece: “Eis aqui a serva do Senhor!” Ela se faz a empregada de Deus. Ela sabe que isto vai trazer muitos problemas para a sua vida. Pois como explicar a gravidez ao povo de Nazaré? Ninguém iria acreditar nela. Como explicá-la a José, seu prometido esposo? Ela correria o perigo de ser apedrejada.

Apesar de todas estas dificuldades reais, Maria se entrega à ação da Palavra de Deus: “Faça-se em mim segundo a tua palavra!” Ela não pensa em si mesma, nem se fecha dentro do seu mundo. O que conta não é o bem-estar dela mesma, nem as suas aspirações pessoais, mas sim ser um instrumento eficaz na realização do plano de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!”

3ª Palavra. "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu Salvador!"

(Lc 1,46)

Estamos diante de uma das experiências humanas mais bonitas e mais comuns que se possa imaginar. Duas donas de casa, Maria e Isabel, ambas grávidas, se encontram e conversam entre si sobre as coisas da vida. Isabel elogia a fé de Maria, e Maria responde louvando e agradecendo a Deus: “Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus, meu Salvador!”.

Do começo ao fim, este Cântico de Maria está permeado de frases dos salmos. No cântico, ela se revela como alguém que sabe de cor a Bíblia, sobretudo os salmos. De tanto rezar e meditar os salmos, quando ela mesma se dirige a Deus, usa palavras e frases dos salmos para expressar seus próprios sentimentos, pedidos e louvores a Deus. A Bíblia de Jerusalém menciona cinco evocações de salmos.

No Cântico Maria se revela também como alguém que tem consciência clara da situação social e política em que se encontra o seu povo. A Mãe de Jesus conhece as pretensões dos soberbos (Lc 1,51), a ganância dos ricos (Lc 1,53) e a opressão que os poderosos exercem sobre os pequenos, os humildes (Lc 1,52). Ela se faz porta-voz da esperança dos pequenos (Lc 1,54-55).

Unir o conhecimento da realidade com a leitura orante e constante da Bíblia é a chave que abriu os olhos do coração de Maria para poder escutar os apelos de Deus dentro da realidade da vida do seu povo e dentro das coisas mais comuns da sua própria vida.

4ª Palavra. "Meu filho porque fez isso conosco? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos" (Lc 2,48)

Romaria anual até a Jerusalém. Três ou quatro dias de viagem. Famílias inteiras caminhando. Muita gente! Em Jerusalém triplica a população. As crianças pequenas vão com os pais. Os jovens de doze anos para cima se agrupam entre parentes e pessoas mais achegadas do povoado. À noite do primeiro dia do regresso a Nazaré, Maria e José se dão conta de que Jesus não estava com os parentes, nem com as pessoas mais achegadas. Susto, medo e sofrimento. Imediatamente, voltam para Jerusalém à procura do menino.

Depois de três dias de busca, eles o encontram no Templo, sentado no meio dos doutores, escutando e fazendo perguntas. Menino inteligente! Emoção muito grande para os pais. Mas Maria não esconde seu sofrimento e sua preocupação: "Meu filho porque fez isso conosco? Olhe, seu pai e eu, aflitos, te procurávamos". Maria não tem medo de dizer o que pensa e de perguntar pelo motivo das coisas que ela não entende e a fazem sofrer.

Jesus responde: “Por que me procuravam? Então não sabiam que devo estar na casa do meu Pai!” Resposta enigmática! Maria já não tinha entendido a atitude do filho, e agora ela não entende a palavra dele. Jesus não dá explicação do seu comportamento. Maria silencia diante do mistério. Não deve ter sido fácil. Mas mesmo silenciando, ela continua buscando o sentido da palavra que não entendeu. “Ela conservava no coração todas estas coisas” (Lc 2,19.51). Este é o caminho para chegar à compreensão e aceitação da Palavra de Deus: ruminá-la, meditá-la, até obter o entendimento que esclarece o caminho.

*Seguem agora as palavras de Maria conservadas no Evangelho de João. Como dissemos no artigo anterior, João costuma apresentar a vida de Jesus sob a dupla a dimensão de história e de símbolo. Assim, os dois acontecimentos que falam da Mãe de Jesus, a saber, as bodas de Caná (Jo 2,1-5) e ao pé da Cruz (Jo 19,25-27), são, ao mesmo tempo, história e símbolo. Para João, a Mãe de Jesus é o símbolo do Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo Testamento e contribui para que o Novo chegue. Ela é o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Nos dois episódios, tanto em Caná como ao pé da cruz, veremos o que diz a história e o que sugere o símbolo.  

5ª Palavra. "Eles não tem mais vinho!" (Jo 2,3)

A história. Na descrição das bodas da Caná, a Mãe de Jesus aparece como mulher atenta aos problemas dos outros. Ela percebe o problema do casal de noivos: “Eles não têm mais vinho!” Falta de bebida na festa de casamento num povoado pequeno da área rural da Galiléia era um problema sério que comprometia o bom nome dos noivos. Maria é uma presença atenciosa. Despreocupada de si mesma, ela é capaz de perceber o problema dos outros. Pois quem vive fechado em si mesmo, não percebe o sofrimento calado do irmão e da irmã.

O símbolo. Como símbolo e porta-voz do Antigo Testamento,  a Mãe de Jesus percebe e reconhece os limites do Primeiro Testamento: “Eles não tem mais vinho!” A economia da salvação do AT tinha esgotado todos os seus recursos e já não era capaz de realizar o grande sonho, alimentado pelos profetas, a saber: as Bodas de casamento entre Deus e seu povo (cf. Os 11,21; Is 54,4-8).

A Mãe de Jesus constata e reconhece os limites do AT. Sem vinho a festa do casamento corre perigo de fracassar. Maria recorre a Jesus, pois em Jesus chegou a possibilidade oferecida por Deus para superar os limites e realizar, finalmente, as promessas da união entre Deus e seu povo.

6ª Palavra. “Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)

A história. A Mãe de Jesus é apresentada como uma pessoa que não só percebe o problema dos noivos, mas também toma a iniciativa concreta para solucioná-lo. Ela recorre a Jesus. Jesus responde: “Mulher, o que há entre mim e ti? Minha hora ainda não chegou”. A resposta parece uma recusa. Mas Maria não a entendeu como recusa. Pelo contrário, imediatamente ela se dirige aos empregados e diz: “Fazei tudo o que ele vos disser!” Não basta constatar o problema. É preciso contribuir para a sua solução. Não basta ouvir a Palavra de Deus. É preciso colocá-la em prática.

O símbolo. Jesus responde: “Mulher, o que há entre mim e ti? Minha hora ainda não chegou”. A resposta de Jesus verbaliza um problema que existia nas comunidades no fim do primeiro século, época em que João escreve o seu evangelho, a saber: Qual é mesmo a relação entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento e como se realiza a transição? Pois, havia cristãos que consideravam o Antigo Testamento como superado e aceitavam só os textos do NT.

As palavras de Maria aos empregados iluminam o problema: “Fazei tudo o que ele vos disser!”. O próprio Antigo Testamento manda olhar para além de si mesmo e encontra a sua plena realização em Jesus. O recado final do Antigo Testamento é este: “Fazei tudo o que ele vos disser!” Quem se fecha na sua própria história, impede a chegada do futuro. Ele se fecha na letra que mata. É o espírito de Jesus que dá vida plena à letra (2Cor 3,6). “Minha hora ainda não chegou!” A realização plena das promessas do Antigo Testamento se realizará através da “hora” de Jesus, isto é, sua morte e ressurreição que transformarão a água da vida em vinho para a festa definitiva das núpcias do Cordeiro (cf Apc 19,7;21,1.9). Seis ânforas cheias de água, cada uma com cem litros, foram transformadas em vinho, vinho bom. Seiscentos litros de vinho para uma festa que já estava no fim. É muito vinho para pouca festa! O que fizeram com o vinho que sobrou? Estamos bebendo até hoje!

7ª Palavra. O silêncio ao pé da Cruz, mais eloqüente que mil palavras! (Jo 19,25-27)

A história. A mãe de Jesus está em pé junto à cruz do filho. Ela não fala. Mas o seu silêncio é mais eloqüente que mil palavras! Ela é apoio silencioso ao filho na hora suprema da sua missão. Enfrenta a noite escura da Cruz e aguarda a madrugada da ressurreição

O símbolo. Jesus “disse à mãe: "Mulher, eis aí o seu filho." Depois disse ao discípulo: "Eis aí a sua mãe." E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa”. (João 19,26-27). É o "Discípulo Amado" que acolhe a Mãe de Jesus em sua casa. O Discípulo Amado é a nova Comunidade que cresceu ao redor de Jesus, é o filho que nasceu do Antigo Testamento. A pedido de Jesus, o filho, o Novo Testamento, recebe a Mãe, o Antigo Testamento, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos. Pois o Novo não se entende sem o Antigo. Seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem fruto.

Traduzido para hoje, isto quer dizer: a fé não se entende sem a vida. Seria um prédio sem fundamento. E a vida sem a fé ficaria incompleta. Seria uma árvore sem fruto.

Dom Milton Kenan Júnior, bispo da Diocese de Barretos, São Paulo.

           Ao iniciar o nosso Retiro, na companhia e sob a guia de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, convido-as a colocar-nos inteiramente sob a ação do Amor, que nestes dias, quer tocar-nos tão profundamente como tocou o coração de Teresa de Lisieux. Talvez possa parecer presunção nossa aspirar algo tão elevado, e aparentemente tão distante, mas não: a própria Teresa diz que Deus seria incapaz de inspirar-nos desejos que não pudessem realizar-se.

            Para muitos pode parecer difícil que Deus se sirva de uma jovem como Teresa do Menino Jesus para falar ao nosso tempo. Entretanto, a realidade é bem essa: “o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” (1Cor 1,25). Deus quer servir-se de Teresa para falar aos homens e mulheres que vivem a mudança civilizatória (mudança de época), indicando-lhes “um pequeno caminho bem reto, bem curto, uma pequena via toda nova.” (Ms C 2v)

            Hoje, precisaríamos submeter-nos a uma desintoxicação espiritual. Nossos olhares ofuscados pelas luzes de neon das nossas cidades parecem incapazes de vislumbrar a beleza das estrelas que povoam os céus. Nos céus, hoje, brilham constelações de santos e santas, contemporâneos nossos, indicando-nos o caminho a percorrer, apontando-nos a direção; entre eles, a pequena Teresa, que parece ter antecipado os tempos ao chamar a atenção para a beleza do amor.

            Santa Teresa de Lisieux é doutora na “ciência do amor”, como declarou o Beato João Paulo II na Carta Apostólica “Divini Amoris Scientia” (A Ciência do Amor Divino): “Ela fez resplandecer no nosso tempo o fascínio do Evangelho; teve a missão de fazer conhecer e amar a Igreja, Corpo místico de Cristo; ajudou a curar as almas dos rigores e dos temores da doutrina jansenista, inclinada a sublinhar mais a justiça de Deus do que a sua misericórdia divina. Contemplou e adorou na misericórdia de Deus todas as perfeições divinas, porque «até mesmo a justiça de Deus (e talvez mais do que qualquer outra perfeição) me parece revestida de amor» (Ms A 83v). Deste modo, tornou-se um ícone vivo daquele Deus que,segundo a oração da Igreja «mostra o Seu poder sobretudo no “perdão e na misericórdia» (cf. Missal Romano, Oração do XXVI Domingo do Tempo Comum).” (DAS 8)

            Nestas palavras encontramos a razão que nos levou a escolher como tema do nosso retiro: “Na maturidade do amor”. Deixar-se conduzir por Teresa é deixar-se conduzir para a maturidade do amor. Toda a sua existência foi uma caminhada para alcançar a maturidade do amar e ser amado, do deixar-se amar, do viver de amor.

            Vamos percorrer as páginas no ultimo manuscrito, intitulado Manuscrito C. Eu me  atreveria em dizer que estas paginas foram escritas na maturidade da fé e do amor. Teresa consumida pela tuberculose, na escuridão da fé, prevendo que a sua morte se aproxima com rápidos passos, sabendo que estas paginas servirão para uma futura publicação sobre a sua vida, escreve por obediência, tendo que ludibriar suas irmãs que vendo-a sob as castanheiras do quintal, com aquela caderneta nas mãos, não deixam de aproximar-se dela para distrai-la, acabando por roubar-lhe o tempo precioso que dispõe para descrever sua vida no Carmelo.

            Trata-se de um texto que revela a maturidade daquela que o escreve. Ela lança constantemente um olhar em profundidade sobre a vida. Consciente de que lhe sobram poucos dias sobre a terra, Teresa não demonstra ser uma mulher desorientada, e muito menos desesperada. O seu sofrimento não tem nada de estoicismo. Está na verdade habitada por uma profunda alegria.

            O sofrimento não a espanta mais, nem a amedronta; ao contrário une-a ainda mais a Jesus: “A cada nova ocasião de combate [...] corro para meu Jesus” (Ms C 7r).

            Teresa, nestas paginas revela sua vocação apostólica. Ela própria anteriormente na carta que escreve a Ir. Maria do Sagrado Coração diz que a carmelita tem vocação de Esposa e Mãe (cf. Ms B 2v). Serão nas páginas deste último manuscrito que podemos vislumbrar o zelo apostólico que lhe alimentava o coração e preenchia os seus pensamentos. Ela não vive para si, está entregue totalmente à Igreja. Não pensa apenas nos limites da sua comunidade, mas tem diante de si a Igreja inteira. Tudo o que diz respeito à Igreja, lhe diz respeito também.

            Relata as grandes descobertas que Deus lhe permite fazer: a pequena via, sua vocação missionária, a compreensão da caridade, a liberdade de espírito, o amor e as obras, o valor da oração, a participação na missão dos irmãos espirituais, e a direção das almas no noviciado.

            Acompanharemos Teresa pelas paginas do seu ultimo manuscrito, pedindo ao Senhor a graça de aprender com ela. Teresa é nossa irmã! Nela Deus quer dar-nos uma amostra daquilo que deseja realizar em cada um de nós. Deixemo-nos guiar por Teresa, dóceis a ação do Espírito Santo que sopra onde e como quer.

            Há uma primeira palavra de Teresa que gostaria de propor a nossa oração, no início do nosso retiro. Referindo-se ao modo como Madre Maria do Gonzaga lhe trata, Teresa afirma:

            “ Todas as criaturas podem inclinar-se, para ela, admirá-la, cumulá-la com seus louvores, não sei por que mais isso não poderia acrescentar uma só gota de falsa alegria à verdadeira alegria que ela saboreia em seu coração, ao se ver o que ela é aos olhos de Deus: um pobre nadinha, nada mais...” (2r)

            Há um elemento no início deste manuscrito que dá o tom de todo o texto: é a alegria. Teresa fala da “verdadeira alegria”. Ela diz que não teme mais a “falsa alegria” que poderia surgir do elogio e da ternura que recebe das criaturas. Não! Ela está alicerçada na “verdadeira alegria”, ou seja, “ao se ver o que ela é aos olhos de Deus um pobre nadinha, nada mais...” A causa da sua alegria é reconhecer o seu nada, aquilo que é aos olhos de Deus: um “pobre nadinha”.

            Quando acompanhamos a vida de Teresa vamos vendo o quanto lhe custou reconhecer o seu “pobre nadinha”. Seu caminho é o caminho do esvaziamento, do despojamento, do empobrecimento... é o caminho que leva ao nada e no nada encontra o Tudo. Fiel discípula de sua pai São João da Cruz, Teresa sobe o “monte” que é o Tudo do Deus Amor, pela via do nada, do esvaziar-se, do despojar-se voluntariamente, do entregar-se e oferecer-se, a ponto de não colocar mais resistência. É o caminho do amor! É o caminho de Jesus!

            Neste nosso primeiro encontro com Teresa precisaríamos pedir a Deus a graça de reconhecer o nosso “pobre nadinha”, reconhecer o quanto precisamos desvencilhar-nos, desprender-nos, despojar-nos para nos tornarmos livres para amar, para a maturidade do amor. Como fez Teresa, como fez Jesus!

            Aí encontramos a verdadeira alegria.

            As palavras de Teresa nos fazem pensar em Francisco de Assis. Em que consiste a verdadeira alegria? São Francisco diz ao Frei Leão que a perfeita alegria consiste em ser tratado como um “nada”, como um desconhecido, como um miserável. A perfeita alegria é ter percorrido um longo caminho e ao chegar no convento de frades, sob a chuva e a o frio gelado, ser jogado para fora e tratado como malfeitor. Aí está a verdadeira alegria. A alegria em reconhecer o próprio nada.

            “Aquilo que se é aos olhos de Deus” – um nadinha amado por Deus. Deus ama o nosso nada, a nossa pequenez.

            Quando escreve a Ir. Maria do Sagrado Coração, S. Teresa diz: “ Quanto mais se é fraco, sem desejos e virtudes, tanto mais se está apto às orações deste Amor consumidor e transformante...Onde encontrar o verdadeiro pobre de espírito? É preciso procurá-lo longe, diz o salmista. Não diz que é preciso buscá-lo entre as grandes almas, mas “bem longe”, ou seja, na baixeza, no nada...Ah! Permaneçamos, portanto bem longe de tudo aquilo que brilha, amemos nossa pequenez, amemos o não sentir nada. Então seremos pobres de espírito e Jesus virá nos procurar. Por mais longe que estejamos, ele nos transformará em chamas de amor...Oh! Como gostaria de poder vos fazer compreender aquilo que sinto! É a confiança, e nada mais que a confiança, que nos deve conduzir ao Amor...” (Carta 197)

            Precisaríamos pedir a graça de perscrutar as palavras de Teresa sobre o “pobre nadinha” amado por Deus, querido por Deus, procurado por Deus!

            É esta graça que lhes proponho suplicar no início destes dias: a graça de amar a nossa pequenez e nossa pobreza e a esperança cega na Misericórdia de Deus! (cf. Carta 197), pois aí está a raiz e a certeza da nossa alegria.

*Reflexões em um Retiro sobre Santa Teresinha do Menino Jesus. (1ª Parte).

  1. A nossa proteção está no nome do Senhor.
  2. Que fez o céu e a terra!

 OREMOS

            Senhor Jesus Cristo, nosso Deus, saúde e fortaleza de todos os vossos fiéis, que atendestes bondosamente às orações e curastes totalmente        a sogra de São Pedro, que sofria de muita febre, SANTI + FICAI e ABEN + ÇOAI          esta água, vossa criatura,        em vosso Nome santíssimo    e com as relíquias de Santo Alberto, que vos dignastes chamar a renunciar ao mundo e entrar para a Ordem     da vossa Mãe Santíssima;            concedei que, pelos seus gloriosos merecimentos e pela sua intercessão, todos os que forem atacados pelas febres, ao tomarem devotamente desta água, sejam libertados de todos os males do espírito e do corpo, e possam apresentar-se na vossa Igreja, para vos agradecer constantemente. Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos.

  1. Amém.

(Em seguida, pegando com respeito a relíquia, mergulha-a três vezes na água na forma de uma cruz, dizendo uma só vez).

             Pelos merecimentos de Santo Alberto

            ABEN + ÇOAI, Senhor, esta água

            vossa CRIA + TURA,

            Vós que com o vosso Corpo glorioso

            SANTI + FICASTES as águas do rio Jordão,

            e concedei

            que todos os que beberem desta água

            alcancem a saúde do corpo e do espírito.

            Vós que viveis e reinais

            pelos séculos dos séculos.

 Amém.

Agora se diz a

             ANTÍFONA:

            Ó Santo Alberto,

            modelo de castidade,

            pureza e continência,

            pedi à Mãe de Misericórdia

            que neste vale de misérias

            nos defenda do inimigo maléfico,

            para que ao sairmos

            deste corpo tão efêmero,

            gozemos de um eterno alívio.

 

  1. Rogai por nós, Santo Alberto!
  2. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

 OREMOS

         Deus onipotente e misericordioso, concedei-nos - nós Vos pedimos - que, pela virtude desta água benta, pelos merecimentos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e pela intercessão da Santíssima Virgem Maria,            de Santo Alberto e de todos os Santos e Santas de Deus, os fiéis, que beberem desta água com fé e piedade, consigam obter sáude para o corpo e para o espírito e permaneçam no vosso santo serviço. Por Cristo Nosso Senhor.

  1. Amém.

ANTÍFONA

            Esperançosos,

            Aguardam os doentes

            Junto ao templo

            De Santo Alberto:

            Surdos e aleijados

            Logo suplicam a Deus,

            E o Santo cura a febre

            E todas as doenças,

            Afasta os males,

            Acalma as ondas

            E retira o enjôo do mar.

  1. Ó Bom Jesus, pelos merecimentos de Santo Alberto!
  2. Derramai sobre nós as vossas graças!

 OREMOS

            Senhor Jesus, nosso Deus, que vos dignastes chamar Santo Alberto, vosso Sacerdote, para renunciar ao mundo e entrar para a Ordem de Maria, vossa Mãe Santíssima, concedei-nos - nós Vos pedimos -que, pelos seus méritos e a seu exemplo, Vos sirvamos fielmente e com ele mereçamos gozar da vossa presença na glória eterna. Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos.

  1. Amém!

Frei Bruno Secondin. O. Carm.

             São conhecidos mais de setenta comentários sobre a Regra do Carmo; quase na sua totalidade consideram como núcleo central do texto e do projeto de vida a prescrição do capítulo 7º, que diz: "Maneant singuli in cellulis suis vel juxta eas, die ac nocte in lege Domini meditantes nisi aliis justis occasionibus occupentur" (permaneça cada um na sua cela ou proximidades, dia e noite meditando na lei do Senhor, em vigílias e orações, a não ser que esteja ocupado em alguma eventualidade justificada). As atuais Constituições da Ordem repetem esta convicção, implicitamente ao menos (cf. n.10 e 59). Por esta razão é possível falar-se de uma resposta tradicional, e praticamente unânime, sobre o coração da Regra.

            Só recentemente começou-se a duvidar da centralidade do capítulo 7º. Egídio Palumbo, por exemplo, um jovem carmelita, que estudou os comentários de todas as épocas, escreve: "Perguntamo-nos se a centralidade do capítulo 7º é uma "necessidade", que o texto revela ou pelo contrário, uma compreensão do sujeito-leitor condicionada pela idéia de perfeição da vida cristã nas formas de vida solitária e eremítica. Sobre isto demonstra a história da interpretação da Regra um fato: quando a centralidade do capítulo 7º deixou trancadas outras "verdades" do texto, que não entravam na ótica do sujeito-leitor, a pré-compreensão transformou-se em pré-julgamento e a leitura da Regra ficou redutiva e estática".

            Estamos convictos de que a centralidade do capítulo 7º, entendido na tradição especialmente como solidão e oração, deve ser profundamente reconsiderada e até mesmo superada. O centro do projeto de vida da Regra - segundo os recentes estudos promovidos na Itália - é constituído pelo conjunto dos capítulos 7-11, tendo como vértice teologal e intencional o capítulo 10º, aquele que fala sobre o oratório e a Eucaristia de todos os dias. A Regra faz as suas principais referências não a cada pessoa isolada, solitária, em oração na cela, mas à fraternidade, isto é, ao grupo de irmãos, que estavam empenhados num caminho de unidade, corresponsabilidade e dedicação ao Senhor, numa fidelidade total, embora proviessem de experiências diferentes, com suas exigências pessoais não uniformes. É sobre isto que desejamos falar, apresentando argumentos, que o comprovem.

“Nicolau, Bispo, Servo de Deus, em perpétua memória.

Visto que nenhum grupo de fiéis, sob qualquer forma de religião, pode organizar-se, sem autorização do Sumo Pontífice, e para que os grupos de religiosas, virgens, viúvas, beguinas, manteladas ou outras formas particulares que vivem sob o título e proteção da Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, ou que no futuro assim queiram viver, não pareçam bem sem a aprovação da autoridade apostólica. 

Nós, pelas presentes letras, decretamos que para a recepção, modo de viver, admissão e proteção das supracitadas, a Ordem, o Mestre Geral da mesma e os Priores Provinciais gozem e usem dos mesmos e idênticos privilégios concedidos à Ordem dos Pregadores e à Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, de modo que as sobreditas virgens, viúvas, beatas e manteladas, vivam em continência e honestamente, guardem o jejum e façam todas as demais coisas, como soem fazer, de acordo com seu regulamento e estatutos. 

Que ninguém, por isto, ouse infringir ou contradizer esta nossa constituição. Se, contudo, alguém cogitasse contrariá-la, saiba que incorreria na ira de Deus onipotente e de seus santos apóstolos Pedro e Paulo.

Dado em Roma, em São Pedro no ano de 1452 da Encarnação de Nosso Senhor, no dia 07 de outubro, sexto ano de nosso Pontificado”.

*Da Regra da Venerárvel Ordem Terceira do Carmo.

OLHAR DO DIA: Missa de 7º Dia do Senhor Tiãozinho, irmão da Ordem Terceira do Carmo de Carapicuíba/SP e Encontro com a Ordem Terceira do Carmo. Nas fotos; O Delegado Provincial, Frei Petrônio de Miranda e os irmãos e irmãs dos Sodalícios de Carapicuíba e Osasco. 

Frei Joseph Chalmers, O. Carm.

             Somos os irmãos da Virgem Maria do Monte Carmelo. Nossa Ordem começou porque os eremitas latinos no Monte Carmelo quiseram reunir-se como uma comunidade de irmãos. Eles já haviam vivido juntos bastante tempo para experimentar a proposta do estilo de vida que eles levaram a Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém, para que ele pudesse dar-lhes a aprovação eclesiástica. Quando a “ formula vitae” de Alberto foi formalmente aceita como uma Regra pelo Papa Inocêncio IV em 1247, os eremitas foram inseridos no novo movimento dos mendicantes que era muito forte na Europa daquele tempo. Os eremitas Carmelitas se tornaram frades chamados ao serviço do povo. Uma das características dos mendicantes era que eles viviam no meio do povo e não em grandes mosteiros como os monges.

            Apesar do fato de que a Ordem é claramente chamada ao apostolado ativo, a contemplação continua sendo um elemento fundamental de nossa vocação. Nós nos entendemos como comunidades contemplativas a serviço do povo de Deus no meio do qual vivemos. Graças a Deus já passamos dos tempos em que nós buscávamos nossa identidade. Nossa identidade está clara! Agora temos que viver as implicações de nosso carisma na vida de cada dia.

            Temos que viver uma vida de obediência a Jesus Cristo e servir-lhe fielmente com um coração puro e reta consciência e fazemos isto através do compromisso de buscar o rosto do Deus vivo (a dimensão contemplativa da vida), em fraternidade, e no serviço (diakonia) no meio do povo (Const, 14). Estes três elementos estão estreitamente ligados entre si pela experiência do deserto que é a experiência da ação purificadora de Deus em nossas vidas. A contemplação determina a qualidade da nossa vida fraterna e do nosso serviço no meio do povo de Deus (Const, 18). A meta da contemplação é a de ser transformados em Deus e assim veremos a realidade com os olhos de Deus e amaremos com o seu coração (Cf. Const, 15).

            Uma atitude contemplativa nos permite descobrir a presença de Deus nos outros e apreciar o mistério daqueles com quem partilhamos nossas vidas (Const, 19). Somos chamados a viver em comunidade, para partilhar nossas vidas com os outros, mas sobretudo com nossos irmãos e é isto em si mesmo um testemunho para outros, que Deus está presente em nosso meio e através deste testemunho Deus tocará os corações de muitas pessoas.

            Pode-se falar coisas bonitas sobre a comunidade e seu significado teológico, mas todos sabemos que a realidade de uma comunidade religiosa é algo muito diferente. Nossas comunidades refletem a realidade da Igreja e do mundo em que vivemos. Somos pecadores redimidos e tentamos fazer a vontade de Deus. Não somos perfeitos como individuos e por conseguinte ainda não podemos ter comunidades perfeitas.

            Há uma sede de se viver em comunidade em nosso mundo e todavia ao mesmo tempo o individualismo está desenfreado. Esta tensão está presente em nossas próprias vidas, porque claramente somos afetados pelo mundo em que vivemos. Somos atraídos pela comunidade, mas ao mesmo tempo somos tentados a colocar nossas próprias necessidades e desejos sobre todas as coisas, a julgar tudo pelo modo como nos afeta. Viver em comunidade não é fácil e ainda que estamos comprometidos a viver em comunidade, é crucial reconhecer a tendência que existe em todos nós de iludir suas demandas e encerrar-nos em nossos próprios egoísmos. Esta é a realidade de pecado em nossas vidas, mas somos redimidos. Claramente a redenção alcançada por Cristo para nós não nos fez santos ainda; estamos a caminho. Cristo nos oferece uma maneira de crescer além de nossas limitações, devemos, porém, aceitar a salvação que ele oferece. A primeira fase é reconhecer que não está tudo bem.

            Como está a experiência de vida em nossas comunidades carmelitas? “A multidão dos que creram tinha um só coração e um só alma e nenhum tinha por própria coisa alguma, mas tinham tudo em comum.” (Atos 4,32). Se esta é experiência de vida na comunidade de vocês, vocês são verdadeiramente felizes, mas suponho que esta não é experiência de vocês. Eu diria que o melhor que se pode dizer é que a comunidade é bastante agradável e que vocês chegaram entre si a uma aceitação mútua de uns aos outros. Na pior das hipóteses.. pode ser muito difícil e uma realidade muito diferente da que buscamos e que escapa em cada oportunidade. Por que nossa comunidade não é perfeita? Podemos jogar a culpa no Provincial e seu Conselho ou colocar-nos nesta situação terrível, ou culpar ao irmão X de nossa comunidade, culpamos os nossos irmãos com quem é impossível formar uma verdadeira comunidade apesar de nosso desejo. Poderíamos também tentar culpar a Deus, mas se nos encontramos culpando a todos com a exceção de nós mesmos, temos que pensar que pode existir um outro problema. Pode ser possível também que outros nos achem difíceis e em seus corações estão culpando-nos pela falta de comunidade real.

            Nós vivemos juntos, mas temos experiências muito diversas. Entramos na comunidade com nossa própria experiência particular de vida que nos marcou para bem ou para mal. Chegamos na comunidade com nossa própria carga e comumente com expectativas muito diferentes. Podemos usar a mesma palavra, “comunidade”, mas podemos querer dizer coisas muito diferentes. Eu creio que o primeiro passo para melhorar nossa vida de comunidade é aceitar que nós somos diferentes e que buscamos coisas diferentes. Necessitamos aceitar-nos em toda nossa diversidade e tentar ver nesta realidade humana algo da riqueza de Deus. Cada individuo é na verdade um mistério. Precisamos aceitar o fato de que alguns indivíduos estão tão profundamente marcados pelos vaivéns da vida que não podem viver uma vida normal. Quando sua conduta causa danos à vida da comunidade, alguém tem que falar honestamente e os responsáveis devem oferecer a estes indivíduos a possibilidade de encontrar uma ajuda para viver uma vida mais equilibrada. Sei que isto não é fácil, mas o resultado de não desafiar a conduta imprópria é que o indivíduo “difícil” acabará por infernizar a vida da comunidade. Pessoas como estas são uma minoria, mas todos nós precisamos, de vez em quando ser desafiados para ser fiéis à vocação a que fomos chamados. Este desafio pode vir constantemente a nós através da vida diária com os outros. Pregamos o Evangelho, mas a comprovação de nossas palavras estão em nossos feitos. É muito fácil amar a um vizinho se não temos vizinhos. A forma como realmente vivemos em comunidade, nos dirá se realmente somos homens de oração e manifestará a verdade aos demais. A autenticidade de nossa oração será óbvia através de nosso contato diário com nossos irmãos.

            Ainda que viver a realidade da comunidade não é tarefa fácil, é a maneira que Deus escolheu para nós. Se a vocação não é algo imposto em nós desde o exterior e sim parte de nossa realidade interior, que descobrimos pouco a pouco, então o desejo ardente da comunidade e a habilidade de vivê-lo está escrito no profundo de nosso ser. Por causa da nossa natureza decaída, temos coisas fora de equilíbrio mas os elementos da vida de comunidade podem ajudar-nos a crescer, se desejamos seguir a Cristo no deserto.

            Não há ganho sem dor. Crescer é doloroso, mas a dor nos torna homens maduros. Há um sério perigo na vida religiosa de se permanecer imaturo por toda a vida. Recebemos o que necessitamos da comunidade e tanto faz se trabalhamos ou não. Se somos pessoas difíceis, receberemos tudo para assegurar que permanecemos felizes e para que os outros possam ter alguma paz. Então podemos ser como crianças mimadas. Seguir Cristo leva inevitavelmente à cruz de uma forma ou de outra. Isto não é um castigo, mas é a maneira pela qual Deus nos ajuda a tornar-nos o que Ele sabe que podemos ser. Através de nossa experiência de vida, Deus nos purificará e aparará nossas arestas. Não vamos gostar no momento, mas o resultado final vale a pena. Uma parte desta purificação terá lugar através de nossa vida em comunidade. Queremos permitir a ação de Deus em nossas vidas ou queremos rechaçá-la e seguir a nossa vontade. Esta é a diferença entre trabalhar para Deus e fazer o trabalho de Deus. Trabalhar por Deus significa fazer o que queremos e assumimos que isto também deve ser o que Deus quer. Fazer o trabalho de Deus pode ser muito diferente - ou fazer o que Deus realmente está buscando de nós, requer um discernimento cuidadoso e um escutar silencioso da voz sutil e doce de Deus que nos fala através das pessoas mais inesperadas.

            As Constituições assinalam os principais elementos de nossa vida que podem ajudar-nos a crescer como indivíduos e como irmãos (31). O primeiro está “na participação comum na Eucaristia, através da qual nos tornamos um só corpo, e que é fonte e cume da nossa vida e, dessa forma, sacramento da fraternidade.” Celebramos a Eucaristia em comum em nossas comunidades? Isto está prescrito em nossa Regra e era um exigência muito rara para os eremitas. Estou propondo uma Eucaristia comum não porque é parte de nossa Regra e sim porque é a maior ajuda que nós temos para construir a nossas comunidades. Eu estou bem consciente de que se pode alegar todas os tipos de razões pelas quais a Eucaristia comum não é conveniente, mas onde há a vontade, encontra-se uma forma. Às vezes pode-se usar as necessidades do apostolado como uma desculpa para não se participar de atividades comunitárias. Neste caso necessitamos olhar nossas vidas com grande honestidade e perguntar-se: Que estou buscando? Que quero fazer com minha vida e que Deus quer de mim? Como se adapta meu estilo de vida com minha vocação Carmelita?

            O segundo elemento mencionado nas Constituições é similar ao primeiro, é a celebração comum da Liturgia das Horas. Pode ser que alguns de nós todavia estamos padecendo da experiência do passado onde em alguns casos, a comunidade reunida dizia muitas orações mas os membros individuais não se entendiam uns com os outros. Podemos utilizar a oração para “massagear” nosso próprio ego em lugar de ser uma abertura para a purificação e para a ação curativa de Deus, mas esse perigo não é uma razão para deixar a oração como indivíduos ou como comunidades. Santa Teresa de Ávila disse que com respeito à oração necessitamos ter uma determinação muito grande para seguir fazendo-a e nunca render-se. Se queremos louvar a Deus juntos como irmãos, a Igreja nos tem dado uma oportunidade preciosa por meio da Liturgia das Horas com a qual nos unimos com a Igreja inteira para oferecer a Deus o sacrifício de louvor. É por conseguinte possível reavivar nossas celebrações litúrgicas para que não se tornem rotineiras.

            O elemento seguinte mencionado nas Constituições para a edificação da comunidade é a escuta orante da Palavra. Esta é portanto parte da celebração da Eucaristia e da Liturgia das Horas, mas também se recomenda por meio da Lectio Divina, onde juntos lemos e refletimos a Palavra de Deus, damos nossa resposta a esta Palavra em nossas próprias palavras e em silêncio, onde permitimos à Palavra formar nossos corações e unificarmos. Não podemos ter comunidades orantes se nós não somos indivíduos orantes. Cada um de nós é responsável pela saúde da comunidade. Ser piedoso não significa necessariamente dizer muitas orações, mas permitir que nossa oração nos transforme a nós e ao modo como nós nos relacionamos com os outros.

            As Constituições reconhecem que necessitamos discutir preocupações comuns e por isto a reunião comunitária é um elemento importante na vida da comunidade. Se não discutimos coisas que nos envolvem, elas se tornarão problemas que podem destruir a harmonia de qualquer comunidade. Na reunião comunitária tem que se tratar das coisas de cada dia, mas também os aspectos espirituais da vida da comunidade. Certas habilidades básicas são importantes para uma reunião da comunidade. Se vocês sabem que não as têm, ou desconfiam disto, por que um dos outros irmãos não pode organizar a reunião?

            Também as Constituições nos animam a partilhar a mesa e recreação em comum. Se nunca estamos juntos, nunca cresceremos em unidade. Se estamos juntos, por certo há um risco de conflito, mas se existe boa vontade para dialogar, estes problemas podem ser superados e podem ser de fato um elo de unidade entre nós. Cada um de nós deve examinar nossa própria consciência. Eu estou pronto a dialogar de verdade com meus irmãos? Tenho sempre razão e os outros nunca? É possível que algumas de suas críticas tenham algo de verdade? Neste caso que faço?

            Finalmente as Constituições nos animam a trabalhar juntos e partilhar nossas alegrias, nossas ansiedades e amizades. É importante celebrar as datas ordinárias juntos, como por exemplo: aniversários de nascimento, votos, ordenação, etc. Também é importante estarem ali quando temos problemas. Sempre salvaguardando o direito da comunidade a sua vida privada, é muito bom partilhar os nossos próprios amigos pessoais com a comunidade.

            A comunidade religiosa é uma realidade humana e por conseguinte não é perfeita, mas é o ambiente em que somos chamados para responder ao amor gratuito de Deus para conosco. É o lugar privilegiado onde podemos crescer como seres humanos, como cristãos e como religiosos. Aceitemo-nos com todas nossas faltas, esforcemo-nos para amar-nos como Cristo nos amou e a valorizar os demais como irmãos e co-herdeiros do Reino de Deus. De vez em quando, por certo, não manteremos nossos ideais altos, mas essa não é uma razão para deixar estes ideais e conformar-nos com a mediocridade. Cristo prometeu estar conosco e podemos confiar nessa promessa. Se o permitimos, ele amará a nossos irmãos através de nós. Se nossa experiência de comunidade não tem sido boa, por que não tentamos seguir o princípio de nosso irmão, São João da Cruz que disse, “Onde não há amor, coloque amor e encontrará amor?” Se há amor dentro de uma comunidade, todos os obstáculos podem ser superados. A vida comunitária não será perfeita, mas saberemos que somos aceitos pelo que somos, o qual nos dará a confiança para ir ao encontro dos outros e partilhar esse amor com eles. Nossa vida comunitária levará o testemunho da verdade do Evangelho que Cristo rompeu as barreiras que separavam as pessoas entre si e que seu amor pode curar.

            Se desejamos correr o risco de amar a nossos irmãos, cumprimos o artigo de nossas Constituições que diz “A fraternidade, segundo o exemplo da comunidade de Jerusalém, é uma encarnação do amor gratuito de Deus e interiorizado através de um processo permanente de esvaziamento do ego centrismo – também possível em comum – para uma centralização autêntica em Deus. Assim, podemos manifestar a natureza carismática e profética da vida consagrada do Carmelo e podemos inserir harmonicamente nela o uso dos carismas pessoais de cada um a serviço da Igreja e do mundo.” (30).

 

Frei Joseph Chalmers, O.Carm.

             O ano do Jubileu está sendo apresentado como uma oportunidade para a renovação da Igreja inteira. Consequentemente pode ser também uma oportunidade de renovação para toda a Família Carmelitana. Nós só poderemos esperar uma renovação da Igreja, da Ordem, da Congragação e das nossas comunidades se estivermos dispostos a nos renovar também. Esta renovação em si mesma é uma parte importante do trabalho de formação, que é essencial para a vitalidade e a missão da nossa Família Carmelitana. Está claro que o processo de formação dura toda a vida. Assim formação não deve ser apenas um assunto para quem têm uma abundância de formandos(as) no momento. Mas cabe a cada religioso(a) porque é o processo no qual cada um(a) está envolvido(a). As Constituições da Ordem Primeira têm uma inspiração muito boa sobre este assunto. Eis o texto:"A formação carmelita é um processo específico, através do qual a pessoa se identifi­ca com o projeto de vida carmelitana, que consiste em ser uma fraternidade contemplativa no meio do povo.

            Assim, o Carmelita torna-se cada vez mais um discípulo autêntico de Jesus Cristo, parti­cipa da oferta que Ele fez de si mesmo ao Pai e partilha plenamente a Sua missão para o bem da huma­nidade, segundo o carisma específico do Carmelo." ( Const. 117).

            Por isso pelo processo de formação, nós aprendemos a nos identificar completamente com o ideal Carmelita. Isto absolutamente não significa saber algumas orações de Nossa Senhora ou até mesmo poder recitar partes da Regra em latim. Identificar-se complemente com o ideal Carmelita significa fazer com que os valores fundamentais carmelitas se tornem os nossos valores. Acredito piamente que a vocação não é algo imposto de fora em nós, mas é um chamado de Deus para crescermos e para nos tornar o que Deus sabe que nós podemos ser. Se nossa vocação como carmelitas é autêntica, isto significa que nosso caminho para a maturidade humana e cristã é o caminho carmelita. Seremos então fiéis a Jesus Cristo e ao Evangelho quando o formos ao chamado que ele nos fez.

             As mesmas Constituições dizem que os Carmelitas são chamados à maturidade em Jesus Cristo e que por isso devem empenhar-se num processo ininterrupto de conversão do coração e de transformação espiritual (Const. 118). É muito difícil, se não impossível, definir o que seja a maturidade humana e espiritual. Mas acredito que tem algo a ver com o processo por meio do qual os valores exteriores são interiorizados e passam a fazer parte de nós. Por isso gostaria de questionar: os valores carmelitas fazem parte da nossa vida? Temos interiorizado estes valores? Eles realmente são os nossos valores?

             É evidente que se não estiver claro para nós quais são os valores carmelitas fundamentais, que unem homens e mulheres em muitos países e culturas diferentes na chamada Família Carmelita, será muito difícil vivê-los verdadeiramente. Em primeiro lugar, respondendo ao chamado divino, devemos nos empenhar em viver submissos a Jesus Cristo e abraçar o Evangelho como a norma suprema de nossas vidas. Isto significa que Jesus Cristo deve ser a pessoa mais importante em nossas vidas e que busquemos cada dia conhecê-lo melhor para podermos viver a sua mensagem de uma maneira mais profunda. Não é suficiente só conhecer algumas coisas de Jesus Cristo, é necessário também deixar um espaço para ele em nossas vidas e nos "vestir com a mente de Cristo". Deixar espaço para uma outra pessoa em nossa vida significa abrir possibilidade de mudança, porque damos um certo poder para ela. Mas é freqüente pessoas optarem por permanecerem em relações muito superficiais, de forma que a mudança não acontece. Isto também é possível na relação com Cristo. Nossa relação com Jesus Cristo é superficial ou profunda?

             O seguimento a Cristo como religiosos(as) envolve "a plena aceitação das condições que Cristo pede àqueles que que­rem segui-Lo neste gênero de vida", ou seja, a obediência, a pobreza e a castidade (Const. 4). Tentamos conformar nossas vidas à sua e é bom sempre recordar que ele veio para servir e não ser servido. Buscamos servir aos outros de acordo com a vontade de Deus ou fazemos aquilo que gostamos?

             De acordo com a Regra do Carmo devemos dia e noite meditar na lei do Senhor. A nossa tradição nos apresenta dois grandes modelos de inspiração: Nossa Senhora e o Profeta Elias, que deram as boas-vindas à Palavra de Deus nas suas vidas e por quem Deus operou maravilhas. Os e as Carmelitas são conhecidos por sua devoção mariana. Expressões desta devoção são os hinos e as orações a Nossa Senhora, novenas, estátuas bonitas e quadros. Estas expressões variam de acordo com a cultura, mas nada disto é a própria devoção. São sinais externos de uma devoção profunda, mas podem até mesmo não ter qualquer significado, se não representam o que está acontecendo de fato nas vidas das pessoas. Uma verdadeira devoção a Nossa Senhora pelo menos deve incluir a tentativa de imitar as suas virtudes. Isto está claro na Oração depois da Comunhão do dia 16 de julho, Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, que diz: "Deus nosso Pai, a comunhão do precioso Corpo e Sangue do vosso Filho, dom do vosso amor, nos fortifique e nos torne imitadores da Bem-aventurada Virgem Maria, a nós que somos consagrados ao seu serviço”. Orgulhosamente usamos o escapulário que é um símbolo de nosso compromisso de estar a seu serviço e sob sua proteção materna. Quem se veste com o escapulário, deve também se revestir com as virtudes de Maria. As expressões externas de nossa devoção mariana são importantes, mas muito mais importante é o coração da própria devoção. Como é a nossa devoção a Nossa Senhora?

             E nossa relação com o Profeta Elias? Temos orgulho de nossa herança espiritual, mas o que quer dizer na verdade o Profeta Elias para nós hoje? Ele é inspiração para nós também no episódio da caminhada até Monte Horeb, quando debaixo do junípero não tinha vontade de continuar, mas não obstante continuou até a montanha santa onde ele se encontrou com Deus no murmúrio da brisa leve? A sua atividade profética continua nos inspirando hoje? Ele condenou o Rei Acab por causa da sua violenta injustiça contra Nabot. Qual é a nossa reação diante das injustiças que estão presentes em todos os países e culturas? Elias é uma figura histórica interessante e cativante. Mas pergunto: ele é realmente uma inspiração viva para nós hoje?

             Inspirados por Nossa Senhora, nossa Patrona, nossa Mãe e nossa Irmã, e pelo Profeta Elias, vivemos nossa vida “de obséquio a Cristo, empenhando-nos na busca do rosto do Deus vivo (dimensão contemplativa da vida), na fraternidade e no serviço (diakonia) no meio do povo” (Const. 14). A dinâmica do deserto é um elemento vital em nossa espiritualidade e isto envolve um abertura total para Deus e um esvaziamento progressivo de si mesmo (Cf. Const. 15). Qualquer tentativa séria para viver a vida Cristã ou viver estes valores Carmelitas nos conduzirá ao deserto. É verdade que é um lugar muito incômodo, mas também é o lugar propício para nossa salvação, porque é ali que somos libertados de tudo aquilo que não é Deus e onde Deus fala aos nossos corações.

             A caminhada no e pelo deserto é contemplação. É comum ver que se aceita o ideal Carmelita de contemplação somente na teoria, mas não de fato na vida e no coração, porque não se pensa que realmente tenha qualquer coisa a ver com a vida, uma vez que se associa à contemplação idéias enganosas. Ninguém quer ser mergulhado na noite escura de São João da Cruz ou sofrer como Santa Teresinha, mesmo que admire estes dois santos. Assim nós deixamos a contemplação para as monjas enquanto nos dedicamos ao serviço do Povo de Deus nas paróquias, escolas, movimentos, obras sociais, etc. A contemplação não é uma recompensa por se passar longas horas em oração; é o caminho do egoísmo ao puro amor, de uma superficial para uma íntima relação com Deus. A contemplação não é para uma elite mas para todos nós. Para algumas pessoas o caminho da contemplação é dramático, no entanto para a maioria de nós, acontece nos eventos normais da vida diária. Não podemos evitar todo sofrimento nesta caminhada, porque a casca dura do nosso egoísmo deve ser demolida de forma que nós possamos ser libertados(as) para amar como Deus nos amou. A cruz particular que nós precisamos levar é justamente a adaptada para os nossos ombros. A noite escura pela qual nós temos que passar é a adequada exatamente para nós.

             Deus usa todos os elementos de nossa vida para realizar o seu plano em nós. Fomos criados para uma vida de intimidade com Deus; antes de alcançar este ponto, devemos ser purificados de tudo aquilo que não é Deus; nosso egoísmo natural deve ser transformado em puro amor. Ser Carmelita é para nós a forma para viver fielmente os valores de nossa vocação, assim nos tornamos o que Deus quer que nós sejamos. Então a tentativa séria de viver a fraternidade e o serviço no meio do povo é no modo pelo qual Deus desafia as nossas tendências egoísticas. É uma tentação constante evitar estes desafios. Camuflamos o desafio de um encontro com o Deus Vivo, quando transformamos a oração num evento ocasional, no qual fixamos o programa e falamos o tempo todo. Assim não temos que ouvir o que Deus quer nos dizer. A vida humana está direcionada para o encontro final com o Deus da Vida. Não temos como evitar este encontro.

             Assim o principal trabalho de formação em nossas vidas é consentir-nos estar na presença amorosa de Deus e deixar-nos conduzir pela ação divina. É através destes valores Carmelitas que Deus nos transformará. Este é o maior serviço que nós podemos oferecer para a Igreja. Um coração humano que aprendeu como amar verdadeiramente pode anular o ódio de milhões. Santa Teresa de Ávila nos conta que as moradas do conhecimento de si são as primeiras que se atravessa quando a pessoa entra no Castelo Interior e o conhecimento de si é um companheiro essencial para todo de nossa caminhada. (Castelo Interior 1,2,9). Mas o conhecimento de si é muito difícil porque somos tão sutis; podemos nos enganar e racionalizar nossas ações para justificar o que queremos fazer, em lugar de tentar fazer o que Deus quer que nós façamos.

             Viver o valor da fraternidade não é nada fácil, porque as outras pessoas desafiarão nossas idéias e nos pedirão virtudes que não possuímos em abundância. Viver com os outros é muito formativo. Alguém certa vez disse: "eu amo todo o mundo; mas não gosto das pessoas concretas!" Assim podemos recusar viver o valor da fraternidade pelas mais variadas razões, que podem parecer ser perfeitamente boas para nós. "Não se pode viver com a irmã X "; "o povo deste lugar não está com nada, por isso ... "; "a Congregação não se preocupa comigo, assim eu não tenho nada que ver com ela", etc. Usemos de honestidade! Muitas coisas que fazemos, nós fazemos porque queremos. Claro que é possível que o que queremos fazer possa ser de fato o que Deus quer que nós façamos, mas o oposto também é possível.

             Somos chamados a servir. Servir envolve um trabalho, mas nem sempre podemos equiparar nosso trabalho com o serviço que Deus quer de nós. Antes do começo do seu ministério público, Jesus enfrentou uma série de tentações. Ele foi tentado a não enfrentar o desafio da própria vocação e a reivindicar para si privilégios especiais. Ele foi tentado a se vender aos poderes deste mundo e a aceitar aclamação ganhada facilmente. Ele foi tentado para evitar a cruz. No meio destas tentações, Jesus fez as escolhas fundamentais que moldaram a sua vida inteira. A estas opções ele permaneceu fiel até a morte. Quais são as nossas opções fundamentais? Elas estão em sintonia com os valores Carmelitas fundamentais aos quais nos comprometemos viver pela nossa profissão religiosa? Nós estamos tentando ser fiéis a eles?

             Há certas coisas que estão disponíveis e nos ajudam a continuar fiéis ao que prometemos. Uma delas é o encontro diário com Deus no horário dedicado à oração pessoal. Nós os carmelitas da Ordem Primeira em geral não temos mais as estruturas do passado que nos ajudavam diariamente fazer a meditação em comum. Não sei se vocês tinham também esta estrutura no passado ou se a tem no presente. As pessoas maduras propriamente não precisariam destas estruturas, mas precisam dedicar um tempo adequado cada dia para falar com Deus e escutá-lo. Isto é fundamental para qualquer vida espiritual. Santa Teresa de Ávila disse que oração não é nada mais do que um compartilhar íntimo entre amigos; significa dar tempo para estar a sós com Ele, que nós sabemos que nos ama (Vida 8,5). Se não dedicamos tempo para estar com nossos amigos, a relação permanece muito superficial. Talvez perdemos o hábito de simplesmente passar tempo a sós com Deus. Eu encorajo a todas vocês insistentemente para que retomem este hábito, se o abamdonaram. Talvez vocês não são muito atraídas a oração pessoal porque é muito enfadonha. "Muitas vezes, alguns anos, eu me entretinha mais em desejar que acabasse logo a hora que eu tinha determinado para estar em oração e mais ansiosa ainda por escutar o toque do relógio…" (Vida 8,7). Estas são as palavras de Santa Teresa, assim nós estamos em boa companhia em nossas dificuldades!

             Outra coisa muito boa e útil para a caminhada espiritual é o retiro anual. Não sei se vocês organizam ou não estes encontros. Se vocês estão, como Congregação, fazendo um retiro anual em conjunto, meus parabéns! Se não estão, novamente eu as encorajo para utilizar este meio eficiente e eficaz de formação permanente. É uma oportunidade para se renovar e para estar a sós com Deus. A finalidade de nossas vidas é conhecer, amar e servir a Deus. Não estamos esquecendo algo essencial se nunca passamos algum tempo a sós com Deus? Se vocês estão muito ocupadas no serviço de Deus, mas não dedicam nenhum tempo para a oração pessoal e para um retiro anual, então creio que vocês, como Marta, estarão ocupadas com muitas coisas, porém não com o essencial.

             Outra parte importante de nossa formação permanente é rezar comunitariamente e tentar fazer com que isto seja um momento significativo do dia. Rezar com os outros é sempre um apoio para mim. Espero que os outros também se sintam apoiados. Por isso recomendo a oração em comum e que se apoiem mutuamente. Há muitos modos para rezar em comunidade. A Igreja propõe, e nossa Regra enfatiza, a celebração diária da Eucaristia e da Liturgia das Horas. A Igreja, ao nos propor isto, está utilizando sua grande experiência e sabedoria. Sei que para nós, que somos padres, é muito mais fácil do que para vocês ter a missa diária. Nós não precisamos sair de casa ou já é nossa tarefa de todos os dias. Vocês, se não tiverem um bondoso sacerdote que vá ao convento, vocês terão que sair e ir até uma igreja ou capela. Este esforço valerá a pena, como vaale para tantos leigos e leigas, que vocês conhecem.

             O processo de formação dura a vida toda. Estamos a caminho; ainda chegamos lá. Ninguém atingiu a perfeição. Falhamos, pelo menos de vez em quando. Eu não penso que o fracasso seja tão importante. Nosso Deus eleva o humilde. O importante é estar a caminho, é estar tentando viver nossa vocação e permitindo que os valores, que nós aceitamos como fundamentos de nossas vidas, nos modelem continuamente. Estes valores devem desafiar nosso modo de viver, o que fazemos e como reagimos às situações que a vida nos apresenta. Estes elementos mencionados podem nos ajudar muito em nossa caminhada.

             Há um momento em toda vida quando nós nos sentimos como o Profeta Elias, quando se sentou debaixo de um arbusto e não quis continuar a caminhada. Por que deveríamos continuar? É cansaço! No momento de crise temos muitas possibilidades de como enfrentá-la. Podemos nos recusar a nos movermos e ficar exatamente onde estamos, aceitando a mediocridade. Podemos abrir nossos olhos e ver o mensageiro de Deus que se aproxima sob muitos e diferentes disfarces. Podemos aceitar o alimento que ele ou ela nos oferece e continuar nosso caminho para a montanha de Deus.

             Todos nós estamos em formação. Algumas de vocês têm a tarefa sagrada de trabalhar na área da formação inicial. As demais não devem deixá-las sozinhas neste trabalho. Todas devem ajudá-las oferecendo apoio, porém acima de tudo devem tentar ser fiéis à vocação Carmelita e "personificar o que a Ordem exige e o carisma vivente de nossa tradição…" (Const. 120). As formandas precisam ver verdadeiramente exemplos de vida carmelitana. Eles podem aprender algo nos livros. Contudo são vocês, que têm votos solenes, que devem ser exemplos do que significa a vida carmelitana. Vocês estão sendo?

             Por fim que deixar o meu pedido para que Deus as abençoe com muita perseverança e fidelidade! Quero ter a alegria de ver sendo abertos alguns processos de canonização de irmãs desta querida e simpática Congregação, fundada por Frei Casanova para “ir aonde ninguém quer ir”.

 (Conferência dada pelo Prior Geral da Ordem do Carmo às Irmãs Carmelitas Missionárias durante o Capítulo Geral de 1999)

Oração sobre a Campanha da Fraternidade.

(Org. Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.  Rio de Janeiro. 15 de março-2017)

Oração sobre a Campanha da Fraternidade.

(Org. Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. 

Rio de Janeiro. 15 de março-2017)

1- INTRODUÇÃO.

(Acolhida. Motivação carmelitana para a oração a partir da CF/2017 e da Espíritualidade Carmelitana. Ex: A Geografia do Monte Carmelo, poêma a noite escura, de São João da Cruz, etc).

MÚSICA: Levanta Elias. (1º Reis, 19, 1-18)

Letra e múisca: Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.

Levanta Elias, levanta, é hora de caminhar./ Levanta Elias levanta, é hora de Evangelizar. (bis)

1- No fogo e no furacão, o Senhor aí não está. Na brisa suave Elias, Ele sempre, sempre vai passar. Elias do fogo e da espada, contigo vamos caminhar. Com os olhos de misericórdia, O Senhor vem abençoar.

2-Não basta falar do sagrado, é preciso sempre acreditar. Nas noites escuras da vida, O Senhor vem iluminar. No Monte Carmelo lutastes, O Senhor fostes defender. Agora Elias na dor, Ele vem, vem te Proteger.

3-Na pobre viúva chorando, com fome e seu filho a morrer. O Deus do Profeta Elias, vai logo, logo socorrer. No encontro da brisa suave, buscastes forças pra andar. Ensina-nos ó Santo Elias, na vida peregrinar.

4- Olhando o povo que sofre, sem ter esperança e valor. Mostrai-nos ó Profeta Elias, a nuvenzinha do Senhor. Profetas e Profetisas, souberam Evangelizar. No Monte Carmelo Elias, o Cristo vamos encontrar.

CONHECENDO O BIOMA DO CARMELO

Monte Carmelo é uma montanha na costa de Israel com vista para o Mar Mediterrâneo. O seu nome (Karmel) significa "jardim" ou "campo fértil". A grande cidade israelita de Haifa localiza-se parcialmente sobre o Monte Carmelo, além de algumas outras cidades menores.

Foi neste monte se deu o duelo espiritual entre o profeta Elias e os profetas de Baal. Lá,  o Profeta Elias, Pai Espiritual da Ordem do Carmo, provou aos homens que o Deus de Israel era o verdadeiro Deus, e não Baal.

Nos tempos bíblicos, o Monte Carmelo servia como uma muralha natural entre o Mar Mediterrâneo e a grande planície (o Vale de Jezreel) onde hoje fica Israel, importante para a defesa do território.

Frequentemente, o monte e seus arredores são citados na Bíblia como exemplo de beleza e fertilidade. “Florescerá abundantemente, jubilará de alegria e exultará; deu-se-lhes a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Sarom; eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus.” (Isaías 35.2) Até mesmo o sábio Salomão o usou como símbolo quando queria representar algo belo: “A tua cabeça é como o monte Carmelo, a tua cabeleira, como a púrpura...” (Cântico 7.5)

A farta vegetação e a sua posição estratégica à beira-mar, com uma paisagem de tirar o fôlego até os dias de hoje, confirma a comparação dos grandes autores bíblicos.

Hoje, na região, fica o Parque Carmelo, oficialmente área de preservação ambiental, com alguns dos mais belos espécimes vegetais e animais de Israel.

Cinco Séculos depois de Moisés, Elias, homem de Deus, morou no Monte Carmelo na solidão, vestido com uma larga cintura de pele e de uma peliça, como posteriormente João Batista no tempo de Jesus.

Mais tarde, entre 1206 e 1214, (Sec XII e Sec XIII) um grupo de cristãos seguindo o exemplo de Elias buscavam a solidão e a oração na beleza do Monte Carmelo, vivendo em obséquio de Jesus Cristo. Com os passar dos anos, sob a inspiração geográfica da montanha santa, nasce os Carmelitas ou a Ordem do Carmo.

2- Origens da Campanha da Fraternidade

HINO DA CF 2017

01 – Louvado seja, ó Senhor, pela mãe terra, que nos acolhe, nos alegra e dá o pão. Queremos ser os teus parceiros na tarefa de “cultivar o bem guardar a criação.”

Da Amazônia até os Pampas, do Cerrado aos Manguezais, chegue a ti o nosso canto pela vida e pela paz (2x)

02 – Vendo a riqueza dos biomas que criaste, feliz disseste: tudo é belo, tudo é bom! E pra cuidar a tua obra nos chamaste a preservar e cultivar tão grande dom.

03 – Por toda a costa do país espalhas vida; São muitos rostos – da Caatinga ao Pantanal: Negros e índios, camponeses: gente linda, lutando juntos por um mundo mais igual.

04 – Senhor, agora nos conduzes ao deserto e, então nos falas, com carinho, ao coração, pra nos mostrar que somos povos tão diversos, mas um só Deus nos faz pulsar o coração.

05 – Se contemplamos essa “mãe” com reverência, não com olhares de ganância ou ambição, o consumismo, o desperdício, a indiferença se tornam luta, compromisso e proteção.

06 – Que entre nós cresça uma nova ecologia, onde a pessoa, a natureza, a vida, enfim, possam cantar na mais perfeita sinfonia ao Criador que faz da terra o seu jardim.

HISTÓRICO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE

A história da Campanha da Fraternidade teve origem alguns anos antes do início do Concílio Ecumênico Vaticano II, quando um pequeno grupo de padres recém-ordenados, sob a coordenação de Dom Eugenio Sales, reunia-se em Natal, cada mês, para rezar e refletir sobre a Igreja e a Pastoral. Daí surgiram várias iniciativas postas em prática, com sucesso. Algumas vieram a ter dimensão nacional. Dentre elas estão o primeiro Regional da CNBB, que abrangia as dioceses da área territorial que ia do Maranhão à Bahia; o primeiro planejamento pastoral, colocando a técnica a serviço do Reino de Deus; a organização sistemática dos trabalhadores em sindicatos rurais, reconhecidos pelo Governo. E, logo a seguir, a primeira Federação dos Trabalhadores Rurais no Rio Grande do Norte; paróquias confiadas a religiosas; as escolas radiofônicas e outras iniciativas, sem esquecer a Campanha da Fraternidade, posteriormente assumida em nível nacional pela CNBB no ano de 1964. A primeira Campanha da Fraternidade ficou restrita à Arquidiocese de Natal, em 1962.

A CAMPANHA DA FRATERNIDADE- 2017.

TEMA: Fraternidade: Biomas brasileiros e a defesa da vida.

Biomas são conjuntos de ecossistemas com características semelhantes dispostos em uma mesma região e que historicamente foram influenciados pelos mesmos processos de formação. No Brasil temos 06 biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa. Nesses biomas vivem pessoas, povos, resultantes da imensa miscigenação brasileira.

A Igreja Católica há algum tempo, tem sido voz profética a respeito da questão ecológica. Neste início do terceiro milênio, ter uma população de mais de 200 milhões de brasileiros, sendo mais de 160 milhões vivendo em cidades gera sérias preocupações. O impacto dessa concentração populacional sobre o meio ambiente produz problemas que põem em risco as riquezas dos biomas brasileiros.

OLHAR O PASSADO COM OS PÉS NO PRESENTE:  (Gênesis, 2, 4b- 15)

Olhar Bíblico.

(Conversar sobre o texto a partir da realidade local, nacional e internacional. Ex: A Seca no Nordeste e na África, a destruição da natureza através da mineradoras).

DADOS:

1º- Mais de 100 mortos em 48h por causa da seca na Somália. segundo a Unicef, A seca  deixou 185.000 crianças em situação à beira da fome, e nos próximos meses espera-se que este número alcance 270.000 crianças. 

2º-A seca atual que aflige o Nordeste teve início em 2012 e se intensificou desde então. Ela já dura cinco anos e é considerada a mais severa em várias décadas.

3º Seca, corrupção e incompetência predomina na região nordeste a décadas! Quanto maior a seca, mais fácil fica controlar politicamente os sertanejos. O Nordeste vive uma das maiores estiagens da história e castiga 12 milhões de pessoas que vivem no semi-árido brasileiro, enquanto R$ 9 bilhões repassados pelo governo para combatê-la se perdem na ineficiência - e até desvios de dinheiro - do poder público.

4º Os recursos minerais são de extrema importância para o desenvolvimento de um determinado local. Os minerais são utilizados como matéria-prima para diversos segmentos do setor industrial, construção civil, além de serem aproveitados como fontes energéticas. No entanto, a extração dos minerais desencadeia uma série de problemas socioeconômicos, afetando diretamente a natureza e a qualidade de vida da população. Exemplo concreto foi a destruição completa do povoado de Bento Rodrigues em Mariana/MG e o excesso de mortes por câncer ou cilicose em Jacobina-BA e nas diversas cidades onde as mineradoras estão destruindo o meio ambiente em nome do progresso.

LOUVAR AO BOM DEUS PELA CRIAÇÃO:  Obrigado Senhor

1-Obrigado, Senhor, porque és meu amigo.
Porque sempre comigo Tu estás a falar.
No perfume das flores, na harmonia das cores

E no mar que murmura o Teu nome a rezar.

Escondido tu estás no verde das florestas,
Nas aves em festa, no sol a brilhar.
Na sombra que abriga, na brisa amiga.
Na fonte que corre ligeiro a cantar.

2-Te agradeço ainda porque na alegria,
Ou na dor de cada dia posso Te encontrar.
Quando a dor me consome, murmuro o Teu nome

E mesmo sofrendo, eu posso cantar.

3- OS CARMELITAS E A DEFESA DA NATUREZA: O Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a Ordem do Carmo.

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro, pode ser considerado uma reserva ecológica ou santuário ecológico, sendo um dos 10 mais importantes no mundo, abrigando espécies raras de plantas da flora brasileira e também de outros países.

Calmo e sereno nos dias de semana, o Jardim Botânico floresce com famílias e música nos fins de semana. É um ótimo local para lazer e contemplar a natureza, abrigando pássaros selvagens como parte do cenário, podendo-se ouvir o canto dos mesmos.

O Jardim Botânico foi fundado por ordem do Príncipe Regente D. João VI, em 1808, com fins de aclimatizar plantas trazidas das Índias Orientais. Uma das primeiras plantas a chegar foi a Palma Mater, uma das três mais antigas palmeiras Imperiais do jardim.

Ao andar pelo Jardim Botânico, um santuário ecológico, tomamos contato com a diversidade da flora brasileira e estrangeira, e com fatos ligados à história do Rio de Janeiro.

O Primeiro Diretor e Pesquisador do Jardim Botânico

Quem visitar o Jardim Botânico, verá o busto de Frei Leandro do Sacramento, Carmelita da Ordem do Carmo. Ele foi o primeiro diretor.

Frei Leandro, O. Carm, era um professor de botânica da antiga Escola Anatômica Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro, tendo sido mundialmente conhecido em função de estudos e pesquisas relativos à flora brasileira. Foi membro da Academias de Ciências de Londres e Munique.

Este diretor e pesquisar catalogou as plantas cultivadas no Jardim Botânico e escreveu vários trabalhos sobre as diferentes espécies ali cultivadas.

PRECES E ORAÇÕES.

A NATUREZA PEDE SOCORRO.

1- A nossa Mata Atlântica constitui a floresta mais ameaçada de extinção na atualidade, possuindo cerca de 25.000 espécies vegetais e quase 200.000 espécies vivas entre vegetais e animais. Em relação ao dia mundial da água, vale a pena lembrar que ela faz parte do patrimônio essêncial do planeta constituindo um bem público e um direito vital para os seres humanos e todas as criaturas. 

Apesar de sua abundância na terra somente o 2,493 % é doce, sendo que o atual estoque mundial de água potável é de aproximadamente 12,5 mil km cúbicos. Seria de bom alvitre ainda tomar consciência que a cada 8 segundos, morre uma criança vitimada de uma doença relacionada a água: disenterias e cólera principalmente. No mundo 80% das enfermidades são contraídas por causa de água poluída ou estancada, (ver o caso da dengue, zika e chikungunha). Outro grave problema é a carência de água para mais de 1.700.000.000 pessoas que moram em áreas de seca permanente, número que poderia dobrar até o ano 2025. 

2- Mais de 4 milhões de aves e cerca de 140 mil macacos foram mortos ou tiveram que se deslocar por causa do desmatamento em unidades de conservação na Amazônia. Os dados são da organização Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia.

O estudo divulgado pela instituição mostra que entre 2012 e 2015, de todo o desmatamento na Amazônia, o percentual das ocorrências em unidades de conservação é de 12%. Um dado alarmante, visto que deveriam ser as áreas mais protegidas para conservação de animais e plantas.

PRECES OU ORAÇÕES.

(A Partir do tema da Campanha da Fraternidade, da história do Frei Leandro e da geografia do Monte Carmelo, fazer preces ou orações levando em conta a sustentabilidade e a defesa da natureza. É sempre bom lembrar a realidade local).

CANTO FINAL. (Lado 1 e Lado 2)

Cântico- Louvor das criaturas ao Senhor.

1- Obras do Senhor, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim! Céus do Senhor, bendizei o Senhor! Anjos do Senhor, bendizei o Senhor!

2-Águas do alto céu, bendizei o Senhor! Potências do Senhor, bendizei O Senhor!  Lua e sol, bendizei o Senhor! Astros e estrelas, bendizei o Senhor!

1-Chuvas e orvalhos, bendizei o Senhor! Brisas e ventos, bendizei o Senhor! Fogo e calor, bendizei o Senhor! Frio e ardor, bendizei o Senhor!

2- Orvalhos e garoas, bendizei o Senhor! Geada e frio, bendizei o Senhor! Gelos e neves, bendizei o Senhor! Noites e dias, bendizei o Senhor!

1- Luzes e trevas, bendizei o Senhor! Raios e nuvens, bendizei o Senhor!
Ilhas e terra, bendizei ao Senhor! Louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim!

2- Montes e colinas, bendizei o Senhor! Plantas da terra, bendizei o Senhor! Mares e rios, bendizei o Senhor! Fontes e nascentes, bendizei o Senhor!

1- Baleias e peixes, bendizei o Senhor! Pássaros do céu, bendizei o Senhor! Feras e rebanhos, bendizei o Senhor! Filhos dos homens, bendizei o Senhor!

2- Filhos de Israel, bendizei o Senhor! Louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim! Sacerdotes do Senhor, bendizei o Senhor! Servos do Senhor, bendizei o Senhor!

1- Almas dos justos, bendizei o Senhor! Santos e humildes, bendizei o Senhor! Jovens Misael, Ananias e Azarias, louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim!

TODOS. Ao Pai e ao Filho e ao espírito Santo louvemos e exaltemos pelos séculos sem fim! Bendito sois, Senhor, no firmamento dos céus! Sois digno de louvor e de glória eternamente!

4- ORAÇÃO FINAL.

(Lembrar dos mártires que foram assassinados no Brasil em defesa da natureza, a exemplo do seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988, e a irmã Dorothy, morta em 2005 e vários homens e mulheres anônimos e anônimas que tombaram e continuam tombando por terra ) (Pai nosso, Ave Maria)

 

A vida espiritual - ou vida segundo o Espírito - começa com a iniciativa do Pai, que, mediante o Filho e no Espírito Santo dá a cada homem e a cada mulher sua vida e santidade, chamando cada um a viver uma misteriosa relação de comunhão com as pessoas da Santíssima Trindade. Deus vem a procura de cada pessoa, atraindo-a para si através do seu Filho o Espírito faz com que dirija sua atenção para Ele, escute a sua voz, acolha a sua Palavra, se abra à sua ação transformadora. A procura de Deus por parte de um Carmelita Secular e sua obediência ao senhorio de Nosso Senhor Jesus Cristo é uma resposta, impulsionada pelo Espírito, à sua voz no diálogo fraterno que ele estabelece com cada um pelo Verbo que se fez carne. O caminho de um terceiro começa com o ato de fé que o faz acolher Jesus e o evento pascal, como o sentido da sua vida e o faz deixar-se conduzir por Ele, colocando-o no centro de sua própria vida. Assim enraizados no amor misericordioso de Deus, os Leigos Carmelitas se propõem a subir o Monte Carmelo, cujo cume é Cristo Jesus.

A subida do Monte por parte de um leigo, em primeiro lugar, implica em seguir a Cristo com todo o seu ser e servi- Lo “fielmente com coração puro e total dedicação”. O espírito de Cristo deveria entranhar sua pessoa a ponto de poder repetir com São Paulo, “não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”, de forma que todo seu agir ocorra “sob sua palavra”

Jesus deve tomar-se progressivamente a Pessoa mais importante da sua existência. Isto significa uma relação pessoal, calorosa, afetuosa, constante com Jesus. Tal relação é nutrida pela Eucaristia, vida litúrgica, Sagrada Escritura e pelas várias formas de oração, induzindo o terceiro a reconhecer Jesus no próximo e nos eventos quotidianos, levando-o a testemunhal pelas estradas do mundo a marca indelével de sua presença.

O chamamento do Pai para o seguimento de Cristo por obra vivificante do Espírito Santo, se realiza na plena pertença à Igreja. O terceiro recebe o chamado à santidade pelo sacramento do Batismo que incorpora os seres humanos no Corpo Místico de Cristo. A sua maior dignidade consiste exatamente no gozo da própria vida divina e do amor de Deus derramado em seu coração pelo Espírito. Deste modo em companhia dos demais, segundo a vocação e os dons de cada um, pode contribuir para a grandiosa obra de edificação do único Corpo de Cristo.

A natureza humana, débil e limitada, por causa de suas misérias, deixa-se conduzir pela vontade divina e abraça uma vida de conversão sempre mais profunda envolvendo o ser humano por toda a vida e em todas as dimensões, a conversão implica um radical e novo direcionamento a uma progressiva transformação. Guiados pelo Espírito os terceiros buscam a superação dos obstáculos que encontram nos seus caminhos e evitam tudo aquilo que possa desviá-los da estrada rumo ao cume. Além disso, reconhecendo possíveis limitações e resistências, empenham-se em seguir, sem vacilar e sem desvios, por um caminho gradual rumo aos ideais escolhidos.

A “Subida do Monte” implica a experiência do deserto, no qual “a chama viva do amor” de Deus realiza uma transformação que faz com que o Carmelita Secular se desapegue de tudo, até mesmo da imagem que fez de Deu, purificando-a. Revestindo-se de Cristo, começa a resplandecer como imagem viva de Cristo, nele transformado em nova criatura.

Esta transformação gradual toma o terceiro mais capaz de discernir os sinais dos tempos e a presença de Deus na história, reforçando em si mesmo o sentido de fraternidade e conduzindo a um empenho sério e decisivo em favor da transformação do mundo.

A Ordem do Carmo está presente na Igreja com os frades e com as monjas de vida claustral, as de vida ativa e os seculares, que participam de forma diversa e gradual do carisma e da espiritualidade próprios da Ordem Também os leigos, de fato, podem fazer parte do mesmo chamado à santidade e da idêntica missão do Carmelo A Ordem, reconhecendo a sua vocação, acolhe-os, e organiza-os nas formas e modalidades próprias do seu estado de vida, comunica-lhes as riquezas da própria espiritualidade e tradição, tornando-os ainda participantes dos benefícios espirituais e boas obras realizadas por todos os membros da Família Carmelitana. Para os leigos a forma mais completa e orgânica de incorporação na Ordem do Carmo é a profissão na Ordem Terceira do Carmo, pela qual participam do carisma Carmelita, segundo o seu modo específico e próprio de leigos.

O Carmelo favorece o ingresso de casais, famílias e jovens que desejam conhecer e viver a espiritualidade Carmelita, ainda que sob novas formas, erigindo a Ordem Terceira do Carmo como forma estável e aprovada de agregação, que pode receber um novo influxo vital do confronto com estas novas formas de iniciativa. O carisma Carmelita vivido desde há séculos em diversas culturas e tradições, oferece um caminho seguro para se chegar à santidade compreendida como padrão da vida cristã ordinária.

Seguindo pelo caminho aberto pelo Concilio Vaticano II, o Carmelo explicitou o próprio carisma de forma sintética, expressa nos documentos recentes nos seguintes termos: “viver no obséquio de Jesus Cristo com postura contemplativa que plasma a nossa vida de oração, de fraternidade e de serviço. Reconhecemos na Virgem Maria e no Profeta Elias os modelos inspiradores e paradigmáticos desta experiência de fé, guias seguros na travessia dos árduos caminhos, que levam “ao cume do monte, Nosso Senhor Jesus Cristo”.