Nesta terça (7), ao confirmar ter contraído coronavírus, presidente tirou máscara diante de profissionais da imprensa

O presidente Jair Bolsonaro retira a máscara durante entrevista em que confirmou ter contraído coronavírus - Reprodução/TV Brasil/AFP

Depois da entrevista "coletiva" dada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a duas emissoras de TV, a Record e a CNN, e à rede oficial NBR nesta terça (7), na qual anunciou ter contraído coronavírus, o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal emitiu comunicado pedindo que veículos de comunicação suspendam a cobertura presencial no Palácio do Planalto.

Ao final da entrevista, o presidente se afastou dos repórteres que estavam no local e tirou a máscara para, segundo ele, mostrar que se encontra em bom estado de saúde.

O sindicato também pede às empresas que testem e afastem todos os profissionais que participaram, nos últimos dez dias, de coberturas nas quais tiveram contato com Bolsonaro e com demais membros do Executivo.

"Desde o começo da pandemia, oficiamos as empresas e o GSI [Gabinete de Segurança Institucional da Presidência] para que garantissem o distanciamento dos jornalistas. Isso não ocorreu", afirma Juliana Nunes, coordenadora-geral do Sindicato dos Jornalistas do DF.

"Hoje foi mais um exemplo dessa irresponsabilidade. O presidente já sabia de seu diagnóstico e, ao invés de pedir que outra pessoa fizesse [o pronunciamento], expôs jornalistas de três equipes. A gente considera isso muito preocupante e irresponsável", segue Nunes.

O sindicato não descarta a possibilidade de acionar Bolsonaro na Justiça caso algum dos envolvidos na cobertura teste positivo para a Covid-19.

"Vamos cobrar do Ministério das Comunicações para que seja mantida a divulgação de informações do poder Executivo sem expor jornalistas a risco em entrevistas coletivas presenciais, incluindo as dos ministros, que devem passar a dar coletivas de forma virtual", diz o órgão em nota.

Em maio deste ano, a Folha e outros veículos de comunicação decidiram suspender a cobertura jornalística na porta do Palácio da Alvorada temporariamente até que o Palácio do Planalto garantisse a segurança dos profissionais de imprensa.

A decisão ocorreu após apoiadores de Jair Bolsonaro hostilizarem jornalistas, em prática recorrente na porta da residência oficial. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia no Palácio do Planalto Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/17-06-2020

Presidente também não concordou com distribuição de máscaras pelo governo e imposição de multas para quem descumprir regras

 

Daniel Gullino

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei que determina o uso obrigatório de máscaras em público enquanto durar a pandemia do novo coronavírus. Bolsonaro, no entanto, vetou um trecho que obrigava a utilização da máscara em estabelecimentos comerciais, templos religiosos e instituições de ensino. O presidente também vetou trechos que determinavam a imposição de multas para quem descumprir as regras e que o governo deveria distribuir máscaras para os mais pobres. Esses vetos, no entanto, não anulam legislações locais que já estabelecem a obrigatoriedade do uso da máscara. O texto foi publicado nesta sexta-feira no Diário Oficial da União (DOU).

A proposta, aprovada na Câmara e no Senado, determina que é obrigatório cobrir a boca e o nariz com máscaras em "espaços públicos e privados acessíveis ao público, em vias públicas e em transportes públicos coletivos", incluindo ônibus e veículos de transporte por aplicativo. Empresas de transporte público podem impedir a entrada de passageiros que não estejam cumprindo as regras.

Foi vetado, contudo, um trecho que também incluía na lista "estabelecimentos comerciais e industriais, templos religiosos, estabelecimentos de ensino e demais locais fechados em que haja reunião de pessoas".

Em transmissão em redes sociais realizada na quinta-feira, Bolsonaro já havia adiantado que havia vetado esse trecho, alegando que havia a possibilidade de alguém ser multado por estar sem máscara dentro de casa. No entanto, a Câmara havia informado que não há nada no texto que leve à interpretação de que a máscara seria obrigatória dentro de casa e que a lei permitiria invasão domiciliar para fiscalização.

— Hoje foram vários vetos a um projeto de lei que falava sobre o uso obrigatório de máscaras, inclusive dentro de casa. Eu vetei, né? Ninguém vai entrar na tua casa pra te multar. Eu mesmo, aqui, poderia ser multado agora porque eu tô sem máscara — disse Bolsonaro na quinta-feira. Fonte: https://oglobo.globo.com

Por Bernardo Mello Franco

O prefeito de Itabuna, Fernando Gomes (PTC) | Divulgação/Prefeitura de Itabuna

Quando o Brasil registrou 5 mil mortes pelo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro disse o seguinte: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”.

Agora que a pandemia ultrapassa as 60 mil vítimas, o prefeito de Itabuna informa: “Mandei fazer o decreto que no dia 9 abre. Morra quem morrer”.

A frase de Fernando Gomes choca pela sinceridade, não pelo conteúdo. De norte a sul, o país assiste a uma reabertura geral do comércio. A doença ainda está fora de controle, mas muitos políticos resolveram fingir que o vírus sumiu.

É o caso do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. Em abril, ele tornou obrigatório o uso de máscaras. Nesta quinta, descumpriu o próprio decreto e desfilou de cara limpa em agenda oficial.

O governador se elegeu com o discurso da “nova política”, mas age como o prefeito de Itabuna, no poder desde a ditadura. Quando Gomes estreou no cargo, em 1977, o Brasil ainda era governado pelo general Ernesto Geisel. Aos 81 anos, ele exerce o quinto mandato municipal.

A biografia do prefeito é recheada de fatos notáveis. Em 1991, a revista “Veja” o descreveu como o “marajá dos marajás”. Ele recebia o equivalente a US$ 17.600, seis vezes mais que o então governador da Bahia. Além disso, empregava cinco parentes na prefeitura.

Orgulhoso, Gomes abriu a casa e posou diante da piscina, decorada com uma cascata artificial de quatro metros de altura. A reportagem conta que ele cativava eleitores com a distribuição de dinheiro vivo.

O prefeito já tentou dividir a Bahia e criar o estado de Santa Cruz. Para barganhar votos no Congresso, prometeu ceder um trecho do litoral a Minas Gerais, que finalmente ganharia saída para o mar. O objetivo, claro, era candidatar-se a governador. A ideia naufragou, mas ele continuou a dominar a política municipal.

Itabuna tem 213 mil habitantes e um desempenho trágico na educação. Entre 5.570 municípios brasileiros, amarga o 5.184º lugar na avaliação do fim do ensino fundamental. A cidade já registrou 67 mortes e está com todos os leitos de UTI lotados. No vídeo do “morra quem morrer”, o prefeito aparece de máscara no queixo. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

 

Por Ruth de Aquino

O presidente-professor de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, deu aulas virtuais a crianças e adolescentes sobre cidadania, com lições da pandemia | Reprodução

Duas imagens simbólicas me arrebataram esta semana. Uma me enterneceu. A outra me enojou. A primeira foi um vídeo do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, professor de formação. Ele deu vídeo-aulas para estudantes do ensino fundamental. O presidente-professor falou de cidadania e listou lições da pandemia. 

A primeira lição, disse Rebelo, é “muito óbvia”: “O mais importante da vida é precisamente a vida e a saúde. Todo o resto perde sentido sem vida e saúde. Educação, trabalho, divertimento, o esporte, nada é possível sem vida e saúde. Se a pandemia é de todo mundo, deve ser todo mundo, unido, a tratar, prevenir, evitar e depois responder, combater”. Lições humanas e online de um presidente para crianças e adolescentes, num cenário com estantes, livros, telões e lápis de cor. 

No outro vídeo, o que me enojou, o protagonista também era um presidente. Do Brasil. Em visita ao Comando de Operações Táticas da Polícia Federal, Marcelo Rebelo de Sousa, treinou sua pontaria. Que anda bem falha no Planalto. Bolsonaro parou no estande de tiros e fez disparos contra vários alvos com armas diferentes. Dez tiros. Ostentação contra os inquéritos do STF e a prisão do amigo e arquivo ambulante Queiroz?

Bolsonaro posou sorrindo com o filho e guarda-costas Carluxo. Que imagens ofensivas num país em luto crescente, com mais de 1 milhão de contaminados pelo coronavírus e mais de 50 mil mortos. O Brasil pode ter dezenas de milhares de mortos a mais, a julgar pelo aumento de vítimas de insuficiência respiratória aguda em 2020.

Parafraseando a jornalista Andrea Sadi na entrevista com o advogado esquisito e caído em desgraça, Bolsonaro não pulou o muro do Alvorada nem chegou ali voando. Foi eleito. Democraticamente. Somos governados por quatro Bolsonaros, pessoal. Quatro. Preconceituosos, machistas, defensores da ditadura, tortura, censura e do AI-5, investigados por fake news, amigos milicianos e rachadinhas. Nomearam ministros boquirrotos, cínicos e ignorantes, como o abominável Weintraub, que deveria ser barrado no Banco Mundial. Fritaram outros.

O risco Bolsonaro sempre existiu. A pandemia só acentuou. Ninguém sabe quando atingiremos o pico do coronavírus no Brasil. Também não atingimos o pico do bolsonavírus. Precisamos achatar as duas curvas. A vacina do covid será descoberta, espero, o mais breve possível. A vacina contra presidentes como Bolsonaro já foi descoberta há tempos. A prevenção é a urna e o voto consciente. O remédio é o afastamento. Social e político. 

O Brasil não merece. Esse título aí está errado. Foi mal. Inspirado na frase de um filósofo monarquista e católico do século XVIII, Joseph de Maistre: “Toda nação tem o governo que merece”. Mas ninguém merece Bolsonaro. Sempre que trabalhei na Europa, ser brasileira me abria as portas. Via nos olhos estrangeiros uma simpatia, uma admiração, uma quase inveja. Nossa imagem era de alegria. Vinha de um otimismo teimoso e um afeto especial nas relações humanas. Sol e mar. Música e dança. Calor e criatividade.

O europeu aprendia uma saudação logo ao chegar aqui: “E aí, tudo bem?” Agora, vejo nos olhos estrangeiros horror, estupefação e pena quando digo que sou brasileira. É surreal! Essa é a palavra que mais ouvimos e falamos. Esse país é surreal. No dicionário, significa “não condizente com a razão”, “para além do real”. O absurdo. O único país sem ministro da Saúde ou plano médico de combate à pandemia. Ah, Bolsonaro, vai...vai aprender com o presidente de Portugal. Se o deixarem entrar. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

Por Ruth de Aquino

Sem Flávio na foto, tempo feliz de rachadinha de churrasco entre Jair, Eduardo e Queiroz, agora preso

 

O presidente receberá o troféu Homem de Visão em 2020, por sua declaração. “Tá chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”, disse Bolsonaro. Na manhã seguinte,  ex-assessor de seu filho Flávio Bolsonaro, foi levado a seu devido lugar. A prisão. Ficou escondido um ano em Atibaia, SP, na casa do advogado da família Bolsonaro, Wassef, o “Anjo”. Vizinha a uma casa que consta nos bens de Jair Bolsonaro.

Esses vizinhos do presidente...que azar. No condomínio da Barra, o vizinho incômodo era o sargento PM Ronnie Lessa, preso pelo assassinato da vereadora Marielle Franco. Agora, é o Queiroz, amigo e motorista de Flávio na Alerj, com tanta história para contar sobre a rachadinha, esquema de fraude e desvio de salários. A prisão dele e de extremistas, a quebra de sigilo de parlamentares incendiários, tudo isso aguçou a visão de Bolsonaro.

Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar. Aos pouquinhos, com figuras periféricas. Comendo o mingau quente pelas beiradas. Pertence a essas bordas Sara Mini, ah desculpe, Giromini, que fez tudo para ser presa. Punho erguido ou tocha nas mãos, ela grita “somos a sua base, presidente” e ameaça infernizar a vida de Alexandre de Moraes, do STF, relator do inquérito das fake news. Sim, aquiesce Bolsonaro, grato. Vocês são a minha base. Que vizinhos e que base.

“Não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Fique tranquilo”. Claro, presidente, estamos todos tranquilos na barraca e o mundo inteiro cita o Brasil como um exemplo no combate à pandemia... “Acertar o rumo da prosperidade” significa tirar dois médicos do ministério da Saúde, menosprezar quase 50 mil mortos e nomear para a pasta mais um general. Cloroquina acima de todos.

Bolsonaro tem visão. O essencial agora é um ministro das Comunicações. Essencial. Porque a comunicação de Bolsonaro anda estranha. Quanto mais ele se comunica, menos o Toffoli, o Maia e as torcidas do Corinthians e do Palmeiras acreditam que seja um democrata e que respeite as instituições.

Mas Fábio Faria, marido da Patrícia Abravanel e genro do Silvio Santos, agora ministro, vai dar um jeito nisso. Não está tenso. Patrícia já disse num programa de TV que não deixa o marido sem sexo, senão ele vai procurar fora de casa. Lembre em meu texto “A Bíblia e o sexo”.

De tanto esticar a corda, o presidente percebe finalmente que, numa democracia, há limites – e que o teatro autoritário tem consequências. Não dá para condecorar ministro que chama juiz do Supremo de vagabundo. Não dá para estimular gangues a invadir hospitais. Não dá para dizer que “o povo armado nunca vai ser escravizado”. Não dá para apoiar tortura e censura. 

Bolsonaro tem visão. E o que vê não o agrada. O Brasil decidiu buscar quem financia atos pela intervenção militar. E prender a arraia-miúda, disfarçada de apoiadores, assessores. “Quem recebe dinheiro para disseminar o ódio não é militante. Primeiro, é mercenário. (...) Depois, criminoso”, disse o ministro Barroso do STF.

“O jogo é bruto”, lamentou o senador Flávio Bolsonaro, que agiu nove vezes para barrar investigações contra ele. Flávio é amigo pessoal dos dois deputados que quebraram em 2018, aos risos e palavrões, a placa de rua com o nome de Marielle. Apoiou ambos. Parece gostar de jogo bruto. 

Ai ai ai ai. Tá chegando a hora. O dia já vem raiando. Eu tenho que ir embora. Em cima da lareira do esconderijo de Queiroz, uma placa exaltava o AI-5. É, tá chegando a hora de colocar tudo no seu devido lugar. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

Prisão de bolsonarista líder do grupo armado de extrema direita foi autorizada por Alexandre de Moraes

 

A ativista do movimento 300 do Brasil Sara Winter foi presa em Brasília pela Polícia Federal na manhã desta segunda (15).

O mandado foi autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

A ativista é uma das investigadas no inquérito das fake news.

A prisão, no entanto, saiu de outro inquérito, do que apura a realização de atos antidemocráticos, também sob relatoria de Moraes. Há outras medidas em andamento.

O pedido contra a bolsonarista foi feito pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, na sexta-feira (12).

Winter está entre os líderes do chamado movimento "Os 300 do Brasil", grupo armado de extrema direita formado por apoiadores de Jair Bolsonaro, que acampavam em Brasília.

Depois de ter sido alvo de busca e apreensão no fim de maio, a ativista publicou um vídeo afirmando ter vontade de “trocar socos” com Moraes e prometendo infernizar a vida do ministro e persegui-lo.

Em seguida, no dia 31 de maio, Winter liderou um protesto em frente ao STF acompanhada de manifestantes usando máscaras e carregando tochas.

Neste sábado (13), o acampamento do movimento foi desmontado pelo governo do Distrito Federal. Winter pediu reação do presidente.

À tarde, liderados pela ativista, um grupo de 20 pessoas rompeu a área cercada no entorno do Congresso e invadiu a laje do prédio. Após ação da Polícia Legislativa, eles foram para o gramado em frente ao espelho d'água. Ela afirmou ainda que vai "acampar" no Congresso.

Em entrevista à Folha, no dia 12 de maio, Winter reconheceu que alguns membros do movimento estavam armados, embora tenha dito que as armas eram apenas para defesa do grupo e não para atividades de militância.​

Neste domingo (14), a Procuradoria-Geral da República instaurou uma investigação preliminar sobre o ato da noite de sábado em que manifestantes atiraram fogos de artifício em direção ao STF simulando um bombardeio.

A ação da PGR foi em resposta a um pedido do presidente da corte, Dias Toffoli. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Por Míriam Leitão

 

O país já está anestesiado pelas atrocidades diárias do presidente da República. Ainda assim tomou um susto com a criminosa atitude de estimular pessoas à invasão de hospitais. Isso é crime contra a saúde pública, é perturbação da ordem e incitação à prática de ilícitos. Coloca em risco pacientes, médicos e a população. Os seguidores do presidente podem seguir a proposta e executar tal desatino. Ele avisou que encaminhará os vídeos que receber à Polícia Federal. Se o fizer, será denunciação caluniosa. O negacionismo de Bolsonaro levou-o à loucura. Um louco nos governa.

Vamos olhar as leis. O código penal estabelece o crime de pôr em perigo a saúde de outrem (artigo 132), violação de domicílio (150) , infração de medida sanitária (268), incitação ao crime (286). Atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de utilidade pública (265). Na lei de abuso de autoridade, o artigo 22 estabelece que é crime “invadir ou entrar astuciosamente ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio”, no artigo 25, obter provas, em procedimento de investigação ou fiscalização, de forma ilícita. Essa lei prevê o ato de cometer crime por meio de terceiros. Na lei das contravenções penais, artigo 42: “perturbar alguém, o trabalho, ou o sossego alheios, com gritaria ou algazarra”.

Para entrar em um hospital, em qualquer momento, é preciso apresentar documentos, passar pela segurança, saber se a pessoa pode receber visita, lavar as mãos, passar álcool gel, respeitar as restrições. Numa pandemia, todos esses cuidados aumentam. Se é crime invadir um hospital em períodos normais, imagine no meio de uma pandemia. Os governadores do Nordeste em carta o chamaram de inconsequente.

A proposta é um desrespeito aos pacientes, invasão de privacidade desses doentes, ameaça aos médicos e enfermeiros e coloca em risco a própria pessoa que o fizer, porque ela pode contrair o vírus e ser um vetor de contágio. O presidente está levando pessoas à morte com uma fala como essa.

Confesso que num primeiro momento não acreditei. Dei ao presidente Bolsonaro o benefício da dúvida. Infelizmente era verdade. O crime é agravado por ele ser o presidente da República. Ele acha que assim serão desmascarados os governadores e prefeitos, que, no seu delírio persecutório, estariam mentindo sobre os números de mortes e infectados e a respeito da sobrecarga do SUS, para ter ganhos políticos.

Bolsonaro repetiu a afirmação de que ninguém no Brasil morreu por falta de leitos ou respiradores. Está convencido de que há uma conspiração entre imprensa, governadores, Organização Mundial da Saúde (OMS), os que ele acha que são seus inimigos. Todos estariam inventando mortos. Indício claro de transtorno psíquico.
Bolsonaro voltou a atacar o “penúltimo”, que é como ele chama o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, dizendo que o número está alto agora porque Mandetta havia “dado uma inflada”. Vamos desenhar para o primeiro mandatário: quando ele foi demitido, em 16 de abril, os números oficiais eram de 1.933 mortos e de 30.449 contagiados, de acordo com o Ministério da Saúde. Ontem, estávamos com mais de 41 mil mortos e mais de 800 mil infectados. O aumento desde então foi de 20 vezes. Mesmo que todos os óbitos registrados no período do ex-ministro fossem apagados, ainda assim o país teria 39 mil mortes. Aliás, desde que o general Pazuello assumiu, as vítimas fatais pularam de 14.817 para 41.828.

Na frente desta guerra pela vida estão médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, todo o pessoal de apoio. Eles trabalham duro, diariamente, longe muitas vezes das suas famílias, com risco de contaminação, em cargas horárias pesadas, com equipamento de proteção desconfortável e insuficiente, vendo a falta de remédios, passando por momentos de estresse. Inúmeros integrantes das equipes médicas dos hospitais públicos já morreram de Covid-19. Como vítimas desta tragédia, estão os doentes, tentando se recuperar nos hospitais, ou sofrendo numa UTI entre a vida e a morte. Seus parentes estão aflitos à espera de notícias. A todos eles, médicos, pacientes, familiares, o presidente Jair Bolsonaro desrespeitou com essa imperdoável atitude de convocar seus seguidores para invadir hospitais. Que pessoa sã faria isso?

Com Alvaro Gribel (de São Paulo)

Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

Por Nelson Lima Neto

O juiz Bruno Vinícius da Roas Bodart da Costa, da 7ª Vara de Fazenda Pública do TJ do Rio, concordou com os argumentos apresentados pelo MP e a Defensoria Pública estaduais e suspendeu a eficácia dos decretos editados por Marcelo Crivella e Wilson Witzel, na última semana, que, entre diversos pontos, autorizaram o funcionamento de uma série de serviço paralisados em função da pandemia da Covid-19.
Foram suspensos trechos dos decretos 47.488, editado por Crivella no último dia 2 de junho, e 47.112, assinado por Witzel na última sexta-feira. No caso da determinação de Witzel, foram anuladas questões como o retorno das atividades desportivas; atividades culturais de qualquer natureza no modelo drive in; atividades esportivas de alto rendimento sem público; dos pontos turísticos; e de atividades esportivas individuais ao ar livre.

Quem descumprir a determinação estará sujeito a uma multa de R$ 50 mil. Uma audiência para tratar do tema também foi convocada. Será na quarta-feira, às 14h."Não se ignora o drama sofrido pelos comerciantes e trabalhadores cujas atividades vêm sendo restringidas como forma de retardar a expansão do contágio pela Covid-19. É preciso, entretanto, considerar igualmente que estão em jogo vidas humanas e quase sete mil pessoas já faleceram em todo o Estado com o diagnóstico da doença. É dever constitucional dos governantes equacionar adequadamente esses valores tão caros à nossa sociedade em políticas públicas cuidadosamente desenhadas com base em evidências", argumentou o magistrado. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

Manifestações ocorreram em ao menos sete capitais em meio à pandemia do coronavírus

 

Bruno B. SoraggiDaniel Carvalho

 SÃO PAULO e BRASÍLIA

Atos anti-Bolsonaro em diferentes pontos do país neste domingo (7) ganharam o reforço de gritos contra o racismo, causaram aglomerações e expuseram a cisão entre movimentos e partidos de oposição ao governo.

Em São Paulo, em Brasília e no Rio, por exemplo, cartazes e faixas fizeram referência ao “vida negras importam” —o black lives matter, movimento que ganhou corpo nos EUA após a morte de George Floyd por um policial branco.

Houve atos contra o governo também em Belo Horizonte, Belém, Goiânia e Salvador, entre outras. Muitos deles marcados por aglomerações, em meio a uma média recente de cerca de mil mortos por dia na pandemia.

 

Os movimentos mantiveram o chamado para os atos mesmo após o questionamento sobre promover aglomeração em meio à pandemia —a estratégia do distanciamento social é a única forma efetiva de prevenção do contágio, segundo orientações médicas.

Os protestos, em geral, ocorreram de forma pacífica. Em São Paulo, um pequeno grupo de manifestantes foi dispersado pela tropa de choque da PM na região de Pinheiros cerca de três horas após o término do ato contra o presidente. Policiais lançaram bombas de efeito moral, enquanto moradores do bairro gritavam fascista e jogavam ovos e pedras.

No último domingo (31), em São Paulo, um ato contra Bolsonaro convocado por torcidas organizadas acabou sendo dispersado por bombas lançadas pela PM. O conflito ocorreu na avenida Paulista, onde naquele dia também havia uma manifestação a favor de Bolsonaro.

O Palácio do Planalto e o Governo do Distrito Federal, por exemplo, trabalhavam com a possibilidade de violência neste final de semana.

Desde o início da semana passada, Bolsonaro orientou sua militância a não comparecer à Esplanada dos Ministérios, como costuma fazer todos os domingos. Ao mesmo tempo, procurou elevar a temperatura chamando os manifestantes contrários ao governo de terroristas, maconheiros, marginais e black blocs.

Dois dias antes do protesto, Bolsonaro cobrou que as PMs fizessem "seu devido trabalho", caso "estes marginais" extrapolassem os "limites da lei". O presidente chegou a insinuar o uso da Força Nacional de Segurança Pública, que poderia ser acionada para a proteção do patrimônio.

A expectativa de que as manifestações terminasse em violência também se materializou no reforço de grades diante do Palácio do Planalto e na quantidade de policiais militares espalhados pelos cerca de 3 km entre a rodoviária do Plano Piloto e a Praça dos Três Poderes. Em SP, a PM também reforçou o efetivo.

"As manifestações são democráticas, como o presidente sempre fala", disse no final da tarde à Folha o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos.

No início da noite, diante das imagens de confronto em São Paulo, o chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, usou as redes sociais para enaltecer a PM paulista.

"Será que, após os acontecimentos de hoje, em São Paulo, muitos jornalistas vão continuar a defender, sem fundamento, que os atos de vândalos, black blocs, MST, skinheads, etc, são democráticos? A PMSP [Polícia Militar de São Paulo] teve comportamento exemplar. Quem essa parte da imprensa quer enganar? Quem quer favorecer?​​"

Em São Paulo, foram dois atos neste domingo. A divisão ocorreu após uma decisão judicial ter proibido a realização de protestos contra e a favor de Bolsonaro no mesmo horário e local.

Em reunião na sexta-feira, organizadores de atos de ambos os lados, Polícia Militar e Ministério Público tentaram chegar a um acordo, mas os protestos foram mantidos.

Diante do impasse, movimentos de esquerda, integrantes do movimento negro e de torcidas organizadas de times de futebol transferiram o protesto contra Bolsonaro para o Largo da Batata —o ato a favor de Bolsonaro aconteceu na avenida Paulista, com faixas e gritos a favor de intervenção militar.

“Ninguém queria estar na rua agora. Todo mundo queria estar em casa se protegendo [da Covid-19]”, discursou Guilherme Boulos, líder do MTST (movimento dos sem-teto) e candidato à Presidência em 2018. “O problema é que criou-se uma escalada fascista no Brasil. Por isso essas manifestações têm que acontecer.”

Ele afirmou que a organização do ato tomou medidas de precaução contra a transmissão do coronavírus. Entre elas, citou a distribuição de máscaras de proteção e álcool gel pelo MTST e os sinais de “x” inscritos com giz no chão pela brigada de saúde do MTST e distantes um metro um do outro.

Mas, apesar de pedidos vindos do carro de som para que os manifestantes se posicionem sobre essas marcas, a maioria se agrupou em distâncias menores, enquanto entoam gritos contra o presidente e o racismo.

Ainda na sexta-feira, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e outras entidades divulgaram nota contra a realização de atos de rua em meio à pandemia.

Doria também classificou como uma total irresponsabilidade a decisão de organizadores de manter as manifestações contra e a favor do presidente.

As manifestações contra Bolsonaro deste domingo também expuseram a divisão entre os opositores do governo. A semana que se iniciou sob o símbolo da unidade chegou ao domingo com um quadro de divisões internas.

Partidos de esquerda, o PT e o PSOL decidiram ao longo da semana se somar à nova mobilização, assim como a Frente Povo sem Medo e coletivos de militância negra.

Recebidos com certa euforia por setores críticos a Bolsonaro, os manifestos da sociedade civil que buscaram evocar o clima das Diretas Já em contraposição ao presidente decidiram ficar fora da convocação. Os organizadores discordam da realização de atos agora por causa da Covid-19.

Além disso, a intenção de constituir uma frente ampla contra Bolsonaro, a exemplo da união vista em 1984 em torno do voto direto, teve na segunda-feira (1º) um revés inicial, com a declaração do ex-presidente Lula (PT) de que descartava aderir aos manifestos.

Ele disse que não é "maria vai com as outras" e que se recusa a marchar ao lado de figuras que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Citou nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que é um dos signatários do Estamos Juntos, assim como o petista Fernando Haddad. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

PVC

Qualquer torcedor também pode cobrar que o presidente cumpra seu juramento

 

A Torcida Jovem do Flamengo decidiu retirar seus símbolos e bandeiras da manifestação pela democracia, que começará às 13h de domingo (7) na praça Saenz Peña, no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, também. Como na avenida Paulista, semana passada, não haverá um movimento de torcidas uniformizadas, mas de torcedores autônomos, sócios de uniformizadas.

Corintianos, palmeirenses, são-paulinos e santistas, cidadãos brasileiros irão às ruas exigindo o respeito à Constituição e a convivência entre os três poderes.

Por mais que uma parte das torcidas uniformizadas, como a Gaviões da Fiel, tenha nascido como braço de oposição à política de seus clubes, hoje as facções são pessoas jurídicas constituídas e têm sócios de todos os espectros ideológicos. Daí a opção por não usar símbolos e bandeiras.

Mas parece necessário explicar para estes outros espectros ideológicos por que torcedores estão indo às ruas para exigir democracia. Necessário explicar especialmente para os que questionam manifestações contra um governante eleito pelo voto.

A resposta é que o presidente foi eleito pelo povo, para governar um país cuja Constituição prevê a convivência entre os três poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O Presidente fez juramento de manter, defender e cumprir a Constituição, e não pode avalizar manifestantes que defendem o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.

“São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Está na Constituição. Deste ponto de vista, qualquer instituição deve se manifestar pela democracia, mesmo tendo sócios que pensem diferente.

No caso das torcidas uniformizadas, é melhor não. Porque o simples fato de alguns de seus integrantes estarem nas manifestações foi suficiente para oportunistas discutirem se não foi esse o fator responsável pelos distúrbios.

A razão da violência nos estádios, que diminuiu, mas não desapareceu, não é a torcida uniformizada, mas a impunidade. Há todo tipo de gente debaixo das bandeiras e símbolos das facções. Apaixonados por futebol, arruaceiros, gente disposta a doações e caridade e bandidos ligados ao crime organizado.

Se quem agride e mata fosse identificado e preso, a violência teria desaparecido. Mas, por décadas, houve quem preferisse recomendar que famílias não fossem aos estádios.

Qualquer torcedor é cidadão e paga impostos para ter tranquilidade para ir ao teatro, ao cinema ou ao futebol. Cabe ao Estado oferecer segurança. Qualquer torcedor também é cidadão para se manifestar e exigir que o presidente da República cumpra seu juramento. Proteja e respeite a Constituição e ajude as pessoas a entender que o Brasil tem três poderes que devem existir e conviver.

Mas este país polarizado tem sido o avesso de tudo. Torcedores que gostam da seleção brasileira podem preferir não vestir sua camisa, porque o amarelo é usado por quem defende o fechamento do STF. Mas o amarelo é uma das cores da bandeira, da seleção pentacampeã do mundo e foi símbolo da campanha das Diretas Já, que mobilizou mais de 90% da população na década de 1980.

Enquanto isso, manifestantes pela democracia vão às ruas de preto, a cor das camisas das milícias fascistas de Mussolini.

Qualquer cidadão brasileiro tem o direito de usar amarelo, preto, azul, branco ou vermelho e de exigir o respeito aos três poderes. Não é por seu time, nem contra a cloroquina. É pela Constituição. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

PVC

Jornalista e autor de Escola Brasileira de Futebol. Cobriu seis Copas e oito finais de Champions.

 

Há um despertar crítico da sociedade

ZUENIR VENTURA

O que há de comum entre membros de torcidas organizadas e intelectuais, artistas, políticos e juristas? É que eles, depois de um longo silêncio, acabam de se expressar, por meio de manifestos e na rua, em defesa da nossa ameaçada democracia. O fenômeno veio ilustrar o que as pesquisas de opinião já apontavam: a insatisfação com o governo. Ontem mesmo, quando um importante assessor de Bolsonaro era acusado de operar robôs, isto é, de espalhar notícias falsas, era publicado o levantamento do Ibope revelando que 90% dos brasileiros querem uma legislação contra as fake news.

Antes, o mesmo instituto mostrava que 70% dos consultados consideravam o governo atual como ruim, péssimo ou regular. O resultado deu origem ao movimento #Somos70porcento, que invadiu as redes sociais.

Dos manifestos, o “Basta”, de advogados e juristas, defende com ênfase as instituições democráticas e acusa o presidente de já ter cometido crimes de responsabilidade, o que, como se sabe, pode levar ao impeachment.

O mais amplo é o #Juntos, que já conta com mais de 200 mil assinaturas, e conseguiu o que parecia impossível nestes tempos de polarização e intolerância. Juntou os contrários num mesmo texto, colocando lado a lado direita, esquerda e centro. Apresenta-se assim, olha que beleza: “Com ideias e opiniões diferentes comungamos dos mesmos princípios éticos e democráticos. Queremos combater o ódio e a apatia com afeto, informação, união e esperança.” E termina: “Vamos juntos sonhar e fazer um Brasil que nos traga de volta a alegria e o orgulho de ser brasileiro.”

Esse despertar crítico da sociedade, que parecia indiferente à indiferença de um presidente que diz ir aonde o povo está e até agora, apesar da pandemia, não visitou um hospital, preferindo o “povo” do cercadinho em frente ao palácio, foi um presente que, otimista incorrigível, recebi pelos meus 89 anos feitos esta semana, parte dos quais vividos sob a ditadura tão sonhada pelo capitão. Aliás, ele já disse que sua única restrição é que ela torturou em vez de matar mais. Fonte: https://oglobo.globo.com

Celso de Mello compara Brasil à Alemanha de Hitler e diz que bolsonaristas querem 'abjeta ditadura'

Magistrado diz que é preciso resistir à 'destruição da ordem democrática'

 

ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), enviou mensagem a ministros da corte alertando que a "intervenção militar, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia", nada mais é "senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar!!!!".

O magistrado, que é o decano da corte, compara o momento vivido pelo Brasil com o da Alemanha sob Adolf Hitler.

"Guardadas as devidas proporções, o 'ovo da serpente', à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (1919-1933) parece estar prestes a eclodir no Brasil", diz ele. "É preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar quando Hitler, após eleito pelo voto popular e posteriormente nomeado pelo presidente Paul von Hindenburg como chanceler da Alemanha, não hesitou em romper e em nulificar a progressista, democrática e inovadora Constituição de Weimar, impondo ao país um sistema totalitário de Poder", diz Celso de Mello.

Na semana passada, Bolsonaro compartilhou o vídeo de uma entrevista em que o jurista Ives Gandra Martins defende que as Forças Armadas podem agir como poder moderador, de forma pontual, quando houver impasse entre os demais poderes.

Segundo ele, a hipótese estaria prevista no artigo 142 da Constituição, que trata do papel institucional dos militares no país.

O título do vídeo retuitado por Bolsonaro era "A politização no STF e a aplicação pontual da 142". As falas de Ives Granda têm sido invocadas por defensores de uma intervenção dos militares nos outros poderes.

Juristas de outras correntes dizem, no entanto, que a ideia defendida por Ives Gandra e Bolsonaro é descabida.

O presidente e seus seguidores passaram a levantar a hipótese depois que foram contrariados por decisões do STF, que apura a tentativa de Bolsonaro de influir politicamente na Polícia Federal.

Num outro inquérito, militantes e parlamentares que apoiam o presidente são investigados por disseminar fake news e ameaças contra autoridades _entre elas, os próprios ministros do STF.

Celso de Mello relata o inquérito que investiga as acusações de Sergio Moro contra Bolsonaro sobre tentativas do presidente de interferir politicamente na PF.

Em nota, o ministro disse que a mensagem é uma "manifestação pessoal, exclusivamente pessoal, sem qualquer vinculação formal ao STF".

 

Leia, abaixo, a cópia da mensagem:

"GUARDADAS as devidas proporções, O “OVO DA SERPENTE”, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (1919-1933) , PARECE estar prestes a eclodir NO BRASIL ! É PRECISO RESISTIR À DESTRUIÇÃO DA ORDEM DEMOCRÁTICA, PARA EVITAR O QUE OCORREU NA REPÚBLICA DE WEIMAR QUANDO HITLER, após eleito por voto popular e posteriormente nomeado pelo Presidente Paul von Hindenburg , em 30/01/1933 , COMO CHANCELER (Primeiro Ministro) DA ALEMANHA (“REICHSKANZLER”), NÃO HESITOU EM ROMPER E EM NULIFICAR A PROGRESSISTA , DEMOCRÁTICA E INOVADORA CONSTITUIÇÃO DE WEIMAR, de 11/08/1919 , impondo ao País um sistema totalitário de poder viabilizado pela edição , em março de 1933 , da LEI (nazista) DE CONCESSÃO DE PLENOS PODERES (ou LEI HABILITANTE) que lhe permitiu legislar SEM a intervenção do Parlamento germânico!!!! “INTERVENÇÃO MILITAR”, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, NADA MAIS SIGNIFICA, na NOVILÍNGUA bolsonarista, SENÃO A INSTAURAÇÃO , no Brasil, DE UMA DESPREZÍVEL E ABJETA DITADURA MILITAR !!!!". Fonte: www1.folha.uol.com.br

 

Presidente dos EUA disse que financiamento antes destinado à organização passará para outras iniciativas. O republicano também criticou a China pelo desempenho na pandemia e pelas leis de segurança de Hong Kong.

 

Por G1

O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, disse nesta sexta-feira (29) que está encerrando relações com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e que vai realocar financiamento antes destinado ao órgão a outras iniciativas.

Para Trump, a OMS foi "pressionada" pela China para dar "direcionamentos errados" ao mundo sobre o novo coronavírus, causador da Covid-19.

"O mundo está sofrendo agora como resultado dos malfeitos do governo chinês", disse Trump.

O rompimento com a OMS vem em meio a uma série de desentendimentos entre o organismo e os EUA. Em abril, Trump anunciou a suspensão da verba à entidade — mas ainda não havia terminado as relações, como ocorreu nesta sexta.

Trump também acusou a China de estar à frente das decisões da OMS mesmo que Pequim financiasse menos o organismo do que os EUA, algo que vem sido criticado pelo presidente desde o início da pandemia.

"O mundo precisa de respostas da China sobre o vírus. A gente precisa de transparência", concluiu.

O governo dos EUA ainda estuda expulsar milhares de estudantes chineses de universidades norte-americanas. Segundo o presidente, a medida serviria para evitar espionagem.

As declarações foram dadas após o número de mortos por Covid-19 nos EUA ultrapassar a marca de 100 mil — o primeiro país a atingir esse total. Mesmo assim, Trump vem pedindo a reabertura da economia nos Estados Unidos.

Na coletiva, Trump também disse que tomaria medidas — incluindo sanções — à China e a apoiadores do governo chinês pelo avanço das leis de Pequim que minam a autonomia de Hong Kong. Por isso, o presidente dos EUA disse que começaria a "eliminar isenções que dão a Hong Kong um tratamento especial".

"A recente incursão da China [...] deixa claro que Hong Kong não é mais autônoma o suficiente para receber o tratamento especial que demos ao território", afirmou Trump.

Nesta semana, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, anunciou que retiraria esse status especial de Hong Kong dado pelos EUA em 1997, quando a China recebeu o controle parcial do território antes pertencente ao Reino Unido.

O endurecimento da China em Hong Kong gerou uma série de novos protestos no território — que já vinha passando por manifestações desde o ano passado, quando Pequim apertou o cerco a dissidentes do regime. Fonte: https://g1.globo.com

Vídeo evidencia intento de intervir na PF e revela aparato pessoal de informação

O registro da reunião ministerial de 22 de abril, cuja divulgação foi liberada por decisão de Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, na sexta-feira (22), traz novas evidências conclusivas sobre o que já se suspeitava: o presidente Jair Bolsonaro mente.

Depois do vídeo, a versão presidencial de que queria interferir na sua segurança pessoal, e não na superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, torna-se completamente inverossímil.

Como demonstrou reportagem da TV Globo, menos de um mês antes da reunião Bolsonaro havia promovido o responsável por sua segurança e o substituído pelo então número dois na função.

No vídeo, o presidente fala textualmente: “Já tentei trocar gente de segurança no Rio, oficialmente, e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda (...) porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele, troca o ministro. E ponto final. Não estamos para brincadeira”.

Tudo o que ocorreu depois da reunião se encaixa na narrativa do ex-juiz Sergio Moro. Não há dúvidas de que o presidente trata da PF, um órgão de Estado, quando promete ir até o fim para fazer valer a sua vontade antes que a sua família seja atingida.

De resto, o encontro do ministério entra para a história dos 130 anos da República no Brasil como um dos episódios mais execráveis do exercício do poder presidencial.

Evidencia-se, nos termos chulos, nos rompantes autoritários e nas exibições de incapacidade gerencial diante de uma crise monstruosa, que Jair Bolsonaro aviltou e avilta a Presidência da República, colocada pelos constituintes de 1988 no pináculo do edifício democrático. A democracia que o elegeu é a mesma que tem sido vilipendiada por seus atos e suas falas.

Partem do próprio presidente as ofensas a governadores. O celerado à frente da pasta da Educação quer cadeia para ministros do STF, que qualifica de vagabundos.

Mandatários estaduais e municipais também serão alvo de pedidos de prisão, promete a exaltada ministra que cuida, paradoxalmente, dos Direitos Humanos.

Um elemento a mais aparece no vídeo. Bolsonaro afirma que tem acesso a um dispositivo de inteligência particular. Ora, nada no ordenamento constitucional, nem nos princípios que norteiam as sociedades democráticas, autoriza o chefe de Estado a dispor de um aparelho pessoal de bisbilhotagem.

Por tudo o que se mostrou, o procurador-geral da República, Augusto Aras, está obrigado a aprofundar a investigação acerca da conduta de um mandatário que, além de cercar-se de assessores insanos, autoritários e incapazes, pode ter cometido crimes. Que Aras se mostre à altura do cargo que ocupa.

A apuração não pode se deter, ademais, diante de ameaças abjetas como a do general Augusto Heleno, do GSI, segundo o qual uma eventual apreensão do celular presidencial teria “consequências imprevisíveis”. Dados a baixeza e o desvario mostrados numa reunião formal, assusta de fato imaginar o que Bolsonaro diz em privado. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

No mesmo dia em que o Brasil bateu recorde de mortos por coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o uso da cloroquina e até fez piada. Em uma videoconferência, Bolsonaro anunciou um novo protocolo para o uso do medicamento e disse: 'quem é de direita, toma cloroquina, quem é de esquerda, toma Tubaína'. Jair Bolsonaro afirmou que o ministro interino, Eduardo Pazuello, deve assinar hoje o protocolo que prevê o uso da hidroxicloroquina a partir dos primeiros sintomas. Acompanhe nos destaques do Jornal da CBN. Fonte: http://cbn.globoradio.globo.com

Por Míriam Leitão

 

A ida do presidente Jair Bolsonaro, do ministro Paulo Guedes e de outros membros do governo e empresários ao Supremo Tribunal Federal pedindo a abertura da economia e a volta à normalidade é totalmente sem sentido. Parece pressão, e é. O relacionamento com o STF não pode ser dessa forma, tem que ser através dos inúmeros instrumentos jurídicos que existem. 

O que o ministro Dias Toffoli respondeu diante da pressão explícita de abertura da economia é que o Executivo deveria criar um gabinete de crise e se reunir com Estados e Municípios para agir de forma coordenada. Nem era papel dele dizer isso, mas no fim das contas ele estava falando que o governo precisa governar. 

A parte mais sem sentido da conversa foi aquela em que o ministro Paulo Guedes protesta contra a decisão do Congresso de livrar várias categorias de servidores do congelamento dos salários, quando o Brasil viu que foi o próprio presidente Bolsonaro que instruiu o líder Deputado Major Vitor Hugo para defender isso em plenário. Ou seja, isso é um assunto interno do governo, que Paulo Guedes deveria tratar diretamente com seu chefe. Aliás, por insistência da imprensa, o presidente acabou dizendo que vai vetar a decisão do Congresso de preservar algumas categorias do congelamento dos salários que ele mesmo havia recomendado. 

O empresário Marco Pollo Mello Lopes, presidente da Aço Brasil, que representa a siderurgia, pediu a reabertura do país em 15 dias. E o presidente Bolsonaro chegou a dizer o seguinte: 

– Alguns dizem que 'a economia deixa pra lá, o importante é a vida'. Não é assim não. 

A afirmação feita na reunião, pelos empresários, de que outros países estão retomando atividade distorce a realidade. São países nos quais a curva da pandemia já está descendo, a nossa está subindo de forma assustadora nos últimos dias. 

Um total despropósito, do começo ao final, essa marcha sobre o Supremo. Primeiro porque não faz sentido “decretar a normalidade” no meio de uma pandemia elevando a intensidade, segundo porque não é o presidente do Supremo que vai decidir isso, terceiro porque o presidente acabou ouvindo o óbvio: coordene, reúna-se aos governadores, faça um gabinete de crise. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

Presidente saúda manifestação em seu favor, que reuniu críticos do STF, do presidente da Câmara e do ex-ministro Sergio Moro

 

Por Hugo Marques

Desrespeitando todas as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde, o presidente Jair Bolsonaro desceu neste domingo, 3, a rampa do Palácio do Planalto sem máscara para cumprimentar pessoas que fizeram participaram de uma manifestação em seu favor na Esplanada dos Ministérios. Os apoiadores protestavam contra os ministros do Supremo Tribunal Federal, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que saiu do governo denunciando a interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal.

Em uma declaração na rampa do Palácio, que foi transmitida pela sua rede social, Bolsonaro afirmou que as Forças Armadas estão ao lado do povo, pela lei e pela ordem. Além disso, afirmou que “não haverá mais interferências no governo”. A declaração soou como uma ameaça aos outros poderes. “Peço a Deus que não tenhamos problema nesta semana. Chegamos ao limite. Não tem mais conversa. Daqui pra frente não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Ela será cumprida a qualquer preço”, disse o presidente.

Bolsonaro deixou o Alvorada e foi ao Palácio do Planalto no momento em que os manifestantes faziam uma grande concentração em frente ao Palácio do Planalto, portando bandeiras e faixas em apoio ao presidente e contra o STF, Moro e Maia. Os manifestantes realizam também desde a manhã em Brasília uma carreata em favor do presidente Jair Bolsonaro, com críticas ao ex-ministro Sergio Moro, aos ministros do Supremo Tribunal Federal e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Na contramão das recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS), a carreata provocou diversas aglomerações na Esplanada dos Ministérios, com muita gente sem máscara e sem os cuidados para evitar a contaminação pelo coronavírus. Fonte: https://veja.abril.com.br

Moro largou carreira de juiz federal para virar ministro e disse ter aceitado o convite de Bolsonaro por estar 'cansado de tomar bola nas costas'

 

Leandro Colon

BRASÍLIA

O ministro Sergio Moro (Justiça) decidiu entregar o cargo nesta sexta-feira (24) e deixar o governo de Jair Bolsonaro após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ter sido publicada nesta madrugada no Diário Oficial da União. Ele anunciou a saída do governo a pessoas próximas.

Conforme a Folha revelou, Moro pediu demissão a Bolsonaro na manhã desta quinta (23) quando foi informado pelo presidente da decisão de demitir Valeixo. O ministro avisou o presidente que não ficaria no governo com a saída do diretor-geral, escolhido por Moro para comandar a PF.

Após Moro anunciar um pronunciamento às 11h desta sexta, o Planalto enviou emissários para tentar convencer o ministro a ficar. Em vão. Moro não aceitou, mostrou-se irredutível. Nas palavras de um aliado, "os bombeiros fracassaram".

O contexto da exoneração de Valeixo foi considerado decisivo para o ministro bater o martelo.

A exoneração foi publicada como "a pedido" de Valeixo no Diário Oficial, com as assinaturas eletrônicas de Bolsonaro e Moro. Segundo a Folha apurou, porém, o ministro não assinou a medida formalmente nem foi avisado oficialmente pelo Planalto de sua publicação.

O nome de Moro foi incluído no ato de exoneração pelo fato de o diretor da PF ser subordinado a ele. É uma formalidade do Planalto.

Na avaliação de aliados de Moro, Bolsonaro atropelou de vez o ministro ao ter publicado a demissão de Valeixo durante as discussões que ainda ocorriam nos bastidores sobre a troca na PF e sua permanência no cargo de ministro. Diante desse cenário, sua permanência no governo ficou insustentável, e Moro decidiu deixar o governo.

Moro topou largar a carreira de juiz federal, que lhe deu fama de herói pela condução da Lava Jato, para virar ministro. Ele disse ter aceitado o convite de Bolsonaro, entre outras coisas, por estar "cansado de tomar bola nas costas".

Tomou posse com o discurso de que teria total autonomia e com status de superministro. Desde que assumiu, porém, acumulou série de recuos e derrotas. Moro se firmou como o ministro mais popular do governo Bolsonaro, com aprovação superior à do próprio presidente, segundo o Datafolha.

Pesquisa realizada no início de dezembro de 2019 mostrou que 53% da população avalia como ótima/boa a gestão do ex-juiz no Ministério da Justiça. Outros 23% a consideram regular, e 21% ruim/péssima. Bolsonaro tinha números mais modestos, com 30% de ótimo/bom, 32% de regular e 36% de ruim/péssimo.

O ministro, nos bastidores, vinha se mostrando insatisfeito com a condução do combate à pandemia do coronavírus por parte de Bolsonaro. Moro, por exemplo, atuou a favor de Luiz Henrique Mandetta (ex-titular da Saúde) na crise com o presidente.

Aliados de Moro avaliam que ele foi um dos alvos da recente declaração de Bolsonaro de que usaria a caneta contra "estrelas" do governo.

"[De] algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona", afirmou Bolsonaro, no início do mês, a um grupo de religiosos que se aglomerou diante do Palácio da Alvorada.

​Sob o comando de Moro, a Polícia Federal viveu clima de instabilidade no ano passado, quando Bolsonaro anunciou uma troca no comando da superintendência do órgão no Rio e ameaçou trocar o diretor-geral.

No meio da polêmica, o presidente chegou a citar um delegado que assumiria a chefia do Rio, mas foi rebatido pela Polícia Federal, que divulgou outro nome, o de Carlos Henrique de Oliveira, da confiança da atual gestão. Após meses de turbulência, o delegado assumiu o cargo de superintendente, em dezembro.

No fim de janeiro, o presidente colocou de volta o assunto na mesa, quando incentivou um movimento que pedia a recriação do Ministério da Segurança Pública. Isso poderia impactar diretamente a polícia, que poderia ser desligada da pasta da Justiça e ficaria, portanto, sob responsabilidade de outro ministro.

Bolsonaro depois voltou atrás e disse que a chance de uma mudança nesse sentido era zero, ao menos neste momento.

Com a demissão, Moro vê mais distante a possibilidade de ser indicado pelo presidente para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). Sobre isso, Moro já respondeu que essa é uma "perspectiva interessante" e que seria como ganhar na loteria.

Pelo critério de aposentadoria compulsória aos 75 anos dos ministros do Supremo, as próximas vagas serão as de Celso de Mello, em novembro, e Marco Aurélio Mello, em julho de 2021. A indicação de ministros do Supremo é uma atribuição do presidente que depois precisa ser aprovada pelo Senado. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Por Míriam Leitão

Os dois pilares do começo do governo Bolsonaro eram o ministro Sergio Moro e o ministro Paulo Guedes, e nas últimas 24 horas ele atacou os dois. Ameaçou demitir o diretor da Polícia Federal sabendo que isso provocaria uma crise com Moro e mandou organizar um plano de retomada econômica sem Paulo Guedes. O que quer Bolsonaro? Encontrar-se consigo mesmo. Ele nunca foi um ativista anticorrupção, usou a bandeira por interesse eleitoral. Ele nunca foi um liberal na economia, fingiu ser por interesse eleitoral.

Bolsonaro disputou a eleição brandindo bandeiras estrangeiras à sua essência, por oportunismo político. Tanto Moro quanto Guedes se deixaram usar. Nenhum dos dois desconhece a verdadeira natureza de Bolsonaro, mas eles fizeram cálculos ao entrar no governo. Guedes achava que convenceria o presidente de que o liberalismo levaria a um crescimento forte e, portanto, ao sucesso econômico. E político. Moro tornou-se ao longo da Lava-Jato um conhecedor profundo do submundo da política e sabia que, quando deputado, Bolsonaro esteve no mesmo partido de alguns dos seus réus. Guedes sempre quis ser ministro da Economia e implantar o seu projeto porque estava convencido que saberia fazer melhor do que os seus antecessores “social-democratas”, como os define a todos. Moro sempre quis ser ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Moro se tornou um novo Mandetta, ou seja, um ministro cuja demissão não é uma questão de “se”, mas de “quando”. O presidente Bolsonaro sempre recua quando há uma reação forte às suas decisões, mas depois dá o troco.

Era previsível que Bolsonaro apontaria suas baterias contra a Polícia Federal neste momento. Muitas ameaças pesam sobre a cabeça da família Bolsonaro e todas elas passam pela PF: a investigação do submundo das fakenews e dos ataques sórdidos aos supostos adversários políticos feitos pelo gabinete do ódio comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro, a investigação sobre o que se passava no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, onde o ex-capitão do Bope e miliciano Adriano da Nóbrega teve influência e emprego para a mãe e a ex-mulher. E, para culminar, o inquérito aberto a pedido da PGR sobre as manifestações antidemocráticas. O procurador-geral - que também tem sonho antigo por uma cadeira no Supremo - tentou ao máximo blindar o presidente, apesar de ele ter sido o grande inspirador e animador do ato que pedia o fechamento do Congresso e do Supremo. Mesmo com a blindagem da PGR, o inquérito pode chegar a pessoas ligadas a Bolsonaro, política ou pessoalmente. Por isso, o movimento óbvio que Bolsonaro faria era o que sempre quis: tentar controlar a Polícia Federal.

Moro sairá do governo, quando sair, com o peso de silêncios demais. Nos últimos dias, por exemplo, diante do ataque direto do presidente Bolsonaro às instituições, endossando com sua presença em ato com bandeiras anticonstitucionais, ele nada disse. Deveria. O Ministério da Justiça é o mais antigo do Brasil e é o que faz a ligação entre os poderes. Se ele não viu, foi mais um caso de cegueira deliberada. E era um bom motivo para defender princípios e valores. Afinal, foi durante anos membro da magistratura. Deveria saber a gravidade de se defender um Ato Institucional que rasga a Constituição.

A situação de Guedes é diferente. Aquele plano que foi apresentado como o depois da pandemia é apenas um borrão e o ministro da Casa Civil faz mesmo a coordenação dos outros ministérios. É que no governo Bolsonaro Onyx Lorenzoni nunca foi capaz de exercer esse papel. O general Braga Netto tem mais habilidade. O problema é que o primeiro esboço do plano tem aquele ar de um PAC mal feito.

Foi Guedes quem levou o convite de Bolsonaro a Moro para integrar o governo. Aos dois, o presidente disse que daria carta branca. Era mentira. Nenhum dos dois teve autonomia. Guedes tem uma lista grande de derrotas nas suas bandeiras. Nem a reforma Administrativa ele conseguiu tirar da mesa do presidente. Moro também tem uma coleção de derrotas e chegou na crise de ontem não tendo sequer uma sombra do projeto que disse que realizaria no governo. Guedes sabe que quando militares e o presidente da Fiesp se encontram, como ontem, para discutir um plano econômico, não há espaço para o seu projeto liberal. (Com Alvaro Gribel, de São Paulo). Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

Mas parece que Bolsonaro finalmente acordou

*Antonio Delfim Netto

 

Alguma coisa se move, além da Covid-19. Depois de jogar fora 1/3 de seu mandato, Bolsonaro, que se submeteu à pior Casa Civil da história da República, parece ter acordado. Creio que entendeu, finalmente, que a única solução possível para administrar o país é escolher alguns partidos e dividir com eles, republicanamente, o poder.

A tal "nova política" desestruturou o seu poder e o transformou em "dependente" das decisões do Legislativo e do Judiciário. E tinha que ser assim mesmo. Ele tem muito poder, mas só pode exercê-lo se negociar com o Congresso, dentro das limitações constitucionais controladas pelo Supremo Tribunal Federal. A prova disso é que o sucesso do Ministério da Agricultura se deve exatamente ao fato de ele ter a sua própria bancada no Congresso.

Como se já não bastassem essas nuvens ameaçadoras, chegamos à tempestade perfeita com mais uma pandemia das tantas que já habitaram a história do homem, a Covid-19, que nos ameaça de morte. Renova o velho terror hobbesiano que o levou a entregar parte de sua liberdade a um ente abstrato --o Estado-- para que este garanta a sua segurança.

Bolsonaro, que, todos sabemos, recusa a evidência empírica, começou classificando a pandemia como uma "gripezinha" qualquer. E continua resistindo às recomendações de seu Ministério da Saúde (mesmo o "novo"), talvez por inspiração de alguns líderes evangélicos, para os quais a Covid-19 é "obra de Satanás".

Tem agido muito mal ao permitir que seus correligionários se aglomerem e façam manifestações contra as regras da Organização Mundial da Saúde e de nossas instituições. Como é impermeável à experiência, é cego em relação à tragédia humana imposta aos EUA por seu "guru", Trump, à reação inicial do cabeça-dura Boris, no Reino Unido, e, o que parecia impossível, ao absurdo comportamento do primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, que, para a vergonha de seus pares, demonstrou que a famosa virtude escandinava tem exceções...

Se quiser enfrentar com algum sucesso o comportamento —até agora defensivo, mas hoje ofensivo— das direções da Câmara e do Senado, só lhe resta fazer o que deveria ter feito em novembro/dezembro de 2018: escolher alguns partidos, formar uma coalizão e dividir com eles o poder, para administrar como se faz em qualquer República onde se pratica o Estado democrático de Direito.

Talvez seja só otimismo de um velho que torce para ver o Brasil vencer a Covid-19 e, no terceiro trimestre de 2020 (se estiver vivo), assistir à recuperação do crescimento e do emprego. É isso que, na minha opinião, sugere a manobra política iniciada a partir da nova Casa Civil.

*Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br