Prêmio foi para uma aposta de 49 cotas

A assessoria da liderança do Partido dos Trabalhadores (PT) confirmou ao Correio Braziliense que funcionários do partido ganharam a aposta de R$ 120 milhões da Mega-Sena. O prêmio foi sorteado na noite desta quarta-feira (18/9).

Importante lembrar que o prêmio foi para um bolão de 49 cotas. No total, o prêmio soma R$ 120.085.143,90.

Os números sorteados foram 04-11-16-22-29-33. 

Além da Mega-Sena, a Caixa também sorteou os prêmios da Quina, Lotofácil e Loteria Federal. Os resultados você pode conferir pelo link.

Deputados comentam prêmio 

No momento em que a informação veio a público ocorria sessão no Plenário da Câmara dos Deputados. O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) aproveitou para comemorar que "o PT vai ficar um mês sem liderança, sem obstruir o Plenário." O deputado ainda brincou que queria saber se os ganhadores iriam "socializar" o prêmio. O presidente da Cãmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),  ementou dizendo que Kim deveria ser liberal em tudo.  Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br

POR MERVAL PEREIRA

A incongruência  desse governo, em dizer-se parte do mundo ocidental e defender posições completamente em desacordo com os legados mais básicos da cultura desse mundo, ficou patente na recente crise das queimadas da Amazônia.

Como se fosse uma síntese de suas convicções mais arraigadas, no mesmo episódio o presidente Bolsonaro menosprezou os problemas do meio-ambiente, embora tenha sido avisado pelos estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e entrou em conflito, direto e pessoal, com o presidente Emmanuel Macron, da França, país símbolo das liberdades individuais e dos direitos humanos, legados fundamentais do Ocidente à civilização.
Civilidade que não esteve presente no desacato à primeira-dama francesa, Brigitte Macron. Embora tenha dito que não a ofendeu, Bolsonaro apagou sua mensagem misógina do twitter, numa autoincriminação.

Aproveitando-se de uma demagogia ecológica de Macron, que tentou levar a discussão para o lado da internacionalização da Amazônia, Bolsonaro tirou da manga a carta do patriotismo que, como disse Samuel Johnson, numa versão amenizada, é o último refúgio dos sem argumentos.

Não era preciso, Macron foi isolado pelos demais líderes europeus de peso, como Angela Merkel, da Alemanha e Boris Johnson, da Inglaterra.

Talvez seja a faceta mais nauseante de seu comportamento como chefe de Estado o retrocesso que pretende impingir a uma sociedade que avançou em medidas sociais desde a Constituição de 1988, e nos últimos anos vem ampliando essas conquistas com decisões que nos colocaram no campo de valores comportamentais progressistas contemporâneos.

Falta ao presidente a compreensão de que é o representante de um país, e não de um restrito grupo de apoiadores que comungam seus pensamentos e se apresenta nas redes sociais de maneira acafajestada.

Bolsonaro não leva em conta alguns dos grandes legados  das democracias ocidentais: separação da figura pessoal do governante, e suas próprias opiniões, do cargo institucional que representa; separação dos assuntos de Governo e de Estado; separação entre Estado e Religião, qualquer que ela seja. Cotidianamente vai de encontro a tudo isso.

Na visão de seus mentores, como Olavo de Carvalho, o espírito ocidental estaria sendo mitigado por uma política globalista, e é preciso reforçar a herança histórica, cristã, cultural, bem como o papel da família e do estado de direito a partir da tradição do liberalismo dos EUA.

Seria preciso resgatar o passado simbólico das nações ocidentais, mais calcado no imaginário representado por Trump do que pelas democracias européias.

Falando em seminário da Academia Brasileira de Letras, no encerramento de um ciclo coordenado pela escritora Rosiska Darcy de Oliveira intitulado “O que falta ao Brasil?”, o embaixador e ex-ministro Rubem Ricupero fez uma análise sobre o país às vésperas do bicentenário de sua independência.

Seu temor, registrado no título da palestra - Um futuro pior que o passado? – se baseia na história recente, cujo presente vê atingido por “desgraças simultâneas” que produziram o efeito equivalente ao da guerra “sobre uma sociedade até então poupada de catástrofes históricas, como derrotas e ocupações estrangeiras”.

Para Ricupero, “o Brasil jamais tinha passado por retrocesso tão destrutivo na vida das pessoas por meio do desemprego, do aumento da pobreza, do desalento. Nem experimentara nada equiparável ao profundo impacto depressivo dos escândalos de corrupção que destruíram a autoestima de todo um povo”.

Esse passado próximo, lamenta, não acabou de passar, é ainda o nosso presente. “Neste mesmo instante, ele continua a nos fazer sofrer na persistência da estagnação econômica, do desemprego, do retrocesso social, da barbárie das prisões, da corrupção, da destruição da Amazônia, da degradação dos homens que nos desgovernam”.

O que considera “a mais angustiante crise de nossa História”, Ricupero vê agravada “pelo advento de um governo retrógrado, cujo único programa reside na demolição sistemática do passado”.

Mas, o pior, analisa o ex-ministro Rubem Ricupero, é que “perdemos a esperança, isto é, a confiança de que o futuro nos trará remédio às agruras do presente, da mesma forma que antes o presente costumava superar problemas do passado”.  (Amanhã: “Dar sentido à vida”). Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

 

Com financiamento do vice-presidente americano, Capitol Ministries, que tem o objetivo de “converter” políticos a uma visão evangélica da política, já abriu ministérios em seis países latinoamericanos desde 2017.

 

Por Andrea Dip e Natália Viana, da Agência Pública

“Esse estudo não é sobre se Deus aceita ou não uma guerra. Ele aceita”, anuncia o pastor americano Ralph Drollinger, em um dos seus estudos bíblicos semanais, com uma voz emotiva porém pausada, calculada para que os visitantes de seu site acompanhem o raciocínio. Em seguida, explica que a frase bíblica “Bem-aventurados são os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9) diz respeito apenas a “como os fiéis devem conduzir suas vidas pessoais”. Ou seja: não vale para os governos, que podem, sim, ir à guerra.

Publicado em maio de 2018, aquele “estudo bíblico” tinha razão de ser, segundo o próprio pastor: ajudar os membros do Governo americano a refletir sobre “a ameaça de guerra com a Síria, o Irã e a Coreia do Norte” —movimentos iniciados pelo presidente americano Donald Trump. E convencê-los de que ir à guerra é abençoado pela própria Bíblia. Dias depois, Drollinger seria ainda mais explícito na sua pregação, ao pedir que “você, como servidor público, ajude a reduzir a tendência antibíblica secular em direção ao pacifismo e não intervencionismo! Isso vai levar a um crescente caos global!”.

Não foi a primeira vez nem seria a última que o fundador do ministério evangélico Capitol Ministries encontraria na Bíblia uma justificativa para as ações mais radicais do governo Trump. Afinal, o objetivo da igreja fundada por Drollinger é basicamente “converter” políticos e servidores públicos a uma visão cristã evangélica da política que se casa perfeitamente com a visão da ultradireita americana. “Sem essa orientação, é bem mais difícil chegar a políticas públicas que satisfaçam a Deus e sejam benéficas ao progresso da nação”, resume Drollinger em um dos estudos em seu site.

Enquanto o presidente americano nega os acordos sobre o aquecimento global —e questiona abertamente se ele de fato existe—, Drollinger rechaçaem outro estudo bíblico que o homem possa impactar o meio ambiente. “Todos devem ficar seguros sobre a habilidade e vontade d’Ele de sustentar o ecossistema do nosso mundo”, diz, concluindo, com voz exaltada: “Que verdades gloriosas Deus nos deu! São um tapa na cara dos teóricos de moda que tentam nos assustar com o aquecimento global”.

E se alguém questiona se a maior promessa de Trump —construir um muro na fronteira com o México para evitar a entrada de imigrantes e refugiados— pode conviver com o princípio cristão da compaixão, ele tem a resposta pronta: “Compreende-se do Gênesis 11 que as nações, pelos desígnios de Deus, devem ter diferentes línguas, culturas, e fronteiras”, raciocina. “As leis imigratórias de cada nação devem ser baseadas na Bíblia e estritamente aplicadas— com a absoluta confiança e a garantia de que Deus aprova tais ações.” Quem garante é o pastor.

A Capitol Ministries —nome que significa “Ministério do Capitólio”, símbolo do Congresso americano— foi fundada pelo ex-jogador de basquete Ralph Drollinger na Califórnia, em 1996, para “criar discípulos de Jesus Cristo na arena política pelo mundo todo”. A ideia do pastor era levar para a política seu trabalho anterior, focado em evangelizar atletas.

Até o ano 2010, seu público eram deputados estaduais; naquele ano, o primeiro ciclo de estudos foi fundado em Washington, no Congresso americano. Mas foi em 2017 que Drollinger deu seu salto para o primeiro plano da política mundial, quando fundou o primeiro grupo de estudos dedicado apenas a membros do Governo de Donald Trump. O encontro semanal, em um local não revelado, reúne dez membros do alto escalão do Governo, incluindo o vice-presidente, Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, que dirige a política externa. O ex-diretor da Agência de Proteção Ambiental Scott Pruitt, que articulou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, sobre aquecimento global, e já questionou o efeito de emissões de carbono sobre o clima, também chegou a participar.

Muito além de um simples falatório, as pregações de Drollinger têm efeito prático em um Governo que mais de uma vez reconheceu ter sido eleito graças ao voto evangélico. Em junho do ano passado, um de seus sermões foi usado pelo ex-procurador-geral Jeff Sessions para apaziguar os corações dos eleitores quanto à detenção de milhares de crianças imigrantes em péssimas condições na fronteira com o México. “Eu citaria a vocês o apóstolo Paulo e seu comando claro e sábio em Romanos 13, para obedecer às leis do Governo porque Deus ordenou o Governo para seus desígnios”, disse Sessions, invocando a Bíblia, e não a legislação americana, como justificativa. Enquanto a imprensa americana reagia chocada, Drollinger fez questão de expor suas digitais por trás da declaração.

“Eu tive a distinta honra de ensinar a ele sobre esse assunto e muitos outros”, disse. “Não há nada mais animador, quando você é um professor da Bíblia, do que ver um dos caras com quem você está trabalhando articulando algumas coisa que você ensinou.” A frase, de fato, é uma repetição do manual básico de Drollinger, e Sessions, quando estava no Governo, realmente frequentava seus estudos bíblicos.

Separar pais dos seus filhos seria aprovado pela palavra de Deus, diz o pastor. “Quando alguém viola a lei de um país, deve antecipar que uma das consequências do seu comportamento ilegal será a separação dos seus filhos. É esse o caso de ladrões ou assassinos que são presos”, justifica.

 

Em busca de Bolsonaro, Capitol chega ao Brasil

Financiada pelo vice-presidente Mike Pence e pelo secretário de Estado Mike Pompeo, segundo afirmou o próprio Drollinger em seu site, a Capitol Ministries também se vale da influência do Governo americano para cumprir sua missão, entre aspas, divina: dominar o mundo. Desde o ano passado, abriu capítulos em cinco países latino-americanos —México, Honduras, Paraguai, Costa Rica e Uruguai—, anunciou que abrirá em outros dois —Nicarágua e Panamá— e acaba de aportar no Brasil, com lançamento oficial programado para a segunda quinzena de agosto no Senado Federal, “sem muita badalação, voltado apenas para autoridades” e “com a presença de Drollinger e sua esposa”, como explicou à Pública o pastor da Igreja Batista Vida Nova, Raul José Ferreira Jr., que será o responsável por conduzir os estudos bíblicos no Senado, na Câmara.

Ele diz ainda que, “se Deus permitir”, vai conduzir também estudos bíblicos na Casa Civil junto ao presidente Jair Bolsonaro e seus ministros, traduzindo as palavras do pastor americano para o presidente brasileiro. “Nós estamos realmente trabalhando firme para que possa haver ao menos um encontro do pastor Drollinger com o presidente Bolsonaro agora em agosto, para que a partir daí a gente possa desenvolver um trabalho. Mas, mesmo que o presidente não esteja entre eles, nós vamos tentar construir um trabalho dentro da Casa Civil, junto dos ministros diretamente ligados ao palácio”, diz.

O objetivo dos estudos bíblicos, que são traduzidos para o espanhol e em breve para o português, é disseminar a visão de Drollinger sobre o cristianismo aplicado à política. “Nossa ideia é chegar a nível de Presidência da República e ministros, primeiro escalão. A gente tem um slogan que é ‘first the firsts’, ou seja, primeiro os primeiros. Através dessas pessoas com relevância a gente pode mudar o destino da nossa nação”, diz o pastor Ferreira Jr., que, indicado pelo diretor regional no Brasil, pastor Giovaldo de Freitas, passou por uma semana de treinamento em Seattle com Ralph Drollinger e sua equipe.

As aspirações da Capitol Ministries no Brasil são ambiciosas, embora o pastor Ferreira Jr. chame de “trabalho de formiguinha”: conduzir, a portas fechadas nos gabinetes, reuniões bíblicas individuais com parlamentares, especialmente os não convertidos, além de reuniões coletivas semanais —e ainda garantir que cada parlamentar do Congresso Nacional receba os estudos impressos, por e-mail e por mensagem no celular. “Nosso objetivo é reconstruir a nação a partir de valores cristãos que são forjados através do estudo da palavra”, define o pastor.

Para tanto, ele diz que o ministério de Drollinger já conta com o apoio de alguns parlamentares que são membros atuantes da Frente Parlamentar Evangélica, como o senador e pastor Zequinha Marinho (PSC-PA), o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e o deputado e também pastor Roberto de Lucena (Podemos-SP).

 

Giovaldo Freitas, o homem da Capitol Ministries no Brasil

As negociações para a chegada da Capitol Ministries ao Brasil começaram ainda no Governo Temer, em 2017, como explicou à Pública o diretor do ministério no Brasil e pastor da Igreja Batista de Moema, Giovaldo Freitas, em seu escritório em São Paulo. Naquele ano, Giovaldo era parte do Global Leadership Summit, uma organização evangélica americana que realiza grandes eventos de capacitação para lideranças empresariais no mundo todo. Em um dos eventos do grupo em Chicago, o pastor foi convidado pelo hoje coordenador da Capitol Ministries na América Latina, o peruano Oscar Zamora, a participar de um almoço que acertaria os detalhes da vinda do ministério para o Brasil.

Giovaldo passou então pelo treinamento de Drollinger em Washington com pessoas do mundo todo: “Tinha várias pessoas da América Latina, alguns do Caribe, da Europa, gente da Ásia... Gente da Argentina, Paraguai, Uruguai, Equador, Colômbia, Bermudas, Bahamas, Guatemala, Honduras, Costa Rica, México, Holanda, Romênia, Rússia...”, lembra. E acrescenta: “Foi muito interessante porque de repente eu me vejo ali conversando com um senador americano superempolgado porque estava vindo para o Brasil. Nessa reunião tinha oito senadores e dois deputados [americanos]”. O pastor não quis revelar os nomes dos políticos americanos presentes, mas disse que também houve, na ocasião, um painel com a presença de três secretários de Trump: a secretária de Educação, Betsy DeVos, o secretário de Energia, Rick Perry. e o da Agricultura, Sonny Perdue.

Segundo ele, os laços religiosos têm dado frutos políticos: “Inclusive, esse secretário de Energia tem mantido conversa com nosso ministro de Minas e Energia exatamente por causa da chegada da Capitol Ministries”, revela.

Desde então, o pastor descreve que várias negociações aconteceram no Congresso brasileiro, além de reuniões com embaixadores do Itamaraty e com o chefe de gabinete de Temer, em maio de 2018, “para decidir algumas coisas” sobre o lançamento no Brasil, segundo Giovaldo. Questionado pela reportagem, ele não quis entrar em detalhes. A Pública encontrou registros de uma reunião com o então ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Ronaldo Fonseca, em julho do ano passado, na qual estavam Giovaldo e outro ex-membro da Capitol Ministries, o pastor Evandro Beserra.

Embora diga que a intenção do ministério não é “levantar bandeiras”, o pastor admite que existe uma aproximação natural com os partidos mais à direita. O novo Governo é, para ele, o cenário ideal para a chegada: “Na primeira semana de abril, nos reunimos com o Onyx Lorenzoni [ministro-chefe da Casa Civil], que foi muito receptivo, evangélico do Rio Grande do Sul, foi um tempo muito gostoso. O presidente Bolsonaro estava em Israel, então não pudemos ter contato, mas fomos muito bem recebidos”, comentou.

Segundo a professora de direito e diretora do Centro Jurídico sobre Gênero e Sexualidade na Universidade de Columbia, Katherine Franke, a exportação de missões fundamentalistas dos EUA para a América Latina, com a bênção do Governo federal, viola os princípios de separação de Estado e Igreja determinada pela Constituição dos Estados Unidos. “O Governo está promovendo a religião como um projeto oficial do Governo e isso claramente viola uma das cláusulas. Mais ainda, o Governo está promovendo uma visão particular da religião, sem fazê-lo imparcialmente. E esse é um segundo tipo de violação ”, disse a especialista à coalizão de veículos que faz parte do projeto “Transnacionais da Fé”, que publica esta reportagem.

 

Batistas à frente 

Para Christina Vital da Cunha, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião, alguns elementos se destacam nessa chegada do ministério de Drollinger ao Brasil: um deles seria o novo protagonismo político da Igreja Batista, antes vista como mais progressista e também mais afastada da política —ministra Damares Alves é pastora batista, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também, além de outros integrantes do Governo. É o caso da Igreja Batista Vida Nova, de Raul José Ferreira Jr., que liderará os estudos dentro do governo.

“A gente pode observar um elemento diferente do que vinha acontecendo no Brasil desde então, que é uma afinação orgânica entre Estados Unidos e outros países da América Latina a partir desse elemento religioso e que tem na política institucional um lugar importante de atuação. Se vê um alinhamento conservador no Brasil, na América Latina e em outros países no mundo, que nos países da América Latina tem nesses religiosos evangélicos e católicos seus principais atores”, aponta. E chama atenção para a legitimação de um discurso à direita por meio da Bíblia, algo que já tem sido feito em certa medida no Brasil desde a campanha de Bolsonaro. “Outra coisa a se observar é se haverá disputas de poder com instituições já estabelecidas, como a Igreja Universal e a Assembleia de Deus.”

À Pública, o pastor Giovaldo adianta que existe distinção entre o trabalho da Capitol Ministries e o da Frente Parlamentar Evangélica: “São coisas diferentes. Nosso objetivo lá dentro não são os evangélicos. Os estudos bíblicos são pra quem não tem uma relação com a igreja, com Deus. É de evangelização, caminhar junto, orar. Aí, se porventura alguns reconhecerem Cristo como seu Senhor e salvador, eles poderão vir a fazer parte da FPE [Frente Parlamentar Evangélica]”, diz, apesar de reconhecer que a parceria com parlamentares evangélicos —como os citados pelo pastor Ferreira Jr.— é fundamental e que os primeiros estudos bíblicos serão conduzidos no gabinete do senador Zequinha Marinho e no do deputado Silas Câmara (PRB-AM), pastor da Assembleia de Deus e presidente da Frente Parlamentar Evangélica.

 

Na América Latina

Drollinger nega que sua organização faça lobby, reconhecendo apenas que seu objetivo é converter políticos para Cristo. Mas a Capitol Ministries chegou a Honduras, país centro-americano, pelas mãos do próprio vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. Em junho de 2018, quando o presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, fazia uma visita oficial a Washington, Mike Pence e o secretário de Estado, Mike Pompeo,sugeriram a ele que iniciasse um capítulo da Capitol Ministries na presidência e em seu Congresso.

“Também é bom saber que o vice-presidente Pence e o secretário de Estado Pompeo influenciaram de maneira tão efetiva o presidente Hernández para lançar o Capitol Ministries entre os membros do gabinete”, escreveu Ralph Drollinger no comunicado de inauguração dos estudos bíblicos em Honduras, em 8 de novembro de 2018.

Em 2017, Drollinger recrutou Oscar Zamora, um pastor peruano que estudou teologia no West Coast Christian College, na Califórnia. Desde então, Zamora viaja pelo continente negociando a abertura de ministérios nos parlamentos da região, mantendo um perfil discreto e evitando dar entrevistas. Os pastores, como aconteceu com Giovaldo, são recrutados no Global Leadership Summit, programa que ele lidera na América do Sul. Três dos pastores de Drollinger afirmaram à reportagem que as reuniões são financiadas com recursos americanos.

Na Costa Rica, a Capitol Ministries ficará a cargo do presidente da igreja Assembleia de Deus, Ricardo Castillo Medina. O religioso vai dirigir os estudos da Bíblia entre os membros do Congresso, “para que possam tomar decisões baseadas em uma consciência pura e limpa”, diz. Em março deste ano, Ralph Drollinger e sua esposa, Danielle, foram até o país se reunir com um grupo de congressistas em um café da manhã convocado sob o lema “Reconstruindo uma Nação” —nome do livro de sua autoria— no hotel Radisson, em um elegante bairro da capital.

“Quero dizer a vocês que o vice-presidente Mike Pence e o secretário de Estado Mike Pompeo me pediram que eu os saúde. Esses dois homens amam a Jesus Cristo com todo o seu coração e eles estão impactando, literalmente, o mundo inteiro. Eles estão tomando esses princípios e com sua personalidade os projetam”, disse Drollinger. E previu: “Se você conquista líderes políticos para Cristo, vai ter conquistas residuais para seu país; vai ter efeitos enormes, muito positivos sobre a direção que tomará a Costa Rica”.

Mas não é só de governos orgulhosamente de direita que a Capitol Ministries tem se aproximado. No último dia 19, durante as comemorações dos 40 anos da Revolução Sandinista na Nicarágua, lideradas com pompa por Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, em meio a uma crise política que matou mais de 300 pessoas, levou mais de 500 manifestantes à cadeia e a milhares de exilados, Ralph Drollinger estava lá. Segundo uma nota à imprensa, foi o próprio Ortega quem convidou a Capitol Ministries a abrir o ministério no país. No convite, Ortega declarou: “Sabemos que, se as pessoas a quem Deus confiou o destino da nação nascerem de novo, nossos deputados legislarão de acordo com a Bíblia”. E foi assim que, diante de milhares de pessoas, Drollinger ressaltou os valores cristãos do país e agradeceu a oportunidade oferecida pelo Governo de Ortega. “Eu oro pela sua nação, oro por você, oro pelos líderes do Governo para que todos possamos refletir os atributos de Cristo todos os dias”, disse Drollinger, segundo o jornal oficial La Voz del Sandinismo.

A guerra contra a Igreja Católica liderada pelo Governo de Ortega certamente entra nessa conta. Em entrevista à Pública em julho de 2018, o escritor e ex-vice-presidente do país Sergio Ramírez disse que um dos pontos mais sensíveis à possível reeleição em 2021 era justamente este: “Ortega também tem a Igreja Católica contra ele. O governo começou a atacar igrejas católicas, como no caso do tiroteio de 15 horas na Igreja da Divina Misericórdia, em Manágua [em 13 de julho, estudantes refugiados na igreja sofreram 15 horas de tiros da polícia]. Estão atacando padres, quebrando templos católicos. Parece-me que se meter contra a Igreja Católica em um país eminentemente católico como o nosso é uma guerra perdida”.

Os estudos bíblicos no gabinete presidencial e no Congresso nicaraguense ficarão a cargo de Arsenio Herrera, pastor da maior igreja evangélica de Manágua, Hosanna Church. Herrera foi discípulo do criador da Hosanna, o americano David Spencer, a quem se atribui o feito de ter convertido mais de 500 almas por semana nos primeiros anos da igreja e que, pouco antes de sua morte, recebeu de Ortega e Rosario Murillo a cidadania nicaraguense em honra aos serviços prestados ao povo da Nicarágua.

 

Reportagem: Andrea Dip e Natália Viana (Agência Pública)

Essa reportagem faz parte do projeto “Transnacionais da Fé”, uma colaboração de 16 meios latinoamericanos, sob a liderança da Columbia Journalism Investigations da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia (Estados Unidos). Os parceiros latinoamericanos são: Agência Pública (Brasil); El País (Uruguai); CIPER (Chile); El Surtidor (Paraguai); La República (Peru);Armando.info(Venezuela); El Tiempo (Colombia); La Voz de Guanacaste e Semanario Universidad (Costa Rica); El Faro (El Salvador); Nómada e Plaza Pública (Guatemala); Contracorriente (Honduras); Mexicanos Contra la Corrupción y la Impunidad (México); Centro Latinoamericano de Investigación Periodística (CLIP); e Univisión (Estados Unidos). Fonte: https://brasil.elpais.com

Sim, precisamos de heróis

Moro não disputou eleição, não fez campanhas, mas se tornou uma forte liderança moral e política

 

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Nesta semana, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Tofolli, disse que a Lava-Jato não é uma instituição e que o Brasil não precisa de heróis, mas de projetos.

Data venia, cabe discordar. Primeiro, o Brasil precisa, sim, de heróis, por uma razão simples: há muitos vilões entre nós, e vilões em posição de mando. E também porque certas mudanças só ocorrem quando são promovidas por lideranças reconhecidas pela sociedade.

Esse reconhecimento não precisa ser pelo voto. Joaquim Barbosa nunca disputou uma eleição, jamais fez campanha ou coisa parecida. Mas tornou-se um presidenciável pela sua atuação — tão forte quanto inesperada — no processo do mensalão. Foi uma mudança e tanto, não é mesmo?

O STF, mais conhecido por atrasar ad infinitum os casos envolvendo os agentes públicos com foro privilegiado, dedicou-se inteiramente, por meses, a julgar corruptos de primeiro escalão. Sob a clara liderança de Joaquim Barbosa. Se um herói é alguém sem o qual certas mudanças não ocorreriam, então o ex-ministro tornou-se um deles.

O que nos leva ao caso Lava-Jato. Se o STF quebrou o gelo e colocou a corrupção na mira do Judiciário, a Lava-Jato culminou o processo. Formalmente, trata-se de uma operação, uma simples força-tarefa — “reles” tarefa, gostariam alguns — mas alguém duvida que, na sociedade, tornou-se uma instituição superior?

Sergio Moro também não disputou eleição, não fez campanhas, mas se tornou uma forte liderança moral e política. Um herói, no modo como Joaquim Barbosa.

A resistência à Lava-Jato revela, em setores jurídicos, uma combinação de inveja e ciúme. Como pode um simples juiz de primeira instância — de novo, um “reles” juiz? — tornar-se uma figura nacional? Fonte: https://oglobo.globo.com

Infelizmente, Bolsonaro continua se comportando como um militar de baixa patente, mau e alinhado com a defesa dos crimes praticados por agentes dos porões. Por Eugênia Augusta Gonzaga

O presidente Jair Bolsonaro sempre proferiu palavras extremamente ofensivas à memória de mortos e desaparecidos políticos e a seus familiares. Porém, uma vez eleito presidente da República, ele precisaria se conscientizar de que o cargo impõe deveres e não lhe dá o direito de ofender cidadãos e cidadãs, mesmo aqueles que não fazem parte do público que o elegeu.

O seu comportamento nos últimos dias demonstra cabalmente que ele não compreende o caráter republicano do seu cargo, que significa que ele deve governar um país e não para seus eleitores. Ele não assimilou sequer que esse país tem uma Constituição sobre a qual jurou, tem leis e condenações nacionais e internacionais que ele deve cumprir.

Infelizmente, o presidente continua se comportando como um militar de baixa patente, mau e alinhado com a defesa dos crimes praticados por agentes dos porões.

A crueldade da ofensa que Bolsonaro lançou à família Santa Cruz para satisfazer seu desejo de humilhar o presidente de uma das mais importantes instituições brasileiras é típica do comportamento desses agentes e não de um presidente da República. O que ele disse foi uma “contrainformação”, ou seja, uma versão que serve para confundir e manter as famílias das vítimas sob tensão e com receio de reagir para evitar que a reputação de seus entes queridos seja assassinada também. Com isso, a contrainformação desvia o foco das verdadeiras responsabilidades, dificulta as investigações e garante a impunidade.

A dificuldade de Bolsonaro em agir conforme o seu cargo exige é tanta que ele sequer teve o cuidado de dar um verniz de razoabilidade para a versão que ele disse ter “intuído” de sua experiência naquele período. O que ele disse sobre a AP (movimento chamado inicialmente de Ação Popular) ser “sanguinária” não tem o menor fundamento, principalmente no contexto de fatos ocorridos a partir dos anos 70.

O golpe de 1964 foi materializado com a colocação nas ruas de tanques do Exército, com canhões prontos para disparo. Esses tanques passavam entre as pessoas civis que transitavam pelas ruas, inclusive idosos e crianças. As manifestações estudantis de protesto contra o governo que depôs ilegalmente o então presidente eleito, que fervilharam em todo o país nesses anos de 64 e 65, foram combatidas por soldados armados que não hesitaram em atirar nos rostos, peitos e mãos de jovens desarmados.

Data deste período a instituição de movimentos de resistência armada contra a ditadura militar. Dezenas de jovens dispostos a dar a vida pelo país estavam convencidos de que precisavam aprender a usar armas e bombas para mostrar que poderiam derrubar aquele governo como ele mesmo havia feito com o governo anterior. Certa ou errada essa decisão, e ainda que tenham cometido crimes com essa intenção, esse tipo de atividade não é considerada terrorismo e sim resistência.

terrorismo se caracteriza pela prática de atos criminosos que visam prejudicar, impedir a atuação de um governo legítimo. Não era este o cenário de 1964, portanto, as atividades de protesto contra aquele governo, mesmo ilícitas, não podem ser classificadas como terroristas.

O que é classificado como terrorismo, foi o terrorismo de Estado praticado pelas forças oficiais de segurança, pois, em resposta aos movimentos armados que chegaram a obter a libertação de presos políticos, a violência da ditadura recrudesceu a partir de 1969. A ordem era desmantelar e exterminar os movimentos de resistência mediante a intensificação dos crimes de perseguição, tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados.

Em 1970, portanto, grande parte daqueles jovens idealistas já havia sido morta, estava presa ou banida do país. Outros jovens, que ainda eram crianças e adolescentes em 1964, vieram se somar aos que restaram, mas estavam todos acuados. Debatiam entre si sobre como dar continuidade à resistência e foram se dividindo. Alguns insistiram na luta armada e clandestina, mas a maioria optou por manter uma atividade de resistência civil, com a divulgação de panfletos, jornais e conscientização da população sobre a gravidade do que se passava. Este foi o caso da AP que, pelo menos a partir de 1972, tornou-se a APML (Ação Popular Marxista-Leninista). Por isso, seus integrantes são historicamente tidos como intelectuais e não afeitos ao embate corporal.

Logo, é absolutamente inverossímil que, em 1974, quando morreu Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, a AP ou APML seja tratada como violenta. Nesse caso, a crueldade das palavras que o presidente Bolsonaro proferiu sobre os integrantes da AP tem nome e é calúnia. O fato, a critério dos ofendidos, pode dar ensejo a mais um pedido de explicações perante o STF e, eventualmente, a uma queixa-crime.

A exoneração sumária de pessoas que ocupavam funções de uma maneira que o incomodou, como ocorreu com a minha exoneração e a do diretor do INPE, por outro lado, não pode ser classificada como cruel. Somos pessoas com muitos anos de experiência profissional e, para nós, é possível aceitar o fato sem nos deixar atingir emocionalmente. Mas o mesmo não ocorre com as pessoas que tinham nesses espaços suas poucas esperanças de que estado brasileiro continuaria cumprindo suas funções.

As exonerações sumárias efetivadas por Bolsonaro foram cruéis com as pessoas e comunidades que dependiam desses órgãos, que hoje se sentem expostas e apreensivas. No caso da Comissão sobre Mortos, temos recebido todos os dias manifestações sofridas de familiares preocupados com a preservação de restos mortais, de amostras genéticas e com o uso indevido de seus dados íntimos e privados. Para dizer o mínimo, é cristalino que estes atos vingativos do presidente da República são incompatíveis com o princípio da moralidade administrativa, cuja defesa pode ser feita em ações civis e até em ações populares.

A bondade não é um requisito escrito para que alguém possa governar um país, mas é exigido de qualquer servidor público que aja com lealdade, urbanidade, ética, respeito às leis e instituições e até que se apresente dignamente vestido em público. A crueldade demonstrada por Jair Bolsonaro no episódio relativo a Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira revela o descumprimento de todos esses deveres. Fonte: https://brasil.elpais.com/

 

*Eugênia Augusta Gonzaga é Procuradora Regional da República e ex-presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Jair Bolsonaro nunca respeitou a memória das vítimas da ditadura. O capitão se projetou na política como porta-voz dos porões. Notabilizou-se por defender a tortura, insultar os mortos, mentir sobre fatos históricos.

Quando a Câmara homenageou Rubens Paiva, o então deputado cuspiu no busto diante da família. Quando a Justiça Federal ordenou a busca por restos mortais no Araguaia, ele disse que “quem procura osso é cachorro”.

Na votação do impeachment, Bolsonaro exaltou um torturador em rede nacional. Na campanha presidencial, ironizou o assassinato de Vladimir Herzog. “Suicídio acontece”, debochou. O jornalista foi morto numa cela do DOI-Codi, e os militares alteraram a cena do crime para simular um enforcamento.

No fim de 2018, houve quem apostasse numa guinada do presidente rumo ao equilíbrio e à moderação. Ao assumir o poder, ele abandonaria o radicalismo e passaria a respeitar a liturgia do cargo. Os fatos têm demonstrado que essa previsão era furada.

Quase todos os dias, o presidente tem disseminado ódio e preconceito. Ontem, ao ofender a memória de Fernando Santa Cruz, voltou a cruzar o limite da decência. O então estudante tinha 26 anos quando foi capturado pela repressão. Era pai de um bebê de 2 anos, hoje presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.

Sua mãe, Elzita Santa Cruz, peregrinou por mais de quatro décadas em busca da verdade. Ela não mudou de endereço nem de número de telefone, à espera de notícias que nunca chegaram. Morreu no mês passado, aos 105 anos, sem conhecer o paradeiro do filho.

Ontem Bolsonaro falou duas vezes sobre o caso. De manhã, para atingir o presidente da OAB, disse saber como o pai dele desapareceu. “Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, provocou. À tarde, afirmou que Santa Cruz foi morto por outros militantes de esquerda. A versão é desmentida por documentos oficiais: ele estava sob custódia do regime quando desapareceu.

A lei 1.079, de 1950, tipifica os crimes de responsabilidade passíveis de impeachment do presidente da República. Diz o artigo 9º, VII: “Proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

A PF será informada nesta segunda-feira que a ex-deputada está fora do Brasil e que retorna em agosto. O grupo de advogadas que a defende afirmou que ela estará à disposição dos investigadores. Manuela foi citada pelo homem preso como suspeito de hackear centenas de autoridades brasileiras. Segundo ele, foi a ex-deputada quem repassou o telefone do jornalista Glenn Greenwald. Fonte: http://cbn.globoradio.globo.com

Rui Costa disse que o presidente preparou um evento de inauguração "exclusivamente federal" sem a presença do "povo baiano"

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou nesta terça-feira que não colocou a Polícia Militar à disposição do presidente Jair Bolsonaro no evento de inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista (BA), porque, segundo ele, o Planalto organizou uma cerimônia “exclusivamente federal” com restrição à presença do “povo baiano”.

“Eu não posso colocar a Polícia Militar para espancar o povo baiano que quer conhecer aeroporto, então quem é impopular e tem medo de ir para as ruas, fica em seu gabinete. Se o evento é exclusivamente federal, as forças federais que cuidem da segurança do presidente. Não posso botar a PM pra entrar em conflito com pessoas que querem ver o aeroporto”, disse o governador em entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador, nesta terça. Costa se referia à colocação de tapumes ao redor do aeroporto para restringir o acesso do público. Fonte: https://veja.abril.com.br

A jornalistas estrangeiros, Bolsonaro afirmou que a jornalista foi presa quando estava indo para a Guerrilha do Araguaia e que ela mentiu sobre ter sido torturada durante a ditadura. Miriam foi presa, torturada e não participou da luta armada.

 

Por Jornal Nacional

Agora uma nota de repúdio da Globo aos ataques que o presidente Jair Bolsonaro dirigiu à nossa colega, a jornalista Miriam Leitão.

“O presidente Jair Bolsonaro recebeu nesta sexta-feira (19) um grupo de jornalistas estrangeiros para um café da manhã. Os jornalistas cobraram do presidente um comentário sobre o ato de intolerância de que foi vítima a jornalista Miriam Leitão, no fim de semana.

Miriam e o marido, Sérgio Abranches, participariam de uma feira literária em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Em redes sociais, foi organizado um movimento de ataques e insultos à jornalista, cuja postura de absoluta independência foi tratada como um posicionamento político de esquerda e de oposição ao governo Bolsonaro.

Em resposta aos correspondentes internacionais, o presidente Jair Bolsonaro disse que sempre foi a favor da liberdade de imprensa e que críticas devem ser aceitas numa democracia.

Mas, depois, afirmou que Miriam Leitão foi presa quando estava indo para a Guerrilha do Araguaia para tentar impor uma ditadura no Brasil e repetiu duas vezes que Miriam mentiu sobre ter sido torturada e vítima de abuso em instalações militares durante a ditadura militar que governava o país então.

Essas afirmações do presidente causam profunda indignação e merecem absoluto repúdio. Em defesa da verdade histórica e da honra da jornalista Miriam Leitão, é preciso dizer com todas as letras que não é a jornalista quem mente.

Miriam Leitão nunca participou ou quis participar da luta armada. À época militante do PCdoB, Miriam atuou em atividades de propaganda.

Ela foi presa e torturada, grávida, aos 19 anos, quando estava detida no 38º Batalhão de Infantaria em Vitória. No auge da ditadura de 64, em 1973, Miriam denunciou a tortura perante a 1ª Auditoria da Aeronáutica, no Rio, enfrentando todos os riscos que isso representava na época.

Narrou seu sofrimento aos militares e ao juiz auditor e esse relato consta dos autos para quem quiser pesquisar. A jornalista foi julgada e absolvida de todas as acusações formuladas contra ela pela ditadura. A absolvição se deu em todas as instâncias.

É importante ressaltar que Miriam Leitão, ao longo dos governos do Partido dos Trabalhadores, foi também alvo constante de ataques. Não questionaram, como agora, o sofrimento por que passou na ditadura, mas a ofenderam em sua honra pessoal e profissional em discursos do ex-presidente Lula em palanques, e até mesmo a bordo de avião de carreira, quando Miriam Leitão ouviu insultos e ofensas por parte de militantes petistas, que então a chamavam de neoliberal e direitista.

Esses insultos, no passado como agora, em sinais trocados, apenas demonstram a maior das virtudes de Miriam como profissional: a independência em relação a governos, sejam de esquerda ou de direita ou de qualquer tipo.

A Globo aplaude essa independência, pedra de toque do jornalismo profissional, e se solidariza com Miriam Leitão”.

Uma solidariedade compartilhada por nós, seus colegas da TV Globo, da rádio CBN e do jornal “O Globo”. Fonte: https://g1.globo.com

Não armar o povo: a melhor forma de evangélicos mostrarem que seguem Jesus

São muito graves as palavras de Bolsonaro, que deseja agora que os cidadãos estejam armados para poder evitar a tentação de um golpe porque insinua a possibilidade de uma guerra civil

JUAN ARIAS

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que se orgulha de ser um imitador de Trump, o excêntrico presidente dos Estados Unidos, surpreende a cada dia com declarações que na boca de qualquer estadista produziriam calafrios. Por exemplo, quando no dia 15, em Santa Maria (RS) durante a Festa Nacional da Artilharia (Fenart), afirmou que armar a população pode evitar um golpe de Estado.

O presidente foi explícito: "Além das Forças Armadas, defendo o armamento individual para o nosso povo para que tentações não passem pela cabeça de governantes para assumir o poder da forma absoluta". Mas o presidente não defendeu durante toda a campanha a possibilidade de que cidadãos comuns pudessem estar armados para se defender da violência no país? Que salto de malabarismo é esse de dizer que é bom que os brasileiros estejam armados, como o Exército, como um antídoto e barreira contra um possível golpe de Estado dos "governantes"? Será que ele se esqueceu que é ele quem governa a nação com os outros poderes do Estado? Será que está insinuando que o Congresso ou o Supremo Tribunal Federal poderiam preparar um golpe de Estado contra ele?

Sem dúvida, Bolsonaro está decepcionado e mal-humorado pela derrota sofrida no Senado, por uma grande maioria, com a rejeição de seu decreto em favor de armar os cidadãos. E agora deve estar preocupado que o Congresso Nacional também possa derrubar esse polêmico decreto que, segundo o IBOPE, é rejeitado por 70% dos cidadãos.

São muito graves as palavras do presidente, que deseja agora que os cidadãos estejam armados para poder evitar a tentação de um golpe por parte de governantes e não do Exército, embora ele continue defendendo e justificando a ditadura brasileira. É grave porque Bolsonaro insinua a possibilidade de uma guerra civil no caso de algum dos poderes do Estado cair na tentação de dar um golpe. Golpe contra quem? Contra ele, naturalmente.

Ele parece ignorar, o presidente obcecado pelas armas, os golpes e guerras, que hoje conta com apenas 30% de consenso no país. No caso insano de que algum dos poderes, fora do Exército, tentasse um golpe de Estado, o presidente imagina que o Brasil inteiro, já armado por ele, sairia às ruas para defendê-lo sem dar lugar a uma guerra entre irmãos? Por que esse medo se, além do mais, conta com o Exército, do qual 103 de seus integrantes constituem a metade dentro do Governo?

Para aqueles que, como eu, sofreram na carne durante a infância a Guerra Civil Espanhola entre irmãos, com mais de um milhão de mortos, à qual se seguiu não uma democracia, mas uma dura ditadura de mais de 40 anos que deixou a nação dividida até hoje, causaram arrepios essas piadas do religioso presidente brasileiro, que mal começou a governar e já está insinuando fantasmas conspiratórios e querendo armar a população para o caso de um hipotético golpe contra ele.

Tomara que os congressistas evangélicos do Congresso sigam os senadores e ajudem a derrotar esse fantasma de armar os cidadãos já pensando até em uma guerra. Seria a melhor maneira de demonstrar que eles estão realmente do lado de Jesus, que quando estava para ser preso para que fosse julgado, impediu um de seus apóstolos de usar a espada para defendê-lo. "Aquele quem com ferro mata com ferro morre", disse-lhe Jesus.

Esse mesmo Jesus que cerca de um milhão de evangélicos honraram durante a Marcha de São Paulo. Quando perguntei a Gustavo, um amigo meu, diretor de uma escola de música, quantos tinham comparecido à Marcha de Jesus, em São Paulo, respondeu irônico: "Todos menos Ele". Certamente, Jesus, que disse "bem-aventurados os pacíficos", nunca estaria ao lado daqueles que pronunciam apenas palavras sombrias como armas, guerras, ódios, medos, golpes. Será que já não servem à humanidade as palavras de luz, que criam paz, harmonia, diálogo entre diferentes e ainda são capazes de trocar as armas por campos de trigo e felicidade? Fonte: https://brasil.elpais.com

É o primeiro presidente a participar da Marcha para Jesus, em um impulso à sua aliança com uma comunidade que já representa 30% dos brasileiros

NAIARA GALARRAGA GORTÁZAR

 

Para os evangélicos, a Marcha para Jesus, que acontece anualmente em São Paulo, é um dia de agradecimento a Deus por feitos e conquistas. E de  transmitir a Ele necessidades e urgências. Com uma notável diferença neste ano. Pela primeira vez um presidente da República, Jair Bolsonaro, se uniu nesta quinta-feira a centenas de milhares de crentes. O comerciante Marcelo de Oliveira veio mais um ano com sua esposa e quatro filhos para agradecer porque, como conta com imensa satisfação, é “um ex-viciado em cocaína” que há 16 anos conseguiu se livrar após duas décadas de dependência.

Bolsonaro vai por causa de uma promessa. No ano passado, o ultradireitista participou pela primeira vez. Ia ao maior evento evangélico do Brasil como presidenciável. Prometeu retornar como chefe do Estado se ganhasse. Evidentemente, é também um cálculo político. O contingente de evangélicos não para de crescer no Brasil. Eles já rondam 30% dos 200 milhões de habitantes. No Congresso Nacional, a bancada da bíblia acompanha essa expansão. Embora Bolsonaro seja católico —ainda nesta manhã visitou um monastério de Clarissas—, sua atual esposa é evangélica, assim como seus filhos. " “Vocês foram decisivos para mudar o rumo do Brasil", proclamou diante da multidão. “Todos sabem que nosso país tem problemas de ética, moral e econômicos. Mas sabemos que podemos ser o ponto de inflexão”. "Sou um presidente que diz que o Estado é laico, mas sou cristão", ressaltou.

O presidente declarou ainda que pode tentar ser candidato novamente na próxima eleição. "Se tiver uma boa reforma política eu posso até jogar fora a possibilidade de reeleição. Agora, se não tiver uma boa reforma política e se o povo quiser, estamos aí para continuar mais quatro anos", disse ele a jornalistas após o evento.

A Marcha para Jesus, organizada pela Igreja Renascer em Cristo, ocorre há 27 anos em São Paulo, sempre no dia de Corpus Christi, com a colaboração de outro punhado de denominações evangélicas. No ano passado, reuniu 1,5 milhões de fiéis. O presidente ultraconservador tem muito a agradecer aos neopentecostais, que nele depositaram majoritariamente a sua fé diante da urna. Nesse grupo, teve 68% dos votos, frente a 50% dos católicos. Na noite da sua vitória, seu primeiro gesto foi protagonizar uma oração televisionada com um pastor. Com ele, boa parte da agenda desse coletivo (heterogêneo, insistem os especialistas) chegou ao topo do poder.

Famílias, grupos de adolescentes, de jovens, casais… uma maré de fiéis se somou a esta imensa festa que combina música a todo volume, de grupos que cantam gospel e rock cristão nos tetos dos ônibus, danças coreografadas ou não, pregações de pastores, e oração. É como um carnaval onde o ardor religioso substitui o desenfreio. Sem álcool e com muito mais bandeiras do Israel que do Brasil. “É um dia em que temos liberdade para cantar, dançar e nos divertir. Na minha igreja de agora pode (dançar), mas a anterior era muito rigorosa”, conta a cabeleireira Maria Eduarda Martin, de 20 anos, que veio com algumas primas e outros familiares.

Os participantes ouvidos tinham mais vontade de falar de Deus — das respostas que lhes oferece, de como mudou suas vidas — que do presidente da República ou de política. Mas a enfermeira Rita Pereira, de 57 anos, está convencida de que “Deus escolheu Bolsonaro para transformar o Brasil”, que boa falta lhe faz, porque “estes são dias ruins. Tem muita miséria, muita corrupção, muita prostituição, muita gente perdida”. Fonte: https://brasil.elpais.com

JUAN ARIAS

No Brasil já se fala, sem meias palavras, que o presidente e a maior parte de seu Governo parecem ineptos para confrontar os grandes desafios que têm pela frente

 

O atual mandato presidencial no Brasil começou há pouco mais cinco meses, mas já começam a se escutar alarmes sobre a possibilidade de que Jair Bolsonaro não termine seu mandato. Não só porque ele aparece sem um projeto de país concreto, mas também porque o pouco já realizado é alvo de duras crítica até por parte de muitos que o elegeram e hoje não o fariam, conforme mostram todas as pesquisas em que, apesar dos 57 milhões de votos conquistados nas urnas, seu apoio desvanece. Recente pesquisa da Atlas Político mostrou que apenas 28% dos entrevistados consideravam sua gestão boa ou ótima, contra 36,2% que a veem como ruim ou péssima. Entre os que o apoiam estão um exército de radicais que desejaria devolver o Brasil aos tempos do pior obscurantismo, com uma política apoiada em messianismos alucinados, com suas preocupações fálicas e uma mórbida obsessão pelas armas.

Poderia parecer incrível num país normal que em cinco meses de Governo já se fale já abertamente na possibilidade de impeachment do presidente, não só pelo que ele não fez, mas também pelo que fez até agora, que está revelando uma forte desconfiança sobre sua capacidade de governar um Brasil-continente com 207 milhões de pessoas que já começaram a sair às ruas. E sobre como deseja conduzir o tema da educação, um ponto crucial deste país com ainda milhões de analfabetos funcionais e da qual depende também seu futuro econômico.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acaba de dizer ao jornal O Globo que o Brasil “caminha para um colapso social” com o novo Governo, que ainda não soube apresentar um projeto para fazer frente às graves crises que o afligem e que poderia levá-lo a uma catástrofe econômica se em vez de apoiar as reformas urgentes acabar boicotando-as para favorecer propostas milagrosas e às vezes até patéticas.

Preocupa à sociedade democrática um presidente que parece alheio às reformas enquanto se perde em fantasia messiânicas, como quando afirma que ainda “não nasceu para ser presidente”, pois foi algo que Deus lhe impôs. E assim repete, às vezes chorando diante das câmeras de televisão, enquanto levanta a camisa e mostra as cicatrizes do atentado que sofreu durante a campanha eleitoral. Deus, segundo ele, está ao seu lado e o escolheu como um novo Messias.

Junto a esse messianismo profético, o presidente continua tão obcecado em armar os brasileiros que seu primeiro decreto foi para ampliar a posse de armase seu porte para toda a sociedade, decreto contra o qual acabam de se manifestar 73% dos brasileiros, segundo a última pesquisa de Ibope. Multiplicar as armas nas mãos das pessoas deve parecer melhor para o país que multiplicar o pão nas mãos dos ainda milhões de pobres e as possibilidades para os jovens de um ensino que os prepare para se realizarem em liberdade e criatividade. E sem absurdas receitas de escolas sem partido, de alunos espiões e denunciantes de seus professores e o pavor de que nelas se possa falar de sexo, que é como proibir falar da vida.

Há uma história que revela o absurdo de uma presidência em seus temores relacionados com o sexo. Em abril passado, saindo do Ministério da Educação, coração do futuro nacional, o presidente confiou a um grupo de jornalistas uma de suas maiores preocupações no momento. Sobre o drama da educação no país? Não. “Temos por ano mil amputações de pênis por falta de água e sabão”, contou-lhes, e acrescentou: ”Quando se chega a este ponto, a gente vê que estamos no fundo do poço”. Essa preocupação com a higiene masculina e as proporções de suas genitálias perturba tanto o presidente que poderia ter criado uma crise diplomática com o Japão, ao dizer que naquele país “tudo é pequeno”, referindo-se ao órgão masculino.

A obsessão do presidente por tudo o que é fálico está preocupando até os psicólogos e psicanalistas, como Contardo Calligaris, que na Folha de S.Paulo, analisando estas obsessões fálicas do presidente, afirmou: “Não se pode entender uma posição repressora contra os outros, seja qual for, a não ser como um modo da pessoa reprimir e lutar com a sua própria dificuldade”.

Já João Luiz Mauad, do Instituto Liberal e colunista de vários jornais do país, escreveu que ainda não é hora de falar no impeachment do presidente, já que “improvisação, amadorismo, incompetência, idiotice e histrionismo não são, por si sós, suficientes para abrir um processo de impeachment contra um presidente”. Talvez seja verdade juridicamente, mas um presidente com todas essas “qualidades” não parece o mais bem preparado para conduzir o transatlântico Brasil, o quinto maior pais do mundo e com imensas riquezas naturais que, além disso, o presidente parece querer destruir.

No Brasil já se fala, sem meias palavras, que o presidente Bolsonaro e a maior parte de seu Governo parecem ineptos para confrontar os grandes desafios que têm pela frente. Até agora parece, entretanto, que Bolsonaro continua em campanha eleitoral, dialogando só com o grupo de radicais de extrema direita que permaneceram fiéis a ele, sem ainda demonstrar que é quer ser o presidente de todos os brasileiros, como exige a Constituição.

O presidente continua confundindo as redes sociais com a realidade viva do país e parece ter aterrissado de outra galáxia, sem entender que o Brasil é uma nação que importa no mundo e que já aceitou a modernidade faz muito tempo. E, pior ainda, está destruindo no exterior, com sua incapacidade de governar e suas obsessões de caráter messiânico e psiquiátrico, a imagem positiva e até invejável até ontem atrelada a este país, coração econômico do continente e cadinho de mil experiências culturais que estão sendo pisoteadas.

ERRATA

O texto original deste artigo mencionava que dos 57 milhões de votos recebidos pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições, apenas 30% mantinham o apoio. Na verdade, são 28% os que  consideram o Governo de Bolsonaro bom ou ótimo, segundo pesquisa do Atlas Político. Fonte: https://brasil.elpais.com

Em visita a São Paulo, ex-presidente dos Estados Unidos afirma que países precisam investir nas pessoas para crescer economicamente

 

Em um dia marcado por protestos em defesa da educação, o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que visita o Brasil, defendeu a importância do investimento na área para o desenvolvimento dos países. Em palestra em um evento sobre inovação digital em São Paulo, nesta quinta-feira, ele ressaltou que "dar educação e serviços sociais não é caridade" e, se um país não investe nas pessoas, provavelmente não será bem-sucedido.

Em sua terceira visita ao Brasil, Obama continua colecionando um número grande de fãs e é recebido como estrela. A fila para participar da palestra, que começou às 13h, dava voltas já às 9h. E os ingressos da área vipcustavam até 2.500 reais. Bastante carismático, ele começou o discurso dando boa tarde em português, reclamou do trânsito de São Paulo, contou que tinha encontrado Pelé na parte da manhã e revelou que tocava músicas de Tom Jobim para a esposa Michelle.

Diante de uma plateia de 10.000 pessoas —a maioria empresários, que ovacionaram todo o tempo o ex-presidente— , Obama disse que é necessário criar um sistema educacional que prepare crianças e jovens para o pensamento crítico. “As pessoas querem que os fatos se encaixem nas opiniões delas”, disse. “Acho que o mais valioso da educação é aprender a habilidade de analisar a realidade, mesmo quando isso é desconfortável e prova que aquilo que eu achava ser verdade está errado.”

O democrata elogiou ainda o poder que um professor tem de dar confiança a uma criança e criticou como a categoria é pouco reconhecida em alguns países. "Nos Estados Unidos, os professores também não são valorizados, em parte porque a maioria deles é mulher", disse o ex-presidente, que defendeu o modelo da Finlândia, onde a categoria é valorizada e "ganha tão bem quanto um médico". Apesar de discursar muitos minutos sobre a educação, Obama não fez nenhuma menção aos protestos desta quinta no Brasil e nem sobre o Governo de Jair Bolsonaro.

"Eu sempre falo, e nem sempre me ouvem, que os empresários deveriam ficar felizes em pagar impostos", afirmou ao defender que é essa arrecadação que permite a implementação de políticas públicas.

O ex-mandatário também defendeu uma maior inclusão de mulheres e afro brasileiros na política e na sociedade. "Se afro brasileiros não são incluídos, o país está desperdiçando talento. Se mulheres não estão incluídas, estão desperdiçando talento", afirmou. Segundo Obama, ele sempre fez questão de ter mulheres em sua equipe. "Se sua organização só tem homens brancos que parecem todos iguais, você está perdendo algo".

O ex-presidente contou que, após deixar a Casa Branca, decidiu focar seu trabalho em preparar novos líderes pelo mundo. “Avaliei que meu maior impacto seria o de inspirar outras pessoas a se envolverem e a encorajar as pessoas para que se engajem a fazer a diferença”, diz.

Dinheiro não traz felicidade

O americano confessou que, apesar de atualmente ter muito mais dinheiro do que ao longo de grande parte da sua vida, sua felicidade não está relacionada a esse tipo de riqueza. Obama criticou ainda que a acumulação de dinheiro e de bens seja hoje a medida para avaliar o sucesso de uma pessoa. “Nós ensinamos a nós mesmos que a nossa medida de sucesso é esta: quanto mais nós temos e quando mais nos apegamos a isso, melhor devemos ser. Mais alto é o nosso status”, disse. Para ele, essa forma de raciocínio pode explicar um pouco porque no Brasil, nos EUA e em muitas partes do mundo temos dificuldade em criar sociedades mais justas.

Ao fazer uma análise dos seus oito anos na Casa Branca, Obama celebrou o fato de não ter se envolvido em nenhum escândalo. "Ninguém foi preso. Erramos, não fomos perfeitos. Mas mantivemos a integridade. E fomos capazes de mostrar que é possível alcançar um grande poder sem corrupção". Ele também fez questão de mencionar o esforço de seu Governo nas negociações que deram início ao Acordo de Paris, embora seu país, agora sob comando de Donald Trump, não estivesse mais nele.

Obama foi fortemente aplaudido ao criticar as leis referentes à venda de armas nos Estados Unidos e lamentar não ter tido o poder de alterá-las. "Um dos dias mais difíceis no meu Governo foi quando houve um tiroteio em uma escola e eu não pude prometer aos pais que perderam seus filhos que eu mudaria as leis para que aquilo não acontecesse com outras crianças", disse. Para o ex-presidente, "as leis sobre armas nos EUA não fazem muito sentido".

O ex-mandatário encerrou sua fala pedindo que os brasileiros mantivessem o seu otimismo.  Apesar de considerar que muitas coisas não andam bem, Obama afirmou que o mundo nunca viveu tamanho progresso com elevado padrão de vida. Fonte: https://brasil.elpais.com

"O uso ingênuo da Bíblia é instrumento que facilmente pode ser usado para manipular mentes e consciências. Ao longo da história, não poucos governos agiram, e ainda agem assim. Nesta hora, é importante resgatar a tradição profética do pensamento bíblico. Na tradição judaico-cristã, o profeta é o enviado de Deus que não teme criticar as falhas e incoerências do líder político", escreve Carlos Caldas, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas em Belo Horizonte.

Eis o artigo.

Religião e política, sabemos, são constituintes inalienáveis da existência humana. Desde sempre, e em toda parte, o humano é não apenas homo sapiens, mas também é homo religiosus. E de acordo com Aristóteles, o homem é zoon politikon – em bom português, “animal político”. Usando a linguagem da antropologia bíblica, é oportuno lembrar que adam, o humano, é religioso e político, político e religioso. 

Só que a relação entre política e religião nem sempre tem sido tranquila. Algumas vezes o poder político quer sufocar, reprimir e até mesmo suprimir a religião. Em outras ocasiões ocorre o inverso: a religião determina os rumos da política. Quando assim acontece, temos teocracias. Em outras, acontece como que uma variação do modelo teocrático, e religião e política vivem em simbiose, em retroalimentação, uma aliança, não raro espúria, entre “trono e altar”. Nesta relação o poder político e o poder religioso dependem um do outro, e se beneficiam mutuamente. Conscientemente ou não, um manipula o outro, e ambos saem ganhando. A história está repleta de casos em que aconteceram manipulações desta natureza.

Exemplo concreto de manipulação da religião em benefício do poder político foi amplamente divulgado pela imprensa brasileira nesta semana: no dia 19 de maio o Presidente Jair Bolsonaro divulgou um vídeo em sua conta no Facebook no qual um pastor congolês, por nome Steve Kunda, líder de uma igreja evangélica em Orleans, França, afirma que Bolsonaro, tal qual Ciro (o imperador persa, não o Gomes) foi “estabelecido por Deus” para guiar o país. Kunda, que se apresenta como “apóstolo”, ainda pede a todos, evangélicos, católicos, todos sem distinção, que apoiem Bolsonaro, que ele não seja criticado e que não se lhe faça oposição. No vídeo, enquanto Kunda fala, aparece no canto direito inferior da tela uma foto de um sorridente Jair Bolsonaro. Em sua postagem Bolsonaro afirmou: “não existe teoria da conspiração, existe uma mudança de paradigma na política” e que “quem deve ditar os rumos do país é o povo! Assim são as democracias”.

Não é novidade para ninguém que grande parte da população evangélica do Brasil deu votou em Bolsonaro, e segue lhe dando apoio acrítico. Ele tem sido apresentado como sendo seu segundo nome: um Messias, um enviado de Deus para limpar o Brasil e mudar “tudo isso que está aí”. Não é coincidência que o apelo do pastor do Congo tenha sido postado por Bolsonaro poucos dias depois de centenas de manifestações em todo o país protestando contra a anunciada política de cortes draconianos na educação. Não é coincidência também que, ao postar este vídeo, de um homem que usa linguagem religiosa e cita a Bíblia, Bolsonaro se dirija diretamente aos evangélicos, que, como dito, em sua quase absoluta maioria têm lhe dado apoio sem qualquer crítica. Não é coincidência que isto acontece quando o mesmo Bolsonaro divulga um texto pelo WhatsApp com a afirmação que o Brasil é ingovernável sem conchavos. Não é coincidência que tudo isto acontece quando grupos pró-Bolsonaro convocam manifestações populares para o dia 26 de maio. Não é coincidência que se multiplicam nas redes sociais postagens que, em nome de combate à corrupção, sugerem, insinuam ou abertamente defendem que o Congresso e o STF devem ser fechados. Não é coincidência que, enquanto tudo isso está a acontecer, o Senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho de Jair, esteja sendo investigado pela Receita Federal.

A divulgação do vídeo com a fala do pastor congolês é claramente parte de uma estratégia para apoiar o Presidente quando este se encontra desgastado em suas relações com o Congresso. Os evangélicos, e muitos católicos também, são importantes neste movimento de conseguir apoio para o governo. A maioria do povo evangélicoa pela para leituras simplistas e superficiais de Romanos 13.1-2: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação”.

No pequenino, mas valioso Cristo e política, o biblista luterano Oscar Cullmann, um dos gigantes da teologia bíblica de meados do século passado, afirma que Romanos 13 deve ser lido ao lado de Apocalipse 13: neste capítulo, usando a linguagem simbólica e figurada típica da literatura apocalíptica, João adverte quanto ao perigo destes dois poderes, o religioso e o político, se unirem. O poder político incontestado torna-se totalitário, e assim, instrumento da maldade e da iniquidade. Foi exatamente com base na leitura unilateral de Romanos 13 que boa parte dos cristãos na Alemanha nazista deu apoio total, completo e irrestrito ao Führer Hitler, não questionando nunca nenhuma de suas atitudes ou decisões. 

O uso ingênuo da Bíblia é instrumento que facilmente pode ser usado para manipular mentes e consciências. Ao longo da história, não poucos governos agiram, e ainda agem assim. Nesta hora, é importante resgatar a tradição profética do pensamento bíblico. Na tradição judaico-cristã, o profeta é o enviado de Deus que não teme criticar as falhas e incoerências do líder político, e que faz ouvir sua voz não em benefício próprio, mas em benefício das vítimas, dos frágeis, dos que sofrem por causa de um sistema. À luz da tradição bíblica, nenhum governante está acima de críticas, e ninguém que diz falar em nome de Deus pode pedir que não sejam feitas críticas a um líder político, quem quer que este seja. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

"Grande perversidade significa escandalizar os pequenos, transformando a Imagem de Maria em instrumento de manipulação política". 

O artigo é de Ceci Maria Costa Baptista Mariani, professora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de Campinas e da faculdade de Teologia. Integrante da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião - Soter, é filósofa pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora de Medianeira, graduada em Teologia Dogmática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora de Assunção, mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora de Assunção e doutora em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Entre suas publicações, destacamos Mística e Teologia: Desafios contemporâneos e contribuições. Atualidade Teológica (PUCRJ, 2009, v. 33) e Teologia e Arte: expressões de transcendência, caminhos de renovação (São Paulo: Paulinas, 2011).

Eis o artigo. 

“como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar...”

(Renato Teixeira, “Romaria”)

A cada maio, vale refletir sobre Maria, a Mãe de Jesus. Das doces lembranças de infância que acalento, uma das mais queridas é a das noites de maio (algumas muito frias!) em que saia à noite de casa com uma rosa na mão, para junto com minha mãe, ir rezar o terço na Igreja Matriz da cidade do interior em que morava. Piedade simples de criança, expressão da reverência a essa que de fato, é para os cristãos, a “Bem-aventurada”.

Maria, a “Nossa Senhora”, é figura que catalisa para a vivência religiosa, dimensões fundamentais associadas ao feminino que são as dimensões de vida, profundidade, mistério, ternura, interioridade e aconchego. Maria representa para o cristianismo, o cuidado maternal de Deus. Os pequenos captam esse elemento e o expressam em sua vivência de fé. Os pobres, certamente, contemplam em seu culto à Maria, o rosto materno de Deus. Bela tradução dessa experiência popular encontra-se nos conhecidos versos de Renato Teixeira em sua música “Romaria”. Essa música consegue dizer da mística do homem simples que vem a Nossa Senhora de Aparecida trazendo sua vida sofrida e, não tendo palavras prontas, no silêncio, diante dela, só faz mostrar seu olhar...

Me disseram porém

que eu viesse aqui

pra pedir de romaria e prece paz dos desaventos

como eu não sei rezar

só queria mostrar

meu olhar, meu olhar, meu olhar.

Sou caipira pira pora Nossa Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura e funda, o trem da minha vida.

Grande perversidade significa escandalizar os pequenos, transformando a Imagem de Maria em instrumento de manipulação política. Desalentadora é a notícia do uso ideológico da “Consagração à Nossa Senhora” pela Frente Parlamentar Católica, que apresentou uma “Moção de consagração do Brasil a Jesus Cristo por meio do Imaculado Coração de Maria” ao ministro chefe da casa civil da presidência da república Floriano Peixoto Vieira, em ato político-religioso realizado no dia 21 de maio de 2019, no Palácio do Planalto, para manifestar o apoio político ao presidente.

É público que notório que a política do presidente Jair Bolsonaro tem sido uma ameaça aos direitos humanos, como demonstra a análise publicada no site do IHU - com base na avaliação de Conectas - que relaciona “dez exemplos sobre porque precisamos continuar vigilantes e atuantes com relação ao governo”[1]. Entre esses exemplos encontra-se o afrouxamento das regras para a posse de armas no país; o desmonte de Ministério do Meio Ambiente, a imposição de obstáculos à fiscalização da tortura, o incentivo à celebração do Golpe de 1964 que resultou numa ditadura militar que durou 21 anos.

No discurso de abertura do evento, o Deputado Federal Eros Biondini interpreta o “livramento” do Presidente Bolsonaro - restabelecimento dele depois do atentado sofrido em Juiz de Fora - como milagre atribuído a Nossa Senhora de Fátima. Compara o Presidente Bolsonaro a São João Paulo II.

Ao que parece, essa iniciativa expressa a posição de um grupo que, diante dos desafios do tempo, recorre a uma postura tradicionalista apoiando-se no fundamentalismo bíblico e teológico, no moralismo e no conservadorismo político. Em nome do combate ao comunismo, militam por um regime de cristandade há muito questionado pela modernidade que defende o Estado laico como lugar do exercício da liberdade religiosa. Postura que rejeita o espírito Concílio Vaticano II que orienta aos cristãos católicos cultivarem uma abertura ao mundo, reconhecendo a autonomia das realidades terrestres.

Neste sentido, diante da manipulação que se tem feito da devoção a Nossa Senhora de Fátima, vale trazer presente as orientações do Concílio Vaticano II, cuja mariologia proposta, como bem observa a teóloga Elizabeth A. Johnson, está integrada com as principais noções da fé cristã.

Enraizada nas Escrituras e na tradição patrística, ela é cristológica, eclesial e escatológica em perspectiva, e ecumênica no tom. A Visão do Vaticano II é: Maria no seio da comunidade dos santos no céu; os santos como amigos de Deus partilhando comunidade de vida com o povo de Deus peregrino na terra; e a própria totalidade da igreja refletindo a luz de Cristo como a lua reflete a do sol. (JOHNSON, E. In: FIORENZA; GALVIN, 1997, p.218)

Isso quer dizer que para conhecer a verdadeira Maria deve-se levar em conta o testemunho bíblico global. A figura de Maria deve ser considerada a partir do relato da infância segundo Lucas, mas também é preciso que se considere as histórias incômodas do encontro de Maria com Jesus segundo os sinóticos. Retomar os estudos bíblicos sobre Maria com os recursos da exegese crítica nos permite conhecer a mãe de Jesus como discípula, isto é, como mulher de fé que vai discernindo a sua participação no projeto de Deus, cuja misericórdia se estende de geração em geração, em defesa dos pequenos, conforme Lucas 1, 46-55.

Em consonância com a mais antiga tradição da Igreja, a tradição patrística, o Concílio adverte que o discurso sobre Maria não pode ser um capítulo separado, ela está inseparavelmente ligada ao evento-Cristo. A “Theotokos” representa na reta cristologia, afirma o teólogo ortodoxo Nikos NISSIOTIS (1983), “a testemunha e a guardiã da realidade e plenitude da união hipostática divino-humana na forma de um homem concebido na humanidade em plena reciprocidade, co-pertença e união desde o início”. Fundada na Bíblia e cristocêntrica, a mariologia manifestará a ação do Espírito Santo na história de Cristo e na história dos homens.

Para a Igreja, Maria é modelo, exemplo de fé integral e ocupa a função mediadora. No entanto, como mediadora, não obscurece a mediação singular de Cristo, mas revela sua eficácia quando participa na oração dele pelo mundo. Também a maternidade da Igreja é compreendida no espelho da maternidade de Maria. Pela pregação e pelo batismo, lemos da LG 64, “a Igreja gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos por obra do Espírito Santo e nascidos de Deus”.

Por tudo isso, Maria deve ser cultuada. O culto a Maria, todavia, orienta o Concílio, deve obedecer a alguns critérios: se basear em fé verdadeira e não em “vã credulidade”, ser animado por um autêntico “amor filial” e não apenas num “estéril e transitório afeto”, levar à “imitação” (das virtudes), não se limitando à invocação.

Em maio, portanto, contra a manipulação que se fez e que se tem feito ainda hoje, vale dedicar à Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, um tempo de estudo e reflexão. Resgatando as fontes bíblicas e recorrendo à antiga Tradição Patrística poderemos nos aproximar melhor daquela que é Bendita e Bem-aventurada pelas maravilhas que nela o Senhor operou.

Bibliografia:

COMPÊNDIO DO VATICANO II. Petrópolis, Vozes, 1982.

JOHNSON, Elisabeth A.. Os santos e Maria. In: FIORENZA; GALVIN, Teologia sistemática: perspectivas católico-romanas. São Paulo: Paulus, 1997.

NISSIOTIS, Nikos. Maria na teologia ortodoxa. In: Maria nas Igrejas: perspectivas de uma Mariologia Ecumênica. Concilium/188 – 1983/8, p. 49[957].

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Em Brasília, polícia estima em 10.000 a participação. Atos causam divergência entre a direita. Bolsonaro promove manifestações em seu Twitter

Simpatizantes de Jair Bolsonaro (PSL) realizam neste domingo, 26 de maio, manifestações em várias cidades do Brasil em apoio ao presidente da República. De acordo com os organizadores, cerca de 350 cidades devem ter atos pró-Bolsonaro, mas os protestos não têm adesão de toda a base governistas nem o apoio dos principais movimentos da direita anti-PT —MBL e Vem Pra Rua já descartaram a participação. Convocados pelas alas alinhadas ao ideólogo Olavo de Carvalho, os protestos de 26 de maio causam divergências até mesmo entre os parlamentares da bancada do PSL.

Embora apoie as manifestações (e as use como uma estratégia para medir forças com o Congresso e atrair um apoio num momento que seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, é alvo de uma investigação por lavagem de dinheiro), a presença do presidente Jair Bolsonaro nas ruas neste domingo ainda é incerta.

Os manifestantes protestam também contra o bloco parlamentar chamado Centrão, a quem acusam de "achacar" o Planalto, contra o Supremo Tribunal Federal e a favor da reforma da Previdênciae do pacote anticrime do ministro Sergio Moro. Nos grupos bolsonaristas, circulam mensagens muito mais radicais, pedindo o fechamento do Congresso, por exemplo. Fonte: https://brasil.elpais.com

POR MÍRIAM LEITÃO

Durante os anos em que foi parlamentar, Jair Bolsonaro não presidiu comissão, não relatou qualquer projeto, nunca liderou grupo algum. Ele não se interessava pelas matérias que passavam por lá, concentrando-se em questões do seu nicho. Sua preocupação era apenas a defesa dos interesses da corporação dos militares e policiais. Afora isso, ofendia colegas que considerasse de esquerda e dava declarações espetaculosas para ocupar espaço no noticiário. Com esse currículo ele chegou à Presidência. Hoje, não entende nem os projetos que envia ao Congresso, como se vê diariamente nas declarações que faz.

A informação de que ele não sabe o que faz é possível notar até nos pequenos detalhes. Cercado de crianças, ontem, ele disse que elas sustentariam a aposentadoria dos adultos ali presentes. O ministro Paulo Guedes teve que lembrar que o próprio governo propôs criar um novo sistema que em tese mudaria a lógica da repartição. Mais importante do que saber se ele vai aprovar a capitalização é constatar que ele não sabe que a incluiu no projeto da reforma. O seu decreto de armas tem tantas inconstitucionalidades que contra ele se levantam desde governadores até as companhias aéreas estrangeiras. Quando perguntado sobre a reação ao projeto, Bolsonaro declarou: “se é inconstitucional tem que deixar de existir”. Ora, ele deveria ter procurado saber da constitucionalidade do seu ato antes de editá-lo. Para isso existem, ou deveriam existir, o Ministério da Justiça e a Casa Civil.

Diariamente, Bolsonaro diz algo que contraria o espírito dos projetos que seu governo defende ou contradiz o que disse. De manhã, afirma que a “classe política” é o grande problema do país, de tarde, a adula. Navega por qualquer tema com a mesma superficialidade que demonstrava no exercício dos seus mandatos de deputado. Nenhuma surpresa nisso. Por que mesmo ele seria presidente diferente do parlamentar que foi?

A direita que o defendeu, e se surpreende agora com o péssimo desempenho da sua administração, demonstra, no arrependimento, a qualidade do próprio voto. Houve opções à direita que não colocariam o país nesta brutal incerteza em que se encontra.

O fato é simples: o presidente Bolsonaro não sabe governar. É essa a razão da sua performance tão errática nestes quase cinco meses. Sua relação tumultuada com o Congresso não deriva de uma tentativa de mudar a prática da política, mas da sua falta de aptidão para qualquer tipo de diálogo. Não sabe ouvir, não entende os projetos, não tem interesse em estudá-los. Repete frases feitas, porque são mais fáceis de decorar, como: “Tirar o governo do cangote do empresário”, “empresário no Brasil é herói”. E outras monótonas repetições.

O jargão “Mais Brasil e menos Brasília” não é apenas oco. Ele tem sido negado na prática. Este governo quer decidir de Brasília qual é o método de alfabetização em cada município, e do Planalto qual é o marketing do Banco do Brasil. Não fez rigorosamente nada para descentralizar coisa alguma. Não conseguiu entender até o momento qual é a lógica da formação de preços da Petrobras. Quando ele e seu ministro da Energia, Bento Albuquerque, afirmam que os preços serão mais baixos quando o país for autossuficiente em petróleo demostram que desconhecem que a estatal segue preços internacionais. Portanto, nem se a empresa produzir toda a gasolina e diesel consumidos internamente o país estará protegido das oscilações.

O texto avalizado por ele na última sexta-feira tem uma mensagem implícita contra o Congresso e as instituições democráticas. Inclui também a afirmação de que o Brasil é um “cadáver”. Com esse sentimento confuso de oposição a tudo, o presidente e os seus convocaram uma manifestação a favor dele mesmo, Bolsonaro. Lembra o chavismo, movimento iniciado por um coronel autoritário e que governou sempre convocando manifestações a favor do seu governo e demonizando todos os que se opunham aos seus métodos e decisões. Nada mais parecido com Hugo Chávez, em seu início, do que Bolsonaro.

Como Chávez e seu sucessor Maduro, Bolsonaro quer seus seguidores nas ruas, e nas redes sociais, constrangendo os políticos, os juízes e a imprensa, para culpá-los pela própria incapacidade de governar.

Com Alvaro Gribel (de São Paulo)

Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com

Segundo advogados, texto continua extrapolando o que prevê o Estatuto do Desarmamento

Guilherme Caetano e Tiago Dantas

SÃO PAULO - As mudanças propostas pelo novo decreto das armas, publicado na manhã desta quarta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, foram pontuais e não são suficientes para afastar as dúvidas sobre a constitucionalidade do texto, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO. De acordo com advogados, a medida fere a Constituição e pode ser suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) porque o governo não poderia ter alterado uma lei, o Estatuto do Desarmamento, por meio de um decreto, sem aprovação prévia do Congresso.

— O decreto de hoje faz algumas modificações pontuais, mas não houve uma adequação à Constituição — afirma o criminalista João Paulo Martinelli, doutor em direito penal pela USP. — A discussão sobre a constitucionalidade desse decreto continua pertinente. Ele dá um alcance maior do que a lei, que é o Estatuto do Desarmamento. E para se fazer isso, o correto seria passar um novo projeto de lei pelo Congresso.

Segundo especialistas, Bolsonaro alterou o Estatuto do Desarmamento ao aumentar de 11 para 20 as categorias profissionais que tem acesso às armas sem comprovar "efetiva necessidade" e ao flexibilizar o porte de armamentos para o cidadão comum.

A constitucionalidade do decreto das armas já foi questionada pela Secretaria-Geral da Câmara dos Deputados, pela Consultoria Legislativa do Senado e pelo Ministério Público Federal (MPF) . Em 10 de maio, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber pediu explicações sobre a medida para o governo federal. A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu mais prazo para responder.

— Do ponto de vista do processo legislativo, (o decreto continua) inconstitucional. O vício de raiz permanece. Só uma lei pode alterar o que uma lei diz. O decreto tem a função de detalhar, explicar, complementar (uma lei). Mas nunca (a função de) contrariar, afrontar, questionar, contradizer uma lei — afirma o criminalista Renato Stanziola Vieira, do escritório Kehdi e Vieira Advogados. Fonte: https://oglobo.globo.com

BandNews FM

Manifestações em defesa dos recursos para a educação superior ainda acontecem em todo o país, após o ministro da Educação, Abraham Weintraub, reduzir o orçamento das universidades federais e bloquear bolsas de pesquisa.

A reportagem da BandNews FM mostra, desde cedo, que os protestos tem a adesão de estudantes e também de trabalhadores da educação das redes pública e privada de ensino fundamental e médio. Os atos têm o apoio de dezenas de escolas particulares em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Segundo os organizadores, o objetivo é mostrar à população a importância das universidades no ensino, na pesquisa e na prestação de serviços à sociedade. Alunos e professores da Universidade de São Paulo protestam com faixas e caminhão de som, na entrada da Cidade Universitária, na zona oeste da capital paulista.

SALVADOR

Cerca de 30 mil pessoas participaram de uma caminhada pela educação em Salvador, na Bahia. O dado é do Sindicato dos Professores da Bahia. A Polícia Militar informou que não divulga estimativa de público. O grupo saiu do Campo Grande e segiu em direção a Praça Castro Alves, no centro da capital baiana. O protesto deixa o trânsito congestionado na região. Aproximadamente 800 mil alunos das escolas da rede estadual de ensino da Bahia estão sem aulas hoje, por causa da paralisação dos professores. Em Salvador, por volta de 140 mil  estudantes de 434 escolas também são afetados. Não há dados oficiais sobre a adesão da rede privada de ensino, mas estima-se que 50% dos estabelecimentos também fiquem fechados.

RIO DE JANEIRO

No Rio de Janeiro, dois grupos de manifestantes se concentram no Largo do Machado, na Zona Sul. O primeiro é formado por estudantes de diferentes instituições de ensino que se concentram no local e manifestam contra o corte de verbas destinados a área da Educação. O segundo grupo é formado por funcionários da saúde que irão em direção ao Palácio Guanabara. Em outro ponto da Zona Sul, em Antero de Quental, pais, mães, alunos e professores de escolas particulares participam de uma aula pública. Desde às 10h, grupos de manifestantes se reúnem na Praça XV, localizada no Centro do Rio, com aulas públicas, performances artísticas e apresentações. Já a concentração dos protestos está agendada para às três horas da tarde na Candelária, região central. Os manifestantes seguem em caminhada até a Central do Brasil a partir das cinco horas.

BELO HORIZONTE

Manifestantes seguiram em direção à Praça Raul Soares, em outro ponto da região central de BH. Ainda não há informações sobre o número de manifestantes, mas nas fotos é possível ver centenas de pessoas seguindo com cartazes e faixas pela Av. Amazonas, uma das principais avenidas de BH. Não houve nenhum registro de confusão, e o grupo segue com a presença de alunos da UFMG, IFMG e Cefet, além de servidores e professores.

SÃO PAULO

A Avenida Paulista, no centro de São Paulo, segue bloqueada nos dois sentidos por causa da manifestação de estudantes contra os cortes nas universidades anunciados pelo Ministério da Educação. O ato se concentra em frente ao vão livre do MASP e teve a adesão de estudantes e também de trabalhadores da educação das redes pública e privada de ensino fundamental e médio.

Os protestos também têm o apoio de dezenas de escolas particulares em São Paulo. Alunos e professores da Universidade de São Paulo protestaram com faixas e caminhão de som, na entrada da Cidade Universitária, na zona oeste da capital paulista. No campus da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, na Vila Clementino, zona sul da capital, também não houve aulas. Universidades privadas também aderiram às manifestações. No Mackenzie, na Consolação, no centro da cidade, alunos aproveitaram o intervalo das aulas para fazer manifestação no interior do campus.

VITÓRIA

Protesto contra os cortes na educação pública mobilizam trabalhadores da educação e estudantes em frente a Assembleia Legislativa, em Vitória. Segundo a organização do ato, seis mil pessoas participam do protesto. Durante a tarde também houve manifestações em frente à Universidade Federal do Espírito Santo e nos campi dos Institutos Federais. Os atos fazem parte de um dia nacional de paralisações.

PORTO ALEGRE

Um ato contra os cortes na educação estava marcado para às 18h no Centro de Porto Alegre, na chamada Esquina Democrática. Desde o início da tarde alunos, professores e representantes da área estão reunidos em frente a Faculdade de Educação da UFRGS. Eles fazem caminhada que passa pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul.

Mais cedo, houve intervenção da Polícia Militar em um protesto em frente as faculdades de educação e arquitetura da UFRGS. 120 pessoas bloquearam parcialmente a rua, mas ninguém ficou ferido. Na capital gaúcha, grande parte das escolas da rede estadual aderiram à paralisação e não tinham atividades letivas programadas. Entre as instituições federais, alguns cursos da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e UFRGS também não tiveram aula. Além de Porto Alegre, protestos ocorreram nos principais municípios da Serra, da Campanha e do Sul do Rio Grande do Sul.

JOÃO PESSOA

Em João Pessoa, professores, estudantes, e trabalhadores em educação estiveram no Ponto de Cem Réis, no centro da cidade, protestando contra o contingenciamento das verbas em educação.As manifestações acontecem em outras 17 cidades do estado. A organização estima que 10 mil pessoas participaram da mobilização. No entanto, a Polícia Militar ainda não divulgou os números. Às 14h estava prevista uma audiência pública na Assembléia Legislativa da Paraíba para discutir sobre o tema.

FORTALEZA

Acabaram os protestos de alunos e professores na Praça da Bandeira, no Centro de Fortaleza, contra o corte de investimentos na educação e a Reforma da Previdência. O ato teve início às 8h da manhã. Ouvintes da BandNews FM, no entanto, relataram ações em outras avenidas da cidade, mas com menor adesão. Além da capital, pelo menos, 26 cidades cearenses registraram manifestações do tipo.

No Ceará, o corte de verbas é de quase 108 milhões de reais nas quatro instituições federais de ensino no Estado. Só na universidade federal, o contingenciamento de 46 milhões de reais deve impactar em vários serviços prestados à população, como assistência psicológica. Não há previsão de novos atos hoje.

BRASÍLIA

Cerca de 15 mil pessoas estiveram nas ruas desde cedo em defesa das universidades federais, da pesquisa científica e do investimento na educação básica. Eles protestaram contra o contingenciamento de verbas dos institutos e universidades federais. O número foi divulgado pela Polícia Militar do Distrito Federal. O protesto que começou de manhã terminou por volta das 14h30. Eles se concentraram na Esplanada dos Ministérios e caminharam em direção ao MEC e ao Congresso Nacional. Ao final do protesto, houve confusão com a PM que usou spray de pimenta. Manifestantes soltaram rojões e dois deles acabaram detidos e foram levados para a delegacia.

MANAUS

Estava marcada para às 16h desta quarta-feira na Praça da Saudade, Centro de Manaus, uma segunda manifestação de alunos e professores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Pela manhã, cerca de 200 pessoas participaram do ato que adere ao movimento nacional das universidades federais que tiveram corte de 30 por cento dos recursos anunciado pelo Ministério da Educação. A UFAM teve 38 milhões de reais bloqueados pelo governo Bolsonaro. Os manifestantes cumpriram agenda dentro da Universidade com aulas públicas sobre filosofia. Os atos também vão ocorrer nas unidades de ensino da Universidade no interior do estado. Fonte: http://www.bandnewsfm.com.br

Nos EUA, Bolsonaro chama manifestantes da educação de 'idiotas úteis'

Presidente brasileiro afirmou que não gostaria de fazer o corte, mas culpou a situação herdada dos governos anteriores

Henrique Gomes Batista, enviado especial, e Paola De Orte, especial para o Valor

DALLAS — Em sua chegada a Dallas, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que os estudantes em manifestação contra o corte de verbas para a Educação são "massa de manobra" e " idiotasúteis". Em sua opinião, eles são manipulados por uma minoria que comanda as universidades federais.

— É natural, é natural, mas a maioria ali é militante. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais no Brasil — disse o presidente na porta do hotel onde ficará hospedado, cercado de manifestantes a seu favor.

— Na verdade não existe corte. O que houve é um problema que a gente pegou o Brasil destruído economicamente também, com baixa nas arrecadações, afetando a previsão de quem fez o orçamento, e se não tiver esse contingenciamento eu simplesmente entro contra a lei de responsabilidade fiscal. Então não tem jeito, tem que contingenciar. Mas eu gostaria (que não cortasse) nada, em especial na educação.

Bolsonaro reiterou que a educação está deixando muito a desejar no Brasil:

—  Se você pega as provas, que acontecem de três em três anos, está cada vez mais ladeira abaixo — disse.  — A garotada, com 15 anos de idade, na oitava série, 70% não sabe uma regra de três simples. Qual o futuro destas pessoas? Fala-se que tem muito desempregado, 14 milhões, mas parte deles não tem qualquer qualificação porque esse cuidado não teve pelo PT ao longo de 13 anos. Fonte: https://oglobo.globo.com