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“A responsabilidade neste momento sombrio não é pequena para o PT e seu líder, Lula, que foi, em última instância, o grande derrotado das eleições. Bolsonaro, segundo não poucos analistas, é o fruto amargo dos erros do PT. Agora chegou o momento da reflexão e de colocar a democracia do país à frente dos estreitos interesses de partido”, escreve Juan Arias, jornalista, em artigo publicado por El País, 31-10-2018.
Eis o artigo.
O Brasil acordou no último domingo, 28, de um pesadelo. Descobriu que a maioria dos eleitores, mais de 55 milhões, tinha elegido democraticamente para presidente da República Jair Bolsonaro, um capitão da reserva, de extrema-direita, expulso do Exército e que se propõe, como “desígnio divino”, a acabar com a esquerda que governou o país durante 13 anos. Já fazia mais de 70 anos que isso não acontecia.
Para os outros 45 milhões que votaram no candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, fica agora a tarefa de organizar uma frente de oposição democrática que impeça o novo presidente de levar a cabo as ameaças feitas durante a campanha eleitoral contra a democracia e a favor da tortura e da ditadura militar.
Em seu primeiro discurso, Bolsonaro não disparou um revólver, um gesto típico seu. Levantou o texto da Constituição jurando que seu Governo “será escravo dela”. E fez alarde de respeitar todas as liberdades. Jurou que será o presidente de todos os brasileiros. Também daqueles que não pensam como ele, daqueles a quem aconselhou o exílio antes que pudessem ser eliminados? Juntamente com a Constituição, também brandiu um exemplar da Bíblia, que segundo ele lhe permitirá “libertar o Brasil”.
Ninguém sabe como o país poderá ser guiado agora por um presidente de extrema direita, votado maciçamente pelos evangélicos, que estará cercado por generais do Exército em seu Governo e que tinha afirmado no Congresso que o Brasil “não é um país laico” e quem não gostasse poderia ir embora. Seu lema é “Deus acima de tudo”.
Portanto, cabe agora às forças progressistas e democráticas criar uma frente de oposição responsável que cuide para que o novo presidente cumpra seu juramento de não se afastar da Constituição e governar de acordo com os cânones das democracias modernas. O lógico seria que essa oposição fosse liderada por Fernando Haddad, que em poucas semanas foi capaz de conquistar 45 milhões de eleitores, muitos dos quais, embora não comungando com o PT, o apoiaram para tentar deter Bolsonaro. E ele o fez. Entusiasmou e manteve uma postura sem extremismos, sensata e de diálogo.
Não é, no entanto, esse tipo de oposição que parece querer hoje a parte mais radical do PT, que preferiria um confronto direto com o presidente-capitão. Foi esse radicalismoque impediu, já no primeiro turno das eleições, que fosse criada uma ampla frente democrática contra a extrema-direita, liderada por um candidato de centro-esquerda, uma vez que a rejeição de milhões de eleitores ao PT tinha sido o estopim que desencadeou o fogo da candidatura de Bolsonaro. Não foi possível porque nem o PTnem Lula – que é quem continua, da prisão, dirigindo o partido – permitiram. Preferiram a derrota a deixar que outra força de esquerda detivesse o perigo que se aproximava da democracia.
Haddad, que é visto pela ala esquerda do PT como um socialdemocrata, conseguiu, no entanto, amalgamar durante a campanha as maiores e mais responsáveis figuras políticas democráticas e progressistas do país dispostas a formar uma ampla frente de oposição para servir como contraponto à extrema direita do ex-paraquedista. Essa oposição democrática foi capaz de romper o clima de ódio e negatividade que permeava a sociedade. E conseguiu criar gestos simbólicos de resistência democrática e festiva, como ir às urnas com um livro ou flores na mão, como contraponto à paixão do novo presidente pelas armas.
Apenas uma oposição desse tipo, que sirva ao mesmo tempo para reunificar todas as forças democráticas fazendo-as dialogar e colaborar juntas, será capaz de cuidar para que o país não se veja despojado dos seus melhores valores democráticos, conquistados com tanto esforço depois da ditadura militar.
A responsabilidade neste momento sombrio não é pequena para o PT e seu líder, Lula, que foi, em última instância, o grande derrotado das eleições. Bolsonaro, segundo não poucos analistas, é o fruto amargo dos erros do PT. Agora chegou o momento da reflexão e de colocar a democracia do país à frente dos estreitos interesses de partido. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fala ao Vatican News sobre as eleições presidenciais no Brasil, que deu a vitória ao candidato Jair Bolsonaro. Para Dom Leonardo o fato de as eleições terem corrido em um ambiente harmônico é um bom sinal “sinal de que os brasileiros querem um país com convivência mais fraterna, mais irmã!”.
Futuro do Brasil
Quanto ao futuro, do Brasil, depende de “como se comportará o Supremo Tribunal, o Executivo e o Legislativo, são os três poderes que devem ajudar o Brasil”. Porém, para o Bispo, “existe uma preocupação porque muitas das afirmações durante o tempo das eleições não eram favoráveis aos indígenas, quilombolas, pobres e aos direitos humanos”. Então tudo depende deste período pós eleição se muda a linguagem e as atitudes.
Reconciliação e comunhão
Dom Leonardo acredita que “como sociedade brasileira da qual a CNBB faz parte, agora temos um momento necessariamente de comunhão”. Recordando a nota da CNBB antes das eleições diz que foi falado de “reconciliação”, várias entidades buscam isso neste momento. “Depois da eleição busquemos defender a democracia com a reconciliação”.
Democracia
Ao falar de democracia, diz o bispo “fala-se no sentido de que as pessoas possam participar ativamente, viver na liberdade, mas ao mesmo tempo ter políticas públicas em benefício de todos, essa é a tarefa de toda a sociedade”.
Tempo de estender a mão
Hoje no Brasil existe divisões mas também tensões, e não só na sociedade, mas nas nossas próprias famílias, por isso chegou o tempo de fazer um movimento “de estender a mão, saber ouvir! O tempo das eleições foi um tempo que não soube ouvir, havia a capacidade de agressão e não da palavra, não da escuta – diz o bispo – e esse tempo da escuta e da palavra deve vir agora.
Abrir-se ao diálogo
Ao comentar sobre qual seria o papel da Igreja para que este Brasil dividido possa se reencontrar, Dom Leonardo diz que não será uma tarefa fácil, depende da atitude dos governantes, evidenciado que “quando um governo assume precisa ouvir a sociedade, não se impor, senão os movimentos sociais começam a se manifestar ir às ruas e isso leva a tensões e divisões maiores ainda. Por isso o Governo precisa estender a mão e abrir-se ao diálogo”.
Papel da Igreja
Quanto ao papel da Igreja para diminuir as divisões, Dom Leonardo confirma que a CNBB “nunca indicou um candidato, mas foram indicados critérios para escolher um candidato. Tais critérios são a democracia, diálogo, opção pelos pobres, defesa da vida em todos os sentidos, não apenas a questão do aborto, mas fala-se de toda a abrangência que a palavra vida tem, inclusive a questão do meio ambiente. Porém, frisou Dom Leonardo, “como Igreja é preciso ajudar a articular para o diálogo e criar um movimento dentro do Brasil, para que possamos sentar todos juntos ao redor de uma mesa”. “É um trabalho difícil mas a Igreja não vai se furtar a esta tarefa que o Evangelho nos confia, de criarmos uma fraternidade. Fraternidade significa um rumo, um rumo que é de justiça, de verdade e de amor.
Mensagem ao novo Presidente
“Desejo a Bolsonaro um bom governo, que ele possa governar para os brasileiros, para todos os brasileiros, todos. Se ele o fizer, certamente terá feito um bom governo”. Fonte: http://www.cnbb.org.br
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Presidente e bancada religiosa se beneficiariam com debate restrito à pauta de comportamento. Questões econômicas e de segurança tendem a se impor e podem transformar religiosos em "vidraça"
"Eu vim aqui mais para ouvir do que falar", disse o então pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro diante de uma multidão de evangélicos na 26ª Marcha para Jesus, em maio, em São Paulo. Os organizadores calcularam em dois milhões de pessoas a quantidade de participantes do evento anual —a Polícia Militar não divulgou estimativa. "Hoje é dia de consagração. Que o Senhor abençoe e proteja as nossas famílias. Nós amamos Israel", discursou brevemente, na ocasião, o hoje presidente eleito do Brasil, finalizando a curta intervenção com seu lema de campanha: "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos". Meses depois, assim que teve sua eleição confirmada, Bolsonaro fez questão de, em sua primeira aparição pública, passar uma mensagem religiosa. Junto a seus apoiadores, inclusive, rezou, em uma imagem transmitida em rede nacional. Meio católico, meio evangélico, ele assumirá a Presidência da República no dia 1º de janeiro de 2019 com um apoio massivo do segundo grupo, que vem ampliando sua presença na política nacional eleição após eleição desde a década de 1980.
Um católico que frequenta a Igreja Batista há décadas, como ele mesmo se define, o presidente eleito neste domingo carrega para o Palácio do Planalto uma agenda religiosa que ainda não tinha encontrado tanta legitimidade no Executivo. É de se esperar, portanto, que os evangélicos deixem a posição de veto que ocuparam durante o Governo Dilma Rousseff para a de protagonistas, com a promoção de pautas. Isso não garante, contudo, apoio incondicional ao futuro Governo, ponderam estudiosos da relação entre política e religião no Brasil ouvidos pelo EL PAÍS. "O processo de politização da religião envolve ricos muito altos. Não se trata de uma força da religião na política apenas, mas de uma força da política na religião", analisa o sociólogo Roberto Dutra, professor da Universidade Estadual do norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).
Durante a campanha, Bolsonaro recebeu o apoio público das maiores lideranças evangélicas do país. “De todos os candidatos, o único que fala o idioma do evangélico é Bolsonaro”, disse no início de outubro o pastor José Wellington Bezerra, presidente emérito da Assembleia de Deus, a maior congregação evangélica do Brasil. Responsável por celebrar o último casamento de Bolsonaro, com Michelle Firmo, em 2013, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, esqueceu críticas antigas sobre o radicalismo do presidente eleito para embarcar na candidatura do PSL à Presidência. Já o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, não se limitou a dizer que votaria em Bolsonaro. Sua emissora de televisão reservou 30 minutos exclusivospara o candidato enquanto seus adversários se enfrentavam em debate na Rede Globo.
A lista de apoiadores evangélicos conta ainda com o bispo Robson Rodovalho, criador da Sara Nossa Terra, e tem como grande unificador a bandeira de combate à "ideologia de gênero" e em favor da família tradicional, segundo a pesquisadora norte-americana Amy Erica Smith. Autora do livro Religion and Brazilian Democracy: Mobilizing the People of God (Religião e democracia no Brasil: mobilizando o povo de Deus), a ser lançado em abril próximo, Smith veio ao Brasil estudar organizações comunitárias, e descobriu nas igrejas os grupos mais organizados.
A pesquisadora lembra que o ativismo político dos evangélicos data da década de 1980, durante a Constituinte, e faz parte de uma estratégia para ampliar o poder de evangelização. "Os evangélicos achavam que as políticas públicas do Estado brasileiro estavam prejudicando sua capacidade para evangelizar. Queriam chegar ao poder para obter coisas como licenças para rádio". A mobilização rendeu, nesta eleição, uma ampliação da bancada evangélica do Congresso Nacional de 78 para 91 parlamentares na próxima legislatura, de acordo com as contas do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Segundo Roberto Dutra, é uma bancada muito renovada, mais nova e com perfil de atuação mais agressiva nas redes sociais. Amy Smith lembra, por outro lado, que os evangélicos ainda estão sub-representados no Congresso, porque eles já compõem cerca de 30% da população brasileira, mas passarão a representar apenas 15% do parlamento.
Protagonismo
"Tanto para Bolsonaro quanto para os parlamentares, é muito interessante que o debate fique restrito à questão da agenda de comportamento: o que eles chamam de ideologia de gênero, pauta gay, questões sobre cotas —para o que a esquerda contribui muito com essa linguagem da política identitária", diz o sociólogo. "Se o debate ficar preso nisso, a tendência é que essa bancada evangélica tenha um protagonismo muito grande e consiga vitórias expressivas em relação à redução da maioridade penal ou eliminação de qualquer terminologia e conceituação sobre gênero na educação. Mas a pauta não vai ser só essa".
Dutra diz que, embora Bolsonaro fuja do debate sobre economia e políticas sociais, essas questões serão, junto com a segurança pública, as mais importantes de seu Governo. "Quando a política social, o crescimento econômico e a segurança pública, para que ele não tem solução nenhuma, naufragarem, a bancada evangélica vai virar vidraça", prevê, acrescentando que, com uma agenda econômica liberal radicalizada, "não haverá fé que segure o apoio dos evangélicos". Amy Smith chama atenção especialmente para a questão da violência. "Se o governo for muito sangrento, e pode ser, talvez ele perca um pouco da popularidade dentro das comunidades evangélicas. Há um movimento evangélico minoritário, mas forte, que acredita que a repressão de bandidos não é algo cristão. A violência retórica o prejudica. Se enfocar na repressão da comunidade gay, mas não na violência, pode ser que tenha mais apoio”, analisa.
Outro risco para Bolsonaro é tentar se escorar demais na comunidade evangélica, que impulsionou parte de sua campanha mobilizada contra o material escolar anti-homofobia popularmente conhecido como "kit gay". "Esse uso da religião como meio para a política pode levar ao desgaste da imagem entre os evangélicos. O uso do púlpito não é bem visto", diz Dutra, para quem problemas no Governo Bolsonaro podem contribuir para fomentar lideranças progressistas de esquerda entre os evangélicos. "[Marcelo] Crivella faz um Governo muito mal avaliado no Rio [de Janeiro]. Só não repercutiu muito fortemente na eleição do Estado porque o debate foi nacionalizado. Logo, logo, todo mundo vai lembrar que a prefeitura do Rio esta muito mal administrada", diz.
De qualquer forma, a influência evangélica na política brasileira deve aumentar, aposta Amy Smith, tanto pela busca de espaço político das igrejas quanto pelo crescimento da comunidade religiosa. Esses movimentos podem até culminar na eleição de um presidente evangélico de fato, mas isso dependeria do estabelecimento de uma unidade que não existe. "Tem uma expressão que se diz entre os evangélicos: ‘irmão vota em irmão”. Mas isso não acontece", diz Smith. "No período Lula [2003-2010], os evangélicos aderiram ao Governo pela política social. Eles têm afinidade e uma relação muito grande com a educação. Aproveitaram oportunidades. São pobres, não são só evangélicos. São identidades múltiplas, de classes populares", resume Dutra. Fonte: https://brasil.elpais.com
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Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG),
Concluído o processo eleitoral 2018, o arcebispo de Belo Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de Azevedo chama a atenção, em artigo, para um aspecto: “As eleições marcam o início de um novo ciclo, resultado da vontade dos cidadãos”. Para ele, as eleições não têm força mágica, com o poder imediato de tudo mudar, mas constituem um importante passo, na tarefa de se percorrer um longo caminho.
“Não se pode acreditar na solução imediata dos problemas, simplesmente porque determinado candidato venceu o pleito. O dia seguinte às Eleições não é um ‘conto de fadas’. Para vencer seus muitos desafios, o povo brasileiro necessita buscar respostas alicerçadas em um profundo humanismo, em princípios e valores fundamentais conforme exige o sistema democrático”, disse.
O religioso defende que é ilusória a possibilidade de se conquistar o bem comum fora dos trilhos da democracia, por meio de escolhas unilaterais ou imposições. “A participação cidadã, além de possibilitar a escolha dos representantes do povo nas eleições, assegura aos governados a prerrogativa de acompanhar e direcionar a atuação dos próprios governantes”, disse.
O sistema democrático, recorda dom Walmor, oferece mecanismos para que o poder do Estado não seja apropriado por interesses particulares ou objetivos ideológicos. “A partir das eleições é necessário renovar a compreensão de que uma autêntica democracia requer um Estado regido pelo Direito, sobre a base de uma rica concepção do ser humano, conforme ensina a Doutrina Social da Igreja Católica”, defende.
Compromisso com a democracia – Os eleitos, acima de tudo, têm o compromisso de defender a democracia, para além do mero respeito formal a determinadas regras. “É preciso aceitar, com convicção, os valores que inspiram os procedimentos democráticos: o zelo pelos direitos e pela dignidade humana, a busca do bem comum”, reforça. Sem o consenso sobre a importância desses valores, a democracia perde a sua estabilidade, defende dom Walmor.
Para o arcebispo de Belo Horizonte (MG) é perigoso quando os representantes do povo, nos três poderes, navegam no leito do relativismo ético que leva à manipulação de valores, que passam a ser negociados, em vez de serem compreendidos como critérios objetivos a serem respeitados. “Uma democracia sem princípios converte-se, facilmente, em totalitarismo, aberto ou dissimulado”, disse.
Dom Walmor defende que para se preservar o regime democrático é preciso agir em conformidade com a lei moral, que é soberana e sustenta o indispensável equilíbrio entre os poderes. Nesse horizonte, defende, espera-se competência humanística daqueles que exercem o poder. “Assim se legitima a autoridade perante o povo e se conquista credibilidade”, destaca.
Para corrigir as deformações do sistema democrático – a corrupção política, a traição de princípios morais e a inaceitável negociação da justiça social – dom Walmor aponta que os partidos políticos devem ser capazes de favorecer a participação cidadã, consolidando o entendimento da responsabilidade de todos pelos rumos da sociedade em um sistema democrático. “É exigido qualificado desempenho dos que ocupam cargos nos três poderes, mas também é indispensável a colaboração cidadã de cada pessoa na definição dos rumos do país”. Fonte: http://www.cnbb.org.br
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Petista disse que escreve mensagem 'de coração leve
BRASÍLIA - No dia seguinte após perder a eleição, Fernando Haddad (PT) usou o Twitter para parabenizar o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pela vitória. Disse que escreve a mensagem "de coração leve" para que "ela estimule o melhor de todos nós". Neste domingo, ele avisou a dirigentes petistas que não ligaria para Bolsonaro, um gesto tradicional entre os políticos de reconhecimento da derrota. Os correligionários ressaltaram que xingamento e "falta de civilidade" por parte do capitão reformado levaram Haddad à decisão.
“Presidente Jair Bolsonaro. Desejo-lhe sucesso. Nosso país merece o melhor. Escrevo essa mensagem, hoje, de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós. Boa sorte”! Fernando Haddad
Fonte: https://oglobo.globo.com
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Emissora foi autorizada a preparar estrutura para transmissão ao vivo em sua casa no RJ
Depois de passar toda a campanha eleitoral criticando a imprensa, inclusive acusando a TV Globo de “perverter as tradições familiares”, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), mirando a proximidade do poder, autorizou a emissora a entrar em seu condomínio no Rio de Janeiro.
Um carro de link, para transmissões ao vivo, da mesma emissora permaneceu durante toda a madrugada deste domingo (28/10) de votação em segundo, no espaço residencial na Barra da Tijuca.
A estrutura está montada em frente à casa do presidenciável, na rua C do Vivendas da Barra. As vans das outras emissoras estão estacionadas na área externa ao condomínio. Na frente da casa, há também um carro de link de uma produtora especializada em produção de conteúdo para TV na internet.
A residência de Bolsonaro é vigiada dia e noite por agentes federais. Eles alugaram uma casa no próprio condomínio e fazem plantão na garagem do político, no acesso à rua e na portaria. Também circulam todo o tempo pelas becos e ruelas do conjunto residencial. Há ainda seguranças de uma empresa privada e agentes da polícia militar colaborando com o serviço de vigilância. Fonte: https://www.metropoles.com
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O novo deus militar, diante do qual a maioria dos brasileiros parece disposta a se ajoelhar, se parece mais com o Deus do Antigo Testamento, o do “olho por olho e dente por dente”
Milhões de evangélicos e católicos se dispõem a votar no novo deus, o capitão Bolsonaro. Existe, entre crentes e agnósticos nesse país, uma inclinação a querer ser governados não por um político normal e sim por um deus, capaz de resolver todos os seus problemas. Primeiro foi Getúlio Vargas. Adorado pelas massas, de agnóstico acabou, por conveniência, flertando com os católicos e introduziu o ensino da religião na escola pública. Acabou se suicidando com um tiro no coração. Depois veio Lula, o deus da boa nova, o que trazia o Brasil ao paraíso reencarnado. Havia antecipado o futuro. É católico e foi comparado a Jesus Cristo. Acabou na cadeia condenado por corrupção. E agora vem o deus Bolsonaro que já foi católico e agora é evangélico. Ainda não chegou ao trono e já tentaram matá-lo. E está convencido de que Deus agiu para que não morresse. “Deus acima de tudo!”
O novo deus militar, diante do qual a maioria dos brasileiros parece disposta a se ajoelhar, se parece mais com o Deus do Antigo Testamento, o dos trovões e raios, o vingador, o do “olho por olho e dente por dente”, do que com o do Novo Testamento, o reino do diálogo, da dialética e do paradoxo. O que levou Jesus a dizer que “quem com a espada fere, pela espada morre”, e ao mesmo tempo: “não vim trazer a paz e sim a guerra”. O que predicava que o Reino era para os últimos, os desprezados e sem dinheiro, e ao mesmo tempo se sentava à mesa dos ricos. É um Deus difícil de assimilar o que oferece um Reino “que não é desse mundo”, mas tem que agir misturado ao barro humano.
Ao que parece, os brasileiros religiosos hoje preferem o Deus que castiga e mata. Preferem o que encarna o fariseu que, em pé, na primeira fila, no templo, se gabava: “Te dou graças, Senhor, porque eu não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como esse publicano”. Este, inclinando-se ao solo, “batia no peito dizendo: Deus, tenha piedade de mim, que sou um pecador”. O evangelho diz que o publicano saiu purificado e o fariseu, o justo, reprovado por Deus.
No verdadeiro cristianismo, o que mudou a vingança pelo perdão, deveriam caber justos e pecadores, crentes e ateus, ricos e pobres, sábios e ignorantes, reis e vassalos. Nele há espaço para todos, ainda que com preferência aos mais despossuídos e esquecidos pelo poder. Se o Brasil apostar dessa vez pelo deus da raiva, o da justiça sem misericórdia, temo muito que possamos voltar aos tempos sombrios em que a violência era bendita pela Igreja.
O novo deus que os brasileiros parecem querer escolher poder ser mais perigoso porque aparece como o que não mente. O que não engana e não se corrompe. E ainda que pareça um paradoxo, esse novo deus pode ser aterrador porque sabemos que está disposto a cumprir o que promete, sem esperança de que possa se arrepender. Sabemos, por exemplo, que o novo deus militar gosta da tortura, da pena de morte, da velha lei do talião. Que lhe pareceria normal dar um autogolpe se não o deixarem governar como quer. Que acha que certas pessoas como negros, índios, homossexuais e mulheres são inferiores às outras. Sabemos que esse novo deus militar dos brasileiros é capaz de realizar o que promete e ameaça. Nele, o não mentir pode ser trágico.
Seus seguidores religiosos se esquecem que é verdade que Deus não mente, mas também que existem verdades que nos alimentam e libertam e verdades que nos prendem e envenenam. Não seria melhor, em política, deixar a Deus o que é de Deus e aos homens o que é dos homens? Nada mais perigoso, de fato, do que quando os políticos decidem brincar de Deus. E o Brasil hoje não está preparado para brincadeiras perigosas. Fonte: https://brasil.elpais.com
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O programa político do candidato põe em risco o futuro democrático do Brasil
Neste domingo se realiza no Brasil o segundo turno das eleições presidenciaisnas quais o ultradireitista Jair Bolsonaro parte como claro favorito. Com uma vitória retumbante no primeiro turno, com 46% dos votos, Bolsonaro superou em 17 pontos seu principal rival, do Partido dos Trabalhadores, e tudo parece indicar que o maior país da América Latina poderá converter em presidente um candidato que não hesita em mostrar um claro desprezo pelas regras do jogo democrático. Aquele que pode se tornar o trigésimo oitavo presidente do Brasil colocou seus concidadãos diante de uma decisão radical: manter o sistema democrático ou inclinar-se de facto por uma alternativa autoritária. Esta é, na realidade, a característica fundamental da eleição, uma convocação para a qual não cabem posições intermediárias frente ao risco de ter início um retrocesso democrático. A separação de poderes e os direitos e liberdades dos cidadãos são componentes imprescindíveis da democracia e do Estado de Direito, e é paradoxal que o voto possa colocá-los em risco com a opção por um programa político como o apresentado por Bolsonaro.
Ao longo do último mês, esse ex-militar nostálgico da ditadura se dedicou a demonizar perigosamente seus adversários políticos, tachando-os de "criminosos vermelhos", prometendo que "vão ser varridos do país" e os ameaçando com a "prisão e o exílio". Bolsonaro não hesitou em promover um discurso de ódio contra as mulheres e as minorias, que constituem metade da população, reabrindo uma brecha de corte racial em um país com uma das taxas mais elevadas de violência na região, um problema que ele quer combater com mais violência: "Se um ladrão tem uma arma, nós temos que ter um fuzil", disse ele em um de seus discursos de campanha. Tudo isso faz do candidato um perigo real de consequências incalculáveis para a região. A eleição de um candidato que expressa abertamente seu desprezo pelos padrões mínimos de qualidade democrática compromete seriamente o presente e o futuro de uma das economias emergentes mais importantes do planeta e de um país que parecia destinado a desempenhar um papel de protagonista no século XXI .
É compreensível que uma parte do povo brasileiro queira mostrar que está farta da corrupção, e que os cidadãos sintam e expressem legítima ansiedade depois de sofrer uma crise econômica dilacerante que o PT administrou mal, incrementando de novo os índices de desigualdade. Mas Bolsonaro não é a solução. Se a corrupção, a deterioração institucional e uma classe média empobrecida representam os problemas estruturais que o gigante latino-americano atravessa, a concentração de poder nas mãos de um militar autoritário em um país já enfraquecido institucionalmente só ajudaria a precipitar a saída do Brasil dos esquemas democráticos para transformá-lo, provavelmente, em uma ditadura eleitoral. O impulso legítimo de purgar um sistema e punir suas elites extrativistas não pode resultar na escolha de um candidato que põe em causa a própria sobrevivência da democracia. Fonte: https://brasil.elpais.com
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Presidenciável do PSL tem milhões de seguidores nas redes, recusa os debates e dá entrevistas contadas para manter seu discurso sob controle
É talvez um dos momentos mais surrealistas da campanha eleitoral brasileira. Sem dúvida, o mais escatológico. Ocorreu na Internet, crucial campo de batalha nesta eleição. Jair Messias Bolsonaro, claríssimo favorito no segundo turno, veterano deputado, explica ao vivo aos seus oito milhões de seguidores no Facebook que não participará do debate televisivo com que tradicionalmente se encerra a campanha. Convalescente da facada que sofreu no começo de setembro, esmiúça ao vivo – “numa live do Facebook” – os motivos da sua ausência. Diz que tem autorização médica para ir para o cara a cara, mas prefere não correr riscos. De repente, levanta a camiseta… E mostra a bolsa de colostomia enquanto diz: "O pessoal quer que eu vá ao debate, mas posso ter um problema com a bolsa, posso ter que voltar para o hospital, e tudo isso para debater com um poste". Eis aí, em estado puro, o candidato que revolucionou a política do Brasil.
Bolsonaro levou um grau adiante o conceito de fazer política nas redes sociais. Evita intermediários. Esquiva críticas. Tem um controle quase absoluto sobre sua mensagem. Dá as costas aos debates e também aos comícios desde que um desequilibrado com simpatias esquerdistas o esfaqueou. Fala à mídia tradicional, apenas o necessário, e só para os veículos com afinidade e outros terrenos seguros.
Barack Obama foi o primeiro a vislumbrar o potencial da Internet para arrecadar dinheiro; na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi travou sua batalha no Twitter e fez vibrar centenas de milhares de pessoas em todos os cantos do país, participando de comícios simultâneos graças a um holograma; Donald Trump descobriu no Twitter uma alternativa aos sempre incômodos meios tradicionais; finalmente, o italiano Matteo Salvini descobriu o potencial das lives do Facebook. Agora, Bolsonaro levou a estratégia a uma nova fase: só se deixa ver na tela.
Bolsonaro mostra sua bolsa de colostomia em uma transmissão ao vivo pelo Facebook
O ex-militar, que dedicou seu voto na destituição de Dilma Rousseff ao torturador da ex-presidenta, conseguiu fazer da necessidade uma virtude. Sem um partido poderoso ou aliados óbvios, e com apenas oito segundos de propaganda contra os partidos de longa data, ele planejou uma estratégia voltada para as redes sociais, um ecossistema que premia e potencializa o tribalismo, o radicalismo e o histrionismo. Um terreno fértil para difundir seu conservadorismo de extrema direita sem renunciar a distorções ou a mentiras flagrantes.
Usa diferentes canais, com discursos diferentes dirigidos a diferentes públicos, explica Francisco Carvalho de Brito, diretor do Internet Lab, consultoria de direito e tecnologia. "Bolsonaro usa o FB para divulgar sua agenda, para falar com suas bases, que não confiam na grande mídia. Quando quer moderar seu discurso, concorda em dar entrevistas para a televisão para enviar sinais aos mercados, às instituições ... Ele usa o Twitter para responder rapidamente às questões (polêmicas) ... Usa os grupos de WhatsApp como fã-clubes em que se pode fazer parte da sua rede ... "
Na reta final da campanha, o Facebook fechou 69 páginas e 43 contas vinculadas ao grupo empresarial Raposo Fernandes Associados por violar as regras sobre spam e deturpação, mas a tecnológica tem rejeitado o pedido de reduzir no Brasil o limite de pessoas às quais se pode enviar mensagens de WhatsApp de 20 para 5, como acontece na Índia. "É muito preocupante, caminhamos sobre o gelo porque as fake news são fabricadas em escala industrial, mas a checagem de informações é um processo que leva um longo tempo", destacou esta semana Thiago Tavares, diretor da SaferNet, ONG que analisa as redes em busca de possíveis crimes, informa a France Presse.
A página oficial no Facebook de Bolsonaro tem oito milhões de seguidores (ainda longe de seus 49 milhões de votos no primeiro turno) na reta final de uma campanha em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso, começou com 3,6 milhões e o militar aposentado, com 5,5 milhões. Um enorme salto para um político cuja primeira mensagem no Facebook teve apenas 70 curtidas.
O brasileiro estreou a página em um momento-chave. Em junho de 2013, as ruas (e as redes) explodiram. O aumento do transporte público em São Paulo (com Haddad prefeito) catalisou a indignação popular e levou milhões para as ruas convocados por outros brasileiros comuns, distantes de partidos, sindicatos e movimentos sociais. Alguns políticos tradicionais viram nas redes sociais a possibilidade de se reinventar e buscar relevância. Grupos sociais da direita também vislumbraram o filão. Com isso houve um vertiginoso crescimento de uma dinâmica que viu surgirem grupos como o ultraliberal e agressivo Movimento Brasil Livre (MBL), o questionamento das eleições vencidas por pequena margem por Dilma Rousseff em 2014, a sua destituição, novos protestos em massa ... e em 2017, o salto de Bolsonaro para a arena, com cenas de multidões que o recebiam no aeroporto transmitidas pelas redes e visitas a quartéis.
O Movimento Brasil Livre foi um dos agitadores das grandes manifestações de 2015 contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Essas foram as primeiras marchas da direita como tal desde o fim da ditadura em 1985. O ex-militar já ambicionava há três anos se candidatar nesta eleição presidencial. O MBL empreendeu uma guerra cultural em sintonia com os evangélicos e Bolsonaro. Desde a criação de sua página no Facebook, o favorito para presidir o maior país da América Latina utilizou esse canal a partir de janeiro de modo intensivo para difundir a agenda que defendia como deputado federal: a oposição ao projeto de lei que criminaliza a homofobia, sua proposta de voto em cédula para evitar uma suposta fraude nas urnas eletrônicas, a rejeição de uma Comissão da Verdade – que investigou os abusos cometidos pelo Estado durante a ditadura militar –, e assim por diante. Mas não descuida do Whatsapp, ao qual tanto deve. No ano passado, ele lhe dedicou até um projeto de lei, que buscava impedir que o aplicativo fosse tirado do ar pela Justiça. Fonte: https://brasil.elpais.com
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Reunidos entre os dias 23 e 24 de outubro na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), os bispos que integram o Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) da entidade emitiram uma Nota sobre o segundo turno das Eleições 2018. No documento, os bispos reforçam que as eleições são ocasião de exercício da democracia que requer dos candidatos propostas e projetos que apontem para a construção de uma sociedade em que reinem a justiça e a paz social. Os bispos exortam a que se deponham as armas de ódio e de vingança que têm gerado um clima de violência, estimulado por notícias falsas, discursos e posturas radicais, que colocam em risco as bases democráticas da sociedade brasileira. Abaixo, a íntegra do documento.
NOTA DA CNBB
Por ocasião do segundo turno das eleições de 2018
Jesus Cristo é a nossa paz! (cf. Ef 2,14)
O Brasil volta às urnas para eleger seu novo presidente e, em alguns Estados e no Distrito Federal, seu governador. Fiel à sua missão evangelizadora, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de seu Conselho Episcopal Pastoral (Consep), reunido em Brasília-DF, nos dias 23 e 24 de outubro, vem ratificar sua posição e orientações a respeito deste importante momento para o País.
Eleições são ocasião de exercício da democracia que requer dos candidatos propostas e projetos que apontem para a construção de uma sociedade em que reinem a justiça e a paz social. Cabe à população julgar, na liberdade de sua consciência, o projeto que melhor responda aos princípios do bem comum, da dignidade da pessoa humana, do combate à sonegação e à corrupção, do respeito às instituições do Estado democrático de direito e da observância da Constituição Federal.
Na missão de pastores e profetas, nós, bispos católicos, ao assumirmos posicionamentos pastorais em questões sociais, econômicas e políticas, o fazemos, não por ideologia, mas por exigência do Evangelho que nos manda amar e servir a todos, preferencialmente aos pobres. Por isso, “a Igreja reivindica sempre a liberdade, a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76). Não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada” (CNBB – Mensagem ao Povo de Deus – 19 de abril de 2018). Inúmeros são os testemunhos de bispos que, na história do país, se doaram e se doam no serviço da Igreja em favor de uma sociedade democrática, justa e fraterna.
A CNBB reafirma seu compromisso, sobretudo através do diálogo, de colaborar na busca do bem comum com as instituições sociais e aqueles que, respaldados pelo voto popular, forem eleitos para governar o País.
Exortamos a que se deponham armas de ódio e de vingança que têm gerado um clima de violência, estimulado por notícias falsas, discursos e posturas radicais, que colocam em risco as bases democráticas da sociedade brasileira. Toda atitude que incita à divisão, à discriminação, à intolerância e à violência, deve ser superada. Revistamo-nos, portanto, do amor e da reconciliação, e trilhemos o caminho da paz!
Por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, invocamos a bênção de Deus para o povo brasileiro.
Brasília-DF, 24 de outubro de 2018
Dom Murilo S. R. Krieger
Arcebispo de São Salvador
Presidente da CNBB em exercício
Dom Guilherme Antônio Werlang
Bispo de Lajes
Vice-Presidente da CNBB em exercício
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: http://www.cnbb.org.br
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Discurso do rapper destoou do clima de otimismo por eventual virada do petista sobre Jair Bolsonaro; 'Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo', disse
RIO – Um discurso crítico do rapper Mano Brown marcou um ato de campanha de Fernando Haddad (PT) no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 23. O cantor e compositor criticou o clima de festa e de otimismo do evento, que clamava por uma virada sobre Jair Bolsonaro (PSL) e culpou a falha de comunicação do PT com os eleitores das classes populares pela eleição do militar, que considera definida.
"Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo. Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada", disse o rapper, que ouviu algumas vaias. De acordo com a organização, 70 mil pessoas estavam presentes na praça abaixo dos Arcos da Lapa. "Não gosto do clima de festa. O que mata a gente é a cegueira e o fanatismo. Se somos o partido dos trabalhadores, temos que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta para a base e vai procurar saber."
Ao discursar no encerramento do ato, Haddad disse que respeitava e entendia o que disse Brown. “O que ele disse é sério”, afirmou o candidato do PT, defendendo que é preciso “dar razão” às pessoas que estão votando em Bolsonaro não porque confiam nele, mas porque “estão desesperadas”. “Tem irmãos e irmãs nossos que estão na periferia revoltados com tudo que está acontecendo e com razão. Temos que, nesta semana, abraçar essas pessoas, que sempre estiveram conosco”, afirmou Haddad.
Presente no evento, o músico Caetano Veloso também comentou a fala de Brown. "Eu acho que a fala de Mano Brown é muito importante porque traz a complexidade do nosso momento. A mera festa pode parecer que temos uma mensagem simples a passar."
Haddad disse sentir, “desde ontem (segunda-feira)”, um clima de “virada” no ar, defendeu que se “abrace” o eleitor de baixa renda que sempre votou no PT para conquistar votos na última semana e voltou a atacar o adversário Jair Bolsonaro (PSL).
“Vamos ganhar a eleição. Não tenho dúvida”, afirmou Haddad, logo no início do discurso. “Bolsonaro disse em discurso transmitido na Avenida Paulista no domingo (passado) que, depois das eleições, eu teria dois destinos: a prisão ou o exílio. Resolvi derrotar Jair Bolsonaro no (próximo) domingo”, disse o petista.
Haddad também criticou Bolsonaro, o que chamou de discurso de ódio e violência do candidato adversário e sua recusa a participar de debates. Numa referência à entrevista com Bolsonaro transmitida nesta terça-feira, 23, pela afiliada do SBT no Piauí, em que Bolsonaro disse que era preciso acabar com o “coitadismo” das minorias, Haddad subiu o tom.
O Mano Brown tem toda razão. Precisamos voltar pra periferia de coração aberto porque a periferia não votou com a gente no primeiro turno. Vamos voltar para a base pra governar o Brasil com a base, como sempre fizemos.
Jair, se olha no espelho. Coitado é você, que não passa de um soldadinho de araque que fala grosso porque tem gente armada em volta”, afirmou Haddad, lembrando que Bolsonaro evitou os debates no segundo turno e citando o que chamou de falta de propostas, tanto como parlamentar quanto como candidato.
No fim do discurso, Haddad defendeu o direito à manifestação por parte dos movimentos sociais. Dirigindo-se ao candidato derrotado pelo PSOL no primeiro turno das eleições 2018 e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o candidato do PT disse que Guilherme Boulos tem que ter o direito de se manifestar sem ser ameaçado. “No nosso governo, vá para as ruas, Boulos!”, exclamou Haddad. Fonte: https://politica.estadao.com.br
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De Roma, onde participa até o dia 28/10 como padre sinodal da XV Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, dom Jaime Spengler, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada e arcebispo de Porto Alegre (RS) concedeu entrevista ao VaticanNews na qual, entre outros assuntos, falou sobre as Eleições 2018 no Brasil.
Para o arcebispo, estamos vivendo uma crise de confiança muito grande, apesar de as instituições funcionarem. Em sua avaliação, as Eleições 2018 deixaram a desejar no debate de programas e propostas para o país. “Nos falta um projeto de nação que seja capaz de aglutinar o nosso povo e de dizer vamos olhar para a frente e pensar no futuro”, ressaltou.
Na avaliação do religioso, não temos apenas uma crise ética, à qual já estamos acostumados a lidar, mas também uma crise antropológica que aponte qual a noção de pessoa humana que orienta as decisões das diversas instâncias da sociedade e também as decisões do mundo político.
Dom Jaime, apesar do contexto, conclama a olharmos para frente. “Seja lá quem for eleito, no próximo domingo, terá uma missão enorme pela frente: unir a nação e povo brasileiros”, disse. O novo presidente precisará propor um caminho marcado pela Esperança de algo novo que seja capaz de proporcionar “vida em abundância para todos”.
O padre sinodal recordou as palavras proferidas pelo papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, quando disse aos jovens: “Não permitamos que nos roubem a esperança”. “Nesse momento da Nação, não podemos permitir que sejamos roubados na esperança. Porque sabemos que a esperança dá horizontes e cria utopias e estes são necessários para uma sociedade sadia”, concluiu. Fonte: http://www.cnbb.org.br
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A maior apreensão ocorreu em Tocantins, onde, no último dia 2, policiais encontraram R$ 1,2 milhão em um táxi
Mais de R$ 2,7 milhões em dinheiro, bens e substâncias entorpecentes foram apreendidos em posse de pessoas suspeitas de estarem praticando crime eleitoral. O montante foi apreendido entre o início do mês, quando começou a funcionar o Centro Integrado de Comando e Controle das Eleições Gerais, e a manhã de ontem (23).
Segundo o coordenador-geral de Defesa Institucional da PF, delegado Thiago Hauptmann Borelli, só em dinheiro foram apreendidos mais de R$ 1,5 milhão. A maior apreensão ocorreu em Tocantins, onde, no último dia 2, policiais militares encontraram R$ 1,2 milhão em um táxi abordado próximo à capital, Palmas. Outros R$ 500 mil foram apreendidos em Araguaína, também em Tocantins.
“Ainda não é possível determinar que este dinheiro seria usado para custear campanhas eleitorais ilegalmente, mas há esta suspeita. Pode ser lavagem de dinheiro. São casos recentes que ainda estão sendo apurados”, declarou o delegado Borelli, informando que, desde o início de outubro, foram instaurados mais de 2 mil inquéritos policiais para investigar suspeitas de crimes eleitorais. As denúncias mais frequentes dizem respeito à possível compra de votos; falsidade ideológica e boca de urna.
Coordenado pela Polícia Federal (PF), o centro integrado funciona em Brasília e congrega os esforços de 14 órgãos públicos federais que atuam para coibir infrações eleitorais e assegurar o equilíbrio nas eleições. Entre eles estão o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Secretaria Nacional de Segurança Pública, o Ministério da Defesa, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e outros. A forma de atuação é semelhante à adotada durante os grandes eventos ocorridos no Brasil entre os anos de 2013 a 2016, integrando diversas instituições públicas a fim de reduzir o tempo de resposta em casos que exijam agilidade na reação.
Reativação
Desativado após a conclusão do primeiro turno da eleição geral, realizada no último dia 7, o centro integrado coordenado pela PF voltou a operar hoje e funcionará até o próximo dia 28, quando acontece o segundo turno.
Durante a manhã, visitaram o local o Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ogg Fernandes. A jornalistas, Jungmann disse que a retomada das atividades do centro contribuirá para que a PF execute o papel de polícia judiciária eleitoral, agindo com maior rapidez para investigar e coibir inclusive a propagação da mentiras e boatos na internet.
“Não existe anonimato nas redes sociais”, disse o ministro ao se referir sobre as chamadas fake news, uma das ameaças que têm preocupado autoridades e especialistas no processo eleitoral. “Muitas vezes, a pessoa que está nas redes tem um sentimento de impunidade, achando que não será localizado. Quero lembrar que a PF tem tecnologia, equipamento e recursos humanos para, se necessário, localizar qualquer internauta, no Brasil e no exterior”, acrescentou Jungmann, lembrando que há penas para punir várias situações que possam ser criadas por meio digital com o propósito de prejudicar o bom andamento das eleições.
“Quem cria uma notícia falsa para provocar desassossego, intranquilidade, comoção ou atacar os poderes e autoridades da República comete um crime. Se solicitada pela Justiça Eleitoral, a Polícia Federal vai investigar e chegar aos responsáveis”, afirmou o ministro, voltando a destacar a apreensão de valores como um indício da capacidade investigativa da Polícia Federal e revelando esperar um segundo turno tranquilo.
“Em termos de ordem pública, a tranquilidade do pleito foi inquestionável. Em um eleitorado de 147 milhões de pessoas, tivemos menos de 3 mil ocorrências. Isso é um sintoma da tranquilidade, da maturidade elogiável do povo brasileiro”, concluiu Jungmann. Fonte: https://tribunahoje.com
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As redes sociais e os grupos de WhatsApp viralizaram nas últimas horas um vídeo em que o candidato a presidente da República do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, insultava a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), dizendo que “são a parte podre da Igreja católica”. A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por Religión Digital, 16-10-2018. A tradução é de André Langer.
Bolsonaro demonstrou ao longo de sua carreira política sua inimizade com a Igreja católica, sobretudo com aquela parte mais comprometida com as causas sociais e osdireitos dos mais pobres. Ele está ciente de que dificilmente a CNBB vai emitir um posicionamento explícito contra ele, algo que muitos católicos estão pedindo com cada vez mais insistência, e se aproveita para insultar, uma postura que tem sido repetida ao longo de seus anos, como quando na tribuna do Congresso Nacional disse que o cardeal Paulo Evaristo Arns, um dos grandes lutadores contra a ditadura militar, era alguém “sem honestidade e um aproveitador”.
Suas palavras, pronunciadas no que parece ser um encontro com grupos simpatizantes, são consequência do apoio da Igreja católica aos povos indígenas, uma de suas grandes obsessões. No vídeo, o candidato defende a exploração dos recursos da Amazônia por multinacionais estrangeiras, o que, sem dúvida, significa uma catástrofe ambiental de dimensões imprevisíveis. Ele afirma que “a região norte do país tem um atrativo muito grande por este tipo de indústria, patrocinada por países cultos. Porque nós temos a área mais rica do mundo, não só em biodiversidade como em riquezas minerais”.
Um dos grandes parapeitos, que impedem a invasão da Amazônia por parte de predadores ambientais, são as terras indígenas, reconhecidas pelas leis brasileiras. Nesse sentido, dá entender que a demarcação das terras indígenas é um escândalo, pois prejudica um dos seus grandes aliados, que são os proprietários de terra. Em uma afirmação que pode ser qualificada como ridícula o candidato chega a afirmar que existe o perigo de que esses territórios indígenas se tornem em países independentes dentro do Brasil, o que é outro exemplo de falta de conhecimento. O candidato afirma que “se depender de mim, essa política unilateral de demarcar terras indígenas por parte do Executivo deixará de existir, porque a reserva que eu puder reduzir, eu farei”.
Este tipo de declarações apenas aumenta o clima de confronto e dá margem para seus seguidores se fortaleçam nos seus ataques, mesmo contra a própria Igreja católica. Nos últimos dias, apareceram símbolos nazistas nas paredes de alguns templos e a própria sede da CNBB foi local de concentração dos partidários do candidato para insultar aqueles que definiam como bispos comunistas.
Fruto deste clima pelo qual o Brasil passa, neste dia 15 de outubro, as Pastorais Sociais da CNBB, entre as quais está o CIMI, um dos alvos dos ataques de Bolsonaro, emitiram uma nota em defesa da democracia e dos valores constitucionais, na qual condenam que “um movimento antidemocrático fere estes valores supremos assegurados pela Constituição e apela ao ódio e à violência, colocando o povo contra o povo”, com atitudes discriminatórias que “atacam a democracia pelo desprezo dos seus valores republicanos”.
A nota afirma que “o Brasil é um país de desigualdades sociais profundas em que os ricos estão cada vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres”, uma situação que pode se agravar com o horizonte político que se vislumbra e um possível governo a serviço “do sistema financeiro e da política neoliberal que atacam direitos sociais, ambientais e o patrimônio do país”, pois “nosso Brasil pode ter diferenças, porém sem ódio”, uma atitude que a cada dia aumenta mais. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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Avaliação geral no tribunal é a de que discurso de Eduardo Bolsonaro, de que 'basta um soldado e um cabo para fechar o STF', não pode ficar sem resposta; Celso de Mello classifica afirmação como 'inconsequente e golpista'
BRASÍLIA — Três ministros do Supremo consideraram extremamente grave a declaração do deputado Eduardo Bolsonaro. Um deles lembrou que, para fechar o Supremo Tribunal Federal, “o que nem a ditadura tentou”, será preciso “antes disso revogar a Constituição”. Eles preferiram falar sem serem citados porque a decisão tomada é a de que o STF fale por uma única voz - do presidente Dias Toffoli, que estava em um congresso em Veneza, ou do decano Celso de Mello.
Dias Toffoli ainda não se pronunciou, mais de 24 horas depois de o vídeo do deputado irromper nas redes sociais. O presidente da Corte " não quis botar mais lenha na fogueira", disse um assessor direto ao colunista do GLOBO Lauro Jardim.
Outros dois ministros também preferiram fingir que o vídeo não teve maior gravidade: Marco Aurélio Mello, numa declaração mais moderada que a costumeira, e Rosa Weber, que também baixou a bola das declarações do filho de Jair Bolsonaro, escreve o colunista. A exceção foi o decano Celso de Mello, que classificou a afirmação como "inconsequente e golpista" em nota enviada por escrito ao jornal "Folha de S. Paulo". O ministro ressaltou na mensagem que a votação recorde do deputado - o mais votado da História do país - não legitima "investidas contra a ordem político-jurídica".
"Essa declaração, além de inconsequente e golpista, mostra bem o tipo (irresponsável) de parlamentar cuja atuação no Congresso Nacional, mantida essa inaceitável visão autoritária, só comprometerá a integridade da ordem democrática e o respeito indeclinável que se deve ter pela supremacia da Constituição da República!!!! Votações expressivas do eleitorado não legitimam investidas contra a ordem político-jurídica fundada no texto da Constituição! Sem que se respeitem a Constituição e as leis da República, a liberdade e os direitos básicos do cidadão restarão atingidos em sua essência pela opressão do arbítrio daqueles que insistem em transgredir os signos que consagram, em nosso sistema político, os princípios inerentes ao Estado democrático de Direitos", destacou o decano Celso de Mello.
Um dos ministros que não se identificar avaliou ao GLOBO a manifestação de Eduardo Bolsonaro como "uma mistura de autoritarismo com despreparo".
— É uma declaração despropositada, sequer a matéria envolve o Supremo, a matéria é de competência do TSE. É uma mistura de autoritarismo com despreparo. Já é o segundo pronunciamento de gente das hostes dele nesse sentido em poucos dias — disse um dos ministros.
Ele se referia ao general Eliéser Girão, eleito deputado pelo PSL do Rio Grande do Norte, que propôs a prisão de ministros do Supremo que soltassem condenados por corrupção. Fonte: https://oglobo.globo.com
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Episódios de intimidação aumentam ansiedade entre grupos que se sentem vulneráveis por discursos feitos no passado, e hoje negados, pelo candidato.
Debate sobre estratégias de proteção cresce para “resistir em tempos sombrios”, diz ativista
Há uma semana, W.D. 34 anos, parou de andar de mãos dadas com o marido nas ruas de Porto Alegre. Ambos, que sempre se sentiram cômodos com sua homossexualidade, tomaram a decisão depois do resultado do primeiro turno das eleições, no dia 7 de outubro, que deu grande vantagem ao candidato de extrema direita Jair Bolsonaro, com 46% dos votos. “Vimos que a nossa atitude em público teria que mudar, não poderíamos mais trocar carinho na rua porque sentimos uma reação muito agressiva à nossa simples existência”, conta W. D., gerente de uma empresa do ramo imobiliário. O medo é um sentimento latente entre o coletivo LGBT, negros, indígenas e outras minorias atacadas por Bolsonaro, que lidera a corrida eleitoral para o Planalto e que tem um longo histórico de declarações racistas, misóginas e homofóbicas. Sua chegada à presidência é percebida como a legitimação de comportamentos que ultrapassam o limite do aceitável. Em campanha, o candidato já negou diversas vezes que seja homofóbico ou racista. Porém, suas falas contundentes em vídeos passados não escondem o desprezo que já empregou pelo que lhe parece diferente.
Giulianna Nonato, de 26 anos, sempre teve medo de sair na rua, mesmo antes de identificar-se como travesti. “Antes de me apresentar com um corpo feminino, era uma bicha, então minha vida sempre foi marcada por bullying e violência”, conta em São Paulo. Nas últimas semanas, depois dos vários casos de agressão e assassinatos motivados por questões políticas no Brasil, o medo da jovem aumentou. Em 10 dias, pelo menos duas pessoas foram assassinadas e outras 70 sofreram agressões por conta de seus posicionamentos políticos, de acordo com levantamento do Open Knowledge Brasil e Agência Pública. Os dados mostram que em seis dos casos as vítimas foram apoiadores de Bolsonaro; as demais foram agredidas por pessoas afins a ele.
“Parece que há mais ultraconservadores saindo do armário do que gays. Eu já tirei todos os símbolos LGBT que podem me prejudicar”, diz G. G., de 16 anos. Bolsonaro afirmou que as agressões são “excessos” e “casos isolados” e lamentou os episódios de violência, ao mesmo tempo em que denunciou um “movimento orquestrado” de falsas denúncias para prejudicar sua campanha. “Os candidatos não podem ser responsabilizados por tudo que seus apoiadores fazem. No entanto, no mínimo, têm a obrigação de garantir que seus discursos não incitem a violência. E quando ameaças e atos de violência ocorrem, devem condená-los de maneira categórica”, defende Maria Laura Canineu, diretora para o Brasil da ONG Human Rights Watch. Bolsonaro de fato chegou a fazer uma fala mais direta. “Dispensamos voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim”, escreveu no twitter no último dia 10. Mas na sequência da mensagem, relativizou algumas acusações ao supor que parte das queixas eram calúnias. “A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores que tentam nos prejudicar.”
Mais do que as agressões físicas durante o período eleitoral, Nonato teme a “violência institucional” de um possível Governo conservador, que pode modificar ou anular direitos sociais garantidos por lei, como o Protocolo Transexualizador, que assegura atendimento no SUS aos cidadãos trans, incluindo o terapias hormonais e cirurgias. “Atualmente, já enfrentamos uma escassez de hormônios e temos que esperar meses na fila para uma simples consulta médica… isso pode piorar”, lamenta a jovem.
Para a ativista Melina Kurin, bissexual de 33 anos casada com uma mulher trans, a situação é de “pânico” na comunidade LGBT. Ela traz de volta à memória um passado no Brasil de repúdio à vida dos trans nos tempos da ditadura. Naquela época, a Operação Tarântula contava com forças policiais que prendiam, torturavam e matavam travestis e transexuais. Por agora, há um temor de que esses ecos voltem a soar no país. “As pessoas que já te olhavam com ódio agora te olham como se você fosse a personificação do mal que Bolsonaro pretende combater. Ele se apresenta como o salvador da pátria, então seus inimigos se convertem em inimigos do povo”, comenta sua mulher, a socióloga Leona Wolf, de 36 anos, que compara a situação no Brasil com a campanha de Donald Trumpem 2016, quando aumentaram as agressões racistas e xenófobas nos EUA. “Sei que não vamos ter aqui campos de concentração para homossexuais, como na Chechênia, mas tenho, sim, receio de que cheguemos a uma situação como a Rússia de Putin", acrescenta.
Susane Souza, de 45 anos, e Camilla Silva, de 22, ambas mulheres negras da periferia, têm sofrido crises de ansiedade nos últimos dias. “Tenho medo de ser assassinada”, resume Silva, enquanto Souza teme por seu filho adolescente: “Não quero que um filho meu seja apontado na rua, agredido simplesmente pela cor da sua pele”.
Esse medo ao ódio que têm marcado as eleições não se restringe às grandes cidades. Nas aldeias indígenas, líderes políticos e religiosos expressam sua preocupação ante um possível retrocesso nas leis ambientais que protegem seus territórios. “Nosso principal temor é que ele [Bolsonaro] libere a mineração em nossas reservas naturais”, explica Cristine Takuá, de 38 anos, coordenadora de uma comunidade guarani no interior de São Paulo.
Para a ativista indígena Célia Xakriabá, de 29 anos, um dos grandes perigos de um Executivo de Bolsonaro seria a liberação do acesso às armas de fogo no campo. “Isso promoveria o genocídio dos povos nativos. Vamos sofrer um dos maiores impactos desde 1500. A proposta de armamento no campo já é muito problemática, por exemplo para a etnia Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, onde os latifundiários matam até os nossos bebês”, lamenta. Ela mesma, que sempre sai nas ruas com um vistoso cocar e pinturas corporais típicas de sua tribo, tem sido alvo de ameaças. “Duas pessoas já gritaram para mim que, se eu continuar saindo vestida desse jeito, vão mandar me matar".
Apesar do medo, ambas coincidem na importância de resistir aos “tempos sombrios” e contam que as diferentes etnias indígenas do país estão organizando-se para pensar em estratégias de proteção e apoio, inclusive com os povos nativos de países vizinhos. “Ainda temos esperança. Resistimos há 518 anos, e continuaremos fazendo isso", afirma Takuá.
Giulianna Nonato tem a mesma postura. "Vamos defender tudo que já conquistamos. Acredito muito na força dos movimentos sociais", diz. Ela conta geralmente conversa com outras travestis e transexuais que sofreram os anos mais duros do regime militar e que elas lhe aconselham a não deixar-se paralisar pelo medo. O psicanalista Christian Dunker, professor da Universidade de São Paulo, defende que isso é o que se deve fazer.
Dunker comenta que o Brasil sempre foi violento —lidera o ranking de homicídios por arma de fogo e é o país onde mais pessoas LGBT são assassinadas no mundo— e que o que ocorre agora é uma “sensação de medo intensificada no subconsciente coletivo”. “Em momentos de tanta tensão política, é comum que nos lembremos dos maus exemplos históricos, como a ditadura, mas precisamos saber que não é a mesma coisa", diz. “As pessoas nas favelas enfrentam, infelizmente, uma violência diária e continuam vivendo. É hora de aprender desses mais vulneráveis estratégias de sobrevivência emocional, para não se render".
Temor nas universidades
O medo de agressões não é exclusivo de populações vulneráveis e tem repercutido mesmo entre quem sempre se sentiu protegido e confortável. É o caso do professor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Luciano Volcan Agostini. Homem, branco, internacionalmente premiado e com estabilidade garantida por concurso público, ele se arrepiou ao receber um email anônimo com ameaças à sua carreira docente: “Estou envolvido diretamente na campanha de Jair Bolsonaro e lhe informo que o mesmo está ciente do ativismo político-comunista que a UFPEL está fazendo, assim como outras. Saiba que a teta vai secar e o governo não irá mais financiar pesquisas inúteis”, dizia a missiva.
Agostini, que é pesquisador, foi pró-reitor da universidade e participou da equipe que definiu o Padrão Brasileiro de TV Digital, se surpreendeu. “Não faço campanha partidária dentro da UFPEL e, muito menos, dentro da sala de aula. Minha militância política tem acontecido mais nas redes sociais e, mesmo assim, não tenho perfil público”. Ele admite que se sente intimidado, especialmente pelo anonimato da mensagem, que utilizou um email falso. “Isso quer dizer que pode ser qualquer pessoa ao meu redor que está me ameaçando”, observa ele, que já denunciou o caso à Polícia Federal. “O clima é de profunda preocupação e medo na academia. O cerceamento do livre pensamento está brotando e tomando uma forma cada vez mais assustadora”, conclui.
Também profissional de uma instituição de ensino pública, a bibliotecária P.P. não é militante partidária e diz que seus “ideais são principalmente pautados pela minha espiritualidade”. Mesmo assim, mudou o comportamento recentemente por temer represálias políticas até em atitudes corriqueiras profissionais.
Ela decidiu tirar um livro do teórico Karl Marx do expositor onde a biblioteca mostra os itens recém adquiridos para os frequentadores. “Foi para proteger a instituição, não me senti confortável, pensei que poderia vir alguém do MBL tentando achar alguma coisa… fiquei em dúvida pois (colocar os lançamentos no expositor) é uma coisa tão sem intenção, tão rotineira, mas pensei que até convencer, dar explicação e provar que não somos doutrinadores… não sei. Tirei e guardei na estante, junto com outros livros”, relata.
Ela também tem controlado as postagens que a biblioteca faz para divulgar sua coleção. Temáticas que ganharam relevância nos últimos anos e que demandam literatura para pesquisa, como os movimentos LGBT, feminista e negro estão sendo diluídos propositalmente para evitar “falsas interpretações, para não inventarem o que não é”, assegura.
O nível de ansiedade chegou ao ponto máximo depois que livros com a temática de direitos humanos foram rasgados na biblioteca da Universidade de Brasília (UnB). Foi a deixa para P.P. avisar a colegas que se o clima piorasse, ela estava disposta a levar parte do acervo que toma conta para sua casa, como medida de proteção. “Antes a gente falava em censura num tom de brincadeira, agora a gente não ri mais”. Fonte: https://brasil.elpais.com
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Especialistas avaliam que, se confirmada a compra de distribuição de mensagens, chapa do candidato do PSL pode se tornar inelegível
Especialistas ouvidos pela Reuters avaliam que, confirmadas as informações reveladas pelo jornal Folha de S.Paulo, a campanha de Jair Bolsonaro pode ser acusada de abuso de poder econômico, abuso do uso de meios de comunicação e omissão de doações de campanha, o que poderia levar à impugnação da chapa, mesmo que Bolsonaro não soubesse da ação de empresários a seu favor.
"Se confirmada, a prática pode configurar abuso de poder econômico, levando à inelegibilidade nessa própria eleição. A jurisprudência diz que, mesmo que não tenha sido ele ou a campanha, a candidatura pode responder pelo ilícito", disse Daniel Falcão, coordenador do curso de pós-graduação em Direito Eleitoral do Instituto Brasiliense de Direito Público.
O advogado especialista em legislação eleitoral Francisco Emerencianoacrescenta que o caso pode ainda configurar omissão de despesas, o popular caixa 2, além do abuso de poder econômico, se as acusações forem verdadeiras.
"Em se configurando isso, no mínimo, se houver o conhecimento prévio da campanha --e não tem como o beneficiário não ficar sabendo em valores como esse-- eu poderia ter um questionamento de que houve omissão de despesa de campanha", disse Emerenciano.
Segundo reportagem publicada nesta quinta pela Folha, empresários têm bancado a compra de distribuição de mensagens contra o PT por WhatsApp, em uma prática que se chama pacote de disparos em massa de mensagens, e estariam preparando uma ação para a próxima semana, antes do segundo turno.
O jornal relata que cada pacote de disparos em massa custaria cerca de 12 milhões de reais, para o envio de centenas de milhões de mensagens. Ao menos quatro empresas podem ter usado essa prática, segundo a reportagem.
Quatro especialistas ouvidos pela Reuters concordam que, em tese, mesmo a campanha alegando que não tem relação com a decisão de empresários que agiram em prol de Bolsonaro, o candidato poderá ser responsabilizado por crime eleitoral, já que o resultado da eleição pode ser alterado por ações em seu benefício.
"A responsabilização é objetiva. Não está sendo avaliado a conduta pessoal de Bolsonaro. A responsabilidade do abuso de poder é objetiva, não importa se a campanha agiu com culpa (sem intenção) ou dolo (propositalmente). Vai ser avaliado se conduta teve ou não influência na campanha", diz Guilherme Salles Gonçalves, especialista em Direito Eleitoral e membro fundador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político.
Os advogados explicam que a suposta ação de empresários a favor do candidato do PSL infringe diversos pontos da lei eleitoral. Se a ação foi feita pelas empresas, configura doação ilegal, já que uma decisão do Supremo Tribunal Federal proibiu empresas de doarem a partidos, campanhas ou candidatos a qualquer tempo, não apenas em período eleitoral.
Se tiverem sido feitas em nome dos empresários, as doações não apenas tem limites que podem ter sido ultrapassados, como teriam sido feitas por meio do pagamento de serviço de terceiros, o que também é proibido.
A ação ainda infringe outra norma, a de que o impulsionamento de propagandas em mídias sociais só pode ser feito pelo candidato, a campanha ou a coligação e deve ser identificado como propaganda. Apoiadores ou eleitores são proibidos de agir em benefício de seu candidato.
"É um caso clássico de caixa 2 duplamente qualificado. Primeiro é um caso de gasto a favor da candidatura vindo fora do orçamento da campanha. Depois, é feito por fonte vedada. A decisão do Supremo Tribunal Federal proibiu doação de empresa a partidos e candidatos em qualquer momento, sobretudo em campanha eleitoral", explicou Guilherme Salles Gonçalves. "A punição não tem gradação. Ou caça ou não pune."
No início da tarde, sem mencionar a reportagem da Folha, Bolsonaro afirmou no Twitter que "apoio voluntário é algo que o PT desconhece e não aceita". Fonte: www.terra.com.br
Bolsonaro visita a PF para agradecer a proteção e assina carta de compromisso na Arquidiocese do Rio
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Bolsonaro visita a PF para agradecer a proteção e assina carta de compromisso na Arquidiocese do Rio
Candidato do PSL à Presidência disse que a participação em debate depende de avaliação médica e de estratégia política e que está 'com a mão na faixa'.
Por Cristina Boeckel, G1 — Rio de Janeiro
O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, visitou nesta quarta-feira (17) a Superintendência da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro para agradecer a proteção policial durante a campanha eleitoral.
Cada candidato a presidente da República tem direito a uma equipe de segurança de 21 policiais federais especializados em dar proteção a autoridades.
Após o encontro, em entrevista à imprensa, afirmou que sua participação em debates depende de avaliação médica e de estratégia política.
"É lógico, política é estratégia. O Lula não compareceu ao debate no final, até o último da rede Globo, não sei se foi 2006, se não me engano, ele não compareceu. Entra tudo no meio, eu decido em equipe", disse Bolsonaro sobre a possibilidade de ir a debates.
O candidato ainda se recupera de facada que levou durante campanha na rua em Minhas Gerais. "Agora, eu vou debater com um cara que é um poste, um pau mandado do Lula? Tenha a santa paciência. A equipe médica que decide amanhã se estou em condições ou não", afirmou.
Bolsonaro disse, ainda, que está com a "mão na faixa", e que seu adversário, Fernando haddad (PT), não vai conseguir tirar dele "18 milhões de votos" até o dia 28 de outubro, data do segundo turno das eleições presidenciais.
"Nós estamos com uma mão na faixa. É verdade. Pode até não chegar lá. Mas estamos com a mão na faixa. Ele não vai tirar 18 milhões de votos de agora até a dois domingos", afirmou a jornalistas na saída do encontro com a PF.
Mais cedo, Bolsonaro se encontrou com o cardeal Dom Orani Tempesta, na sede da
Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Após o encontro, Bolsonaro disse que assinou um compromisso em defesa da família e da liberdade das religiões, contra o aborto e contra a legalização das drogas.
"Assinamos um compromisso em defesa da família, em defesa da inocência da criança na sala de aula, em defesa da liberdade das religiões. Contrário ao aborto, contrário a legalização das drogas. Ou seja, o compromisso que está no coração de todo brasileiro de bem", disse.
Visitas em casa
À tarde, Bolsonaro recebeu a visita de parlamentares e aliados em sua casa, na Barra da Tijuca. Entre os visitantes, estavam senadores do Chile que, segundo o coordenador da campanha de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, foram ao local para manifestar apoio ao candidato do PSL.
Segundo Lorenzoni, os senadores chilenos demonstraram interesse pela construção de um acordo de comércio bilateral entre os países.
Além deles, visitaram Bolsonaro o senador Magno Malta (PR-ES), o recém-eleito senador Major Olímpio (PSL) e o recém-eleito governador do Paraná Ratinho Júnior (PSD). Fonte: https://g1.globo.com
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