Conversão ecológica já!
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+ João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Os meios de comunicação, nas últimas semanas, se empenharam em mostrar os sofrimentos de parte da população do sudeste do país. Impõem-se os seguintes questionamentos: de que sofrimento se trata? Qual a razão dele? Somos tentados a responder que a causa está ligada às torrenciais chuvas deste verão. No entanto, uma resposta assim transfere aos fenômenos da natureza a responsabilidade pelas mortes, desalojamentos, perdas e danos. Urge perguntar se a raiz desse sofrimento é realmente a chegada das chuvas.
O momento é propício para o aprendizado. Como está nossa relação com a natureza? A história registra a relação do ser humano com a natureza sob diversos prismas. No entanto, parece haver sempre um embate. De modo geral, em todas as culturas tenta-se dominar a natureza e dela extrair energia, produtos, bens que facilitem o viver, na busca do conforto e do bem-estar. Isso parece ter um custo, um alto custo, considerando o grau de intervenção do ser humano na natureza. Emerge o discurso ecológico, verdadeira ciência da contemporaneidade, para contribuir com o equilíbrio dessa relação.
A Igreja, atenta aos sinais dos tempos, dialoga com a sociedade. No Brasil, ela colaborou para introduzir o tema da ecologia com a Campanha da Fraternidade de 1977, que trazia o forte apelo: “Preserve o que é de todos”. Papa Francisco abraçou essa causa, entre outras, e, tomando das catequeses de São João Paulo II a expressão “conversão ecológica”, dedicou diversos parágrafos ao tema naquela que poderia ser chamada de “encíclica ecológica”, a Laudato sì. De fato, seis parágrafos da Laudato sì são dedicados ao tema da “conversão ecológica”, definida como um novo comportamento para “deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa” (LS 217).
A conversão ecológica nada mais é que o aprofundamento da conversão pessoal. É deixar que o evangelho ilumine todas as dimensões da existência e da história, pois “se «os desertos exteriores se multiplicam no mundo, [é] porque os desertos interiores se tornaram tão amplos», [assim] a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior” (LS 217). Insiste o Papa que tal conversão tem o seu desdobramento social na dimensão comunitária: “A conversão ecológica, que se requer para criar um dinamismo de mudança duradoura, é também uma conversão comunitária” (LS 219).
As consequências de uma intervenção destruidora da “casa comum” são perceptíveis por toda a humanidade e em todos os cantos da terra. Escutemos o apelo ecumênico do Papa: “Convido todos os cristãos a explicitar esta dimensão da sua conversão, permitindo que a força e a luz da graça recebida se estendam também à relação com as outras criaturas e com o mundo que os rodeia, e suscite aquela sublime fraternidade com a criação inteira que viveu, de maneira tão elucidativa, São Francisco de Assis” (LS 221). E, queiramos ou não, a “casa comum” está gritando: conversão ecológica já! Fonte: https://arquimoc.com
Domingo 2: Apresentação do Senhor- XXIV Dia Mundial da Vida Consagrada
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Esta festa já era celebrada em Jerusalém, no século IV. Chamava-se festa do encontro,hypapántè , em grego. Em 534, a festa estendeu-se a Constantinopla e, no tempo do Papa Sérgio, chegou a Roma e ao Ocidente. Em Roma, a festa incluía uma procissão até à Basílica de S. Maria Maior. No século X, começaram a benzer-se as velas.
José e Maria levam o Menino Jesus ao templo, oferecendo-o ao Pai. Como toda a oferta implica renúncia, a Apresentação do Senhor é já o começo do mistério do sofrimento redentor de Jesus, que atingirá o seu ponto culminante no Calvário. Maria e José unem-se à oferta do seu divino Filho estando a seu lado e colaborando, cada um a seu modo, na obra da Redenção.
Evangelho de São Lucas 2, 22-40: Interpelações para nós, hoje.
A Festa da “Apresentação do Senhor” coincide com a celebração do Dia da Vida Consagrada. Ao olhar para o mistério da consagração aqui expresso, os consagrados são convidados a revisitar os fundamentos da sua consagração, vivida no seguimento de Jesus, por amor do Reino.
Poderíamos dizer que se celebra hoje em toda a Igreja um singular “ofertório”, no qual os homens e as mulheres consagradas renovam espiritualmente o dom de si. Agindo desta forma, ajudam as comunidades eclesiais a crescer na dimensão oblativa que as constitui intimamente, as edifica e as estimula a testemunhar Jesus pelos caminhos do mundo.
A “apresentação do Senhor” no Templo de Jerusalém revela que, desde o início da sua caminhada entre os homens, Jesus escolheu um caminho de total fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. Ao oferecer-Se a Deus em oblação, ao ser “consagrado” ao Pai, Jesus manifesta a sua disponibilidade para cumprir fiel e incondicionalmente o plano salvador do Pai até às últimas consequências, até ao dom total da própria vida em favor dos homens.
O “ecce venio” de Jesus é o modelo da doação e da entrega de todos os consagrados, chamados a seguir Jesus mais de perto, numa oblação total a Deus e ao Reino. A vocação de consagrados concretiza-se na entrega de toda a existência nas mãos do Pai, na fidelidade absoluta à sua vontade e aos seus planos.
Que valor e que importância tem na sua vida o projeto de Deus? Procuram identificar a vontade de Deus e com ela conformar a sua vida, em total doação e entrega, ou deixam que sejam os seus projetos e esquemas pessoais a ditar as suas opções e as coordenadas da sua vida?
Jesus é-nos apresentado, neste texto, como “a salvação colocada ao alcance de todos os povos”, a “luz para se revelar às nações e a glória de Israel”, o messias com uma proposta de libertação para todos os homens.
Que eco tem esta “apresentação” de Jesus no coração dos consagrados? Jesus é, de fato, a luz que ilumina as suas vidas e que os conduz pelos caminhos do mundo? Ele é o caminho certo e inquestionável para a salvação, para a vida verdadeira e plena? É n’Ele que colocam a sua ânsia de libertação e de vida nova? Este Jesus aqui apresentado tem real impacto na sua vida, nas suas opções, nos passos que dão no seu caminho de consagração, ou é apenas uma figura decorativa de um certo cristianismo de fachada?
Simeão e Ana são, na cena evangélica que nos é proposta, figuras do Israel fiel, que foi preparado desde sempre para reconhecer e para acolher o messias de Deus. Na verdade, quando Jesus aparece, eles estão suficientemente despertos para reconhecer naquele bebê o messias libertador que todos esperavam e apresentam-n’O formalmente ao mundo.
Hoje, os consagrados – discípulos que acolheram Jesus como a sua luz e que aceitaram segui-l’O – têm a responsabilidade de O apresentar ao mundo e de O tornar uma proposta questionadora, libertadora, iluminadora, salvadora, para os homens nossos irmãos.
É isso que acontece? Através do seu anúncio – feito com palavras, com gestos, com atitudes, com a fidelidade aos votos religiosos – Jesus é apresentado ao mundo e questiona os homens seus irmãos?
Se tantos homens ignoram a “luz” libertadora que Jesus veio acender ou não se sentem interpelados pelo projeto de Jesus, a culpa não será, um pouco, de um certo imobilismo e instalação, de algum “cinzentismo” na vivência da fé, da forma pouco entusiasta como é testemunhada na Vida Consagrada?
A Vida Consagrada é chamada a refletir de maneira particular a luz de Cristo. Olhando as pessoas consagradas, que procuram viver ao estilo das Bem-aventuranças, os homens e mulheres do nosso tempo têm de ver o “fermento” de esperança para a humanidade, o “sal” que dá sabor ao mundo, uma “luz” que se acende na escuridão do mundo e que indica caminhos de verdade e de liberdade, a “porta” entreaberta para o Reino de Deus e para os “novos céus e a nova terra” que Deus quer apresentar à humanidade.
É preciso que os consagrados sejam luz e conforto para cada pessoa, velas acesas que ardem com o próprio amor de Cristo, luz que ilumina as sombras do mundo e que profeticamente anuncia a aurora de uma nova realidade.
É isso que acontece? O seu testemunho interpela positivamente os homens e mulheres que todos os dias com eles se cruzam nos caminhos do mundo e aponta-lhes a realidade do Reino?
Os desafios de Deus, os seus planos, revelam-se, de forma privilegiada, na Palavra de Deus…
Que importância é que a Palavra de Deus assume na vida dos cristãos e dos consagrados e das nossas comunidades cristãs e religiosas? Procuram viver na escuta da Palavra, numa progressiva sensibilidade à Palavra de Deus, a fim de discernir os desafios de Deus? Encontram tempo, individualmente e a nível comunitário, para se reunirem à volta da Palavra de Deus, para partilhar a Palavra de Deus, para se deixarem questionar pela Palavra de Deus?
Pobreza, castidade e obediência são as características distintivas do homem redimido, interiormente resgatado da escravidão do egoísmo.
Livres para amar, livres para servir: assim são os homens e as mulheres que renunciam a si mesmos pelo Reino dos Céus. Seguindo Cristo, crucificado e ressuscitado, os consagrados vivem esta liberdade como solidariedade, assumindo os pesos espirituais e materiais dos seus irmãos.
Os votos são assumidos pelos consagrados como elemento desta entrega total nas mãos de Deus – a exemplo de Cristo – para o serviço do Reino e da humanidade, ou são vistos como uma carga insuportável que os limita e os torna infelizes?
*Leia a reflexão na integra. Clique no link- EVANGELHO DO DIA.
Em conversa descontraída, Fernández busca apoio do Papa Francisco para renegociar dívida
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Encontro durou o dobro do tempo do de Macri com Pontífice, que respaldou pleito argentino no FMI
Janaína Figueiredo
RIO - Foi o terceiro encontro entre ambos nos últimos três anos, e o primeiro desde que o peronista Alberto Fernández assumiu a Presidência da Argentina, em 10 de dezembro passado. Ser recebido pelo Papa Francisco era uma de suas prioridades, e o pedido foi feito pouco após desembarcar na Casa Rosada, confirmaram fontes do governo argentino. O ex-arcebispo de Buenos Aires, que em março de 2013 foi escolhido para ser o sucessor de Bento XVI, respondeu rápido, e a audiência foi realizada nesta sexta-feira, na biblioteca de Francisco, no Vaticano.
Em momentos em que seu país está mergulhado numa complicada renegociação da dívida pública com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e credores privados, condição para a retomada do crescimento, Fernández obteve o que esperava: um claro gesto de respaldo do Papa e um comunicado do Vaticano explicitando que a questão econômica e financeira foi discutida entre ambos.
O risco de calote paira novamente sobre a Argentina, e o presidente precisa colher apoios que possam ajudar o país a alcançar um entendimento com seus credores. Após passar pela Itália, Fernández, seu chanceler, Felipe Solá, e seu secretário de Assuntos Estratégicos, Gustavo Béliz, serão recebidos pelas mais altas autoridades de Alemanha, Espanha e França.
Começar a segunda viagem internacional do chefe de Estado (a primeira foi na semana passada, a Israel) com uma reunião com o Papa foi uma estratégia traçada pelo próprio presidente argentino. Fernández já tinha um bom vínculo com Francisco e sabia que no Vaticano encontraria solidariedade e expressões de sensibilidade em relação à grave crise que assola a Argentina.
— [O Papa] foi muito generoso com seu trato e suas palavras — declarou Fernández.
Antes do tête-à-tête, o chefe de Estado e sua delegação participaram de uma missa na qual foi lembrada a visita do general Juan Domingo Perón ao Vaticano em 1972, pouco antes de seu retorno à Argentina depois de um longo exílio. Em seu país, Perón assumiu pela terceira vez a Presidência e faleceu, em 1974, deixando o poder em mãos de sua viúva e vice, Isabelita Perón. Na mesma missa, também foi citado o padre Carlos Mugica, assassinado na Argentina em 1974, segundo investigações judiciais, pela chamada Tríplice A, uma organização parapolicial vinculada ao peronismo de direita.
O Papa não presenciou a missa, mas sua simpatia pelo peronismo é conhecida, e a sintonia com Fernández foi evidente. A relação com os ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015) foi tensa pelas críticas que o então cardeal Jorge Mario Bergoglio fazia à situação social do país. Mas isso não impediu Francisco de receber Cristina no Vaticano e manter com a atual vice argentina uma relação mais cordial da que teve com seu sucessor, Mauricio Macri (2015-2019), com quem nunca se deu bem.
A conversa entre o Papa e Fernández durou 44 minutos (mais do dobro do tempo concedido a Macri) e nela, segundo informou a Santa Sé, falou-se sobre "as boas relações com a República Argentina. Foi examinada a situação do país, fazendo especial referência a alguns problemas como a crise econômica e financeira, a luta contra a pobreza, a corrupção, o narcotráfico, a política social e a proteção da vida desde sua concepção".
Assuntos espinhosos como a defesa pública da legalização do aborto feita pelo chefe de Estado em seu discurso de posse foram evitados na conversa com Francisco. O comunicado do Vaticano instalou uma polêmica na mídia local, mas posteriormente foi esclarecido que a questão "aborto" não fez parte da conversa entre Fernández e o Papa, mas sim foi mencionada no encontro do presidente argentino com o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin.
— Foi apontada a contribuição da Igreja Católica a favor de toda a sociedade argentina, especialmente dos setores mais vulneráveis da população — afirmou o chefe de Estado, que também esteve acompanhado por sua mulher, a jornalista Fabiola Yañez.
A possibilidade de uma viagem de Francisco a sua terra natal teria sido parte da conversa, segundo informou o site "Infobae". Fernández, porém, não mencionou qualquer tipo de convite e insistiu, apenas, em que seja encerrada a discussão sobre "quem vai se apropriar do Papa".
— O Papa não pertence a ninguém, nem aos peronistas nem aos não peronistas. É uma figura moral, enorme no mundo, e os argentinos temos de nos acostumar a terminar com essa discussão sobre a apropriação do Papa — frisou o presidente.
Segundo ele, ambos têm a "obsessão de unir novamente os argentinos". Ao site Infobae, Fernández assegurou que "a Argentina deve terminar com o tempo das diferenças. Devemos nos respeitar. Quando isso acontecer, o Papa virá ao país". Na mesma entrevista, o chefe de Estado disse, ainda, que "o vi preocupado pelo povo argentino, pela dívida. O Papa fará o que puder para nos ajudar".
A Argentina deve renegociar cerca de US$ 100 bilhões em dívidas com o FMI e credores privados (o total da dívida alcança cerca de US$ 300 bilhões). As conversas já começaram e em Roma o ministro da Economia, Martin Guzmán, teve um encontro com a diretora gerente do FMI, Kristalina Georgieva.
De acordo com fontes argentinas, a Casa Rosada já tomou a decisão de suspender os pagamentos da dívida por, pelo menos, os próximos dois anos. Nas palavras de Guzmán, "ou a situação se ordena pelo bem, ou pelo mal". A segunda opção seria claramente um novo calote (o anterior foi em 2002). A província de Buenos Aires, a mais importante da Argentina, deixou de pagar um vencimento de 26 de janeiro passado, e se não chegar a um acordo com seus credores até o começo da semana que vem, será cenário do primeiro calote do ano no país. Fonte: https://oglobo.globo.com
Província Carmelitana de Santo Elias: Relatório do Capítulo Provincial
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PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS
CAPÍTULO PROVINCIAL
27 A 31 de janeiro de 2020
3º Dia: Quarta-feira, 29 de janeiro 2020
Iniciamos os trabalhos do dia às 07h30 com a celebração das Laudes e da Eucaristia, presidida pelo frei Gabriel, que celebrou assim mais um ano da sua vida. O moderador deste dia foi o frei Fernando.
6ª Sessão
Às 10h00, frei Adailson apresentou um relatório detalhado e completo da situação econômica da Província: os gastos que tivemos com a formação, os investimentos e as aquisições, a situação dos bens moveis e imóveis (Guarulhos e Saquarema), a filantropia, os planos de saúde da Unimed e do Amil, o departamento jurídico, as receitas e despesas e, finalmente, os desafios para o futuro. Frei Paulo Gollarte completou a informação sobre o terreno da Província em Guarulhos.
7ª Sessão
Às 11h45, frei Luis Maza, conselheiro geral da Ordem para as Américas, fez uma bonita reflexão para introduzir o breve retiro que iríamos ter na segunda parte da manhã. Ele falou sobre o estilo da vida em comunidade e sobre como construir a comunidade e como servir à Comunidade. Destacou estes quatro pontos básicos da vida em comunidade: gratidão, bênção, serviço e gratuidade.
8ª Sessão
Às 14h30, nós nos reunimos na sala do Capítulo para a eleição do novo Conselho Provincial. Após a invocação do Espírito Santo, frei Fernando informou a respeito do procedimento da eleição. Éramos 47 votantes.
Iniciamos a votação, cujo resultado é o seguinte:
Provincial: frei Adailson
1º Conselheiro: frei Alberto
2º Conselheiro: frei Alan
3º Conselheiro: frei Fernando
4º Conselheiro: frei Rothmans
Após cada eleição, o Padre Geral perguntava ao eleito se ele aceitava a missão para a qual acabava de ser eleito. Após a resposta afirmativa do eleito, Padre Geral o confirmava na nova missão, e da parte de todos vinha uma boa salva de palmas.
9ª Sessão
Não houve interrupção entre a 8ª e 9ª sessão. Continuamos o processo das eleições e, em torno de 17h30, tudo foi encerrado com uma ação de graças. No dia de amanhã, quinta-feira, 4º dia do Capítulo, teremos a discussão e a aprovação das propostas enviadas para o Capítulo, e a elaboração do programa para o próximo triênio.
4º Dia: Quinta-feira, 30 de janeiro 2020
Iniciamos os trabalhos do dia às 07h30 com a celebração das Laudes e da Eucaristia, presidida pelo neo-sacerdote frei João Paulo, concelebrada com os jovens sacerdotes frei Tiago, frei Marcelo Aquino, frei Márcio e frei Marlon e assistida pelos diáconos frei Juliano e frei William. O moderador deste dia foi o frei Alan.
10ª Sessão
Às 9h30, iniciamos os trabalhos do dia com a apresentação das atividades da Escola Maria Montessori de Brasília pelo frei Eduardo. Ele o fez de maneira bem viva por meio de slides.
Frei Marcelo Frezarini e o frei Garvin apresentaram o relatório sobre as missões na Bolívia. Após destacar as conquistas e os desafios, eles fizeram a seguinte proposta: “Que se efetive a transferência jurídica da missão carmelita da Bolívia para a Província Carmelitana de Santo Elias”. A votação da proposta foi suspensa para depois de terem sido apresentadas e discutidas todas as outras propostas.
Frei René Vilela apresentou a proposta para a criação de um delegado para as obras sociais da Província de Santo Elias. A proposta foi discutida, a votação também ficou para depois
Frei Vicente apresentou a proposta de se criar uma comunidade terapêutica nos moldes de Curitiba (Servo Sofredor) em São Joaquim de Bicas, onde a província tem um terreno. Após longa discussão. A votação ficou para depois de termos ouvido todas as propostas.
11ª Sessão
Às 11h00, iniciamos a 11ª sessão ouvindo a proposta de frei Geraldo: “Que se realize uma Assembleia Extraordinária até o mês de abril deste ano de 2020”. Motivação: ter mais tempo e criar um clima mais sereno para poder elaborar o programa para o triênio e para levar em conta as decisões do Capítulo Geral de 2019. E assim o Conselho terá o tempo suficiente para poder conversar com cada frade de votos solenes.
Em seguida, foram lidas e longamente discutidas cada uma das seis propostas de frei Paulo Gollarte e do frei Rothmans.
No fim, foi lida e brevemente discutida a proposta de frei Petrônio: “Que o retiro anual da Província seja realizado com a participação da Ordem Segunda e Terceira”.
A 11ª sessão terminou às 12h15. Neste quarto dia do Capítulo tivemos um almoço festivo num restaurante em Taubaté. Foi um bom descanso e uma experiência bonita de fraternidade. Às 14h45 estávamos de volta e casa. Foi feita a consulta de se trabalhar à noite para realizar a votação das propostas. A consulta foi aceita.
12ª Sessão
Às 17h30, reunimos para terminar a votação das propostas.
- Quanto à proposta a respeito das missões na Bolívia, o Capítulo delegou o Conselho da Província para encaminhar a transferência jurídica da missão carmelitana da Bolívia para a Província Carmelitana de Santo Elias.
- Foi aprovada a proposta de se criar um Delegado para as Obras Sociais da Província de Santo Elias.
- Não foi aprovada a proposta de se criar uma comunidade terapêutica em São Joaquim de Bicas.
- Foi aprovada a proposta de se realizar uma Assembleia Extraordinária até o mês de abril deste ano de 2020. Nesta aprovação foi incluída a proposta de se promover maior partilha entre os confrades a respeito das nossas atividades pastorais.
- Das seis propostas discutidas na 11ª sessão, foram aprovadas a 1ª, a 3ª e 4ª. Foram aprovadas, não como propostas, mas como recomendações a serem levadas em conta pelo Concelho a 2ª, a 5ª e a 6ª.
- Foi retirada a proposta de que o retiro anual da província tenha participação de membros da Ordem Segunda e da Ordem Terceira. Insistiu-se na importância dos encontros inter-carmelitanos de frades, monjas, religiosas e leigos e leigas.
Às 16h40, foi encerrada a 12ª sessão do Capítulo Provincial.
3ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO- A. Quinta-feira, 30 de janeiro-2020. Lectio Divina do Evangelho do dia, com Frei Carlos Mesters, O. Carm.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 4, 21-25)
Naquele tempo, Jesus disse à multidão: 21"Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo da cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro? 22Assim, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto. 23Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça". 24Jesus dizia ainda: "Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais. 25Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais; do que não tem, será tirado até mesmo o que ele tem". Palavra da Salvação.
3) Reflexão
A lâmpada que ilumina. Naquele tempo, não havia luz elétrica. Imagine o seguinte. A família está em casa. Começa a escurecer. O pai levanta, pega a lamparina, acende e coloca debaixo de um caixote ou debaixo de uma cama. O que os outros vão dizer? Vão gritar: “Pai! Coloca na mesa!” Esta é a história que Jesus conta. Ele não explica. Apenas diz: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! A Palavra de Deus é a lâmpada a ser acesa na escuridão da noite. Enquanto estiver dentro do livro fechado da Bíblia, ela é como a lamparina debaixo do caixote. Quando ligada à vida e vivida em comunidade, ela é colocada na mesa e ilumina!
Prestar atenção aos preconceitos. Jesus pede aos discípulos para tomar consciência dos preconceitos com que escutam o ensinamento que ele oferece. Devemos prestar atenção nas idéias com que olhamos para Jesus! Se a cor dos óculos é verde, tudo aparece verde. Se for azul, tudo será azul! Se a idéia com que eu olho para Jesus for errada, tudo o que penso sobre Jesus estará ameaçado de erro. Se eu acho que o messias deve ser um rei glorioso, não vou entender nada do que Jesus ensina e vou entender tudo errado.
Parábolas: um novo jeito de ensinar e de falar sobre Deus. O jeito de Jesus ensinar era, sobretudo, através de parábolas. Ele tinha uma capacidade muito grande de encontrar imagens bem simples para comparar as coisas de Deus com as coisas da vida que o povo conhecia e experimentava na sua luta diária pela sobrevivência. Isto supõe duas coisas: estar por dentro das coisas da vida, e estar por dentro das coisas do Reino de Deus.
O ensino de Jesus era diferente do ensino dos escribas. Era uma Boa Nova para os pobres, porque Jesus revelava um novo rosto de Deus, no qual o povo se re-conhecia e se alegrava. “Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado! (Mt 11,25-28)”.
4) Para um confronto pessoal
1) Palavra de Deus, lâmpada que ilumina. Qual o lugar que a Bíblia ocupa em minha vida? Qual a luz que dela recebo?
2) Qual a imagem de Jesus que está em mim? Quem é Jesus para mim, e quem sou eu para Jesus?
5) Oração final
Busquei o SENHOR e ele respondeu-me e de todo temor me livrou. Olhai para ele e ficareis radiantes, vossas faces não ficarão envergonhadas. (Sal 33, 5-6)
3ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO- A. Quarta-feira, 29 de janeiro-2020. Lectio Divina do Evangelho do dia, com Frei Carlos Mesters, O. Carm.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 4,1-20)
Naquele tempo, 1Jesus começou a ensinar de novo às margens do mar da Galileia. Uma multidão muito grande se reuniu em volta dele, de modo que Jesus entrou numa barca e se sentou, enquanto a multidão permanecia junto às margens, na praia.
2Jesus ensinava-lhes muitas coisas em parábolas. E, em seu ensinamento, dizia-lhes: 3"Escutai! O semeador saiu a semear. 4Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; vieram os pássaros e a comeram. 5Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda, 6mas, quando saiu o sol, ela foi queimada; e, como não tinha raiz, secou. 7Outra parte caiu no meio dos espinhos; os espinhos cresceram, a sufocaram, e ela não deu fruto.
8Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, que foi crescendo e aumentando, chegando a render trinta, sessenta e até cem por um”. 9E Jesus dizia: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça". 10Quando ficou sozinho, os que estavam com ele, junto com os Doze, perguntaram sobre as parábolas. 11Jesus lhes disse: "A vós, foi dado o mistério do Reino de Deus; para os que estão fora, tudo acontece em parábolas, 12para que olhem mas não enxerguem, escutem mas não compreendam, para que não se convertam e não sejam perdoados".
13E lhes disse: "Vós não compreendeis esta parábola? Então, como compreendereis todas as outras parábolas? 14O semeador semeia a Palavra. 15Os que estão na beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a escutam, chega Satanás e tira a Palavra que neles foi semeada. 16Do mesmo modo, os que receberam a semente em terreno pedregoso, são aqueles que ouvem a Palavra e logo a recebem com alegria, 17mas não têm raiz em si mesmos, são inconstantes; quando chega uma tribulação ou perseguição, por causa da Palavra, logo desistem.
18Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; 19mas quando surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, sufocam a Palavra, e ela não produz fruto. 20Por fim, aqueles que recebem a semente em terreno bom são os que ouvem a Palavra, a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um." Palavra da Salvação.
3) Reflexão
Sentado num barco, Jesus ensina o povo. Nestes versos, Marcos descreve o jeito que Jesus tinha de ensinar o povo: na praia, sentado no barco, muita gente ao redor para escutar. Jesus não era uma pessoa estudada (Jo 7,15). Não tinha freqüentado a escola superior de Jerusalém. Vinha do interior, da roça, de Nazaré. Era um desconhecido, meio camponês, meio artesão. Sem pedir licença às autoridades, começou a ensinar o povo. Falava tudo diferente. O povo gostava de ouvi-lo.
Por meio das parábolas, Jesus ajudava o povo a perceber a presença misteriosa do Reino nas coisas da vida. Uma parábola é uma comparação. Ela usa as coisas conhecidas e visíveis da vida para explicar as coisas invisíveis e desconhecidas do Reino de Deus. Por exemplo, o povo da Galileia entendia de semente, de terreno, chuva, sol, sal, flores, colheita, pescaria, etc. Ora, são exatamente estas coisas conhecidas do povo que Jesus usa nas parábolas para explicar o mistério do Reino.
A parábola da semente retrata a vida do camponês. Naquele tempo, não era fácil viver da agricultura. O terreno tinha muita pedra. Muito mato. Pouca chuva, muito sol. Além disso, muitas vezes, o povo encurtava estrada e, passando no meio do campo, pisava nas plantas (Mc 2,23). Mesmo assim, apesar de tudo isso, todo ano, o agricultor semeava e plantava, confiando na força da semente, na generosidade da natureza.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Jesus começou a parábola dizendo: “Escutem!” (Mc 4,3). Agora, no fim, ele termina dizendo: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” O caminho para chegar ao entendimento da parábola é a busca: “Tratem de entender!” A parábola não entrega tudo pronto, mas leva a pensar e faz descobrir a partir da própria experiência que os ouvintes têm da semente. Provoca a criatividade e a participação. Não é uma doutrina que já vem pronta para ser ensinada e decorada. A Parábola não dá água engarrafada, mas entrega a fonte. O agricultor que escutou, diz: “Semente no terreno, eu sei o que é! Mas Jesus diz que isso tem a ver com o Reino de Deus. O que seria?” E aí você pode imaginar as longas conversas do povo! A parábola mexe com o povo e leva a escutar a natureza e a pensar na vida.
Jesus explica a parábola aos discípulos. Em casa, a sós com Jesus, os discípulos querem saber o significado da parábola. Eles não entenderam. Jesus estranhou a ignorância deles (Mc 4,13) e respondeu por meio de uma frase difícil e misteriosa. Ele diz aos discípulos: “A vocês foi dado o mistério do Reino de Deus. Aos de fora, porém, tudo acontece em parábolas, para que vendo não vejam, ouvindo não ouçam e para que não se convertam e não sejam salvos!”. Esta frase faz a gente se perguntar: Afinal, a parábola serve para que? Para esclarecer ou para esconder? Será que Jesus usa parábolas, para que o povo continue na ignorância e não chegue a se converter? Certamente que não! Pois em outro lugar Marcos diz que Jesus usava parábolas “conforme a capacidade dos ouvintes” (Mc 4,33)
Parábola revela e esconde ao mesmo tempo! Revela para “os de dentro”, que aceitam Jesus como Messias Servidor. Esconde para os que insistem em ver nele o Messias, Rei grandioso. Estes entendem as imagens da parábola, mas não chegam a entender o seu significado.
A explicação da parábola, parte por parte. Uma por uma, Jesus explica as partes da parábola, desde a semente e o terreno até a colheita. Alguns estudiosos acham que esta explicação foi acrescentada depois. Ela seria de alguma comunidade. É bem possível. Pois dentro do botão da parábola está a flor da explicação. Botão e flor, ambos têm a mesma origem que é Jesus. Por isso, nós também podemos continuar a reflexão e descobrir outras coisas bonitas dentro da parábola. Certa vez, alguém perguntou numa comunidade: “Jesus falou que devemos ser sal. Para que serve o sal?” Discutiram e, no fim, encontraram mais de dez finalidades diferentes para o sal! Aí foram aplicar tudo isto à vida da comunidade e descobriram que ser sal é difícil e exigente. A parábola funcionou! O mesmo vale para a semente. Todo mundo tem alguma experiência de semente.
4) Para um confronto pessoal
1) Qual a experiência que você tem de semente? Como ela te ajuda a entender melhor a Boa Nova
2) Que terreno eu sou?
5) Oração final
Busquei o SENHOR e ele respondeu-me e de todo temor me livrou. Olhai para ele e ficareis radiantes, vossas faces não ficarão envergonhadas. (Sal 33, 5-6)
3ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO- A. Segunda-feira, 27 de janeiro-2020. Lectio Divina do Evangelho do dia, com Frei Carlos Mesters, O. Carm.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 3,22-30)
Naquele tempo, 22os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Beelzebul, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios. 23Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: "Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? 24Se um reino se divide contra si mesmo ele não poderá manter-se. 25Se uma família se divide contra si mesma, não poderá manter-se. 26Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. 27Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa.
28Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto nos pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. 29Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno". 30Jesus falou isso, porque diziam: 'Ele está possuído por um espírito mau".
- Palavra da Salvação
3) Reflexão
O conflito cresce. Existe uma sequência progressiva no evangelho de Marcos. Na medida em que a Boa Nova progride e é aceita pelo povo, nesta mesma medida cresce a resistência por parte das autoridades religiosas. O conflito começa a crescer e envolve vários grupos de pessoas. Por exemplo, os parentes de Jesus acham que ele ficou louco (Mc 3,20-21), e os escribas que tinham vindo de Jerusalém acham que ele é um possesso (Mc 3,22).
Conflito com as autoridades. Os escribas caluniam Jesus. Dizem que ele está possesso e que expulsa os demônios com a ajuda de Belzebu, o príncipe dos demônios. Eles tinham vindo de Jerusalém, a mais de 120 km de distância, para vigiar o comportamento de Jesus. Queriam defender a Tradição contra as novidades que Jesus ensinava ao povo (Mc 7,1). Achavam que o ensino dele era contra a boa doutrina. A resposta de Jesus tem três partes.
Primeira parte: a comparação da família dividida. Jesus usa a comparação da família dividida e do reino dividido para denunciar o absurdo da calúnia. Dizer que Jesus expulsa os demônios com a ajuda do príncipe dos demônios é negar a evidência. É o mesmo que dizer que a água é seca, e que o sol é escuridão. Os doutores de Jerusalém caluniavam, porque não sabiam explicar os benefícios que Jesus realizava para o povo. Estavam com medo de perder a liderança.
Segunda parte: a comparação do homem forte. Jesus compara o demônio com um homem forte. Ninguém, a não ser uma pessoa mais forte, poderá roubar a casa de um homem forte. Jesus é este mais forte que chegou. Por isso, ele consegue entrar na casa e amarrar o homem forte. Consegue expulsar os demônios. Jesus amarrou o homem forte e agora rouba a casa dele, isto é, liberta as pessoas que estavam no poder do mal. O profeta Isaías já tinha usado a mesma comparação para descrever a vinda do messias (Is 49,24-25). Lucas acrescenta que a expulsão do demônio é um sinal evidente de que chegou o Reino de Deus (Lc 11,20).
Terceira parte: o pecado contra o Espírito Santo. Todos os pecados têm perdão, menos o pecado contra o Espírito Santo. O que é o pecado contra o Espírito Santo? É dizer: “O espírito que leva Jesus a expulsar o demônio, vem do próprio demônio!” Quem fala assim torna-se incapaz de receber o perdão. Por quê? Quem tapa os olhos pode enxergar? Não pode! Quem mantém a boca fechada pode comer? Não pode! Quem não fecha o guarda-chuva da calúnia pode receber a chuva do perdão? Não pode! O perdão passaria de lado e não o atingiria! Não é que Deus não quer perdoar. Deus quer perdoar sempre! Mas é o pecador que se recusa a receber o perdão!
4) Para um confronto pessoal
1) As autoridades religiosas se fecham e negam a evidência. Já aconteceu comigo eu me fechar contra a evidência dos fatos?
2) Calúnia é a arma dos fracos. Você já teve experiência neste ponto?
5) Oração final
Todos os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai ao SENHOR, terra inteira gritai e exultai cantando hinos. (Sal 97, 3b-4)
Papa reconhece virtudes heroicas de carmelita brasileira
- Detalhes
A missão, o ensinamento e o legado da Irmã Maria del Monte Carmelo da Santíssima Trindade OCD são: adorar a Sagrada Face de Cristo e reparar os ultrajes cometidos contra ela, fortalecer no coração dos fiéis o sensus Ecclesiae e a imolação constante pelo Pontífice reinante, mediante a oração quotidiana da Via Crucis e de uma vida de entrega total a Deus, na simplicidade, humildade e caridade, para atingir o seu ápice na união dos fiéis, como ela amava dizer: Congregavit nos in unum Christi amor!
Cidade do Vaticano
Ao receber em audiência em 23 de janeiro de 2020 o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Becciu, o Santo Padre reconheceu o martírio e as virtudes heroicas da Serva de Deus brasileira Maria del Monte Carmelo da Santíssima Trindade (também conhecida como Carmen Caterina Bueno), religiosa professa da Ordem dos Carmelitas Descalças, nascida em Itú em 25 de novembro de 1898 – e criada pela avó em Campinas - falecida em 13 de julho de 1966 em Taubaté.
Biografia da Serva de Deus Madre Maria do Carmo da Santíssima Trindade, O.C.D.
A Serva de Deus Madre Maria do Carmo da Santíssima Trindade nasceu em Itu (SP), em 25 de novembro de 1898, Festa de Santa Catarina de Alexandria, sendo batizada com o nome de Carmem Catarina Bueno.
Filha de Teotônio Bueno e Maria do Carmo Bauer Bueno (que devido a pouca idade ao dar à luz a Carmem, 15 anos, ficou com a saúde abalada), foi criada pela avó paterna, Dona Maria Justina Camargo Bueno (conhecida como “Nhá Cota”), em Campinas, onde teve por amigo de infância o futuro bispo de Taubaté (SP), Dom Francisco Borja do Amaral.
Em 1916 moraram por algum tempo na Ilha de Paquetá, na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, transferindo-se no ano seguinte se para São Paulo, onde a Serva de Deus passou a estudar no Colégio Nossa Senhora de Sion.
Em 23 de setembro de 1917, ao se tornar Filha de Maria, sentiu o chamado do Senhor para consagrar-se inteiramente a Ele, dando então o seu “Sim”.
Tendo um grande amor por Jesus e pela Igreja desde a juventude, sua piedade se tornava cada vez mais profunda. O seu grande amor era a Cruz de Cristo, o seu lema era ser humilhada como ele.
Dedicava muito tempo à formação intelectual. Falava e escrevia em francês, escreveu pequenas obras literárias e aprendeu a arte da pintura.
Depois de ter lido o livro “História de uma Alma”, de Santa Teresinha de Lisieux, decidiu ser carmelita, escolhendo como diretor espiritual Dom Francisco de Campos Barreto, que a direcionou a viver cada vez mais uma vida de amor a Deus e cheia de virtudes.
Em 21 de abril de 1926, aos 27 anos, ingressou no Carmelo São José, no Rio de Janeiro e em 24 de outubro de 1926 recebeu o Santo Hábito e o nome religioso de Irmã Maria do Carmo da Santíssima Trindade.
Para buscar viver perfeitamente a humildade como meio de santificação, seguindo a orientação do seu diretor espiritual, fez o voto de mansidão.
Depois dos primeiros anos no mosteiro passou a exercer o Ofício de mestra de noviças, sub-priora e por fim priora. Como religiosa sempre demonstrou uma delicadeza e humildade especiais. Era a primeira a fazer os trabalhos mais humildes e a dar o exemplo de paciência e caridade para todas as monjas.
Em 1949 voltou a ser mestra de noviças, época em que começaram seus graves problemas de saúde.
Em 1952 voltou a dirigir o Carmelo, quando nasceu a ideia de fundar um novo mosteiro, o Carmelo da Santa Face e Pio XII, que foi erigido na Diocese de Taubaté, cujo Bispo era Dom Francisco Borja do Amaral.
Com sua permissão, em 24 de agosto de 1953 partiram entre lágrimas as seis primeiras irmãs, dirigidas por Madre Carminha e a cofundadora, Madre Antonieta Maria. A Serva de Deus era considerada por todos uma santa e muitas pessoas pediam para serem acompanhadas espiritualmente por ela.
Em 12 de setembro de 1961 Madre Maria do Carmo passou o governo da casa à Madre Antonieta Maria, ficando com a direção das obras e a formação do noviciado.
Seus problemas de saúde começavam a se agravar. Em 7 de julho de 1966 sofreu um derrame cerebral e entrou em coma profundo. Após uma semana de sofrimento, em 13 de julho, entregou santamente sua alma a Deus.
Já em vida a Serva de Deus gozava de uma grande fama de santidade, o que se tornou ainda maior após sua morte.
Muitíssimos fiéis visitavam continuamente o seu túmulo, pedindo sua intercessão junto a Deus. Em vista da supressão do Carmelo de Tremembé e de sua transferência para Mairinque, São Paulo, no sexto aniversário da morte da Serva de Deus, foi feita a exumação dos seus restos mortais e nessa ocasião o seu corpo foi encontrado intacto, inclusive suas vestes e as flores secas e, nem mesmo mau odor exalou de sua sepultura.
Sua missão, seu ensinamento e seu legado são: adorar a Sagrada Face de Cristo e reparar os ultrajes cometidos contra ela. Também fortalecer no coração dos fiéis o sensus Ecclesiae e a imolação constante pelo Pontífice reinante, mediante a oração quotidiana da Via Crucis e de uma vida de entrega total a Deus, na simplicidade, humildade e caridade, para atingir o seu ápice na união dos fiéis, como ela amava dizer: Congregavit nos in unum Christi amor!
Biografia extraída de postulazionecausasanti.it
Fonte: https://www.vaticannews.va
2ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO- A. Sexta-feira, 24 de janeiro-2020. Lectio Divina do Evangelho do dia, com Frei Carlos Mesters, O. Carm.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que governais o céu e a terra, escutai com bondade as preces do vosso povo e dai ao nosso tempo a vossa paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 3,13-19)
Naquele tempo, 13Jesus subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram até ele. 14Então Jesus designou Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, 15com autoridade para expulsar os demônios. 16Designou, pois, os Doze: Simão, a quem deu o nome de Pedro; 17Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer "Filhos do trovão"; 18André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, 19e Judas Iscariotes, aquele que depois o traiu. Palavra da Salvação.
3) Reflexão (Marcos 3,13-19)
O evangelho de hoje descreve a escolha e a missão dos doze apóstolos. Jesus começou com dois discípulos e em seguida mais dois (Mc 1,16-20). Aos poucos, o número foi crescendo. Lucas informa que ele chamou mais 72 discípulos para ir com ele na missão (Lc 10,1).
Marcos 3,13-15: O chamado para uma dupla missão
Jesus chama os que ele quer e eles foram até ele. Em seguida, “Jesus constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios”. Jesus os chama para uma dupla finalidade, para uma dupla missão: 1) Estar com ele, isto é, formar comunidade na qual ele, Jesus, é o eixo. 2) Pregar e ter poder para expulsar os demônios, isto é, anunciar a Boa Nova e combater o poder do mal que estraga a vida do povo e aliena as pessoas. Marcos diz que Jesus subiu a uma montanha e, estando lá, chamou os discípulos. A chamada é uma subida! Na Bíblia, subir a montanha evoca a montanha onde Moisés subiu e teve um encontro com Deus (Ex 24,12). Lucas diz que Jesus tinha subido a montanha, rezou a noite toda e, no dia seguinte, chamou os discípulos. Rezou a Deus para saber a quem escolher (Lc 6,12-13). Depois de haver chamado, Jesus oficializa a escolha feita e cria um núcleo mais estável de doze pessoas para dar maior consistência à missão. É também para significar a continuidade do projeto de Deus. Os doze apóstolos do NT são os sucessores das doze tribos de Israel.
Nasce assim a primeira comunidade do Novo Testamento, comunidade modelo, que vai crescendo ao redor de Jesus ao longo dos três anos da sua atividade pública. No início, são apenas quatro (Mc 1,16-20), Aos poucos, a comunidade cresce de acordo com o aumento da missão nas aldeias e povoados da Galileia. Chegou ao ponto de eles não terem nem tempo para comer e descansar (Mc 3,2). Por isso, Jesus se preocupava em proporcionar um descanso para os discípulos (Mc 6,31) e em aumentar o número dos missionários e missionárias (Lc 10,1). Deste modo Jesus procura manter o duplo objetivo do chamado: estar com ele e ir em missão. A comunidade que assim se forma ao redor de Jesus tem três características básicas que pertencem à sua natureza: ela é formadora, missionária e inserida no meio dos pobres da Galileia.
Marcos 3,16-19: A lista dos nomes dos doze apóstolos.
Em seguida, Marcos traz os nomes dos doze: Simão, a quem deu o nome de Pedro; Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer "filhos do trovão"; André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão o cananeu, Judas Iscariotes, aquele que depois o traiu. Grande parte destes nomes vem do Antigo Testamento. Por exemplo, Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também tinha o nome de Levi (Mc 2,14), que é outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete têm nome que vem do tempo dos patriarcas. Dois se chamam Simão; dois, Tiago; dois, Judas; um, Levi! Só tem um com nome grego: Filipe. Seria como hoje numa família todos os filhos terem nomes do tempo dos índios Raoni, Ubiratan, Jussara, etc, e um só ter um nome americano Washington. Isto revela o desejo do povo de refazer a história desde o começo! Vale a pena pensar nos nomes que hoje damos para os filhos. Como eles, cada um de nós é chamado por Deus pelo nome.
4) Para um confronto pessoal
1) Estar com Jesus e ir em missão é a dupla finalidade da comunidade cristã. Como você assume este seu compromisso na comunidade a que pertence?
2) Jesus chamou os discípulos pelo nome. Você, eu, todos nós existimos, porque Deus me chama pelo nome. Pensa nisso!
5) Oração final
Mostra-nos, SENHOR, a tua misericórdia e dá-nos a tua salvação. Ouvirei o que diz o SENHOR Deus: ele anuncia paz para seu povo, para seus fiéis, para quem volta para ele de todo coração. (Sal 84, 8-9)
Os “órfãos” de Bento XVI
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Se a publicação, em 15 de janeiro, de um livro como Des profondeurs de nos coeurs (Do fundo dos nossos corações, em tradução livre, Fayard) provocou tanta comoção no mundo católico, analisa o ensaísta François Huguenin, é também porque a situação única de coexistência entre um papa e um papa emérito mantém um apego real de parte dos fiéis a Bento. XVI. A reportagem é de François Huguenin, publicada por La Vie, 15-01-2020. A tradução é de André Langer.
No dia 28 de fevereiro de 2013, quase sete anos atrás, os telefones celulares vibraram em reuniões para anunciar uma notícia quase inacreditável, mas que, como foi anunciada em latim pelo papa, muitos jornalistas no Vaticano e membros da cúria tinham que ter certeza para garantir que tinham compreendido corretamente: Bento XVI anunciava que renunciaria ao seu cargo e se retiraria. O sucessor de João Paulo II, prefeito de longa data da Congregação para a Doutrina da Fé, não teve o carisma de seu antecessor. E, no entanto, esse gesto – que alguns qualificaram como profético – atraiu-lhe uma simpatia renovada, apesar do obscurecimento do fim de seu pontificado, marcado por alguns assuntos retumbantes: Williamson, Recife, abusos sexuais, “Vatileaks”...
Passado o estado de espanto e os instantes de júbilo que acompanharam a eleição de um papa vindo do Novo Mundo, muito menos familiar aos católicos da França do que a figura de Joseph Ratzinger na morte de João Paulo II, alguma coisa se estabeleceu gradualmente em uma parte dos católicos franceses, algo que se assemelha à nostalgia pela ausência de Bento XVI. Ausência que provoca uma forma de melancolia, por duas razões, cuja combinação é tão rara quanto emocionalmente forte.
Primeira razão: apesar do que os analistas especularam em 2005, Bento XVI rapidamente assumiu o hábito pontifício depois de João Paulo II, sem sofrer com a garbosidade e o carisma de seu antecessor. Ficou claro que ele estava menos à vontade com as reuniões de multidão e sofria em público. Mas ele rapidamente tomou as rédeas de seu cargo, instalando silenciosamente um novo estilo de pontificado: o de um papa intelectual, mas também profundamente espiritual e pudicamente sensível. É ainda mais importante notar que os papas intelectuais não são uma legião na história e que, desde Leão Magno, e Gregório, o Grande, os católicos referidos aos prazeres da inteligência não tinham estado nessa festa.
Nesse sentido, seu pontificado deixou, de fato, uma marca única, difícil de substituir, principalmente porque – e esta é a segunda razão do impacto dessa ausência – Bento XVI está de fato vivo e morando a dois passos do seu sucessor. Simplificando: não é a morte de um papa que os católicos tiveram que enfrentar, morte sempre sublimada pela eleição de um novo bispo de Roma, mas um luto branco, com o sentimento mais ou menos consciente e expresso de terem sido abandonados. Provavelmente, esse sentimento é reforçado pela vontade expressa de alguns – do outro lado do tabuleiro de xadrez – de fazer tabula rasa dessa herança com o advento de Francisco. Órfãos, portanto, mas de um pai ainda vivo, que se retirou para perto de Francisco, ainda vestido de branco, chamado papa emérito e não simplesmente “bispo emérito de Roma”, como teria sido mais sábio fazer.
Nessas circunstâncias, para grande parte dos fiéis apegados a Bento XVI, a fortiori aqueles que se sentem menos confortáveis com o estilo de Francisco, o pesar é muito mais doloroso, porque o luto não podia ser feito. De fato, atualmente, um certo número de católicos sente falta de Bento XVI, em toda a boa fé. Mas do que exatamente?
A primeira coisa é, evidentemente, a imensa aura intelectual de Bento XVI. Um papa que dialoga com um dos grandes intelectuais da época, como o filósofo Jürgen Habermas, é algo inédito. Um papa que, quando toma a palavra – lembremo-nos dos discursos no Collège des Bernardins ou no Westminster Hall –, faz uma reflexão que abre perspectivas brilhantes, se são sempre inovadoras nos conteúdos, pelo menos com uma profundidade singular e uma clareza sem precedentes. Um papa cujas três encíclicas foram sucessos inesperados de livraria, porque queríamos ouvir e ler Bento XVI.
Tudo o que Bento XVI trouxe nutriu o povo de Deus, mas também tranquilizou aqueles que temiam que a Igreja Católica ficasse sem argumentos diante dos desafios antropológicos de nossa sociedade e satisfizesse a necessidade de reconhecimento daqueles que sofrem às vezes com as homilias muito pobres ouvidas em sua paróquia. Sem negar que houvesse oposições, muitos católicos estavam orgulhosos desse papa respeitado por todos, e a comunicação mais confusa e menos límpida de Francisco deixou algumas dúvidas.
A segunda perda é que esse papa alemão foi o produto puro da grande tradição teológica, filosófica, histórica e artística europeia. Certamente, para o católico francês, esse homem que também falava perfeitamente o seu idioma, era um marco, um ponto de partida de toda uma história intelectual e cultural. Foi ele quem lembrou por sua simples presença, um discurso menor, que viemos de uma herança deslumbrante e imemorial, cujos códigos e matizes ele tratava com naturalidade prodigiosa. Na verdade, esse papa era a ponte entre toda a herança do cristianismo ocidental e os desafios contemporâneos incertos. Trouxe a solidez de uma tradição, a base de um pensamento ao mesmo tempo global e erudito, de modo a tranquilizar os fiéis preocupados em ver essa herança se desfazer.
A terceira falta é o tom equilibrado e matizado de um discurso cuja forma suave poderia deter a sangria de setores mais intelectualizados. Dessa maneira, encontrou um certo conservadorismo, que, além disso, deveria ser matizado, representativo da sociologia burguesa de uma parte importante do catolicismo francês. Aquele que acolheu Bento XVI na Esplanada dos Inválidos (Paris) em 2008. A assembleia, que acorreu em grande quantidade, era predominantemente composta por famílias bastante tradicionais.
Esse público, que vibrara com João Paulo II, que restabelecera seu entusiasmo, estava apegado à figura tranquila e ao pensamento firme do papa alemão. Estávamos em terreno familiar, em uma continuidade tranquilizadora e, diante das crises que abalaram o final do pontificado, para muitos católicos franceses, a época de Bento XVI, pelo menos no início, era bastante feliz. Com o estilo de Francisco, mais áspero, mais mordaz, menos polido e mais provocador, uma forma de segurança, desse ponto de vista, desapareceu.
O último aspecto, mais marginal, porque afeta principalmente, mas não exclusivamente, o meio tradicionalista, é a liturgia. Com seu motu proprio sobre a liturgia, em 2007, tornando a antiga missa a forma extraordinária de um único rito romano, Bento XVI, desejando reconciliar as várias sensibilidades da Igreja em conflito desde a crise lefebvrista, conseguiu reunir as famílias divididas sobre o assunto, facilitar a união entre os jovens, mais frequentemente do que os idosos que desejam sair dos guetos e dos anátemas.
Esse reconhecimento da tradição litúrgica (sem questionar o progresso da reforma) acompanhou uma interpretação do Concílio segundo uma hermenêutica da reforma na continuidade. Tudo isso serviu perfeitamente a um público ligado ao Concílio, mas ansioso pela bela liturgia e o apaziguamento após as brigas dos anos 1970-80. Francisco não tem o mesmo interesse pela liturgia. Ele conhece mal o caso tradicionalista, que diz respeito principalmente à França. Aí também, alguns podem ter se sentido abandonados, especialmente porque puderam acreditar – erroneamente – que Bento XVI estava do seu lado, o que é entender mal sua própria história, seu papel no Concílio e sua teologia.
Esses órfãos de Bento XVI tiveram duas reações. Alguns aderiram ao novo estilo de Francisco, fizeram sua conversão ecológica e acolheram sem medo a Amoris Lætitia, sem esquecer a importância singular que Bento XVI representava para eles em sua inteligência da fé. Outros, nos círculos mais extremistas, que fabricaram para si um Bento XVI à sua imagem, rapidamente recusaram Francisco, não litúrgico o suficiente, ousado demais, para não dizer um pouco “esquerdista” aos seus olhos.
Em alguns dos casos mais extremos, eles até inventaram um pupilo na pessoa do cardeal Robert Sarah, sem dúvida parcialmente enganado por um certo número de manipulações franco-francesas. E para eles, isso representava uma volta à estaca zero da desconfiança, como na época de Paulo VI... O risco é que, com imbróglios como esse do lançamento e do estatuto do livro Do fundo de nossos corações, os primeiros se encontrem embarcados um pouco sem o seu conhecimento na “cruzada” dos últimos.
Aqueles que opõem o papa e o atual bispo emérito de Roma absolutizam uma diferença bastante radical de temperamento e de matizes sem dúvida significativa sobre certos assuntos, esquecendo que em pontos importantes como a justiça social, a ecologia, a acolhida dos migrantes ou uma espiritualidade muito interior, Bento XVI foi um precursor de Francisco. Sem dúvida, alguns se encontram, especialmente nas redes sociais (onde o pior está saindo sem limites), nesta forma estéril de oposição e divisão. Outros, ao contrário, pensam que alguém pode ser nostálgico por Bento amando Francisco. Eles não falam tão alto, fazem menos barulho, mas dizem algo essencial sobre a vida na Igreja, que se chama fidelidade. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Um bispo holandês pede ao Papa que “destrua” o Documento Final do Sínodo
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Rob Mutsaerts afirmou que o Sínodo foi uma “fachada” para tratar do tema dos viri probati e das mulheres diáconas.
“A caixa de Pandora está aberta e terá implicações para toda a Igreja, começando pelos bispos alemães”, afirmou o bispo-auxiliar da diocese de s’Hertogenbosch.
A reportagem é publicada por Vida Nueva, 17-01-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Esperamos que o papa Francisco destrua o documento final do sínodo na Amazônia, porém há poucas probabilidades de que faça”. Assim afirmou Rob Mutsaerts, bispo auxiliar de s’Herogenbosch, Países Baixos, em uma entrevista a Il Giornale na qual criticou fortemente o Sínodo da Amazônia. Considera que esse não foi mais que uma “enganação aos fiéis” e que “representou uma piada com a fé”.
Precisamente suas palavras coincidem com o debate que se gerou nos últimos dias pela intervenção do papa emérito Bento XVI em um livro assinado pelo cardeal Robert Sarah sobre a necessidade de manter o celibato sacerdotal. O bispo holandês teme, do seu lado, que Francisco aceite as propostas dos padres sinodais sobre considerar, para a região amazônica, a ordenação sacerdotal de diáconos permanentes.
No entanto, Mutsaerts considera que isso não é necessário, já que, “80% da população amazônica vive em grandes cidades”. Por isso, “o problema da falta de padres não é diferente ao de muitas outras áreas do mundo”. Na verdade, para o bispo holandês, o problema reside em “uma falta de fé” que não se resolve aceitando padres casados.
Chegará à toda Igreja
Porém, ademais, o prelado crê que o Sínodo, celebrado em outubro de 2019, foi uma “fachada” para tratar esses temas. “As palavras-chave do documento final do Sínodo não foram Mãe-Terra e ecossistema, mas sim viri probati, diáconas e rito amazônico”, destaca, apontando o cardeal Cláudio Hummes como precursor para que documento tomasse essa direção.
“É claro, agora os resultados não se limitarão à região amazônica”, diz o bispo. “A caixa de Pandora está aberta e haverá implicações para toda a Igreja”, acrescenta, advertindo que “os bispos alemães” serão os primeiros que solicitarão a adoção dessa opção no seu país. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Jesus na Sapucaí: Arquidiocese está conversando com Liesa e Mangueira sobre o desfile
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Por Ancelmo Gois
O Jesus da Mangueira
A Arquidiocese do Rio, por meio de sua diretora jurídica, Claudine Milione Dutra, tem conversado com a Liga das Escolas de Samba e com a própria Mangueira sobre esse polêmico enredo “A verdade vos fará livre”, uma espécie de releitura da biografia de Jesus, que, no desfile, assumirá várias faces. A conversa tem sido, até agora, positiva e respeitosa de ambos os lados. O cardeal Dom Orani Tempesta foi o primeiro chefe da Igreja no Rio a visitar vários barracões de escolas de samba.
Cala boca já morreu
A última vez em que a Arquidiocese tentou censurar uma escola foi um tiro no pé.
O cardeal Dom Eugenio Salles (1920-2012) conseguiu uma ordem judicial proibindo a Beija-Flor de mostrar o abre-alas do desfile “Ratos e Urubus”, em 1989, que traria uma reprodução do Cristo Redentor vestido como um mendigo. Joãosinho Trinta cobriu a alegoria com um plástico preto e acrescentou uma faixa com “Mesmo proibido, olhai por nós”. Foi um sucesso. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
2ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO- A. Quinta-feira, 23 de janeiro-2020. Lectio Divina do Evangelho do dia, com Frei Carlos Mesters, O. Carm.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que governais o céu e a terra, escutai com bondade as preces do vosso povo e dai ao nosso tempo a vossa paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 3,7-12)
Naquele tempo, 7Jesus se retirou para a beira do mar, junto com seus discípulos. Muita gente da Galileia o seguia. 8E também muita gente da Judeia, de Jerusalém, da Iduméia, do outro lado do Jordão, dos territórios de Tiro e Sidônia, foi até Jesus, porque tinham ouvido falar de tudo o que ele fazia. 9Então Jesus pediu aos discípulos que lhe providenciassem uma barca, por causa da multidão, para que não o comprimisse.
10Com efeito, Jesus tinha curado muitas pessoas, e todos os que sofriam de algum mal jogavam-se sobre ele para tocá-lo. 11Vendo Jesus, os espíritos maus caíam a seus pés, gritando: "Tu és o Filho de Deus!" 12Mas Jesus ordenava severamente para não dizerem quem ele era.
- Palavra da Salvação.
3) Reflexão
A conclusão a que se chega, no fim destes cinco conflitos (Mc 2,1 a 3,6), é que a Boa Nova de Deus tal como era anunciada por Jesus dizia exatamente o contrário do ensinamento das autoridades religiosas da época. Por isso, no fim do último conflito, se prevê que Jesus não vai ter vida fácil e será combatido. A morte aparece no horizonte. Decidiram matá-lo (Mc 3,6). Sem uma conversão sincera não é possível as pessoas chegarem a uma compreensão correta da Boa Nova.
Um resumo da ação evangelizadora de Jesus. Os versículos do evangelho de hoje (Mc 3,7-12) são um resumo da atividade de Jesus e acentuam um enorme contraste. Um pouco antes, em Mc 2,1 a 3,6, só se falou em conflitos, inclusive em conflito de vida e morte entre Jesus e as autoridades civis e religiosas da Galileia (Mc 3,1-6). E aqui no resumo, aparece o contrário: um movimento popular imenso, maior que o movimento de João Batista, pois veio gente não só da Galileia, mas também da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, da Transjordânia e até da região pagã de Tiro e Sidônia para encontrar-se com Jesus! (Mc 3,7-12). Todos querem vê-lo e tocar nele. É tanta gente, que o próprio Jesus fica preocupado. Ele corre o perigo de ser esmagado pelo povo. Por isso, pediu aos discípulos para manter um barco à disposição a fim de que o povo não o apertasse. E do barco falava à multidão. Eram sobretudo os excluídos e os marginalizados que vinham a ele com seus males: os doentes e os possessos. Estes, que não eram acolhidos na convivência social da sociedade da época, são acolhidos por Jesus. Eis o contraste: de um lado, a liderança religiosa e civil que decide matar Jesus (Mc 3,6); do outro lado, um movimento popular imenso que busca a salvação em Jesus. Quem vai ganhar?
Os espíritos impuros e Jesus. A insistência de Marcos na expulsão dos demônios é muito grande. O primeiro milagre de Jesus é a expulsão de um demônio (Mc 1,25). O primeiro impacto que Jesus causa no povo é por causa da expulsão dos demônios (Mc 1,27). Uma das principais causas da briga de Jesus com os escribas é a expulsão dos demônios (Mc 3,22). O primeiro poder que os apóstolos vão receber quando são enviados em missão é o poder de expulsar os demônios (Mc 6,7). O primeiro sinal que acompanha o anúncio da ressurreição é a expulsão dos demônios (Mc 16,17). O que significa expulsar os demônios no evangelho de Marcos?
No tempo de Marcos, o medo dos demônios estava aumentando. Algumas religiões, em vez de libertar o povo, alimentavam nele o medo e a angústia. Um dos objetivos da Boa Nova de Jesus era ajudar o povo a se libertar deste medo. A chegada do Reino de Deus significou a chegada de um poder mais forte. Jesus é “o homem mais forte” que chegou para amarrar o Satanás, o poder do mal, e roubar dele a humanidade prisioneira do medo (Mc 3,27). Por isso, Marcos insiste tanto, na vitória de Jesus sobre o poder do mal, sobre o demônio, sobre o Satanás, sobre o pecado e sobre a morte. Do começo ao fim, com palavras quase iguais, ele repete a mesma mensagem: “E Jesus expulsava os demônios!” (Mc 1,26.27.34.39; 3,11-12.15.22.30; 5,1-20; 6,7.13; 7,25-29; 9,25-27.38; 16,9.17). Parece até um refrão! Hoje, em vez de usar sempre as mesmas palavras preferimos usar palavras diferentes. Diríamos: “O poder do mal, o Satanás, que mete tanto medo no povo, Jesus o venceu, dominou, amarrou, destronou, derrotou, expulsou, eliminou, exterminou, aniquilou, abateu, destruiu e matou!” O que Marcos nos quer dizer é isto: “Ao cristão é proibido ter medo de Satanás!” Depois que Jesus ressuscitou, já é mania e falta de fé apelar, a toda hora, para Satanás, como se ele ainda tivesse algum poder sobre nós. Insistir no perigo dos demônios para chamar o povo de volta para as igrejas é desconhecer a Boa Nova do Reino. É falta de fé na ressurreição de Jesus!
4) Para um confronto pessoal
1) Como você vive a sua fé na ressurreição de Jesus? Contribui para vencer o medo?
2) Expulsão dos demônios. Como você faz para neutralizar esse poder em sua vida?
5) Oração final
Exultem e se alegrem em ti todos os que te buscam; digam sempre: “O SENHOR é grande” os que desejam a tua salvação. (Sal 39, 17)
Parar na vida...
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Parar na vida... Apontamentos espirituais do Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Quarta-feira, 22 de janeiro-2020. Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. www.instagram.com/freipetronio
2ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO- A. Quarta-feira, 22 de janeiro-2020. Lectio Divina do Evangelho do dia, com Frei Carlos Mesters, O. Carm.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que governais o céu e a terra, escutai com bondade as preces do vosso povo e dai ao nosso tempo a vossa paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 3,1-6)
Naquele tempo, 1Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. 3Jesus disse ao homem da mão seca: "Levanta-te e fica aqui no meio!" 4E perguntou-lhes: "E permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?" Mas eles nada disseram. 5Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: "Estende a mão". Ele a estendeu e a mão ficou curada.
6Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo.
- Palavra da Salvação.
3) Reflexão
No evangelho de hoje vamos meditar o último dos cinco conflitos que Marcos colecionou no início do seu evangelho (Mc 2,1 a 3,6). Os quatro conflitos anteriores foram provocados pelos adversários de Jesus. Este último é provocado pelo próprio Jesus e revela a gravidade do conflito entre ele e as autoridades religiosas do seu tempo. É um conflito de vida e morte. Importa notar a categoria de adversários que aparece neste último conflito. Trata-se dos fariseus e dos herodianos, ou seja, das autoridades religiosas e civis. Quando Marcos escreve o seu evangelho nos anos 70, muitos traziam na lembrança a terrível perseguição dos anos 60, que Nero moveu contra as comunidades cristãs. Ouvindo agora como o próprio Jesus tinha sido ameaçado de morte e como ele se comportava no meio destes conflitos perigosos, os cristãos encontravam uma fonte de coragem e de orientação para não desanimar na caminhada.
Jesus na sinagoga em dia de sábado. Jesus entra na sinagoga. Ele tinha o costume de participar das celebrações do povo. Havia ali um homem com a mão atrofiada. Um deficiente físico não podia participar plenamente, pois era considerado impuro. Mesmo presente na comunidade, era marginalizado. Devia manter-se afastado.
A preocupação dos adversários de Jesus. Os adversários observam para ver se Jesus faz curas em dia de sábado. Querem acusá-lo. O segundo mandamento da Lei de Deus mandava “santificar o sábado”. Era proibido trabalhar nesse dia (Ex 20,8-11). Os fariseus diziam que curar um doente era o mesmo que trabalhar. Por isso ensinavam: “É proibido curar em dia de sábado!” Colocavam a lei acima do bem-estar das pessoas. Jesus os incomodava, porque ele colocava o bem-estar das pessoas acima das normas e das leis. A preocupação dos fariseus e dos herodianos não era o zelo pela lei, mas sim a vontade de acusar e de eliminar Jesus.
Levanta-te e vem aqui para o meio! Jesus pede duas coisas ao deficiente físico: Levanta-te e vem aqui para o meio! A palavra “levanta-te” é a mesma que as comunidades do tempo de Marcos usavam para dizer “ressuscitar”. O deficiente deve “ressuscitar”, levantar-se, vir para o meio e ocupar o seu lugar no centro da comunidade! Os marginalizados, os excluídos, devem vir para o meio! Não podem ser excluídos. Devem ser incluídos e acolhidos. Devem estar junto com todo mundo! Jesus chamou o excluído para ficar no meio.
A pergunta de Jesus deixa os outros sem resposta. Jesus pergunta: Em dia de sábado é permitido fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matá-la? Ele podia ter perguntado: ”Em dia de sábado é permitido curar: sim ou não?” Aí, todos teriam respondido: “Não é permitido!” Mas Jesus mudou a pergunta. Para ele, naquele caso concreto, “curar” era o mesmo que “fazer o bem” ou “salvar uma vida”, e “não curar” era o mesmo que “fazer o mal” ou “matar uma vida”! Com a sua pergunta Jesus colocou o dedo na ferida. Denunciou a proibição de curar em dia de sábado como sendo um sistema de morte. Pergunta sábia! Os adversários ficaram sem resposta.
Jesus fica indignado diante do fechamento dos adversários. Jesus reage com indignação e tristeza diante da atitude dos fariseus e herodianos. Ele manda o homem estender a mão, e ela ficou curada. Curando o deficiente, Jesus mostrou que ele não estava de acordo com o sistema que colocava a lei acima da vida. Em resposta à ação de Jesus, os fariseus e os herodianos decidem matá-lo. Com esta decisão eles confirmam que são, de fato, defensores de um sistema de morte! Eles não têm medo de matar para defender o sistema contra Jesus que os ataca e critica em nome da vida.
4) Para um confronto pessoal
1) O deficiente foi chamado para estar no centro da comunidade. Na nossa comunidade, os pobres e os excluídos têm um lugar privilegiado?
2) Você já se confrontou alguma vez com pessoas que, como os herodianos e os fariseus, colocam a lei acima do bem-estar das pessoas? O que você sentiu naquele momento? Deu razão a eles ou os criticou?
5) Oração final
De todos tens compaixão porque tudo podes, e fechas os olhos aos pecados dos mortais, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa, não a terias criado. (Sab 11,23-24)
Francisco e Ratzinger. Os “dois” papas e a crise de autoridade na Igreja
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"Assim, a guerra sem fim tritura suas vítimas e pode continuar. Se os combatentes se perdem pelo caminho e são sacrificados, no entanto, o general permanece, Bento desavisado e cuja intenção certamente não é contrastar Francisco ou servir de peão para a anti-Igreja. Quem duvida disso demonstra desconhecer toda a produção teológica de Joseph Ratzinger, assim como sua concepção do Pontificado", escreve Massimo Borghesi, filósofo, professor de Filosofia Moral na Universidade de Perugia, Itália, e autor do livro Jorge Mario Bergoglio. Una biografia intelettuale. Dialettica e mistica (Jaca Book 2017; tradução brasileira: Jorge Mario Bergoglio. Uma biografia intelectual. Petrópolis, Vozes, 2018), em artigo publicado por IlSussidiario.net, 19-01-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O eco mundial causado pelas notícias da publicação, pela Fayard, do livro a quatro mãos "Des profondeurs des nos coeurs" (Do fundo de nossos corações, em tradução livre), do Papa emérito e do Cardeal Sarah, não depende apenas de seu conteúdo - a confirmação do celibato dos padres como condição obrigatória para o sacerdócio – quanto do uso midiático que a parte eclesial em oposição ao papa Francisco presume tirar disso. Há anos que essa parte tenta usar de todas as formas a figura de Bento XVI para contrapô-la com o Papa reinante. Seu sonho é dividir a Igreja em nível mundial, para que possa deslegitimar Francisco e obrigá-lo a renunciar. Em sua sanha, não se importa com a tragédia, com desorientação e com o escândalo. Semeia divisão, suspeitas, acusações de heresia.
Uma patologia religiosa percorre a Igreja e as vítimas são, principalmente, os simples fiéis que, muitas vezes desavisados, são envolvidos nas tramas obscuras dos potentados que movem as massas por trás de motivos de aparente zelo religioso. A direita mundial não gosta do papa "argentino", latino-americano. Considera-o, no campo social, muito inclinado à esquerda, não funcional, portanto, aos arranjos de poder que estão mudando, sensivelmente, a realidade atual.
Para deslegitimar um Papa, no entanto, não basta atacá-lo no terreno políticos. É preciso insinuar a dúvida naquele religioso, e é aí que entram em jogo as diatribes teológicos, os grupos de pressão, os ativistas da mídia que obsessivamente levantam acusações de heresia. Um Papa avançado socialmente só pode ser progressivo-modernista no terreno doutrinal. É assim que se cria a lenda: o Papa bonzinho é uma criatura de Soros, do "Dono do mundo" vaticinado por Robert Hugh Benson, cujo objetivo oculto é a dissolução da Igreja por dentro.
Delírios apocalípticas e profecias místicas se confundem em um imaginário para o qual a Igreja e o mundo estão caminhando para o fim. O apocalíptico é a outra face de um mundo sombrio que exige, de forma prepotente, ordem e segurança e permanece desorientado e zangado diante de um papa que pede para derrubar os bastiões e não ter medo. Assim a anti-Igreja que se move contra Bergoglio busca, sem descanso, líderes que, tanto no terreno político quanto no eclesial, possam assumir o papel do anti-Francisco. De Trump a Putin, de Orbán a Salvini, aos cardeais Burke, Müller, Sarah e ao bispo Viganò, tudo é uma tentativa de continuar deslegitimando da obra do Pontífice. A tal ponto que o pontificado de Bergoglio parecerá aos futuros historiadores pontilhado por uma série ininterrupta de etapas de remoção.
Essa estratégia de desgaste não teria o poder que possui se, nesses anos, não tivesse tentado de toda maneira envolver, em vão, a figura de Bento XVI. Para uma parte do catolicismo conservador, a grande renúncia do papa Ratzinger foi um gesto "revolucionário" e imperdoável. "Da cruz não se desce": como disse de maneira violenta o cardeal de Cracóvia Stanisław Dziwisz. Aquele mundo nunca perdoou Bento por sua escolha.
Nem tudo, no entanto. Parte dele confiou e confia que o Papa emérito, ao sair do silêncio ou agir nos bastidores, possa criar obstáculos à deriva "modernista" do Papa "oficial". É nesse contexto que a decisão de Ratzinger de participar do livro da Fayard, juntamente com o cardeal Sarah notoriamente não exatamente em sintonia com Francisco, assume um significado peculiar. Certamente não nas intenções de Bento, que escreveu expressamente que ele se reporta inteiramente à autoridade de seu sucessor, mas nos fatos. Nem a comunicação de Mons. Georg Gänswein, secretário do Papa emérito, segundo o qual não houve um entendimento editorial perfeito entre Bento e o cardeal, e o titular do livro Des profondeurs des nos coeurs só poderia ser Sarah, valeu para esclarecer e mitigar as discussões.
No entanto, estragou os planos e obteve como resultado atrair sobre Mons. Gänswein a ira daqueles que, até o dia anterior, o elogiavam como pedra angular de sua estratégia. Como mons. Viganò trovejou das colunas do jornal da direita política La Verità: "O padre Georg isolou o Pontífice emérito" (16 de janeiro de 20). Os anti-Francisco não têm escrúpulos: quando os peões não são mais necessários, devem ser substituídos. Para Viganò: “É hora de revelar o controle exercido de forma abusiva e sistemática pelo monsenhor Georg Gänswein contra o Sumo Pontífice Bento XVI desde o início de seu pontificado. Gänswein filtrava rotineiramente as informações, arvorando-se o direito de julgar por si próprio o quanto fosse apropriado ou não deixar chegar ao Santo Padre".
Assim, a guerra sem fim tritura suas vítimas e pode continuar. Se os combatentes se perdem pelo caminho e são sacrificados, no entanto, o general permanece, Bento desavisado e cuja intenção certamente não é contrastar Francisco ou servir de peão para a anti-Igreja. Quem duvida disso demonstra desconhecer toda a produção teológica de Joseph Ratzinger, assim como sua concepção do Pontificado. Aqueles que recitam, como em uma jaculatória, "Bento XVI é nosso Papa" demonstram uma concepção eclesial que Bento XVI absolutamente abomina. Uma concepção fora da "Católica". Seus atestados de fidelidade e de obediência ao Papa Francisco não podem ser questionados por nenhum livro de ficção-teológica que tanto apaixona os apocalípticos do sétimo dia.
Dito isto, permanece o fato de que a decisão de Ratzinger de participar da iniciativa editorial do cardeal Sarah permanece questionável, para além de boas intenções. Questionável, não porque ele não tenha o direito de falar ou publicar, mas pelo título que, no momento da abdicação, decidiu conservar: o de papa "emérito".
Um título que não tem precedentes em toda a história da Igreja e sobre cuja validade eminentes estudiosos, como o jesuíta Gianfranco Girlanda em sua "Cessação do ofício de romano pontífice" (La Civiltà Cattolica, 02 de março de 2013), levantaram sérias dúvidas.
É esse título, que o direito canônico não sabe como regulamentar, que oferece o espaço pra a ficção-teológica e para as manobras palacianas. Se, de fato, o cardeal Ratzinger tivesse tratado do celibato dos padres, um tema tratado pelo Sínodo dos Bispos sobre o qual o atual Papa ainda deve se pronunciar, seu discurso, mesmo com toda a sua autoridade, não teria criado o problema que estamos discutindo. A querela esquenta quando é apresentada como a disputa entre "dois papas". É nessa suposta dialética, entre o emérito e o governante, que se insere a vertente anti-Francisco, reivindicando sua força e legitimidade. Estamos, portanto, diante de um impasse que marca o momento presente, dramático, da Igreja.
Se Ratzinger quer ser coerente com o compromisso que assumiu ao decidir manter o nome de Bento XVI, Papa emérito, então deveria observar a regra do silêncio nos assuntos que são objeto de discussão pelos bispos e Papa. Ele só poderia intervir se sua palavra resultasse de apoio à ação papal. Onde ainda há margem para dúvidas, suas observações, de autoridade e preciosas, deveriam ser oferecidas, de forma pessoal e direta, ao Papa ao qual cabe jugar sobre sua utilidade ou não. Caso contrário, a possibilidade de expressar publicamente sua opinião sobre questões delicadas para a Igreja implica o abandono do hábito branco e do nome de papa emérito.
Somos, portanto, confrontados com uma opção que provavelmente não teria razão de ser na medida em que a cordialidade e estima que liga os dois pontífices, passado e presente, são únicas em toda a história da Igreja. Francisco acolheu as decisões de Bento XVI sem levantar objeções. Os dois trazem acentos distintos, escolhas diferentes, mas estão unidos pelo mesmo amor pela Igreja, a Igreja do Concílio, de uma perspectiva missionária igual. Por esse motivo, Bento XVI também não é do agrado de muitos tradicionalistas. Se o problema da comunicação surge hoje para as publicações de Ratzinger, não é pelos dois protagonistas diretos, mas por causa da oposição militante de uma parte, minoritária, da Igreja que tenta, todas as vezes, manipular as palavras do Papa emérito para desacreditar a autoridade do Pontífice. Daí a necessária discrição exigida de Ratzinger. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
2ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO- A. Terça-feira, 21 de janeiro-2020. Lectio Divina do Evangelho do dia, com Frei Carlos Mesters, O. Carm.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que governais o céu e a terra, escutai com bondade as preces do vosso povo e dai ao nosso tempo a vossa paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 2, 23-28)
23Jesus estava passando por uns campos de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar espigas, enquanto caminhavam. 24Então os fariseus disseram a Jesus: "Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?"
25Jesus lhes disse: "Por acaso, nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidade e tiveram fome? 26Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus, e os deu também aos seus companheiros? No entanto, só aos sacerdotes é permitido comer esses pães". 27E acrescentou: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. 28Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado".
- Palavra da Salvação.
3) Reflexão
A lei existe para o bem das pessoas. Num dia de sábado, os discípulos passam pelas plantações e abrem caminho arrancando espigas. Em Mateus 12,1 se diz que eles estavam com fome. Invocando a Bíblia, os fariseus criticam a atitude dos discípulos. Seria uma transgressão da lei do Sábado (cf Ex 20,8-11). Jesus responde invocando a mesma Bíblia para mostrar que os argumentos dos outros não tinham fundamento. Ele lembra que o próprio Davi também fez coisa proibida, pois tirou os pães sagrados do templo e os deu de comer aos soldados que estavam com fome (1 Sm 21,2-7). E Jesus termina com duas frases importantes: 1) O sábado é para o ser humano, e não o ser humano para o sábado, 2) O Filho do Homem é dono até do sábado!
O sábado é para o ser humano, e não o ser humano para o sábado. Durante mais de quinhentos anos, desde os tempos do cativeiro na Babilônia até a época de Jesus, os judeus tinham observado a lei do sábado. Esta observância secular tornou-se para eles um forte sinal identidade. O sábado era rigorosamente observado. Na época dos Macabeus, meados do século II antes de Cristo, esta observância rígida chegou a um ponto crítico. Atacados pelos gregos em dia de sábado, os rebeldes macabeus preferiram deixar-se matar a transgredir o sábado usando as armas para defender sua vida. Por isso, morreram mil pessoas (1Mac 2,32-38). Refletindo sobre este massacre, os líderes macabeus concluíram que deviam resistir e defender sua vida, mesmo em dia de sábado (1Mac 2,39-41). Jesus teve a mesma atitude de relativizar a lei do sábado em favor da vida, pois a lei existe para o bem da vida humana, e não vice-versa!
O Filho do Homem é dono até do sábado! A nova experiência de Deus como Pai/Mãe fez com que Jesus, o Filho do Homem, dava a Jesus uma chave para descobrir a intenção de Deus que está na origem das leis do Antigo Testamento. Por isso, o Filho do Homem é dono até do Sábado. Convivendo com o povo da Galileia durante trinta anos e sentindo na pele a opressão e a exclusão a que tantos irmãos e irmãs eram condenados em nome da Lei de Deus, Jesus percebeu que isto não podia ser o sentido daquelas leis. Se Deus é Pai, então ele acolhe a todos como filhos e filhas. Se Deus é Pai, então nós temos que ser irmão e irmã uns dos outros. Foi o que Jesus viveu e pregou, desde o começo até o fim. A Lei do Sábado deve estar a serviço da vida e da fraternidade. Foi por causa da sua fidelidade a esta mensagem que Jesus foi preso e condenado à morte. Ele incomodou o sistema, e o sistema se defendeu, usando a força contra Jesus, pois ele queria a Lei a serviço da vida, e não vice-versa.
Jesus e a Bíblia. Os fariseus criticavam Jesus em nome de Bíblia. Jesus responde e critica os fariseus usando a Bíblia. Ele conhecia a Bíblia de memória. Naquele tempo, não havia Bíblias impressas como temos hoje em dia. Em cada comunidade só havia uma única Bíblia, escrita a mão, que ficava na sinagoga. Se Jesus conhecia tão bem a Bíblia, é sinal de que ele, durante aqueles 30 anos da sua vida em Nazaré, deve ter participado intensamente da vida da comunidade, onde todo sábado se liam as Escrituras. Ainda falta muito para nós termos a mesma familiaridade com a Bíblia e a mesma participação na comunidade!
4) Para um confronto pessoal
1) O Sábado é para o ser humano, e não vice versa. Quais os pontos em minha vida que devem mudar?
2) Mesmo sem ter Bíblia em casa, Jesus conhecia a Bíblia de memória. E eu?
5) Oração final
De todo coração darei graças ao SENHOR, na reunião dos justos e na assembléia. Grandes são as obras do SENHOR, merecem a reflexão dos que as amam. (Sal 110, 1-2)
2ª SEMANA DO TEMPO COMUM. ANO LITÚRGICO -A. Segunda-feira, 20 de janeiro-2020. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que governais o céu e a terra, escutai com bondade as preces do vosso povo e dai ao nosso tempo a vossa paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Marcos 2,18-22)
Naquele tempo, 18os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: "Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?"
19Jesus respondeu: "Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar. 20Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; aí, então, eles vão jejuar.
21Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos".
- Palavra da Salvação.
3) Reflexão
Os cinco conflitos entre Jesus e as autoridades religiosas. Em Mc 2,1-12 vimos o primeiro conflito. Era em torno do perdão dos pecados. Em Mac 2,13-17, o segundo conflito tratava da comunhão de mesa com pecadores. O evangelho de hoje traz o terceiro conflito sobre o jejum. Amanhã, teremos o quarto conflito em torno da observância do sábado (Mc 2,13-28). Depois de amanhã, o último dos cinco conflitos será em torno da cura em dia de sábado (Mc 3,1-6). O conflito sobre o jejum ocupa o lugar central. Por isso, as palavras meio soltas sobre o remendo novo em pano velho e sobre o vinho novo em barril novo (Mc 2,21-22) devem ser entendidas como uma luz que joga sua claridade também sobre os outros quatro conflitos, dois antes e dois depois.
Jesus não insiste na prática do jejum. O jejum é um costume muito antigo, praticado em quase todas as religiões. O próprio Jesus praticou-o durante quarenta dias (Mt 4,2). Mas ele não insiste com os discípulos para que façam o mesmo. Deixa a eles a liberdade. Por isso, os discípulos de João Batista e dos fariseus, que eram obrigados a jejuar, querem saber por que Jesus não insiste no jejum.
Enquanto o noivo está com eles não precisam jejuar. Jesus responde com uma comparação. Enquanto o noivo está com os amigos do noivo, isto é, durante a festa do casamento, estes não precisam jejuar. Jesus se considera o noivo. Os discípulos são os amigos do noivo. Durante o tempo em que ele, Jesus, estiver com os discípulos, é festa de casamento. Chegará o dia em que o noivo vai ser tirado. Aí, se eles quiserem, poderão jejuar. Jesus alude à sua morte. Sabe e sente que, se ele continuar neste caminho de liberdade, as autoridades religiosas vão querer matá-lo.
Remendo novo em roupa velha, vinho novo em barril novo. Estas duas afirmações de Jesus, que Marcos colocou aqui, esclarecem a atitude crítica de Jesus frente às autoridades religiosas. Não se coloca remendo de pano novo em roupa velha. Na hora de lavar, o remendo novo repuxa o vestido velho e o estraga mais ainda. Ninguém coloca vinho novo em barril velho, porque a fermentação do vinho novo faz estourar o barril velho. Vinho novo em barril novo! A religião defendida pelas autoridades religiosas era como roupa velha, como barril velho. Não se deve querer combinar o novo que Jesus trouxe com os costumes antigos. Nem se pode querer reduzir a novidade de Jesus ao tamanho do judaísmo. Ou um, ou outro! O vinho novo que Jesus trouxe faz estourar o barril velho. Tem que saber separar as coisas. Jesus não é contra o que é “velho”. O que ele quer evitar é que o velho se imponha ao novo e, assim, o impeça de manifestar-se. Seria o mesmo que reduzir a mensagem do Concílio Vaticano II ao tamanho do catecismo anterior ao Concílio, como alguns estão querendo.
4) Para um confronto pessoal
1) A partir da experiência profunda de Deus que o animava por dentro, Jesus tinha muita liberdade com relação às normas e práticas religiosas. E hoje, será que temos a mesma liberdade ou será que nos falta a liberdade dos místicos?
2) Remendo novo em roupa velha, vinho novo em barril velho. Existe isto em minha vida?
5) Oração final
Todo aquele que professa que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus. E nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco. (1Jo 4,15-16)
Francisco sai mais forte do “livrogate” do Vaticano
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Ao final, o povo fica com essa canção: “En la Iglesia, hay dos Papas y, encima, se llevan a matar” (uma expressão espanhola para “não se dão bem”).
O que o povo das ruas não sabe é que o que estamos vivendo é um tensionamento não somente entre dois Papas, mas sim entre dois modelos de Igreja, e um ataque preventivo.
O tensionamento de Ratzinger-Sarah contra Francisco é uma espécie de ataque preventivo contra o processo sinodal alemão.
Para saírem minimamente “aliviados”, os implicados (o cardeal Sarah, o secretário de Ratzinger, monsenhor Gänswein e o próprio Ratzinger) brigam entre si e jogam culpa um ao outro em um espetáculo grotesco e difamatório.
Quiseram utilizar o Papa emérito ou este se deixou ser utilizado (algo que somente ele sabe), porém fracassaram tão clamorosamente que deixaram o campo aberto para que a primavera de Francisco siga florescendo, em Roma e no mundo.
O comentário é de José Manuel Vidal, publicado por Religión Digital, 15-01-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Um destacado e veterano vaticanista italiano, Marco Politi, chama de “livrogate” o primeiro episódio de uma “guerra civil” vaticana entre os dois Papas. Parece-me um pouco exagerado, tratando-se de dois Sumos Pontífices e duas Santidades. Creio que é mais ajustado falar de tensionamento e de ataque preventivo.
Neste sentido, não importam tanto, pois, os “diz que me disse” sobre a autoria total ou parcial do livro por parte do Papa emérito. O vivido nestes dias me parece rocambolesco, cômico, um pouco ridículo e de vergonha alheia, se não afeta a credibilidade social da Igreja. Ao final, o povo fica com essa canção “En la Iglesia, hay dos Papas y, encima, se llevan a matar”.
O que o povo das ruas não sabe é que o que estamos vivendo é um tensionamento não somente entre dois Papas, mas sim entre dois modelos de Igreja, e um ataque preventivo. Isso é, uma emenda à totalidade, disfarçada sob o manto de uma advertência sumária: o celibato é intocável, porque há um vínculo ontológico entre este e o sacerdócio. Para a ala mais conservadora eclesial a Igreja em saída de Francisco não os agrada e preferem a do Concílio congelado e a dos “princípios inegociáveis”. Inclusive se são discutidos ou discutíveis. Inclusive se não afetam os dogmas, mas sim a uma simples lei disciplinar da Igreja.
No fundo, é uma tentativa, afortunadamente fracassada, de dizer a Francisco: “Não tem enfrentamento neste tema secundário e terá muito mais em outro tipo de temas, que possam ser debatidos e consensuais nessa Igreja sinodal que está em marcha”. Uma alavanca sem apoio, uma alavanca sem força doutrinal, porque lhes dá pé para aglutinar seguidores e prepara-los para o cisma.
Porque, na realidade, o tensionamento de Ratzinger-Sarah contra Francisco é uma espécie de ataque preventivo contra o processo sinodal alemão, que já está em marcha e que pretende fundamentar doutrinalmente uma Igreja sinodal de facto, em saída, aberta ao mundo e que necessita implementar mudanças profundas em suas estruturas, em suas dinâmicas internas, na integração das mulheres, em respeito aos direitos humanos, na desclericalização, e especialmente, na atualização da moralidade sexual. O Sínodo da Amazônia parecia folclórico, mas também um precedente perigoso. O alemão os faz uma careta e o temem mais que o diabo.
E para tentar freá-lo desde o início, Ratzinger-Sarah atendem (“sempre em obediência a Deus e à consciência, pelo que não podem guardar silêncio”) a um dos principais cavalos-de-batalha do mais rançoso clericalismo. Se os eclesiásticos que são funcionários do sagrado e perdem este caráter por ficar sem celibato, acabam, portanto atirando pedras contra seu próprio telhado. Isso é, contra a casta clerical, que é a que está dinamitando desde dentro o papa Francisco e que é mais se opõe ao Evangelho de Jesus.
Por isso, Ratzinger-Sarah escolheram o tema do celibato, porque sabem que grande parte do clero os segue. E que todos os rigoristas do mundo vão cerrar fileiras com eles. E, ainda, envolver-se-ão nessa cruzada, sob a máscara do celibato, o que se trata de verdade é outonear a primavera de Francisco. Com esse novo ataque contra Francisco, se demonstra mais uma vez que o que realmente temem os rigoristas são que as reformas de Bergoglio os coíbam. E que Francisco está demonstrando que se pode reformar a fundo a Igreja sem tocar no núcleo doutrinar. E por aí não passam, inclusive a risco de que a instituição caia em irrelevância mais absoluta e na perda total de credibilidade social.
Porém, ao menos por agora, o tiro saiu pela culatra e Francisco que, como dizem alguns treinadores, parece ter “una flor en el culo” (ditado espanhol para dizer que uma pessoa tem sorte no jogo), sai reforçado do incidente. E, inclusive, a partir de agora pode se permitir o luxo de pôr em marcha o estatuto do Papa emérito. Um estatuto que não existe na atualidade e que fique claro que Papa existe apenas um, o reinante. E que o emérito deixa de ser Papa para tornar-se o bispo emérito de Roma. E, portanto, deve deixar de utilizar a batina branca e os títulos papais (Santidade, etc.) e abandonar Roma. Para que ninguém possa pensar, nem remotamente, que em Roma há dois Papas, como, de fato, muita gente pouco informada deve crer.
Em qualquer caso, Francisco, sem mover um dedo, ganhou dos rigoristas uma batalha crucial, que pretendiam converter em uma ordem das maiores. Tanto é assim que o que mais claro ficou de todo este episódio é que, para sair minimamente “aliviados”, os implicados (cardeal Sarah, monsenhor Gänswein e o prório Ratzinger) brigam entre si e jogam a culpa uns aos outros em um espetáculo grotesco e difamatório.
Quiseram utilizar o Papa emérito ou este deixou-se utilizar (algo que somente ele sabe), porém fracassou tão clamorosamente que deixaram o campo aberto para que a primavera de Francisco siga florescendo, em Roma e no mundo. E desativaram, para sempre, o estandarte do cisma que até agora levantavam os rigoristas solitários não redimidos e, agora, queriam colocá-lo nas mãos de ninguém menos que o Papa emérito. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Ratzinger compartilhava o livro do cardeal Sarah. E em menos de 48 horas a tese do mal-entendido foi desmontada
- Detalhes
"O cardeal Sarah continua coerentemente sua batalha de oposição à linha reformista do Papa Francisco, ontem sobre a questão da comunhão aos divorciados e novamente casados, hoje sobre o tema do celibato", escreve Marco Politi, jornalista, em artigo publicado por il Fatto Quotidiano, 16-01-20202. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Foram necessárias menos de 48 horas para desmontar a tese de um mal-entendido ou de uma armadilha na qual teria caído o ex-papa Ratzinger sobre o “pare” ao celibato lançado ao papa Francisco em um livro assinado em conjunto com o cardeal Robert Sarah. Em pouco tempo virou água a versão posta em circulação anonimamente, em primeiro lugar pelo entourage ratzingeriano: seriam simples "notas" enviadas pelo ex-papa ao cardeal guineense. Versão acompanhada pela alegação de não ter nada a ver com o projeto do livro. O cardeal mostrou que esteve em contato com Ratzinger por três meses seguidos: setembro, outubro e novembro (meses do Sínodo para a Amazônia, marcado precisamente pelo debate sobre a eventualidade de ordenar padres homens casados); trouxe as provas de uma troca de e-mails, explicou que os rascunhos do livro e da capa haviam sido enviados a Ratzinger em 19 de novembro e que recebeu o placet em 25 de novembro. Mais ainda: em 3 de dezembro, Sarah foi se encontrar pessoalmente com o papa emérito.
Sarah é um cardeal tradicionalista muito próximo de Bento XVI, sincero, conhecido no Vaticano por sua rigorosa espiritualidade. Prospectar a ideia de que ele tenha manipulado as notas recebidas de Ratzinger e tenha agido pelas costas do ex-pontífice é "abjeto" e difamatório, como ele mesmo disse. Não basta que Gänswein, no comunicado em que solicita a retirada da assinatura dupla da capa do livro e da introdução e das conclusões, afirme que apenas o capítulo escrito por Ratzinger seja dele.
Tanto o texto de introdução como o texto de conclusão são escritos usando o "nós". Falta nas declarações de Gänswein um elemento importante: a declaração de que o texto da introdução e das conclusões teria sido falseado, inserindo o pronome plural sem o conhecimento de Ratzinger. Essa declaração não veio. E o silêncio pesa sobre isso.
O livro já foi lançado na França com uma assinatura dupla vistosamente rasurada. O fato de a capa da segunda edição indicar o cardeal Sarah como autor "com a contribuição de Bento XVI" é apenas uma emenda pior que o soneto. Todos os textos permanecerão inalterados. É significativo que a editora católica estadunidense Ignatius Press (de orientação conservadora) tenha decidido publicar o livro com os dois nomes na capa de qualquer maneira.
Resumindo. O cardeal Sarah continua coerentemente sua batalha de oposição à linha reformista do Papa Francisco, ontem sobre a questão da comunhão aos divorciados e novamente casados, hoje sobre o tema do celibato. No livro, pede a Francisco que "vete" inovações e define como uma "catástrofe" a hipótese de um clero casado, mesmo que como exceção. Bento XVI, sob o mesmo teto do livro, se alinha pela primeira vez oficialmente com um dos partidos protagonistas da guerra civil em curso na Igreja.
Ratzinger, fraco no físico, mas absolutamente lúcido intelectualmente, estava ciente de intervir sobre o tema do celibato em coincidência com o debate sinodal - isto é, de uma instância oficial da Igreja Católica - e em uma fase em que Francisco devia tomar uma decisão na plenitude de seus poderes. Sua contribuição para o livro representa uma interferência grave. E a sucessiva marcha à ré com a retirada da assinatura na introdução e nas conclusões do livro acaba por evidenciar a irresponsabilidade inicial de sua intervenção, mas também a insustentabilidade de uma posição que despertou desorientação e irritação em uma grande massa de católicos.
Gänswein é o fiel apoio e o único elo entre o ex-pontífice e o resto do mundo. Ele poderia aconselhar Ratzinger a não se expor dessa maneira. Não é certo que o ex-papa o ouviria, mas não resulta que Gänswein tenha feito isso mesmo no ano passado, quando Ratzinger escreveu um ensaio sobre as raízes dos abusos na Igreja, contrapondo-se frontalmente à análise feita pelo papa Francisco. Na realidade, Gänswein está totalmente sintonizado no comprimento de onda de Ratzinger e há muito se sente desconfortável com muitas coisas que ocorrem durante o pontificado de Bergoglio.
Para a frente conservadora, a história toda não representa um sucesso. Aliás, relançou a discussão sobre a necessidade de definir rigorosamente o status dos papas demissionários, eliminando o título de "papa emérito" e a veste branca: um contrassenso, fonte de confusão.
Enquanto isso, o papa Bergoglio fala por sinais. O Vatican News, órgão oficial do dicastério pontifício da comunicação, acaba de publicar trechos do decreto conciliar sobre o sacerdócio Presbyterorum Ordinis, no qual é destacado oficialmente - e é a lei da Igreja – que a "perpétua continência (celibato) ... certamente não é exigida pela natureza própria do sacerdócio, como resulta evidente quando se pensa na praxe da Igreja primitiva e à tradição das Igrejas orientais".
Palavra do Concílio. Um tapa na tese de Ratzinger sobre o vínculo "ontológico" entre sacerdócio e impossibilidade do casamento. Francisco, qualquer que seja a decisão que tomar sobre a ordenação sacerdotal de diáconos casados, não pretende se deixar chantagear. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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