*CARMELITAS: Vida Litúrgica e Oração Individual
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Frei Egídio Palumbo O.Carm
A Regra Carmelitana favorece um equilíbrio entre a vida litúrgica e a oração individual (com este termo indica-se a oração feita na solidão, já que, seja isoladamente, seja comunitariamente, a oração é e deve ser sempre um ato pessoal). Com o decorrer do tempo, sobretudo do século XIV em diante, acentua-se o predomínio da oração individual, sem perder os elementos litúrgicos e a rica tradição eliano-mariana que alimentava a dimensão contemplativa.
A tendência de acentuar o carácter subjetivo da oração individual foi acentuada em algumas reformas do século XV e mais ainda com S. Teresa de Jesus e a sua obra reformadora, com desafios em relação à oração individual meditativo-contemplativa. Para o “primado da comunhão com Deus” privilegia Teresa o “só a sós” da meditação. Coloca assim o acento na oração individual ou meditativa; porém, em Teresa, tal primado abraça também todas as formas possíveis da oração.
Sob a influência desta tendência formaram-se e desenvolveram-se no interior da Ordem três formas privilegiadas e características de oração individual:
- a meditação ou oração mental
- o exercício da presença de Deus
- a oração aspirativa
A meditação
- Relativamente à meditação como forma específica de oração, os primeiros testemunhos do seu uso como prática individual são do século XIV. Tal uso torna-se geral a partir da metade do século seguinte. O Beato Soreth, nos comentários da Regra Carmelitana escritos em 1459, recorda que a obrigação deste exercício nasce do capítulo VII (= n. 10) da Regra e, tomando um certo método de Ugo de S. Vittore, sublinha também que a meditação não deve ser um fim em si mesma, mas meio e preparação para a oração que se faz seguir da contemplação.
- Durante quase todo o século XVI a meditação permaneceu entre os carmelitas como um exercício obrigatório de caráter privado. O caso dos religiosos de Portugal, que tomaram desde 1424 o uso da meditação em comum, é isolado. Outras tentativas para introduzir a meditação como ato comum fracassaram na Ordem. Ao mesmo tempo, porém, há autores, entre os quais (Cristovão Silvestrani Brenzone e João Sanz), que desenvolveram mais largamente a reflexão sobre a natureza deste exercício e sugeriram vários métodos para fazê-lo, com referência constante aos aspectos afetivos.
- É na segunda metade do século XVI que, especialmente na Espanha, inicia-se a difusão da prática da meditação em comum, sob a influência também da corrente espiritual do tempo. Face a isto o prior geral João Batista Rossi sente-se perplexo. Assim, ainda que concedesse licença às comunidades que o solicitavam para o exercício em comum, ele sempre sublinhava que tal prática deve ser assumida como reparação para as transgressões do cap. VII (= n. 10) da Regra, e não pode, ao contrário, ser porta para uma mitigação muito perigosa da mesma Regra.
- Finalmente, com a aceitação e colocação em prática dos decretos de Clemente VIII, o Capítulo Geral de 1593 promulgou o primeiro decreto para toda a Ordem sobre a meditação em comum: deveria ser feita duas vezes ao dia, pelo tempo de meia hora, depois de Prima e de Vésperas. O Capítulo Geral sucessivo (1598) relatou, ao pé da letra, em suas atas, os decretos clementinos sobre a leitura espiritual e sobre o sermão semanal, enquanto que neste sentido resumiu a parte referente à meditação em comum. Deste modo, cada frei deve fazer quotidianamente um “exercício espiritual com uma escolha própria e seguindo o Espírito”. Nas Constituições promulgadas por Canali em 1626 e nas sucessivas até 1902, este Decreto Clementino sobre a meditação em comum, não foi inserido, sendo o mesmo somente relatado em apêndice, junto a outros decretos pontifícios.
- Na Congregação de Mântua, a imposição da obrigação da meditação em comum teve início em 1582 com a visita do prior geral Caffardi, mas permaneceu letra morta. Foi aceita somente por insistência de outro prior geral, Enrico Silvio, pela aplicação dos decretos pontifícios de 1596. A norma foi então inserida nas Constituições Mantovanas de 1602.
- Para os Mosteiros femininos, ao contrário, a legislação em matéria de meditação em comum é fixada desde o final do século XV. O mais antigo documento sobre o assunto são os estatutos de 1481 para as monjas da Congregação Mantovana. Também as constituições observadas desde o final do século XV no mosteiro da Encarnação de Ávila, onde entrou S. Teresa, falam da obrigação da meditação e ainda da meditação feita em comum. No ambiente das monjas essa vem proposta em várias formas:
- Meditação praticada em conexão com o ofício divino no coro, duas vezes ao dia por um período igual de tempo: reflete-se, compulsoriamente, sobre os textos litúrgicos do ofício ou da missa do dia. A meditação em comum dos frades, ao contrário, não parece apresentar frequentemente esta conexão.
- a meditação conectada com a sala de trabalho: o trabalho deveria ser acompanhado da “devoção”, sustentada pela leitura e uma reflexão comum sobre coisas espirituais. Este é outro aspecto que não acontece na vida dos frades, que porém tinham a “leitura espiritual” como exercício independente de outros.
- a meditação, como exercício em si mesmo, interpretada como forma de realização do cap. VII (= n. 10) da Regra. Esta não aparece logo no início, porém, aumenta sucessivamente sua prática (nisto se nota uma influência da “Devotio moderna”), até assumir o caráter comunitário e a fixar para tal exercício um largo espaço de tempo (duas horas para as monjas, uma hora para os padres).
- Na prática da meditação, sobretudo entre as monjas do século XV até a época recente, particularmente nas Reformas Teresiana e de Touraine, sublinham-se os aspectos psicológico-afetivos (cf. S. Teresa de Jesus, S. João da Cruz, S. Maria Madalena de’ Pazzi, fr. João di São Sansão, Pe. Domingos de S. Alberto, etc., até Pe. Tito Brandsma). Floresce neste contexto uma espiritualidade da Paixão (o sofrer por amor ao Esposo Crucificado) característica de muitas Santas e Santos do Carmelo.
- Paralelamente à introdução da oração mental floresce uma literatura de formação espiritual e de métodos de oração. Para os tratados sobre a meditação, com exposição também de métodos de oração, devem ser recordados aqueles de João Sanz e Cristovão Silvestrani Brenzone, podendo-se tainda acrescentar os de: Matias Fabri, João Bek, João van Paeschen (nos quais a meditação é vista como peregrinação à Terra Santa, numa forma de primeira “Via Sacra”) , Paulo Ezquerra, Pedro Tomás Saraceni, Paulo Antônio Foscarini, Jerônimo Gracián, etc. Finalmente pode-se lembrar de Domingos di S. Alberto e dos Diretórios dos Noviços da Reforma de Touraine, com a elaboração teórico-prática mais completa dos métodos sistemáticos da oração mental.
- Entre os Descalços, os autores julgam que a oração sistemática torna-se a forma mais adaptada para realizar a oração contemplativa que conduz à comunhão com Deus.
O exercício da presença de Deus e a oração aspirativa
- A partir do século XVII esta forma de oração se desenvolve como a mais usual e adaptada para conduzir à união com Deus: ou seja a presença do Senhor na própria vida. É indicada para conservar o próprio espírito contemplativo, em todo o tempo e lugar, também fora do convento. Os autores espirituais descrevem a modalidade e as técnicas concretas, como também oferecem exercícios metódicos diversificados.
Em particular
1) O exercício da presença de Deus significa reportar-se a Ele por meio de atos da memória e de vigilante atenção, com consequente estímulo no afeto, evitando tudo quanto possa desagradar ao Senhor, e melhor ainda praticando tudo o que lhe é agradável.
2) A aspiração é substancialmente uma oração constituída de alguma jaculatória, na qual se exprime ao Senhor os bons afetos e os santos desejos do coração.
3) A oração aspirativa pressupõe o exercício da presença de Deus, como também este encontra seu aperfeiçoamento na mesma oração aspirativa. Deste modo as duas coisas são coincidentes e não se pode, na prática, separar uma da outra.
- O mais destacado autor sobre o exercício da presença de Deus é o descalço Frei Lourenço da Ressurreição (†1691). Ele ensina a contínua presença amorosa de Deus vivida pela alma com fé pura, abandono total, caridade e fidelidade. Os meios fundamentais para este exercício são indicados pelo mesmo frei Lourenço como “uma grande pureza de vida” (que comporta renúncia de si e primazia do amor), e “fidelidade ao exercício da presença de Deus no próprio ser”. O recolhimento é visto não como uma realidade negativa, mas como abertura ao encontro com Deus, no qual se realizam as virtudes teologais. Frei Lourenço descreve também um exercício ou melhor um “caminho de amor” que conduz à interioridade e à adoração. Coloca-se portanto, na linha da afetividade, tomando uma clara posição contra o intelectualismo. Algumas expressões do autor parecem não valorizar plenamente os exercícios ascéticos e as boas obras, que porém nunca foram negadas por ele.
- Na Reforma de Touraine, já na primeira metade do século XVII, (e portanto antes de Frei Lourenço), existem exposições sobre este exercício da presença de Deus. Entre os vários autores pode-se lembrar Domingos de S. Alberto.
- Também, João Sanz (†1606) fala da oração aspirativa como se a mesma fosse uma “teologia mística” com a qual se obtém os raios da luz divina. Para ele esta mística não se realiza através do estudo e das disputas teológicas, mas somente, abrindo-se o coração e alimentando-o com o fogo do amor.
- Alberto Leoni, da Congregação de Mântua, fala das formas desta oração aspirativa como se fossem flechas de fogo lançadas ao céu.
- A aspiração, na reflexão dos autores da Reforma de Tourain, é apresentada como meio excelente de viver a união com Deus. É nesta forma que a consideram Felipe Thibault, Domingos de S. Alberto e João de São Sansão. Este último autor oferece uma viva descrição da oração aspirativa, mostrando como ela é apta a conduzir à união mística mais elevada. Para este mesmo autor a aspiração mais que “um diálogo de amor” é “um lançar-se amoroso e inflamado de todo o coração e da mente, pelo qual a pessoa supera prontamente a si mesma e cada coisa criada, unindo-se estreitamente a Deus na vivacidade de sua expressão amorosa”.
- O método para exercitar-se na presença de Deus e na aspiração é exposto inteiramente nos já citados diretórios dos noviços da Reforma de Touraine. Na perspectiva destes livros, estas duas formas de oração favorecem muito a união harmônica entre o apostolado e a contemplação.
*0 CARMELO A SERVIÇO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO: Carisma, Espiritualidade, Missão – apontamentos.
Tradução por Frei Pedro Caxito, O. Carm. In Memoriam.
O CARISMA DO CARMELO: A Diaconia da Oração.
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Frei Egídio Palumbo O.Carm
Uma das imagens simbólicas fortemente evocativas do Carmelo das origens é a "centralidade" da igrejinha dedicada a Santa Maria: ela demonstra a centralidade da Eucaristia como força plasmadora da "koinonia" fraterna na linha existencial da condivisão, da caridade, do serviço. Não por acaso, de fato, a Regra coloca esta "centralidade" num contexto mais amplo - bem no meio dos capítulos VII-XIII - onde emerge com evidência a ligação por "entrelaçamento" entre oração e vida: a escuta pessoal da Palavra (VII), que se faz louvor comunitário (VIII), exige dos irmãos a vivência da comunhão de bens (IX), que na Eucaristia encontra a sua profecia e o seu fundamento (é o Capítulo X), enquanto a Eucaristia assume forma existencial no diálogo e na reconciliação mediante a caridade (XI) e num estilo de vida simples e sóbrio, atento às verdadeiras necessidades do outro e capaz de adaptar-se às situações (XII e XIII).
Outra imagem, complementar da primeira, vem expressa por uma indicação "ritual" da Institutio Primorum Monachorum (Livro II, cap. 3º), onde se afirma que os carmelitas eram chamados profetas, porque salmodiavam ou então porque entoavam em louvor de Deus salmos, hinos e cânticos, acompanhados por instrumentos musicais, "na casa de oração", que Elias havia edificado para eles sobre o Monte Carmelo, e ali se reuniam três vezes ao dia para orarem. Com a vinda de Jesus Cristo - contam-nos ainda naquela mesma obra (Livro IV, cap.5º) - este rito de louvor a Deus ao som de instrumentos musicais foi interiorizado conforme as palavras do Apóstolo: "Sede cheios do Espírito, entretendo-vos mutuamente por meio de salmos e cânticos espirituais, entoando hinos ao Senhor com todo o vosso coração, por todas as coisas dando graças a Deus Pai continuamente, no nome do Senhor Nosso, Jesus Cristo" (Ef 5,18-20). Aqui também, segundo penso, revela-se o peso da intenção do autor de, numa linguagem e figuras diversas, reafirmar aquele "entrelaçamento": oração/vida já observado na Regra, e que significa fazer da nossa vida uma doxologia perene, um autêntico "Louvor de Glória" - para usar o modo de falar de Isabel da Trindade - onde esteja espelhada a presença do Deus Vivo.
Enfim não se deve esquecer que o tema "oração e vida" é um dos mais fecundos na tradição espiritual do Carmelo, a tal ponto que tem uma ressonância eclesial a nível universal, educando e inspirando gerações inteiras.
Cabe a nós hoje revitalizar a herança desta "indiscutível" Diaconia e antes de tudo dar à nossa oração pessoal e comunitária e à nossa Liturgia não somente dignidade e beleza, mas também uma "respiração" contemplativa que possa nutri-la com a Palavra de Deus e encarná-la na vida. Só daqui surgirá depois o empenho pastoral de criar Escolas de iniciação à oração, de promover momentos de formação litúrgica, de cuidar de um culto mariano autêntico em memória da "centralidade" da primeira igrejinha dedicada a Santa Maria.
O CARISMA DO CARMELO: CAMINHO E MISTAGOGIA
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Frei Egídio Palumbo O. Carm
A maior parte dos escritos carmelitanos têm uma dimensão mistagógica, quer dizer, pretendem introduzir o fiel numa experiência de Deus mais autêntica e amadurecida. Basta pensar na Institutio (Itinerário com Elias); no Livro da Vida, no Caminho da Perfeição(caminho da oração), no Castelo Interior (Itinerário progressivo para a comunhão com Deus) de Teresa de Ávila; na Subida, na Noite Escura, no Cântico Espiritual de João da Cruz; em João de São Sansão; na "pequenina via" de Teresa de Lisieux; em Como encontrar o Céu na Terra escrito para uma mãe de família por Isabel da Trindade.
Podemos dizer que a espiritualidade carmelita se apresenta como espiritualidade do caminho. Neste caminho o Deus-Trindade age como Pedagogo (2Subida 17,2-4): é Ele o Princípio donde parte o Itinerário; é Ele quem toma a iniciativa, se põe à procura do fiel, suscita, conduz e sustenta a caminhada, respeitando ritmos e tempos.
A experiência do Deus-Trindade como Pedagogo é ação transformante da existência do fiel em existência "trinitária", capaz de criar relações de autêntica comunhão fraterna, capaz de amar o outro assim como Deus o ama. No íntimo esta é a meta do itinerário mistagógico: formar para uma autêntica antropologia de comunhão, fundada na Trindade.
A dinâmica do caminho mistagógico age por etapas:
- da passagem/saída do velho homem (egocêntrico) para o novo homem (alocêntrico em Deus e nos irmãos);
- do contínuo confrontar-se e conformar-se em vista do projeto de Deus;
- da procura constante do Rosto de Deus nas mediações eclesiais e humanas;
- da experiência da dialética da presença/ausência de Deus, de um Deus que não podemos possuir totalmente e pelo qual devemos ser possuídos.
Neste caminho a atitude do fiel é marcada pela docilidade à ação pedagógica de Deus e pelo esforço e compromisso de vida.
O CARISMA DO CARMELO: NAS ORIGENS, UMA COMUNIDADE
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Frei Egídio Palumbo O.Carm
Nas origens do Carmelo não encontramos uma pessoa isolada como Fundador, mas sim uma comunidade. Ela está provavelmente vivendo uma certa evolução interna: de pessoas mais ou menos isoladas rumo a um grupo; pede ajuda e discernimento ao Patriarca de Jerusalém, Alberto, a fim de que (a nível não apenas jurídico, mas também teológico-espiritual) consolide e codifique o projeto de vida deles, o seu "propositum", numa "vitæ formula", que a seguir, com o discernimento do Papa, adquirirá o status de Regra.
Confirmação do que dizemos nos vem antes de tudo do próprio texto da Regra - ou melhor do dinamismo e dos valores do projeto de vida que ela propõe - enquanto mediação para transmitir a "experiência do Espírito" do Fundador ou do carisma de fundação.
Além disso, aquela expressão, que aparece mais vezes nas Primeiras Constituições e em outros escritos medievais - "(...) Albertus Ierosolymitanæ ecclesiæ Patriarcha in unum collegium congregavit, scribendo eis Regulam(...)" - sintetiza tanto o discernimento feito pelo Patriarca Alberto como a fisionomia dos primeiros irmãos do Carmelo.
Podemos, então, dizer que Fundadores do Carmelo foi aquela primeira comunidade de fratres do Monte Carmelo, não outros. Eles devem permanecer o ponto de referência constante, original e originante do carisma e da missão do Carmelo. A questão, pois, de Elias e de Maria como "fundadores" do Carmelo, no meu parecer, precisa de uma releitura na ótica do "modelo de vida" fortemente personalizado, em sintonia com toda a tradição monástica e, além disso, com a carmelitana.
A NOSSA RESPONSABILIDADE DE DISCÍPULOS
Como "discípulos" daquela primeira comunidade de fratres do Monte Carmelo, hoje sintamos juntos uma responsabilidade eclesial: sintamo-nos chamados não somente para guardar a experiência carismática de oito séculos atrás, mas também para aprofundá-la e desenvolvê-la, relendo a memória do nosso passado debaixo da luz do presente ou, então, da sensibilidade eclesial e cultural de hoje.
É este para nós o caminho da fidelidade dinâmica ao carisma dos fundadores. Somente assim, a oito séculos de distância, o carisma do Carmelo pode continuar a ser "um encargo de genuína novidade na vida espiritual da Igreja e de uma particular, operosa e corajosa realização" (Mutuæ Relationes 20). Unicamente desta maneira o carisma do Carmelo pode ter continuidade no tempo como uma herança viva e preciosa e fazer nascer afinidade entre as pessoas que o vivem (cf. o documento Christifideles Laici,24).
Assembleia Eletiva da Comissão Provincial para a Ordem Terceira do Carmo.
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PROVÍNCIA CARMELITANA DE SANTO ELIAS
COMISSÃO PROVINCIAL PARA ORDEM TERCEIRA
Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 2016.
Prezado(a) Irmão(ã) Prior(a)
Salve Maria!!
Acontecerá nos dias 10, 11 e12 de março de 2017, sexta a domingo, a Assembleia Eletiva da Comissão Provincial para a Ordem Terceira do Carmo, para eleger a Coordenação e o Conselho para o próximo triênio. Será realizada no CONVENTO DO CARMO, RUA MARTINIANO DE CARVALHO, 114 - BELA VISTA, SÃO PAULO - SP.
O valor da diária é de R$ 132,00, portanto como são duas diárias, o valor total da hospedagem é de R$ 264,00, por pessoa. A entrada dos participantes é a partir das 14 h de sexta-feira, dia 10 de março.
Conforme o Capítulo Terceiro, Artigos 4º, do Estatuto da Comissão Provincial, estão convocados o (a) Prior(a) e mais dois Delegados com Profissão Perpétua, não necessariamente Conselheiros do Sodalício, para estarem presentes à Assembleia Eletiva.
PEDIMOS QUE CONFIRMEM A PRESEÇA DOS DELEGADOS ATÉ O DIA 03 DE MARÇO DE 2017, IMPRETERIVELMENTE, para podermos viabilizar a acomodação e informar ao Convento o número de participantes. PEDIMOS QUE NÃO DEIXEM DE CONFIRMAR A PRESENÇA ATÉ A DATA PREVISTA. Na confirmação deverá constar os seguintes dados: Nome, telefone, e-mail, O COMPARECIMENTO DEVERÁ OCORRER A PARTIR DE SEXTA-FEIRA OU NO MÁXIMO ATÉ SÁBADO PELA MANHÃ, OS QUE NÃO PUDEREM ESTAR PRESENTES NESSAS CONDIÇÕES, NÃO PODERÃO COMPARECER SOMENTE NO DOMINGO PARA O VOTAR.
Caso o(a) Prior(a) tenha algum motivo relevante que o(a) impeça de comparecer, poderá indicar outro(a) irmão(ã) que o(a) substitua, desde que tenha Profissão Perpétua. Mas conforme o Estatuto da Comissão, sua presença é imprescindível.
Contaremos com a presença de ..........que fará conferência sobre Igreja.
As presenças deverão ser confirmados através dos telefones : 24-33650045 ou 988284743 ou e-mail – Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. .
Frei Petrônio Miranda O.Carm Paulo Daher
Delegado Provincial Coordenador
Rezar os Salmos hoje-08: Um olhar sobre a Bíblia.
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*Frei Carlos Mesters, Carmelita.
A poesia dos salmos uma outra entrada para dentro da vida.
A oração dos salmos se situa mais do lado da poesia e da arte do que do lado da lógica e da razão. Ainda que seja um assunto meio difícil e complicado, convém ver de perto este aspecto poético dos salmos, pois ele ajuda muito a perceber o rumo e o objetivo dos salmos. A poesia dos salmos é a linguagem humana colocada a serviço da descoberta de Deus.
Poesia: o lado de dentro das coisas.
Poesia não é só uma questão de rima e de ritmo. É muito mais do que isto. A poesia tem outra porta de entrada, outro caminho de acesso aos segredos da vida. Consegue ver e experimentar o outro lado dos fatos e da natureza, o lado de dentro, onde a razão não penetra, a eficiência nada alcança, o planejamento se frustra. Onde a vida encontra razões para viver que a razão desconhece. É o lado onde, no segredo, a fonte gera a sua água, a flor solta o seu perfume, o passarinho recomeça o seu canto. Onde o dia nasce, o mar se esconde, o sol descansa. Onde a criança é adulto, e o adulto continua criança. Onde a dor é acolhida como irmã, e a alegria se desprende da alma em pranto. Onde existe a escuridão luminosa, o silêncio sonoro, a solidão partilhada. Onde se encontra a fonte sem fundo que reflete o rosto de quem nela olha e lhe faz descobrir o seu eu escondido.
A poesia é uma faísca da plenitude de Deus, uma amostra da sua presença no meio de nós. Ela é uma interpretação da fala de Deus. Nada melhor do que a poesia para ser a expressão do nosso diálogo com Deus.
Alma e corpo da poesia
Na hora em que a prece sobe no coração e a inspiração nasce na cabeça, o salmista vai à procura de uma forma para expressar o que está sentindo. O casamento perfeito entre a inspiração e a forma literária é a expressão mais alta da arte. É onde alma e corpo da poesia se unem e geram vida nova. Nem todos os salmos alcançam a perfeição poética. Mas todos eles, perfeitos ou não, expressam um sentir, um sentido, um sentimento, uma experiência de Deus na vida.
O sentido que o poeta quer expressar e transmitir através da sua poesia ou salmo não está só nas palavras e frases que ele escolhe e arruma com tanto cuidado, mas também e sobretudo no espaço invisível que ele cria entre as palavras e entre as frases, nas entrelinhas. Arrumando as palavras e as frases dentro de uma determinada ordem, o poeta cria entre elas uma relação, uma tensão, um espaço, uma zona de silêncio, que provoca o leitor. As palavras assim arrumadas tornam-se como que grávidas de um novo sentido (que não está no dicionário).
Entre as frases e as palavras da poesia, do salmo, corre o fio invisível do sentido a ser captado pelo leitor. O resultado da poesia não depende só do poeta. O poeta inicia a obra, o leitor deve completá-la. As palavras e as frases do salmo são como um binóculo que o poeta entrega ao leitor dizendo: “Aqui! Olhe você também para a vida, para Deus! Você vai gostar!” E pode até acontecer que o leitor, olhando pelo salmo, consiga enxergar mais que o próprio poeta.
O jeito como a poesia dos salmos arruma as palavras e as frases
Cada povo arruma as palavras da sua poesia de acordo com as possibilidades e as exigências da sua cultura e da sua língua. A característica básica da poesia do povo hebreu é esta: aproximar, uma da outra, duas ou mais frases, dois ou mais pensamentos, completos em si, cada um carregado de um sentido. São como dois polos, entre os quais se estabelece uma tensão, uma relação; como dois fios, entre os quais salta a faísca invisível do sentido. O critério usado pelos poetas hebreus para aproximar entre si a palavra e as frases não é tanto (como na nossa poesia) a associação sonora, o ritmo ou a rima, mas, sim, o conteúdo, o significado da frase; e isto de duas maneiras: em forma de comparação e em forma de paralelismo.
A comparação: iluminar um pelo outro
A comparação é uma maneira elementar e popular para expressar e transmitir um sentido. Até hoje, o povo recorre à comparação quando quer explicar alguma coisa. A comparação pertence mais à linguagem falada; ela é menos frequente na linguagem escrita dos salmos. Há duas maneiras de se fazer a comparação:
- Comparar para igualar ou equiparar: “Como..., assim...”. A frase menos conhecida se esclarece a partir da mais conhecida.
Alguns exemplos:
“Como vinagre nos dentes e fumaça nos olhos, assim é o preguiçoso para quem o envia”. (Pr 10,26)
“Como o animal sedento à procura dos córregos, assim eu estou à tua procura, Senhor!” (SI 42,2)
“Abriram sua boca contra mim, como o leão que dilacera e ruge”. (SI 22,14)
“Mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que já passou”. (SI 90,4)
- Comparar para diferenciar e avaliar. “Melhor é..., do que...”. O poeta estabelece uma escala de valores entre as duas frases, o que permite julgar e apreciar as coisas. Alguns exemplos:
“Mais vale o pouco do justo, do que as grandes riquezas do ímpio”. (SI 37,16)
“Melhor um dia na tua casa, do que mil passados em minha casa”. (SI 84,11)
“Puseste mais alegria no meu coração, do que a alegria deles em época de colheita abundante de trigo e vinho”. (SI 4,8)
O paralelismo: iluminar-se mutuamente
O paralelismo aproxima ou justapõe duas frases em pé de igualdade e faz com que uma interfira na descoberta do sentido da outra. O paralelismo é a forma poética mais frequente nos salmos. Ele se faz de três maneiras:
- Uma frase completa o sentido da outra: paralelismo sintético:
“O Senhor reconstrói Jerusalém, reúne os exilados de Israel”(SI 147,2)
“Levanta-te, ó Juiz da terra, devolve o merecido aos soberbos”. (SI 94,2)
“Habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para gozar a doçura do Senhor e meditar no seu templo”. (SI 27,4)
- Uma frase diz o mesmo que a outra: paralelismo sinônimo:
“Povo meu, escuta minha lei, dá ouvido às palavras da minha boca”. (SI 7811)
“Eles tramam um plano contra o teu povo, conspiram contra os teus protegidos”. (SI 83,4) “O Senhor não rejeita seu povo, jamais abandona sua herança”. (SI 94,14)
- Uma frase diz o contrário da outra: paralelismo antitético:
“O ingênuo acredita em tudo que se diz, o esperto discerne as coisas”. (Pr 14,15)
“O Senhor conhece o caminho do justo, o caminho dos ímpios se perde”. (SI 1,6)
“Os ricos passam necessidade e fome, nenhum bem falta aos que procuram o Senhor”. (SI 34,11)
Às vezes, o salmista combina comparação com paralelismo (SI 92, 13), outras vezes, combina entre si as várias formas do paralelismo:
“O Senhor tem os olhos sobre os justos e os ouvidos atentos ao seu clamor. A face do Senhor está contra os malfeitores, para da terra apagar a sua memória”. (SI 34,16-17)
O versículo 16 é paralelismo sintético. O mesmo vale para o versículo 17. Mas os dois versículos comparados entre si formam um paralelismo antitético.
Dois complementos sobre a poesia dos salmos
- Paralelismo: estrutura do Livro dos Salmos
A Bíblia usa o paralelismo não só para organizar as palavras e as frases dentro de cada salmo, mas também para organizar os salmos dentro do conjunto do Livro dos Salmos. Assim, vários salmos formam duplas. Parecem gêmeos. Alguns exemplos:
1) Paralelismo sintético entre os Salmos 50 e 51: Salmo 50 é uma acusação contra o povo, uma denúncia da sua culpa; Salmo 51 é uma confissão do pecado, um reconhecimento da culpa. Um completa o outro.
2) Paralelismo antitético entre os Salmos 22 e 23: Salmo 22 diz: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (SI 22,2); Salmo 23 diz: “O Senhor é meu Pastor, nada me faltará. Tu estás junto de mim” (SI 23,1.4). Um diz o contrário do outro.
3) Paralelismo sinônimo entre os Salmos 3 e 4: Salmo 3 diz: “Eu me deito e logo adormeço” (SI 3,6); Salmo 4 diz: “Em paz me deito e logo adormeço” (SI 4,9). Um diz o mesmo que o outro. Os dois são orações da noite.
Aqui se abre todo um campo de pesquisa: investigar e descobrir o fio invisível do sentido que corre não só entre as palavras e as frases de cada salmo, mas também entre os próprios salmos, desde o Salmo 1 até o Salmo 150; descobrir as duplas de salmos e as várias formas de paralelismo que existem entre eles, e investigar como o sentido de um salmo ajuda a descobrir e a completar o sentido do outro.
2-Paralelismo: como estrutura da própria Bíblia
O paralelismo existe não só dentro de cada salmo, nem só dentro do conjunto do Livro dos Salmos, mas também dentro do conjunto da Bíblia. A própria estrutura da Bíblia está baseada na lei do paralelismo. Ou seja, a Bíblia justapõe e aproxima entre si doutrinas, fatos, interpretações da vida e da história, sem preocupação em harmonizá-las entre si. Num lugar, ela diz uma coisa; em outro, diz o contrário.
Por exemplo, a descrição da criação em Gênesis 1 é uma, a de Gênesis 2 é outra; e a interpretação da história dada pelos Livros de Samuel e dos Reis é diferente da interpretação dada pelos Livros das Crônicas; o Davi dos Livros de Samuel é um, o Davi dos Livros das Crônicas é outro; o Livro do Eclesiastes tem uma visão das coisas, o Livro do Eclesiástico tem outra; a solução proposta pelo Livro de Rute é bem diferente da solução dos Livros de Esdras e Neemias; as Cartas de Paulo e a de Tiago oferecem duas maneiras diferentes de encarar o problema da lei e das obras; a maneira de apresentar a pessoa de Jesus é diferente em Mateus, em Lucas, em Marcos, em João, nas Cartas de Paulo e no Apocalipse; e assim por diante.
Às vezes, as várias afirmações se completam (sintético); às vezes, dizem a mesma coisa (sinônimo); outras vezes, dizem o contrário (antitético). Deste modo, colocando os contrários, um ao lado do outro, a Bíblia cria uma tensão, um campo de força, entre as várias partes ou livros que a compõem.
A tentação do intérprete é querer resolver o problema escolhendo uma afirmação e negando a outra; ou reduzindo o sentido de uma frase ao tamanho do sentido da outra. A Bíblia, porém, não racionaliza. Através da lei do paralelismo, ela simplesmente explicita as contradições existentes na vida, nos fatos, na história. Ela é a imagem do que acontece e existe na história humana. Ela provoca e convida o leitor a assumir a contradição e o conflito como parte integrante da caminhada, e a permanecer na busca, sem esmorecer, até chegar no ponto onde as duas afirmações contrárias se encontram como dois galhos nascendo da mesma raiz, ou onde uma, apoiada pelo Evangelho, exclui a outra como contrária a Deus, ao Evangelho e à vida humana.
O desafio da poesia
Esta reflexão sobre o paralelismo encerra uma lição. De um lado, faz a gente ficar mais humilde; ajuda a relativizar os nossos conflitos internos, as nossas brigas e contradições. Faz perceber que “na casa do Pai há muitas moradas” (João 14,2). Por outro lado, ajuda a perceber e a assumir com mais garra a grande luta que atravessa a história. Ajuda, como diz o povo, a “dar um boi para não entrar na briga, e uma boiada para não sair dela”. O mais importante na poesia dos salmos não são as normas literárias. O mais importante da janela não é a sua forma, mas, sim, o panorama que pode ser visto através dela.
A poesia é como uma seta na estrada, um estímulo. Ela coloca o leitor num caminho de descoberta. Quer provocar nele a mesma experiência que o poeta ou o salmista teve. No momento em que conseguirmos reencontrar dentro de nós um reflexo desta experiência, teremos atingido a fonte de onde o poeta bebeu, teremos agarrado a matriz que gera o sentido, e encontrado a luz que ilumina os salmos pelo lado de dentro. Nesse momento, começamos a “rezar como Davi rezou”.
* Conhecido por seus estudos sobre a Bíblia - estudou em Roma e em Jerusalém - Frei Carlos Mesters, Carmelita da Ordem do Carmo, nasceu na Holanda em 1931. Missionário no Brasil desde 1949. Sacerdote desde 1957, doutor em Teologia Bíblica. É um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil e foi fundador CEBI - Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (1978). Atualmente reside no Convento do Carmo de Unaí-MG.
Rezar os Salmos hoje-07
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*Frei Carlos Mesters, Carmelita.
Salmo 1 e Salmo 150: luta e festa
O Livro dos Salmos é como uma grande rede, onde o povo deita e descansa da caminhada, se refaz dos estragos e da dor, e acumula novas forças para retomar a luta. Esta rede está pendurada em dois ganchos bem fortes, o Salmo 1 e o Salmo 150, que ficam nas duas pontas, o primeiro e o último. Estes dois salmos descrevem o ponto de partida e o ponto de chegada da oração e revelam a tensão que existe entre as duas motivações mais profundas que nos levam a rezar. O Salmo 1 fala da meditação e da observância da Lei do Senhor, enquanto o Salmo 150 fala do louvor e da festa total. Luta e Festa! Eficiência e Gratuidade! Os dois pólos da oração.
Salmo 1: eficiência e luta
O Salmo 1 indica o ponto de partida da oração. É o salmo dos “Dois Caminhos”. Quem quiser levar uma vida de oração deve fazer uma opção inicial bem clara entre o caminho dos justos e o caminho dos pecadores (SI 1,6); deve decidir-se firmemente a viver conforme as exigências da Lei do Senhor (SI 1,2). Aqui, no início do Livro dos Salmos, a oração aparece como “meditar dia e noite na Lei do Senhor” e encontrar nela o seu prazer (SI 1,2). A oração está intimamente ligada à luta entre o bem e o mal, entre a justiça e a injustiça, pois ela é vista como um meio que ajuda o povo a romper com o caminho da injustiça e a se manter no rumo da Lei do Senhor (SI 1,1-2). O objetivo da oração é produzir bons frutos no tempo certo, igual a uma árvore frondosa sempre verde, plantada à beira das águas correntes (SI 1,3). Resumindo: na abertura do Livro dos Salmos, no começo da caminhada com Deus, está a preocupação com a observância da lei e com a eficiência da ação. Esta preocupação é um dos dois ganchos que sustentam a rede dos salmos. A influência deste gancho percorre todo o livro até o outro lado, até o Salmo 150. Mas a oração não é só isto; não é só meio para alcançar um fim. Ela é também o próprio fim que se quer alcançar, amostra grátis da festa final. É disto que fala o Salmo 150.
Salmo 150: a gratuidade, a festa
O Salmo 150 descreve, como num painel luminoso, o ponto de chegada do caminho da oração. Aqui, no encerramento do Livro dos Salmos, a oração aparece como louvor e festa. Aleluia! Louvai o Senhor! (SI 150,1.6). Com traços curtos e claros, o salmo indica qual é o lugar e o motivo do louvor:
- É o templo (SI 150,1), isto é, o lugar onde Deus reside no Santo dos Santos e onde a comunidade se reúne diante de Deus;
- É o firmamento (SI 150,1), isto é, a natureza onde se revela a presença de Deus como Criador;
- São as façanhas (SI 150,2), isto é, a história onde Deus se revela, como Libertador e Salvador, nas maravilhas que operou para o povo.
Comunidade, Natureza, História! As três são expressão de "sua imensa glória" (SI 150,2) que deve ser louvada. O salmo convida a todos, sem distinção, a participar do louvor: “Tudo que vive e respira louve o Senhor!” (SI 150,6). Ele pede para usar todos os instrumentos (SI 150,3-5). Todos têm que entrar na dança (SI 150,4). Neste painel luminoso, que descreve o ponto final da história e da prece, a humanidade aparece como um bloco alegre e animado, cantando e dançando num louvor eterno.
Resumindo: a história termina no louvor; a gratidão explode em canto: “Tudo que vive e respira louve o Senhor!” (SI 150,6). Este é o outro gancho em que está pendurada a rede dos salmos. E também aqui, a influência deste gancho percorre todo o livro até o outro lado, até o Salmo 1. É o gancho da festa, da gratuidade, do puro bem querer, sem nenhum outro objetivo, a não ser este: estar aí, diante de Deus, numa presença amiga e gratuita, para cantar, louvar e agradecer. Aqui, a oração já não é meio, mas é o próprio ponto final: a festa. Deitado nesta rede, o povo tem os pés na direção do Salmo 1; a cabeça e o coração na direção do Salmo 150. Toda oração é, ao mesmo tempo, meio e fim, observância e gratuidade, pedido e louvor, conversão e gratidão, compromisso e amizade, caminhada e chegada, Lei e Graça, luta e festa!
Os dois perigos que ameaçam a prece
Estes dois pólos também encerram em si os dois perigos que, constantemente, ameaçam a prece, entortam a rede e fazem o povo cair no chão.
Um dos dois perigos é achar que basta o louvor (salmo 150) e que a luta pela justiça (salmo 1) contribui para sustentar a caminhada do povo. É achar que só Deus é quem faz as coisas e que a nossa observância e luta não são necessárias para a salvação; é achar que nós não podemos nem devemos fazer coisa alguma, pois a salvação é um dom gratuito de Deus. Esta atitude provoca a passividade que deixa a história à deriva, entregue à ideologia dominante que devasta a comunidade, a natureza e a história, sem deixar lugar nem para Deus nem para o povo.
O outro perigo é achar que o louvor e a celebração não contribuem para animar a luta entre o bem e o mal; é achar que só a eficiência e o planejamento podem levar a algum resultado de mudança e de transformação. Isto provoca o farisaísmo que exclui a ação da graça, elimina a festa, se fecha nas próprias idéias e pode levar ao fanatismo e à loucura.
O difícil mesmo é achar a fonte, onde estes dois córregos, o da luta e o da festa, existem unidos, nascendo a cada instante como irmãs, filhas do mesmo pai e da mesma mãe, brigando entre si, mas irmãs, que se querem bem e que precisam uma da outra.
* Conhecido por seus estudos sobre a Bíblia - estudou em Roma e em Jerusalém - Frei Carlos Mesters, Carmelita da Ordem do Carmo, nasceu na Holanda em 1931. Missionário no Brasil desde 1949. Sacerdote desde 1957, doutor em Teologia Bíblica. É um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil e foi fundador CEBI - Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (1978). Atualmente reside no Convento do Carmo de Unaí-MG.
FREI DONIZETTI: 60 Anos!
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Rezar os Salmos hoje-06
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*Frei Carlos Mesters, Carmelita.
O jeito de o povo rezar os seus salmos
Hoje existem várias maneiras de se rezar os salmos. “O Senhor é meu Pastor” (Sl 23), por exemplo, tem várias melodias e várias letras. Usam-se vários instrumentos. Às vezes, os salmos são rezados por uma única pessoa, enquanto os outros escutam; outras vezes, são rezados alternadamente, em coro. Às vezes, depois de recitação do salmo, fica-se um tempo em silêncio para ruminar a palavra ouvida e, em seguida, cada um repete o versículo que mais o impressionou.
Estas e outras maneiras são meios que nós usamos hoje para poder agarrar o sentido do salmo e, assim, rezá-lo como expressão dos nossos próprios sentimentos. O ideal é este: recriar o salmo, a partir da sua raiz, como se fosse rezado hoje pela primeira vez.
E aí vem a pergunta: Como é que o povo do tempo da Bíblia rezava os seus salmos? Como fazia para recriá-los e assimilá-los na vida? O que podemos aprender deles neste ponto? O próprio Livro dos Salmos nos dará a resposta a estas perguntas.
1-Chaves de leitura
A maioria dos salmos tem um pequeno título que funcionava como chave de leitura. Ele informava sobre a origem, o autor, o tipo e o uso do salmo. Os títulos dos salmos são antiqüíssimos. Nem sempre são claros. Eles nos dão uma idéia de como os salmos eram rezados naquele tempo. Tomemos como exemplo, entre muitos outros, o título do Salmo 57 que diz: “Do mestre do canto. Não destruas. De Davi. A meia voz. Quando fugia de Saul na caverna” (Sl 57,1). Vejamos ponto por ponto:
Do mestre do canto. Sinal de que eles tinham um responsável que puxava o canto durante as celebrações. Provavelmente, havia um grupo de cantores que formava um coro para animar o culto (cf. 1Cr 15,16; 9,33; 2Cr 23,13).
Não destruas. Era o título de uma música popular bem conhecida de todos. O Salmo 57 devia ser cantado com a melodia da música “Não destruas”. Até hoje, o povo faz letra para ser cantada conforme a melodia de cantos populares bem conhecidos.
De Davi. Atribuir o salmo a Davi ajudava o povo a “rezar como Davi rezou, a cantar como Davi cantou”. Tornava mais concreta a recitação do salmo, pois facilitava a identificação do povo com Davi.
A meia voz. Indicava que se tratava de um salmo mais meditativo, pois havia outros salmos em que o povo era convidado a cantar e gritar bem alto (Sl 47,2). Nem sempre as celebrações eram silenciosas. Pelo contrário! (Sl 42,5).
Quando fugia de Saul na caverna. Evoca um fato bem conhecido da vida de Davi (cf. 1Sm 24,1-8) como contexto de origem do salmo. Isto ajudava a dramatizar o salmo, a ligá-lo com a vida, e favorecia a identificação do orante com Davi.
2-Instrumentos musicais
Ao que parece, as celebrações eram bem animadas, acompanhadas com muitos instrumentos musicais. O Salmo 150 enumera vários: trombeta, cítara, harpa, tambor, instrumento de corda, flauta, címbalo (Sl 150,3-4; cf. 81,3-4). Em outros salmos aparecem outros instrumentos como a lira de dez cordas (Sl 33,2), o oboé (Sl 46,1). Havia salmos que deviam ser acompanhados com um determinado instrumento musical. Por exemplo, o Salmo 54, foi feito para ser acompanhado com instrumento de corda (Sl 54,1); O Salmo 46, com oboé (Sl 46,1). O Salmo 33 convida o povo a tocar os instrumentos e fazer grande louvação (Sl 33,2-3). Eles gostavam de música e festa!
3-Participação do povo
Hoje em dia, quando se reza um salmo, todo mundo tem o texto na mão. Isto facilita a participação. Naquele tempo, não havia texto na mão do povo. Cantava-se de memória e o povo participava de muitas maneiras. Às vezes, alguém puxava o canto e o povo respondia em forma de ladainha, dizendo sem parar: “Eterno é seu amor, eterno é seu amor, eterno é seu amor, eterno...” (Sl 136). Outras vezes, o cantor que puxava o canto mandava o povo confirmar a prece com a aclamação “Amém! Amém!” (Sl 106,48). Ou provocava os vários grupos presentes na celebração: “A Casa de Israel, repita: eterno é seu amor! Agora a Casa de Aarão, repita: eterno é seu amor! Agora todo mundo que teme o Senhor, repita: eterno é seu amor! Agora todo mundo que teme o Senhor, repita: eterno é seu amor!” (Sl 118,2-4).
Em outros salmos, o povo participava por meio do canto de um refrão que voltava no começo, no meio e no fim (Sl 80,4.8.20). Outras vezes, participava dançando (Sl 150,4), acompanhando a procissão (Sl 42,5; 24,6-10), fazendo romaria (Sl 122,1-2), tocando seus instrumentos (Sl 33,2-3). As festas eram alegres e barulhentas (Sl 81,3-4; Sl 42,5).
4-Expressão corporal
Corpo e alma formam uma unidade. O corpo acompanha o movimento da mente e dele procura ser uma expressão e uma ajuda. Por isso, a expressão corporal faz parte da prece e lhe dá mais vida. A Bíblia tem muitas informações sobre as várias formas de expressão corporal que acompanhavam a recitação dos salmos e a prece em geral: prostração, genuflexão, inclinação (Sl 95,6; 22,30); levantar as mãos para o alto (Sl 63,5), bater palmas (Sl 47,1), soltar gritos (Sl 47,1), colocar a cabeça entre os joelhos (1Rs 18,42).
Depois do exílio, quando uma grande parte dos judeus vivia fora da Palestina, espalhada pelas costas do Mar Mediterrâneo, criaram o costume de orientar o corpo. Isto é, durante a oração, eles se voltavam na direção do templo de Jerusalém que ficava no Oriente (Sl 138,2). Faziam isto três vezes ao dia, no momento exato em que, lá no templo, se oferecia o sacrifício, de manhã, ao meio dia e no fim da tarde. Assim, unidos entre si no mundo inteiro, faziam subir as preces até Deus junto com a fumaça dos sacrifícios do templo de Jerusalém.
5-Espelho para todo sofredor
Como vimos anteriormente, é difícil saber exatamente em que época, em que lugar e a partir de que fato a maioria dos salmos foi escrita. Ou seja, não é fácil atingir o contexto histórico exato da origem dos salmos. De certo modo, isto era proposital! Era para permitir que os salmos pudessem ser rezados em todo tempo e em todo lugar, sobretudo os salmos de lamento. Nos salmos de lamento, o salmista expressava a sua dor de tal maneira, que a sua prece pudesse ser assumida e rezada também por outros. Por isso, ele não particularizava demais nos detalhes pessoais, pois isto dificultaria ao outro identificar-se com o salmo. Nem generalizava demais, pois isto separaria o salmo da vida e ele já não seria espelho para ninguém. Numa palavra, os salmos são, ao mesmo tempo, universais e concretos. Nisto está a sua arte! Por isso são espelho para todo sofredor. Até hoje, o povo se encontra lá dentro, apesar de todas as dificuldades de linguagem, de interpretações e de distância no tempo.
Para a oração dos salmos é importante lembrar o seguinte. O sentido dos salmos se concretiza não só a partir do contexto da pessoa que fez o salmo, mas também e sobretudo a partir do contexto daquele que reza o salmo. Por exemplo, o Salmo 72 diz: “O Senhor liberta o indigente que clama, e o pobre que não tem protetor” (SI 72,12). Ao rezar este salmo, não se deve pensar no indigente e no pobre do século IV antes de Cristo, mas, sim, nos indigentes e nos pobres que nós mesmos conhecemos no lugar onde moramos, hoje, aqui e agora, no Brasil! O estudo do contexto histórico do salmo pode ajudar muito para que, na oração, o salmo possa ser espelho para todo sofredor.
6-Retrato da vida de cada um
As imagens ou comparações usadas nos salmos para expressar a atitude orante do povo diante de Deus eram as mesmas que se usavam para expressar as coisas mais comuns da vida e da convivência diária: criança dormindo no colo da mãe (SI 131,2), a família em casa ao redor da mesa (SI 128,3), uma roda alegre de gente amiga que grita e canta com violão e pandeiro (SI 33,1-3; 81,3-4), o luar do sertão (SI 8,4), saudades da terra (SI 42,5), o pedreiro que constrói uma casa e o vigia que guarda uma cidade (SI 127,1), etc.
Todas as situações da vida estão presentes nos salmos: alegria, tristeza, solidão, abandono, perseguição, exploração, repressão, opressão, desespero, esperança, doença, morte, amor, ódio, casamento, educação, juventude e velhice, calor, frio, luta, festa ... tudo! Os salmos não distanciavam as pessoas da vida. Pelo contrário. Traziam a vida para dentro da prece, e levavam a prece para dentro da vida. Tudo que dava para rir e para chorar era usado no diálogo com Deus. Os salmos têm a variedade da própria vida.
7-Ambiente organizado da comunidade
O povo que hoje participa da comunidade conhece de cor muitos cânticos: “O Povo de Deus no deserto andava”, “Da cepa brotou a rama”, “Queremos Deus”, "Eu confio em Nosso Senhor", "A Ti, meu Deus", "Me chamaste", etc. Outro dia perguntaram: “Dona Maria, quando foi que a senhora aprendeu Queremos Deus?” Ela respondeu: “Não sei! A gente sabe!” Nas comunidades existe um ambiente de vida que transmite as coisas sem que a gente se dá conta. Assim, no tempo de Jesus, havia um ambiente de vida, sustentado e mantido pela organização comunitária do povo em torno da sinagoga, e pelos costumes familiares. Neste ambiente, o povo aprendia os salmos de cor, quase como a respiração da vida da comunidade.
Os evangelhos ainda deixam transparecer alguns traços deste ambiente de oração da vida comunitária do tempo de Jesus, em que os salmos aparecem como parte integrante do conjunto. No Domingo de Ramos, o povo gritou espontaneamente a frase de um salmo para aclamar Jesus (Mc 21,9 e SI 118,25-26). O cântico de Maria cita mais de quatro salmos diferentes (Lc 1,46-55). Depois da Ceia Pascal, Jesus e os apóstolos saíram da sala e foram para o Horto rezando salmos (Mt 26,30). Três ou quatro das oito bem-aventuranças que Jesus proclamou para o povo são frases tiradas dos salmos (Mt 5,3-10).
Estes e outros fatos mostram que os salmos permeavam a vida do povo como o cimento permeia os tijolos e dá consistência à parede. Eles davam consistência e expressão à piedade e à fé do povo. Os salmos eram ensinados e divulgados entre o povo através das reuniões na sinagoga, através da oração em família, através das procissões e das romarias. Os salmos chamados alfabéticos facilitavam a memorização dos mesmos (SI 25, 34, 37, 111, 112, 119 e 145).
Estes sete pontos revelam o jeito usado pelo povo daquele tempo para rezar e assimilar os salmos na vida. Quem for ler e estudar os salmos com atenção, poderá descobrir muitas outras informações a respeito de cada um destes sete assuntos. Demos apenas algumas dicas.
* Conhecido por seus estudos sobre a Bíblia - estudou em Roma e em Jerusalém - Frei Carlos Mesters, Carmelita da Ordem do Carmo, nasceu na Holanda em 1931. Missionário no Brasil desde 1949. Sacerdote desde 1957, doutor em Teologia Bíblica. É um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil e foi fundador CEBI - Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (1978). Atualmente reside no Convento do Carmo de Unaí-MG.
CARMO DE BRASÍLIA: Despedida do Frei Vicente.
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No vídeo, imagens da despedida de Frei Vicente de Paula Maciel, O. Carm, da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Brasilia/DF. Fonte: Facebook (Eneida Carbonell/ Brasília). NOTA: No Capítulo Provincial deste ano, o confrade foi transferido para Belo Horizonte-MG, onde será formador dos Postulantes Carmelitas. Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 12 de fevereiro-2017. DIVULGAÇÃO: www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com
OLHAR CARMELITANO: Colocando no outro poder...
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Frei Fernando Millán Romeral, O. Carm. Prior Geral .
(Tradução livre)
(Fevereiro de 2017). A vida consagrada é encontrado em um momento importante, complexo e de certo modo, controverso. Por um lado, começou o processo para elaborar um novo documento que regulamente e oriente as relações entre religiosos e bispos, ou melhor, entre os religiosos e as igrejas locais. Trata-se de um novo mutuae relationes adaptado às novas realidades eclesiais, canônicas e teológicas do nosso tempo. Por outro lado, Francisco assinava no passado dia 29 de junho de 2016, a Constituição Apostólica Vultum do quaerere, sobre e para as religiosas contemplativas (aquelas "Sentinelas da aurora" como as chama o papa). Na mesma se anuncia um novo documento sobre o assunto que elabora em breve a congregação para os institutos de vida consagrada (civcsva) para a execução de alguns temas específicos. Além disso, em muitos países da Europa se estão a realizar processos (nem sempre fáceis) de união das províncias e de reestruturação das existentes que suscita reações muito variadas e às vezes provoca dificuldades e desafios de vários tipos. São apenas três exemplos do complicado período em que vivemos. Devemos viver esse tempo com espírito de discernimento, sério e responsável, mas isso não quer dizer que não possamos vivê-lo com alegria, com serenidade, com esperança e com bom ânimo.
O caso é que, no meio desses processos complexos, em não poucas ocasiões são chamados (e com paixão) o princípio da "autonomia". certamente, este princípio (autonomia das províncias, dos mosteiros, etc) nasce em certos Momentos da história da vida consagrada com um critério sábio e para evitar intromissões. Se procurava preservar estilos de vida e protegê-los, para evitar que se perderem ou que fossem manipulados e deturpadas. Portanto, era (e é) um meio válido ao serviço dos carismas, ou dos Estados de vida no seio da igreja.
Quando, no entanto, esse princípio se transforma em algo absoluto, quando se defende com unhas e dentes, quando se lhe atribui mais categoria teológica e canônico da que tem... Pois creio humildemente que algo está errado. Ninguém entrou na vida religiosa para ser independente, muito pelo contrário, para deixar que outros (as diversas mediações), com diálogo, discernimento, bom senso, coragem e obediência... sejam os que nos governam. O religioso coloca sua vida em outras mãos para satisfazer uma vontade superior, a de Deus. Se existe um princípio sagrado na vocação religiosa é, sim, o de ser "Heterónomos"...
Há dois anos, aproveitando o quinto centenário do nascimento de Santa Teresa, reli algumas de suas obras (não todas, nem com o detalhe que quisesse) e olhei a sua sabedoria espiritual e humana. Me deleite recordando algumas passagens e surpreendi-me descobrindo outros pelos que certamente passei de forma distraída há anos. E eis que no caminho da perfeição, a santa ela nos dá esta pérola: "e uma vez que as freiras fazemos o mais, que é dar a liberdade pelo amor de Deus, pondo-a num outro poder (...). Torno a dizer que está o tudo ou grande parte em perder cuidado de nós mesmos e o nosso presente; que quem de verdade começa a servir ao Senhor, o mínimo que ele pode oferecer é a vida; pois deu a sua vontade, o que teme?" (Caminho 12,1-2). Quase nada...
E Thomas Merton, outro mestre espiritual de primeira fila, reclamava tanto de uma obediência cega que levasse ao "sacrifício de o interior", ou seja, dos princípios mais sagrados, provocando assim uma espécie de inércia, passividade infantil e doidinha... como de uma autonomia que acabou tornando-se um fetiche. O monge é despachado com esta análise e escreve com um bisturi muito fino: "por outro lado, não devemos transformar a autonomia em um fetiche e ser 'Fiel' apenas a nossa própria vontade, uma vez que esta é mais uma maneira de ser infiel..."
Sei que tudo isso teria que precisa-lo muito e que é um assunto complicado e vítreo. Por onde a mão... te curtas. Mas acho que apelar demasiado à autonomia ou transformá-lo em um totem, é perigoso e até mesmo contra a própria essência da vida consagrada que nos liberta para sempre fazer a sua vontade.
Rezar os Salmos hoje-03
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*Frei Carlos Mesters, Carmelita.
Origem e formação do Livro dos Salmos: Espelho do que acontece hoje
Na superfície do Livro dos Salmos aparecem algumas coisas que chamam a atenção: repetições, interrupções, incertezas quanto ao autor, confusão quanto ao número dos salmos. São como janelas abertas que ajudam a entender como foi o processo de formação do Livro dos Salmos; revelam como se chegou dos salmos ao Livro dos Salmos. Como veremos, foi uma origem muito semelhante à de tantos livros de canto que hoje circulam nas nossas comunidades. Na origem de cada salmo está um salmista, um poeta, um indivíduo. Na origem do Livro dos Salmos está a comunidade, o povo. Se os 150 salmos foram transmitidos e chegaram até nós, isto não se deve à ação do salmista, mas, sim, ao povo. O povo se reconhecia neles. Os salmos eram a expressão da sua fé, esperança e amor, da sua caminhada e luta. Por isso os cantava, selecionava e conservava. Assim se chegou dos salmos ao Livro dos Salmos. Nesse capítulo, vamos ver de perto os pontos mais significativos deste processo de formação do Livro dos Salmos, e apontaremos, ao mesmo tempo, e semelhança com os livros de canto que hoje circulam nas nossas comunidades.
Um processo de formação que durou quase mil anos
Alguns salmos são bem antigos. Vêm desde o tempo de Davi que governou o povo de 1010 até 970 antes de Cristo. Outros já são mais recentes. Os últimos são, provavelmente, da época dos Macabeus, isto é, dos anos 170 a 160 a. C. Isto quer dizer que a formação do Livro dos Salmos durou quase mil anos! Por isso mesmo, é difícil saber em que época, exatamente, foi escrito este ou aquele salmo. Esta incerteza quanto à data exata da composição da maioria dos salmos, como ainda veremos, tem um significado muito importante para o seu uso pelo povo. Não sendo de nenhum tempo certo, dão certo para todo tempo!
Preces vindas de todo canto e lugar
Alguns salmos refletem o ambiente da cidade, por exemplo, o salmo que fala do vigia noturno (Sl 130, 6-7). Outros já são mais do interior, da roça: o salmo onde o sofrimento e a exploração do povo são descritos com a imagem do arado que passa pelas costas do torturado (Sl 129,3). Alguns foram feitos na Palestina (Sl 122), outros na Babilônia durante o exílio (Sl 137). Tem salmos que vêm da região do Norte, outros vêm do Sul. Eles vêm de todo canto e lugar! É como hoje: pela letra e pela melodia, você consegue reconhecer os cânticos que vêm do Nordeste ou do Sul. Na Bíblia, pela maneira de os salmos usarem o nome de Deus, os entendidos no assunto conseguem descobrir se são do Norte ou do Sul. Por exemplo, os Salmos 1 até 41 preferem chamar Deus de Javé ou Yhwh (traduzido em algumas Bíblias por Senhor), enquanto os Salmos 42 até 89 preferem usar o nome Elohim, traduzido por Deus. Mesmo assim, na maioria dos casos, é muito difícil saber em que lugar, exatamente, este ou aquele foi escrito. Aqui vale o mesmo que dissemos a respeito da época. Não sendo de nenhum lugar certo, dão certo para todo lugar!
Oração dos pobres
Antes da reforma de Josias em 620 a.C., havia muitos pequenos santuários espalhados pelo país. Cada um deles lembrava algum fato importante da história do povo de Deus. Nas festas, os romeiros iam lá para fazer as suas preces, oferecer os seus dons e cumprir suas promessas. Os sacerdotes e os levitas os recebiam e com eles rezavam. Nestes pequenos santuários, o povo do interior, os pobres, derramavam a sua alma diante do Senhor.
Numa destas romarias para o santuário de Silo, Ana, a mãe de Samuel, foi rezar no santuário. O sacerdote Eli pensou que ela estivesse embriagada e pediu para ela voltar mais tarde, depois que o efeito do vinho tivesse passado. Ela respondeu: “Não, Senhor! Eu sou uma mulher atribulada. Não bebi vinho nem bebida forte. Mas derramo minha alma na presença do Senhor. Não julgues a tua serva como uma vadia! É que estou muito triste e aflita. Por isso estou rezando até agora!” (1Sm 1,15-16). Este fato nos dá uma idéia de como era o ambiente de oração naqueles santuários. Ora, foi neste ambiente dos santuários, centros de romaria, que surgiram muitos salmos, sobretudo os salmos de lamento, os salmos dos pobres, salmos anônimos.
Cânticos populares
Os salmos foram surgindo, e o povo os cantava. Cantando, foi selecionando e conservando, modificando uns e esquecendo outros. Hoje, por exemplo, certos cânticos das Campanhas da Fraternidade já foram esquecidos. Ninguém mais lembra deles. Mas se perguntar: “Vocês conhecem Prova de Amor?”, todo mundo conhece. Pouca gente, porém, lembra o autor e a data deste canto. Se perguntar: “Quem fez Jesus Cristo, eu estou aqui?”, muita gente vai saber que foi Roberto Carlos. O mesmo acontecia com os salmos. O povo lembrava o autor de alguns; de outros, já não lembrava, ou estava em dúvida.
Na Bíblia Hebraica, dos 150 salmos, uma terça parte, isto é, 49 salmos, é anônima. Não tem autor. No título do Salmo 72, se diz: “De Salomão” (Sl 72,1). No fim do mesmo salmo, se diz: “Fim das orações de Davi” (Sl 72,20). Ficou a dúvida: é de Davi ou de Salomão? Hoje em dia, às vezes, a gente não sabe se a música é do padre Zezinho ou da Irmã Miriam.
Coleções de salmos
O Livro dos Salmos parece uma colcha de retalhos. Os retalhos vêm das coleções de salmos que já deviam existir antes do livro. Um simples levantamento dos títulos dos salmos oferece o seguinte quadro geral:
- Os salmos 3 até 41 são de Davi (menos o salmo 33);
- Os salmos 42 até 49 são dos filhos de Coré;
- Os salmos 51 até 65 são de Davi;
- Os salmos 68 até 70 são igualmente de Davi;
- Os salmos 72 até 83 são de Asaf;
- Os salmos 84 até 88 são dos filhos de Coré (salmo 86 é de Davi);
- Os salmos 105 até 107 começam com Aleluia;
- Os salmos 111 até 118 começam com Aleluia (menos o salmo 115);
- Os salmos 120 até 134 são indicados como Cânticos das Subidas;
- Os salmos 135 e 136 começam novamente com Aleluia
- Os salmos 146 até 150 também começam com Aleluia.
Este quadro mostra que, antes da existência do Livro dos Salmos, havia dois tipos de coleções: 1. Salmos para determinadas ocasiões e solenidades: por exemplo Subidas, isto é, para as romarias; 2. Salmos-Aleluia, isto é, para festas de louvor. Até hoje, é em torno deste mesmo duplo critério que se fazem as coleções de canto.
Canto repetido, canto modificado
Às vezes, um canto do Sul do Brasil reaparece no Nordeste com outra letra e outra melodia. Parece até um canto diferente. Quando o povo gosta de um canto e com ele se identifica, ele o vai adaptando, modificando letra e melodia. O mesmo canto, modificado ou não, aparece em várias coleções. O mesmo acontecia com os salmos. Foram surgindo aquelas coleções, por exemplo, para as romarias ou para as várias festas. Para as romarias surgiu a coleção dos Cânticos das Subidas (salmos 120 a 134). Para a festa de Javé Rei e Juiz surgiram os Salmos 93 até 100. Os mesmos salmos apareciam em várias coleções. Na edição final do Livro dos Salmos, estas coleções foram remanejadas entre si e reunidas numa unidade maior.
Isto explica as repetições que existem dentro do Livro dos Salmos: Por exemplo, o Salmo 14 é igual ao salmo 53. O Salmo 70 é quase igual aos versículos 14 a 18 do Salmo 40. A primeira metade do Salmo 108 está repetida no Salmo 57: Sl 108,2-6 é igual ao Sl 57,8-12; a segunda metade do mesmo salmo está repetida no Salmo 60: Sl 108,7-14 é igual ao Sl 60,7-14. O salmo repetido é, cada vez, de outra coleção. Se o Livro dos Salmos fosse uma única coleção de um único autor, não haveria tais repetições.
Davi, o autor dos salmos
A Bíblia Hebraica atribui 73 salmos a Davi, 12 a Asaf, 11 aos filhos de Coré, 2 a Salomão, 1 a Moisés, a Ernã e a Etã. Os outros salmos são anônimos. Na tradução grega, chamada a Setenta, do século III antes de Cristo, há 82 salmos de Davi, isto é, 9 a mais do que no original hebraico. E no tempo de Jesus, era comum atribuir todos os salmos a Davi (cf. Lc 20,42). Como se explica esta vontade de querer atribuir um número cada vez maior de salmos a Davi? Qual o sentido de dizer que os salmos são de Davi?
Depois do exílio, Davi tornou-se a expressão maior da esperança e do ideal de vida do povo. Eles esperavam um novo rei Davi para restabelecer o direito pisado dos pobres (cf. Sl 72,1-3; 78,70; 89,4.21; 132,1.10.17; 14,10). Para o povo daquele tempo, Davi era o que os Santos são para muitos de nós hoje: um ideal a ser imitado. O Livro das Crônicas, por exemplo, que é daquela época do pós-exílio, omite todos os pecados de Davi e o apresenta como um homem santo e perfeito. Davi era herói que encarnava o ideal do povo. É daí que nascia uma vontade muito grande de identificação com Davi. Eles queriam ter em si os mesmos sentimentos que animaram a Davi na sua luta. Queriam “rezar como Davi rezou, cantar como Davi cantou”. Por isso, para eles era muito importante poder dizer que um salmo era de Davi. Quanto mais salmos de Davi, tanto melhor! Isto ajudava o povo a viver melhor o ideal e a realizar a sua missão. É por isso que a tradução grega tirou vários salmos do anonimato e começou a atribuí-los a Davi. No tempo de Jesus, já era opinião comum do povo: todos os salmos são de Davi. Nisso tudo se reflete a vontade do povo de ser fiel.
Os cinco livros dos salmos: o lado orante da Lei de Deus
Cada livro de canto tem uma certa divisão e subdivisão interna. A maneira de dividir o assunto depende do critério que o editor adota: cantos para a missa, cantos para as grandes festas do ano litúrgico, cantos para reuniões e assembléias, etc. O editor final do Livro dos Salmos também teve o seu critério para dividir em cinco partes os 150 salmos que ele conseguiu reunir. Dentro do Livro dos Salmos, ocorrem quatro interrupções mais ou menos semelhantes. As quatro ocorrem no fim dos Salmos 41, 72, 89 e 106, e tem a forma de um refrão de louvor: “Bendito seja o Senhor, o Deus de Israel, desde agora e para sempre! Amém! Amém!” (Sl 41,14; 72,18-19; 89,53; 106,48). Estas quatro interrupções dividem o Livro dos Salmos em cinco unidades menores: a primeira de 1 até 41; a segunda de 42 até 72; a terceira de 73 até 89; a quarta de 90 até 106; e a quinta de 107 até 150. No fim do Salmo 72, ele até deixou a marca dizendo: “Fim das orações de Davi” (Sl 72,20); fim de uma unidade, começo de uma outra. Dividindo o Livro dos Salmos em cinco partes, o editor imitou o Pentateuco, o Livro da Lei de Deus, que também tem cinco partes. Deste modo, ele nos apresentou o Livro dos Salmos como o lado orante da Lei de Deus.
Enumeração confusa
Quando, nas reuniões, se pede: “Vamos rezar o Salmo 50!”, tem gente que abre a Bíblia no Salmo 49, outros no Salmo 50, outros ainda no Salmo 51. Esta confusão não é de hoje. Ela começou, muito provavelmente, quando, em torno do ano 250 antes de Cristo, foi feita a tradução grega da Bíblia, chamada a Setenta. Ela foi feita quando o Livro dos Salmos ainda estava em fase de formação. Quando o tradutor chegou no Salmo 10, ele pensou que fosse a continuação do Salmo 9, e traduziu os dois como se fossem duas partes do mesmo salmo. Por isso, ele deu o número 10 para o salmo que, na Bíblia Hebraica, tinha o número 11. Outros acham que algum copista, ao transcrever o texto hebraico, chegou na metade do Salmo 9 e pensou que fosse o começo de um novo salmo. Qualquer que tenha sido a causa, o fato é que existe a diferença dos números entre a Bíblia Hebraica e a tradução grega. A Igreja Católica sempre seguiu a enumeração da tradução grega, que foi mantida na Vulgata (tradução latina), no breviário do clero e nas traduções em outras línguas. Os Protestantes seguem a enumeração original da Bíblia Hebraica, que está sendo retomada hoje pela “Bíblia de Jerusalém” e por várias outras traduções católicas. Muitas Bíbia colocam o número da Bíblia hebraica entre parêntesis. Por exemplo: Salmo 50(51). Outros fazem o contrário e colocam o grego entre parêntesis. Por exemplo: Salmo 51(50). Eis o esquema das diferenças na enumeração dos salmos:
Bíblia Hebraica Tradução Grega
1-8 1-8
9-10 9
11-113 10-112
114-115 113
116 114-115
117-146 116-145
147 146-147
148-150 148-150
O conteúdo final do Livro dos Salmos
O título hebraico do Livro dos Salmos é Sefer Tehilim, isto é, Livro dos Hinos. Mas dentro do Livro dos Hinos só tem um único salmo que é apresentado explicitamente como Hino ou Tehilah, também traduzido por Louvor (Sl 145,1). Na tradução grega, o título é Biblos Psalmon, isto é, Livro dos Salmos. A palavra psalmos ou salmo, originalmente, indicava um tipo de canto que devia ser acompanhado com um instrumento de cordas chamado psaltérion. Mas dentro do Livro dos Salmos só tem 57 dos 150 que são apresentados explicitamente como psalmos. Os outros são apresentados como oração (Sl 86,1), como poema (Sl 89,1), como súplica (Sl 90,1), como aleluia (Sl 107,1), como salmo-cântico (Sl 83,1), etc. Esta diversidade mostra como foi difícil para eles identificar o conteúdo do Livro dos Salmos: hino, salmo, cântico, oração, poema, lamento, súplica! Tem de tudo! É difícil classificar a vida debaixo de um denominador comum.
Uma vez pronto, o Livro dos Salmos começou a exercer uma função muito importante na vida do povo de Deus:
* conservava a memória, pois lembrava os fatos mais importantes da história;
* educava o povo, pois trazia os grandes apelos dos profetas e dos sábios;
* ajudava a manter a fé, a esperança e o amor;
* cobrava o compromisso de fidelidade;
* animava a caminhada; possibilitava ao povo o contato direto com Deus.
Numa palavra, o Livro dos Salmos era amostra, modelo e muleta de arrimo. Era o manual de reza, o livro de canto. O Livro dos Salmos era e é a lei orante do povo de Deus!
* Conhecido por seus estudos sobre a Bíblia - estudou em Roma e em Jerusalém - Frei Carlos Mesters, Carmelita da Ordem do Carmo, nasceu na Holanda em 1931. Missionário no Brasil desde 1949. Sacerdote desde 1957, doutor em Teologia Bíblica. É um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil e foi fundador CEBI - Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (1978). Atualmente reside no Convento do Carmo de Unaí-MG.
CARMELITAS NO BRASIL: Um olhar.
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Rezar os Salmos hoje-02
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(VEJA O PRIMEIRO VÍDEO, COM FREI PETRÔNIO DE MIRANDA, CARMELITA)
*Frei Carlos Mesters, Carmelita.
O lugar que o Livro dos Salmos ocupa dentro da Bíblia
Há três tipos de livros no Antigo Testamento: livros de história, livros de sabedoria, e livros de profecia. O Livro dos Salmos costuma ser colocado entre os Livros de Sabedoria. Mas o curioso é o seguinte: nos salmos não tem só sabedoria, mas também história e profecia. E nos Livros de Profecia, de História e de Sabedoria não tem só Profecia, História e Sabedoria, mas também tem salmos! Só uma pequena parte dos salmos da Bíblia está no Livro dos Salmos; a outra parte, bem maior, está espalhada pelo resto da Bíblia, até no Novo Testamento.
Algo semelhante acontece com o tempo em que os salmos foram escritos. Há salmos que foram feitos antes do começo do Livro dos Salmos: o Cântico de Miriam (Ex 15,21), de Moisés (Ex 15,1-18), de Débora (Jz 5,1-31, de Ana (1Sm 2,1-10). E há salmos que foram feitos depois que o Livro dos Salmos já estava completo e terminado: O Cântico de Maria (Lc 1,46-55), de Zacarias (Lc 1,67-79), de Simeão (Lc 2,29-32) e vários outros, copiados por Paulo nas suas cartas (1Cor 13,1-13; Fl 2,6-11).
Estas observações tão simples e tão evidentes sobre o tempo e o lugar dos salmos dentro da Bíblia permitem tirar quatro conclusões muito importantes?
O Livro dos Salmos não pretende ter o monopólio da oração; pretende ser apenas uma amostra de como o povo de Deus rezava naquele tempo.
- O Livro dos Salmos oferece um modelo de como se pode orar. Quer provocar a criatividade e suscitar novos salmos, como de fato suscitou em muitas pessoas. O próprio Jesus chegou a fazer um salmo (Mt 6,11-13).
- O Livro dos Salmos serve como muleta na hora da precisão. Pois tem momentos na vida em que a pessoa já não sabe como e o que rezar. Mesmo querendo, não encontra palavras. Ele se sente “como a terra seca do sertão à espera da chuva” (Sl 63,2). Numa hora dessas é bom a gente poder recorrer aos salmos e pedir emprestado palavras antigas e seguras para dirigir-se a Deus. Foi o que Jesus fez na hora da sua morte: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mc 15,34; Sl 22,2).
- Na vida do povo de Deus, a prece não é um setor separado do resto da história. Pelo contrário! Há um vai-vem constante entre a prece e a vida. O povo rezava e celebrava a sua caminhada.
Duas comparações para resumir o que foi dito:
- a) A Bíblia é como uma casa à beira do rio. Você vê o reflexo da casa na água do rio. O rio é a oração do povo; são os salmos. Neles você vê o reflexo de toda a vida do povo. Os salmos são o lado orante da história, da profecia, da sabedoria; o lado orante da caminhada!
- b) O Livro dos Salmos é como a caixa d’água. Parte da água está dentro da caixa, parte dela está nos muitos canos que percorrem a casa. Canos de dois tipos: os que conduzem a água da fonte até a caixa, e os que levam a água da caixa até as torneiras.
* Conhecido por seus estudos sobre a Bíblia - estudou em Roma e em Jerusalém - Frei Carlos Mesters,, Carmelita da Ordem do Carmo, nasceu na Holanda em 1931. Missionário no Brasil desde 1949. Sacerdote desde 1957, doutor em Teologia Bíblica. É um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil e foi fundador CEBI - Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (1978). Atualmente reside no Convento do Carmo de Unaí-MG.
CAPÍTULO PROVINCIAL-2017: O desafio da vida religiosa no Brasil- 01.
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No áudio, a irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, da Congregação das Mensageiras do Amor Divino- Presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil- CRB, fala sobre os desafios da Vida Religiosa no Brasil. (1ª Parte).
NOTA: O Capítulo da Província Carmelitana de Santo Elias- Carmelitas da Ordem do Carmo, aconteceu entre os dias 23-27 de janeiro de 2017 na Casa de Encontros Emaús, em Embu das Artes/ Itapecerica da Serra, São Paulo. Convento do Carmo da Lapa, Rio de Janeiro. 8 de fevereiro-2017. DIVULGAÇÃO: www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com
Rezar os Salmos hoje-01
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*Frei Carlos Mesters, Carmelita.
Não é tão fácil rezar os salmos hoje. As dificuldades são muitas. Algumas vêm dos próprios salmos, da sua linguagem e do seu conteúdo. Outras vêm das pessoas que rezam, da comunidade. Outras ainda vêm da situação que vivemos, da nossa realidade. Algumas dificuldades têm respostas e se resolvem. Outras só se resolvem na medida em que forem assumidas como desafios da própria caminhada.
Dificuldades que vêm dos próprios salmos
- a) Violência, vingança, agressividade.
Há salmos extremamente violentos e agressivos. Alguns exemplos:
- “Feliz quem agarrar e esmagar teus nenês contra a rocha” (Sl 137,9). Uma coisa assim a gente não deseja nem para o pior inimigo. Como dirigir uma prece assim a Deus?
- “Ele feriu reis poderosos, porque eterno é seu amor! Matou reis famosos, porque eterno é seu amor!” (Sl 136,17.18). Não estamos acostumados a celebrar a morte dos inimigos como expressão do amor de Deus por nós!
- Salmo 109 pede vingança contra o inimigo. Entre outras coisas (Sl 109,6-15), ele pede a Deus “que a mulher dele se torne viúva e os filhos órfãos” (Sl 109,9). E assim há vários outros salmos.
- b) A ira violenta de Deus que provoca medo
2,5.12: A ira de Deus se inflama rápida
6,2: não me castigues com tua ira
7,7: levanta-te com tua ira contra os abusos dos meus opressores
21,10: Deus os engolirá com a sua ira
27,9: não afastes teu servo com ira, pois tu és o meu socorro
30,6: sua ira dura um momento, mas seu favor dura pela vida inteira
38,4: por causa da tua ira nada em meu corpo está intacto
56,8: Ó Deus, derruba com tua ira os povos
59,14: que tua cólera os destrua, os destrua e não existam mais
69,25: Derrama sobre ele o teu furor e o ardor da tua ira os atinja
74,1: por que arder em ira contra as ovelhas do teu rebanho
76,8: Tu és terrível. Quem pode resistir à tua frente quando ficas irado?
78,21: Deus se enfureceu .. a sua ira se ergueu contra Israel.
38: ele é compassivo e reprimia sua ira muitas vezes
79,5-6: Derrama o teu furor sobros que não te conhecem
85,6: Ficará irado conosco para sempre
86,15: Tu és piedade e compaixão: lenta para a cólera e cheio de amor
88,17: tua cólera pesa sobre mim: teus furores passaram sobre mim
90,7: tua ira nos consumiu, teu furor nos transtornou
95,11: jurei na minha ira: jamais entrarão no meu repouso
102,11: por causa da tua ira me elevaste e me jogaste no chão
103,8: Javé é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor.
O problema é triplo: 1) O contraste com o ensinamento de Jesus que manda amar os inimigos (Mt 5,44) e perdoar 70 vezes sete (Mt 18,22). 2) O contraste com o sentimento humano nosso de hoje que não consegue ser tão agressivo a ponto de pedir que alguém esmague as crianças do inimigo contra a rocha. 3) Até hoje, estas frases estão na Bíblia. Não foram censuradas. São Palavras de Deus para nós. Como entendê-las? Como rezá-las?
Qual a sua mensagem?
- c) Imagens estranhas, linguagem difícil, fatos desconhecidos.
Os salmos usam comparações estranhas. Por exemplo, comparam a fraternidade com óleo derramado sobre a cabeça de Aarão, que desce pela barba até nas roupas (Sl 133,2). Alguns salmos estão cheios de nomes difíceis que se referem a pessoas e lugares desconhecidos para nós (Sl 60,8-11; 83,7-12). Outros salmos celebram fatos que não conhecemos e de que não participamos. Por exemplo, Meriba e Massa (Sl 95,8). É difícil celebrar algo que a gente não viveu nem conheceu.
d) Tradução que não traduz
Nem sempre é possível traduzir de tal modo que as palavras brasileiras evoquem em nós o mesmo que as palavras hebraicas evocavam no povo daquele tempo. Uma Bíblia traduz: “Minha vida está ligada a ti, e tua direita me sustenta” (Sl 63,9). Naquele tempo, esta frase evocava a imagem tão familiar da criança agarrada nas costas do pai que a segura e a sustenta com os braços. Uma tradução mais fiel poderia ser: “Eu me agarro a ti, e tu me seguras com tuas mãos”. Traduzir não é fácil.
* Conhecido por seus estudos sobre a Bíblia - estudou em Roma e em Jerusalém - Frei Carlos Mesters, Carmelita da Ordem do Carmo, nasceu na Holanda em 1931. Missionário no Brasil desde 1949. Sacerdote desde 1957, doutor em Teologia Bíblica. É um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil e foi fundador CEBI - Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (1978). Atualmente reside no Convento do Carmo de Unaí-MG.
*OLHAR CARMELITANO: A Regra do Carmo- Coração puro e consciência serena”.
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Frei João Marcos Santos Oliveira, O. Carm
RESUMO
Reconhecendo a riqueza dos detalhes da Regra dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, este trabalho busca evidenciar o tema do “coração puro e consciência serena”, caminho místico de conversão e união esponsal com o Criador, abordando as características conceituais dos termos em destaque junto à leitura antropológica, contextualização teológica, intertextualidade bíblica e traços da história e tesouro da espiritualidade carmelitana.
O intento é aprofundar o conhecimento sobre este aspecto da espiritualidade carmelitana e abrir horizontes para uma vivência mais autêntica do carisma, à luz da tradição da Ordem e das necessidades atuais da Igreja de Cristo.
Ordem do Carmo – Regra Carmelitana – Coração – Consciência – Espiritualidade...
*Leia na íntegra. Clique aqui:
http://mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com.br/2017/02/regra-do-carmo-o-coracao-puro-e.html
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