Frio com fome é um inferno
- Detalhes
Claudio Considera
A surpreendente onda de frio dos últimos dias – que chegou até a cidades quentes, como Goiânia, Cuiabá e Rio de Janeiro –, demonstrou, mais uma vez, como nossa desigualdade socioeconômica é cruel e crônica.
Multiplicaram-se vídeos de crianças de pés descalços e sem agasalhos, idosos em casas com portas e janelas precárias, grávidas tremendo de frio e fome.
Sem emprego nem salários, não há comida, roupas quentes e muito menos moradias dignas para enfrentar queda de temperaturas. Além disso, o consumo dos pobres e de classe média baixa, a maior parte da população, nunca foi considerado mercado prioritário por aqui. Na maioria das vezes, pagamos caro por produtos de má qualidade.
Se o desequilíbrio ambiental nos obrigar a conviver com extremos de calor e de frio, a desigualdade ficará muito pior. A solidariedade ajuda, é claro, e há muitos bons exemplos disso.
Mas o que resolveria mesmo seria uma mudança estrutural que gerasse trabalho e renda, ainda longe de nosso horizonte como nação. https://oglobo.globo.com
Facebook amplia medidas de transparência para anúncios sobre temas sociais nas eleições
- Detalhes
A ação, que entrará em vigor no fim de junho, também vale para o Instagram
Levy Teles
O Meta, empresa responsável pela gestão do Facebook, Instagram e WhatsApp, anunciou, nesta quinta-feira, 19, a expansão das políticas de transparência em anúncios sobre temas sociais no Brasil, mais uma medida da plataforma para as eleições de 2022 no Brasil.
Perfis e páginas que quiserem veicular anúncios nas áreas de direitos civis e sociais, crime, armas, economia, educação, política ambiental, saúde, valores políticos e governança, imigração, segurança e política externa precisarão passar por um processo de autorização e as publicações terão um rótulo que indica quem está pagando por aquele anúncio. As medidas entrarão em vigor em junho.
Os rótulos já estão em atividade para anúncios de cunho político ou de eleições desde 2018 e passaram a ser obrigatórios em 2020. Como mostrou o Estadão, o recurso é usado por deputados federais e pré-candidatos à Presidência da República.
Qualquer usuário pode ter acesso às informações na biblioteca de anúncios, que armazena as publicações. É possível ter acesso a dados sobre a faixa etária, gênero e localidade do público alcançado nesses conteúdos.
“Mais transparência gera interações mais autênticas e anúncios mais autênticos”, disse a gerente de programas de resposta estratégica do Meta, Debs Delbart. “Entendemos que quando mais transparência na plataforma, mais as pessoas vão utilizar os nossos serviços de forma responsável, porque os dados estarão disponíveis para a consulta de todos.”
Quando a medida entrar em vigor, qualquer anúncio que passe sobre temas sociais, política e eleições no Facebook e Instagram e não tiver um dos rótulos poderá ser removido e ficará arquivado na biblioteca de anúncios durante sete anos.
Segundo Debs Delbart, a lista de categorias sociais não foi ainda divulgada para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e adiciona que os temas da lista podem passar por ajustes à medida que avançar o ano eleitoral.
A plataforma terá a ajuda de inteligência artificial e de uma equipe baseada no Brasil e um grupo internacional dedicados à regulação desse conteúdo. Usuários também podem fazer denúncias. A nível global, informa Delbart, a ferramenta já foi usada nas eleições das Filipinas, que ocorreram em maio deste ano, no México e Chile. Fonte: https://politica.estadao.com.br
Fotógrafo diz sofrer ataques virtuais após denunciar igreja evangélica por homofobia em Aracaju
- Detalhes
Instituição religiosa se recusou a batizar João Pedro Poderoso no dia da cerimônia por ser casado com outro homem; caso está sendo investigado
Fotógrafo João Pedro Poderoso e o marido Jadson Santana. Foto: Reprodução / Arquivo pessoal
Júnior Moreira Bordalo
O fotógrafo João Pedro Poderoso usou suas redes sociais no último final de semana para acusar a Igreja Presbiteriana Renovada de Aracaju, na capital de Sergipe, de homofobia. A vítima alegou que a instituição evangélica se recusou a batizá-lo por causa de sua orientação sexual e que, desde então, vem recebendo ataques de ‘fieis fervorosos’, que os acusam de tentar mudar as regras da religião. O sergipano é casado com o cabeleireiro Jadson Santana.
A celebração estava marcada desde o início de abril, mas o fotógrafo só teria sido avisado do “veto” diante da igreja lotada no domingo, 15. Em entrevista ao Estadão, Poderoso garantiu que participou de um curso preparatório de seis semanas e em nenhum momento foi informado que não poderia se batizar. “ Assisti o culto; deu-se início a cerimônia de batismo e uma moça subiu ao altar; falou com a filha do pastor, trocou as folhas, e, em seguida, o líder da igreja me chamou dizendo que o pastor queria falar comigo”.
“Fui para essa sala, chegando lá estava o pastor auxiliar. Trancou a porta e disse: ‘devido a um erro de comunicação, você não poderá se batizar por ser gay e casado com outro homem”, narrou. Ele contou que ficou em “choque” com a situação. “Como o pastor só veio saber [do meu matrimônio] agora se a filha e esposa dele frequentam o salão do meu esposo? Sem contar que nosso casamento foi algo com muita repercussão na cidade”, relembrou. Juntos há dois anos, Poderoso oficializou o relacionamento com Jadson no dia 30 de abril deste ano.
De criação católica, o fotógrafo explicou que passou a frequentar a Família Renovada justamente por causa do — então — namorado, que já congregava no espaço há dois anos. “Como estávamos juntos e acreditamos que um casal tem que seguir o mesmo caminho, decidi ir com ele. Não tinha como a igreja não saber da nossa relação”, indicou.
Após o relato, o caso ganhou repercussão na internet e, um dos pastores da igreja, Jeter Andrade, veio a público reforçando que a instituição está na cidade há 40 anos com a “convicção baseada na Bíblia. “Não somos guiados por discriminação, desrespeito e temos provado isso em cada ano”, falou.
“Em um dos cursos da nossa igreja, o Primeiros Passos, começamos a ensinar verdades básicas sobre a palavra de Deus. Na terceira lição, falamos sobre família e sexualidade, o que acreditamos de acordo com a palavra de Deus […] Todos são muito bem vindos à Família Renovada, mas nós não abrimos mãos dos princípios e valores da palavra de Deus”, prosseguiu o religioso.
Poderoso registrou um Boletim de Ocorrência no Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) do município. “Espero que a justiça seja feita; que eles possam de algum modo responder por tudo isso; pelo constrangimento que me fizeram passar”. Com a situação, eles decidiram deixar de frequentar o espaço. “Não podemos estar em lugar que não somos aceitos. Acreditávamos fazer parte, era só ilusão”.
Nesta quarta-feira, 18, ele se reuniu com um defensor dos direitos humanos para pedir auxílio, já que, desde a divulgação, disse estar enfrentando a pressão da igreja e ataques nas redes sociais. “Fieis dizendo que quero mudar as regras; destruir o que já está posto. Jamais quis isso. Estão a todo custo tentando me colocar como culpado da situação”, lamentou. “Fiquei altamente abalado. Não precisávamos dessa exposição, temos nossa vida estável. Só queríamos seguir com o alinhamento que defendíamos”, confessou.
COM A PALAVRA, A IGREJA PRESBITERIANA RENOVADA DE ARACAJU
A Igreja Renovada de Aracaju divulgou uma nota alegando que comunicação feita com o fotógrafo a respeito da impossibilidade de seu batismo se deu de modo reservado, em espaço privativo, na secretaria da igreja, sem publicitação das razões do impedimento, com o objetivo a evitar qualquer tipo de constrangimento. Confira:
“A Igreja Presbiteriana Renovada de Aracaju (IPRA) vem, através da presente Nota Pública, com respeito aos fatos ocorridos no domingo, 15, ao final da celebração dominical da manhã, informar que:
1 – A IPRA é uma igreja presente na sociedade sergipana há 40 anos, servindo ao Senhor acima de todas as coisas e amando ao próximo, conforme a Palavra de Deus nos ensina;
2 – Em todo este tempo, temos dado testemunho do amor de Cristo, recebendo e acolhendo a todos aqueles que nos procuram, sem qualquer distinção ou discriminação. Por nossos cultos, ao longo de todos esses anos, passam milhares de pessoas, sendo vidas impactadas, transformadas e restauradas. Grande parte dos que nos visitam, semanalmente, são membros ativos da IPRA, vinculados aos princípios e preceitos dos nossos Estatutos e principalmente da Bíblia Sagrada. Outros, congregam, mas não tomam parte da membresia da Igreja, sendo visitantes, frequentadores, todos com livre acesso e acolhidos com amor e cuidado;
3 – Para ser batizado e, posteriormente, membro da igreja, seguindo o que está definido em nosso Estatuto e nas Sagradas Escrituras, é necessário o atendimento de certos requisitos, conforme cada congregado ou visitante aprende no curso ‘Primeiros Passos’, onde se tem a oportunidade de conhecer profundamente os ensinamentos da Palavra de Deus e as normas da nossa IPRA;
4 – Neste domingo, um congregado, candidato ao batismo, por não estar apto, segundo as normas internas da IPRA e nossa regra máxima de fé e prática, a Bíblia Sagrada, não pôde participar do ato batismal”.
COM A PALAVRA, A IGREJA PRESBITERIANA RENOVADA DO BRASIL
Em nome de suas Diretorias Executiva e Administrativa, a Igreja Presbiteriana do Brasil tornou público o “apoio e solidariedade” à Igreja Presbiteriana Renovada de Aracaju. Em nota, a ordem justificou que a “A Igreja e o seu pastor Marcos Pereira de Andrade têm o respaldo da Constituição Federal, do Código Cil do Estatuto e Regimento interno da IPRB e do Acórdão do STF na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO 26, sendo que a Constituição Federal o imperativo princípio da liberdade religiosa”.
“A IPR de Aracaju, subordinada ao Estatuto e Regimento Interno da IPRB, tem a Bíblia Sagrada como única regra de fé e prática, seus valores e princípios, sendo contrária a quaisquer atos de intolerância, discriminação, preconceito ou desrespeito, cuja mensagem precípua é o compromisso de amor a Deus sobre todas as coisas e o próximo”. Fonte: https://politica.estadao.com.br
Fidelidade.
- Detalhes
Seres humanos gostam de criar normas, porém possuem um prazer maior em quebrá-las
Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo
Nossos códigos morais e jurídicos defendem a fidelidade conjugal. A tradição prega a construção de uma muralha ao redor de um casal. A norma proclama e a natureza reclama. Quase todo mundo percebe que corpo e alma não falam a mesma língua.
No livro do Deuteronômio (5,18), está dado como mandamento: não cometerás adultério. Gosto também da tradução antiga: não fornicarás. No inglês formal do século 17, a Bíblia do Rei James repete: Neither shalt thou commit adultery. O “neither” relembra que a lista de interditos começou antes, inclusive a proibição de matar no versículo precedente.
A norma funciona como todo princípio, solene ou trivial: fala do ideal. Descendo ao cotidiano, a nutricionista diz tudo que faz bem ao meu corpo e percebo que meu paladar parece me afastar do caminho correto. Aparentemente, fidelidade é água, alface, rúcula e sopa de chuchu; adultério é doce de leite, pastel frito, picanha e uma garrafa de bom vinho. A Bíblia também diz que o salário do pecado é a morte (Rom 6,23). Da mesma forma, a consequência da mesa livre é a gordura no fígado, o sobrepeso e o desgaste crescente da articulação do joelho...
Seres humanos gostam de criar normas, porém, acima de tudo, possuem um prazer maior em quebrá-las. Regras seduzem para a contravenção. Basta meu exame de sangue exigir um jejum que toda a fome do mundo me assalta naquela noite. Minha experiência com grupos: anuncie que, devido às características daquela estrada no interior da Mongólia, não poderemos parar para banheiro com 20 minutos. Pronto! Todos são atacados de cistite galopante e parece que tomaram diuréticos aos litros. Surge o desespero e necessitamos de boas soluções em pleno deserto de Gobi. Sim, os degredados filhos de Eva continuam focados na única árvore proibida e ignoram o vasto pomar a sua frente.
Quem dá aula sabe que toda norma contém, dialeticamente, seu pedido de exceção em sala de aula. Grupos de três? Pode quatro? Pode! E cinco? Como verifiquei ao vivo, aumentar as regras de uma prova provoca novos problemas. Respondam em ordem? Surge a pergunta: crescente ou decrescente? Mesmo princípio dos casamentos: sejam fiéis, casais! Pode ser grupo de três?
Seria nossa natureza? Machado de Assis coloca na boca de Deus a opinião: “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana”. Nos seres humanos eu tenho esperança média, porém em Machado deposito toda a minha confiança futura em melhorar minha maneira de escrever. Fonte: https://cultura.estadao.com.br
Internet, entre a benção e a maldição
- Detalhes
Documentário do Funcas reflete como o treinamento é essencial para evitar o "lado negro" da rede
CERVOS WATSON
Diz a psicóloga Julia Brailovskaia, do Centro de Pesquisa e Tratamento em Saúde Mental da Ruhr-Universität Bochum, que o smartphone e o restante dos dispositivos de acesso à internet são “uma bênção e uma maldição”. Segundo relatório da FAD Youth Foundation, é uma ferramenta fundamental e diária de comunicação (84,1%), busca de informações (83,6%) e lazer (79,9%). Mas, como qualquer ferramenta, ela precisa de um manual de instruções que, se ignorado, pode levar ao estresse, vício, imagens irreais, frustração, perda de autoestima, redução da atividade física, isolamento e desinformação que condiciona a visão de mundo e a tomada de decisão . De acordo com os especialistas que participaram do documentário Gosto / não gosto, produzido pelo centro de pesquisas econômicas e sociais Funcas e Deer Watson Films, a tecnologia está aí e a solução não é ignorá-la, mas saber usá-la.
Brailovskaia, principal autor de um estudo no Journal of Experimental Psychology: Applied, aponta uma primeira medida: “Não é necessário abrir mão do celular para se sentir melhor. Deve haver um uso diário ideal.” De acordo com os resultados deste estudo, quem reduz a sua utilização em pelo menos uma hora por dia regista melhorias no bem-estar.
Mas a redução do tempo de uso é uma solução obviamente temporária, parcial, insuficiente e ineficaz, pois o uso da Internet é inalienável. O mais importante é que, quando usado, se saiba como funciona e quais efeitos produz. Uma equipe da Universidade de Yale publicou um estudo na Science Advances no qual identifica um mecanismo perverso das redes sociais pelo qual, segundo Molly Crockett, do Departamento de Psicologia e coautora do trabalho, “as plataformas refletem o que está acontecendo na sociedade , mas também criam incentivos que mudam a forma como os usuários reagem ao longo do tempo.”
Desta forma, a pesquisa reflete como as redes podem ser uma fonte de bem social, motivando a cooperação, estimulando a mudança ou promovendo a recriminação de certas atitudes (como o machismo ou a xenofobia). Mas também, segundo os autores, “ tem um lado sombrio , contribuindo para o assédio de grupos minoritários, a disseminação de desinformação e a polarização política”.
O efeito perverso que carrega de um lado para o outro, segundo este estudo, baseia-se no fato de que os usuários cujas opiniões são mais compartilhadas ou recebem mais "curtidas" são aqueles com um discurso menos construtivo. Os usuários detectam esse viés e, de acordo com Crockett, "grupos moderados podem se radicalizar com o tempo".
Outro experimento nesse sentido, realizado pela Universidade de Nova York e publicado na Nature Communications, simulou uma rede social e descobriu que quem recebia mais reações tendia a postar mais. “Nossas descobertas podem ajudar a entender melhor por que as redes sociais dominam a vida cotidiana de tantas pessoas e também podem fornecer pistas para lidar com o comportamento excessivo online”, diz Björn R Lindström, da Universidade de Amsterdã e principal autor do estudo. Artigo.
Com estas duas experiências, antecipam-se as causas da maior dependência das redes e como isso condiciona o que se publica, que persegue mais adesões e reações do que a comunicação convencional e mesmo que não seja real.
Nesse sentido, a atriz Marta Etura, que já participou do documentário Curtir/não gostar sem filtros e com a imagem mais natural, explica: “As redes sociais têm uma parte que não gosto: mostrar apenas o que é bonito. A sociedade tende a classificar os sentimentos como bons ou ruins, bonitos ou feios e nos convida a criar uma realidade paralela que não é real e pode causar confusão quando se está em um lugar vulnerável ou em fase de desenvolvimento, como é o caso dos adolescentes”. Fonte: https://elpais.com/tecnologia
Prevenir a obesidade
- Detalhes
País deve mirar avanço da condição, que pode atingir 30% dos adultos em 2030
Nas duas últimas décadas, o aumento do sobrepeso e da obesidade na população brasileira vem configurando uma tendência tão consistente como preocupante.
Em 2006, quando a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico foi realizada pela primeira vez, 43% dos adultos encontravam-se acima do peso, isto é, com IMC (índice de massa corporal, peso dividido pelo quadrado da altura) entre 25 e 30, e 12% eram obesos (IMC acima de 30).
Hoje tais percentuais são de 57% e 22%, respectivamente.
A seguir nessa toada, o Brasil deverá ter, em 2030, cerca de 30% da população adulta obesa, segundo projeção da World Obesity Federation (organização voltada para prevenção da obesidade), tornando-se, em números absolutos, a quarta nação do mundo com mais pessoas com excesso de peso, depois de EUA, China e Índia.
É particularmente alarmante o ritmo de aumento da obesidade entre crianças e adolescentes. Esta deve crescer, em média, 3,8% ao ano, de 2010 a 2030, alcançando um total de 7 milhões de jovens —número classificado como muito alto pelo órgão internacional.
Esse enorme contingente tende a, no futuro, permanecer nessa condição, podendo vir a desenvolver alguns dos diversos males associados ao excesso de peso, como hipertensão e diabetes —para nada dizer do risco aumentado de complicações e mortes por Covid-19, como se constatou.
Atualmente, cerca de 9% da população com mais de 18 anos convive com diabetes e 26% apresenta hipertensão, num crescimento de 11,5% e 7,5%, respectivamente, ante o período anterior à pandemia.
Além de problemas individuais, o aumento da obesidade acarreta ainda uma série de impactos econômicos, tanto de forma direta, nos gastos do sistema hospitalar, como indiretas, caso da redução de capacidade produtiva.
Esse custo, calculado pela World Obesity Federation para o Brasil em US$ 39 bilhões, poderia mais que quadruplicar até 2060, chegando a US$ 181 bilhões. Mas as cifras, quaisquer que sejam, importam menos que a política de saúde.
O poder público tem um papel a desempenhar em relação a esse fenômeno, sobretudo em termos preventivos —fortificando as orientações nutricionais, principalmente na atenção básica à população, e estimulando todas as práticas de atividade física. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Mães de transgêneros compartilham os desafios das mudanças nos corpos dos filhos
- Detalhes
Médicos e psicólogos afirmam que apoio da família "pode salvar vidas"
Por Eduardo Vanini
Assim que terminou de ler a tese da filha, a aposentada Maria do Carmo, de 69 anos, passou a mão no celular e enviou a ela um áudio pelo WhatsApp. “Isso significa que você é uma mulher trans?”, perguntou, com a voz preocupada, após devorar as páginas que falavam sobre teoria de gênero e cena drag no Rio, com passagens autobiográficas. Ao responder que sim, a moça recebeu uma nova mensagem de voz: “Estou aqui para entender. Não vou te largar, você é minha filha”.
Era o que faltava para a atriz e escritora, de 33 anos, sentir-se segura para levar adiante a transição de gênero, concluída com uma homenagem a quem lhe deu à luz. Na hora de retificar os documentos, escolheu o mesmo nome da mãe, sem abandonar aquele que recebeu ao nascer. Passou a se chamar Maria Lucas. “Enfrentei um quadro depressivo provocado pela forma como a sociedade trata os nossos corpos. Só não me matei porque escrevi um livro (‘Esse sangue não é de menstruação, mas de transfobia’, editora Urutau) e por causa da relação com a minha mãe. É quando você entende que realmente importa para alguém”, conta a jovem, dizendo-se privilegiada. “Entre as minhas amigas travestis, talvez nenhuma tenha o mesmo apoio.”
Um amparo cujo valor é reconhecido por profissionais da saúde que atendem a essa população. Segundo o endocrinologista Daniel Gilban, à frente de um projeto para tratar da hormonização e da saúde mental de jovens transgênero no Hospital Universitário Pedro Ernesto, atitudes como a de Maria do Carmo incidem sobre a qualidade de vida dos pacientes. “Essas pessoas já sofrem muito, e não ter o apoio da família e dos amigos é grande parte disso”, afirma. “É uma população com altos riscos de depressão e até suicídio. Portanto, o acolhimento familiar salva vidas.”
Maria do Carmo, ou Carminha, como é mais conhecida, nem consegue se imaginar agindo de outra maneira. Para apoiar a filha da melhor forma possível, buscou ajuda no grupo Diversidade Católica, voltado à população LGBTQIAP+, desde que a moça saiu do armário pela primeira vez, inicialmente como um homem gay. “Quando a Maria tinha uns 17 anos e falou que era viado, quase morri. Mas logo depois aceitei, e ela virou um viado lindo, que agora foi-se embora... Passou a ser uma mulher linda”, diz, aos risos.
Enquanto os debates sobre gênero e identidade avançam, algumas mães tentam decifrar os sinais emitidos ainda na infância. É o caso de Thamirys Nunes, autora do livro “Minha criança trans?” e mãe de Agatha, de 7 anos. Ela conta ter percebido o desconforto da garota com o gênero que lhe fora atribuído ao nascer desde os 2 anos. Aos 4, a compreensão ficou ainda mais clara diante de frases como “se eu morrer, posso nascer menina?” ou “me chama de filha só hoje para eu ficar feliz?”. “Entendemos que era algo profundo e buscamos ajuda”, narra a mãe, que acionou psicólogos e, embora seja moradora de Curitiba, encontrou no ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, o caminho a ser percorrido.
Segundo ela, desde que a filha assumiu a identidade desejada e teve a certidão de nascimento retificada, deixou de ser uma criança com sinais de tristeza profunda para se tornar alegre e extrovertida. “Ela ainda é pequena para fazer qualquer tratamento hormonal. Agora, o que podemos oferecer é o nome social, os brinquedos, as roupas e os acessórios de que gosta. A primeira coisa que pediu foi uma camisola, depois, os brincos”, diz a mãe, que criou o perfil @minhacriancatrans, onde tem 78,6 mil seguidores, para mostrar os avanços da menina e ampliar o debate sobre o assunto.
Tornar essa história pública, porém, requer determinação. Thamirys é frequentemente atacada nas redes e move cinco ações na Justiça contra pessoas que considera terem passado dos limites. “Resolvi tornar a nossa história pública justamente por perceber como se falava pouco sobre o assunto e havia mais famílias precisando de ajuda. Em meio aos ataques, doeram mais as agressões feitas por pessoas próximas, que me acusam de ser disfuncional ou de influenciar minha filha. Fora isso, simplesmente apago os comentários e sigo em frente. Não bato boca. Não dá para colher rosas sem tocar nos espinhos.”
Se Agatha é muito pequena para iniciar os tratamentos hormonais, algo que começa a ser discutido somente com a chegada da puberdade, o cineasta Vicente Bem Medeiros, de 34 anos, tem a hormonização religiosamente acompanhada pela mãe, a empreendedora Mônica Vieira, de 61. “Sempre falo com ele sobre a importância de estar em dia com saúde. Digo: ‘Você precisa pensar no homem que deseja ser quando chegar aos 60 anos’”, salienta a mãe, que também passou a comprar cuecas para o rapaz, desde que ele saiu do armário pela terceira vez. Primeiro, como mulher bissexual; depois, como “sapatão”; e, por fim, como trans masculino. “Quando conversamos sobre isso, falei: ‘Vamos para a parte técnica para eu não errar’”, recorda-se Mônica, sobre o interesse em saber como o filho gostaria de ser tratado. “Pedi pelo menos um ano e disse para não ficar triste se eu errasse o nome, já que estava treinando. Não posso dizer que é fácil, mas amo tanto o meu filho, que não conseguiria agir de outra maneira que não fosse acolhê-lo.”
Diante do empenho da mãe em se inteirar das mudanças, Vicente a pediu que o ajudasse na escolha de seu novo nome, experiência que os aproximou ainda mais durante o processo. “Foi muito simbólico, já que considero um renascimento”, afirma o cineasta. “Sempre tive o apoio dela, e isso é encorajador. Afinal, por mais difíceis que as coisas fiquem, você tem um lugar para onde voltar.”
Histórias do tipo corroboram um comportamento observado pelo psicólogo João Henrique de Sousa Santos no trabalho como coordenador do Ambulatório de Saúde Mental de Atendimento às Pessoas Trans do Centro Universitário de Belo Horizonte. Segundo ele, as mães transicionam junto com os filhos, de certa forma. Isso porque a maternidade é cercada por idealizações ligadas aos padrões impostos pela sociedade, como a velha história do quarto azul para meninos, e rosa para meninas. “Uma pessoa trans é alguém que cruza essas idealizações e vai produzir outros modelos de existência”, afirma. “Para muitas mães, isso é difícil justamente porque elas se sentem feridas nessas expectativas. Mas aquela que acolhe passa a se posicionar com outra perspectiva diante da própria maternidade, que transcende a dimensão biológica e passa a ser algo político.”
João diz que isso acontece porque elas também são questionadas sobre as mudanças por pessoas próximas. Não é de se estranhar, portanto, que muitas busquem unir forças e criem mecanismos como a ONG Mães pela Diversidade. Fundada há oito anos em São Paulo por apenas uma mãe, a iniciativa reúne atualmente cerca de duas mil participantes em todo o Brasil, dispostas a dialogar com mulheres que tenham filhos LGBTQIAP+ e precisem de ajuda. “Estimo que, a cada cinco mães que nos procuram, três têm filhos e filhas trans”, comenta a coordenadora da ONG em São Paulo, Clarice Cruz Pires. “Por isso, criamos um grupo exclusivo para elas.”
Segundo a coordenadora, a transfobia e a violência são as maiores fontes de medo e insegurança para essas mães. Boa parte teme, ainda, a rejeição pelo restante da família. Por isso, Clarice costuma reiterar que precisam de tempo para conseguir lidar com a situação. “Não podemos achar que, ao chegarem até nós, estarão na Parada LGBTQIAP+ no mês seguinte”, ilustra, dizendo que o trabalho já fez com que algumas desistissem de abandonar os filhos. “Entendemos a origem do sofrimento, vamos conversando e indicamos ajuda psicológica, se necessário. Quando elas se mostram aptas a avançar, permitimos que entrem num grupo de WhatsApp com 190 participantes, onde podem tirar dúvidas sobre como ajudar os filhos na transição.”
O medo da violência, de fato, foi citado por todas as mães entrevistadas nesta reportagem, assim como a felicidade dos filhos foi invariavelmente mencionada como combustível para seguirem em frente. Vera Lúcia, de 67 anos, é mãe da professora Dani Balbi, de 33, e foi ela mesma quem cuidou da moça, após a cirurgia de confirmação de gênero, feita há cinco anos, graças aos anos de atuação como técnica em enfermagem. Uma história que enche ambas de orgulho. “É um procedimento muito delicado, e minha mãe ficou o tempo todo ao meu lado, fazendo os curativos, ajudando na minha recuperação”, recorda-se a professora.
Vera lembra que, na época, não foi avisada sobre a cirurgia na véspera. “A Dani não queria que eu ficasse preocupada, pois sou hipertensa”, narra. A filha só telefonou para relatar a novidade quando já estava no quarto e havia acordado da anestesia. O diálogo travado naquele instante jamais será esquecido. “Quando atendi, ela disse que havia dado tudo certo e completou: ‘Sou a mulher mais feliz do mundo’. Na mesma hora, pensei: ‘Então, sou a mãe mais feliz do mundo’.” Fonte: https://oglobo.globo.com
O valor inestimável da imprensa livre
- Detalhes
O extremismo nas redes sociais, a desinformação e a agressividade de autocratas e iliberais estão deteriorando um dos principais pilares da democracia
A democracia e a liberdade de imprensa são tão visceralmente ligadas que é impossível dizer qual é a causa e qual a consequência. Os dados comprovam as associações entre a imprensa independente, democracias vibrantes e corrupção limitada. Não surpreende, portanto, que a recessão da democracia na última década seja espelhada pela deterioração da liberdade de imprensa. Essa deterioração é, a um tempo, sintoma e causa dessa recessão.
O extremismo nas redes sociais, a epidemia de desinformação, a agressividade dos regimes autocráticos e dos populistas iliberais e, no Brasil, a disputa dos dois movimentos mais hostis à imprensa na Nova República, o bolsonarismo e o lulopetismo, tornam mais relevante do que nunca celebrar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, neste 3 de maio.
De acordo com a Freedom House, uma instituição de monitoramento da democracia, só 13% da população mundial goza de uma imprensa livre. As autocracias movem uma ofensiva para provar que a prosperidade pode ser conquistada sem ela.
A guerra deu a Vladimir Putin o pretexto ideal para recrudescer o controle sobre a mídia russa, desativar redes sociais, perseguir jornalistas e criminalizar dissidentes. O Partido Comunista Chinês construiu o aparato de censura mais sofisticado do mundo e tem expandido sua influência sobre veículos no exterior para promover sua propaganda e suprimir críticas.
No Ocidente, a promessa das redes sociais de ampliar o pluralismo e a liberdade de opinião fracassou: dominadas pelos extremos à direita e à esquerda, milícias virtuais e agentes de desinformação autocráticos, elas se parecem cada vez menos com um governo do povo e cada vez mais com um governo dos truculentos.
O problema não são tanto as publicações tóxicas, mas seu alcance e influência. A lógica de impulsionamento dos algoritmos favorece o sensacionalismo e a agressividade. Há um consenso sobre a urgência de regulações que reduzam a atuação dos robôs e trolls e restituam o espaço à maioria silenciosa e exausta, mas há pouco consenso sobre quais devem ser.
A polarização e a “infodemia” exacerbaram a desconfiança em relação à imprensa explorada por líderes iliberais. Eles vêm desenvolvendo um kit de ferramentas econômicas, legais e extralegais para silenciar mídias independentes e anabolizar as correligionárias. Na Hungria o controle está praticamente consolidado. Entre as táticas de intimidação do ex-presidente americano Donald Trump estão ameaças de recrudescer leis de difamação, revogar licenças de veículos de comunicação e prejudicar seus negócios.
No Brasil, Lula da Silva suscita recorrentemente a velha ambição de “controle social da mídia”, não tendo pudores de invocar a propósito sua admiração por ditaduras como Cuba, Venezuela ou China.
Dos princípios da administração pública, possivelmente o mais brutalizado pelo presidente Jair Bolsonaro foi o da transparência. A imprensa criou um consórcio para garantir informações confiáveis na pandemia, e veio dela a denúncia de um orçamento secreto para distribuir verbas a correligionários.
Pari passu com a difusão de notícias falsas e discursos de ódio, insultos, estigmatização e humilhações públicas de jornalistas são métodos empregados sistematicamente pelo bolsonarismo. A Federação Nacional dos Jornalistas registrou um pico de ataques verbais e físicos a profissionais de imprensa. Só em 2020 foram 428. Bolsonaro foi autor de 175 agressões verbais. No mesmo ano, segundo a organização Artigo 19, ele deu em média 4,3 declarações falsas ou enganosas por dia.
Como disse um dos fundadores da democracia moderna, Thomas Jefferson, o experimento democrático se presta a provar que os seres humanos podem ser governados pela razão e pela verdade. “Nosso primeiro objetivo deveria ser, portanto, abrir a eles todas as avenidas para a verdade. E a mais eficaz encontrada até agora é a liberdade de imprensa. Logo, ela é a primeira a ser obliterada por aqueles que temem a investigação de suas ações.” Mais de 200 anos depois, nunca essa obliteração atingiu níveis tão alarmantes. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Uma conversa com Mauricio de Sousa sobre a (Dona) Morte
- Detalhes
Sempre foi sobre a vida
Quando estava escrevendo a primeira matéria como autora aqui no Morte sem tabu, sobre a primeira morte com que tive que lidar na minha vida, comecei a tentar me lembrar qual havia sido meu primeiro contato com o assunto.
E me surpreendi pensando que, provavelmente, tinha sido por meio das revistinhas da Turma da Mônica.
A personagem Dona Morte faz parte da Turma do Penadinho, criada por Mauricio de Sousa na década de 1960. Como leitora fiel dos gibis e almanacões da Turma da Mônica desde que aprendi a ler, na década de 1980– e até hoje, ainda que com menos frequência–, já vi centenas de histórias da turma que vive no cemitério. Foi certamente em uma delas que li a palavra morte pela primeira vez na minha vida.
Eu e, com certeza, muitas outras pessoas.
O tamanho do impacto da Turma da Mônica não é nenhuma novidade. Trata-se do quadrinho brasileiro mais publicado no mundo, com mais de um bilhão de gibis vendidos. As criações de Mauricio de Sousa já foram reproduzidas em mais de 100 países.
Ainda assim, a percepção de que milhões de pessoas podem ter encontrado sua primeira referência sobre o maior tabu da vida moderna pela primeira vez nessas histórias me fez querer conversar sobre isso com o Mauricio de Sousa, um astro para a minha geração, de qualquer maneira. Eu já vinha querendo escrever sobre a Dona Morte, mas entendi que uma matéria sobre ela sem a presença do seu criador não fazia sentido.
E eis que trago aqui uma das conversas mais legais e generosas que já tive. Não acho justo recortar só um pedacinho deste bate-papo, que foi muito mais do que uma entrevista, e guardar o resto só para mim.
Agradeço a Camila Appel, ao Mauro de Sousa e ao Jal, por permitirem esse encontro, mesmo que não– ainda, espero– presencialmente. E, também, a Julia, 11 anos, e a Alice, 7, grandes curadoras da arte dos gibis.
O começo da filosofia do fim
Mauricio Araújo de Sousa é, sem dúvidas, uma das pessoas mais conhecidas do país. É o mais famoso e premiado cartunista brasileiro. Nem todo mundo sabe que ele é membro da Academia Paulista de Letras, onde ocupa a cadeira de número 24, e que seu primeiro ofício foi como repórter policial, mas posso apostar que pouquíssimos brasileiros desconhecem o criador da Turma da Mônica.
- Foi ótimo passar pela Folha como repórter, minha relação com ela é muito especial.
- Deixa eu anotar aqui para incluir na matéria e fazer um carinho na dona da casa.
Sua primeira tirinha, com o cachorrinho Bidu, foi publicada em 1959, na Folha da Tarde, ainda como repórter. De lá para cá, já são mais de 400 personagens. Mais de uma dezena deles fazem parte da Turma do Penadinho, um fantasminha de bom coração, criado em 1963.
A criação da Dona Morte, segundo Mauricio, remonta a sua infância em Mogi das Cruzes (SP). Ele e seus irmãos sempre iam com a mãe ou a avó aos velórios, nas casas das pessoas. "Eu estive até mesmo com algumas pessoas em seus últimos minutos de vida". Mauricio percebia a tristeza, aquela sensação de perda no choro das famílias, mas via aquele rito como algo natural –a morte como uma parte necessária da vida.
"Na conversa das pessoas de antigamente, minha avó, meu bisavô, era tão natural o ciclo da vida e da morte, que isso era repassado para os filhos, os netos. Nós percebíamos como algo realmente natural: triste, mas não lancinante. E com isso, no momento em que eu estava fazendo história em quadrinhos, eu achei que podia falar alguma coisa sobre a morte de outra maneira: não com choro, com tristeza, que eu podia fazer um pouco de filosofia".
"Não me olhe assim, é o ciclo da vida", diz a Dona Morte na história "Os animais", da Turma do Penadinho (Mônica n. 45 de 2019), que retrata a tristeza de crianças que perderam seus bichinhos de estimação –para muitas pessoas, certamente, a primeira perda significativa da vida.
A narrativa do Mauricio sobre os velórios que o fizeram perceber a morte com a naturalidade que lhe é inerente me remeteu ao livro "História da Morte no Ocidente", de Philippe Ariès. O historiador narra que apenas no último século a morte se tornou um tabu. Antes, "a partir do momento em que alguém ‘jazia no leito, enfermo’, seu quarto ficava repleto de gente, parentes, filhos, amigos, vizinhos e membros de confrarias. As janelas e venezianas eram fechadas. Acendiam-se os círios".
Com a retirada da morte de dentro das nossas casas e seu deslocamento para os hospitais, as funerárias e os cemitérios, perdemos a familiaridade com a sua existência.
O ciclo
Talvez isso não acontecesse se a gente nunca parasse de ler as histórias da Turma da Mônica, eu disse para o Mauricio.
"Fico lisonjeado", ele respondeu.
A Turma do Penadinho faz com que termos fúnebres e pouco palatáveis para a maioria das pessoas, como cemitério, caixão, túmulo, alma penada, cremação e morte – ao vivo e a cores – se tornem agradáveis. Fiz uma associação à leveza das histórias, ao humor dos personagens. Mas Mauricio me deu uma resposta genial.
"Sabe o que é, Cynthia? É que todos eles são muito vivos. Depende do nosso olhar, da nossa sensibilidade e às vezes até para que a gente entenda a saudade que a gente tem".
Suas palavras me fizeram pensar nas de Santo Agostinho: a morte não é nada/eu somente passei/para o outro lado do Caminho/Eu sou eu/vocês são vocês/o que eu era para vocês/eu continuarei sendo.
Uma vez escrevi que nós, humanos, somos todos feitos do mesmo material, finito. Mas cada um de nós é infinito. De possibilidades, de memórias que fazem com que renasçamos constantemente e, assim, existamos enquanto formos saudade de alguém. A vida termina. Mas nós não terminamos.
Como me disse Mauricio, somos continuação.
O ciclo natural da vida e da morte é cuidadosamente retratado em muitas das histórias da Dona Morte. Mas não apenas nelas.
Na história "O Ciclo" (Cebolinha n. 45 de 2019), assinada pelo próprio Mauricio, Cebolinha pergunta ao pai se seu cãozinho, Floquinho, ficará para sempre com eles. O Seu Cebola responde que uma vez fez a mesma pergunta ao seu pai, avô do Cebolinha, e ele disse que "na natureza da vida… todos têm um ciclo!", que "todos nós temos um começo, um meio… e um fim". "Mas o que mais importa é o amor que podemos compartilhar enquanto estamos aqui". "Dar o melhor de nós para aqueles que passam pelo nosso caminho… pelo tempo que estivermos juntos!".
Uma história muito famosa para além dos fãs da Turma da Mônica é a da irmã do Chico Bento, Mariana, como me lembrou José Alberto Lovetro, o Jal, jornalista e cartunista que é também assessor de comunicação do Mauricio. A personagem é representada por uma estrelinha, que retorna ao convívio das demais estrelas no céu depois de adoecer e morrer.
Comentei com o Mauricio sobre a extrema sensibilidade dessa história, que tem uma passagem que diz "Luto tanto pra ficar… luto tanto, tanto…". Marianinha, como é carinhosamente chamada pelo irmão, está falando sobre a sua luta para continuar com a sua família. Mas a leitura imediatamente remete ao luto. Tanto luto. Tanto.
Pura realidade
Eu perguntei para o Mauricio se ele havia pensado no tamanho do impacto de uma personagem como a Dona Morte em um quadrinho para crianças. Perguntei se ocorrera a ele que seria o primeiro contato de muita gente com o assunto, assim como foi comigo.
Ele respondeu categoricamente que sim. "Eu achei que poderia e deveria fazer, até porque tem até anjinho na história, tem o outro lado. Eu acho que nós devemos colocar tudo que puder, de alguma maneira, levar algum tipo de informação que seja positiva, quando a gente trabalha para crianças".
Lendo gibis mais recentes para escrever esta matéria, algumas frases me reportaram a discussões muito profundas sobre a finitude humana. O "pouco de filosofia" de que Mauricio havia falado é, na verdade, muita filosofia. Mencionei a história "Classificados", da Turma do Penadinho (Almanaque da Turma da Mônica n. 06 de 2021), em que ao ouvir de uma de suas vítimas que era muito jovem, a Dona Morte responde: "Você sabe que comigo esse negócio de idade não funciona!".
Contei que essa história me remeteu ao texto que escrevemos no ano passado sobre Marília Mendonça, aqui no blog. Sabemos que pessoas morrem o tempo todo, em todo lugar. Sabemos que estão vivas e que no segundo seguinte não estão mais. Mesmo jovens. Mesmo jovens demais. Mesmo saudáveis. Mesmo saudáveis demais. Mas quem morre é sempre o outro. Até que não é mais.
"Pura realidade", disse Mauricio.
Perguntei se as histórias da Dona Morte têm alguma orientação especial para serem roteirizadas.
Ele respondeu que conversa com a equipe sobre os comportamentos e as personalidades de cada personagem. Mas que, como a maioria dos roteiristas leu muitas histórias, eles já sentiram e apreenderam suas características, "menos de um deles, que é o Horácio, que é um pouco tabu, mas em um outro sentido. O Horácio é o meu alterego, então eu não consegui passar para a equipe, porque eles não conseguem pegar toda a minha filosofia, tudo que eu sinto de um jeito muito particular. Tentei várias vezes, com diversos roteiristas, mas não era eu, não era o Horácio".
Sobre a Dona Morte, Mauricio diz que a equipe assimilou os cuidados para manter a Dona Morte bem ativa e bem viva. Aliás, bem feminina.
Insisto se há alguma premissa específica para essa personagem.
"Nenhuma história pode ser triste. Sempre é de alguma maneira um aprendizado".
Realmente, as histórias com a Dona Morte são sempre divertidas. Muitas vezes, ela confunde a pessoa a ser levada com ela, o que enseja situações muito engraçadas. Perguntei se existe alguma intenção específica com essa forma de narrar as aventuras da morte. Mauricio respondeu que é uma forma de quebrar a imagem da dureza da morte a partir de suas fraquezas, dos apuros por que passa.
Aliás, a humanização da Dona Morte é levada muito a sério. É ela a responsável pelas atividades domésticas do cemitério, o que a faz ter que lavar roupa, arrumar cama (lápide), ir ao supermercado e dizer que as coisas estão "pela hora da morte".
Sempre foi sobre a vida
Dona Morte, como não poderia deixar de ser, também trabalha muito. De vez em quando, ela reclama da concorrência.
Mauricio acredita que ela realmente tem "uma bela concorrência com os seres vivos aqui". "Aliás, olha aí o que estamos passando agora", ele me diz.
Aproveito para perguntar se houve alguma história da Turma da Mônica que mencionou a pandemia. Em uma entrevista dada para a PUC-Rio em 2004, o criador da Turma da Mônica disse que evita falar sobre fatos reais que podem trazer memórias desagradáveis ao leitor.
"Essa preocupação continua da mesma maneira, a ponto de, por exemplo, durante a pandemia, naqueles tempos em que estavam sendo mostrados cemitérios imensos, cruzes, eu pedi ao pessoal para evitar desenhar cemitérios com cruzes nas histórias. Seria olhar para a história e lembrar daquelas fotos muito tristes. A pandemia esteve próxima da maioria dos leitores e eu preferi não mencionar".
Por outro lado, ele registra "a obrigação, junto ao nosso público, de informar, como quando o Cascão lavou as mãos. Eu liberei o Cascão para lavar as mãos com sabão e um sorriso no rosto. Isso marca e ajuda as pessoas a se lembrarem dos cuidados necessários, lembrar de vida, não de morte".
- Você tem uma preocupação muito grande de que a morte ajude a pensar sobre a vida né, Mauricio?
- Exatamente, esse aparente contrassenso.
Em muitas histórias, a Dona Morte conversa com as suas vítimas antes da passagem para o outro lado do caminho. Toma até café com biscoito. Na entrevista para a PUC, ele diz que gostaria de pensar em uma morte "que chega com um papo, uma explicaçãozinha, uma marquinha no caderno dizendo que chegou a nossa hora".
Acho que Mauricio nos ajuda a fazer essa conversa prévia. A cada vez que a morte nos lembra que nosso tempo por aqui é limitado, podemos pensar mais no presente– e viver da melhor maneira possível.
A propósito, no novo arco da Turma da Mônica Jovem, chamado "Uma luz que se apaga", os jovens enfrentarão uma perda e terão que aprender a conviver com o luto. O ciclo natural da vida- que inclui a morte- foi indicado como a história da edição. Conforme o texto de divulgação que a assessora de comunicação Bete Nicastro gentilmente me encaminhou, a ideia não é transmitir uma mensagem de tristeza ou desmotivação, pelo contrário: "é um ensinamento de vida, que apesar de sua fragilidade, não nos impede de viver, de sonhar, de acreditar e, principalmente, realizar".
Que assim seja.
Aliás, ainda não acredito que conversei sobre a morte com Mauricio de Sousa- também Araújo, como eu, ele destacou ao perguntar o meu nome todo. Foi um desses momentos que fazem valer a nossa vida inteira. Aliás, é sobre vida. Sempre foi sobre a vida.
- Mauricio, sei que já tomei muito o seu tempo. Mas posso fazer uma última pergunta?
Ele tem a infinita generosidade do Horácio.
- Por que não tem atração da Turma do Penadinho no Parque da Mônica?
- Não tem ainda. O pessoal está até reclamando que não tem, mas no parque antigo tinha.
- Quero levar a minha filha.
- Quantos anos ela tem?
- Dez meses.
- É você quem quer ir, né?
- Isso.
- Ela deve ser uma fofura.
- É sim. Minha única filha. Ainda estou na fase do encantamento.
- O encantamento vai continuar. E aumentar.
Obrigada, Mauricio. Infinitas vezes, obrigada. Por mim, pela minha geração. E também pelas de antes, as de agora e as do futuro.
Cynthia Pereira de Araújo
Doutora em Direito pela PUC-Minas, com doutorado-sanduíche pela Universidade de Vechta/Alemanha (bolsista Capes-Daad). Autora da obra. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Instagram altera algoritmo e vai priorizar conteúdos originais de criadores
- Detalhes
Influenciadores terão mais visibilidade no feed em relação a criadores que repostam conteúdo
Nesta quarta-feira, 20, o Instagram anunciou novos recursos na plataforma que, segundo a empresa, buscam dar maior visibilidade para criadores que produzem conteúdo original e exclusivo na plataforma. Em outras palavras, o algoritmo da empresa deve dar mais relevância a posts que não são republicações de outros usuários. As novidades foram apresentadas pelo diretor do Instagram, Adam Mosseri.
Além das mudanças no algoritmo, outras duas novidades também foram anunciadas na quarta. A primeira delas é a possibilidade de marcar produtos nos posts, função que estava liberada apenas para alguns usuários e agora se torna universal.
A outra mudança é uma nova ferramenta para gerenciar posts em que o usuário foi marcado. A partir de agora, será possível criar uma categoria dentro do seu próprio perfil para exibir posts em que você foi marcado. A função é voltada para perfis de marcas ou fotógrafos, por exemplo, que terão mais uma maneira de divulgar seus trabalhos.
Conteúdo original
No anúncio das novidades, o diretor do Instagram, Adam Mosseri, destacou o quão importante são os criadores de conteúdo original para a rede e que as mudanças buscam dar mais crédito e visibilidade para esses perfis.
“Criadores de conteúdo e influenciadores são incrivelmente importantes para o futuro do Instagram e nós queremos ter certeza de que eles estão tendo sucesso na plataforma e alcançando todo o crédito que merecem”, afirmou Mosseri. “Se uma pessoa posta algo que ela mesma criou, é necessário dar mais crédito a essa pessoa em relação a quem está apenas recompartilhando conteúdo”, acrescentou o diretor do Instagram. Fonte: https://link.estadao.com.br
O fim da emergência sanitária
- Detalhes
Próximos passos para a superação da pandemia dependerão de orientação do Ministério da Saúde, mas ainda não há nenhuma
Após mais de dois anos e 660 mil mortes, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou em cadeia nacional o fim da Emergência em Saúde Pública Nacional da covid-19. O anúncio condiz com as taxas de vacinação e as quedas de casos e internações. Mas, como sempre ao longo desta crise, as autoridades e a sociedade precisarão seguir duplamente vigilantes: com o vírus e com seu presidente.
A Organização Mundial da Saúde apresentou alguns cenários para a pandemia. O mais provável é que variantes do vírus sigam circulando em ondas intermitentes, mas sua gravidade diminua por causa da imunização vacinal ou natural. Na pior das hipóteses, uma nova variante altamente virulenta e transmissível pode exigir o retorno das medidas emergenciais.
Aconselhado por técnicos da pasta e da Anvisa, o ministro iniciará um período de transição. Isso é importante, porque o fim da emergência impacta 172 regras do Ministério, como a aplicação de vacinas em caráter emergencial, as compras de medicamentos e insumos ou os repasses aos governos subnacionais.
Nos próximos dias, a pasta editará um ato regulamentando a transição. Normalmente, o seu acompanhamento seria uma mera rotina técnica. Mas será preciso redobrar a atenção. A depender do presidente Jair Bolsonaro, o governo tentará fazer o País esquecer a pandemia por decreto.
A julgar pelo seu desempenho durante a crise, não se pode contar com o Planalto, por exemplo, para as campanhas de conscientização. O ministro falou que a população continuará a “conviver com o vírus”, mas não deu qualquer instrução sobre como será essa convivência. Quais cuidados serão necessários com os grupos de risco? Quais as medidas de contingência ante eventuais reveses? Quais os detalhes sobre a compra de vacinas?
É sintomático que o presidente tenha se furtado a fazer pessoalmente um anúncio tão significativo. Para qualquer liderança no mundo, seria uma oportunidade de confraternizar com a população, adverti-la sobre os desafios, relembrá-la das medidas do governo e, naturalmente, capitalizar apoio. Mas a pandemia é um passivo do qual Bolsonaro quer se livrar.
Desde o início, ele fez de tudo para minimizar a gravidade do vírus, sabotar as estratégias apontadas por especialistas e adotadas pelos Estados para contê-lo e colocar em xeque a segurança e a eficácia das vacinas. Dois ministros caíram por se recusar a endossar medidas anticientíficas. O vácuo de comunicação, que obrigou a imprensa a mobilizar um consórcio para disponibilizar informações confiáveis, foi acompanhado de uma torrente de desinformações saídas diretamente do Planalto.
A CPI da Pandemia evidenciou condutas potencialmente criminosas, como a recusa do governo em firmar contratos para aquisição de vacinas, a propaganda de medicamentos comprovadamente ineficazes e a ofensiva para obliterar medidas sanitárias dos governadores e prefeitos. Os indícios de improbidade e corrupção na compra de vacinas foram tantos que o próprio Bolsonaro se viu obrigado a rifar seu leal sabujo no Ministério da Saúde, o intendente Eduardo Pazuello.
Mais do que os desmandos administrativos e jurídicos, a atuação de Bolsonaro ficará indelevelmente gravada na história da infâmia nacional – e internacional – pela sua indigência moral. À população aflita, seu presidente reservou inúmeras falas de escárnio (“gripezinha”, “e daí?”, “não sou coveiro”) e nenhuma de compaixão.
A omissão envergonhada do presidente no anúncio do fim da emergência é só mais uma que contrasta com a atuação dos demais Poderes da República, autoridades regionais e, sobretudo, da população. Se ela não tivesse aderido diligentemente aos protocolos sanitários e à imunização, o desastre seria muito pior. Enquanto se aguarda a responsabilização de Bolsonaro, espera-se que o País seja igualmente diligente na transição para o pós-pandemia. Acima de tudo, espera-se que a memória do eleitorado não tenha pernas tão curtas quanto as mentiras de Bolsonaro na hora de retribuir nas urnas tantas mortes desnecessárias e tanto opróbrio para a Nação. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Centro Dom Bosco sofre nova derrota na Justiça e Porta dos Fundos segue invicto na Justiça
- Detalhes
Por Ana Cláudia Guimarães
Centro Dom Bosco sofre nova derrota e Porta dos Fundos segue invicto na Justiça | Reprodução
A 6ª Câmara Cível do Rio, por três votos contra um, negou a apelação do Centro Dom Bosco de Fé e Cultura que seguia tentando uma decisão contra o Porta dos Fundos e a Netflix em razão da veiculação do Especial de Natal, "A primeira Tentação de Cristo", lançado em 2019.
A decisão confirmou o entendimento de que “não compete ao Estado laico intervir em prol de determinados grupos” privilegiando, portanto, a liberdade de expressão.
O Porta dos Fundos segue invicto na Justiça, vencendo até hoje todos os processos que sofreu na tentativa de censura de seus conteúdos. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
Sobe para 10 número de mortos em deslizamento de terra em Angra dos Reis; RJ tem 18 óbitos
- Detalhes
Dois corpos foram encontrados pela equipe de resgate no bairro Monsuaba na madrugada desta segunda-feira. Uma pessoa ainda é procurada no local e até quatro na Ilha Grande, diz Defesa Civil.
Por g1 Sul do Rio e Costa Verde
Mais dois corpos foram encontrados na madrugada desta segunda-feira (4) por equipes de resgate que trabalham nas buscas por desaparecidos no deslizamento de terra em Angra dos Reis (RJ). Com estas novas vítimas, a cidade já registra 10 mortes na queda de barreira no bairro Monsuaba. As informações são da Defesa Civil.
No local, uma pessoa ainda é considerada desaparecida. Também estão sendo procuradas até quatro pessoas que poderiam estar soterradas, segundo relatos da comunidade local, em um deslizamento de terra que destruiu a Praia de Itaguaçu, na Ilha Grande. As buscas seguem na manhã desta segunda-feira.
Desde sábado (2), o estado do RJ já soma 18 óbitos provocados pela chuva. Além das 10 mortes confirmadas em Angra dos Reis, também ocorreram sete óbitos em Paraty, onde uma mulher foi soterrada junto com seis filhos. Em Mesquita, um advogado morreu eletrocutado ao tentar ajudar uma pessoa.
Os corpos encontrados em Angra dos Reis foram levados para o Instituto Médico Legal da cidade, que pede para que os familiares compareçam à unidade para fazer o reconhecimento.
Ainda não há informações sobre as duas últimas vítimas. As demais foram identificadas como:
1-Samuel Cardoso dos Santos, de 3 anos
2-Laura, de 7 anos
3-Rafael Cardoso de Carvalho, de 11 anos
4-Miguel Bernardo Magalhães Lopes, de 11 anos
5-Rodrigo Teotônio, de 31 anos
6-Francisca de Sena Cardoso, de 46 anos
7-Antônio Cândido Cardoso, de 68 anos
8-Maria Gesilia de Sena Cardoso, de 70 anos
Pior chuva da história, diz prefeitura
Esta foi a pior chuva da história de Angra dos Reis, segundo a prefeitura. Diante dos transtornos, foi decretada situação de emergência no município.
Na Rio-Santos, a segunda-feira começou ainda com, pelo menos, quatro pontos de interdição total entre Angra dos Reis e Paraty.
O prefeito chegou a pedir o desligamento das usinas nucleares por receio de que não seria possível colocar em prática o plano de emergência enquanto vias de acesso ao município estiverem interditadas, mas a Eletronuclear garantiu que uma eventual evacuação não está comprometida.
Na cidade, são aproximadamente 314 moradores em pontos de apoio disponibilizados pela prefeitura. As aulas foram suspensas nesta segunda-feira, já que muitas unidades cederam espaço a família desabrigadas. Fonte: https://g1.globo.com
Chuvas no Rio: Prefeito de Angra dos Reis avalia risco e pede desligamento de usinas nucleares: 'Estamos ilhados aqui'
- Detalhes
Fernando Jordão (à direita), prefeito de Angra dos Reis, acompanha os trabalhos de resgate no município. Foto: Reprodução Instagram
Segundo Fernando Jordão, bloqueio nas estradas dificultaria plano de emergência
Ricardo Ferreira
O prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão, disse que pediu ao ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, o desligamento das usinas nucleares instaladas na cidade. O motivo são as fortes chuvas que caem desde quinta-feira (31) e que interditaram pontos das principais estradas de acesso ao município, como a RJ-155 e a Rio-Santos.
— Estamos com as estradas fechadas, estamos ilhados. Sou um defensor da matriz nuclear e temos plano de emergência, mas como a gente faz o plano sem estrada? Não dá. Por isso estou pedindo o desligamento das usinas nucleares. Já me comuniquei com o ministro Marcelo Sampaio — afirmou Jordão, que está na companhia do governador Cláudio Castro na manhã deste domingo: — O governador acaba de chegar aqui, vamos sobrevoar as regiões de Monsuaba e Ilha Grande, onde ainda há desaparecidos.
Ainda no sábado (2), a estatal Eletronuclear havia informado que as usinas nucleares Angra 1 e 2 seguiam operando normalmente, com capacidade total, não tendo sido afetadas pelas fortes chuvas que caem na Costa Verde desde quinta-feira.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, há pelo menos dez pontos de interdição, total ou parcial, na Rio-Santos, por causa de deslizamentos de terra e alagamentos. Sete máquinas retroescavadeiras fazem trabalhos de desobstrução na altura dos quilômetros 447 e 466. Na RJ-155, a interdição é no túnel, com passagem liberada na Serra que liga Paraty a Cunha e na Serra do Piloto.
Número de mortos vai a 16
Subiu para 16 o número de mortes no Rio por conta das chuvas que atige o estado desde sexta-feira (1). Segundo a Defesa Civil de Angra dos Reis, foi encontrado o corpo de uma criança na manhã deste domingo. Ao todo, já são oito óbitos em Angra, sete em Paraty e um em Mesquita.
"Nós continuamos em estágio de alerta máximo no município, continuamos com as sirenes ligadas mesmo com a diminuição das chuvas, devido a alta saturação do solo. Pedimos à população de areas de risco que só retornem para suas residências após receberem as mensagens de desmobilização", disse um agente da Defesa Civil de Angra, em informe publicado nas redes sociais na manhã deste domingo.
O alerta é de mais chuva durante o domingo, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia(Inmet). Na Costa Verde e na Baixada, prevalece o aviso vermelho, que representa acumulado de mais de 100mm de chuva. Fonte: https://oglobo.globo.com
Criança de 4 anos morre em deslizamento de terra em Angra dos Reis; 10 pessoas estão desaparecidas.
- Detalhes
Cidade registrou nas últimas 24 horas o maior volume de chuva da história. Cinco pessoas foram resgatadas com vida e levadas para um hospital. Corpo de Bombeiros e Defesa Civil trabalham nas buscas.
Por g1 Sul do Rio e Costa Verde
Uma criança morreu e pelo menos 10 pessoas estão desaparecidas depois que um deslizamento de terra atingiu quatro casas em Angra dos Reis (RJ) na madrugada deste sábado (2). O corpo encontrado soterrado é de uma menina, de aproximadamente quatro anos. Os imóveis atingidos ficam na Rua Francisco Cesário Alvim, no bairro Monsuaba. As informações são da Defesa Civil.
Segundo o Corpo de Bombeiros, cinco pessoas foram resgatadas com vida e levadas para o Hospital da Japuíba. Seis grupamentos da corporação e agentes da Defesa Civil da cidade trabalham nas buscas pelos desaparecidos.
O deslizamento foi provocado por um grande volume de chuva registrado na cidade nas últimas 24 horas. De acordo com a Defesa Civil, nas últimas 48 horas, foram registrados 655 mm de chuva no continente e 592 mm na Ilha Grande. Essa é a maior chuva da história de Angra dos Reis.
Equipes da Defesa Civil, com a ajuda de profissionais de diferentes áreas da prefeitura, estão nas ruas prestando apoio à população. Todas as 28 sirenes do sistema de alerta da cidade para deslizamentos e alagamentos soaram durante esta madrugada. "Estamos em alerta máximo. Pedimos aos moradores das áreas de risco que sigam para os pontos de apoio. O risco de deslizamento é iminente" , disse a Defesa Civil.
Abrigos
A prefeitura de Angra dos Reis está disponibilizando abrigos para as pessoas que precisam deixar suas casas. No momento, 19 pessoas encontram-se em abrigos, localizados em unidades da rede municipal, recebendo apoio da secretaria de Educação e da Assistência Social. Todas as escolas da rede estão mobilizadas e prontas para atender à população, de acordo com as necessidades indicadas pela Defesa Civil.
Estradas
Deslizamentos de terra provocaram a obstrução da BR-101 (Rodovia Rio-Santos) no sentido Rio de Janeiro. A RJ-155 (Saturnino Braga) também está fechada à circulação de veículos na altura dos túneis.
Transporte público
O transporte público está operando com intervalos maiores nas seguintes linhas: 207 (Japuíba), T20 (Parque Mambucaba), T21 (Frade), 203 (Serra d´Água), 206 (Banqueta), 208 (Belém), 221 (Nova Angra), 403 (Camorim), 224 (Vila Nova), 225 (Campo Belo) e CO1 (Circular) estão em operação, porém com horário reduzidos. Fonte: https://g1.globo.com
Hey, Jovem! Você não é o futuro!
- Detalhes
Joyce Luz
Esse texto vai soar brega, meio piegas e com certeza vai ter alguém em algum lugar falando: “Lá vem! Lá vem a tia chata falar do rolê das eleições e da importância do título de eleitor!”. Pois é, hoje vou correr o risco de ser a tia chata e de soar meio piegas para falar com vocês, jovens!
Sabe aquela história que contaram para vocês ou que vocês ouviram em algum momento da vida de que: “vocês jovens são o futuro da nação”? Essa história não é verdade. Peço desculpas por desapontá-los, mas vocês não são os heróis do futuro que vão salvar todos os brasileiros e brasileiras dos males que nos consomem atualmente.
Vou aqui colocar algumas situações do nosso dia a dia na esperança de que muitos de vocês se identifiquem com algumas delas.
1-Se quebramos o braço ou a perna ou se precisamos tomar a vacina contra a covid-19 e não temos convênio médico, nós vamos até onde? Até algum hospital público ou UBS que faz parte do SUS – nosso sistema de Saúde Pública no Brasil. Pode ser que a fila de espera seja quilométrica e que o atendimento não tão bom, mas, no fim, você será atendido, será curado e não pagará nada por isso.
2-Para conseguirmos empregos melhores e melhorarmos, consequentemente, nossa condição financeira, nós sabemos que precisamos frequentar escolas. Pesquisas apontam que quanto maior nossa escolaridade, maior serão nossos salários e melhor será nossa condição de vida. Mas se eu sou jovem e não tenho como pagar uma escola particular, para onde eu recorro? Para a escola pública. Financiada pelo governo municipal, estadual ou federal. Ah! Mas aqui eu poderia reclamar da escola pública e falar que as condições de ensino e infraestrutura das escolas são péssimas. Ótimo! Você pode reclamar, mas você já pensou que alguém, que não é Deus, pode mudar essa situação?
3-Não temos carro, mas queremos nos deslocar pela cidade e também não temos dinheiro para pagar o Uber ou táxi . O que nós usamos? O transporte público. E se você é jovem e estudante você ainda tem o direito de pagar meia pela passagem. Aqui também é possível reclamar que o ônibus, o metrô e até mesmo o trem estão cheios e que o intervalo de espera é enorme. Mas, ainda assim, pagamos bem menos para nos deslocar, caso escolhêssemos um meio particular.
Eu poderia ficar aqui descrevendo inúmeras situações do dia a dia em que eu, vocês jovens e a maioria dos brasileiros e brasileiras vivenciam. No entanto eu prefiro falar para vocês sobre o que todas essas situações têm em comum. Todas elas respiram e falam sobre a nossa e sua Política.
Não se enganem, se hoje temos um sistema público de saúde que nos oferece um serviço gratuito é porque representantes políticos lutaram para que tivéssemos esse direito. Se hoje toda criança e todo jovem têm acesso à educação pública e gratuita é porque alguém tomou essa decisão por nós. Se hoje podemos andar pelas cidades através de transporte público e ainda pagando meia passagem é porque, novamente, alguém garantiu essa política pública de locomoção.
E se queremos continuar a usufruir desses benefícios, se desejamos que esses serviços melhorem, adivinhem? Isso depende de quem nós escolhemos, em quem cada um de nós deposita nossos votos. Nossos representantes políticos, seja ele o presidente, o governador, o prefeito, o senador, o deputado federal, o deputado estadual e até mesmo o vereador têm muito poder de decidir sobre os nossos direitos, sobre o nosso acesso à serviços básicos, sobre a qualidade das nossas vidas e das vidas daqueles que nos cercam.
Escolhemos nossos representantes no presente, para que no amanhã eles façam o melhor pela gente. Para que eles olhem para as necessidades do nosso cotidiano e decidam fazer algo para melhorar nossas vidas. Quando deixamos de escolher, infelizmente alguém que muitas vezes não sabe nada sobre as nossas necessidades e sobre o que precisamos para melhorar as nossas vidas é quem escolhe por nós. Se permitimos esse cenário, não podemos reclamar. Na política a não escolha também é uma decisão e tem suas consequências.
Jovens, se vocês querem melhorar algo na vida de vocês e na vida daqueles que estão próximos a vocês a hora é agora! Se vocês têm entre 16 e 18 anos , vocês podem tirar o título eleitoral até o dia 04 de maio. De forma totalmente online e pelo seguinte endereço eletrônico: https://www.tse.jus.br/eleitor/titulo-de-eleitor/pre-atendimento-eleitoral-titulo-net/pre-atendimento-eleitoral-titulo-net/
Vamos lá, galera, é hora de colocar um cropped e reagir! Vamos para as eleições de 2022! Coloquem a cara a tapa e mostrem para o tio do pavê que vocês são o presente e que vocês, ao contrário do rótulo que a sociedade coloca, se interessam por política porque sabem que ela afeta (e muito!) a vida de vocês! O seu voto, o meu voto e o voto de todos os brasileiros e brasileiras importam igualmente. Não deixem que outros falem por vocês! Fonte: https://politica.estadao.com.br
A ousadia da suavidade
- Detalhes
O ambiente de agressividade é uma construção humana, não um dado inexorável da natureza.
Nicolau da Rocha Cavalcanti, O Estado de S.Paulo
No quinto episódio da série documental O canto livre de Nara Leão, Isabel Diegues recorda uma característica de sua mãe. “Quando ela queria ser ouvida, ela falava mais baixo. Tem essa coisa do show que ela fazia. Ela cantava, aí quando começavam um ti-ti-ti, um não sei o quê, ela ia cantando cada vez mais baixo, mais baixo. Até que as pessoas percebiam que (...) não dava para ouvir o que ela estava cantando. E começava a fazer silêncio, aí ela voltava”, conta.
Esse trecho do documentário remeteu-me, por contraste, à agressividade que vemos, nos dias de hoje, no debate público, nas redes sociais, nas conversas no trabalho e até mesmo em reuniões familiares. Para atender ao desejo de sermos ouvidos, para expressar nossas convicções e argumentos, muitas vezes, nossa reação é aumentar a voz, intensificar a incisividade e endurecer o ataque contra o que entendemos ser os pontos frágeis da posição contrária.
Falar mais baixo “não só é o oposto do que se espera – continua Isabel Diegues no documentário –, mas também é muito revolucionário a partir do momento em que você tem um risco enorme de não ser ouvido, porque você está falando baixo, e uma segurança muito grande da importância daquilo que você está cantando. É importante o que eu estou falando (...). Então, se quiserem ouvir, vocês vão ter de fazer silêncio”.
Naturalmente, um show de música é diferente de uma discussão pública ou de um debate na internet. Mas a reação contraintuitiva da suavidade – a liberdade de não responder na mesma moeda – pode ser muito útil se queremos ser ouvidos e, principalmente, se queremos dialogar.
Num mundo de sons estridentes e debates acalorados, o tom suave é, certamente, um diferencial. Mas não é apenas uma questão circunstancial. A suavidade tem uma profunda ligação com as condições do diálogo genuíno: o respeito aos fatos e o respeito ao interlocutor.
Bons argumentos respeitam os fatos. Respeitam principalmente as nossas limitações cognitivas sobre os fatos. Não sabemos tudo sobre os fatos. Muitas vezes, chamamos de “fatos” o que são meras impressões parciais, apreciações provisórias ou hipóteses possíveis.
Reconhecer essas nossas limitações não significa relativizar tudo. O relativismo forte, que postula a incapacidade de alcançar um conhecimento verdadeiro sobre a realidade, é contraditório e irrazoável, como tão bem ilustra, por absurdo, o terraplanismo. Sem negar a possibilidade de um conhecimento seguro, ainda que limitado, postula-se aqui que a realidade humana, social e política é sempre mais complexa do que aquilo que a perspectiva pessoal nos apresenta como certo e verdadeiro.
E essa complexidade da realidade não é abarcada e, muito menos, compreendida pelo tom agressivo, que sempre traz consigo a limitação da binariedade: do zero ou um, do tudo ou nada. Os fenômenos têm matizes e tons intermediários, com plurais camadas de percepção e compreensão. O berro – ou a lacração – elimina tudo isso.
A moderação no tratamento dos fatos conduz, também, ao respeito com quem tem percepções diferentes. De novo, não é diminuir nossas convicções ou negar os fatos, mas fundamentar o que defendemos em argumentos, nunca na desqualificação do lado contrário. Há situações que exigem combatividade, com a exposição dos argumentos em sua máxima força, mas isso nada tem que ver com ridicularizar o interlocutor.
Num debate, o respeito ao lado contrário significa fundamentação sólida e rigorosa, compreensível também a partir da perspectiva do interlocutor. Por isso, a suavidade é mais do que simples polidez. Exige estudar mais, conhecer mais, escutar mais. O cuidado com o interlocutor leva a uma maior aderência à realidade e a uma saudável dose de desapego da nossa perspectiva pessoal.
Talvez tudo isso possa parecer utópico. O exagero, a incisividade e a própria agressividade são vistos, muitas vezes, como condições para ter audiência nos dias de hoje. Pouco importariam os fatos ou os argumentos, tampouco haveria espaço para o diálogo. Tornou-se habitual que cada fala seja uma tomada de posição: o hasteamento de uma bandeira sem ânimo de retroceder. Há prevalência do tom de imposição, como se a posição defendida fosse de apreensão evidente e imediata.
Diante disso, lembremo-nos do canto livre de Nara Leão. O ambiente de agressividade é uma construção humana, não um dado inexorável da natureza. Trata-se de um modo, entre tantos outros, de (não) conviver e de (não) dialogar. É, em último termo, uma escolha. O que queremos escolher? O que queremos construir?
Talvez a grande carência dos tempos atuais seja a comunicação serena de ideias, feita por quem sabe que o que tem a dizer é importante, tão importante que não precisa das muletas da agressividade. A realidade é uma paisagem que se descobre e se contempla conjuntamente, não um campo de batalha onde ferimos uns aos outros. E nunca é demais lembrar que as ideias mais frutíferas, de maior transcendência, nasceram pequenas e desamparadas, muitas vezes desprezadas. O tempo é, também, um excelente ouvinte.
*ADVOGADO E JORNALISTA
Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Mansão de Eike Batista em Angra vai a leilão. Saiba por quanto
- Detalhes
A mansão de Eike Batista que vai à leilão: heliponto, cais e hangar para embarcações | Zanone Fraissat / Folhapress
Por Malu Gaspar
Vai a leilão no próximo dia 05 de maio uma das últimas jóias da coroa de Eike Batista: a mansão de 16 500 metros quadrados do ex-bilionário em Angra dos Reis.
O imóvel, que já recebeu de Madonna a Sérgio Cabral, faz parte dos bens arrecadados pela Justiça de Minas Gerais no processo de falência da MMX Sudeste Mineração, decretado em maio de 2021.
Com cozinha industrial, heliponto, um cais privado para atracamento de iates, sauna e piscina, a propriedade fica na praia de Vila Velha. Foi avaliada em R$ 10 milhões e tem um valor simbólico para o ex-bilionário.
Foi lá que Eike convenceu a presidente mundial da Anglo American, Cynthia Carrol, a comprar seus ativos de mineração por US$ 5,5 bilhões.
Em 2013, quando as empresas X foram à bancarrota, Eike chegou a doar a mansão aos filhos, entre outros bens, mas os credores da s empresas X conseguiram incluí-los na lista de bens que serão vendidos para pagar as dívidas.
Esse leilão não tem relação com a dívida que Eike tem com a Procuradoria-Geral da República em razão da multa a ser paga pelo acordo de delação premiada.
Mas embora seja a atração mais glamurosa do leilão, a mansão de Angra não é a mais cara. Na lista de bens a serem liquidados está um edifício de cinco andares na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde Eike já teve um centro médico, o MDX. O valor atribuído ao prédio pelo leiloeiro Alexandre Pedrosa é de R$ 81 milhões.
A intenção da massa falida é arrecadar ao todo R$ 100 milhões, mas há um risco de o valor acabar sendo bem menor.
Isso porque, pelas novas regras para leilões em processos de falência, bens que não forem vendidos na primeira rodada de ofertas podem ser arrematados por metade do preço na segunda, ou por qualquer valor na terceira.
No caso da mansão de Angra, por exemplo, se ninguém fizer lances até o dia 11 de maio, a casa pode ser vendida por R$ 5 milhões. E se mesmo assim não for vendida, na terceira etapa do leilão, marcada para 18 de maio, a maior oferta leva, mesmo que seja menos de R$ 5 milhões. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com
Como argumentar com as pessoas que depressão não é ‘frescura’?
- Detalhes
Apesar de ainda carregar estigma social, quadro clínico tem alterações específicas no cérebro
CAMILA TUCHLINSKI - O ESTADO DE S. PAULO
Você tem uma sensação de 'vazio', uma tristeza sem motivo, não tem vontade de fazer as atividades que antes eram divertidas. Se sente cansado, sem energia. Fica sem dormir por dias, não consegue tomar banho ou adotar as mais básicas práticas de higiene, como tomar banho, escovar os dentes ou pentear o cabelo.
É muito difícil para quem tem depressão explicar para os outros esses sintomas que não são aparentes. Essa é uma das situações que levam grande parte da população ainda a imaginar que o estado de humor é 'frescura'.
Mas o estigma é algo que tem raízes mais profundas, como explica a neuropsicóloga Gisele Calia: "Na nossa cultura pela busca da felicidade, como será que são vistas as pessoas que não conseguem encontrá-la? Que não conseguem sozinhas, pela sua doença, encontrar o prazer de viver? Elas são vistas estigmatizadas, não são valorizadas. A cultura da busca pela felicidade faz com que essas pessoas sejam mal vistas”.
Para o médico neurocirurgião do Hospital das Clínicas Fernando Gomes, dois termos ainda se misturam em saúde mental: tristeza é confundida com depressão e expectativa com ansiedade.
“A depressão nem sempre se manifesta em tristeza, pode aparecer em alteração na motivação, apetite alimentar, no sono, entre outros. A sociedade ainda vê uma pessoa que teoricamente ‘tem tudo’ e não entende o por quê de ficar triste ou com depressão. Depressão não é tristeza, é muito mais do que isso. Depressão não é ‘psicológica’, existem alterações fisiopatológicas que ocorrem na intimidade microscópica do órgão que são impossíveis de serem vistas em exames de neuroimagem, por exemplo. Mas de fato acontece. Prova disso é que quando entramos com medicação tudo melhora”, explica Gomes.
Existe uma questão química por trás da depressão
A depressão é uma doença que interfere no funcionamento neuroquímico adequado do cérebro de modo que alguns circuitos funcionem de forma alterada.
Há uma correlação com neurotransmissores como, por exemplo, a serotonina, a dopamina e a noradrenalina que repercute no equilíbrio do sistema límbico, onde fica a parte emocional do cérebro, e no córtex frontal, onde está a parte racional e crítica da consciência.
“Não existe ‘auto diagnóstico’. Quem vai dizer é o médico, que vai utilizar os critérios para então chegar a tal resultado. O diagnóstico prova que há um funcionamento inadequado da parte neuroquímica do cérebro e o tratamento envolve remédio e terapia atrelada à mudança no estilo de vida”, ressalta o neurocirurgião Fernando Gomes.
A neuropsicóloga Gisele Calia acrescenta que a depressão é uma doença psiquiátrica crônica. “Envolve a mente e o corpo. Não são só problemas mentais e ponto. São problemas mentais que trazem bastante prejuízos para o organismo, desde problemas de estômago, coração, etc. A doença é crônica porque, diferente de um resfriado que pode passar e não ter mais, ela permanece. E, quando se manifesta, não é só ‘vou tomar um antidepressivo e acabou’. Não passa como um resfriado, ela fica sob controle”, diz.
Como argumentar com as pessoas que depressão não é ‘frescura’?
Muitas pessoas têm dificuldade em entender o que está acontecendo com alguém que tem sintomas chamados ‘não aparentes’, ou seja, que não estão tão evidentes.
O que é intrigante, pois doenças como diabete e pressão alta também não são visíveis mas, em tese, são mais consideradas socialmente.
Para ajudar pacientes, amigos e familiares, preparamos algumas argumentações para provar que depressão ‘não é frescura':
- A depressão é um desequilíbrio químico no cérebro, em que neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina não estão em pleno funcionamento;
- É uma doença que está associada a questões biológicas e ambienais;
- O tratamento medicamentoso na depressão pretende regular o nível dos neurotransmissores para tornar efetiva a comunicação entre eles e o nosso corpo;
- Sintomas como oscilação do sono, apetite, irritabilidade, estresse, desânimo e falta de esperança causam prejuízos no cotidiano do paciente;
- Casos graves, em que a pessoa com depressão não é devidamente assistida, podem levar ao suicídio.
Lembrando que, além do tratamento medicamentoso, o paciente deve passar em psicoterapia para entender como lidar com a doença crônica ao longo da vida, saber se relacionar melhor consigo e com os outros. Fonte: https://emais.estadao.com.br
Grupo de refugiados da Ucrânia resgatados por rede de igrejas chega ao Brasil
- Detalhes
Doze adultos e 17 crianças serão acolhidos no Paraná; pastor diz que trará 300 no total
Grupo de 29 ucranianos refugiados da guerra contra a Rússia chega ao aeroporto de Guarulhos - Bruno Santos/Folhapress
Um grupo de 29 refugiados ucranianos chegou ao Brasil nesta sexta-feira (18), em busca de um recomeço forçado pela guerra iniciada pela Rússia. Eles foram resgatados por uma rede internacional de missionários cristãos, e igrejas brasileiras se dispuseram a mantê-los por ao menos um ano.
Ao todo, dez mulheres, dois homens e 17 crianças desembarcaram por volta das 6h30 no aeroporto de Guarulhos. Apesar de homens com idades entre 18 e 60 anos estarem proibidos de deixar a Ucrânia, aqueles que têm três filhos ou mais são autorizados a sair —caso dos dois que integram o grupo.
Eles vieram de várias cidades da Ucrânia, inclusive Mariupol e Kharkiv, duas das mais atingidas pela Rússia. "São pessoas com uma história de muita dor. A gente tem que ajudar", disse o pastor presbiteriano brasileiro Elias Dantas, fundador da GKPN (Global Kingdom Partnership Network), que lidera a ação.
Dantas, que mora nos EUA, esteve na Ucrânia e nos países fronteiriços na última semana, organizando a operação. A embaixada brasileira, que atualmente funciona na cidade de Lviv, no oeste ucraniano, emitiu vistos humanitários para o grupo. Fiéis de igrejas evangélicas de Guarulhos e de São José dos Campos os esperavam com uma bandeira ucraniana e um cartaz de boas-vindas em inglês.
De São Paulo, os refugiados serão levados em um ônibus para Curitiba, onde passarão alguns dias e, depois, vão para Prudentópolis e Guarapuava, cidades paranaenses que concentram uma grande comunidade de imigrantes ucranianos e que se dispuseram a acolher quem escapou desta guerra.
Eles receberão aulas de português e terão moradia e outros gastos bancados pelas igrejas. Dantas afirma que trará, no total, ao menos 300 refugiados da Ucrânia para o Brasil, 50 dos quais no próximo dia 26.
No dia 3 de março, o governo brasileiro publicou uma portaria interministerial que concede o visto de acolhida humanitária aos ucranianos e apátridas (pessoas sem nacionalidade reconhecida) afetados ou deslocados pela situação de conflito armado.
O Brasil possui essa modalidade de visto para sírios, haitianos e, mais recentemente, concedeu-o também aos afegãos que fogem do Talibã. Mais de 3 milhões de ucranianos deixaram o país desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, no êxodo mais veloz vivido pela Europa desde a Segunda Guerra.
A maioria está ficando nos países vizinhos do Leste Europeu, como Polônia, Hungria e Romênia. Segundo o pastor Dantas, 10 mil refugiados serão acolhidos nos próximos 15 dias por 2.000 igrejas ligadas à GKPN, 90% deles em países próximos à Ucrânia. "A gente sempre se pergunta o que Jesus faria em nosso lugar. Certamente estaria abrindo os braços e recebendo-os", afirmou.
O projeto prevê a reunião familiar dos refugiados após o fim da guerra, com a repatriação daqueles que quiserem voltar ou a viagem dos familiares para o país de acolhimento, no caso dos que decidirem ficar. Fonte: www1.folha.uol.com.br
Pág. 26 de 663