942 crianças mortas ou feridas em seis meses de guerra na Ucrânia.
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Centenas de crianças mortas ou feridas, mas também milhares delas refugiadas em países vizinhos ou deslocadas internas. E s que fogem da guerra, correm um risco significativo de serem separadas de suas famílias, de sofrer violências, abusos e tráfico.
Vatican News
"Pelo menos 972 crianças na Ucrânia foram mortas ou feridas pela violência desde a escalada da guerra há quase seis meses, uma média de mais de cinco crianças mortas ou feridas a cada dia. E esses são apenas os números que as Nações Unidas puderam verificar. Acreditamos que o número real é muito maior".
O comentário da diretora geral do UNICEF, Catherine Russel, dá uma dimensão desta face trágica da guerra que atinge também as crianças. De fato, desde o início do conflito, 356 foram mortas e 586 ficaram feridas. 16% das que morreram, tinham menos de cinco anos.
E o maior número de mortes entre as crianças foi devido ao uso de armas explosivas, que não fazem distinção entre civis e combatentes, especialmente quando usadas em áreas povoadas, como acontece na Ucrânia em Mariupol, Luhansk, Kremenchuk e Vinnytsia, mas não só.
Como em todas as guerras, as decisões dos adultos impactam na vida das crianças, expondo-as a um risco extremo. Não existem “operações armadas” deste tipo que não envolvam o ferimento de crianças.
Mas a violência desta tragédia não se resume às crianças mortas ou feridas nos ataques, pois quase todas as crianças na Ucrânia foram expostas a eventos profundamente angustiantes.
Estima-se que 3,1 milhões de crianças ucranianas vivam como refugiados nos países vizinhos e cerca de 3 milhões sejam deslocados internos. Aquelas que fogem da violência correm um risco significativo de serem separadas de suas famílias, de sofrer violências, abusos e tráfico.
A guerra, ademais, atinge em cheio a formação dessas crianças, e não só. O início do ano letivo em pouco mais de uma semana é um forte lembrete de quanto as crianças na Ucrânia perderam. O sistema escolar ucraniano foi devastado pela escalada das hostilidades em todo o país. As escolas foram alvo ou usadas pelas partes envolvidas no conflito, resultando em famílias que não se sentem seguras em enviar seus filhos para a escola. De acordo com estimativas da ONU, 1 em cada 10 escolas foi danificada ou destruída.
Todas as crianças precisam ir à escola e aprender, incluindo aquelas envolvidas em emergências. As crianças na Ucrânia e os deslocados pela guerra não são exceção. Neste sentido, pede-se um cessar-fogo imediato na Ucrânia e a proteção das crianças de toda forma de violência. Fonte: https://www.vaticannews.va
Brasileiros abandonados no sertão
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Brasileiros abandonados no sertão
Agruras da população sem água sugerem que milhões de reais para a construção de poços aplacaram outro tipo de sede
“A falta de água não é mais um problema para o povo do nosso Nordeste”, costuma jactar-se o presidente Jair Bolsonaro em lives, tuítes e discursos de campanha. A realidade, no entanto, é outra. No sertão do Piauí, por exemplo, em pleno século 21, cidadãos ainda precisam caminhar quilômetros em busca de água para beber, cozinhar e tomar banho – e nem sempre a encontram em condições próprias para o consumo.
Uma reportagem do Estadão visitou os municípios de Oeiras, Mata Fria e Alagoinha, no interior do Piauí, e encontrou um deserto de obras para abertura de poços inacabadas, muitas delas abandonadas definitivamente. Em cidades que foram contempladas pela “força-tarefa das águas”, anunciada com pompa por Bolsonaro há cerca de dois anos, hoje há poços furados, porém lacrados ou desprovidos de equipamentos adequados para captação e transporte da água para localidades mais altas e distantes.
As condições de vida dos piauienses deveriam ser melhores. O Piauí é o Estado do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), prócer do Centrão e tido como uma espécie de chefe de governo de facto do País, tamanha a sua ascendência sobre o presidente da República. Ademais, Ciro Nogueira é “padrinho” da atual diretoria da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Muitos contratos da União com as empresas responsáveis por levar água ao sertão nordestino foram firmados por meio da Codevasf.
Mesmo como senador licenciado, Ciro Nogueira também foi responsável direto pela destinação de milhões de reais em emendas do “orçamento secreto” para aquelas localidades. Empresas dirigidas por amigos do ministro da Casa Civil foram agraciadas com recursos oriundos de emendas parlamentares. Onde foi parar tanto dinheiro público? Decerto essa dinheirama aplacou outro tipo de sede, haja vista o padecimento das pessoas que deveriam ter sido beneficiadas por esses investimentos no interior do Piauí.
Jair Bolsonaro jamais deu a devida atenção às aflições dos brasileiros mais carentes. Basta ver que todas as políticas públicas de seu governo que, supostamente, seriam voltadas aos desvalidos revelam falhas de planejamento e execução. Não raro, tornam-se focos de corrupção.
Isso ocorre porque, em geral, essas ações não são pensadas tendo como norte as necessidades dos cidadãos que dependem do Estado para ter condições mínimas para uma vida digna. São concebidas na medida dos interesses eleitorais do presidente da República e seus sócios, entre os quais Ciro Nogueira. Estão submetidas, portanto, à lógica de uma campanha eleitoral ininterrupta, quando, à luz do interesse público, deveriam ser pensadas a longo prazo.
A falta de espírito público, foco e planejamento do governo federal, para dizer o mínimo, custa muito caro ao erário. Mas é particularmente cruel por frustrar as expectativas de muitos brasileiros que há décadas convivem com os mesmos problemas. É gente sofrida que só é lembrada a cada ciclo eleitoral, como se fossem cidadãos de segunda classe. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
WhatsApp: usuários já podem sair ‘silenciosamente’ de grupos e esconder status de online
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WhatsApp: usuários já podem sair ‘silenciosamente’ de grupos e esconder status de online
Aplicativo de mensagens lança novos recursos nesta terça-feira com objetivo de dar mais opções de privacidade para usuários
O WhatsApp lança nesta terça-feira, 9, dois novos recursos aguardados pelos usuários do aplicativo de mensagens: saída discreta de grupos e esconder o status de online das conversas.
A partir de hoje, usuários já vão poder abandonar “silenciosamente” grupos de WhatsApp, isto é, sem que outros participantes da conversa sejam notificados. Segundo o aplicativo, apenas os administradores saberão da saída.
Outro recurso é a possibilidade de esconder o próprio status de “online” de outras pessoas. A novidade chega gradualmente para usuários até o fim deste mês, diz o WhatsApp.
Segundo a Meta, empresa controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, o objetivo das medidas é dar mais funções para que usuários controlem a própria privacidade.
“Continuaremos criando novas maneiras de proteger suas mensagens e mantê-las tão privadas e seguras quanto as conversas presenciais”, afirma o presidente executivo do grupo, Mark Zuckerberg, em nota.
Bloqueio de captura de tela
O WhatsApp está testando uma função que impede que seja feita a captura de tela de imagens de visualização única. Nesse formato, usuários enviam mídias que podem ser vistas apenas uma vez.
“Estamos focados em desenvolver recursos que capacitem as pessoas a ter mais controle e privacidade sobre suas mensagens”, diz em nota Ami Vora, vice-presidente de Produto do mensageiro. “Os novos recursos são uma maneira de continuarmos fiéis ao compromisso de manter a privacidade de todas as mensagens.” Fonte: https://www.estadao.com.br
Pela dignidade dos idosos.
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o Papa, ele mesmo enfrentando as agruras da velhice, alerta para o abandono dos idosos; criar políticas públicas para essa população, cada vez maior, é demanda urgente no mundo todo
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Aos 85 anos, o Papa Francisco tem se dedicado a ressignificar o lugar do velho no imaginário coletivo, revendo conceitos e preconceitos, algo que ele já fazia antes de se tornar a autoridade maior da Igreja Católica. A diferença, agora, é que o avançar da idade, somado às fragilidades físicas decorrentes de uma cirurgia no intestino e a problemas no joelho, tem exposto ao mundo a figura de um papa debilitado fisicamente.
Em recente visita ao Canadá, o pontífice cumpriu grande parte dos compromissos de cadeira de rodas − e disse que terá de diminuir o ritmo de viagens em função da saúde debilitada. A vulnerabilidade física do papa, vis-à-vis sua ênfase ao defender o acolhimento das pessoas idosas em um mundo cuja população mais velha não para de crescer, foi tema de reportagem do New York Times. Para o papa Francisco, os idosos são as “verdadeiras pessoas novas”, considerando que a humanidade nunca viu tamanha expansão da população mais velha. “Nunca tantos quanto agora, nunca com tanto risco de serem descartados”, resumiu ele.
No Canadá, o papa falou abertamente sobre o problema do abandono, defendendo a construção de “um futuro em que os idosos não sejam deixados de lado porque, do ponto de vista ‘prático’, não são mais úteis”. E concluiu: “Um futuro que não seja indiferente à necessidade dos idosos de serem cuidados e ouvidos”.
O envelhecimento da população é uma realidade mundial que suscita respostas a diversos desafios, começando pela área da saúde e por questões previdenciárias. Mas não só. Em sociedades em que o culto à juventude também é cada vez maior, o aumento da parcela mais velha da população exige um novo olhar para os idosos e suas necessidades. A palavra-chave aqui é dignidade. E isso envolve tanto condições materiais de sobrevivência e acesso aos serviços de saúde quanto atenção e respeito, seja por parte de familiares, de cuidadores e de instituições públicas e privadas.
Projeções demográficas indicam um número cada vez maior de idosos nas próximas décadas. Nos últimos anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem divulgado estimativas de que a população global de 60 anos ou mais vai dobrar até 2050, a maioria vivendo em países de renda baixa ou média. No Brasil, não é diferente. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetou que a partir de 2039 haverá mais brasileiros acima de 65 anos do que crianças na faixa de 0 a 14 anos.
Criar e implementar políticas públicas que deem conta da multiplicidade de demandas desse aumento exponencial da população mais velha não é desafio para o futuro. Eis uma exigência que já bate à porta de governos no mundo inteiro. Não à toa, a ONU definiu que esta é a Década do Envelhecimento Saudável − um desafio agravado pela pandemia de covid-19 e seus impactos ainda mais devastadores em pacientes idosos.
No Brasil, o IBGE estima que 10% dos habitantes, o equivalente a 21,6 milhões de pessoas, tinham 65 anos ou mais no ano passado. Para dar a devida dimensão do desafio, vale dizer que esse contingente é mais do que toda a população do Chile. Como o recorte do IBGE considera como idosa a população acima de 65 anos, ao passo que o Estatuto do Idoso adota como referência a idade de 60 anos ou mais, presume-se que a população idosa no Brasil, do ponto de vista legal, seja ainda mais numerosa.
Garantir o bem-estar dos mais velhos, no caso brasileiro, passa pelo fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o que requer o engajamento do Ministério da Saúde, dos governos estaduais e das prefeituras. Atrasos na distribuição de fraldas geriátricas, por exemplo, comprometem a qualidade de vida de quem se beneficia desse tipo de iniciativa. Ainda mais em um país com a desigualdade socioeconômica do Brasil.
Garantir a dignidade da população idosa é dever das atuais e das futuras gerações. Do contrário, não faria sentido todo o esforço empreendido até aqui para tornar possível o aumento da expectativa de vida − o que, em boa hora, deu origem a essa “nova geração” de idosos. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Procuradoria pede ao WhatsApp que só lance megagrupos no Brasil após posse presidencial
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Ministério Público alerta que mudanças seriam retrocesso em período de 'riscos à integridade cívica e à segurança da população do país'
A Meta, dona do WhatsApp, anunciou o lançamento das comunidades, que reunirão vários grupos, e também aumentou o número máximo de integrantes em cada grupo, de 256 para 512, em vários países - Dado Ruvic/Reuters
SÃO PAULO
A Procuradoria da República em São Paulo enviou ofício ao WhatsApp instando a empresa a não aumentar o número máximo de integrantes em seus grupos de 256 para 512, como já está ocorrendo em vários países, nem lançar as comunidades, nova funcionalidade do aplicativo que permite a formação de megagrupos, antes da posse do novo presidente da República, em 2023.
Segundo a Procuradoria, o aumento no número de integrantes nos grupos de WhatsApp ou o lançamento das comunidades seriam um "retrocesso" no combate à desinformação "em um período de excepcionais riscos à integridade cívica e à segurança da população do país".
A Procuradoria deu prazo de 20 dias úteis para a empresa responder. No ofício, o Ministério Público afirma que, caso o WhatsApp não se pronuncie ou não acate a recomendação, poderá ser ajuizada uma ação civil pública contra a empresa de mensageria.
A ferramenta comunidades funcionará como um guarda-chuva abrigando vários grupos com milhares de usuários.
Será um grande grupo de grupos, que pode ter milhares de membros, com toda a comunicação criptografada. Especialistas apontam que a funcionalidade facilitará a disseminação de boatos e notícias falsas.
O WhatsApp anunciou no início do ano que só implementaria as comunidades no Brasil após as eleições de outubro. O anúncio irritou o presidente Jair Bolsonaro (PL), que queria forçar o WhatsApp a lançar a funcionalidade antes do pleito, com o objetivo de utilizá-la em sua campanha à reeleição.
A empresa não fez nenhuma promessa em relação ao início dos grupos de 512 integrantes, e tampouco prometeu segurar o lançamento das comunidades para depois da posse presidencial no Brasil.
Nos Estados Unidos, na eleição presidencial de 2020, grande parte da desinformação que culminou na invasão do Capitólio em 6 de janeiro circulou após a votação, principalmente pelo YouTube. No Brasil, o WhatsApp foi o principal veículo de desinformação política na eleição de 2018.
Segundo a Procuradoria, "fluxos organizados de desinformação sobre as instituições e os processos democráticos brasileiros podem ter efeitos especialmente graves para a integridade cívica do país" no período entre as eleições de outubro e a posse, em 1 de janeiro.
Bolsonaro aposta nas redes sociais e em aplicativos de mensagem para promover a sua candidatura à reeleição. Ele tem lançado suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral e dito que ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE querem limitar a atuação das redes e de seus apoiadores.
Desde 2018, o WhatsApp vem adotando medidas que reduzem a viralização de mensagens para conter a disseminação de desinformação.
Em julho de 2018, após uma onda de linchamentos na Índia decorrentes de boatos, o WhatsApp determinou que cada mensagem passaria a poder ser encaminhada não mais para 20, mas para 5 destinatários no país.
Em janeiro de 2019, após a eleição brasileira, a limitação foi implementada globalmente. Em abril de 2020, com a eclosão da pandemia de Covid, a empresa impôs mais restrições: mensagens que estivessem viralizando passaram a ser reencaminháveis para apenas um destinatário.
No entanto, no início deste ano, Mark Zuckerberg, o CEO da Meta, dona do WhatsApp, anunciou a criação das comunidades, que vai em direção contrária às medidas de combate à desinformação.
A Procuradoria já tinha oficiado duas vezes o WhatsApp no Brasil pedindo maiores esclarecimentos sobre os planos da empresa para estrear as comunidades e pedindo um estudo de impacto, mas a plataforma não se comprometeu com datas nem com o estudo.
Procurado, o WhatsApp enviou nota, afirmando: "Recebemos a recomendação do Ministério Público Federal sobre a data de lançamento de Comunidades no Brasil e valorizamos o contínuo diálogo e cooperação com as autoridades brasileiras. O WhatsApp seguirá avaliando de maneira cuidadosa e criteriosa o melhor momento para o lançamento dessa funcionalidade e apresentará sua resposta dentro do prazo estabelecido pela autoridade." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
TikTok se consolida como canal de discussão política e vira foco dos candidatos à Presidência
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Conteúdos políticos aparecem na linha do tempo do telefone de Gabriella Maria. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Gabriella Maria gostava de fazer dublagens para compartilhar com amigos por diversão e conheceu, no fim de 2019, o TikTok, um aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos. Desde então, graças a um vídeo viral publicado, a profissional da moda de 29 anos tem um perfil com mais de 72 mil seguidores e usa a rede social todos os dias. Com uma linha de tempo personalizada conforme suas preferências, os vídeos sugeridos para ela assistir têm muito de moda, maquiagem, dublagem e política. “Eu uso o TikTok tanto para me informar quanto para diversão. Eu vejo que ele é bom para aprender pela velocidade dos vídeos”, disse ela.
Gabriella representa um perfil que se tornou alvo de presidenciáveis e atraiu as campanhas políticas para o aplicativo. A plataforma chinesa que permite a produção de vídeos de até três minutos é uma das que mais crescem no País – foi o aplicativo mais baixado em 2021 – e passará pelo primeiro teste eleitoral em 2022. Assim como quem disputou as eleições de 2020 usou o TikTok para conquistar um eleitorado jovem, os principais candidatos deste ano ao Palácio do Planalto também passaram a utilizar esse ambiente.
Em junho passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estreou um perfil na plataforma. Com pouco mais de 300 mil seguidores e 1,5 milhão de curtidas acumuladas, o petista tem um longo caminho para tentar igualar o desempenho de seu principal adversário na eleição de outubro, o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mais familiarizado com as redes sociais, o candidato à reeleição tem 2 milhões de seguidores e 21,4 milhões de curtidas acumuladas em seus vídeos no TikTok. Bolsonaro criou seu perfil no aplicativo em outubro do ano passado.
Levantamento da especialista em Comunicação e Marketing da Universidade Federal Fluminense (UFF) Luiza Mello e do cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Djiovanni Marioto, feito a pedido do Estadão, mostrou que, entre 2020 e 2022, o número de curtidas nas principais hashtags movidas em apoio a Lula e a Bolsonaro – os candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até agora – aumentou em 20 vezes.
“O TikTok é uma plataforma extremamente viral que induz ao compartilhamento de informações”, disse Luiza. “Isso é algo muito buscado numa campanha política. A linha do tempo do TikTok é alimentada pelos interesses das pessoas e não pelo conteúdo dos seus amigos. Isso aumenta a potencialidade da viralização, por isso políticos usam a rede.”
Estudo do Laboratório de Combate à Desinformação e ao Discurso de Ódio em Sistemas de Comunicação em Rede (DDosLAB) da UFF detectou 300 políticos com conta no TikTok, com 265 contas ativas que somam mais de 23 mil vídeos. Há quase duas vezes mais políticos de direita do que de esquerda na rede social. O primeiro grupo tende, estatisticamente, a acumular mais seguidores e mais curtidas.
“O TikTok é importante do ponto de vista estratégico, pois funciona como uma espécie de elo nessa cadeia produtiva”, afirmou o professor de Estudos de Mídia da UFF e coordenador do estudo, Viktor Chagas. “Há muitos vídeos sendo compartilhados externamente, principalmente no WhatsApp. O político ganha muita capilaridade.”
O grande diferencial do TikTok em relação a outras plataformas é a duração dos vídeos, com possibilidade de fazer edições, além de oferecer a opção de inserção de recursos interativos, que vão de enquetes a lives. Se antes a plataforma era de vídeos com “dança e coreografia”, hoje ela oferece informação imediata.
Ainda de acordo com a pesquisa, o TikTok foi o aplicativo que mais cresceu globalmente entre 2021 e 2022, alcançando 40% de usuários entre 18 e 24 anos, dos quais 15% usando a rede para consumir notícias. Assim, candidatos intercalam conteúdos políticos e memes.
“De eleição em eleição, a política vai migrando para as plataformas que as pessoas estão usando”, disse a pesquisadora em Democracia e Comunicação Digital Maria Carolina Lopes. “Em 2020, houve grande atenção midiática para o Instagram. Mas deverá haver uma virada para o TikTok.”
Para o professor Fábio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo, o atrativo do TikTok é a maior presença de usuários jovens e de faixa de renda menor. “Os influenciadores que nascem do TikTok são mais negros, periféricos e nordestinos. Isso faz com que a temática que envolva essa classe apareça mais no TikTok do que no Instagram ou no Facebook”, observou Malini. Dados de pesquisa do Opinion Box de junho indicam que 88% dos que usam a plataforma são das classes C, D e E.
No TikTok, Lula e Bolsonaro compartilham trechos de discursos, usam memes e fazem “trends” – nome dado para vídeos que são “tendência”, cujo formato é amplamente reproduzido ou adaptado por outros usuários.
O petista tenta se adaptar à linguagem da rede. Um de seus primeiros vídeos traz o ex-presidente dançando “sarrada”. Ele fala, ainda, de temas de interesse do público universitário, como o Programa Universidade para Todos (ProUni).
Bolsonaro, por sua vez, concentra sua produção em recortes de discursos e lives que costuma fazer semanalmente, além de reproduzir conversas com apoiadores. “Bolsonaro se elegeu a partir de uma comunicação digital agressiva. Eleito, ele não deixou as redes. No caso de Lula, a entrada foi mais demorada”, disse a professora Luciana Panke, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Como mostrou o Estadão em junho, desde o começo do ano citações a Lula tiveram 63% mais postagens, que também passaram a ser mais vistas pelos usuários, ainda que em menor proporção – as visualizações cresceram 33% no período. Bolsonaro também viu o número de menções aumentar 40%, mas registrou 7% menos visualizações. A publicação com mais curtidas de Lula é uma trend com sua mulher, Rosângela da Silva, a Janja: 251 mil. Ao provocar a cantora Anitta, Bolsonaro conseguiu a publicação com mais curtidas em julho: 581 mil.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) dá preferência a cortes em podcasts em que discorre sobre política e economia. Ele começou a publicar vídeos em abril de 2021 e tem 197 mil seguidores. Com presença mais tímida na plataforma, Simone Tebet (MDB-MS) intercala imagens de campanha e trechos de discursos e entrevistas. Com 4,5 mil seguidores, a senadora é a única que não tem perfil verificado.
O TikTok foi uma das empresas que firmaram memorando de entendimento com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para elaborar ações contra a desinformação no período eleitoral. Cerca de 4,8 milhões de vídeos foram removidos pelo aplicativo entre o segundo trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2022, conforme a plataforma.
No Brasil, a rede social recebeu 60 solicitações de informação – 58 judiciais e duas emergenciais – envolvendo 204 contas. Ainda não houve remoção de conteúdo ou de contas no TikTok a pedido da Justiça.
Para o professor Malini, as principais candidaturas ainda dão preferência para a TV, mas a facilidade de produção e o maior número de influenciadores em comparação a 2018 podem causar um novo fenômeno.
“Pode acontecer algo inverso no TikTok: a aproximação de jovens dos políticos. Temos um número maior de influenciadores com grandes audiências, e esse pode ser o fator-surpresa das eleições”, disse Malini. “As campanhas têm de ser mais abertas para incorporar aquilo que vem dos eleitores, que se transformam em fãs.”
Concorrente chinês tem como atrativo público mais velho
Terceiro aplicativo mais baixado no Brasil no ano passado, a plataforma de vídeos Kwai, também chinesa, rivaliza com o TikTok. Com uma base de mais de 45 milhões de usuários ativos por mês no País, o Kwai concentra público acima dos 25 anos – mais velho que o do TikTok.
“A plataforma tem forte presença no Norte e Nordeste e fora dos centros urbanos”, disse o diretor do Kwai Brasil, Wanderley Mariz. Para a professora Luciana Panke, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e líder do Grupo de Pesquisa Comunicação Eleitoral (CEL), a abrangência da plataforma explica o interesse de candidatos. “Quem concorre à Presidência precisa dialogar com pessoas de todas as faixas etárias e de renda.”
Jair Bolsonaro (PL) possui 1,6 milhão de seguidores na plataforma. Ciro Gomes (PDT) tem 500 mil; Lula (PT), 180 mil; e André Janones (Avante), 160 mil. / DANIEL VILA NOVA, ESPECIAL PARA O ESTADÃO. Fonte: https://www.estadao.com.br
Filhos sem limites nunca serão adultos seguros, diz autora best-seller
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Fase desafiadora é tema de novo livro de Thaís Vilarinho
Autora best-seller lança livro sobre adolescência - Arquivo Pessoal
SÃO PAULO
Porta do quarto fechada, cara amarrada, som mais alto no ouvido e fuga daquele abraço mais apertado dos pais. Para muitos, esse é o resumo da adolescência.
Mas antes de fecharmos o rótulo sobre essa fase, a escritora Thaís Vilarinho propõe aos pais refletirem um pouco sobre sua própria adolescência, medos e angústias pelos quais passaram ou ainda passam.
"Lembrar das nossas sensações passadas nos leva a olhar para o nosso adolescente com mais empatia, melhora o nosso relacionamento com ele e nos ajuda a entender as transições pelas quais ele está passando", diz a autora de Imagina na Adolescência (Buzz, 250p.)
A autora do best-seller Mãe Fora da Caixa, que originou à peça homônima, interpretada por Miá Mello, recomenda agora aos pais descobrirem seu novo lugar na vida dos filhos. E para isso, o espaço é fundamental. "Essas mudanças no comportamento deles são necessárias para que os filhos construam suas identidades e se descolem dos pais", pontua.
Apesar da liberdade, a escritora lembra que o limite permanece fundamental, afinal, os pais ainda estão educando.
"O lance é que na ânsia de não criar nenhum trauma emocional no seu filho (o que é impossível), e de seguir preenchendo a cartilha da educação perfeita, 'selo ISO 2022', o feitiço vai virar contra o feiticeiro e sua criança poderá se tornar um ser humano emocionalmente inseguro". Para Vilarinho, filho sem limite nunca será um adulto seguro.
Na casa dela, por exemplo, a porta do quarto dos filhos Matheus, 14, e Thomás, 11, pode até ficar fechada por alguns períodos do dia, mas há um combinado para sempre comerem refeições em família e longe das telas do celular.
Quando o assunto é sexo, um dos mais temidos pelos pais, Thaís prefere conversar e passar a mensagem, mesmo que veja um rosto desconfortável ou escute o famoso "tá bom, mãe". "Prefiro que ele fique sem graça e eu passe a mensagem do que negligenciar esse tema.
Vilarinho conta que o humor também ajuda a passar muitas mensagens. "Dou uma de dona Hermínia [personagem mais famosa de Paulo Gustavo, inspirada na mãe do ator] e consigo me comunicar de um jeito leve com eles. Queria ter tido essa cabeça lá atrás. O humor veio com o amadurecimento. Queria poder voltar e não levar tudo a ferro e fogo. O começo da minha maternidade foi muito duro, porque eu buscava a perfeição", lembra.
E sobre isso, Thaís também pondera. "É preciso abandonar a capacidade sabotadora que a gente tem de sempre achar que poderíamos ter feito mais [...] Jamais gaste sola de sapato correndo atrás da perfeição. Aceite que você vai errar", conclui em um dos textos. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
'Situação no Brasil é preocupante', afirma OMS sobre varíola dos macacos
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Líder técnica da OMS para a doença também chamou atenção para o acesso a testes
Profissional segura tubo indicando teste positivo para a varíola dos macacos - Dado Ruvic - 23.mai.2022/Reuters
SÃO PAULO
A líder técnica para varíola dos macacos da OMS (Organização Mundial da Saúde), Rosamund Lewis, disse em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (26) que "a situação do Brasil [para a doença] é preocupante".
"É muito preocupante para países como o Brasil [...] reportando um número significativo de casos", afirmou. Até o momento, o país conta com 813 casos confirmados da doença, segundo o Ministério da Saúde. O saldo representa um incremento de 33% em comparação com a última sexta (22), quando havia 607 diagnósticos confirmados em todo o país.
A maior parte dos casos se concentram no estado de São Paulo. A Secretaria de Estado da Saúde informou nesta segunda (25) que o estado já registrou 590 diagnósticos da doença. Comparando com a última sexta, houve o aumento de 26% nos casos da doença.
A líder técnica da OMS também chamou atenção para problemas de testagem que podem afetar o país. "O que é [...] importante é o acesso aos testes."
A organização declarou neste sábado (23) que a doença é considerada como emergência pública de preocupação global.
"Nós acreditamos ser o momento deste anúncio, considerando que, dia após dia, mais países e pessoas têm sido afetados pela doença. Precisamos de coordenação e solidariedade para controlar esse surto", disse Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS.
A varíola dos macacos é causada pelo monkeypox, um vírus do gênero orthopoxvirus. Outro patógeno que também é desse gênero é o que acarreta a varíola comum, doença erradicada em 1980.
Os principais sintomas da doença são febre, mal-estar e dores no corpo. Então, o quadro evolui para o surgimento de lesões na pele, sendo o contato com essas feridas a principal forma de transmissão do vírus.
O monkeypox é o vírus que causa a varíola dos macacos. Na imagem, uma imagem do patógeno capturado por microscópio Andrea Maennel/AFPMAIS
No entanto, pesquisas já reportam que alguns pacientes desenvolvem essas lesões nas regiões genitais, anais ou orais. A hipótese é que isso aconteça porque a disseminação da doença está ocorrendo principalmente por contato sexual e na comunidade de homens que fazem sexo com outros homens. A OMS, por exemplo, já indicou que cerca de 90% dos diagnósticos se concentram nessa população.
Um receio é que este cenário cause estigma a esses homens. "Estigma e discriminação podem ser mais perigosos que qualquer vírus", afirmou Adhanom.
A vacinação de populações chaves e pessoas que tiveram contato com pacientes é uma forma eficaz de evitar a transmissão, mas a expectativa é de que a vacina demore para chegar ao Brasil. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
24 de julho: Dia Mundial dos Idosos
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AVÓS E IDOSOS: “ARTÍFICES DA REVOLUÇÃO DA TERNURA”, PAPA FRANCISCO
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Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Para o segundo dia mundial dos avós e idosos, o Papa Francisco escolheu, como tema, o texto do Salmo 92, 15: “Dão fruto mesmo na velhice”. A reflexão considera, em primeiro lugar, a fecundidade generosa e criativa dos avós e idosos que, mesmo após a aposentadoria, e de ver os seus filhos autônomos e responsáveis por novas famílias, ou outras vocações, continuam a exercer uma missão humanitária e civilizatória importante e sublime para todas as gerações.
Embora a tempestade da pandemia tenha ceifado valiosíssimas vidas de nossos queridos avós, sua presença e legado torna-se cada vez mais eloquente e expressivo. Eles nos fazem lembrar que uma pessoa não vale somente pelo que produz, acúmulo de bens, ou sua força e beleza corporal, mas, fundamentalmente, pela sua sabedoria amorosa e pelos relacionamentos que cultiva.
A primazia do ser sobre o funcional, dos valores e da espiritualidade para além dos resultados e do eficientíssimo, da experiência e do testemunho de vida, para além de performances e da mera aparência. Nos ensinam, como Santo Agostinho, que nossa vida hoje é, como aquele que corre muito, veloz, sim, mas fora dos trilhos e sem saber para onde vai.
Neste tempo de mudanças ou de repensar a nossa forma de viver, eles nos ajudam a encontrar o essencial, o inegociável, que nos torna sensíveis, compassivos e atentos ao sofrimento. Feliz de quem já se acolheu ou abrigou no colo do avô, compartilhou suas histórias e narrativas cheias de colorido e beleza, ou degustou da culinária da avó, ou escutou seus conselhos e suas preces de uma fé inquebrantável.
Sim, eles, como São Joaquim e Santa Ana, são os guardiães da Aliança, da vida, do respeito pela Criação e, na sua ternura e paciência, nos educam e partilham conosco o sentido mais profundo e gratificante da nossa existência, a felicidade que o Deus amor quer nos comunicar através de seu Filho, que na sua experiência e natureza humana foi amado por avós. Deus seja louvado! Fonte: https://www.cnbb.org.br
DIA MUNDIAL DOS AVÓS E DOS IDOSOS-2022
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Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
“Dão fruto mesmo na velhice” (Sl 92,15)
Neste domingo, dia 24, a Igreja celebra o Dia Mundial dos Avós e dos idosos. Essa comemoração, instituída pelo Francisco para celebrar os avós e idosos no mês em que a Igreja faz memória de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora e avôs de Jesus, tem o sentido de expressar a atenção, o respeito e o cuidado com aqueles que nos apresentam um caminho de vida cheio de sabedoria.
Desde o ano passado, por decisão do Papa Francisco, é celebrado no último domingo de julho, o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.
O Papa Francisco sempre falou de que é necessário olhar para os idosos com respeito, vendo-os como benção e não como peças a serem descartadas. Na mensagem para esse ano o Papa coloca o acento sobre a velhice. A primeira afirmação do Papa chama a atenção de que a mensagem bíblica, expressa no título de sua mensagem “vai contracorrente relativamente àquilo que o mundo pensa desta idade da vida e também ao comportamento resignado de alguns de nós, idosos, que caminhamos com pouca esperança e sem nada mais esperar do futuro”. O Papa reconhece: “Muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contato”. É uma estação da vida difícil de entender, afirma o Papa. Mas, é preciso não só olhar para o que o mundo apresenta – “planos de assistência”, mas também “projetos de existência”. E é sempre a Palavra de Deus a nos iluminar nesse caminho, um caminho que vê a velhice “não como uma condenação, mas uma bênção”.
O Papa aponta para uma vivência espiritual de uma “velhice ativa”: “cultivando a nossa vida interior através da leitura assídua da Palavra de Deus, da oração diária, do recurso habitual aos Sacramentos e da participação na Liturgia. E, a par da relação com Deus, cultivemos as relações com os outros: antes de mais nada, com a família, os filhos, os netos, a quem havemos de oferecer o nosso afeto cheio de solicitude; bem como as pessoas pobres e atribuladas, das quais nos façamos próximo com a ajuda concreta e a oração”. Os idosos não devem ser considerados inúteis, pelo contrário, fazem parte de “uma estação que continua a dar fruto”. E fruto que contribui para a revolução da ternura, uma necessidade do tempo de hoje: “Neste nosso mundo, queridas avós e queridos avôs, queridas idosas e queridos idosos, estamos chamados a ser artífices da revolução da ternura! Façamo-lo aprendendo a usar cada vez mais e melhor o instrumento mais precioso e apropriado que temos para a nossa idade: a oração. Tornemo-nos, também nós, um pouco poetas da oração: adquiramos o gosto de procurar palavras que nos são próprias, voltando a apoderar-nos daquelas que a Palavra de Deus nos ensina”.
Eis o expresso desejo do Papa para celebrar esse dia: “o Dia Mundial dos Avós e Idosos é uma oportunidade para dizer mais uma vez, com alegria, que a Igreja quer fazer festa juntamente com aqueles que o Senhor – como diz a Bíblia – ‘saciou com longos dias’ (Sl 91,16). Celebremo-la juntos! Convido-vos a anunciar este Dia nas vossas paróquias e comunidades, a visitar os idosos mais abandonados, em casa ou nas residências onde estão hospedados. Procuremos que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e dum primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo!”.
Rezemos neste domingo por todos os avós e idosos. Aprendamos deles a sabedoria da vida e os honremos dignamente. Fonte: https://www.cnbb.org.br
As dores da mulher refugiada
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Olhar com atenção para essas mulheres é uma missão necessária e implementar políticas de acolhimento a elas, uma obrigação.
Andrea Freire, O Estado de S.Paulo
Uma simples lembrança referente à sua tortuosa jornada do Sudão do Sul a Uganda faz Dominica, 30 anos, ir ao choro. Quanto mais ela se recorda dos desafios e das mazelas da guerra em seu país de origem e dos desafios que agora enfrenta como refugiada, mais as suas lágrimas proliferam, em abundância.
Dominica tinha apenas 25 anos quando fugiu da nação mais jovem do mundo, em 2016, buscando segurança e oportunidades econômicas para si e seus quatro filhos, com idades não superiores a cinco anos. Como muitas outras mães solteiras refugiadas, Dominica deixou sua terra natal na esteira da agitação política que levou o Sudão do Sul a uma extensa guerra com seu vizinho Sudão.
A história de Dominica é somente uma entre milhões que existem no mundo todo de mulheres refugiadas que se veem sem escapatória quando guerras e outras tragédias – naturais ou humanas – atingem seus países. O que aconteceu no Sudão do Sul foi visto na Síria, observado no Iêmen e, agora, é testemunhado quase em tempo real na Ucrânia. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), já são 14 milhões de ucranianos que precisaram deixar sua casa em razão do conflito que se instalou no país – o segundo maior da Europa em extensão territorial.
O problema das guerras atinge, claro, todos os que nelas estão envolvidos, independentemente de sexo, religião, classe econômica ou faixa etária. Você pode imaginar que estar próximo de um hospital infantil lhe trará mais segurança, mas vimos na guerra na Ucrânia que não é bem assim; crianças também são vítimas de bombardeios. Ser um bilionário pode gerar um sentimento de conforto e proteção, mas em poucos dias seus bens podem ser congelados e tudo o que você tinha pode virar pó.
Mas, ainda que guerras façam todos sofrer, há aqueles que sofrem mais. Entre estes estão as mulheres. Segundo a ONU, dos cerca de 19,6 milhões de refugiados e 244 milhões de migrantes que existem no mundo, quase metade é mulher.
Em algumas sociedades, mulheres e meninas enfrentam discriminação e violência todos os dias, simplesmente por causa de seu gênero. Atividades comuns como passear na rua, coletar água ou voltar da escola podem colocá-las em risco de estupro ou abuso, o que apenas se intensifica durante conflitos e tragédias.
Dados da Fundação Observatório de Pesquisa (FOP), um think tank global com sede na Índia, mostram que na guerra entre Bangladesh e Paquistão, por exemplo, de 200 mil a 400 mil mulheres foram sistematicamente abusadas sexualmente. O número é assustador, mas não para por aí: na guerra civil de Serra Leoa, nos anos 1990, foram cerca de 60 mil. Na Libéria, 40 mil; cerca de 60 mil na antiga Iugoslávia e algo entre 100 mil e 250 mil no genocídio de Ruanda.
Mulheres vítimas do estupro como arma de guerra carregam complicações físicas e mentais para o resto de sua vida. A FOP, inclusive, destaca um relatório da Anistia Internacional segundo o qual muitas se queixam de traumas no corpo, como sangramentos contínuos, dores, imobilidade e fístula. Muitas testam positivo para infecções sexualmente transmissíveis após serem violentadas. Além disso, privação do sono, ansiedade e sofrimento emocional são comuns entre sobreviventes – e também entre familiares que testemunharam a violência.
Para muitas dessas vítimas, a superação é difícil. A começar pela falta de acesso a sistemas de apoio psicológico e emocional – que, quando existe, é limitado e graças aos esforços de entidades de ajuda humanitária. Para piorar, essas mulheres precisam continuar com sua vida e cuidar de seus filhos, uma vez que seus maridos ou foram lutar na guerra ou foram mortos nela. E tudo isso precisa ser feito, no caso das refugiadas, numa terra estranha e sem uma rede de proteção familiar e financeira.
É por isso que a assistência a migrantes e refugiados é uma empreitada que demanda esforços em múltiplas frentes. Temos visto isso aqui, no Brasil, onde um conjunto de parceiros públicos e privados tem se unido para acolher os venezuelanos que chegam ao País, muitas vezes após caminharem por centenas de quilômetros, deixando para trás tudo o que um dia já tiveram, incluindo bens pessoais, amigos, famílias e sonhos.
No caso específico das mulheres, elas comumente chegam aqui com o desafio adicional de precisarem ser, agora, as provedoras financeiras de suas famílias. Para elas, aprender um ofício e ter uma escola onde seus filhos possam estudar enquanto trabalham é tão essencial quanto arroz, feijão e um copo d’água.
Ter a vida rompida abruptamente é um golpe para qualquer pessoa e, quando acontece na casa dos milhões, como vemos atualmente no mundo, é um problema humanitário de responsabilidade de todos. Olhar com mais atenção para as refugiadas é uma missão necessária e implementar políticas públicas de acolhimento a elas, uma obrigação. Num ano eleitoral, quando mais uma vez a sociedade irá discutir como posicionar o Brasil e o país que queremos, não devemos escapar desse debate.
*GERENTE DE PROGRAMAS DA ONG VISÃO MUNDIAL Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Por que a varíola dos macacos se espalhou agora?
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Cientistas de todo o mundo buscam respostas para o surto recente e repentino de monkeypox, enquanto tentam evitar 'erros do passado' cometidos durante o início da epidemia de HIV com a população LGBT+
João Ker, O Estado de S.Paulo
Desde que extrapolou as fronteiras da África em maio, a varíola dos macacos (monkeypox) já se espalhou por 65 países e infectou quase 10 mil pessoas, diz o relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), da semana passada. No Brasil, já foram contabilizados 449 casos, a maioria em São Paulo – mas especialistas acreditam que o vírus esteja mais espalhado, em meio às dificuldades de teste e diagnóstico. A doença já foi identificada pela ciência desde 1958, mas agora médicos e pesquisadores tentam entender as causas da velocidade do novo surto e debatem a melhor forma para conter essa ameaça sem aumentar o estigma sobre os grupos mais vulneráveis ao vírus. Entre as estratégias, eles defendem campanhas de orientação focadas e vacinas.
A OMS estima que 98% dos casos de varíola dos macacos notificados em todo o mundo sejam entre "homens que se relacionam com homens" (HSH), o que engloba o grupo de gays e bissexuais, mas não se restringe a eles. No Brasil, médicos de São Paulo relatam percepção semelhante e o boletim mais recente do Ministério da Saúde aponta que essa população corresponde a 100% dos pacientes que declararam a orientação sexual na hora do diagnóstico. Ainda não se sabe o motivo de o contágio ser maior nesse grupo.
Origem
Antes, a doença estava mais restrita a áreas rurais da África central e continental. Ainda não há consenso sobre o motivo do contágio mais veloz – a transmissão sexual ainda é investigada pelos pesquisadores. A teoria mais difundida entre cientistas é de que isso ocorreu por causa de uma série de mutações no vírus, que depois encontrou na população HSH um primeiro nicho de disseminação.
Apesar do nome, a varíola dos macacos é mais comum em roedores e se restringia majoritariamente a caçadores africanos, onde é considerada endêmica. "Ela foi descrita assim pela primeira vez porque teve um surto em macacos, que adoeceram assim como nós. Não foram eles que transmitiram a doença para nós", explica Ana Gorini da Veiga, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
"Ainda não sabemos por que esse surto está mais abrangente. Pode ser por uma maior transmissibilidade do vírus, porque hoje temos maior facilidade de transporte e locomoção de pessoas...", aponta Ana. Os primeiros registros dessa nova variante vieram da Espanha e da Bélgica, mas rapidamente os sintomas pipocaram em países como Portugal, Reino Unido e nas Américas.
Um dos principais empecilhos para dimensionar o alcance da monkeypox no Brasil e no mundo tem sido a variedade de manifestações da doença e a subnotificação. Com o período de incubação do vírus podendo variar de 5 a 21 dias, os primeiros sintomas geralmente incluem febre, dor de garganta, de cabeça e no corpo (que em alguns casos leva a uma primeira suspeita de infecção por algum vírus respiratório), além de inchaço dos gânglios. Alguns dias depois, surgem as lesões na pele, com pequenas erupções que podem se espalhar pelos dedos, mãos, braços, pescoço, costas, peito e pernas.
O surgimento dessas feridas nas regiões genital e perineal (entre o ânus e o órgão genital) tem ajudado médicos a confundir a varíola dos macacos com outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis e herpes. Pacientes ouvidos pela reportagem relatam que foram medicados com antibióticos e anti-inflamatórios, na primeira consulta após os primeiros sinais da doença. Com a persistência dos sintomas, a maioria deles só foi novamente testada após insistir em um novo diagnóstico ou se dirigir a outro hospital.
Transmissão sexual?
O fato de a varíola dos macacos causar erupções próximas ao genital e se disseminar tão rapidamente entre homens gays e bissexuais tem levantado a hipótese de que essa forma da doença possa ser sexualmente transmissível. Estudos preliminares na Itália e na Alemanha encontraram vestígios do vírus no sêmen de pacientes, mas os dados ainda são poucos para afirmar se a quantidade de carga viral seria suficiente para uma infecção.
"O fato é que temos uma doença transmitida de roedores para humanos e levada para a Europa, onde se disseminou de maneira muito intensa em encontros sexuais casuais, especialmente de homens. O vírus encontrou um nicho epidemiológico, que tem a possibilidade de transmissão adequada", explica Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, infectologista e pesquisador epidemiologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Por enquanto, médicos e cientistas dizem que é possível afirmar com mais segurança que a principal forma de transmissão da monkeypox é pelo contato direto com lesões ou saliva de pessoas infectadas, e não pela penetração sexual, por exemplo. Nesse sentido, o uso de máscara facial é importante, assim como a higiene constante das mãos e manter distância de quem esteja com sintomas, principalmente os visíveis.
"A transmissão não é pelo ato sexual, mas tem apresentado um comportamento que mimetiza essas características. Já temos casos, por exemplo, de alguém que teve a doença sexualmente e transmitiu para uma segunda pessoa do mesmo domicílio de outra forma", aponta Fortaleza. "Ao mesmo tempo, ignorar que ela tem se comportado como uma IST pode fazer com que a gente não dê as orientações necessárias para determinado grupo prioritário."
Sem erros do passado
Esse comportamento singular da monkeypox e sua associação ao ato sexual têm impulsionado queixas de parte da comunidade LGBT+, que encara os alertas específicos para "homens que se relacionam com homens" como uma forma de renovar o estigma criado há décadas sobre esse mesmo público desde o surgimento do HIV. Entre a comunidade médica e científica, essa mesma preocupação de reforçar estereótipos está "no cerne da questão", como aponta o epidemiologista Fábio Mesquita.
"Não queremos cometer os mesmos erros do HIV. Na época, nossa ignorância era muito grande. Olhamos só para o número de casos como se fosse necessariamente associado a uma comunidade", observa ele, que já foi diretor do então Departamento de Doenças de Transmissão Sexual, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e hoje está baseado em Myanmar como membro do corpo técnico da OMS.
E qual seria a forma correta de alertar a população de risco sem cair na estigmatização ou até culpar a comunidade pelo espalhamento do vírus? "É dizer que, nesse momento, a comunidade precisa ficar atenta, porque está disseminando de forma importante", aponta Mesquita. "Mas também precisamos frisar que não há evidência científica de que a monkeypox ficará restrita a ela (comunidade LGBT+)."
Quem concorda com essa visão é David Uip, infectologista e secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do Estado de São Paulo. Ao Estadão, ele disse acreditar que "informação clara, correta e científica" é o melhor caminho para contornar o preconceito e criar a conscientização necessária tanto no grupo de risco como na população em geral, evitando o que categoriza como "a catástrofe do ponto de vista médico, epidemiológico e social" vista no enfrentamento do HIV.
"Você tem de se prevenir com o que temos de informações disponíveis, sem gerar pânico", aponta Uip, que esteve na linha de frente do combate ao HIV quando a doença explodiu no Brasil, em 1980, e foi inicialmente batizada de "peste gay". "(A monkeypox) não é uma doença letal, pelo menos no momento, mas as pessoas estão muito sintomáticas e sofrendo demais."
Vacinas
Outro paralelo que Uip estabelece entre a monkeypox e o HIV é a falta de vacinas específicas e duradouras para essas doenças. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde a imunização contra a varíola dos macacos já começou, são usadas doses inicialmente desenvolvidas para a varíola humana (smallpox), distribuídas especificamente para a população HSH e com estoque bem aquém do necessário.
"Eu aproveitaria esse momento e encontraria mais informações sobre a monkeypox. Passaram-se 40 anos e ainda não encontramos a vacina para o HIV. O paciente tratado tem outra vida. O que resta, por enquanto, são medicamento e informação", diz.
Por ora, a aquisição de vacinas contra a varíola dos macacos não é uma realidade para o Brasil e nem para a maioria dos países em que a doença já foi encontrada. Questionado ao longo das últimas semanas, o Ministério da Saúde limitou-se a dizer que segue desde maio em tratativas com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a quem atribui a responsabilidade da distribuição de doses. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Violência política
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Violência política
Ao contrário do que muitos sustentaram, no Paraná não houve polarização. Não foi o confronto de petistas e bolsonaristas em igualdade de condições.
Denis Lerrer Rosenfield, O Estado de S.Paulo
O assassinato de um aniversariante petista, ao lado de sua família, por um bolsonarista é um passo perigoso no processo de enfraquecimento das instituições democráticas. A política, entendida como um confronto à morte entre amigos e inimigos, produz, aí, o seu fruto real, por mais aterrador que seja. Bolsonaro orienta-se por ela, sempre à caça de inimigos reais e imaginários: a esquerda, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as vacinas, o teto de gastos, o Supremo Tribunal Federal, os cidadãos pacíficos, as urnas eletrônicas e assim por diante, num acirramento crescente. A justificativa de alguns de que se trata apenas de um excesso de linguagem ou verborragia não se sustenta, pois é ela o guia de suas ações. Instituições democráticas tornam-se o alvo, famílias são divididas, amigos se separam, milícias digitais atacam, milícias reais vão às ruas de moto. Alguns fanáticos mais possuídos por esta narrativa decidem passar à ação concreta: tomam em armas e matam.
É bem verdade que essa concepção da política já foi seguida por Lula e pelos petistas, ao agirem baseados na distinção do “nós contra eles”, criando um clima de confronto, tendo ganho proporções no campo brasileiro. As hordas do MST invadiam com armas brancas e de fogo propriedades rurais, esquartejando o gado, incendiando, infringindo medo aos trabalhadores, disseminando a mais completa insegurança.
Ademais, Lula se comprazia na companhia de ditadores americanos e africanos, justificando a repressão e prisões, como nos casos mais gritantes da Venezuela e de Cuba. Também eles seguiam e seguem a distinção entre amigos e inimigos.
É, também, forçoso reconhecer que o atual candidato petista tem sido muito cauteloso, fazendo movimentos ao centro, escolhendo o ex-governador Alckmin para a posição de vice-presidente e utilizando uma mensagem de concórdia e pacificação em suas publicidade e mídias digitais. Procura, nesse sentido, um desenho democrático, e não autoritário ou totalitário de política.
No entanto, no caso em questão, não houve polarização, ao contrário do que muitos sustentaram. Não foi um confronto entre bolsonaristas e petistas em igualdade de condições, visto que a relação entre o assassino e o assassinado é assimétrica.
Primeiro, não se conheciam. Logo, não se pode tratar desta violência como um crime qualquer, produto de rixa com objeto específico, como desavenças entre vizinhos, traição, dinheiro ou outro motivo qualquer.
Segundo, ao não se conhecerem, a relação torna-se impessoal, remetendo diretamente ao motivo ideológico. O assassino entra à força numa festa, atirando e proclamando: “Aqui é Bolsonaro”. Sim, o presidente estava lá em seu discurso e em sua concepção do inimigo a ser abatido. O objeto de discurso tornou-se um alvo real.
Terceiro, a vítima estava numa festa privada, num salão de festas, comemorando com os seus o seu aniversário. Que homenageie Lula é uma opção privada exclusivamente sua, ninguém tendo nada que ver com isso. É o seu domínio próprio, que não deveria ser invadido por ninguém, por razão nenhuma, muito menos ideológica.
Note-se, ainda, que, no que diz respeito ao porte de armas, ocorre aqui uma inversão de posições. Os bolsonaristas têm defendido o livre porte de armas, inclusive de maior potência, e sem nenhuma forma de fiscalização, baseados no princípio – aliás, legítimo – da autodefesa. Contudo, o assassino não exerceu nenhum direito à autodefesa, mas o arbítrio de matar alguém por discordar de suas posições políticas. Exerceu o “direito” ao ataque, ao uso indiscriminado da violência. Por sua vez, a vítima, ela sim, exerceu o direito à autodefesa, conseguindo ferir o atacante e evitando uma tragédia ainda maior. Curiosa situação: o petista exerce o direito à autodefesa; o bolsonarista, ao ataque e à violência.
Portanto, não se pode falar de uma polarização política, salvo no quadro geral do cenário brasileiro, com a ressalva de que um candidato, preso à sua bolha, continua na perseguição aos seus “inimigos”, enquanto o outro procura sair de sua bolha própria, aproximando-se do centro político. Um guarda a sua matriz ideológica de cunho autoritário/totalitário; o outro procura dela sair, passando a afirmar convicções democráticas. Um patina nas pesquisas de opinião, o outro avança.
Agora, na cena específica do assassinato, há, reitere-se, uma relação assimétrica: o assassino se contrapõe ao assassinado; o culpado, bolsonarista, à vítima, petista; o atacante ao atacado; o agressor ao agredido. Não é possível fazer uma contorção ideológica equalizando dois lados não equalizáveis.
Quando a democracia começa a presenciar tais tipos de eventos, derrapando para soluções autoritárias, abre-se a porta para a violência indiscriminada. Outros fanáticos poderão seguir o mesmo exemplo. A condenação deve ser absoluta e irrestrita, não contemplando nenhuma espécie de relativização. Muito menos colocando o assassino e a vítima na mesma posição. A liberdade agradece!
*PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
Jornalismo – a urgente reinvenção
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Jornalismo – a urgente reinvenção
Mais do que nunca, numa sociedade polarizada e intolerante, valores essenciais precisam ser resgatados e promovidos.
Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo
O cenário do consumo de informação preocupa. E muito. Exige reflexão, autocrítica e coragem. Vamos lá: 54% das pessoas evitam ativamente o noticiário no Brasil. Quase metade daqueles que dizem fugir das notícias, no mundo e também aqui, alega que está esgotada do noticiário de política e sobre covid-19. Outra razão apontada pelo público é o impacto emocional negativo que as notícias causam. Só baixo astral.
Os dados estão no artigo da professora Ana Brambilla no Orbis Media Review que disseca o último relatório global sobre jornalismo digital do Reuters Institute. Vale a pena uma leitura atenta. Suscita preocupação, mas também pode abrir uma avenida de oportunidades. Chegou a hora da reinvenção.
A sociedade está cansada do clima de militância que tomou conta da agenda pública. Sobra opinião e falta informação. Os leitores estão perdidos num cipoal de afirmações categóricas e pouco fundamentadas, declarações de “especialistas” e uma overdose de colunismo. Um denominador comum marca o achismo que invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: radicalização e politização.
O jornalismo reclama alguns valores essenciais: amor pela verdade, paixão pela liberdade e uma imensa capacidade de sonhar e de inovar. Eles resumem boa parte da nossa missão e do fascínio do nosso ofício. Hoje, mais do que nunca, numa sociedade polarizada e intolerante, precisam ser resgatados e promovidos.
As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização da sociedade. Suscitam debates, geram polêmicas (algumas com forte radicalização) e exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, as que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de padrões de qualidade, algo que deve estar na essência dos bons jornais.
O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.
Jornalismo independente reclama liberdade. Não temos dono. Nosso compromisso é com a verdade e com o leitor. Mas a reinvenção do jornalismo passa por uma imensa capacidade de sonhar. É preciso vencer comportamentos burocráticos, reconhecer a nossa crise e tratar de virar o jogo. O fenômeno da desintermediação dos meios tradicionais, por exemplo, teve precedentes que poderiam ter sido evitados, não fosse o distanciamento da imprensa dos seus leitores, sua dificuldade de entender o alcance das novas formas de consumo digital da informação e, em alguns casos, sua falta de isenção informativa e certa dose de intolerância.
Os leitores, com razão, manifestam cansaço com o tom sombrio das nossas coberturas. É possível denunciar mazelas com um olhar propositivo. Pensemos, por exemplo, na ignominiosa situação da corrupção. É preciso reverter um quadro que agride a dignidade humana, envergonha o Brasil e torna inviável o futuro de gerações. Não seria uma bela bandeira, uma excelente causa a ser abraçada pela imprensa? Com seriedade e profundidade, e não como consequência do jogo político. Em vez de ficarmos reféns do diz que diz, do blá-blá-blá inconsistente, das intrigas e da espuma que brota nos corredores de Brasília, que não são rigorosamente notícia, mergulhemos de cabeça em pautas que, de fato, ajudem a construir um país que não pode continuar olhando pelo retrovisor.
Não podemos viver de costas para a sociedade real. Isso não significa ficar refém do pensamento da maioria. Mas o jornalismo, observador atento do cotidiano, não pode desconhecer e, mais do que isso, confrontar permanentemente o sentir das suas audiências. A verdade, limpa e pura, é que frequentemente a população tem valores diferentes dos nossos.
A internet, o Facebook, o Twitter e todas as ferramentas que as tecnologias digitais despejam a cada momento sobre o universo das comunicações transformaram a política e mudaram o jornalismo. Queiramos ou não. Precisamos fazer a autocrítica sobre o nosso modo de operar. Não bastam medidas paliativas. É hora de dinamitar antigos processos e modelos mentais. A crise é grave. Mas a oportunidade pode ser imensa.
A violência, a corrupção, a incompetência e a mentira estão aí. E devem ser denunciadas. Não se trata, por óbvio, de esconder a realidade. Mas também é preciso dar o outro lado, o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do túnel. A boa notícia também é informação. A análise objetiva e profunda, sem viés ideológico, é uma demanda dos leitores. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem tornar o jornalismo refém da fácil cultura do negativismo.
Chegou a hora do jornalismo propositivo. Aquele que não se limita a mostrar os problemas, mas vai além: aponta alternativas e soluções.
*JORNALISTA. E-MAIL: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. ';document.getElementById('cloakf3c7d2b561b39f84d38d0e5798694d58').innerHTML += ''+addy_textf3c7d2b561b39f84d38d0e5798694d58+'<\/a>'; Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
A violência estimulada se alastra
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A violência estimulada se alastra
As arengas criminosas e as blasfêmias não respeitam pessoas, instituições do Estado nem algumas religiões e credos.
Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, O Estado de S.Paulo
Antes de ser guilhotinada, Manon Roland afirmou: “Oh, liberdade, quantos crimes se cometem em seu nome!”. Eu me permito perguntar: segurança, quantos crimes e barbaridades têm você como pretexto, desculpa e até aplausos? Até quando se vão matar inocentes ou culpados, não importa. Não se pode matar. Só se pode matar em legítima defesa, circunstância prevista em lei e que justifica a conduta. No entanto, mata-se porque se quer matar. Invade-se uma comunidade, tiros são disparados sem que outros tiros tenham sido desferidos. E as balas atingem não só os alvos desejados, como quem está nas ruas, ou em casa, ou num bar, numa loja, dentro de um carro, seja lá onde for, as balas alcançam qualquer um. Dizem que são balas perdidas. E daí? É pior, pois isso demonstra que as armas foram acionadas a esmo. O atirador assume o risco consciente de matar quantos forem alcançados por seus projéteis. Ele aciona sua arma sabendo que ela poderá ser letal para qualquer um. Isso não o preocupa.
Deve-se ter presente um pensamento do Prêmio Nobel Aleksandr Soljenítsin no sentido de que a violência está sempre acompanhada da mentira. Com efeito, inverdades e invencionices servem para justificar os abusos e inverter as responsabilidades. As vítimas se tornam culpadas.
Aliás, a violência desmotivada, desnecessária, criminosa tem como elemento propulsor um discurso oficial que estimula, incentiva e autoriza a barbárie assassina contra a sociedade. O que desencadeia a conduta predatória dos chamados agentes da lei, que, na verdade, agem contra ela? A luta contra o crime? Sim, admitamos que seja. Mas como e por que as mortes entram nesse combate? A única forma de atacar o crime é matar o criminoso, o suspeito ou o inocente?
Há algumas situações que justificam a ação repressiva, mesmo que eventualmente se ponha em risco a integridade física de terceiros, como, por exemplo, nos casos de trocas de tiros, agressões contra pessoas ou contra a própria polícia, intervenção no curso da prática de um crime, e algumas outras.
Mas como explicar a mortandade quando não há violência desencadeada? Chegar aos locais atirando; executar pessoas depois de já imobilizadas, como ocorreu na comunidade do Fallet, no Rio de Janeiro; partir da mera suposição de que irão atirar contra a polícia e antecipar os disparos, tal qual fizeram no Jacarezinho e na Vila Cruzeiro, constituem ações que não podem ser denominadas de “operações policiais”. Não, isso é chacina, assassinato em massa, crime contra a humanidade.
E mais: não se pense que a barbárie é cometida apenas contra grupos, com o receio de seus integrantes atirarem primeiro. Não, está-se matando no atacado e no varejo. Não faz muito tempo, matou-se alguém num supermercado sufocando-o. Recentemente, no Estado de Sergipe, asfixiou-se um detido já imobilizado dentro de uma viatura, atirando gases dentro do veículo. Há anos houve dois episódios que muito me marcaram em São Paulo. Um motoqueiro, desarmado, foi morto pelas costas porque não parou quando instado a tal. E um casal de velhos japoneses feirantes que foram executados pois também seguiram com sua Kombi, sem perceber que havia uma barreira policial. A memória não ajuda, mas posso afirmar que foram centenas os casos de mortes individuais ou coletivas provocadas por desastrosas ações policiais.
Aliás, crueldades também são cometidas por não policiais. Violências são registradas tendo como autores membros de seguranças privadas.
A violência igualmente está instalada no seio da sociedade, especialmente contra a legião dos desamparados e desvalidos. Até incêndios em corpos vez ou outra são noticiados. Os conflitos provocados pelas diversidades de origem social, cor da pele e opções sexuais vitimam com frequência pobres, negros, indígenas, homossexuais. Somam-se a esse rol as atrocidades contra crianças e mulheres.
A intolerância que é geradora do ódio, atualmente, permeia o relacionamento pessoal. Manifestações antagônicas não mais são marcadas pela compreensão, pela tolerância e pela educação. Na verdade, este autoritarismo de ideias representa a negação da própria democracia e da liberdade de pensamento. Haverá respeito desde que a opinião alheia coincida com a minha.
Os estímulos à violência são constantes e insistentes, divulgados, basicamente, pela palavra falada, tendo como arautos autoridades que num plano hierárquico influenciam os incautos e desavisados. Em regra, seus discursos pregam a discórdia e fazem apologia do povo armado. Mentiras, invencionices, bravatas, vulgarização da linguagem, falas impensadas – e, quando pensadas, mal pensadas – estão sensibilizando obtusos e fanáticos seguidores. As arengas criminosas e as blasfêmias não respeitam pessoas, instituições do Estado nem algumas religiões e credos, inclusive o papa e os defensores dos direitos humanos foram alvos de infâmias.
É imprescindível que incorporemos e divulguemos os valores da civilidade e do humanismo para não nos transformarmos numa sociedade, já injusta e desigual, estigmatizada pelo ódio que inviabiliza a pacífica e harmônica relação entre os homens. Fonte: https://opiniao.estadao.com.br
É preciso desligar a violência
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É preciso desligar a violência
Quero reparar no passo da moça na calçada, na graça do menino que descobre um ninho, no entregador que assovia no seu triciclo desconjuntado
A notícia já era repugnante por escrito: um procurador espancou a colega de trabalho. Não vieram, porém, só palavras, tinha mais: o vídeo registrando de forma explícita a covardia.
Me desculpem, mas, para mim, foi demais.
As notícias abomináveis têm aparecido em sequência: a câmara de gás portátil em Sergipe, o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, o estupro da menor em Santa Catarina. A gente sabe que não vai parar por aí. Como reagir? O quanto podemos tolerar? Quando o vídeo covarde e violento começou, parei no primeiro soco.
Já não consigo.
Sim, sei que a indignação pública é fundamental e que sem ela a Justiça não vai para a frente. Deixar quieto é garantia de impunidade. Também sei que sou um privilegiado, dos que têm contato com a violência muito mais pelas telas do que ao vivo.
Sim, tenho consciência.
Porém, de tão informado, de tantas notícias trágicas nas palmas das mãos e imagens violentas ao alcance dos olhos, de tanto ver o que não gostaria de ter visto, ando querendo desligar a realidade. Ao menos essa da desgraça e dor em 4k e 120Hz. Às vezes me sinto como aquele personagem de “Laranja mecânica”, obrigado a ver cenas violentas até não aguentar mais.
O quanto a gente consegue aguentar? Vale a pena?
Talvez esteja me juntando aos que evitam notícias ruins. São cada vez mais, diz uma pesquisa do Instituto Reuters feita em vários países. Sim, o Brasil está na frente. Talvez não se trate de alienação, muito menos desinteresse, mas de sobrevivência. Buscar abrigo para o excesso de maldade e estupidez. O leitor deve estar se perguntando se funciona, se não é tapar o sol com a peneira ou enterrar a cabeça na areia. É sensato ignorar o horror?
Quando era adolescente e ouvia minha avó reclamar das notícias ruins nas páginas, na TV, achava que isso era uma atitude sem sentido, coisa de velho. Hoje percebo a antiga sabedoria. Não dá para viver cercado de crueldade e selvageria. Mais cedo ou mais tarde você acaba se tornando indiferente à barbárie. Quando se dá conta, virou um daqueles haters que apareceram na coluna da semana passada. Melhor não.
Quero andar tranquilo.
Em vez de passar os dias angustiado com as imagens das atrocidades que se repetem, de ver o que já não consigo desver, melhor desligar a tomada, esquecer o que nunca vai dar certo e sair na rua off-line, despreocupado.
Quero reparar no passo da moça na calçada, na graça do menino que descobre um ninho de bem-te-vi, no entregador que assovia a melodia das ruas no seu triciclo desconjuntado. Rir de uma bobagem inocente e passageira, me comover com um sentimento eterno esquecido em alguma esquina. Quero redescobrir o encanto do cotidiano, do afeto do dia a dia, para escrever sobre o que não aparece nas primeiras páginas.
Acho que não precisa de muito.
É só desligar na hora certa, esquecer o horror das imagens que vão pelas telas e cuidar do que vai pelos cantos da alma, do que me restou dela. Para notar que o inverno está aí, que há dias de frio e outros não, que logo vão começar a florescer os ipês.
É o que anuncia a primavera que vai chegar. Fonte: https://oglobo.globo.com
PF prende ex-ministro da Educação Milton Ribeiro
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Prisão, determinada pela Justiça, ocorre em meio a investigação de esquema para liberação de verbas do MEC. Pastores que intermediavam liberações também são alvo de operação.
Por Márcio Falcão e Wellington Hanna, TV Globo — Brasília
A Polícia Federal prendeu na manhã desta quarta-feira (22) o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Ele é investigado por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência por suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC.
A TV Globo apurou que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura também são alvos da operação deflagrada pela PF nesta quarta. Eles são investigados por atuar informalmente junto a prefeitos para a liberação de recursos do Ministério da Educação.
Em áudio divulgado em março, Ribeiro afirma que o presidente Jair Bolsonaro pediu a ele que os municípios indicados pelos dois pastores recebessem prioridade na liberação de recursos. Prefeitos disseram em depoimento que eles exigiram propina.
Uma fonte da PF em São Paulo disse à TV Tribuna que Milton Ribeiro foi preso em Santos e que ele deve ser levado para Brasília. Segundo o porteiro do prédio em que ele mora, o ex-ministro foi levado por volta das 7h.
Até a última atualização desta reportagem ainda não havia confirmação da prisão dos pastores Santos e Moura.
Investigação
A PF investiga Ribeiro por suposto favorecimento aos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura e a atuação informal deles na liberação de recursos do ministério. Há suspeita de cobrança de propina. O inquérito foi aberto após o jornal "O Estado de S. Paulo" revelar, em março, a existência de um "gabinete paralelo" dentro do MEC controlado pelos pastores. Dias depois, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgou um áudio de uma reunião em que Ribeiro afirmou que, a pedido de Bolsonaro, repassava verbas para municípios indicados pelo pastor Gilmar Silva.
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", disse o ministro no áudio. "Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", complementou Ribeiro.
Após a revelação do áudio, Ribeiro deixou o comando do Ministério da Educação. Em depoimento à PF no final de março, Ribeiro confirmou que recebeu o pastor Gilmar à pedido o presidente Jair Bolsonaro. No entanto, ele negou que tenha ocorrido qualquer tipo favorecimento. Registros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) apontam dezenas de acessos dos dois pastores a gabinetes do Palácio do Planalto.
Em vídeo, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que botava "a cara no fogo" por Ribeiro e que as denúncias contra o ex-ministro eram "covardia". Já nesta quarta, questionado sobre a prisão do ex-ministro pela PF, Bolsonaro afirmou que Ribeiro é quem deve responder por eventuais irregularidades à frente do MEC.
"Ele responde pelos atos dele", afirmou Bolsonaro em entrevista à rádio Itatiaia. O presidente disse ainda que "se a PF prendeu, tem motivo." O caso envolve suspeitas de corrupção. Prefeitos denunciaram pedidos de propina – em dinheiro e em ouro – em troca da liberação de recursos para os municípios. Milton Ribeiro disse que pediu apuração dessas denúncia à Controladoria-Geral da União.
Tráfico de influência
De acordo com apuração da TV Globo, a operação deflagrada nesta quarta investiga a prática de tráfico de influência e corrupção na liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação. Fonte: https://g1.globo.com
Veja possíveis efeitos colaterais com quarta dose de vacina contra Covid
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Bulas indicam que reações leves podem ocorrer em cerca de 10% dos imunizados
Mulher toma dose de vacina contra Covid-19 - Alex Rocha/PMPA
Com a recomendação da quarta dose de vacina contra Covid-19 para os maiores de 40 anos, podem surgir dúvidas acerca de efeitos colaterais dos imunizantes.
Afinal, quais são as reações esperadas para esses produtos? A quarta dose —ou segundo reforço— pode trazer alguma reação específica? Por que os efeitos colaterais ocorrem?
A Folha conversou com especialistas para responder a essas e a outras perguntas comuns.
Quais reações são esperadas quando alguém se vacina contra a Covid?
Os principais efeitos das quatro vacinas utilizadas no Brasil –Coronavac, Janssen, Pfizer e Astrazeneca– são dor no local da aplicação, sensação febril, mal-estar, dor no corpo e quadro gripal. Normalmente, esses sintomas desaparecem em até 24 horas, no máximo podendo durar dois dias.
Reações como essas já são conhecidas para outros imunizantes e remédios. "Sugiro ler a bula de alguns antitérmicos para ver as reações que alguns deles podem causar", afirma Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Além disso, não são todas as pessoas que apresentam esses sintomas. De acordo com a bula dos imunizantes, a maior parte desses sintomas mais leves pode ser sentida em torno de 10% daqueles que utilizam os medicamentos.
"A maioria das pessoas não têm nada, e são reações absolutamente normais e significam simplesmente que o sistema imune está reagindo com a vacina", diz Cristina Bonorino, imunologista e professora titular da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre).
Algumas reações mais incomuns podem ocorrer. Consta da bula da vacina da Pfizer, por exemplo, que de 0,1% a 1% de pessoas que utilizaram o imunizante apresentaram insônia, cansaço físico intenso, suor noturno ou urticária (alergia da pele com forte coceira).
Assim como a Pfizer, as outras três vacinas podem ter reações adversas muito incomuns. "Nenhuma delas causa problemas importantes", afirma Marcos Boulos, professor de infectologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
A quarta dose de uma vacina pode trazer algum efeito colateral diferente de outras aplicações?
Não existem evidências de que uma quarta dose resulte em efeitos diferentes dos que já foram vistos anteriormente. Dessa forma, mantém-se o que já se sabe e é documentado nas bulas dos produtos.
"Normalmente, a cada dose de vacina, não só da Covid, a chance de evento adverso é menor. A primeira dose normalmente é a mais reatogênica", diz Ballallai.
Casos em que esses efeitos podem acontecer em doses adicionais, como na quarta aplicação, são normalmente quando se utiliza uma vacina diferente das outras já aplicadas —esquema chamado de heterólogo.
"O esquema heterólogo pode ter mais eventos adversos, mas são reações leves", acrescenta Ballallai.
Por que as vacinas podem causar efeitos colaterais?
Muitas vezes, entende-se que sentir alguma reação após a vacinação significa que o imunizante está funcionando. A realidade, no entanto, não é tão simples assim.
"O fato de ter um efeito adverso em geral é um indicativo de que a vacina está funcionando, mas, se não sentir isso, não significa que a vacina não funciona", afirma Bonorino.
Ela explica que cada pessoa tem a chamada resposta inata, "que é uma inflamação inicial que precede toda a resposta que vai gerar memória imunológica". Acontece que algumas pessoas podem ter maior sensibilidade a sentir os sintomas e outras nem tanto.
Outro fator que influencia o surgimento de reações é a tecnologia utilizada em cada vacina. Boulos afirma que aquelas com a plataforma de adenovírus –em que se utiliza um vírus que transporta o código genético do Sars-CoV-2, patógeno que causa a Covid-19– são as que podem causar maiores efeitos adversos.
"As pessoas que mais reclamam provavelmente tomaram as vacinas de adenovírus. Elas são aquelas que se injeta um vírus específico, que apesar de ele não causar quase nada, pode ter alguns efeitos colaterais pequenos", afirma o infectologista, reiterando que os efeitos, quando sentidos, ainda são bem leves.
No Brasil, as vacinas da Janssen e da Astrazeneca são produzidas com essa tecnologia. Além da plataforma de adenovírus, existe a tecnologia de RNA mensageiro (Pfizer) e de vírus inativado (Coronavac). Elas também podem apresentar efeitos adversos, mas mesmo assim ainda são muito leves e em grande parte dos casos desaparecem logo.
Existem efeitos colaterais mais graves?
De uma maneira geral, as vacinas utilizadas em doses de reforço têm perfil parecido em causar efeitos adversos comuns e que não duram mais de dois dias. A vacina da Janssen tem um histórico de causar uma rara síndrome relacionada a coágulos sanguíneos potencialmente mortais. Situação parecida já foi documentada para a Astrazeneca.
As ocorrências fizeram com que o FDA (Agência de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos) limitasse o uso da vacina da Janssen no país, mas ela ainda continua disponível para aplicação. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) avaliou que os benefícios do imunizante superam os riscos, que são muito raros.
Na bula da vacina, a Janssen diz que os casos são raramente documentados, mas é importante procurar atendimento médico e informar ao profissional de saúde que tomou a vacina ao sentir sintomas como dores de cabeça fortes ou persistentes, convulsões, alterações do estado mental, visão turva, hematomas inexplicáveis fora do local da vacinação que aparecem em alguns dias, pequenas manchas arredondadas na pele fora do local da vacinação, falta de ar, dor no peito, dor ou inchaço nas pernas ou dor abdominal persistente.
Na bula também é dito que é possível reportar a presença de efeitos colaterais por meio do sistema nacional de notificação.
Para Ballallai, a síndrome é muito rara e a vacina, assim como as outras aprovadas, tem um alto perfil de segurança documentado por meio dos estudos clínicos e também pelas muitas doses que já foram aplicadas.
"Até agora, para todas essas vacinas, o perfil de segurança é excelente com raríssimos casos de eventos adversos que consideramos graves. Não há motivo nenhum para considerar que as vacinas contra a Covid são perigosas", afirma.
Ela também diz que nem todos os efeitos adversos, principalmente os mais graves, têm relação causal com as vacinas. Nestes casos, é importante a realização de investigações a fim de averiguar se tem alguma associação do imunizante com a reação.
Os efeitos colaterais indicam que as vacinas não são seguras?
Como explicado acima, existem algumas razões para o aparecimento de eventos adversos. Uma delas é a tecnologia utilizada pela vacina e outra é a indicação de que o sistema imunológico está reagindo ao imunizante.
Nenhum evento adverso, no entanto, indica que as vacinas não são seguras. Um indício disso são os estudos clínicos feitos que medem a segurança dos imunizantes.
Outro grande indicativo da segurança desses produtos utilizados atualmente contra a Covid-19 é que eles já tiveram uma alta dose de aplicação, mas com pouquíssimos relatos de reações graves. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Ministério da Saúde anuncia nesta segunda-feira a quarta dose contra covid para maiores de 40 anos
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Ministério da Saúde anuncia nesta segunda-feira a quarta dose contra covid para maiores de 40 anos
Recomendação atual vale para público com mais de 50 anos. Reforço na vacinação surge no momento de nova alta de casos no País
Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O Ministério da Saúde vai oficializar, nesta segunda-feira, 20, a ampliação da quarta dose da vacina contra a covid-19 para pessoas acima de 40 anos. Atualmente, a recomendação atende o público com 50 anos ou mais. A nova fase será oficializada com a publicação de uma nota técnica. A pasta marcou uma coletiva às 10 horas para anunciar a ampliação.
A segunda dose de reforço, como é tecnicamente chamada, começou a ser aplicada neste ano no Brasil, já com queda nos índices de casos e mortes pelo novo coronavírus. Nas últimas semanas, porém, os municípios registraram um novo avanço da doença. Somente no sábado, 18, o País notificou 19.810 novos casos com crescimento de 15,6% da média móvel em duas semanas.
O Ministério da Saúde ainda avalia a ampliação da quarta dose para todos os adultos, ou seja, aqueles maiores de 18 anos. Essa extensão, porém, ainda não foi efetivada e depende de conclusões técnicas, de acordo com a pasta. "As regras para a ampliação do público alvo para a segunda dose de reforço serão detalhadas nesta segunda-feira. A inclusão de eventuais novos grupos depende de análise técnica e normatização em Nota Técnica", diz o ministério. Fonte: https://saude.estadao.com.br
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