12 de fevereiro-2023. 6º Domingo do Tempo Comum
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Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Neste domingo, 12 de fevereiro, na Liturgia da Palavra da Missa do 6º Domingo do Tempo Comum (cf. Mt 5,17-37), continuando a leitura do Sermão da Montanha (capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho segundo Mateus), Jesus declara que não veio abolir a Lei (os Mandamentos) e os Profetas e proclama a necessidade de observar os Mandamentos sempre indo além da própria letra: “Eu não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. É preciso obedecer, praticar, ensinar. Porém, o Mestre faz uma afirmação que deve ser o critério para o entendimento e o verdadeiro cumprimento: “se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos céus”.
Jesus cita alguns mandamentos no trecho apresentado para este domingo: “não matarás”, “não cometerás adultério”, “não jurarás falso”. Mas, não se trata apenas de observar os Mandamentos como se fossem leis externas. Jesus insiste para que os mandamentos se tornem estilo de vida. Ele vive o que o Salmo 119 proclama: “Como poderá o jovem manter puro o seu caminho? Observando as tuas palavras… Por isso amo teus mandamentos, mais que o ouro, o ouro mais fino. São admiráveis os teus ensinamentos: por isso, minha alma os observa” (Sl 119,9.127.129). Certamente, Jesus exortava para que não houvesse hipocrisia na relação com os mandamentos. Quer evitar um cumprimento mínimo, quase como tirando tais proibições tudo era permitido. Ao contrário, Ele ensina o verdadeiro caminho da justiça. Não apenas “não matar”, mas nem sequer desrespeitar o outro, tratá-lo como se fosse inferior ou descartável; não apenas não cometer adultério, mas também não tratar a mulher como objeto manipulável; não apenas jurar falso, mas também nunca jurar por qualquer que seja a realidade. Os seguidores de Jesus não precisam jurar: o céu, a terra, Jerusalém, e até a nossa cabeça, tudo pertence ao Senhor e a partir de nossa comunhão com Ele, tudo pertence a nós.
A compreensão dos mandamentos como estilo de vida dos seguidores de Jesus se completa com duas reflexões: a primeira com a continuação do texto do Sermão da Montanha. Em Mt 5,38-48, que será lido no 7º Domingo do Tempo Comum, Jesus nos oferece exemplos concretos do seu ensinamento: jamais “olho por olho e dente por dente”. É preciso perdoar, não responder o mal com o mal. É preciso agir em favor do outro com mais disponibilidade e antecipando a caridade. É o que Jesus diz em relação a ir além, a um plus: não somente dar a túnica, mas também o manto; não só andar um quilômetro, mas dois; dar a quem pede e não se negar ao empréstimo. Mas, nenhum mandamento no contexto do Sermão da Montanha é tão exigente e grave do que amar os inimigos. É um mandamento que só podemos observar se temos o Espírito de Jesus, isto é, se aceitamos o seu convite: tornar a nossa justiça maior do que a dos fariseus. Que isso seja possível, Jesus mesmo, não somente nos dá a força que vem do alto, o Espírito Santo, mas Ele mesmo é o paradigma. Essa é uma verdade de fé que, unida ao dogma da Trindade de Pessoas e ao evento da encarnação do Verbo, formam a tríade dogmática por excelência. Refiro-me à presença do Espírito no fiel seguidor de Jesus. Sim, Ele nos deu seu Espírito prometido (cf. At 2,1-21; Jo 14,16-18.26; 15,26; 16,7-11.13-15).
A segunda reflexão é a síntese dos mandamentos no mandamento do amor que ele deixou (cf. Jo 13,34-35). Sim, Jesus exige que a nossa justiça seja maior, porque Ele mesmo a praticou: Ele nos amou por primeiro, afirma São João na sua primeira carta (cf. 1Jo 4,19). E ainda: “Nisto está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). Portanto, a justiça maior é a misericórdia divina, Deus que nos ama porque é Amor. Fonte: https://www.cnbb.org.br
WhatsApp fica com mais cara de Instagram em nova atualização; veja novidades
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Aplicativo anunciou novos recursos para os status, ferramenta similar aos stories da rede social
Uma nova atualização do WhatsApp, anunciada nesta terça-feira (7), deixa os status ainda mais parecidos com os stories do Instagram.
O recurso permite o compartilhamento de imagens e vídeos em um mural aberto aos contatos. Como na rede social irmã, as publicações desaparecem após 24 horas.
Na atualização, o usuário poderá controlar quem pode ver os status, reagir com emojis e compartilhar mensagens de voz.
Com o seletor de público exclusivo, o app ganha um reforço de privacidade ao permitir que o usuário decida quem poderá visualizar seus status. A seleção mais recente será salva e usada como o padrão para a próxima publicação.
É possível escolher três opções de público: "Meus contatos", "Meus contatos exceto…" e "Compartilhar somente com…". Nas duas últimas opções, o usuário decide para quais contatos os status serão liberados ou ocultados.
A nova atualização também permite que o usuário grave e publique um áudio de até 30 segundos e reaja a outros status com até oito emojis.
Além disso, os contatos que tiverem alguma atualização no status exibirão um círculo verde em volta da foto de perfil, análogo ao Instagram.
Esse círculo ficará visível na lista de conversas (a página principal do app), de participantes de grupos e nas informações de contato.
Outro recurso que estará disponível no WhatsApp é a prévia de links nos status. Quando o usuário publicar um link, automaticamente uma prévia visual será exibida. Segundo a empresa, isso dá aos contatos uma ideia mais clara sobre o conteúdo do link antes de eles clicarem.
A atualização será disponibilizada gradualmente a partir desta terça e deve chegar a todos os usuários nas próximas semanas. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Homem é morto a tiro após marcar encontro por aplicativo em São Paulo
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Vítima foi abordada por dois criminosos enquanto aguardava pela suposta mulher com quem havia combinado
Um homem de 58 anos foi morto com um tiro na cabeça, na noite desta segunda-feira (6), depois de ser abordado por criminosos, no Jardim taipas, zona norte de São Paulo.
A vítima, segundo a Polícia Civil, tinha marcado um encontro com uma mulher via aplicativo de relacionamentos. Ele foi abordado quando esperava por ela.
O homem estava dentro do carro na rua Matheus Fantini quando dois suspeitos apareceram e anunciaram um assalto. A vítima tentou fugir, mas foi baleada na mão e na cabeça.
O veículo que ele dirigia ficou desgovernado e parou ao bater no muro de uma casa. O nome do homem não foi divulgado pela polícia, e ninguém foi preso.
Segundo a Polícia Civil, o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) ouviu a ex-companheira da vítima, que afirmou que ele passou a marcar encontros com garotas usando aplicativos de relacionamento e, ontem, ele tinha marcado com uma mulher naquela região do Jaraguá.
Ainda de acordo com a polícia, imagens de câmeras de segurança foram localizadas e serão analisadas para tentar chegar aos autores do crime.
Segundo o DHPP, se, ao longo das investigações, for verificado que se trata de um latrocínio, o crime será investigado pelo DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Os crimes praticados a partir de encontros marcados por aplicativos têm sido cada vez mais comuns na capital paulista.
No dia 1º de janeiro, um empresário de 43 anos foi sequestrado e perdeu R$ 1,1 milhão em São Paulo depois de marcar um encontro por aplicativo com uma mulher. Ao chegar ao local combinado, ele foi abordado por três homens e teve o valor transferido de sua conta bancária, além de sofrer tortura por cerca de 17 horas.
A vítima foi libertada somente no dia seguinte, após a Polícia Militar receber uma denúncia e encontrá-la sob o poder de um dos criminosos. Dois suspeitos foram presos e não há informação se o valor subtraído foi recuperado.
Levantamento aponta que 9 em cada 10 sequestros em São Paulo são "golpes do Tinder". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Terremoto: mortos passam de 5 mil, enquanto buscas por desaparecidos continuam
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Pelo menos 3.432 pessoas morreram em 10 províncias turcas, com mais de 21.100 feridos, de acordo com os últimos números das autoridades turcas divulgados nesta terça-feira. Já na Síria, o número de mortos é de ao menos 1.598, com cerca de 1.450 feridos.
O número de mortos na Turquia devido ao forte terremoto de magnitude 7.8 na segunda-feira, 6, aumentou para 3.432. Os feridos são 21.103, enquanto os prédios destruídos pelo tremor de magnitude 7.8 chegam a 5.775 prédios. Já o número de mortos na Síria subiu para 1.598, com cerca de 1.450 feridos.
A chefe de emergências da Organização Mundial da Saúde para a Europa, Catherine Smallwood, afirmou que o número de mortos pode subir para mais de 20.000, “pois sempre acontece a mesma coisa com terremotos: os relatórios iniciais do número de pessoas mortas ou feridas aumentam significativamente na semana seguinte.”
Equipes de resgate correram nesta terça-feira para resgatar sobreviventes dos escombros de milhares de edifícios derrubados pelo terremoto, com a descoberta de mais corpos elevando o número de mortos para mais de 5 mil.
Países ao redor do mundo enviaram equipes para ajudar nos esforços de resgate, mas um dia após o terremoto, o número de equipes de emergência no solo permaneceu pequeno, com seus esforços impedidos por baixas temperaturas e pelos quase 200 tremores secundários, que tornaram as buscas perigosas, devido às estruturas instáveis.
Na província de Hatay, a sudoeste do epicentro do terremoto, as autoridades dizem que cerca de 1.500 prédios foram destruídos e muitas pessoas relataram que parentes ficaram presos sob os escombros sem ajuda ou chegada de equipes de resgate. Nas áreas onde as equipes trabalhavam, aplausos ocasionais irromperam durante a noite enquanto os sobreviventes eram retirados dos escombros.
O terremoto, que teve como centro a província de Kahramanmaras, no sudeste da Turquia, fez com que moradores de Damasco e Beirute corressem para as ruas e foi sentido até no Cairo. A organização de ajuda médica Médicos Sem Fronteiras confirmou na terça-feira que um de seus funcionários estava entre os mortos depois que sua casa na província de Idlib, na Síria, desabou, e que outros perderam familiares.
Na província de Hatay, na Turquia, milhares de pessoas se abrigaram em centros esportivos ou salões de feiras, enquanto outras passaram a noite do lado de fora, enroladas em cobertores ao redor de fogueiras. Um navio da Marinha atracou na terça-feira no porto da província de Iskenderun, onde um hospital desabou, para transportar sobreviventes que precisam de cuidados médicos para a cidade vizinha de Mersin. Uma fumaça espessa e negra subiu de outra área do porto, onde os bombeiros ainda não conseguiram apagar um incêndio que começou entre os contêineres que foram derrubados pelo terremoto.
Na cidade turca de Gaziantep, capital provincial a cerca de 33 quilômetros do epicentro, as pessoas se refugiaram em shoppings, estádios, mesquitas e centros comunitários.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan declarou sete dias de luto nacional. As autoridades temem que o número de mortos continue subindo enquanto as equipes de resgate procuram sobreviventes entre emaranhados de metal e concreto espalhados pela região assolada pela guerra civil de 12 anos na Síria e pela crise de refugiados.
Nas últimas promessas de ajuda internacional, o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol disse que estava se preparando para enviar rapidamente uma equipe de busca e resgate de 60 pessoas, bem como suprimentos médicos.
A missão enviada pelo governo da Grécia inclui 21 bombeiros da unidade de emergência EMAK, 2 cães de resgate e um veículo especial de missão de resgate. Também voando com eles estão um oficial do Corpo de Bombeiros especializado em apoiar prédios desabados, 5 médicos de emergência do sistema de emergência de ambulâncias EKAV e o presidente da Organização de Planejamento e Proteção Antissísmica da Grécia, Efthymios Lekkas.
O governo do Paquistão enviou um voo com suprimentos de socorro e uma equipe de busca e resgate de 50 membros na terça-feira, e disse que haverá voos diários de ajuda para a Síria e a Turquia a partir de quarta-feira.
A Índia disse que enviaria duas equipes de busca e resgate, incluindo cães especialmente treinados e pessoal médico. O presidente dos EUA, Joe Biden, ligou para Erdogan para expressar condolências e oferecer assistência ao aliado da OTAN. A Casa Branca disse que estava enviando equipes de busca e resgate para apoiar os esforços da Turquia.
O terremoto acumulou mais miséria em uma região que passou por um tremendo sofrimento na última década. Do lado sírio, a área afetada é dividida entre o território controlado pelo governo e o último enclave controlado pela oposição do país, cercado por forças do governo apoiadas pela Rússia. A Turquia é o lar de milhões de refugiados da guerra civil síria. No enclave controlado pelos rebeldes, centenas de famílias permaneceram presas nos escombros, disse a organização de emergência da oposição conhecida como Capacetes Brancos em um comunicado. A área abriga cerca de 4 milhões de pessoas deslocadas de outras partes do país pela guerra. Muitos vivem em prédios já danificados por bombardeios militares. Centros médicos sobrecarregados rapidamente se encheram de feridos.
*Com informações de Agências de notícias. Fonte: https://www.vaticannews.va
Como Glória Maria foi de repórter a personagem da televisão brasileira
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Carismática e com uma incrível capacidade de comunicação, ela foi uma repórter que crescia naturalmente na tela
Mauricio Stycer
SÃO PAULO
Em mais de cinco décadas de carreira, sempre na Globo, Glória Maria, morta nesta terça-feira (2) aos 73 anos vítima de um câncer, escreveu uma história muito rara no jornalismo. Tornou-se uma referência para diferentes faixas de público e, mais incomum ainda, para colegas e profissionais do meio.
Carismática, curiosa, com muito jogo de cintura e uma incrível capacidade de comunicação, Glória foi uma repórter que crescia naturalmente na tela. Sem muitas referências anteriores a ela, criou um estilo próprio, reconhecível.
Glória se profissionalizou na década de 1970, no momento em que a Globo começou a se tornar o principal canal de TV do país. O investimento da emissora em jornalismo foi um dos grandes acertos deste período. Nasceram, então, três programas que até hoje estão no ar —Jornal Nacional, desde 1969, Globo Repórter e Fantástico, ambos iniciados em 1973.
A geração da qual Glória faz parte está até hoje no imaginário de quem assistiu à Globo naquela década. É uma época de investimento também em correspondentes internacionais, como Sandra Passarinho, Helio Costa, Lucas Mendes, Silio Boccanera e Roberto Feith, entre outros, que cumpriram carreiras marcantes e igualmente originais.
No caso de Glória, havia um elemento a mais. Ela era uma mulher negra de origem humilde. Filha de um alfaiate e uma dona de casa, nunca passou fome, "mas era tudo contadinho", conforme contou a Nina Lemos, da revista TPM.
A televisão entra na nossa casa, a gente se acostuma com ela e nem sempre se dá conta do que estamos vendo. Os muitos depoimentos sobre a jornalista mostram isso. É notável como ela representou tantas coisas diferentes e não óbvias para tantas pessoas. Isso é uma qualidade incrível para um profissional de imprensa.
O depoimento do músico Emicida é impressionante. "Glória Maria é uma das maiores referências de possibilidade que esse país já viu", disse. É uma percepção importante, sobre um papel que ela não precisou enunciar em voz alta —uma repórter negra na tela da TV.
Só em 2019, com a publicação da biografia de Roberto Marinho escrita por Leonêncio Nossa, "O Poder Está no Ar", o romance entre Glória e José Roberto, filho caçula do empresário, ganhou ares públicos. "Papai foi tranquilo. Gostava dela, tinha admiração por ela. Mas eu senti o preconceito no Rio quando estava na companhia dela em lugares públicos. Aqui as classes sociais são apartadas", afirma.
No ano seguinte, em entrevista a Pedro Bial, Glória tratou abertamente da história e falou sobre racismo. "Quando você nasce negro, e eu não sou mulatinha, sou negra mesmo, sou preta, você aprende a reconhecer isso a 30 quilômetros de distância. Você sabe onde está um racista."
Uma parte da fama de Glória foi adquirida em reportagens "de risco", aventuras em que expôs sua imagem em situações aparentemente fora de controle. É uma etapa da carreira em que a repórter se torna também personagem, transmitindo uma aura heroica.
São sempre lembradas as reportagens para o Fantástico, como um voo que simula gravidade zero na qual ela encarna o espírito do programa, "o show da vida", ou ainda uma caminhada entre dois balões no ar que fez no Domingão do Faustão.
Na última fase da carreira, quando deixa o Fantástico, onde também foi apresentadora, e passa a integrar a equipe do Globo Repórter, Glória se tornou famosa entre as novas gerações.
É um período em que o Globo Repórter, já sem a mesma relevância e sob a sombra do Profissão Repórter, se especializa em temas como saúde, qualidade de vida, ecologia e turismo. Eis que Glória Maria vira personagem de piadas na internet. Vira meme.
Foi assim, em 2013, quando o programa comemorava 40 anos de vida. Glória Maria foi ao Vietnã, fazer uma reportagem muito bem produzida, mas panorâmica e superficial. A certa altura, num cais, a repórter toma um tombo cinematográfico. "Caí bonito", diz. Como escrevi à época, a cena poderia ter sido cortada pela edição, mas não foi. Também virou meme.
O mesmo aconteceu em 2016, numa viagem à Jamaica. Ao participar de um ritual rastafári, experimentou maconha: "Recusar nem pensar. Seria um desrespeito à tradição", avisou, inundando as redes sociais com imagens engraçadas do momento em que inala a erva de um cachimbo.
É uma fase de enorme popularidade e que mostra Gloria Maria sintonizada com os tempos atuais. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Filho mandou mensagem de áudio após ônibus tombar em MG: ‘Mãe, não fica preocupada, mas eu tive um acidente’.
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Damiana Januário recebeu mensagem do filho bem cedo, dizendo que estava no hospital. Família conta que ele fez uma vaquinha para conseguir viajar e disputar a competição.
Por Carla Sant’Anna, Jefferson Monteiro, Rogério Coutinho e Thaís Espírito Santo*, g1 Rio e TV Globo
Um dos jogadores do time de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mandou uma mensagem de áudio para a mãe logo após o ônibus onde estava tombar de uma ponte na BR-116, em Minas Gerais, na madrugada desta segunda-feira (30).
Juan Manoel, de 18 anos, queria tranquilizar a mãe, Damiana Januário. Até a última atualização desta reportagem, não havia informações a respeito do estado de saúde do jovem. O acidente deixou 29 feridos e quatro mortos.
"Às 6 horas da manhã, ele já falando: ‘mãe, não fica preocupada, mas eu tive um acidente’. Como assim você teve um acidente? Você não estava jogando? Você não falou que estava vindo embora?", disse Damiana.
"Para mim, o acidente dele não era de ônibus. Eu nem imaginava que era de ônibus que ele teve um acidente, para mim ele estava jogando”, completou.
O acidente com o ônibus que trazia jogadores do Vila Maria Helena Futebol Clube, time amador de Duque de Caxias, aconteceu durante a madrugada desta segunda-feira (30) e deixou 29 pessoas feridas e outras quatro mortas.
Os nomes das vítimas não foram divulgados até a última atualização desta reportagem.
Damiana busca informações sobre o estado de saúde do filho. Quando ele mandou a mensagem, ele tinha poucas informações sobre a queda da ponte, que tem dez metros de altura.
“Foi o ônibus, entendeu? Virou. Foram várias voltas. Eu falei: ‘e aí, como está o pessoal?’ Ele falou: ‘mãe, eu não sei se morreu gente e onde está a pessoa que estava nos treinando’”, contou a mãe de Juan.
Ela contou ainda que o medo tomou conta da família após um fim de semana de conquistas.
“Ele se locomoveu, se moveu, para conseguir ir para esse campeonato lá. Ele é um moleque batalhador, sonhador, e agora de repente foram para lá, foram campeões, isso aqui é a boa notícia, que eles foram campeões, voltando com uma alegria e, de repente, traz essa tristeza para nós, os pais”, disse Fabrício Moura, padrasto do Juan.
Vaquinha para viagem
A família de Juan conta que os jogadores e os parentes fizeram uma vaquinha para bancar a viagem até Minas Gerais e participar do torneio. Eles viajaram na quarta (25), à noite.
“Ele falou: ‘mãe, eu quero viajar para jogar’. Eu falei: ‘eu não tenho condições’. Ele pegou, pediu no Facebook, WhatsApp. Muita gente ajudou para que ele pudesse ir. Sobrou dinheiro para poder lanchar, fazer alguma coisa. Eu falei: ‘meu filho, vai com Deus, volta com Deus’. Ele falou: ‘mãe, ganhamos’. Ele todo feliz”, disse Damiana.
A mãe do atleta está aliviada que o filho está bem, mas lamenta pelas vítimas.
“Eu estou triste, porque meu filho está lá e eu não sei o que tá acontecendo, entendeu? Ele falou: ‘mãe, eu estou bem. Eu tomei ponto. Tem uns amigos meus que não sei para onde está, os que estão aqui perto, o pai do menino ia lá para poder buscar’. Só que ninguém tomou alta, ninguém teve alta, então provavelmente ele também está lá. Tem muita gente machucada, ele falou que o treinador dele não sabe para onde está. E a gente está aqui, esperando notícia”, afirmou Damiana.
Na noite de domingo (29), os meninos do time estavam voltando com o troféu da competição. Os bombeiros foram chamados às 2h51 da madrugada desta segunda, depois que o ônibus caiu da ponte sobre o Rio Angu e ficou de cabeça para baixo.
No veículo, estavam 28 adolescentes, quatro adultos da comissão técnica e o motorista. Três adolescentes e um adulto morreram. As outras pessoas estão em hospitais da região.
O Hospital São Salvador informou que, dos 24 pacientes levados para a unidade, quatro estão sob cuidados especiais. Um deles passou por cirurgia e está internado na UTI. Outro está sendo operado, e um terceiro espera por cirurgia. A quarta vítima está internada em uma unidade para pacientes críticos. O estado de saúde dos outros 20 pacientes não foi divulgado.
A Casa de Caridade Leopoldinense confirmou que cinco adolescentes deram entrada por volta das 6h30 da manhã, mas não divulgou o estado de saúde deles.
A TV Globo tentou contato com a LG Turismo, mas não conseguiu retorno até a última atualização desta reportagem. Fonte: https://g1.globo.com
A dimensão dos crimes contra os Yanomamis
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Surgem indícios de que a catástrofe não foi causada apenas por descaso ou incompetência do governo Bolsonaro, mas por omissões criminosas, fraudes, obstruções e corrupção
Por Notas & Informações
A tragédia humanitária dos Yanomamis é chocante, mas não surpreendente. Sem dúvida, toda a sociedade brasileira precisa fazer um exame de consciência em relação ao abandono histórico dos povos originários. Mas surgem indícios de que o governo Jair Bolsonaro descumpriu deliberada e criminosamente suas obrigações legais para com os Yanomamis.
Desde 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de uma ação relatada pelo ministro Luís Roberto Barroso, vinha baixando decisões que obrigavam o governo a ampliar a proteção aos Yanomamis, incluindo um plano de expulsão de garimpeiros e madeireiros atuando ilegalmente na reserva e medidas de segurança sanitária e alimentar. Segundo nota do gabinete do relator emitida na última quinta-feira, 26, “as operações, sobretudo as mais recentes, não seguiram o planejamento aprovado pelo STF e ocorreram deficiências”. A Corte ainda “detectou descumprimento de determinações judiciais e indícios de prestação de informações falsas à Justiça”.
A presença de mineradores ilegais tem sido uma constante desde a remarcação do território, em 1992. O Ministério Público Federal (MPF) de Roraima já havia ajuizado em 2017 uma ação civil pública pleiteando a colocação de três bases etnoambientais da Funai nas reservas Yanomamis. Mas, mesmo após a sentença judicial, essas determinações nunca foram devidamente cumpridas. Com o enfraquecimento dos órgãos de apoio indígena e de combate aos crimes ambientais na gestão Jair Bolsonaro, o garimpo cresceu ainda mais.
Após as decisões do STF, um plano de atuação chegou a ser apresentado, mas nunca foi aplicado. “A linha de atuação do Ibama previa o combate nos rios e com o uso de aeronaves e poderia erradicar o garimpo em seis meses. Jamais foi aplicado”, disse ao Estadão Alisson Marugal, procurador da República em Roraima. “Muito pelo contrário, diversas vezes o Ibama em Brasília impediu que o plano fosse aplicado.” Segundo ele, “o governo fez operações para não funcionar”. Foram só três ciclos, com duração de cinco a dez dias, sobre apenas 9 dos 400 pontos de garimpo ilegal.
Começam a vir à tona também indícios de corrupção. Conforme reportou a Folha de S. Paulo, relatórios preliminares de uma operação da Funai realizada em 2019 apontam uma suposta relação próxima entre integrantes do Exército que atuavam em Roraima e o garimpo ilegal. Os relatos sugerem que militares do Sétimo Batalhão de Infantaria da Selva, muitos com relação de parentesco com os garimpeiros, vazavam informações de operações de combate à atividade ilegal e permitiam a circulação de ouro e droga mediante pagamento de propina. Os documentos também apontam para a atuação de integrantes do PCC no transporte de drogas e de minerais ilegais. A operação mapeou 3 pistas de pouso clandestinas, 14 clareiras abertas para pouso e decolagem de helicópteros, 36 garimpos, balsas ou acampamentos, 4 bordéis e 41 frequências de rádio utilizadas para comunicação. Mas, apesar de todas essas evidências, nada foi investigado.
A gestão de saúde da área Yanomami é investigada por desvio no uso de verba para a compra de remédios. O MPF suspeita que só 30% dos mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo distrito sanitário indígena local, sob ingerência do Ministério da Saúde, teriam sido devidamente entregues. Segundo os procuradores, o desvio de medicamentos vermífugos, por exemplo, impossibilitou que 10 mil crianças, das cerca de 13 mil previstas, recebessem o tratamento devido.
Em 1998, o então deputado federal Jair Bolsonaro fez uma acusação às Forças Armadas: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”. Com a sua pusilanimidade característica, acrescentou: “Se bem que não prego que façam a mesma coisa com o índio brasileiro”. Quem dera só pregasse e não fizesse. Mas omissão também é crime, e a dizimação a que os Yanomamis foram submetidos sob o seu governo não pode passar impune. Fonte: https://www.estadao.com.br
Hanseníase: Brasil é um dos países com maior número de casos da doença, alerta OMS
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença persiste como 'um problema sério' em 14 países de África, Ásia e América Latina.
Por AFP — Rio de Janeiro
Assiba, de 27 anos, luta contra a hanseníase Fundação Raoul Follereau / Reprodução
Apesar dos tratamentos existentes, a hanseníase continua a infectar milhares de pessoas todos os anos, especialmente em países pobres. Embora pesquisas estejam sendo feitas, poucos laboratórios dedicam recursos a ela. Em 2022, cerca de 216.000 casos foram detectados em todo o mundo, especialmente no Brasil e na Índia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e persiste como "um problema sério" em 14 países de África, Ásia e América Latina.
Os números podem ser apenas a ponta do iceberg, segundo o médico Bertrand Cauchoix, especialista na doença da Fundação Raoul Follereau, na França,
“Sabemos o número de doentes rastreados, mas não contamos os esquecidos, os não detectados, que poderiam ser muito mais numerosos”, explica.
A haseníase é ser uma das 20 doenças tropicais que a OMS considera negligenciadas. Causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, a doença, que é transmissível, ataca a pele e os nervos periféricos, com sequelas potencialmente muito graves.
Favorecida pela promiscuidade e pelas precárias condições de vida, a doença tem um período de incubação muito longo, de até 20 anos, ao qual se acrescenta um atraso no diagnóstico, durante o qual a doença pode continuar a infectar pessoas próximas. Há décadas existe um tratamento médico baseado em três antibióticos.
Mathias Duck, capelão paraguaio de 44 anos, já conhecia a hanseníase por ter trabalhado em um hospital dedicado a pacientes com a doença. Mas quando ele mesmo foi diagnosticado, em 2010, levou "três anos para poder falar sobre livremente", conforme disse à AFP. Para Duck, seis meses de tratamento foram suficientes:
— Tive muita sorte porque fui diagnosticado e tratado a tempo, sem sequelas.
Mas o tratamento pode ser mais longo, até 12 meses, o que dificulta o acompanhamento em países sem um sistema de saúde adequado.
— É preciso infraestrutura com cuidadores para dispensar os remédios, isso demanda recursos — lembra Alexandra Aubry, professora de biologia e especialista em hanseníase do Centro de Imunologia e Doenças Infecciosas (CIMI) de Paris.
'Não há dinheiro para a lepra'
Os antibióticos existentes são doados pela fundação do laboratório suíço Novartis, que os fabrica, através da OMS. Por isso, Bertrand Cauchoix aponta "um risco de tensões muito grandes" caso ocorram problemas na linha de produção desses antibióticos.
Em geral, os laboratórios farmacêuticos não se esforçam para produzir novas moléculas que sejam mais fáceis de administrar.
— Não há dinheiro para a hanseníase, apenas doações de caridade — lamenta Cauchoix.
Na verdade, a doença está quase ausente nos países ocidentais e se espalha em um número limitado de pacientes em países que não podiam pagar novos medicamentos caros.
Em seu laboratório de pesquisas em Paris, um dos poucos no mundo capaz de testar essa bactéria, Alexandra Aubry avalia a eficácia de cada novo antibiótico que chega ao mercado para tratar outras doenças.
— Tentamos identificar associações de antibióticos. Tentamos todas as formas possíveis de simplificar para tratamentos mais curtos, por exemplo, uma vez por mês durante seis meses — explica Aubry.
Há também projetos de vacinas, cada vez mais raros porque também faltam verbas.
— É muito complicado ter financiamento para isso. Para avaliar a eficácia de uma vacina, é preciso acompanhar a população vacinada por 10 ou 15 anos — lembra Aubry.
— Se compararmos com o que aconteceu com a covid-19, realmente é apenas uma gota no oceano — acrescenta o padre Duck, que também apela a mais investigação e vontade política em todo o mundo para erradicar a doença. Fonte: https://oglobo.globo.com
Covid ainda mata tanto quanto homicídios no Brasil
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É preciso também desbolsonarizar a saúde
Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).
SÃO PAULO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) discute na sexta-feira que vem se a Covid ainda é uma "Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional" (ESPII), o maior nível de alerta e, em tese, de engajamento legal e dedicação mundiais na lida com um desastre sanitário, entre eles epidemias. Foi no 30 de janeiro de 2020 que a Covid se tornou uma ESPII.
Cientistas dizem pelo mundo que seria cedo decretar o fim da emergência mundial, se por mais não fosse porque a doença vai fazer uma desgraça na China, que deu cabo de sua política de "Covid zero" e vai ter muita infecção e morte.
Caso determine o fim da ESPII, a OMS não quereria dizer que a pandemia acabou, embora tal decisão tivesse algumas consequências práticas. Teria efeito simbólico?
Talvez não. Como parece intuitivo, o mundo já faz algum tempo se adaptou à Covid, se fartou de saber do vírus ou de se preocupar com ele. Em países como o Brasil, a doença se tornou de certo modo invisível desde meados do ano passado e ainda mais agora. Tornou-se tão invisível quanto os mais velhos e mais fracos.
No último mês, a Covid matou 3.938 pessoas, 131 por dia, pelos registros oficiais. No auge do horror, em abril de 2021, chegou a matar mais de 85 mil pessoas em 30 dias.
Mesmo com esses números reduzidos, a Covid ainda mata tanto quanto assassinos (a média de homicídios em 2021, dado mais recente, foi de 130 por dia).
A doença pode parecer invisível, menos para os doentes e suas famílias, porque mata majoritariamente pessoas mais velhas ou que também já padecem de outro mal, ainda e sempre doenças do coração e diabetes, na maior parte (em São Paulo, 73% dos mortos tinham comorbidades).
No último trimestre, 81% dos mortos de Covid no estado de São Paulo tinham mais de 60 anos (65% tinham mais de 70 anos). Cerca de 85% dos mortos por gripe/pneumonia em 2019 e 2020 tinham mais de 60.
Como já se escreveu nestas colunas, é como se Covid tivesse se tornado uma grande gripe assassina, em especial de velhos, que se dá de barato que morram, tal como um Bolsonaro o faria. Em São Paulo, a Covid matou mais de 1 de cada 40 dos indivíduos com mais de 70 anos.
A vacinação tornou a morte de pessoas mais jovens muito improvável, é verdade. Apesar de Jair Bolsonaro e de generais e coronéis do Exército, que comandaram a ocupação bozista do ministério da Saúde, a vacinação avançou, graças ao SUS e à maioria de estados e cidades.
Na aplicação das duas primeiras doses ou equivalente, o Brasil foi tão bem quanto França, Alemanha, Itália e Espanha (ou melhor), por exemplo. Mas fica bem abaixo na dose de reforço (57% da população, abaixo dos países europeus grandes). O caso dos Estados Unidos é uma vergonha.
Vacinar, pois, ainda é necessário, até como parte de uma grande campanha de regeneração nacional, de informação e de atendimento de saúde, de divulgação de qualquer tipo de vacina, programas prejudicados por causa dos degenerados bolsonaristas.
Além dessa obviedade, há outras três, esquecidas ou aceitas como um dado da natureza.
Quase 60% das pessoas que tiveram Covid continuam a ter sintomas um trimestre depois da infecção aguda. Muitas delas, nem temos ideias de quantas, ficaram com sequelas incapacitantes ou graves de outra maneira. Famílias estão dilaceradas também porque perderam quem as sustentasse, mães, pais ou avós. É preciso cuidar dessa gente.
A outra desgraça é a da educação. Parece assunto tão velho, cediço, tedioso de tão repetido. É novíssimo, porém, pois quase tudo está por fazer.
Ainda nas prioridades, é preciso desbolsonarizar a saúde e levar Bolsonaro e seus generais e coronéis à Justiça. Sem anistia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
O Brasil precisa de um exorcismo
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Como pessoas comuns se tornam monstros, mesmo que movidas por suas melhores intenções?
Por Nelson Motta — Rio de Janeiro
Não bastam as reformas política, tributária, administrativa, ambiental, nem mesmo a reforma psiquiátrica, o Brasil se tornou um caso de exorcismo. Não de um exorcista circense de igreja de subúrbio, mas de uma legião deles, de veteranos barra-pesada como o do filme, e tantos da vida real, que realmente sabem enfrentar demônios.
Quando o exorcista pergunta quem é o demônio que está no corpo do possuído, uma voz cavernosa rosna exalando um hálito fétido: “Meu nome é legião.” E é mesmo uma milícia de demônios que ocupa aquele corpo, e, como se sabe, a maior esperteza do demônio é nos convencer de que não existe. Talvez não com esse nome, ou espírito maligno, obsessor, encosto, do que quiserem chamar, mas é impossível negar a presença do mal no mundo.
Essa é a grande questão dos que têm fé na bondade, justiça e compaixão divina e na perfeição da Criação: como então explicar as manifestações explícitas do mal físico, mental e espiritual, pessoal e coletivo, em nosso mundo e em nosso cotidiano desde a alvorada da Humanidade?
A força do mal domina, de Caim a Calígula e Hitler a tiranos e soldados sanguinários, inquisidores, torturadores sádicos, até o médico estuprador e o assassino de Marielle Franco. O mal está entre nós, em nós, e sem aceitar isso o bem não faz sentido.
Todo mundo tem o bem e o mal em si, uns mais outros menos, de um e de outro: é da condição humana. E ao longo da vida um vai prevalecendo sobre o outro, ou o outro sobre o um. Como o ser humano é “o homem e suas circunstâncias” (filósofo Ortega y Gasset), o bem e o mal estão em permanente batalha em cada um de nós, e agora pior do que nunca, nas multidões sem rosto. Foi o que a filósofa Hannah Arendt analisou em “A banalidade do mal” a partir do nazismo e do genocídio.
Como pessoas comuns se tornam monstros, movidas por suas melhores intenções, tomadas por uma fé cega que as controla e impulsiona? Comportamentos mentais que nem Freud, Jung e Lacan, juntos, podem explicar ou justificar, fora das patologias.
No Brasil, são poucos os ateus raiz, geral acredita em um Deus, ou vários, ou em forças superiores, ou entidades, em qualquer coisa maior e mais poderosa do que nós, portanto incompreensível pela razão, só pela fé naqueles a quem podemos apelar em caso de necessidade, de quem esperamos proteção e satisfação de nossos desejos, e quem, como nosso criador, é o responsável por nossas ações e destino.
Estamos vivendo um verdadeiro “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, com fanáticos, cangaceiros e fazendeiros de celular, que dão atualidade à frase clássica do pensador inglês Samuel Johnson (1709-1784), “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”, complementada pelo filósofo de Ipanema Millôr Fernandes: “No Brasil, é o primeiro.” Fonte: https://oglobo.globo.com
Os perigos da superproteção para nossos filhos
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Crianças precisam aprender a lidar com as pequenas frustrações e a solucionar problemas que representem um desafio à sua altura
Por Daniel Becker
As borboletas têm seu tempo para sair do casulo
Um homem andava pelo campo quando viu uma borboleta lutando para sair de seu casulo. Ela se contorcia intensamente para passar através do pequeno buraco. Com pena, ele aumentou um pouco o buraco, facilitando a passagem da borboleta.
O que o homem não sabia era que o processo de esforço e compressão contra o casulo era o que permitia que a circulação do sangue fosse direcionada para as asas.
Quando a borboleta emergiu do casulo, era incapaz de voar.
É difícil demais ver nossos filhos sofrendo. É uma tendência mais que compreensível, quase instintiva, tentar ajudar, resolver o problema para ele.
Sofia vem do play chorando porque as amigas a excluíram da brincadeira. João não quer ir à escola porque não estudou para a prova. Malu está sofrendo porque as melhores amigas já têm celular e ela não. Pedro, 3 anos, chora desesperado porque não consegue completar o quebra cabeça e Lia se joga no chão porque quer comer biscoito quando faltam 15 minutos para o jantar. Situações cotidianas da infância.
É natural querermos ir tirar satisfação com as amigas de Sofia, ligar para a escola para dizer que João está com febre, comprar um celular para Malu, completar o jogo para Pedro e dar o biscoito para Lia.
Isso pode trazer alívio e alegria no curto prazo, mas é um atalho perigoso.
Crianças precisam aprender a lidar com as pequenas frustrações e a solucionar problemas que representem um desafio à sua altura, ou seja, que elas sejam capazes de resolver com algum esforço. Não estou falando de criar frustrações artificiais nem de abandoná-las à própria sorte. Claro que não.
Trata-se de acolher seus sentimentos, mostrar que estamos ao seu lado, mas que cabe a elas encontrar soluções. Podemos ajudar, acalmar, orientar, apoiar, dar pistas, guiar com perguntas. Mas elas precisam desenvolver a capacidade de encontrar caminhos próprios para resolver seus problemas.
Isso contribui para desenvolver habilidades como paciência, adiamento da gratificação, imaginação, resiliência, solução de problemas, perseverança. E importante: ajuda a quebrar o narcisismo. Afinal, o mundo não existe apenas em função delas, nem gira em torno dos umbiguinhos, por mais lindos que sejam. Fonte: https://oglobo.globo.com
'Quartos de depressão' e 'montes de destruição': por que arrumar a desordem pode parecer impossível
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A ligação entre bagunça e saúde mental é real. Estas dicas para manter uma casa limpa o suficiente vão ajudar
Dana G. Smith
THE NEW YORK TIMES
Uma câmera faz uma panorâmica do quarto de Abegael Milot. O chão está praticamente invisível, escondido por montes de roupas. Quatro grandes cestos de plástico estão empilhados uns sobre os outros, alguns cheios de roupas, outros de equipamentos eletrônicos. Há oito xícaras de café abandonadas sobre a escrivaninha e a mesa de cabeceira. No chão estão duas garrafas de água pela metade, uma garrafa de tequila com um cacto de vidro dentro e um comedor para animais de estimação.
"Hoje vamos limpar meu quarto da depressão", diz para a câmera a estrela do YouTube de 24 anos, que publica vídeos como Abbe Lucia. "Temo que a única maneira de conseguir limpar este quarto seja filmando."
O termo "quarto da depressão" é relativamente novo, popularizado por vídeos no TikTok e no YouTube que acumularam centenas de milhões de visualizações. Mas os especialistas há muito reconhecem a ligação entre bagunça e saúde mental. A desordem que pode surgir quando as pessoas estão passando por uma crise de saúde mental não é uma forma de acúmulo nem o resultado da preguiça. O culpado é a fadiga extrema, disse N. Brad Schmidt, um professor e pesquisador de psicologia na Universidade Estadual da Flórida.
As pessoas estão "muitas vezes tão exaustas física e mentalmente que se sentem sem energia para cuidar de si mesmas ou de seu entorno", disse o doutor Schmidt. "Elas simplesmente não têm a capacidade de encarar a limpeza e a manutenção da casa como provavelmente faziam antes."
Uma casa bagunçada também pode contribuir para sentimentos de esgotamento, estresse e vergonha, fazendo você se sentir pior do que antes. Embora a organização não cure a depressão, ela pode melhorar seu humor. Se você está com dificuldade e parece impossível manter seu lugar organizado, aqui estão algumas dicas sobre como fazer a limpeza estrategicamente para otimizar sua energia e seu espaço.
FOCO NA FUNÇÃO, NÃO NA ESTÉTICA
Para K.C. Davis, uma conselheira profissional licenciada e autora do livro "How to Keep House While Drowning" [Como manter a casa enquanto você se afoga], seu problema de desordem aumentou quando seu segundo filho nasceu, no início de 2020. "Sempre fui uma pessoa bagunceira", disse ela, "mas sempre funcionou." De repente, confrontada com um novo bebê, depressão pós-parto e a pandemia, Davis percebeu que se não adotasse um sistema ela estaria perdida.
Enquanto trabalhava para organizar sua casa, Davis começou a postar vídeos de seu progresso no TikTok, onde agora tem 1,5 milhão de seguidores. Desanimada por grande parte do conteúdo de autoajuda e limpeza que oferece o que chamou de "mensagens de acampamento militar", ela optou por uma abordagem mais suave e pragmática. Seus sistemas são realistas sobre suas capacidades e se concentram em ter um espaço habitável, não impecável.
Uma de suas estratégias mais populares é "arrumar cinco coisas" –a ideia de que há apenas cinco coisas em qualquer cômodo: lixo, pratos, roupas, coisas com lugar e coisas sem lugar. Concentrar-se em uma categoria por vez evita que ela fique sobrecarregada quando parece que há uma centena de itens diferentes que precisam ser guardados.
Davis também é uma grande defensora do que ela chama de "deveres de fechamento", inspirada por seu tempo de trabalho como garçonete. Muitas vezes ela não tem energia para limpar toda a cozinha todas as noites, então começou a fazer apenas algumas pequenas tarefas, "como uma gentileza para o futuro, para me preparar para o sucesso pela manhã".
"Afastei-me dessa ideia de que tinha que ser tudo ou nada e comecei a pensar em função" quando se trata de limpeza, disse ela. "Quando penso em 'Do que preciso de manhã?', de repente posso ser específica." Ela se certifica de ter pratos limpos e espaço suficiente no balcão para preparar o café da manhã, esvaziar o lixo e varrer as migalhas. "O que parece uma tarefa grande e interminável leva, na verdade, apenas 20 minutos do meu dia", disse ela.
Para as pessoas que estão realmente em dificuldade, Davis enfatizou que as coisas podem ser feias, mas não devem ser anti-higiênicas, porque todos "merecem estar limpos e confortáveis". Se você não tiver energia para lavar todos os pratos, limpe apenas um ou dois para a próxima refeição, ou use pratos de papel. Se a lavanderia envolver muitas etapas, não se preocupe em dobrar; rugas nunca fizeram mal a ninguém.
FAÇA SUA CASA FUNCIONAR MELHOR PARA VOCÊ
As pessoas que são neurodivergentes, com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo ou outros problemas de funcionamento executivo, também costumam lutar contra o excesso de desordem. Assim como "salas de depressão", o termo "pilhas de destruição" tornou-se popular nas redes sociais para descrever as coisas aleatórias que se acumulam e você não sabe o que fazer com elas. Quase todo mundo tem uma ou duas gavetas de lixo em casa, mas essas pilhas de desordem tendem a ser mais onipresentes para pessoas que lutam com o funcionamento executivo.
Lenore Brooks é uma designer de interiores especializada em trabalhar com pessoas neurodivergentes. Quando sua irmã, que tem TDAH, morou com ela por um curto período, Brooks descobriu que havia muitos recursos para ajudar crianças com TDAH ou autismo a se organizarem, mas praticamente nenhum direcionado a adultos.
Grande parte do trabalho de Brooks gira em torno de ajudar seus clientes a lidar com a desordem aparentemente interminável; eles sentem que estão constantemente limpando, mas a bagunça está sempre lá. As pessoas com TDAH lutam especialmente com isso porque, ela disse, "é quase como uma fadiga de decisão o tempo todo. 'Não consigo decidir o que fazer com isso, então simplesmente não vou fazer nada'".
O primeiro passo, segundo Brooks, é realmente prestar atenção aos itens que você costuma limpar. Em seguida, encontre lugares melhores para eles ficarem. "Falo muito com meus clientes sobre sistemas", disse ela. "Descobrir por que as coisas estão onde estão, por que a desordem se acumula em certos lugares e, em seguida, mudar o design ou a organização de como as pessoas realmente usam sua casa."
Essas mudanças podem ser simples. Por exemplo, se você estiver constantemente retirando canetas das almofadas do sofá da sala e da mesa de centro, pense em designar um local para manter as canetas na sala onde você realmente as usa. Para uma cliente cujo escritório em casa estava sempre cheio de pratos sujos, Brooks deu uma bandeja na qual ela podia juntar sua parafernália de chá e lanche e devolver para a cozinha no final do dia.
PARE O PROBLEMA ANTES DE COMEÇAR
Uma vez que seu espaço esteja limpo e relativamente organizado, tente dedicar alguns minutos todos os dias para mantê-lo assim. Davis recomendou marcar um cronômetro para cinco ou dez minutos e cuidar o máximo possível durante esse período. "Eu digo a mim mesma: não preciso terminar esta tarefa, mas vou me levantar durante oito minutos e fazê-la", disse ela. "Normalmente fico surpresa com o quanto consigo fazer."
E lembre-se, é normal ter alguma desordem em casa. O controle remoto da TV, seus óculos, a correspondência que você precisa separar, um projeto de arte no qual está trabalhando: "Eles são os sinais de vida em sua casa", disse Brooks.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Dois indígenas pataxós são mortos a tiros em rodovia no sul da Bahia
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Após as mortes, um grupo com cerca de 200 indígenas bloqueou a BR-101 para cobrar agilidade dos órgãos de segurança na elucidação dos crimes
Indígenas que foram mortos nesta terça-feira (17) na BR-101, em Itabela (BA) - Reprodução/NaMidia.News no Instagram
Dois indígenas da etnia pataxó foram mortos na noite desta terça-feira (17) no município de Itabela, sul da Bahia. A polícia local investiga se os assassinatos estão ligados a conflitos por terra na região.
As vítimas são o adolescente Nawir Brito de Jesus, 16, e Samuel Cristiano do Amor Divino, 25, segundo a Polícia Civil. Ambos viviam na Terra Indígena Barra Velha, que faz divisa com uma área de mais de 22 mil hectares do Parque Monte Pascoal.
Os dois foram mortos a tiros quando se deslocavam do povoado de Montinho para uma das fazendas ocupadas por um grupo indígena, diz a polícia. Testemunhas disseram que homens em uma moto atingiram as vítimas pelas costas.
Por causa das mortes, um grupo com cerca de 200 indígenas bloqueou a BR-101, na altura do km 787, para cobrar a resolução dos crimes, segundo o cacique Zeca Pataxó.
"A situação [os crimes], com certeza, tem a ver com nosso
"Estamos, agora, reunidos aqui no território da aldeia Barra Velha, enquanto aguardamos a liberação dos corpos pelo IML [Instituto Médico Legal], para darmos prosseguimento aos rituais fúnebres", disse.
A ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, lamentou as mortes dos jovens por meio de uma publicação numa rede social. "Acompanharei de perto o que vem acontecendo na região e irei requisitar ação imediata do Estado", disse.
Pouco depois dos assassinatos, ainda na noite desta terça, o Movimento Indígena da Bahia enviou documento ao governo federal no qual denuncia que as comunidades locais "estão sob forte ameaça de pistoleiros".
O documento exige a presença da Polícia Federal, para que seja a responsável pela investigação do caso. "Visando a proteção das vidas dos indígenas que ali residem", diz o texto, que também pede o envio de órgãos ligados à proteção aos direitos humanos.
A situação dos conflitos se arrasta desde meados do ano passado, o que resultou em outras mortes de indígenas na região. Conforme mostrou a Folha, em agosto, uma escola com 80 crianças foi alvo de tiros.
À época, os ataques dos pistoleiros levaram o governo baiano a montar uma força-tarefa para impedir novos conflitos.
A Polícia Civil informou que o caso mais recente está sendo investigado pela Delegacia Territorial de Itabela. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
O que está por trás da aproximação da Globo com os evangélicos?.
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Emissora, que já teve vilão espelhado em Edir Macedo, nunca se empenhou tanto em falar àquele que será o maior grupo religioso do país
Sol (Sheron Menezzes) é uma cantora gospel em 'Vai na Fé', novela das sete - João Miguel Júnior/Globo
SÃO PAULO
Ao lançar uma novela com temática positiva aos evangélicos, protagonizada por uma mulher negra, "Vai na Fé", que estreia nesta segunda-feira (16), contempla as três principais demandas anunciadas pela direção da Globo a roteiristas, criadores e diretores do mercado audiovisual há menos de um ano.
Em uma apresentação feita a esses profissionais do Rio2C, evento anual dedicado ao segmento, no Rio, em abril de 2022, o diretor da TV Globo e Afiliadas, Amauri Soares, exibiu gráficos e indicadores que mostravam o desenho comportamental do país naquele momento pós-pandêmico.
Soares sublinhou três pontos resultados de uma série de pesquisas demográficas feitas sob os moldes do interesse comercial da emissora, cuja vocação, como TV aberta, é alcançar o maior número de pessoas:
- O Brasil deixaria de ser um país de maioria católica ainda em 2022, para se tornar uma nação de maioria evangélicaem até dez anos, no máximo;
2. De cada três famílias brasileiras, uma é comandada por uma mãe preta, na maioria das vezes, solteira; - A crise econômica trazida pela pandemia havia reagrupado núcleos familiares que já estavam segmentados em residências separadas, trazendo de volta para o mesmo teto avô e neto, pai e filho, cunhados e afins, formando famílias multigeracionais.
Em "Vai na Fé", Sol, a mocinha vivida por Sheron Menezzes atende a quase todas essas características. Ela só não é mãe solteira, mas é cantora gospel em igreja evangélica, religião da mãe, vivida por Elisa Lucinda, e sustenta a família com a venda de quentinhas. É uma personagem batalhadora, como é toda mocinha e como era também Paloma, costureira, heroína criada pela mesma autora da vez, Rosane Svartman, então com Paulo Halm, em seu último folhetim, "Bom Sucesso".
A diferença é que Paloma era a loira Grazi Massafera. Agora temos uma negra nesse posto.
De três anos para cá, em especial, a Globo tem acelerado o processo de diversidade e inclusão racial em seus elencos, quebrando a hegemonia branca nos papéis de protagonistas e ampliando suas opções para personagens que fogem de estereótipos, ou seja, não são feitos pela medida da cor, abrindo o leque para situações que são de todos nós, mas que podem ser enriquecidas em cena pelo debate racial, de modo pontual.
Uma mulher como Vitória, por exemplo, em "Amor de Mãe", poderia ser uma atriz branca ou de qualquer origem étnica, mas a presença de Taís Araújo no papel abria a oportunidade de salpicar questões raciais aqui e ali, ao longo da trama de Manuela Dias, sem que esse fosse o ponto central daquela personagem.
A inclusão religiosa, no entanto, é algo mais recente na política estratégica da Globo, sempre mais afinada com o catolicismo, principalmente na dramaturgia. Os evangélicos, ou religiões pentecostais, de modo geral, há algum tempo já não são representados de modo pejorativo, mas nunca protagonizaram um enredo de novela na casa.
É natural que este segmento tenha buscado um espelho mais fiel de suas crenças na Record, rede que mais cresceu no universo da TV aberta dos anos 1990 para cá, regida por Edir Macedo, criador da Igreja Universal. Mas por pelo menos duas décadas, a Globo não só não se esforçou para parecer mais simpática aos evangélicos, como produziu histórias capazes de gerar uma guerra com os neopentecostais.
O ápice dos conflitos veio na esteira de "Decadência", minissérie de Dias Gomes, em 1995, cinco anos após Macedo ter comprado a Record, demonstrando, desde então, sede de alcançar o calcanhar da Globo em audiência. Foi a única produção com protagonismo evangélico na Globo, e deu-se da forma mais negativa possível, a ponto de a Igreja Universal ter processado a rede da família Marinho na época.
Mariel, personagem vivido por Edson Celulari, crescia adotado por uma família católica, mas criado pela empregada da casa. Adulto, tornava-se motorista da família, e se envolvia com Carla, a caçula da casa, sendo expulso da mansão sob acusação de estupro.
O tempo passa e, ao ser levado por uma namorada a um culto numa igreja neopentecostal, Mariel encontra na igreja a salvação para seus problemas. Cinco anos mais tarde, ele se torna milionário após fundar a própria igreja, o Templo da Divina Chama, enquanto seus antigos patrões empobrecem e lhe propiciam chances de vingança.
Havia frases inteiras de Macedo na boca do personagem.
Esse é um perfil que a Globo quer deixar para trás, assim como a predominância de imagens sacras, algo inaceitável entre evangélicos, em suas novelas e séries. Evidências da pluralidade religiosa do país, ao contrário do que pratica a Record em toda a sua programação, seguirão em cena, mas a tendência é que a predileção católica perca primazia, ao menos na ficção.
*zapping - cristina padiglione
Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br). Fonte: https://f5.folha.uol.com.br
Homem é preso por impedir mãe de 80 anos de tomar banho, comer e ficar com aposentadoria em MS
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O caso foi denunciado à polícia de Corumbá (MS) após uma cuidadora presenciar os xingamentos e gritarias dentro da casa, em uma semana de trabalho. O suspeito foi preso em flagrante por maus-tratos.
Por Débora Ricalde, g1 MS
Um homem, de 61 anos, foi preso em flagrante por impedir que a mãe de 80 anos tivesse acesso a água, alimento e a própria aposentadoria. O crime de maus-tratos aconteceu em Corumbá, a 420 km de Campo Grande.
O caso foi descoberto pela polícia na quinta-feira (22), após a denúncia de uma mulher foi contratada pela filha da vítima para cuidar da idosa, que é cadeirante. Durante uma semana de trabalho, a profissional relatou ter visto diversas facas espalhadas pelos cômodos da casa e também ouvido gritaria e xingamentos contra a paciente.
Durante o depoimento à polícia, a cuidadora de idosos relatou que além da pressão psicológica, o suspeito também racionava água dentro da casa, impedindo que a mesma tomasse banho de forma adequada e fizesse as demais higienes.
Ainda de acordo com a ocorrência, a mãe do suspeito também não tinha permissão para ligar o ventilador ou o ar-condicionado. Além de muitas vezes ter sido alimentada com comida vencida.
Conforme a polícia, a cuidadora relatou ainda que o filho tirou a bateria do celular da idosa para que ela não falasse com os outros irmãos e também ficava com todo o dinheiro da aposentadoria no dia do pagamento.
O suspeito foi preso em flagrante e deve responder pelo caso de maus-tratos. Fonte: https://g1.globo.com
'Vou passar noite de Natal dormindo': Famílias pobres ficam sem a ceia.
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Reportagem revisita famílias em situação vulnerável; falta de dinheiro impõe racionar alimentos
Leonardo VieceliJosué Seixas Franco Adailton Daniela ArcanjoAna Paula Branco
RIO DE JANEIRO, MACEIÓ, SALVADOR e SÃO PAULO
Aida, 63, no Rio de Janeiro, prefere dormir a encarar a mesa vazia na noite do Natal. Elaine, 39, de Salvador, chega ao dia da ceia racionando comida para a família. Rosali, 47, de Maceió, mora em nova casa de madeira, mas a geladeira deverá seguir sem nada neste fim de ano.
A Folha revisitou neste mês pessoas em situação vulnerável em quatro capitais e regiões metropolitanas brasileiras e constatou que a insegurança alimentar ainda afeta a mesa dos lares mais pobrs.
Aida Herminio dos Santos, 63, tem um plano para a noite de Natal: dormir. A moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, afirma que está recebendo o Auxílio Brasil, mas anda com o orçamento apertado, o que impede o preparo de uma ceia para a família na data festiva.
A exemplo de outros tantos brasileiros, ela segue com o bolso pressionado pela inflação.
"O meu Natal vai ser assim: vou passar dormindo. Infelizmente, não tenho condições de montar uma mesa e receber minha família aqui. Esse tempo já se foi", diz Aida, que vive com o companheiro.
Em março deste ano, ela foi entrevistada pela Folha para uma reportagem sobre desemprego de longa duração. À época, estava sem trabalho havia dois anos, desde o início da pandemia.
Após a publicação da reportagem, Aida recebeu doações e conseguiu voltar a cozinhar com botijão de gás, um item que havia sido trocado pelo fogão a lenha em razão da alta de preços.
A moradora da Baixada Fluminense, contudo, continua sem um emprego fixo. O pagamento do Auxílio Brasil –ampliado pelo governo federal em agosto para R$ 600– ajudou nas despesas, mas ela diz que ainda busca doações para o sustento da casa.
Ao longo do ano, Aida também passou a cuidar de dois netos. "Ainda está apertado. Tem dias em que a gente tem o arroz e o feijão, e às vezes não tem a mistura", conta.
Seu desejo é retornar para o mercado de trabalho, mas a idade é considerada um obstáculo adicional para a conquista de uma vaga. "Até arrumaram serviço para mim, mas, com 63 anos, preferem pessoas mais novas."
Antes da pandemia, Aida trabalhava como cuidadora de idosos. Ela gostaria de regressar para uma função nessa área.
"Meu desejo é voltar a trabalhar. É o que me faz sentir bem. Gosto de tudo que for para ajudar", diz.
EM MACEIÓ, TER A GELADEIRA CHEIA PARA A FAMÍLIA É SONHO
Rosali Alexandre de Souza, 47, de Maceió, recebeu a Folha em sua nova casa, feita de madeira após a queda da anterior no período de chuva que atingiu o Nordeste. Livrar-se do aluguel foi a conquista de 2022, embora considere este o seu ano mais sofrido.
Apesar do imóvel próprio, a geladeira continua vazia.
"Não tenho vergonha de dizer que hoje vou comer um arroz, um pouco de feijão e vou fritar uma mortadela para todo mundo. No jantar, cuscuz com leite de caixa. É assim mesmo. Esse foi meu ano mais difícil, que chego e vejo a geladeira vazia praticamente todos os dias", diz ela.
Por causa da filha Yasmin, 18, e da neta Jasmin, 7, a casa foi decorada para o Natal. Na porta, uma mensagem de "Feliz Natal", luminárias e um chapéu, assim como alguns poucos detalhes espalhados nos cômodos, todos feitos de material reciclável.
"De vez em quando, já estamos conseguindo carne e frango, mas não vamos fazer uma ceia daquelas nesse fim de ano. Arroz e alguma coisa que conseguirmos com doação. Era meu costume juntar todo mundo, comer bem, mas é muito difícil. Você vê a geladeira vazia, como foi da outra vez que vieram, e não é uma surpresa. Nem na pandemia era desse jeito", afirma.
A Casa Tuca, que intermediou a visita, levou doações e fez ações sociais para dar mais qualidade ao fim de ano das famílias.
"O que eu quero mesmo é ter a minha casa própria e minha geladeira com condições para ajudar toda a minha família. É o sonho que não abro mão", falou ao fim da visita, já com os olhos marejados.
NATAL SERÁ MAIS UM DIA DE LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
Em Salvador, no início de cada mês, a dispensa na casa da ambulante Elaine Costa Silva, 39, está, na medida do possível, abastecida para alimentar as cinco pessoas que moram no local: ela, as filhas Elaiza, 18, e Evelyn, 13, mais as duas sobrinhas, Mileide, 17, e Ilana, 4.
A partir da terceira semana, é preciso racionar até receber o Auxílio Brasil, única renda fixa da família. Neste mês de Natal, o arrocho promete ser maior, já que não tem sobrado dinheiro para Elaine produzir os materiais de limpeza que costuma vender nas ruas da capital baiana.
Os R$ 600 do benefício vão só para alimentação. Caso estivesse com as vendas em dia, ela diz, a família teria um adicional que oscila em até R$ 200 a mais na renda. "O dinheiro é, basicamente, para comprar comida. Depois de muita pesquisa, porque está tudo muito caro."
Apesar das dificuldades cotidianas, Elaine prefere continuar com as vendas incertas a ter um trabalho como empregada doméstica. "Como não tenho estudo, sempre trabalhava em casa de família, mas era muita humilhação."
Silva não precisa usar o auxílio em despesas com moradia, a exemplo do aluguel, pois vive com a família em um barraco de madeira no bairro de Vista Alegre, no subúrbio da capital baiana.
Por outro lado, o gás de cozinha, cujo botijão de 13 kg em Salvador custa a partir de R$ 120, consome quase 25% da renda da casa. "Quando acaba o gás, se a gente não tiver dinheiro, precisamos cozinhar com lenha", afirma.
O fornecimento de água vem de uma tubulação a partir de um imóvel de uma vizinha, que cobra R$ 50 mensais dos moradores da ocupação. Já a energia elétrica é clandestina.
A estrutura do barraco levantado à base de madeira compensada fica parcialmente comprometida a cada chuva, conta. Para que não apodreçam, forra as paredes com pedaços de lona plástica.
Silva nem cogita preparar algo especial para passar a noite de Natal com a família. "Para a gente, será como um dia comum como qualquer outro, de luta pela sobrevivência. Nada planejado."
Ela também diz não ter motivos para comemorar, desde que o filho Yan Barros foi assassinado aos 19 anos, em abril de 2021. O jovem foi encontrado morto após suspeita de furtar carne em um supermercado em Salvador.
"A última vez que celebramos o Natal, que decoramos a casa, foi em 2020, quando meu filho estava vivo", diz. "Depois que fizeram aquela barbaridade com ele, que era a alegria da casa, fim de ano aqui é só tristeza", afirma.
CHESTER VAI VOLTAR À MESA EM CEIA DE HELIÓPOLIS
Neste ano, o chester vai voltar para a mesa de Natal de Priscilla Ribeiro, 42, moradora de Heliópolis, maior favela de São Paulo. A situação da dona de casa melhorou em relação ao último ano, quando a celebração passou como "um dia normal".
Desempregada desde o final de 2020, Priscilla viu a sua renda se reduzir ao valor do Auxílio Brasil ao longo desses dois anos. Eventuais aumentos se devem a vendas informais, na sua própria casa, de açaí e picolé.
Priscilla tem sete filhos, e o orçamento precisa sustentar cinco deles. Em alguns momentos, a conta não fechou.
Quando foi entrevistada pela Folha, em abril de 2021, havia trocado a carne que acompanhava o prato de arroz com feijão por ovo e salsicha. Hoje, o alimento voltou, mas só duas vezes por mês.
"Do meio do ano para cá, o preço das misturas deu uma caidinha", afirma. A queda nos preços também fez o frango voltar para o prato três vezes na semana e a compra do mês ser possível de novo. Cerca de R$ 400 mensais vão para o mercado.
"Na pandemia era de picado. Eu comprava só o que faltava", diz.
Apesar da leve recuperação financeira, a família ainda passa por dificuldades. A falta de dinheiro fez uma conta de água, por exemplo, ficar atrasada por mais de um ano. Só no final de 2022 a dívida foi regularizada.
Salsicha e congelados de frango ainda entram no cardápio quando as contas apertam, e o pernil de Natal, que Priscilla queria para a noite de festa, vai ficar para o ano que vem.
MORADORA DE OCUPAÇÃO DIZ QUE ESTÁ SEM REMÉDIO
Entrevistada pela Folha em 2021, Samantha Silva, 34, continua a morar em uma ocupação e afirma que as dificuldades econômicas persistem. A família, por exemplo, usa lenha para economizar no gás de cozinha.
"Ainda estamos passando aperto, principalmente com a chuva que teve esses dias. Tive que usar o fogão e gastar gás. Mas temos que dar graças a Deus por termos um teto. Tenho recebido o Auxílio Brasil, é o que está me ajudando."
Há seis anos fora do mercado de trabalho para cuidar da família, ela tem dificuldade para conseguir um emprego, mesmo se inscrevendo em cursos gratuitos de recolocação profissional. "Estou procurando qualquer emprego, para poder cuidar e alimentar as minhas filhas, de 16 anos e 10 anos. Quero dar educação e moradia digna para elas", afirma Samantha.
Neste ano, ela conta que enfrenta mais um problema: a dificuldade para retomar o tratamento de lúpus. "Quando meu marido perdeu o emprego, tivemos que entregar a casa e, desde então, estamos na ocupação e me tiraram do postinho. Tive que ir atrás de todos os documentos para levar para outro posto e terei que iniciar tudo do zero, passar com hematologista, dermato de novo. Estou sem remédio, o corticóide e a dose de cloroquina."
Embora relatando muito cansaço e desânimo por causa das manchas e dores do lúpus, Samantha tem fé em 2023. "Se Deus quiser, ano que vem vai ser um ano de vitórias." Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Quer viver mais? Aumente o ritmo das atividades do dia a dia por três minutos, sugere estudo
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THE WASHINGTON POST - Apresse-se para chegar ao ponto de ônibus. Apresse-se ao subir as escadas. Brinque de pega-pega com seus filhos. Brinque com o cachorro. Aspire a sala de estar com um toque extra. Aumentar o vigor e o entusiasmo de nossas atividades diárias pode ter um impacto substancial em nossa longevidade, de acordo com um novo estudo sobre intensidade de movimento e mortalidade.
O estudo concluiu que apenas três minutos por dia de atividades diárias vigorosas estão associados a um risco 40% menor de morte prematura em adultos, mesmo quando eles não se exercitam regularmente. “É uma pesquisa fantástica”, disse Ulrik Wisloff, diretor do K.G. Jebsen Center for Exercise in Medicine na Norwegian University of Science and Technology, em Trondheim. Ele estuda extensivamente a atividade e a longevidade, mas não esteve envolvido no novo estudo.
Os resultados da pesquisa juntam-se às crescentes evidências científicas de que adicionar um pouco de intensidade às nossas vidas traz grandes benefícios para a nossa saúde, sem precisar de equipamentos extras, instrução, academia ou tempo.
A ideia de que a forma como nos movimentamos influencia no nosso tempo de vida não é nova. Muitas pesquisas vinculam o exercício regular a uma expectativa de vida mais longa, incluindo as diretrizes formais da saúde pública, que recomendam pelo menos 150 minutos por semana de exercícios moderados para saúde e longevidade.
Pesquisas mais focadas, no entanto, sugerem que intensificar alguns de nossos exercícios – certificando-se de que nossos batimentos cardíacos e respiração aumentem – amplia os benefícios para a saúde.
Em um estudo de grande escala de 2006 do laboratório de Wisloff, por exemplo, foi constatado que apenas 30 minutos por semana de exercícios intensos diminuíram o risco de morte por doenças cardíacas em cerca da metade dos homens e mulheres que participaram, em comparação a pessoas sedentárias.
Da mesma forma, um estudo publicado no ano passado no JAMA Internal Medicine concluiu que as pessoas que se esforçam mais durante o exercício têm cerca de 17% menos probabilidade de morrer prematuramente do que outras pessoas que fazem a mesma quantidade de exercício, mas em um ritmo mais suave e moderado.
Ambos os estudos, no entanto, e pesquisas anteriores semelhantes, foram baseadas na lembrança subjetiva das pessoas de quanto e com que intensidade elas se exercitaram. “Se formos honestos, a maioria das pessoas é alérgica à palavra ‘exercício’”, disse Emmanuel Stamatakis, professor de atividade física e estudos de saúde da Universidade de Sydney, na Austrália, que liderou o novo estudo.
Reconhecendo esse comportamento, ele e seus colegas começaram a se perguntar sobre os efeitos das atividades sem exercício – aquelas tarefas e movimentos frequentes que ocupam grande parte de nossos dias. Seria importante para a saúde das pessoas se essas atividades fossem concluídas mais rapidamente, com mais dificuldade, com um pouco mais de entusiasmo?
Para descobrir, os pesquisadores recorreram aos extensos dados armazenados no UK Biobank, que inclui registros de saúde de centenas de milhares de homens e mulheres britânicos. A maioria deles usou um acelerômetro por uma semana após ingressar no Biobank para rastrear seus movimentos diários. Os cientistas obtiveram registros de 25.241 desses adultos, com idades entre 40 e 69 anos, e todos disseram aos pesquisadores que nunca se exercitaram.
Surtos físicos
Os cientistas, então, começaram a analisar suas atividades diárias em detalhes minuciosos, determinando a intensidade de seus movimentos quase segundo a segundo, com base na rapidez dos passos e outros dados. A análise consumiu três meses de tempo constante no computador, disse Stamatakis. Mas, no final, os pesquisadores conseguiram mapear os breves movimentos dos participantes, como quando alguém correu para pegar um trem ou atrás de uma criança. Esses “surtos físicos” podem durar apenas um minuto. Mas eles têm impacto no risco de mortalidade.
Comparando os padrões de atividade com os registros de morte por um período de cerca de sete anos depois que as pessoas ingressaram no Biobank, os cientistas descobriram que homens e mulheres que praticavam em média 4,4 minutos por dia do que os cientistas chamam de atividade física de estilo de vida intermitente vigorosa tinham cerca de 30% menos probabilidade de terem morrido nesses sete anos do que aqueles que raramente se movimentavam rápido.
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Espalhar essas breves explosões de atividade aumenta os benefícios na longevidade. Quando as pessoas conseguiam pelo menos três surtos separados de movimento durante um dia, cada um durando apenas um minuto, seu risco de mortalidade caía 40%, em comparação com pessoas que nunca se apressaram. Eles não se exercitavam, apenas aumentavam o ritmo de algo que estavam fazendo, pelo menos três vezes ao dia.
Por fim, os pesquisadores realizaram uma análise semelhante dos dados de 62.344 homens e mulheres do Biobank que se exercitam, embora a maioria em ritmo moderado. Quando essas pessoas conseguiam alguns minutos de atividade mais intensa na maioria dos dias, seja durante seus treinos ou tarefas diárias, seus riscos de mortalidade eram menores do que se exercitassem regularmente de forma moderada. “Há algo sobre a intensidade”, disse Stamatakis.
Para fortalecer suas próprias atividades, continuou Stamatakis, mova-se com força e rapidez o suficiente para que a conversa pareça impossível. Tente atingir esse nível de falta de ar três a quatro vezes ao dia, por um minuto ou dois, de preferência enquanto estiver fazendo algo que precise fazer de qualquer maneira.
Este estudo é limitado, no entanto. É associativo, mostrando apenas uma relação entre golpes rápidos de esforço e nossa expectativa de vida, e não nos diz por que a intensidade conta, embora outras pesquisas indiquem que exercícios extenuantes melhoram a resistência e a saúde cardiovascular mais do que exercícios mais leves, disse Stamatakis.
O resultado do estudo, concluiu ele, é que a pressa em realizar tarefas diárias pode nos adicionar anos a mais de vida no futuro. Fonte: https://www.estadao.com.br
Aos que se irritam com os jornais
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Com alguma frequência, ouve-se que já não seria necessário ler um jornal todos os dias porque a informação chega agora “por outros meios”. Também se escuta a seguinte reclamação: estou pensando em parar de ler os jornais porque, com suas críticas excessivas e outras tantas tolerâncias, perderam o equilíbrio. Chegam a irritar. Qual é o sentido de ler algo se depois fico irritado?
Sim, ler um bom jornal sempre envolve algum incômodo. Entra-se em contato com gente que pensa diferente, que nos contraria, que diz, de forma muito convicta, algo que nos parece uma insensatez. O jornal é uma forma de contato habitual, diário, com a pluralidade da sociedade. (Desconfie de jornais com os quais se concorda do início ao fim. Eles não retratam o mundo em sua complexidade. Abdicaram do jornalismo para se tornarem pirulitos agradáveis ao paladar do leitor.)
No entanto, eis a ironia da vida, todas as pessoas que conheço que pararam de ler jornais para não ficarem irritadas, depois que abandonaram a leitura diária da imprensa, ficaram ainda mais irritadas com o mundo, com os outros e com os próprios jornais. Se alguém deseja estar num genuíno estado de exasperação com a vida e com o que acontece ao seu redor no âmbito político, social e cultural, pare de ler jornal – e dedique-se ao WhatsApp e às redes sociais.
A leitura diária de jornais funciona como um exercício privilegiado de pluralidade. Quem a abandonou está menos preparado para lidar com as diferenças existentes na sociedade. O mundo torna-se uma fonte mais intensa de perplexidade e irritação. Sem a leitura de jornais, ficamos menos capazes da compreensão e mais propensos ao atrito.
Conhecer – ler, estudar e dialogar – a partir de outras perspectivas produz desassossego. Tira da zona de conforto. Mas desassossego sério, que impregna o corpo e a alma, é gerado pela ignorância: a incompreensão do que está acontecendo ao seu redor, a sensação de que se deveria viver num tempo diferente. Há um fenômeno cada vez mais frequente. Tem gente que, de tão incomodada com o que vê ao seu redor, quer voltar no tempo, vivendo, por exemplo, no século 19. E alguns ainda tratam essa utopia como “conservadorismo”.
Aqui, entramos no outro ponto: os jornais são necessários para conhecer a realidade contemporânea? Sim, definitivamente sim. Em relação a tudo aquilo com que não temos contato imediato – ou seja, a imensa maioria dos assuntos –, o jornalismo é a fonte mais confiável sobre o tempo presente.
Na definição clássica, o direito é a arte do justo. Pode-se dizer que o jornalismo é a arte do presente: a arte de narrar o tempo presente. Ele tem método, mas não é a rigor uma ciência. O jornalismo é um modo de apreender, a partir de critérios objetivos e verificáveis, a realidade. Não é o mundo da pura subjetividade. Há um grande respeito pelo factual. Por isso, além de estar sob contínua revisão, o jornalismo é sempre feito coletivamente. Tem necessariamente uma dimensão institucional. Nunca é mero afazer solitário, encerrado numa única individualidade, numa única subjetividade.
Uma observação: jornalismo não é o título da matéria, o tuíte sobre a reportagem ou o resumo dos jornais que nos chega por meio de newsletters. Se estamos lendo apenas isso, já abandonamos o jornalismo. De um jeito diferente, estamos vendo apenas a primeira página do jornal exposta na banca de jornal. Jornalismo é o conteúdo inteiro das reportagens, com o contexto dos fatos, suas relações, suas consequências e a continuação no dia seguinte.
Os jornais são importantes no acesso à realidade porque não representam apenas uma foto dela. A leitura diária dos jornais oferece um filme do tempo presente. E é essa continuidade, um dia após o outro, que produz a mágica: somos enxertados na compreensão do fluxo do tempo presente, com seus movimentos e também com seus imobilismos. A leitura diária dos jornais proporciona uma experiência radicalmente diferente da leitura esporádica.
A complexidade da vida e da ação humana, com suas múltiplas camadas, inviabiliza a pretensão da autossuficiência na compreensão da realidade, na organização e síntese dessas informações. Queremos conhecer o Congresso sem repórteres no plenário, nos corredores e nos bastidores? Queremos julgar o Judiciário lendo apenas lacrações? Queremos entender as reivindicações políticas de grupos minoritários ouvindo apenas o nosso entorno social?
Não há conhecimento qualificado do mundo contemporâneo sem jornalismo. A frase “não preciso dos jornais, já estou informado por outros meios” significa, no melhor dos casos, que se abdicou do acesso direto ao jornalismo e, agora, se informa pela leitura que outras pessoas fazem do jornal que se deixou de ler.
Podemos e devemos exigir jornais melhores. O jornalismo é sempre imperfeito. Mas abandonar sua leitura não produz autonomia. É uma opção por alhear-se do tempo presente. É começar a desligar os aparelhos. Pode-se admirar outras épocas, o contemporâneo tem também suas deficiências, mas a vida sempre transcorre no presente.
* ADVOGADO. Fonte: https://www.estadao.com.br
Mulher e preta escravizada: Conheça Esperança Garcia, reconhecida como a primeira advogada do Brasil
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Em carta ao governo da Capitania do Piauí, ela denunciou os maus-tratos contra mulheres e crianças no século 18
Estátua em homenagem a Esperança Garcia, em Teresina, capital do Piauí. Foto: Moacir Ximenes/Central de Artesanato Mestre Dezinho
Defensora dos direitos das mulheres e das crianças, Esperança Garcia escreveu o primeiro “habeas corpus” que se tem registro no Brasil. Pela sua atitude, a autora recebeu um reconhecimento póstumo do Conselho Pleno da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) como primeira advogada do País. Ela já havia sido reconhecida pela seccional da OAB no Piauí em 2017 como a primeira advogada do Estado.
Escravizada no século 18, em Oeiras, no interior do Piauí, Esperança tinha apenas 19 anos quando enviou uma carta ao então governador da Capitania, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro. Ela denunciava os maus-tratos que mulheres e crianças sofriam na fazenda em que vivia e pedia que providências fossem tomadas.
A carta de Esperança foi documentada pelo historiador e antropólogo Luiz Mott em 1979 e, desde 1999, o dia 6 de setembro, data de escrita do texto, é considerado Dia Estadual da Consciência Negra no Piauí.
“Reconhecer a Esperança Garcia como primeira advogada negra e dar essa visibilidade à carta é colocar essa população como protagonista da sua história”, afirma a historiadora Raquel Costa, que compôs a Comissão Estadual da Verdade e da Escravidão Negra da OAB-PI e fez parte da construção do dossiê que traz a história de Esperança.
“Tirar essa ideia de uma escravidão amenizada, de que esses escravos só sofriam violência e eram passivos diante do sistema. A carta mostra essa subjetividade de uma mulher negra escravizada e protagonista de toda a sua história”, acrescenta.
A aprovação do Conselho Federal ao reconhecimento de Esperança foi anunciada pelo presidente do Conselho Federal da OAB, Beto Simonetti, no último dia 25.
Reparação
Para Élida Fabricia, conselheira federal da OAB pelo Estado do Piauí, o reconhecimento de Esperança Garcia é uma reparação histórica. “Isso significa que nós lamentamos todo o sofrimento que foi imposto a essa população historicamente e que nós estamos dispostos a buscar instrumentos que viabilizem a promoção da igualdade no âmbito da OAB, da advocacia e em toda a sociedade”, explica.
Além do reconhecimento, o órgão também decidiu pela construção de um busto da personalidade no salão principal da sede do Conselho Federal. “Para que nós tenhamos uma presença concreta da Esperança Garcia e de toda a Esperança que move a advocacia”, afirma Élida.
A pauta foi levada ao conselho pela então presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada (CNMA) e hoje presidente da OAB-BA, Daniela Borges, e a então presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade (CNPI) da OAB, hoje conselheira federal Silvia Cerqueira (BA).
Ainda na gestão 2018-2022, as duas fizeram o requerimento em nome da história de Esperança Garcia e o pedido foi apoiado pelas atuais presidentes dos órgãos, Cristiane Damasceno, na CNMA, e Alessandra Benedito, na CNPI.
A história de Esperança
De acordo com dossiê Esperança Garcia: Símbolo de Resistência na Luta pelo Direito, organizado pela advogada Maria Sueli Rodrigues de Souza e pelo historiador Mairton Celestino da Silva, Esperança Garcia tinha 19 anos quando as terras em que vivia no interior do Piauí foram doadas aos Jesuítas e sua família, separada.
Casada desde muito nova, Esperança dividia a vida com o marido também escravizado Ignácio Angola. No entanto, após a fazenda de algodões passar a ter outro dono, ela foi enviada junto com dois de seus filhos para ser cozinheira em outra casa.
Em sua carta, Esperança relata abusos que sofria junto com suas crianças, além do impedimento de se confessar na igreja junto com outras mulheres com quem vivia.
“Peço a Vossa Senhoria pelo amor de Deus ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar ao procurador que mande para a fazenda aonde me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha”, escreveu.
O fim da história nunca foi conhecido e confirmado, mas, em alguns documentos que vieram à tona anos depois, uma mulher escravizada de nome Esperança, de 27 anos, casada com o também escravo africano Ignácio, de 57, aparece na listagem de uma fazenda de algodões na década de 1770.
Também estavam listadas cinco crianças escravizadas entre 1 e 9 anos, mas não se sabe ao certo se eram os filhos do casal.
A natureza jurídica da carta
O dossiê explica que a carta de Esperança continha uma natureza jurídica tanto pelo autorreconhecimento da autora como membro da comunidade política, como no caráter de peticionamento no documento.
A advogada Andreia Marreiro, que também contribuiu no dossiê, acredita que a história mostra como o Direito está em constante disputa. “Ele tanto serve para manutenção das relações de poder e opressão, como também é acionado pelos grupos historicamente silenciados e invisibilizados que tiveram os direitos negados”, afirma.
“Os direitos que a população negra hoje tem foram conquistados, e não dados. Aprendemos que a abolição da escravidão foi dado por uma pessoa branca, quando na verdade você tem essa liberdade e dignidade reivindicada e conquistada pelo movimento negro, pelo protagonismo dessas pessoas que se insurgiram diante daquilo e lutaram”, acrescenta Andreia.
Élida destaca que se trata de um reconhecimento simbólico, sem implicações jurídicas, mas um resgate histórico. “O que a conecta com a advocacia é a ousadia de buscar defender os direitos humanos e reivindicar. Fonte: https://www.estadao.com.br
É perigoso fazer atividade física resfriado?
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Se os sintomas forem leves e o treino de baixa intensidade, ok. Com tosse seca, desconforto no peito, febre e dor muscular, não
Por Rachel Rabkin Peachman, The New York Times
Nariz escorrendo, dor de cabeça, sinusite, tosse, dor no corpo, dificuldade de respirar. Quais desses sintomas são a deixa para interromper a prática dos exercícios? Pesquisadores investigaram essa pergunta e chegaram à conclusão de que, nem sempre um resfriado impacta a rotina de quem vai à academia ou pratica algum esporte, e que, muitas vezes, as atividades físicas podem ajudar a melhorar a resposta imunológica do nosso corpo em períodos de resfriado ou gripe fraca.
Contudo, há algumas ressalvas que merecem atenção, segundo eles. A seguir, serão listadas as principais observações feitas pelos especialistas.
Faça o teste do pescoço
Antes de você ir se exercitar, preste bastante atenção nos seus sintomas. Thomas Weidner, professor de Educação Física da Ball State University, em Indiana, Estados Unidos, explica que “o guia mais popular é o teste do pescoço”.
— Caso os sintomas estejam acima dele, fazer o exercício é seguro.
O especialista se refere à congestão nasal e dor de cabeça fraca, por exemplo, afirmando que, nesses casos, atividades físicas leves não afetarão o resfriado.
Weidner comprovou a eficácia desse teste em um estudo feito na década de 1990. Nele, 50 jovens adultos foram infectados com um vírus comum de resfriado e, aleatoriamente, dividiu-os em dois grupos: um fez 40 minutos de exercício moderado por 10 dias ininterruptos, o outro não fez nenhuma atividade física. Os pesquisadores descobriram que a doença não se intensificou entre os grupos, ou seja, a prática do exercício não prolongou ou piorou o resfriado. Weidner, posteriormente, repetiu os testes e os resultados foram similares.
Contudo, se os sintomas estiverem abaixo do pescoço, como tosse seca, desconforto no peito, náusea, diarreia, febre, dor muscular e fadiga, “não é boa ideia fazer exercícios”, reforçou Jeffrey Woods, professor da University of Illinois at Urbana-Champaign, também nos Estados Unidos.
Monitore seus sintomas
Também mantenha emmente que os sintomas podem evoluir, e, o que antes era só um nariz escorrendo, pode se transformar em algo mais sério, como bronquite ou gripe. Proceda com cautela, atento a como você está se sentindo e não faça exercícios se você começar a se sentir pior.
— Existe esse mito de que você pode se livrar do vírus suando, mas isso é uma péssima coisa a se fazer — reforçou David Nieman, professor de Biologia na Appalachian State University e diretor do Laboratório de Performance Humana do Centro de Pesquisa da Carolina do Norte.
Se você não está se sentindo bem, exercícios pesados podem agravar os sintomas e aumentar o risco de complicações.
— Isso pode realmente fazer você ficar de cama. Se sua condição se deteriorar, é melhor descansar até os sintomas irem embora — diz Nieman. —Depois, gradualmente volte à rotina. É comum maior dificuldade no início, caso você retorne rápido e com força.
Em casos raros, exercitar-se em intensidade enquanto se está doente ou logo após se recuperar, pode manter ou gerar novos sintomas ligados ao cansaço, à exaustão ou a dores inexplicadas. Pesquisadores acreditam que esse fenômeno é similar ao de algumas pessoas que desenvolveram Covid longa ou síndrome da fadiga crônica, doenças que surgem após uma infecção aguda.
—Pode ter consequências sérias para uma pequena porcentagem de pessoas se elas fizeram, doentes, exercícios muito pesados — alerta Nieman.
Outra consequência é a possibilidade de surgimento da miocardite, inflamação no músculo cardíaco, que causa arritmia cardíaca, dor no peito ou dificuldade ao respirar.
Os pesquisadores não têm certeza do quão comum são esses sintomas mais graves ou o porquê do corpo reagir desse jeito em alguns casos, mas Nieman especula que o sistema imunológico vai para um “nível de perigo” que aumenta as chances de inflamação no coração.
Mantenha-se nas atividades moderadas
Se você está certo de que seus sintomas estão melhorando e que você está bem para a prática de atividades, Woods recomenda exercícios cardiovasculares de intensidade moderadas por 30 a 40 minutos por série.
Uma caminhada rápida de 30 minutos ao ar livre, malhar levemente em um aparelho elíptico ou, ainda, andar de bicicleta podem ser boas opções. Woods também avisa que perder peso, nesse período, é normal, e que é importante evitar ir à academia, pois assim você não corre o risco de contaminar outras pessoas. Ele também enfatiza que essa não é a hora para se esforçar e tentar conseguir seus melhores resultados.
Se em algum momento você sentir tontura, aperto no peito ou qualquer dor durante o exercício, considere parar por ali. Se tudo correr bem, no entanto, você pode sentir um “impulso psicológico” após o exercício, e, de acordo com Weidner, “isso é uma vantagem, já que os sintomas podem deixar a pessoa desmotivada”.
Quando estiver totalmente recuperado do resfriado, volte lentamente à sua rotina de exercícios, aumentando gradualmente a duração e a intensidade do treino. A pesquisa mostra que, quando você está saudável, o exercício moderado regular pode realmente diminuir a inflamação, melhorar sua resposta imunológica e diminui o risco de contrair infecções respiratórias superiores em primeiro lugar. Fonte: https://oglobo.globo.com
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