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Ir. Irene Lopes dos Santos, assessora da Comissão Episcopal Especial para Amazônia da CNBB e membro da Comissão pré-sinodal para a Pan-Amazônia encontrou-se, nesta quinta-feira, 12 de abril, com o Papa Francisco. Ela está em Roma para reunião do grupo que prepara o Sínodo dos Bispos.
A experiência
Em vídeo que registrou o encontro, Papa Francisco a elogia e ela responde: “muito obrigada, Santo Padre. Muitos abraços do Brasil“. O Papa está sorridente. Nomeada no último dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Ir. Irene será a única voz feminina no Conselho pré-sinodal. Ela também é assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica, a REPAM,
“Hoje, pela manhã, foi um momento muito especial para mim. Primeiro porque nunca imaginava encontrar o Papa Francisco assim de tão perto. E ele já chegou cumprimentando todos nós, demonstrando grande alegria em encontrar com todos nós. Foi um presente de Deus para a minha vida“, disse.
E continuou: “depois, também tive a alegria de fazer uma partilhar a partir de um trecho da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios para todos eles, inclusive o Papa. Na verdade, eu tive que fazer de conta que estava falando para muitas outras pessoas, e não para o Papa, porque senão iria conseguir“, confessa.
Ir. Irene também relatou os trabalhos do dia feito pelo Conselho pré-sinodal para a Pan-Amazônia: “Pela amanhã, nós fizemos estudo da primeira parte do texto de trabalho, a parte do “ver”. À tarde,a profundamos a parte do “Julgar”. E tem sido uma experiência muito rica“.
No Conselho, Ir. Irene também é representante da CLAR, Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas.
Conselho Pré-sinodal
Papa Francisco estabeleceu que a assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-amazônia, programada para outubro de 2019, terá como tema: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”.
Além de Ir. Irene, outros membros membros do Conselho pré-sinodal foram nomeados pelo Pontífice e estão colaborando com a Secretaria Geral na preparação dessa assembleia:
- Cardeal Cláudio HUMMES, O.F.M., arcebispo emérito de São Paulo (Brasil), presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).
- Cardeal Peter Kodwo Appiah TURKSON, Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
- Cardeal Carlos AGUIAR RETES, Arcebispo de Cidade do México (México).
- Dom Pedro Ricardo BARRETO JIMENO, S.I., Arcebispo de Huancayo (Peru), vice-presidente da REPAM.
- Dom Paul Richard GALLAGHER, Secretário das Relações com os Estados.
- Dom Edmundo Ponciano VALENZUELA MELLID, Arcebispo de Assunção (Paraguai).
- Dom Roque PALOSCHI, Arcebispo de Porto Velho, Rondônia (Brasil).
- Dom Oscar Vicente OJEA, Bispo de San Isidro, Presidente da Conferência Episcopal Argentina.
- Dom Neri José TONDELLO, Bispo de Juína, Mato Grosso (Brasil).
- Dom Karel Martinus CHOENNIE, Bispo de Paramaribo (Suriname).
- Dom Erwin KRÄUTLER, C.PP.S., Prelado emérito do Xingu, Pará (Brasil).
- Dom José Ángel DIVASSÓN CILVETI, S.D.B., vigário apostólico emérito de Puerto Ayacucho (Venezuela).
- Dom Rafael COB GARCÍA, vigário apostólico de Puyo (Equador).
- Dom Eugenio COTER, vigário apostólico de Pando (Bolívia).
- Dom Joaquín Humberto PINZÓN GÜIZA, I.M.C., vigário apostólico de Puerto Leguízamo-Solano (Colômbia).
- Dom David MARTÍNEZ DE AGUIRRE GUINEA, O.P., vigário apostólico de Puerto Maldonado (Peru).
- Irmã María Irene LOPES DOS SANTOS, S.C.M.S.T.B.G., Delegada da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR).
- Sr. Mauricio LÓPEZ, secretário executivo da REPAM (Equador). Fonte: http://ffb.org.br
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Antes de qualquer outro assunto, tratemos da estrutura em que repousa a devoção do S. Escapulário. Tem ela um objeto material. É aquilo que cai diretamente sob os nossos sentidos, i. é. o Escapulário, que deve se usado constantemente até à morte, como parte principal do hábito carmelitano. Na sua forma reduzida (o bentinho) para o uso cômodo dos fiéis, vem este constituir uma agregação à Ordem mediante a imposição litúrgica que dele se faz.
Esta parcela do hábito carmelitano (digno de todo o respeito por ser o hábito da Ordem por excelência) considerada em si mesma, como simples pedacinho de lã bem pouca coisa significa. No entretanto, pela devoção que ele rememora, o seu significado é bem mais profundo, por isso que constitui a sua verdadeira natureza: por parte do homem que o veste, é uma perfeita consagração a Maria Santíssima de modo permanente, total e filial; por parte da Mãe de Deus indica proteção que se concretiza nas duas grandes promessas feitas por Nossa Senhora a quem usasse devotamente o S. Escapulário: a perseverança final e a liberação do Purgatório, especialmente no primeiro Sábado depois da morte.
Podemos, portanto afirmar, que o Escapulário é o hábito de uma Ordem eminentemente mariana e que evoca de um modo concreto pelas promessas que encerra, as prerrogativas da verdadeira devoção a Nossa Senhora.
Universalmente reconhecido como símbolo e meio de consagração, é o Escapulário do Carmo um sinal de aliança pelo qual Maria Santíssima, unindo-nos a Si, nos tem como filhos e irmãos, assegurando-nos a Sua maternal proteção em troca da nossa fidelidade ao Seu amor de predileção.
ORIGEM CANÔNICA DA DEVOÇÃO
Após estas explicações gerais, apliquemo-nos a estudar algumas questões de ordem particular. Na origem canônica do Escapulário, na sua forma reduzida para o fácil uso dos fiéis, encontramos o próprio hábito da Ordem, do qual o Escapulário é parte principal e um como distintivo. Daqui se conclui, que o primeiro efeito da devoção e o fundamento dos seu privilégios consiste numa incorporação ou agregação à Ordem; incorporação essa que pode admitir vários graus mais ou menos íntimos, para usufruir os seus valores e bens espirituais.
Esta doutrina, aliás tem muita afinidade com o Corpo Místico de Cristo na sua Igreja. As Ordens religiosas nesse Corpo Místico representam vivamente o espírito de santidade expresso nos três conselhos evangélicos, pobreza, castidade e obediência, que encarna o ideal da perfeição pela profissão religiosa. Por isso, os que emitem os votos religiosos exercem a sua influência nos membros da Igreja com o holocausto da vida, plenificando segundo a doutrina de São Paulo, aquilo que faltava à Paixão de Cristo. Finalmente, a união da caridade e da graça, que participamos como fruto da Comunhão dos Santos especialmente quando estamos em graça, participamo-la muito mais largamente entre os religiosos e os fiéis.
Esta mística concepção encontramo-la também na devoção do Escapulário e a teremos certamente na mais alta consideração, quando teologicamente esclarecemos o seu verdadeiro e pleno sentido. O que melhor se compreenderá, quando compreendermos o Escapulário no seu verdadeiro espírito, i. é. no ideal da vida religiosa do Carmelo, da qual ele é a mais viva e palpitante expressão.
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NOTA: "Falsos, falsos e FALSOS!!!!! Não existem Escapulários de São Pio, São Francisco ou outros santos. O verdadeiro Escapulário é de Nossa Senhora do Carmo. Aliás, esta devoção é própria dos Carmelitas. Portanto, não se deixem enganar com mais esta NOVIDADE da religião consumista e mágica". Frei Petrônio de Miranda, Carmelita.
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Frei Martinho Cortez, O. Carm.
Convento do Carmo de Santos, São Paulo.
João da Cruz foi chamado e simplesmente mergulhou no Mistério! Com 49 anos era já um santo, alguém que optou por Deus e, dando o melhor de si para acolher e colaborar, foi transformado pelo Amor eterno. Quando iniciei a leitura página a página de suas obras completas, na primeira parada, com o fim de mastigar bem e assimilar mais proveitosamente seus conceitos, aprofundamentos e arroubos — me ficou a forte impressão de que aquele homem não havia titubeado: descobriu a Fonte e quis ver-lhe o fundo, “que bem sei eu a fonte que mana e corre, mesmo de noite” (Poesias, “Sei bem que a fonte”).
João da Cruz foi cantado no disco “Solidão Sonora”, da Irmã Míria Kolling. Na noite sossegada, as criaturas todas se afinam de tal modo entre si, que a alma capta essa sintonia como música elevadíssima, música “calada”, em que se degusta a delícia da música e o divino sabor do silêncio: experiência de solidão sonora (Cântico XV, 25-27)... O disco foi rapidamente assimilado por frades jovens e seminaristas. Agradáveis melodias freqüentemente usadas em encontros. Quando alguém puxa “Caminho é noite escura, mas, ó feliz ventura, sair, indo à procura do Amor do meu Amado!” — é aquela onda maravilhosa de som e fé a ecoar pelos recantos de onde se celebra!
Carmelita professo desde os 16 anos, eu mal havia lido, em português, a “História de uma vida”, de Teresa de Lisieux e “Fundações”, de Teresa de Ahumada, também em português. Daquele me ficou a impressão de que era como as “pílulas do Doutor Ross”[1]: por fora, cor-de-rosa e doces; por dentro, amargas como fel. Da leitura de Teresa brotou em mim a admiração por uma contemplativa de incrível realismo e persistência. De João de Yepes, quase nada, somente algumas poesias que passaram por minhas defesas, dada a minha queda pelo exercício poético.
Carmelita sempre, passei pelos vinte cinco anos de vida consagrada em quase nulo nível de conhecimento dos grandes representantes da santidade e da literatura do Carmelo, que, em termos, nem nossos são. Antes dos cinqüenta anos, porém, num dia desses, comuns por absoluta igualdade com os dias comuns, um dos nossos jovens estudantes, me sai com esta frase: “Na tarde de nossa vida, seremos examinados no amor”, dizendo que gostava imensamente dela. A partir de minha ignorância, observei-lhe que a frase entrou em mim como se fosse um raio de revelação e perguntei-lhe: de quem é? “De são João da Cruz”, respondeu-me, “Ditos de Luz e Amor”. Nem sabia que João da Cruz escrevera os tais ditos. A vergonha me levou imediatamente à biblioteca conventual em busca das obras completas do santo, e achei a frase: “Ditos”, nº 58, na edição consultada. Encantado, cresceu meu interesse por João da Cruz e resolvi ler seus escritos. Tenho lido muitíssimo pouco, na verdade, mas até hoje agradeço àquele frei jovem. E bendigo todos os formadores que, em anos mais recentes, levaram seus pupilos a ler e conhecer melhor os nossos místicos: um deles me fez preferir o “antes tarde” ao “nunca”!
Lembro-me do Frei Cláudio van Balen, em Belo Horizonte, com o grupo do CEPA[2], lendo, estudando e comentando a poesia “Noite Escura”, com uma profundidade que iam buscar à vida e à mente. Lembro-me do Frei Tinus van Balen, em Mogi das Cruzes, passando-me a riqueza do que João da Cruz ensina sobre o Silêncio que dá origem à Palavra. Lembro-me da carmelita Lacyr Schettino, que, em seus arroubos de poeta, produziu traduções competentes dos poemas joaninos. Lembro-me de uma tarde de teatro, em Diamantina, com que os terceiros carmelitas celebraram com arte o sofrimento causado a João pelas duas Ordens. A essa altura eu já havia lido um pouquinho mais das artes poéticas e doutrinárias do pequeno grande homem, gigante da vida espiritual, em quem de certa forma se apoiava Madre Teresa, mesmo que uma vez o tenha chamado jocosamente de meio frade.
Lembro-me da Irmã Aurora, colega de Cetesp[3], por ocasião de uma visita sua a Itu, onde, após alguns anos, se recomeçava a caminhada seminarística da Província. Conversávamos sobre as peripécias da formação e eu reclamava de não sentir o afeto dos seminaristas. Com a franqueza que a caracteriza, mas com a delicadeza de amiga querida, deu-me esta sugestão: — “Martinho, se você acha que não é amado, faça-se amar”. Fiquei embatucado por algum tempo com a aparente rudeza da frase. Instruído, porém, por um frade jovem ainda na Filosofia, encontrei praticamente a mesma sugestão em João da Cruz (Carta a Madre Maria da Encarnação, Segóvia, 1591): “Onde não existe amor, coloque amor e encontrará amor”. Sem ser carmelita, a Irmã pareceu mais por dentro do Carmelo e de seus autores místicos do que o membro da família!
Dali em diante, fui descobrindo a razão de João da Cruz ter escrito à Irmã Maria sobre a importância extrema de amar e de inventar cotidianamente o amor, se quisermos viver de amor. Quem espera por amor e nada faz para que exista, esqueceu-se de que Deus é pura iniciativa e fonte de amor. O imobilismo espiritual não é próprio de quem vive do Senhor!
Sou entusiasta de Gustavo Gutierrez desde que me envolvi com sua linha de reflexão teológica, mesmo que não tenha me capacitado como praticante dela. Ao ler e meditar seu livro “Beber no Próprio Poço”, numa das primeiras edições em português, topei com algumas páginas que me encheram de orgulho. Estão no capítulo II, parte III, onde se fala do povo em busca de Deus, de sua espiritualidade e do modo de ser cristão na realidade latino-americana de então. Trata-se, à época, da “noite escura da injustiça” que recobria a América Latina, um autêntico caminho no deserto, cuja travessia se consuma na forma de uma progressão de três noites ou três partes da noite até à união com Deus. A bela interpretação de Gustavo, com base na prosa e nos versos do santo, descreve como o místico carmelita poderia ajudar a caminhada de libertação, até que se anunciasse a aurora de um novo dia, quando o caminhante repousaria com o rosto reclinado no peito do Amado.
Continuo a dever em matéria de São João da Cruz. De vez em quando continuo a usufruir do dito de luz e amor sobre o julgamento com base no amor. Sinto-me suavemente impelido a meditar sobre a lei que alguém um dia disse que é a mais profunda da vida: a Lei do Amor. Amar o Eu como medida ou critério para um exercitar-se mais adequado no amor. Amar o Homem e a Mulher, irmãos e irmãs, como uma comprovação de que o Último amor, que é também o Primeiro, escolheu você para expandir a verdade vital dessa lei! Assim se preparam o homem e a mulher para enfrentar o julgamento do próprio Amor. Este não precisa de outras leis para instruir a sentença. Oferecidas à consciência, passaram as leis por diversos filtros de circunstâncias, e se mostram agora no teimoso pisca-pisca da própria conclusão final do indivíduo. Se o amor é a lei mais profunda da vida, então o coração sabe qual é a conclusão, pois “o coração tem razões, que a própria razão desconhece” (Pascal). A sentença a partir do amor, na boca do Amor eterno, deve possuir a delicadeza de uma brisa e a força avassaladora de uma tsunâmi — definitiva.
Tudo por causa do meio frade que ajudou Madre Teresa de Ávila a realizar o que lhe ditava a consciência: a reforma de uma espiritualidade com admirável potencial de serviço à sociedade; uma espiritualidade antiga necessária aos tempos modernos de então e à modernidade de sempre. João da Cruz, o pequeno espanhol decidido, um dos maiores poetas da língua espanhola e da literatura mística, foi chamado e não titubeou: deixou que o Espírito o transformasse em nada a fim de que o Senhor criasse tudo que um santo é. Elevou-se assim ao cume do monte Carmelo. Atravessou assim a noite escura da aventura humana que ousou enfrentar o desafio de Deus. No fim de sua história pessoal, soltou aos quatro ventos da vida o cântico espiritual sobre a chama viva do Amor que o consumou sem consumir.
[1] Remédio antigo.
[2] Grupo de espiritualidade de índole carmelita (paróquia do Carmo – BH, MG)
[3] Curso de atualização para formadores, Rio de Janeiro.
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Por Fernando Geronazzo
A vivência do Ano do Laicato na Igreja do Brasil foi o tema do segundo Metting Point realizado durante a 56ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na manhã desta sexta-feira, 13, no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, em Aparecida (SP).
Para tratar do assunto com os jornalistas foram convidados dom Severino Clasen, bispo de Caçador (SC) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato e Marilza Schuina, presidente do Conselho Nacional do Laicato no Brasil (CNLB).
Dom Severino afirmou que é importante destacar a missão dos cristãos leigos como sujeitos na evangelização, na Igreja e na sociedade. “Vivemos um momento em que o protagonismo do laicato é convocado a testemunhar o Evangelho de jesus Cristo e até redescobrir quem é Jesus de Nazaré, este que nós queremos seguir e em quem depositamos nossa fé e esperança”, afirmou o Bispo.
Dom Severino chamou a atenção para três documentos da CNBB que ajudam a aprofundar a temática do Ano do Laicato: O Documento 100, “Comunidade de Comunidades – uma nova paróquia”; o Documento 105, “Cristãos leigos e leigas – sal da terra e luz do mundo na Igreja e na Sociedade”; e o Documento 107, “Iniciação à vida cristã – itinerário para formar discípulos missionários”.
Documento 105 – Tratando especialmente do Documento 105, o Bispo explicou que o seu texto nasceu a partir das decisões e inspirações do Concílio Vaticano II, sobretudo na Constituição Dogmática Lumen Gentium. “Os leigos não só pertencem à Igreja, mas são Igreja”, ressaltou dom Severino, que salientou, ainda, que, a partir do Batismo, não existem categorias superior e inferior de Cristãos, mas todos são “Igreja povo de Deus”.
De acordo com dom Severino, o Ano do Laicato conseguiu reafirmar a consciência da missão e identidade dos leigos. “Ao percorrer o Brasil, percebemos que os cristãos leigos e leigas aderiram ao Ano Nacional do Laicato por meio de tantas ações a programações que acontecem em todo o País”, destacou o Bispo.
Ao citar o lema “sal da terra e luz do mundo”, Dom Severino convidou para a reflexão: “Que gosto nós estamos dando à vida, que gosto o mundo pode também extrair de nós, cristãos, para sermos pessoas boas? Também é preciso brilhar, iluminar, irradiar. Mas a luz não é nossa. Cristo é a luz. Quanto mais estivermos ligados a ele, mais teremos brilho que tem que ser espalhado pelo mundo”.
Marilza ressaltou que “o protagonismo dos cristãos leigos é contribuir para que a unidade e a comunhão seja vivenciada na sua plenitude em nossa Igreja, povo de Deus”.
“Que possamos aprofundar a identidade, vocação, espiritualidade e missão dos cristãos leigos e leigas. Que toda a Igreja realmente reconheça e confirme a vocação dos leigos como sujeito eclesial”, acrescentou a Presidente do CNLB.
Dentre as atividades programadas para a celebração do Ano do Laicato, estão sendo programados 16 seminários em diversos regionais da CNBB sobre temas relacionados à atuação dos leigos na vida eclesial e âmbitos da sociedade, como na política, educação, cultura, trabalho e família.
Outra atividade prevista é a Semana Missionária Igreja em Saída, de 22 a 29 de julho. “A Semana Missionária quer ser um grande retiro popular para que as comunidades se encontrem não só para círculos bíblicos, oração, mas onde também possamos atingir os diversos espaços onde o leigo e a leiga atuam e trabalham”, explicou Marilza, acrescentando que esses eventos não aconteçam apenas nas igrejas ou nas casas, mas nos ambientes de atuação dos leigos, como os locais de trabalho.
Na conclusão do Ano do Laicato, entre dos dias 22 e 25 de novembro, acontecerá a Assembleia Nacional dos Organismos do Povo de Deus, em Aparecida. Além da CNBB e do CNLB, entidades como a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), a Comissão Nacional dos Diáconos (CND), a Comissão Nacional de Presbíteros (CNP) e a Conferência Nacional dos Institutos Seculares estão na organização do evento que tratará a temática da sinodalidade e o protagonismo dos leigos na Igreja. No encerramento dessa Assembleia, acontecerá a Romaria do Laicato.
Por fim, Marilza reforçou que o Ano do Laicato deve ser um “impulsionador para que toda a Igreja no Brasil continue a pensar e refletir a vocação, identidade, espiritualidade e missão própria dos leigos”.
O próximo Meeting Point será na segunda-feira, 16, às 9h, com Dom Pedro José Conti, bispo de Macapá (AP), e Dom Ricardo Hoepers, bispo de Rio Grande (RS), sobre a experiência da Igreja local nos extremos do país. O encontro será transmitido pelo portal A12.com. Fonte: http://www.cnbb.org.br
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Texto carmelita mais característico: a nuvem, a forma de mão de homem, do mar para o céu. (1 Rs 18, 42-45). A identificação “nuvem ß> Maria” (cf tbm Is 19, 1 + 45, 8) aparece no Oriente e no Ocidente nos séculos IV e V.
Testemunho precioso, porque se aproxima bastante do que se fala longamente no “De Institutione”: Maria é a criatura imaculada e imune do pecado. Fala ainda da virgindade como elemento importante na formação carmelita.
Particular importância tem a locução “Mare amaro”, de base bíblica: “mare” = realidade de forças desconhecidas e negativas. semelhante interpretação: Maria = gota de mar ou mar amargo. Há em Maria esplêndido equilíbrio entre a sua eleição por Deus, que lhe deu privilegiados dotes, e a pertença à humanidade pecadora (“Mare amaro”).
A tradição espiritual da Ordem viu nessa figuração da Mãe de Deus sua imaculada conceição, verdade de fé diretamente dependente da Encarnação. Viu, também, a figuração da Assunção (cf Miguel Aiguani, autor carmelita, † 1400).
Primeira conclusão: a presença mútua de dois fatores (pertença à nossa humanidade + graça especial de Deus) na única imagem da nuvenzinha. Imagem profunda que reafirma a pureza de Maria e abre a reflexão sobre o testemunho e a vocação das carmelitas.
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Pe. Jaldemir Vitório SJ
Introdução
A cena de Elias, no monte Horeb, parece destoar do conjunto da tradição em torno do profeta. Teve coragem de profetizar, contrariando a casa real (1Rs 17,1-17). No estrangeiro, mostrou-se solidário com uma pobre viúva, à beira da morte por inanição (1Rs 17,8-24). A cena no monte Carmelo descreve-o com uma impavidez invejável, a ponto de, sozinho, desafiar os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e, no fim, passar todos ao fio da espada (1Rs 18,20-46). O injustiçado Nabot encontrou em Elias um defensor destemido, cujas palavras desmascararam a má conduta do rei e de sua mulher e anunciaram a terrível punição pela impiedade (1Rs 21,1-29). Falou duro contra o rei doente que, ao invés de confiar em Javé, preferiu consultar Beelzebub (2Rs 1,1-17). A carreira gloriosa de Elias foi concluída com o arrebatamento para o céu, levado num “carro de fogo e cavalos de fogo” (2Rs 2,1-28).
1Rs 19,1-21 apresenta o profeta de forma muito diferente. “Desespero profundo, expressão de fracasso, e rejeição do ofício profético são os temas preponderantes” (COGAN, 2001, p. 456). Tem-se a impressão de terem fracassado os esforços para fazer frente à disseminação da idolatria em Israel. A fuga desponta como a única saída. É como se estivesse fugindo da luta. Javé, porém, fá-lo tomar o caminho de volta, para o “lugar” de onde não deveria ter saído.
Este artigo pretende fazer uma leitura de 1Rs 19, levando em consideração o conjunto das tradições em torno do profeta Elias, sem se deter nas várias questões de crítica textual, de unidade, de relação com o capítulo precedente, de historicidade, de significado de certas palavras e expressões, evidentes no texto. O sentido do conjunto é claro, apesar dos entraves pontuais no texto hebraico[1]. No correr da leitura, será explicitado o que, em análise narrativa, é chamado de “ação transformadora”. Ou seja, o caminho percorrido pela ação desde a situação inicial até o seu desfecho (MARGUERAT-BOURQUIN, 2009, p. 59). O percurso da leitura mostrará como o profeta Elias, optando por fugir, foi para o lugar errado. Javé fá-lo voltar para o lugar onde deveria estar, pois, para um profeta verdadeiro, a fuga jamais será solução. Para ele, vale o que diz uma música brasileira bem conhecida: “Nada temer, senão o correr da luta!” O lugar do profeta é, sempre, o lugar do conflito. A fuga, mesmo para um lugar sacratíssimo – “o monte de Deus” – leva-lo-á ao lugar equivocado. É aí que ouvirá a ordem peremptória de Javé: “Vai e volta por teu caminho!” (v. 15a). Em outras palavras: “Volta para o teu lugar”.
O profeta Elias na mira da rainha Jezabel (vv. 1-2)
A narração inicia-se aludindo ao conflito do profeta com a casa real de Israel. O rei Acab informa à rainha Jezabel a ação violenta de Elias contra os profetas de Baal, como havia eliminado todos eles, matando-os à espada (1Rs 19,1; cf. 18,40).
Jezabel era estrangeira, filha do rei dos sidônios. Deve ter vindo para Israel no contexto da aliança entre Omri e Etbaal, seu pai. Omri deu-a em casamento a seu filho Acab (1Rs 16,31a). Era costume dar uma filha para o rei com quem se estabelecia aliança, certamente, para estreitar os laços entre os contratantes[2]. O casamento de Acab com Jezabel estreitou os laços entre Israel e Sidon.
Jezabel era devota adoradora de seu deus – Baal – e, por todos os meios, tentou implantar sua religião no reino de Israel. Acab, que deveria ser adorador de Javé, era de personalidade pusilânime. E se deixou manipular pela esposa, incapaz de se impor. Antes, “deu u’a mãozinha” a Jezabel para propagar o culto baalista. O baalismo em Israel teve grande sucesso, durante seu reinado. Por isto se diz dele, logo na primeira referência que se lhe faz na Obra Historiográfica Deuteronomista (Js-2Rs), que “foi prestar culto a Baal, adorando-o. Pôs um altar de Baal no templo de Baal que tinha construído em Samaria, ergueu um poste idolátrico e cometeu ainda outros pecados, a ponto de irritar o Senhor, Deus de Israel, mais do que todos os reis de Israel que o antecederam” (1Rs 16,31b-33). Os adoradores de Javé vivem uma situação difícil. Jezabel mandara eliminar os profetas de Javé. Um grupo sobreviveu, protegido por Obadias, que “os escondera em grupos de cinquenta em duas cavernas, alimentando-os com pão e água” (1Rs 18,4.13). Já “os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Asera” gozavam da proteção real, comendo à mesa de Jezabel (1Rs 18,19).
O profeta Elias desponta como defensor impávido da fé em Javé, disposto a tudo. No confronto com os profetas de Baal, no Monte Carmelo, sai vencedor. E manda prender os profetas de Baal, sem deixar escapar nenhum; “fê-los descer à torrente do Qishon, onde os degolou” (1Rs 18,40). Esta notícia chega a Jezabel por intermédio de Acab. A rainha é informada que Elias “tinha passado ao fio da espada todos os profetas de Baal” (1Rs 19,1). Desencadeia-se, então, contra ele uma cólera sem tamanho. A rainha toma a decisão de tirar-lhe a vida, mandando avisar-lhe por um mensageiro: “Os deuses me cumulem de castigos, se amanhã, a esta hora, eu não tiver feito contigo o mesmo que fizeste com a vida desses profetas” (1Rs 19,2). Os dias do profeta estavam contados. A rainha, de certa forma, dá-lhe tempo para fugir, pois não manda prendê-lo, imediatamente, e, sim, envia um mensageiro para comunicar-lhe sua intenção. É uma forma de dizer-lhe para “dar o fora”[3]. O profeta dispunha de um dia – “amanhã a esta hora” (v. 2) – para tomar as providências.
*Publicado em Estudos Bíblicos nº 107 (2010) 35-49
[1] Para ROBINSON (1991, p. 533), apesar de vários episódios terem circulado, originalmente, de forma independente, e de os sinais de múltiplas autorias e redações serem claros, “a narrativa, como um todo, foi, cuidadosamente, organizada temática e estruturalmente”. Um elenco dos problemas presentes em 1Rs 19 está nas pp. 514-516.
[2] Explica-se, assim, o casamento de Salomão com a filha do Faraó egípcio e com muitíssimas outras mulheres (1Rs 11,1-3).
[3] “Seria isto, realmente, uma ‘confissão de impotência’ por parte da rainha, como sugeriu Skinner? Com o pano de fundo do Carmelo, poderia ter sentido que não mais estava livre para seguir seu caminho, como aconteceu quando matou, impunemente, os profetas” (COGAN, 2001, p. 451).
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O oratório deve ser construído no meio das celas (14)
Por dois motivos o oratório tem que ver algo com a Ressurreição. Em primeiro lugar porque nele deve ser celebrada a Eucaristia que é como é sabido o memorial da Ressurreição de Jesus.
O segundo motivo provém do fato de que o primeiro oratório era dedicado a Maria, uma das primeiras testemunhas da Ressurreição de Jesus que, no contexto das festas a Ela dedicadas, era vista pelos antigos carmelitas como penhor escatológico e promessa duma nova vida após a morte. (Veja a oficina: Nossa Senhora na Ressurreição)
Aprofundando o primeiro motivo podemos dizer que na visão da Regra o oratório era destinado à celebração em comum da Eucaristia sendo ao mesmo tempo o lugar onde os irmãos se reuniam todos os dias de manhã cedo (14).
A respeito disto o Carmelita Kees Waaijman escreve no seu livro O Espaço Místico do Carmelo:
"Os antigos monges do deserto celebravam a Eucaristia uma vez por semana. No século XIII era diferente. A maioria das comunidades religiosas juntava-se todos os dias para a Eucaristia. A reunião diária dá uma estrutura rítmica à vida. O facto de se juntarem diariamente, de manhã cedo, ao crepúsculo, dá ao dia um ritmo básico. O nascer do sol que conquista a noite deve ter sido intuitivamente entendido como sinal do Ressuscitado”
O encontro dos irmãos tinha uma dimensão litúrgica. O facto de virem todos juntos para a Eucaristia lembra a Ressurreição. A Eucaristia, afinal de contas, começa lá onde o Senhor nos una num só redil. Ele convida-nos a escutar a sua palavra para que ela nos toque, forme o desejo no nosso coração e nos faça procurar a Sua presença. Ele convida-nos a tomar o seu corpo e sangue, para nos lembrarmos d'Ele e nos identificarmos com Ele, para que entremos na sua morte e sejamos encontrados pelo próprio Deus.
A Eucaristia radicaliza o acto de sair de nós próprios: não somos nós quem vimos: mas somos conduzidos, conduzidos para a vastidão do Mundo e para a profundeza da Morte para sermos encontrados, para sermos unidos.
Esta é a perspectiva mística do facto de se reunir para a celebração da Eucaristia. Este movimento místico está lindamente representado através das palavras ‘de manhã cedo’, palavras que evocam a marcha silenciosa de Maria Madalena até ao túmulo: ‘No primeiro dia da semana, ainda era escuro, Maria de Mágdala foi ao túmulo de manhã cedo...' (João 20:1). De manhã cedo os Carmelitas reúnem-se no oratório, no CENTRO (das celas) por ninguém ocupado. Como a noiva do Cântico dos Cânticos, também eles, enquanto ainda é noite, procuram Aquele a quem as suas almas amam.
À procura do amor através da escuridão da noite segue-se a experiência da Páscoa na escuta da voz suave: 'Maria' (João 20:16), o querido nome pronunciado por aquele que é amado pela alma. Segue-se a resposta não menos terna: 'Rabbuni' (João 20:16). Esta é a Páscoa do amor, a profundidade mística da Eucaristia. Aqui está o coração do Carmelo" (Kees Waaijman, De mystieke ruimte van de Karmel, 101).
É impressionante que Kees Waaijman dando um comentário sobre a Regra, acaba por chegar à Ressurreição que durante séculos era comemorada diariamente na liturgia dos Carmelitas. Quase se poderia dizer que a Ressurreição de Jesus é inerente à Regra e integrada nela e que a união com Christus Ressurgens, com Cristo Ressurgindo, se encontra explicitada na antiga liturgia.
*A REGRA E A RESSURREIÇÃO. INTERCAB. 23 A 31 DE JULHO DE 2005- RIO DE JANEIRO.
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“Regra e Ressurreição”, um assunto intrigante que pode ser analisada de várias maneiras. Neste momento, porém, não vamos abordar o assunto do ponto de vista científica ou histórica mas vamos à procura de elementos que esclarecem se a espiritualidade da Regra tem que ver algo com a Ressurreição de Jesus e com a Liturgia ressurreccional da Ordem.
Como era de esperar, na Regra de Santo Alberto não há regras que prescrevem pormenorizadamente a maneira como devemos celebrar a nossa liturgia nem há alusões concretas à Ressurreição de Jesus.
Mesmo assim, há certas passagens que falam da oração litúrgica (11, 14), da frequência da mesma (11, 14), do Ano Litúrgico (11, 16), do lugar onde a oração litúrgica se deve realizar (14). Há outros aspectos na Regra que se referem, por exemplo, ao Domingo como dia semanal da Comemoração da Ressurreição em que os irmãos devem tratar da observância da vida comum e do bem espiritual das pessoas (15).
Como a Ressurreição é por definição escatológica, vamos prestar também atenção aos vários aspectos escatológicos que se encontram espalhados na Regra.
1- Referências litúrgicas
A recitação dos salmos ou um número equivalente de Pai Nossos (11).
Na Regra Primitiva não havia prescrições que obrigassem os irmãos a recitar salmos ou Pai Nossos em conjunto. É mais provável que Santo Alberto prescreveu a recitação dos Salmos in deputatis cellulis ou seja privadamente e na solidão. Inocêncio IV prescreve a recitação em comum das horas canônicas para todos os irmãos (clérigos ou leigos) exceptuando-se aqueles que não sabiam ler ou que não eram capazes de rezar as horas canônicas. São esses que deviam rezar o número prescrito de Pai Nossos. Nota-se aqui a transição da oração privada na solidão para a oração litúrgica em comum, ou seja o Ofício Divino. E isso apenas uns 40 anos depois da data em que Santo Alberto deu a Regra.
2-A recitação dos salmos e das horas canônicas deve ser feita de acordo com os legítimos costumes da Igreja. (11)
Antigamente pensavam que “os legítimos costumes da Igreja” estavam relatados aos costumes da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém e que com estas palavras o Rito do Santo Sepulto era imposto à Ordem. No entanto, é mais provável que a Regra se referia aqui aos legítimos costumes da Igreja Universal.
*A REGRA E A RESSURREIÇÃO. INTERCAB. 23 A 31 DE JULHO DE 2005- RIO DE JANEIRO.
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O objetivo da vida cristã é que a vontade de Deus se realize em cada um de nós e em nosso mundo. Para que isso aconteça, precisamos ser transformados. De fato, toda a Criação, que espera ansiosamente pela revelação dos filhos de Deus, também deve ser transformada.
Nossa transformação individual acontece em vários níveis e espaços. Os primeiros carmelitas começaram como eremitas, mas num certo ponto, reuniram-se como uma comunidade e, mais tarde, como um grupo. Também buscaram reconhecimento da Igreja através da “formula vitae” dada por Alberto, patriarca de Jerusalém. A vida eremítica sempre permaneceu como uma possível expressão do ideal carmelitano. No início, ela exerceu uma profunda influência na espiritualidade carmelitana através dos séculos.
A Cela
A cela é um conceito importante na Regra e, mais tarde, nos escritos carmelitanos. Ela representa o interior. Nela estamos diante de nós mesmos para lutar contra o inimigo. Para essa batalha precisamos da proteção da armadura de Deus. A Regra tem uma dinâmica de passar da cela individual para a capela no centro e depois retornar à cela. Ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Eucaristia juntos em comunidade, nos fortalece para retornarmos à luta na cela. Saímos de nossas batalhas contra o falso eu no silêncio da cela com um coração purificado para o serviço da comunidade.
A solidão e o silêncio são armas essenciais na batalha contra o falso eu e, portanto, no processo de purificação. Por estarmos longe das distrações, ficamos diante de nós mesmos como realmente somos. Começamos a ver através da fachada que passamos muitos anos construindo para proteger nossos frágeis egos. Começamos a ter consciência das grandes e pequenas infidelidades em nossas vidas e da grande inconsistência entre os ideais que professamos e a realidade em que vivemos. A cela é claramente um conceito espiritual e não pode ser equiparada ao espaço físico em que vivemos. Em nossos quartos, podemos nos rodear de distrações externas de todo tipo. A cela é o lugar do encontro com Deus nas profundezas de nosso ser. É possível que nosso quarto não seja um lugar para a oração.
Somente quando começamos a deixar as distrações externas, nos tornamos conscientes do ruído constante que está dentro de nós. Quando começamos a nos aproximar do aposento mais profundo do castelo, parece que o inimigo se torna mais frenético em nos manter afastado. Temos todos os tipos de distrações em nossas mentes. Ao tentarmos rezar, geralmente barramos a maior parte das distrações externas, mas então tomamos consciência de nosso ruído interno. Às vezes, nossa oração pode parecer uma batalha constante contra as distrações. Outras vezes, nem reconhecemos que estamos seguindo uma distração em vez de permanecer com Deus. Podemos pensar que um assunto sobre o qual estamos meditando é muito santo, mas ele pode ser um modo sutil de reforçar nosso próprio ego. De acordo com São João da Cruz, a linguagem que Deus ouve melhor é o amor silencioso. Teresa disse que o fim da oração não é pensar muito, mas amar muito. É realmente difícil alcançar o silêncio, mas a tentativa é válida porque é somente no silêncio que podemos ouvir a Palavra proferida por Deus num silêncio eterno.
Nossas Constituições nos dizem que a experiência transformadora do irresistível amor de Deus nos esvazia de nossos modos limitados e imperfeitos de pensar, amar e agir, transformando-os em modos divinos (Const. 17). Toda nossa vida e, especialmente nossa oração, deve ser uma preparação para esse encontro transformador com Deus. É importante cultivar o silêncio interior e exterior, para que possamos ouvir verdadeiramente a Palavra de Deus nas profundezas de nosso ser. A voz do Espírito é muito gentil e precisamos ser muitos silenciosos para ouvi-la.
A cela individual é a primeira arena do processo de transformação. Contudo, os eremitas no Monte Carmelo se reuniram em comunidade. Nosso título nos chama de Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. A fraternidade é uma parte essencial do carisma carmelitano. Não vamos sozinhos ao encontro de Deus. A fraternidade é o local do teste de nossa espiritualidade. É muito bom falar belamente sobre a oração e a vida espiritual, mas a menos que seja vivida na prática, ela não passa de muito ar quente. O modo como realmente nos tratamos uns aos outros é a medida de nosso relacionamento com Deus. Como você pode amar o Deus que não vê se não ama o irmão a quem vê? A fraternidade é também o ambiente no qual crescemos. Através de nossos relacionamentos com os outros membros de nossa comunidade, algumas de nossas asperezas serão polidas.
Comunidade
A comunidade é um sinal maravilhoso de que o amor de Deus pode operar milagres nos corações dos seres humanos. Ela proclama a verdade do Evangelho e é uma parte integrante de nossa missão. Todos nós conhecemos a bela teoria da comunidade e o prazer que pode ser viver numa boa comunidade, mas também temos consciência dos obstáculos que encontramos na comunidade. Às vezes, não é fácil viver em comunidade. Ela é feita de seres humanos imperfeitos. Esperamos que todos estejam juntos na jornada espiritual e que possam apoiar uns aos outros para que alcancemos o objetivo para o qual fomos criados. Contudo, eles são seres humanos imperfeitos que buscam a felicidade de modos que nunca serão plenamente satisfeitos. De tempos em tempos, esses modos entram em conflito porque até que o processo de transformação alcance um certo nível de maturidade, estaremos buscando auto-estima e afeição, segurança e controle, que nem todos podemos ter e, portanto, experimentamos conflitos de personalidade.
Ao fazermos nossa profissão, nos comprometemos com um grupo de pessoas reais que são fundamentalmente boas, mas imperfeitas. Somos convidados a amar nosso próximo, que é um ser humano de carne e osso com sentimentos, que nem sempre reage como esperamos. É fácil amar outro ser humano na teoria, mas é mais difícil fazê-lo na prática. Talvez tenhamos que agradecer a Deus pelo sucesso que temos em comunidade. Os relacionamentos humanos não são todos fáceis. Também devemos agradecer a Deus porque os companheiros de nossa jornada são, na sua maioria, pessoas que tentam ao máximo viver o Evangelho como vêem, apesar de acharmos isso difícil de acreditar.
A celebração da Eucaristia e a leitura comunitária da Palavra de Deus são de grande ajuda para construir uma comunidade. A Eucaristia é a celebração da comunidade, mas também forma a comunidade e, por isso, merece uma preparação séria. Ela transforma indivíduos em comunidade e então nos envia a viver o Evangelho em nosso dia-a-dia. Infelizmente, a Eucaristia também pode ser um divisor dentro da comunidade se dermos muita atenção aos fatores externos e pouca atenção ao coração da questão.
Sair das celas individuais para a capela todo dia é um símbolo do constante esforço necessário para sair de si mesmo para encontrar os outros e fazer comunidade com eles (Ratio, 35). A fraternidade é um sinal profético de que é possível viver em comunhão apesar de termos que pagar o preço (Ratio, 36).
Acredito que uma das maiores dificuldades na vida comunitária é que cada membro busca coisas diferentes e nunca partilha suas expectativas. Cada um tem um modelo de vida religiosa e de Igreja que nunca questiona porque são parte dele e, portanto existem expectativas que foram construídas a respeito da vida de um(a) religioso(a). A necessidade da purificação profunda da noite escura torna-se clara quando tomamos consciência de como estão profundamente enraizadas as expectativas e os preconceitos que inconscientemente colhemos em nosso crescimento e em nossos primeiros anos como carmelitas.
O objetivo da jornada espiritual é que sejamos transformados em Deus. Nossas Constituições descrevem-na como uma mudança profunda no modo como pensamos, agimos e amamos. Nos afastamos de nossos modos humanos, que são limitados por natureza, para o modo divino. Simplificando, nossa vocação é que nos tornemos como Deus. Os Pais da Igreja falaram e escreveram muito sobre a divinização do ser humano. Toda perspectiva do ser humano é ser transformado. Esse processo é normalmente longo e lento, e talvez dificilmente será completado nesta vida. Estar na jornada espiritual é estar envolvido nesse processo de transformação. O relacionamento com outros seres humanos ajuda muito nesse processo de crescimento e de transformação porque aprendemos muito sobre nós mesmos se tivermos olhos para ver e ouvidos para ouvir.
Numa comunidade religiosa vivemos e partilhamos com pessoas com quem temos pouco em comum. O que devemos ter em comum são os valores fundamentais de seguir Cristo e a tradição carmelitana. No entanto, o modo como compreendemos isso nos vem através de nossos processos humanos que ainda não estão transformados. Logo teremos maneiras diferentes de compreender e de viver esses valores e nossa motivação será completamente pura. Viver em comunidade provoca algumas dificuldades porque meu falso eu entra em conflito com o falso eu dos outros. É muito fácil e errado culpar os outros membros da comunidade por todas as dificuldades de viver em comunidade ou presumir que todas as dificuldades são negativas. A maioria das dificuldades na vida comunitária tem um aspecto positivo ao me revelarem algo sobre mim mesmo, mas devo ser bem honesto para considerar que um problema de minha comunidade seja meu problema.
Existe um certo paralelo entre a vida religiosa e a vida matrimonial. Sabemos que se um casal não mantém um diálogo, pequenas coisas se tornarão problemas maiores ou o casal se separará. A mesma questão está em atividade numa comunidade religiosa. Podemos tentar evitar o problema pedindo uma transferência, mas existem alguns religiosos que viveram em diversas comunidades da Província e não estão felizes em lugar algum. Muitos nunca perguntam se o problema pode estar vindo deles!
Quando uma nova comunidade se forma, e isso acontece toda vez que um novo membro chega ou outro parte, seria muito útil se a comunidade partilhasse suas expectativas. Por exemplo, se um membro da comunidade espera ser capaz de partilhar seus sentimentos mais profundos com a comunidade e outro fica paralisado de constrangimento se alguém pergunta: “como vai você?”, haverá grande insatisfação nessa comunidade. Se a comunidade puder ao menos estar consciente das diferentes expectativas desde o princípio, ela aprenderá a não esperar muito ou a equilibrar as expectativas de acordo com as necessidades dos membros.
A disfunção na vida comunitária
Não tenho nenhuma pretensão de ser um psicólogo, mas o conceito de disfunção é muito comum hoje e pode ser muito útil na compreensão de alguns problemas na vida comunitária. Ninguém é perfeito e todos podemos causar problemas aos outros, mas existe uma situação realmente disfuncional numa comunidade quando a vida de toda a comunidade gira em torno de uma única pessoa. O caso clássico seria o de um alcoólatra na comunidade. Ninguém contesta o indivíduo sobre a bebida e não se enfrenta o problema. Podem existir outros casos onde um membro da comunidade tem um problema psicológico que domina a vida da comunidade. Nenhum encontro comunitário pode ser realizado porque os outros têm medo de como o indivíduo enfermo reagirá e tudo é feito em nome da paz. Nesse caso, toda a comunidade está enferma porque o problema de um indivíduo domina e estabelece a ordem do dia de toda a comunidade. Acima de tudo, cabe ao superior intervir em tal situação para ter certeza de que tal indivíduo possa obter a ajuda de que necessita. Se o irmão(irmã) não aceitar ajuda, ao menos não devemos permitir que ele domine a vida da comunidade.
Cada um de nós precisa se examinar no tocante à nossa própria vida em comunidade. Deus usará as pequenas idiossincrasias de nossos irmãos(irmãs) para nos purificar e usará nossas idiossincrasias para purificar nossos irmãos(irmãs). A convivência conosco é agradável? Somos egoístas e egotistas ou realmente tentamos viver uma vida fraterna? Estamos preparados para permitir que nossos irmãos(irmãs) desafiem e purifiquem nosso falso eu?
O encontro comunitário
O encontro comunitário é uma ferramenta essencial para o crescimento de um grupo de indivíduos numa comunidade. Às vezes, surgirão tensões nos encontros comunitários. Isso é muito natural e não algo que devemos temer. Se os encontros comunitários são realizados freqüentemente, de acordo com o que está estabelecido nas Constituições, isso dá aos membros da comunidade a oportunidade de manifestar seus ressentimentos. Isso diminui o nível de tensão na casa. Se os encontros comunitários não acontecem regularmente, não há foro no qual levantar as questões normais que emergem em toda comunidade. Na ausência de encontros comunitários regulares, a informação será transmitida por meio de discussões nos corredores. Isso também pode levar a apatia dentro da comunidade, o que não é saudável.
Os encontros comunitários não devem se limitar ao trabalho, mas deve existir foro no qual sejam discutidas questões espirituais. Tratar de questões espirituais amedronta muito mais os corações das pessoas, mais do que os encontros para tratar de trabalho. Por isso, em muitos lugares, a Regra e as Constituições são simplesmente ignoradas.
Empregar o método da Lectio Divina tem sido útil para os encontros comunitários sobre questões espirituais. A redescoberta desse antigo método de oração foi muito importante para toda a Igreja e também para a Ordem. Um passo da Lectio Divina é partilhar nossas idéias sobre um texto das Escrituras com os outros, mas este não é o objetivo. O objetivo da Lectio Divina é a contemplação, que é um relacionamento amadurecido com Deus, em Jesus Cristo, no qual nossos modos humanos limitados de pensar, amar e agir são transformados em modos divinos (Const. 17). A discussão de um texto das Escrituras e a tentativa de aplicá-lo na vida da comunidade pode ser muito útil, mas muito mais poderosa é partilharmos juntos a experiência do silêncio. Nessa partilha todos desejam a presença e a ação de Deus dentro da comunidade. A Lectio Divina pode ser muito útil nas comunidades, mas é importante não parar o processo na metade do caminho.
A Província
Não somos membros de uma comunidade isolada. Cada comunidade é parte de um grupo mais amplo, geralmente uma Província ou um Comissariado. Os superiores devem seguir a determinação do Geral e dos Capítulos Provinciais. Além disso, os superiores devem tomar certas decisões após o devido discernimento e consulta. É impossível agradar a todos. Temos o direito de ter uma opinião e de expressá-la claramente, mas uma vez que a decisão foi tomada, devemos acatá-la, mesmo que não concordemos inteiramente com ela.
O falso eu é muito sutil e podemos aceitar aparentemente uma decisão, mas tentar miná-la não cooperando plenamente. Também podemos minar a autoridade de um superior de diversas maneiras ao mesmo tempo em que apresentamos uma fachada inocente. A vida comunitária, no nível local ou provincial, revela o que está em nossos corações. Outras pessoas perceberão quem somos. Se nós perceberemos também depende do nível de autoconhecimento, que é fundamental para a jornada espiritual.
A Ordem e a Igreja
Cada Província faz parte de uma realidade mais ampla, a Ordem. Por sua vez, a Ordem faz parte da Igreja. Todos nós somos membros da Ordem e não apenas de uma comunidade ou Província em particular. A Ordem Carmelitana faz parte da Igreja e temos o dever de assumir nosso lugar dentro da missão da Igreja. Logo, não fazemos apenas o que será bom para a Ordem. Tentamos fazer o que a Igreja nos pede. Um grupo recebe um carisma dentro da Igreja para servir ao mundo. Acima de tudo, a Igreja espera que nós carmelitas não façamos apenas esse ou aquele trabalho em especial, mas que sejamos fiéis ao carisma que recebemos de Deus.
O Mundo
Durante toda história da Ordem, expressamo-nos de diferentes formas. Um tema constante, que é parte importante de quem somos e que corre pelos oito séculos de nossa existência, é a dimensão contemplativa. O estilo de vida contemplativo buscou fornecer as condições mais favoráveis para o desenvolvimento da vida contemplativa. Contudo, os dois são muito diferentes. Somos chamados a sermos contemplativos, mas como frades mendicantes. Não somos chamados a viver um estilo de vida contemplativo. Vivemos no meio do povo. Um(a) contemplativo(a) é alguém que está no processo de ser afinado, como um lindo instrumento, pelo Mestre. Um(a) contemplativo(a) é um amigo prudente de Jesus Cristo e, logo, estará em união com todos os homens e mulheres num nível profundo. O(a) contemplativo(a) é alguém que está aprendendo lentamente a ver com os olhos de Deus e a amar com o coração de Deus.
Essa é nossa vocação. Trilhamos esse caminho não como indivíduos isolados, mas na companhia de nossos irmãos e irmãs com todos os membros da Família Carmelitana. Rezemos com eles e por eles. Lembremo-nos especialmente em tempos de dificuldades, que o apoio e as orações de todos os nossos irmãos e irmãs nos sustentam.
Perguntas para reflexão:
1- Em sua prática, como a experiência de viver em comunidade o ajudou a crescer como um indivíduo?
2- Você vive uma vida fraterna?
3- Se você fosse convidado a ser o prior da comunidade, o que você faria para favorecer a fraternidade dentro da comunidade?
Grupo
1-Como o encontro comunitário pode ser mais eficaz no desenvolvimento da vida comunitária na Província?
2- De que maneiras o valor da fraternidade pode ser construído na Província?
3- Como a Província se relaciona com a missão da Igreja?
* ASSEMBLÉIA DA PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO – JANEIRO 2007
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Elisângela Salomon, Priora da Venerável Ordem Terceira do Carmo da Esplanada, São Paulo e o Sr. Carlos, irmão daquele Sodalício.
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Mt 6,6: “Quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você”.
Titus Brandsma escreveu que a oração é vida, não um oásis no deserto da vida. A oração é uma parte essencial do carisma carmelitano. Espera-se que sejamos homens de oração e que formemos comunidades orantes. O Carmelo é certamente símbolo da oração para a maioria das pessoas em todo mundo.
A Ratio (art. 29) faz uma distinção entre oração e contemplação, embora afirme que na tradição carmelitana a oração foi muitas vezes identificada com a contemplação. A oração é a porta para a contemplação (Castelo Interior, 1,7). Na Regra, temos um equilíbrio entre oração em comum e tempo sozinhos com Deus na cela. A oração litúrgica certamente é a forma mais alta de oração já que é a oração de Cristo dirigida ao Pai no Espírito Santo. Quando celebramos a liturgia estamos partilhando dessa oração, dessa comunicação íntima entre o Pai e o Filho, que é o Espírito Santo.
Para o carmelita, a celebração diária da liturgia é muito importante. Somos incumbidos de celebrar o ofício divino para o mundo em nome da Igreja. Esse é um compromisso muito sério que aceitamos na profissão solene. Contudo, celebrar a liturgia em certos momentos do dia não é o suficiente. A liturgia deve influenciar cada momento de nossa vida. A idéia da Liturgia das Horas é santificar todo o dia e recordar a presença de Deus a cada momento. É muito importante viver a Eucaristia, aprender com o exemplo de Cristo a nos doarmos aos outros, a viver na presença de Deus. Logo, a Eucaristia e a Liturgia das Horas não são celebrações momentâneas, mas o coração de cada dia. Na liturgia ganhamos força para servir ao Povo de Deus e para viver em harmonia com nossos irmãos e irmãs.
Gostaria de enfocar a oração pessoal. Se vamos crescer em nosso relacionamento com Deus, é essencial termos um tempo sozinhos com Deus. Existem muitas maneiras de rezar, mas todas elas se voltam para estabelecer uma amizade íntima com Jesus Cristo. Santa Teresa d’Ávila nos advertiu que devemos fazer tudo para aumentar nosso amor pelo Senhor. O único modo de julgar a oração é se ela transforma nossas vidas. Isto é: estamos tratando as outras pessoas um pouco melhor? As Constituições nos lembram que: “Uma vida de oração também exige que examinemos nosso modo de vida à luz do Evangelho, para que a oração possa influenciar tanto nossas vidas pessoais quanto as vidas de nossas comunidades” (art. 81). O modo como rezamos depende muito de nossas personalidades e do tipo de relacionamento que temos e queremos ter com Deus.
Talvez a Lectio Divina seja o modo mais tradicional de crescer no relacionamento com Deus. Existem muitas formas de usar esse modo de oração. Ela pode ser usada tanto comunitária quanto individualmente. Podemos usá-la como a estrutura de todo nosso dia. Na Missa ou na Oração da Manhã lemos a Palavra de Deus. Durante o dia podemos recordar essa Palavra em determinados momentos, repetindo uma frase curta ou mesmo uma única palavra. Os eremitas no Monte Carmelo meditavam dessa forma. Ás vezes isso pode permitir que nossos corações falem diretamente com Deus respondendo aos acontecimentos de nosso dia. Quando chega o momento da oração pessoal, podemos simplesmente abandonar nossos pensamentos e palavras e repousar em Deus.
A Prática da Presença de Deus
Foi o carmelita descalços de Lourenço da Ressurreição quem primeiro viveu e tornou famosa a Prática da presença de Deus. Essa prática é muito simples e, ao mesmo tempo, muito difícil. A Regra nos lembra: “que tudo seja feito na Palavra do Senhor” (Regra 19). Isso é um eco da carta aos Colossenses: “E tudo o que vocês fizerem através de palavras ou ações, o façam em nome do Senhor Jesus” (Cl 3,17). A prática da presença de Deus é um método de oração simples porque não requer qualquer regra complicada. Significa simplesmente viver na verdade. Deus está presente em cada momento de nossas vidas, mantendo-nos vivos. Essa prática envolve partilhar com Deus tudo que acontece com você. Não é necessário conversar com Deus apenas sobre coisas sagradas. Podemos falar com Deus sobre o que nos interessa e partilhar com Deus o que acontece conosco. Lourenço da Ressurreição conversou com Deus sobre todos os detalhes práticos de seu trabalho como cozinheiro e tesoureiro comunitário. Santa Teresa d’Ávila nos lembra que Deus caminha entre os utensílios da cozinha. Deus está no meio da realidade que nos rodeia, seja ela qual for. Nós não trazemos Cristo para as circunstâncias em que vivemos. Ele está lá antes de nós.
A prática da presença de Deus é um modo de continuar o diálogo com Deus durante todo o dia. O Concílio Vaticano Segundo enfatizou o perigo da divisão entre fé e vida. Elas são e devem ser uma. Partilhar os eventos do dia é um modo de permitir que a Palavra de Deus influencie tudo que fazemos, pensamos ou dizemos. Se não temos vergonha de fazer ou dizer alguma coisa na presença de Deus, estamos vivendo uma ilusão ou nossas ações e palavras estão realmente de acordo com a vontade de Deus. Nosso falso eu levantará todos os tipos de razões para nos assegurar de que estamos certos e que não precisamos de mudança. Para vivermos na presença de Deus e trilharmos o caminho espiritual, a honestidade é uma virtude algumas vezes dolorosa, mas essencial.
A devoção a Maria, a Mãe de Jesus
A devoção mariana está intimamente ligada à Ordem Carmelitana na memória da maioria das pessoas. Maria é a Padroeira, Mãe e Irmã dos Carmelitas e cada um de nós deve pôr em prática seu próprio relacionamento com ela. O rosário é uma devoção popular resistente. Existem inúmeras maneiras de usá-lo para a oração. Ele só se limita à criatividade de cada pessoa. O símbolo mais importante da devoção mariana entre os carmelitas é o escapulário. Foram feitas diversas tentativas de atualizar esse símbolo para nossos dias. Pela ocasião do 750º aniversário da devoção ao escapulário, o Papa escreveu uma carta na qual descreveu seus dois elementos fundamentais. O escapulário faz parte de todo conjunto da espiritualidade carmelitana e nos lembra especificamente a presença constante de Maria em nossas vidas. Ela é a mãe da vida divina dentro de nós e nos acompanha até que essa vida cresça e nos transformemos em Deus. Esse é o objetivo de nossa existência. O segundo elemento fundamental da devoção ao escapulário é nosso compromisso de assumir as virtudes de Maria.
No Evangelho que usamos para a Solenidade de Nossa Senhora do Monte Carmelo, ouvimos as palavras que Jesus disse na cruz ao dar Maria ao discípulo amado como mãe a um filho. Então o evangelista nos fala que o discípulo assumiu Maria “para si”. Geralmente essa frase é traduzida como “a recebeu em sua casa”, mas os gregos não queriam dizer isso. Acredito que o texto diz que o discípulo amado, que representa todos nós, levou Maria para o local mais precioso para ele. O que caracteriza o discípulo amado acima de tudo é seu relacionamento com Jesus. Logo, ele levou Maria para seu relacionamento com Jesus e Maria levou o discípulo (nós) para seu próprio relacionamento com seu Filho.
A Oração Silenciosa
A Ratio nos diz que a oração é essencialmente um relacionamento pessoal, um diálogo entre Deus e o ser humano. Somos convidados a cultivá-la e a encontrar tempo e espaço para estarmos com o Senhor. A amizade só pode crescer através “da freqüente compatibilidade com Aquele que nos ama” (Santa Teresa d’Ávila – Livro da Vida 8,5) (Ratio 31). A Ratio continua dizendo que além de todas as questões da forma da oração, o importante é cultivar um relacionamento profundo com Cristo. Ela cita Santa Teresa mais uma vez dizendo que a oração perfeita “não consiste em muito pensar, e sim em muito amar” (Fundações 5,2; Castelo Interior 4, 1, 7) (Ratio). As Constituições nos lembram que: “A oração em silêncio é de grande ajuda no desenvolvimento de um espírito de contemplação. Portanto, devemos praticá-la diariamente por um período de tempo apropriado” (Art. 80).
Então o que é a oração em silêncio e o que é um período de tempo apropriado? Nossas vidas são muito agitadas, mas precisamos estabelecer prioridades. A oração é absolutamente essencial. O período de tempo depende do relacionamento da pessoa com Deus e, até certo ponto, depende da criatividade em encontrar espaço e tempo.
Todo relacionamento tem seu próprio ritmo. Geralmente, após um período de tempo, um relacionamento tende a ser menos complicado quando as duas pessoas se acostumam com o jeito uma da outra. Quando você não conhece bem uma pessoa, é difícil sentar em silêncio com ela. Temos a tendência de conversar. Ao conhecermos melhor a pessoa, o relacionamento torna-se mais fácil e sentar-se no silêncio amistoso torna-se normal e agradável. Quando entramos em harmonia com o outro podemos começar a ler seu silêncio. Trata-se de um relacionamento íntimo. O silêncio pode ser mais eloqüente do que muitas palavras.
É muito normal que no decorrer do tempo nossa oração se torne mais e mais simples. Pode ser que já tenhamos uma palavra que resuma tudo que queremos dizer a Deus. Dizer essa palavra significa milhares de coisas. Jesus abriu seu coração a seus discípulos e partilhou conosco o nome especial que tinha para Deus. Esse nome é “Abba”. Essa palavra contém todo relacionamento de Jesus com o Pai. É muito útil trabalhar nossa própria estenografia com Deus para que possamos lembrar durante o dia da presença constante de Deus conosco ao repetirmos uma simples palavra ou frase.
Cada relacionamento com o Senhor é diferente. Se você aproveita o máximo em sentar-se e conversar com o Senhor, ou de meditar sobre um tema, ou de ler e pensar sobre uma passagem da Escritura, ou de refletir sobre um livro espiritual, isso é bom. Por favor, continue a fazer isso. No entanto, podem existir momentos numa jornada de oração quando a pessoa se torna um pouco confusa e procura para onde ir. Também é comum ser levado ao silêncio durante a oração e, a princípio, isso pode parecer estranho e assustador. Não sabemos o que fazer e temos a sensação de estarmos perdendo tempo. A grande tentação é deixar de lado a oração porque não podemos mais encontrar o consolo que tivemos e ceder à sensação de perda de tempo. Como Santa Teresa d’Ávila, insisto que você não ceda a essa tentação e tenha uma “determinação muito determinada” de agarrar-se à oração especialmente quando ela não está de acordo com os seus planos.
É uma experiência muito comum passar por períodos prolongados de aridez na oração. Mais uma vez sentimos como se estivéssemos desistindo ou chateados. Sentimos que Deus foi embora não deixando endereço. Se, de alguma forma, mesmo no meio da confusão e da aridez, estamos convencidos do valor da oração, devemos apenas nos sentar na poeira e esperar por Deus. Em ocasiões muito estranhas em que um pensamento santo flutua sobre o rio de nossa consciência, temos a tendência de nos precipitarmos sobre ele e sufocá-lo, exaurindo-o por estarmos ressecados. No entanto, existe outra forma de lidar com esses pensamentos santos ocasionais. Não importa o quanto possam parecer santos, eles são nossos pensamentos, por isso subtende-se que deixamos que eles venham ou não. Se esses pensamentos forem verdadeiramente de Deus, retornarão em outro momento.
Existem muitos métodos de esperar por Deus no silêncio. Gostaria de propor um método de oração que pode fazer com que o silêncio seja muito produtivo e que pode nos ajudar a esperar por Deus no silêncio. Trata-se de um método de oração cristão baseado na rica tradição contemplativa e, especialmente, num livro clássico dessa tradição, “A Nuvem do Não-Saber”, um escrito anônimo do século XIV. Não estou sugerindo que devemos deixar de lado outras formas pessoais de oração, mas esse método pode aprofundar esses outros métodos e torná-los mais produtivos. O mais importante para esse tipo de oração é estar convencido de que Deus não está longe, mas muito perto. Deus faz sua morada em nós (cf. Jo 14,23).
Esse método de oração pode ser chamado de oração do silêncio ou de oração do desejo porque, no silêncio, nos voltamos para Deus com nosso desejo. Ele também foi chamado de oração em segredo, seguindo o conselho de Jesus para entramos em nosso quarto e rezarmos ao Pai ocultamente (M 6,6). A primeira fase dessa oração é encontrar um local adequado onde as interrupções sejam reduzidas ao mínimo. Depois se coloque numa posição confortável que você possa manter durante todo tempo da oração. Recomenda-se um mínimo de 20 minutos. Pode-se começar essa oração com uma pequena leitura da Bíblia. Não é hora de pensar no significado das palavras. Esse tipo de meditação fica para outra hora. Agora é hora de simplesmente estar na presença de Deus e de consentir na ação divina com nossa intenção. Então, com os olhos fechados, introduza gentilmente uma palavra sagrada em seu coração. Uma palavra sagrada é aquela que tem um grande significado para você em seu relacionamento contínuo com Deus. A palavra sagrada deve ser sagrada para você. De acordo com o ensinamento de “A Nuvem do Não Saber”, é melhor que essa palavra seja breve, de uma sílaba se possível. Sugiro algumas palavras: “Deus, Senhor, Amor, Jesus, Espírito, Pai, Maria, Sim”. Escolha uma palavra significativa para você. Talvez você pense em uma, se pedir a ajuda de Deus.
Quando peço que você introduza uma palavra sagrada no seu coração, não estou sugerindo que você a pronuncie com seus lábios, ou mesmo mentalmente, mas acolha-a dentro de você sem pensar em seu significado. Não é necessário forçar a palavra sagrada. Ela deve ser muito gentil. A palavra sagrada não é um mantra a ser repetido constantemente. A palavra concentra nosso desejo e sempre a usamos do mesmo modo simplesmente voltando nosso coração para o Senhor assim que percebemos que estamos distraídos. Essa é uma oração de intenção e não de atenção. Nossa intenção é estar na presença de Deus e consentir na ação divina em nossas vidas. A palavra sagrada expressa essa intenção e, assim, quanto tomamos consciência de que estamos pensando em algo diferente, podemos decidir se continuamos com a distração por ser mais interessante, ou se voltamos nossa intenção para a presença de Deus e consentimos com aquilo que Deus quer realizar em nós. Voltamos nosso coração para Deus pelo uso da palavra sagrada. Ela é um símbolo de nossa intenção. Não é necessário repeti-la frequentemente, apenas quando desejamos voltar nosso coração para Deus.
Durante essa oração, não é hora de conversar com Deus usando belas palavras ou mesmo de ter pensamentos santos, mesmo se pensamos que são inspirações de Deus. É melhor deixar essas coisas para outro momento. Nosso silêncio e nosso desejo valem mais do que palavras.
Através da palavra que escolhemos, expressamos nosso desejo e nossa intenção de permanecer na presença de Deus e de consentir com a ação divina purificante e transformadora. Voltamos para a palavra sagrada, que é o símbolo de nossa intenção e de nosso desejo, apenas quando tomamos consciência de estarmos envolvidos em algo diferente.
A oração consiste simplesmente em estar na presença de Deus sem pensar em nada em especial. Se você compreende como estar em silêncio com outra pessoa sem pensar ou fazer algo em especial, então você será capaz de compreender do que trata a oração. Nem todas as pessoas se adaptam a esse método de oração. Se você sentir um chamado interior para um silêncio maior, ele pode ajudá-lo.
No final do período que você decidiu dedicar à oração, talvez você possa dizer um Pai Nosso ou outra oração lentamente. É bom permanecer em silêncio por alguns momentos para se preparar para levar o fruto de sua oração para sua vida pessoal.
(Convido você a rezar agora e usar brevemente esse método de oração em segredo. Fique à vontade e entre na sala secreta de seu coração onde Deus mora. Para marcar o final do tempo de oração recitarei lentamente uma oração comum. Esse é o momento de reajustar-se ao momento presente).
Pauta prática para a Oração em Segredo:
1- Escolha uma palavra sagrada como símbolo de sua intenção em consentir na presença e na ação de Deus dentro de você.
2- Sente-se confortavelmente e, com os olhos fechados, fixe brevemente e introduza a palavra sagrada silenciosamente como símbolo de seu consentimento da presença da ação de Deus dentro de você.
3- Quando estiver envolvido com seus pensamentos, volte sempre gentilmente à palavra sagrada.
4- No final do período de oração, permaneça em silêncio com os olhos fechados por alguns minutos.
Perguntas para reflexão
Você é fiel ao ritmo da oração pública e pessoal?
*ASSEMBLÉIA DA PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO – JANEIRO 2007.
- Detalhes
*Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Superior Geral da Ordem do Carmo
Invocação
Ó Deus, teu profeta Elias apareceu misteriosamente sem introdução e desapareceu do mundo num carro de fogo. Elias permanece teu servo para sempre. Ajuda-me a servir-te como desejas e que um dia eu deixe este mundo para viver contigo. Por Cristo nosso Senhor.
Texto
Leia o texto atentamente para compreender o sentido geral e para conhecer a história em detalhes.
2Rs 2,1 Eis o que aconteceu quando Iahweh arrebatou Elias ao céu no turbilhão: Elias e Eliseu partiram de Guilgal,
2 e Elias disse a Eliseu: “Fica aqui, pois Iahweh me enviou só até Betel”; mas Eliseu respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!” e desceram a Betel.
3 Os irmãos profetas que moravam em Betel foram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: “Sabes que hoje Iahweh vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?” Ele respondeu: “Sei; calai-vos.”
4 Elias lhe disse: “Eliseu, fica aqui, pois Iahweh me envia só até Jericó”; mas ele respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!” E foram para Jericó.
5 Os irmãos profetas que moravam em Jericó aproximaram-se de Eliseu e lhe disseram: “Sabes que hoje Iahweh vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?” Ele respondeu: “Sei; calai-vos.”
6 Elias lhe disse: “Fica aqui, pois Iahweh me envia só até o Jordão”; mas ele respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!” E partiram os dois juntos.
7 Cinqüenta irmãos profetas foram também e ficaram parados a distância, ao longe, enquanto eles dois se detinham à beira do Jordão.
8 Então Elias tomou seu manto, enrolou-o e bateu com ele nas águas, que se dividiram de um lado e de outro, de modo que ambos passaram a pé enxuto.
9 Depois que passaram, Elias disse a Eliseu: “Pede o que queres que eu faça por ti antes de ser arrebatado da tua presença.” E Eliseu respondeu: “Que me seja dada uma dupla porção do teu espírito!”
10 Elias respondeu: “Pedes uma coisa difícil; todavia, se me vires ao ser arrebatado da tua presença, isso te será concedido; caso contrário,, isso não te será dado.”
11 E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, eis que um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu no turbilhão.
12 Eliseu olhava e gritava: “Meu pai! Meu pai! Carro e cavalaria de Israel!” Depois não mais o viu e, tomando suas vestes, rasgou-as em duas.
13 Apanhou o manto de Elias, que havia caído, e voltou para a beira do Jordão, onde ficou.
Ler
Eliseu queria uma dupla porção do espírito de Elias. A dupla porção de uma herança era tradicionalmente do filho mais velho (Dt 12,17). Eliseu queria ser reconhecido com o sucessor legítimo de Elias. No verso 12, Eliseu expressa respeito e obediência ao gritar: “Meu pai! Meu pai!”. Nos dias de Eliseu, Iahweh era considerado como o Deus da vida, mas não da morte e, por isso, os mortos estavam fora da esfera da influência de Iahweh. A ascensão de Elias era um dos poucos exemplos na Bíblia onde a morte fora derrotada. Séculos mais tarde, a fé na ressurreição foi desenvolvida a partir de exemplos como esse. O povo sempre acreditou que Elias retornaria (ver Mc 6,5; 8,28). Ele desapareceu mas não morreu, por isso não se trata de ressurgir dos mortos. O povo acreditava, e os judeus ainda acreditam, que Elias voltará para anunciar a vinda do messias.
Eliseu é uma testemunha da forma miraculosa como o profeta Elias deixou o mundo. O objetivo desse relado é mostrar que entre todos os “filhos dos profetas”, Eliseu estava bem próximo de Elias e tornou-se seu sucessor espiritual. O objetivo dessa história era preencher a lacuna quanto ao final do profeta Elias e o local de seu túmulo.
Refletir
Releia o texto para ouvir o que Deus lhe dizer. A seguir veremos algumas perguntas para ajudá-lo em sua meditação. Não existe resposta certa ou errada, apenas sua resposta à Palavra de Deus e essa resposta deve ser vivida diariamente.
- Como você se sente quanto à morte?
- Você tem alguém para acompanhá-lo em sua jornada espiritual?
- Elias pediu uma dupla porção do espírito de Elias. O que você quer pedir a Deus?
Responder
Elias chama Eliseu para segui-lo. Eliseu só se torna um profeta após o arrebatamento de seu mestre. Então, Eliseu tornou-se o líder de um grupo de profetas, dedicados ao verdadeiro Deus. Jesus Cristo nos chamou para segui-lo. Descobrir o que Deus quer de nós é um processo lento. Devemos tomar muitas decisões na vida. Toda escolha quem suas conseqüências. Vamos rezar para que nossas escolhas estejam de acordo com a vontade de Deus.
“Estando ele a caminhar junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
19 Disse-lhes: “Segui-me e eu vos farei pescadores de homens.”
20 Eles, deixado imediatamente as redes, o seguiram.
21 Continuando a caminhar, viu outro dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou.
22 Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram.” (Mt 4,18-22)
Repousar
O profeta Elias sempre foi fiel a Deus, mas nem sempre achou fácil ser fiel. Nesse texto, Elias enfrenta seu próprio fim. Não poderemos permanecer fiéis a Deus sem enfrentarmos dificuldades. Nós também devemos enfrentar nossa própria mortalidade.
Somos gradativamente transformados no caminho contemplativo, mas a transformação normalmente não parece ser o verdadeiro caminho para a glória. Nossos modos humanos devem ser divinizados, mas nesta jornada podemos ter a sensação que estamos perdendo tudo.
“Quando, pois, este ser corruptível tiver vestido a incorruptibilidade e este ser morta tiver revestido e imortalidade, então cumprir-se-á a palavra da Escritura:
A morte foi absorvida na vitória.
55 Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?
56 O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei.
57 Graças se rendam a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo!
58 Assim, irmãos bem-amados, sede firmes, inabaláveis, fazei incessantes progressos na obra do Senhor, cientes de que a vossa fadiga não é vã no Senhor.” (1Cor 15,54-58)
Já mencionei o conceito da noite escura, que é um termo complexo para o processo de transformação naqueles momentos que parecem negativos ou quando tudo não está claro. A noite escura é o estado normal para a maior parte da vida. A sensação de obscuridade às vezes é maior e outras vezes menor. Durante as várias fases do processo de transformação, devemos passar pela morte que, deste lado do túmulo, nos parece muito escura. Durante o decorrer de nossa vida, devemos aceitar as pequenas mortes que nos preparam para o fim de nossa existência na terra. A primeira morte acontece quando damos as costas para o pecado grave. Podemos estar cheios de entusiasmo nessa etapa da jornada espiritual, mas ao contrário do que pensamos, ainda estamos muito longe da perfeição. Ainda existe uma longa estrada a ser percorrida.
Ao continuarmos nosso caminho espiritual, amadurecemos mais e ficamos mais preparados para aceitar as pequenas mortificações que são uma parte essencial do caminho para Deus. Essas mortificações não são necessariamente trabalhos de penitência que escolhemos, mas simplesmente as dificuldades da vida. Aos poucos vemos que nossa motivação não é totalmente pura e encontramos o falso eu, não nos outros, mas em nós mesmos. Uma crescente sensibilidade à presença de Deus nos torna mais sensíveis à ação do falso eu dentro de nós. Nos tornamos mais conscientes do barulho de nosso “cd interno” (todos os comentários sobre as outras pessoas ou sobre coisas que aconteceram conosco que continuam dentro de nós durante o dia). Outra experiência de morte é o desprendimento gradual desses comentários e da ação do falso eu. É muito difícil aceitar que nossa motivação não é totalmente cristã. Isso requer uma profunda humildade e também um intenso desejo de ser transformado.
Através da oração, como uma busca constante do rosto de Deus nos altos e baixos de nossa vida, ficamos mais preparados para deixar de lado nossas próprias idéias sobre Deus para receber o que Deus quer partilhar conosco. Esse processo também é outro tipo de morte. Finalmente, perdemos nossa própria vida para recebermos a verdadeira vida em abundância.
A fé é uma necessidade absoluta para a jornada espiritual. Em primeiro lugar, a fé é um compromisso com Deus a quem não podemos ver nem sentir. É um salto para a escuridão, confiantes de que lá existe Alguém que nos ama.
Muitas vezes nossa oração pessoal se modifica ao amadurecermos. O que pode nos ajudar em uma fase pode não ser útil na outra. A oração pode se tornar mais simples e, ao mesmo tempo, mais escura. Seja qual for a forma como você reza, confie em Deus e tente responder à iniciativa de Deus de chamá-lo para partilhar um relacionamento íntimo na vida da Trindade Santa.
Faça agora sua oração. Existe um método no Apêndice I que talvez o ajude a esperar por Deus no silêncio. Ele está sempre presente conosco, mas muitas vezes o experimentamos como ausência e escuridão. Permita que a presença de Deus e sua ação purificadora e transformadora venham até você, seja qual for a forma que Deus escolher para que isso aconteça.
Agir
Vejamos algumas frases do texto. Escolha uma ou duas para repetir agora e novamente durante o dia para lembrá-lo da presença de Deus. É claro que você tem seu próprio jeito de manter aceso seu relacionamento com Deus. Qualquer método é bom se ajuda a lembrar da presença amorosa de Deus:
“levou Elias para o céu”;
“fica aqui”;
“calai-vos”;
“não te deixarei”;
“pede o que queres”;
“Elias subiu ao céu”;
“meu pai”.
Com esse texto chegamos ao fim da vida do profeta Elias. Ele foi sempre fiel a Deus e esta fidelidade lhe custou muito. A história da saída de Elias da terra causou um grande impacto na memória religiosa dos judeus, mas também dos cristãos e muçulmanos. Cresceu a ideia de que o profeta não teria morrido e poderia voltar. Já vimos essa idéia no Novo Testamento (cf. Mt 11,4).
A morte é um mistério. Somos seguidores de Jesus Cristo que passou pela morte e foi ressuscitado na glória do Pai pelo poder do Espírito Santo. Quando Cristo apareceu a seus amigos e discípulos após a ressurreição, ele não revelou tudo que acontece no processo da morte e depois da morte. Contudo, Jesus é nosso líder (At 5,31; Hb 2,10). Cristo voltou da morte e prometeu que iríamos com ele (Jo 14,3).
Devemos deixar o futuro nas mãos de Deus que nos ama e permanecer fiéis a Deus como o profeta Elias.
“Mas, como está escrito, o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam.” (1Cor 2,9)
*DO LIVO: O SOM DO SILÊNCIO
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O Frei Evaldo Xavier, O. Carm, Superior Provincial da Província Carmelitana de Santo Elias-Carmelitas, faz uma homilia na Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo de Salvador/ BA, sobre a traição de Judas Iscariotes. Convento do Carmo de Salvador- BA. 27 de março-2018.
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