A DIMENSÃO PROFÉTICA DA AUTORIDADE DE JESUS: RETIFICAR O RUMO DA COMUNIDADE
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Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Este novo modo de conviver surge numa sociedade, que pensava exatamente o contrário. Por isso, a iniciativa de Jesus provoca reações fortes: pró e contra. Pró, por parte do povo que gostava de ouvir Jesus, pois ele lhe anunciava uma Boa Notícia. Contra, por parte das autoridades religiosas que perguntavam a Jesus: “Com que autoridade você faz estas coisas?” (Mc 11,28; Jo 2,18). Na pergunta transparece uma concepção de autoridade que pensava ser o dono da situação, ao qual os outros deveriam pedir licença. Pela sua maneira de exercer o poder, as autoridades religiosas da época controlavam a vida do povo e bloqueavam a entrada do Reino (Mt 23,13). Elas impunham uma infinidade de normas e leis (Mt 11,28), que impediam ao povo de perceber a chegada do Reino (Mc 1,15) e de saborear a sua presença no meio dele (Lc 17,20-21).
Jesus reconhece a autoridade dos escribas e fariseus, mas denuncia a falta de coerência: “Fazei o que dizem, mas não o que eles fazem” (Mt 23,2). Quando a autoridade perde de vista o objetivo para o qual foi dada e se torna finalidade em si mesma, ela se perde, torna-se opressora e desumaniza a vida. “Quando o senhor tiver a diocese bem disciplinada, o que vai fazer com ela?”, dizia o leigo ao bispo.
Jesus não teve medo de criticar o abuso da autoridade. Por isso, foi perseguido. Mas diante das ameaças tanto dos judeus como dos romanos, ele não se intimidava. Mantinha uma atitude de grande liberdade (Lc 13,32;23,9; Jo 19,11;18, 23). Eis algumas críticas de Jesus às autoridades:
* Desautorizou o ensino dos escribas sobre a vinda de Elias (Mc 9,11-13) e sobre a descendência davídica do messias (Mc 12,35-37). Tornou desnecessária a legislação existente sobre a pureza legal, defendida sobretudo pelos fariseus, e anunciava uma nova maneira de se conseguir a pureza (Mc 7,1-23). Alargou as fronteiras do povo de Deus, pois na sua comunidade acolhia publicanos, pecadores, leprosos, possessos, doentes e prostitutas.
* Criticou a inversão da observância do sábado, e colocou-o, novamente, a serviço da vida (Mc 2,27). Chegou a sugerir que proibir a cura de uma pessoa em dia de sábado era o mesmo que matar uma pessoa (Mc 3,4). Criticou e relativizou o Templo, expulsando os vendedores (Mc 11,15-19) e dizendo que Deus podia ser adorado em qualquer lugar (Jo 4,20-24).
* Não teve medo de denunciar a hipocrisia de alguns líderes religiosos: sacerdotes, escribas e fariseus (Mt 23,1-36; Lc 11,37-52; 12,1; Mc 11,15-18). Criticou a ganância deles e a vontade que tinham de aparecer em público e de ocupar os primeiros lugares (Mc 12,38-40). Condenou a pretensão dos ricos (Lc 6,24; 12,13-21; Mt 6,24; Mc 10,25). Não acreditava muito na sua conversão (Lc 16,29-31), embora admitisse que fosse possível pelo poder de Deus (Mt 19,26).
Jesus não só criticou com palavras a maneira como as autoridades exerciam o poder e promoviam a vida comunitária. A própria comunidade que nascia ao seu redor era uma uma denúncia viva, uma alternativa profética sob vários aspectos:
- As pessoas que compunham a comunidade eram de vários níveis: publicanos, pescadores, agricultores, artesãos, zelotes. A religião oficial, a cultura, a situação econômica e política causavam conflitos entre estes grupos sociais. Jesus os chama para formar uma comunidade. Este era o grande desafio! Era o mesmo que remar contra a corrente ou andar na contra-mão, tanto da sociedade como da religião! É até hoje o grande desafio dos cristãos! A comunidade deve ser um sinal do Reino, onde é possível unir os contrários em fraternidade sob condição de ambos fazerem a conversão em direção a Deus. É a autoridade de Jesus que consegue esta mudança, não como imposição, mas como compromisso livremente aceito.
- Os valores que orientavam a comunidade de Jesus eram o contrário dos valores que orientavam a religião oficial do Templo e a política tanto de Herodes como do Império romano. Na comunidade de Jesus, a posse dos bens era comunitária; eles viviam da partilha, exerciam o poder como serviço, e não se importavam com aquelas normas de pureza que eram contrárias à vida. O povo se reconhecia neles. Assim, dentro da prática de Jesus estava uma semente subversiva, capaz de, a longo prazo, desestabilizar e derrubar os valores ou contra-valores que sustentavam o sistema, mantido pela política do governo de Herodes, e, assim, provar que um outro mundo é possível. Geravam esperança.
- O comportamento era de revisão permanente. Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus e de viver na comunidade que ela já é santa e renovada. No meio dos discípulos, cada vez de novo, a mentalidade antiga levantava a cabeça, pois o “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), isto é, a ideologia dominante, tinha raízes profundas na vida daquele povo. Jesus faz todo o possível, para que a pequena comunidade que nasce ao seu redor não se contamine com a concepção da autoridade que caracterizava tanto a religião da época como o Império romano. A conversão que ele pede vai longe e fundo. Ele quer atingir a raíz e erradicar o “fermento”. Eis alguns casos desta maneira fraterna de Jesus exercer a autoridade para corrigir os discípulos.
Mentalidade de grupo fechado.
Certo dia, alguém que não era da comunidade, usava o nome de Jesus para expulsar os demônios. João viu e proibiu: “Impedimos, porque ele não anda conosco” (Mc 9,38). Em nome da comunidade João impediu uma ação boa! Ele pensava ser dono de Jesus e usou a sua autoridade para proibir que outros usassem o nome dele para realizar o bem. Queria uma comunidade fechada sobre si mesma. Era a mentalidade antiga de "Povo eleito, Povo separado!". Jesus responde: "Não impeçam!... Quem não é contra é a favor!"(Lc 9,39-40). Para Jesus, o que importa não é se a pessoa faz ou não faz parte da comunidade, mas sim se ela faz ou não o bem que a comunidade deve realizar.
Mentalidade de grupo que se considera superior aos outros.
Certa vez, os samaritanos não queriam dar hospedagem a Jesus. Reação dos discípulos: “Que um fogo do céu acabe com esse povo!”(Lc 9,54). Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de “Povo eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende: "Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados"(Lc 9,55)
Mentalidade de competição e de prestígio.
Os discípulos brigavam entre si pelo primeiro lugar(Mc 9,33-34). Era a mentalidade de classe e de competição, que caracterizava a sociedade do Império Romano. Ela já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas começando! Jesus reage e manda ter a mentalidade contrária : "O primeiro seja o último"(Mc 9, 35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o próprio testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir”(Mc 10,45; Mt 20,28; Jo 13,1-16).
Mentalidade de quem marginaliza o pequeno.
Os discípulos afastavam as crianças. Era a mentalidade da cultura da época em que criança não contava e devia ser disciplinada pelos adultos. Jesus os repreende:”Deixem vir a mim as crianças!”(Mc 10,14). Ele coloca criança como professora de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança, não pode entrar nele”(Lc 18,17).
Mentalidade de quem segue a opinião da ideologia dominante.
Certo dia, vendo um cego, os discípulos perguntaram: "Quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?"(Jo 9,2). Como hoje, o poder da opinião pública era muito forte. Fazia todo mundo pensar de acordo com a ideologia dominante. Enquanto se pensa assim não é possível perceber todo o alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão mais crítica: “Nem ele, nem os pais dele”(Jo 9,3). A resposta de Jesus supõe uma leitura diferente da realidade.
Como no tempo de Jesus, também hoje, através de muitos canais, a mentalidade antiga renasce e reaparece na vida das nossas comunidades. Jesus ajudava os discípulos a mudar de vida e de visão e a continuar na conversão, na formação permanente. Como reagimos e usamos a autoridade para impedir que a mentalidade ateia e secularizada do atual sistema neo-liberal contamine a nossa maneira de conviver?
Semana Santa-2023: O silêncio orante de Jesus
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Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Todo silêncio contém um segredo oculto: indescritível e inafavel a partir da razão humana. Ao contrário do mutismo, que não passa de um pseudosilêncio (encerrado em si mesmo e fechado ao diálogo com o outro, desértico, árido e estéril, às vezes destilando veneno, um “gueto impenetrável” que representa a recusa de toda e qualquer comunicação) – o verdadeiro silêncio contém o mistério da Palavra. Calam-se todas as palavras (no plural, com minúscula), para que possa falar a Palavra (no singular, com maiúscula). Jesus Cristo, o “Verbo que se fez carne e armou sua tenda entre nós” é a Revelação de Deus, em seu infinito amor e misericórdia.
Disso resulta que sua mensagem – em gestos ou palavras que, de tão concretas, visíveis e palpáveis, mais parecem gestos – nasça, cresça, se desenvolva e ganhe autoridade no terreno fecundo do silêncio. Somente este silêncio de escuta e contemplação, sempre atento, reverente e respeitoso diante dos desígnios do Pai, poderá engendrar a Palavra viva, livre, libertadora e criativa. A Palavra que renova e anima, conforta e confere novo vigor ao exausto caminheiro. Na visão do teólogo italiano Bruno Forte, por exemplo, enquanto Jesus é a “Palavra Encarnada” e o Espírito Santo o “Encontro”, o Pai continua sendo o “Silêncio”, indefinível e insondável ao conhecimento científico.
E de fato, o silêncio na vida de Jesus nos impressiona e comove. O profeta de Nazaré proclama a Boa Notícia do Evangelho somente em idade já relativamente adulta, após 30 anos de silenciosa meditação. Mas antes disso, retira-se por 40 dias e 40 noites ao silêncio ermo mas habitado do deserto, onde deverá ser tentado pelo demônio. Criação literária ou não, a simbologia dos 40 dias e 40 noites reflete o poder místico e espiritual do “estar a sós consigo mesmo e com Deus”.
Em seguida, durante seu ministério público itinerante, por diversas vezes Jesus dribla a multidão e os próprios discípulos para retirar-se à montanha, novamente ao deserto ou a um lugar à parte, numa prática permanente de escuta e oração. Impressiona igualmente o silêncio de toda a família de Nazaré, onde Maria, como sublinha o evangelista Lucas por duas vezes “conservava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2, 19.51). José, por sua vez, embora sempre pronto a ouvir os anjos de Deus e por-se em marcha para defender a família, jamais profere uma palavra.
Entre tantos momentos de silêncio, são emblemáticos o momento de oração no Horto das Oliveiras (ou Getsêmani), antes de ser preso e conduzido aos tribunais, como também a atitude de “escrever no chão com o dedo”, no episódio da mulher surpreendida em adultério (Jo 8, 1-11). Neste último caso, Jesus se interpõe entre os fariseus e doutores da lei (juízes) e a acusada (réu). O silêncio de Jesus, que se limita a “escreve no chão” revela-se um verdadeiro espelho para a consciência de todos os presentes. Espelho ainda mais evidente diante das palavras gestadas por esse silêncio: “Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra”. Enquanto Jesus “continua a escrever no chão”, os ouvintes “foram se retirando um a um, a começar pelos mais velhos”.
Silêncio que, além de interpelar a consciência dos próprios doutores da lei e fariseus, inverte os papéis desse, digamos, tribunal improvisado. Se, de um lado, os acusadores (juízes) se convertem em réus, de outro, a acusada (réu) torna-se uma espécie de juíza, mesmo sem proferir qualquer palavra. O silêncio possui este segredo: transmite sentimentos e emoções que as palavras são incapazes de expressar. Outras vezes converte-se em lágrimas, olhares, sorrisos, abraços, gestos, toques... Todos mais eloquentes que qualquer palavra! O final da história é expressivamente comovente: “Eu também não te condeno; podes ir, e nã peques mais”, conclui o Mestre. Palavras de carne e osso, diríamos! Jesus não legitima o pecado, não lhe é cúmplice... Mas acolhe e absolve a pecadora arependida.
Papa internado: quadro clínico em melhoramento
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De acordo com o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, quadro clínico do Papa Francisco é em progressivo melhoramento e prossegue o tratamento programado.
Vatican News
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, divulgou na manhã desta quinta-feira, 30 de março, um novo boletim a respeito da saúde do Pontífice, internado desde ontem no hospital Policlínico Gemelli de Roma:
"Papa Francisco repousou bem durante a noite. O quadro clínico é em progressivo melhoramento e prossegue o tratamento programado. Hoje, depois do café da manhã, leu alguns jornais e retomou o trabalho. Antes do almoço, foi à pequena capela do apartamento particular, onde se recolheu em oração e recebeu a eucaristia."
Comunicação precedente
O portavo-voz vaticano comunicou ontem que Francisco foi levado ao hospital depois de se queixar de dificuldades respiratórias. O resultado dos exames evidenciou uma infecção respiratória e se exclui a infecção por Covid 19. O quadro exige alguns dias de terapia médica hospitalar.
O Papa agradece as muitas mensagens recebidas e expressa sua gratidão pela proximidade e oração. Fonte: https://www.vaticannews.va
Papa Francisco no Hospital Gemelli por causa de uma infecção respiratória
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Na manhã desta quarta-feira o Papa presidiu normalmente a audiência geral com os fiéis reunidos na Praça São Pedro.
Vatican News
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, comunica que:
"O Santo Padre se encontra desde a tarde de hoje no Gemelli para alguns controles previamente programados".
Na manhã desta quarta-feira o Papa presidiu normalmente a audiência geral com os fiéis reunidos na Praça São Pedro.
No início da noite (horário de Roma), Matteo Bruni acrescentou que "nos dias passados, o Papa Francisco se lamentou de algumas dificuldades respiratórias e esta tarde foi até ao Policlínico A. Gemelli para efetuar alguns controles médicos. O resultado evidenciou uma infecção respiratória (exclui-se a infecção de Covid 19), que exigirá alguns dias de adequada terapia médica hospitalar. O Papa Francisco ficou comovido com as muitas mensagens recebidas e expressa sua gratidão pela proximidade e a oração."
Atualizado às 20h50 (horário italiano) de 29 de março de 2023. Fonte: Vatican News
Evangélicos sob Lula querem distância da esquerda e esperam Bolsonaro voltar
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Ainda que permaneça certo desânimo com o que é visto como apatia do ex-presidente, o discurso antipetista alvoroça púlpitos
SÃO PAULO
Após uma ruidosa participação na campanha eleitoral, em que até mentiu sobre uma intimação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que nunca existiu, o pastor André Valadão baixou o tom por um tempo. O entusiasmo por Jair Bolsonaro (PL) desbotou em suas redes sociais.
Valadão chegou a se dizer decepcionado com a letargia do aliado após a derrota para Lula (PT), semanas antes da viagem para os EUA que Bolsonaro fez no epílogo do seu mandato, e da qual ainda não retornou.
Em fevereiro, um seguidor quis saber no Instagram: "O senhor batizaria o Lula?". Líder na Igreja Batista da Lagoinha, baseado na mesma Flórida onde por ora reside o ex-presidente, ele respondeu que sim. "Mas deixa uns 30 segundos ali debaixo d’água para dar uma limpada com força, né?"
Ambígua o bastante para mesclar apologia de violência e proposta evangelizadora, a reação ressuscitou algo nas entranhas do bolsonarismo.
A quem se perguntava se o triunfo lulista marcaria a volta de uma velha disposição fisiológica no segmento, o chiste mostrou que não é bem assim. O persistente mau humor nas igrejas com a esquerda pode sinalizar um ponto de não retorno nessa relação.
Ainda que permaneça certo desânimo com o que é visto como apatia de Bolsonaro nesses primeiros meses fora do cargo, o discurso antipetista ainda alvoraça púlpitos.
Silas Malafaia foi um dos que foi a público criticar o amigo. Mas a mão que apedreja também afaga. "Sou aliado, não alienado. Não tenho Bolsonaro como ídolo. Sei que ele tem defeitos, que tem erros, mas põe na balança o que ele fez nos quatro anos de governo. Ele tem muito mais crédito."
E o ex-mandatário conseguiu uma façanha, diz o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. "É uma coisa rara: o cara é derrotado e continua com maioria absoluta no segmento."
Malafaia, assim como Valadão, costuma se posicionar com mais belicosidade do que outros colegas, é verdade. Como também é fato que alguns líderes ensaiaram uma trégua.
O bispo Edir Macedo, por exemplo, logo depois da eleição falou em perdoar Lula, eleito "por vontade de Deus". As pancadas que o jornal da sua igreja, o Folha Universal, vinha dando na esquerda também murcharam.
Mas "espaços viáveis de conciliação" estão fora do horizonte, afirma o sociólogo Ricardo Mariano, que pesquisa a ascensão evangélica. "A aliança com Bolsonaro robusteceu a radicalização política de grande parte das lideranças, e isso intensificou a oposição ao PT."
Para a cientista política Ana Carolina Evangelista, diretora-executiva do Instituto de Estudos da Religião, pastores bolsonaristas podem até estar "mais calados sobre o apoio a um ex-presidente que saiu do país e nunca mais voltou", mas não silenciaram suas desaprovações a Lula. "Esse elemento é novo. Nas gestões anteriores do PT, a vocalização dessas críticas arrefecia assim que os governos eram eleitos."
Bater em candidaturas tidas como progressistas não é nenhuma novidade. O próprio Lula apanhou um bocado no passado. A Universal de Edir Macedo o comparava ao diabo em 1989. Em 1994, colocou-o na capa de seu jornal e legendou: "Sem ordem e sem progresso".
Tão logo o petista chegou ao Palácio do Planalto, em 2003, vários líderes suspenderam a beligerância e abraçaram o PT, cortesia que se estendeu ao governo Dilma Rousseff. Entre os fatores que colaboraram para o desgaste dessa relação estavam a iminência da perda de poder, na medida em que o impeachment de Dilma se avizinhava, e também o avanço da agenda identitária.
É preciso considerar que o bolsonarismo se retroalimentou desse fenômeno relativamente novo, diz Mariano.
"As disputas morais ganharam relevo nas últimas duas décadas. Em resposta a movimentos feministas e LGBTQIA+, a reivindicações por igualdade de gênero e à aprovação, pelo STF, da união civil de pessoas de mesmo sexo e do aborto de anencéfalos, atores evangélicos radicalizaram seu ativismo político, sobretudo a partir do primeiro governo Dilma, em defesa da conformação do ordenamento jurídico a valores bíblicos."
Deram assim uma contribuição e tanto para a avalanche de manifestações de direita que jorrariam nos anos seguintes, segundo o sociólogo. Bolsonaro pegou carona nesse Zeitgeist em formação, como ao difundir a falsa tese do "kit gay".
Num primeiro momento, o retorno do lulismo pareceu desnortear a cúpula evangélica. Encontrar saídas honrosas para se aliar ao governante da vez costumava ser a praxe no meio. Bússolas para o batalhão de pequenos e médios pastores espalhados pelo país, líderes de envergadura nacional apostaram alto na reeleição de Bolsonaro. Ele perdeu, e eles se viram numa posição que lhes era pouco familiar: oposição.
Para Evangelista, o debate "é menos sobre como se mantém o bolsonarismo e mais sobre como, e se se mantém, o antiesquerdismo". Pastores, afinal, pautam a base, mas também são pautados por ela. Fica insustentável persistir no discurso do medo se lá na ponta os fiéis estão vendo melhoras reais no dia a dia.
"Que políticas deste governo também estão a serviço dessa população e melhoram concretamente suas condições de vida como trabalhadores, mães de família, jovens inseridos nas universidades e no mercado de trabalho? Independentemente de serem evangélicos."
Chegamos então a um impasse. Ainda não há qualquer sinal à vista de que o PT vai conseguir reaver a parceria com as igrejas. Já Bolsonaro ainda é um farol, mas sua moral no segmento caiu no último trimestre.
A Casa Galileia, que monitora redes sociais evangélicas, notou essa retração, diz seu assessor de campanhas, o antropólogo Flávio Conrado.
Os acampamentos em frente a quartéis, que por fim desembocaram nos ataques golpistas de 8 de janeiro, afugentaram parcela dos crentes.
"Alguns já disseram ali ‘perdemos’ e vamos então orar pelo Lula, botar a viola no saco e lidar com a perda. A candidatura de Bolsonaro foi trabalhada como a luta do bem contra o mal, e a derrota causou grande frustração entre os fiéis."
A partida para os EUA, contudo, deixou um vácuo no conservadorismo, afirma Conrado. "Me parece ter uma rearrumação desse campo, esse refluxo. Ele vai continuar sendo a liderança da extrema direita?"
O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que chegou a posar com petistas e dizer que a omissão do ex-presidente nos últimos tempos "beira a covardia", é um bom exemplo desse pêndulo entre pragmatismo político e óbice ideológico.
"Sem dúvida alguma", diz o membro da bancada evangélica, Bolsonaro ainda é o grande nome para 2026 nos templos. "Ele tem a capacidade da Fênix. Quando todos apostam que agora já era, ele consegue ressurgir. As críticas que ele sofreu, e inclusive fiz parte de algumas delas, não são fator de ruptura."
Retomar uma acomodação com progressistas lhe parece algo improvável, diz. "Antes você não tinha muito bem a compreensão entre direita e esquerda. Com a voz dissonante do bolsonarismo, passou-a se ter a real clareza do que é uma e do que é outra. Por isso acho muito difícil que o lulismo consiga fazer dentro da igreja o que Bolsonaro fez. Era necessário que o PT morresse e ressuscitasse com nova roupagem ideológica."
"Em futuras eleições, continuaremos sendo guiados pelos mesmos princípios que nos trouxeram até aqui, ou seja, mais à direita", afirma o bispo Eduardo Bravo, à frente da Unigrejas, braço da Universal.
Esse nome pode ser Bolsonaro, mas não necessariamente. "Para mim, pessoalmente, mito somente o Senhor Jesus."
Enquanto isso, o efeito rebote vem a mil. Daí o fortalecimento de pautas como o preconceito visto no deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que usou uma peruca para zombar as trans no Dia da Mulher, e no reforço transfóbico do também evangélico senador Magno Malta (PL-ES). Em evento com Michelle Bolsonaro, ele disse que homens nunca terão útero, ataque patente à mulher trans.
Valadão, o pastor que sugeriu deixar Lula um tempinho sob a água para batizá-lo, embarcou na mesma onda. Postou uma montagem da "picanha trans", que "nasceu coxão duro, mas se sente picanha".
"Tá desse jeito", comentou. O futuro do bolsonarismo entre evangélicos está nas mãos de líderes como ele. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
5º Domingo da Quaresma: Um olhar de amizade e vida
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RESSURREIÇÃO E VIDA
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
“Dá-me de beber uma água viva!” “Eu sou a luz do mundo!” “Eu sou a ressurreição e a vida!” Todos nós, envolvidos na preparação da Páscoa, somos chamados ao novo encontro com Jesus Cristo, nossa Páscoa, nossa esperança. A partir de ângulos diferentes, todos caminhamos para ele, a fim de participarmos com ainda maior intensidade de seu mistério, na graça dos sacramentos da iniciação cristã que recebemos. E nossa Igreja de Belém celebra este tempo especial dando passos na realização de seu Plano de Pastoral, fruto do esforço conjunto, iluminados que fomos pelo Espírito Santo para ser uma Igreja missionária, de portas abertas, dando nossa contribuição para que nossas cidades e nosso tempo se encham da alegria genuína, fruto do mesmo Espírito.
Hoje vamos apenas acompanhar Jesus e seus discípulos a Betânia (Jo 11,1-45), casa do pobre e da amizade, lugar que podemos imaginar como verdadeiro refúgio, onde se encontravam à vontade. Trata-se de Lázaro, um amigo, daqueles que uma expressão popular diz serem mais queridos do que um irmão! O Senhor fica sabendo de sua enfermidade. Onde se encontrava, permaneceu ainda dois dias, viajando apenas no terceiro dia, certamente um detalhe do autor do Quarto Evangelho para referir-se ao dia da Ressurreição de Jesus, cujo fato aqui descrito é prenúncio e sinal. Os laços de amizade levam Jesus a dirigir-se à Judéia, justamente quando o clima de perseguição se acirrava. De longe, sabe o Senhor que Lázaro morreu. Jesus não se mostra como um taumaturgo, mas como amigo e irmão! Para curar e restaurar, há que começar com um relacionamento humano verdadeiro, pelo que temos muito a aprender, para sanar as feridas físicas, emocionais, psicológicas e espirituais, missão de nossa Igreja!
O Evangelho fala dos quilômetros de distância entre Jerusalém e Betânia, e Jesus certamente estava mais distante. Noutro texto evangélico (Lc 24, 13-35), distância percorrida com decepções por onze quilômetros se transforma num verdadeiro salto depois da experiência do Ressuscitado em Emaús! Nossa Grande Belém é bem maior do que Nínive, para critérios antigos, “uma cidade fabulosamente grande, do tamanho de uma caminhada de três dias” (Jn 3,3). Não há distâncias intransponíveis para o zelo da nova Evangelização missionária a que somos chamados, a fim de curar o mundo e as pessoas, reconduzindo-as à vida plena!
É Marta que recebe Jesus, enquanto sua irmã Maria permanece em casa. Uma pequena família, diferenças entre as pessoas, mas ressoa o convite: “O Mestre está aí e te chama”. “Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao encontro de Jesus” (Jo 11,28-29). Em voz alta ou ao pé do ouvido, a boa notícia há de percorrer estradas, casas e corações. O problema é quando não levamos o chamado de Jesus, mas nossas pequenas e tão limitadas ideias. Quando a mensagem do Senhor chega, o salto acontece na vida das pessoas. Cuidemo-nos seriamente, para que não sejamos intermediários falsificados!
Nossa meditação vai com Marta, Maria, Discípulos, uma Multidão de pessoas positivamente incomodadas (“Muitos dos judeus viram o que Jesus fizera e creram nele” – Jo 11,45) e outras curiosas, para chegar à entrada do sepulcro. Aqui, uma cena humana e surpreendente: “Jesus chorou” (Jo 11,35). Para nós e nossa Igreja, fica a lição de humanidade, pois não tratamos das dores humanas como exercício profissional, mas com a sensibilidade da caridade e da atenção!
Algumas situações, como um morto quatro dias antes (Jo 11,39), podem levar ao desânimo daqueles que pensam não haver soluções. E com Jesus aprendemos que não é verdade o dito de que só com a morte não há jeito, pois nele e com ele sempre ressoará o “Lázaro, vem para fora” (Jo 11,43)! É hora de ampliar nosso horizonte e descobrir o que existe de mais difícil e desafiador em nossa sociedade, para chegar lá com a Evangelização e a Caridade.
Algum tempo antes desses fatos, Jesus “chamou os doze discípulos e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos impuros e curar toda sorte de males e enfermidades. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10, 1.8). De lá para cá, a missão da Igreja (Cf. a proposta do Plano Arquidiocesano de Pastoral para “Curar”) é empenhar-se no “anúncio do Evangelho aos homens do nosso tempo, animados pela esperança, mas ao mesmo tempo torturados muitas vezes pelo medo e pela angústia, um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade” (Cf. Evangelii Nuntiandi, 1). O sentido da vida cristã, seu rosto mais reluzente, encontra-se na caridade. “A caridade é a virtude pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus” (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1822). Ao mesmo tempo, “quanto mais o homem fizer o bem, mais livre se torna. Não há verdadeira liberdade senão no serviço do bem e da justiça” (Catecismo da Igreja Católica, 1733).
O testemunho profético através da caridade e serviço é a marca inseparável da missão da Igreja de “portas abertas”, em saída ao encontro do outro, e disposta a acolher quem chega, pois, considerando-se que, “quando amado, o pobre é estimado como de alto valor” (Evangelii Gaudium, 168), e isto diferencia a autêntica opção pelos pobres de qualquer ideologia, de qualquer tentativa de utilizar os pobres ao serviço de interesses pessoais ou políticos. Unicamente a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de libertação. Só isto tornará possível que “os pobres se sintam, em cada comunidade cristã, como ‘em casa’” (Evangelii Gaudium, 199). Nossa Igreja de Belém quer fomentar o ministério da caridade, reorganizar todas as expressões caritativas presentes na Igreja, implantando pastorais sociais e organismos da missão sociotransformadora na Amazônia, sendo presença luminosa nas causas sociais, como “Igreja em saída”. Não há limites ou ambientes em que a Igreja não possa ou não deva estar presente. “Curar” há de ser uma palavra apaixonante, para que o cuidado com pessoas e situações se multiplique entre nós, pois todos nós, batizados, acreditamos que o Senhor Jesus é Ressurreição e Vida! Fonte: https://www.cnbb.org.br
Igreja entrega 'lista de pecados' a fiéis que vão de horóscopo a jogos de RPG e material viraliza, mas gera polêmicas
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Internautas repercutiram os temas listados e apontaram a intolerância presente em muitos dos tópicos
Postagem com 'lista de pecados' viralizou nas redes sociais nesta terça-feira Reprodução / Redes Sociais
Por O Globo — Rio de Janeiro
Uma "lista de pecados" entregue durante um retiro de fiéis de uma igreja de São Paulo viralizou nas redes, nesta quarta-feira (22), causando, além de risadas, também muita polêmica. São mais de 100 itens que o frequentador do culto deve preencher no papel, que objetiva medir a quantidade de blasfêmias praticadas por cada um. Entre as "transgressões" estão itens inusitados, como adesão a horóscopo, pirataria, jogos de RPG, intelectualismo e irreverência. O material também traz ataques diretos a outras religiões. Primeira comunhão, crisma, "benzimentos" e umbanda, por exemplo, são colocados como pecados na mesma relação que contém assassinato, estupro, pedofilia e crueldade.
Ainda há itens que apontam como blasfêmias o "homossexualismo" e o "lesbianismo", o que pode ser considerado crime. Além da intolerância religiosa, a homofobia também é infração prevista no Código Penal. A mesma folha traz itens conflitantes, já que a instituição trata a intolerância, o ódio, o racismo, a opressão e o autoritarismo como pecados.
Outros "pecados" listados pela igreja em questão, que não foi identificada pelo autor da postagem, citam questões subjetivas e pouco inteligíveis, como: "intelectualismo", "irreverência", "imprudência", "facção". Outros, adentram a intimidade dos fiéis. Segundo a lista, a religião não permite: pornografia (escrito como "pronografia"), sadomasoquismo, masturbação.
Os jogos de RPG, queridos entre o público jovem, jogados com folhas, tabuleiros e dados, simulando aventuras, são "jogos da morte", segundo a lista e estão no mesmo patamar do sexo com parentes, vício de álcool e drogas e sadismo. Pirataria, também não pode – como também prevê a lei.
À reportagem, a autora da postagem contou que a entrega da lista a um amigo seu ocorreu neste fim de semana em um retiro da igreja que a família dele frequenta. Procurado, o colega não quis dar detalhes sobre como o papel chegou às mãos do fiéis. "Era só pra ser um tweet inocente, não imaginávamos que ia tomar essas proporções", disse. Também publicou:
"Eu não quero que isso chegue nas pessoas da igreja da minha mãe, porque nem todos de lá tem culpa disso. Não quero estressar ninguém, nem trazer olhares tortos para as pessoas que me conhecem de lá. Por favor, tentem entender", disse o amigo.
Após a grande repercussão da lista, que foi parar nos trending topics do Twitter, ambos decidiram bloquear seus perfis e a publicação não está mais disponível.
'Quase gabaritamos'
Internautas repercutiram a postagem e brincaram com a situação. "Eu imprimi e pedi aos meus colegas de trabalho para preencher. Quase gabaritaram", escreveu um usuário. "Lesbianismo, ciúmes doentio, RPG, pirataria e horóscopo me quebrou demais", comentou outra conta.
Muitos usuários decidiram marcar a quantidade de "pecados cometidos" e comparar o número alcançado com o dos demais. Internautas também apontaram a intolerância religiosa presente em muitos dos pontos listados.
"O [tópico] sobre orixás foi intolerância religiosa", escreveu uma conta. "Calmaê, primeira comunhão e crisma é pecado? Da última vez que eu vi o código penal religioso, isso daí era pra ser feito por todos os fieis durante a adolescência" comentou outro usuário. Fonte: https://oglobo.globo.com
Líder da Universal, Edir Macedo critica Lula: 'Não deu nada à Igreja'
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Líder da Universal, Edir Macedo critica Lula: 'Não deu nada à Igreja'
Em vídeo divulgado em suas redes, líder religioso afirmou que o petista lhe "deve" por ter rezado por ele quando Lula estava com câncer
Por Luísa Marzullo — Rio de Janeiro
O bispo e fundador da igreja Universal, Edir Macedo, usou as redes sociais para criticar o presidente Lula (PT). Em vídeo divulgado nesta quinta-feira, o líder religioso afirmou que o petista não teria dedicado medidas ao setor evangélico, nem à Record TV, emissora de qual é proprietário.
— O Lula esteve oito anos no governo. Pergunta a ele o que ele me fez, o que ele me deu? O que ele me deu? O que ele deu à Igreja? O que ele deu à Record? Ele não deu nada, ele apenas fez o que ele tinha que fazer, assim como fez com as demais emissoras. Obviamente que pagou, honrou lá seus compromissos. Mas eu não devo nada ao Lula — criticou Macedo.
Em seguida, o religioso afirma que, na verdade, quem lhe deve é o petista. Na fala, ele relembra o diagnóstico de câncer na laringe que Lula recebeu em 2011, e cita o ex-presidente Bolsonaro, sem especificar qual questão de saúde resolveu do ex-aliado.
— Agora, ele me deve. Não a mim, mas a Deus. Mas obviamente Deus nos usou. Quando ele estava com câncer na garganta ele foi lá na Igreja falar comigo. Fechamos a sala. Fechei a porta. Impus as mãos sobre o pescoço dele e orei por ele. Eu orei pelo Lula. E ele ficou curado. Fez tratamento lá no Einstein (hospital em São Paulo) e ficou curado. O Bolsonaro é a mesma coisa. Quer dizer, eu fiz favor para ele. Ele não me fez favor nenhum. Oito anos que ele esteve lá e não fez favor nenhum para mim — finalizou.
Como noticiou o GLOBO nesta semana, o governo Lula tem feito acenos recentes à ala política da Universal, insuficientes para cavar proximidade com a igreja. Além da fala de Edir Macedo nesta quinta-feira, desde novembro do ano passado, após a derrota de Jair Bolsonaro, a Folha Universal — periódico de tiragem semanal — criticou o petista em ao menos sete ocasiões. Enquanto isso, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), mantém o posicionamento de que a sigla ligada à igreja não integrará a base governista. Fonte: https://oglobo.globo.com
Padre faz discurso antirracista em missa de homenagem a Marielle Franco: 'Pedido de justiça não é pedido de vingança'
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Durante a celebração, o padre Luciano Gomes chamou ao altar parentes da vereadora e do motorista Anderson Gomes, ativistas e parlamentares do PSOL e do PT
Por Jéssica Marques — Rio de Janeiro
Sentados nas duas primeiras fileiras da paróquia, à esquerda do altar da Igreja Nossa Senhora do Parto, no Centro do Rio, políticos do PT e PSOL, ativistas e familiares da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes — ambos assassinados em 14 de março de 2018— prestaram homenagens e pediram por justiça.
Na primeira fileira, a filha de Marielle, Luyara, e os pais, Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva Neto, acompanharam a celebração ao lado da viúva, vereadora Monica Benicio (PSOL). A família da vereadora estava próxima à de Anderson. A viúva do motorista, Agatha Arnaus, também acompanhou emocionada a celebração, vestindo uma camiseta que pedia justiça em nome do marido.
Ex-assessora de gabinete da parlamentar e agora deputada federal, Renata Souza, também compareceu e sentou-se um pouco mais afastada, à direita da igreja lotada de apoiadores, ao lado da vereadora Luciana Boiteux, ambas do PSOL.
A celebração da missa, na manhã desta terça-feira, foi mais um dos itinerários marcado pelo dia em memória da vereadora e começou logo após a inauguração do monumento "corte seco — Marielle", doado pelo artista Paulo Nazareth — onde a mãe, Marinete Silva, o pai, Antonio Francisco, e a ex-companheira a vereadora Mônica Benício, estavam presentes.
Luciano Borges, padre e defensor de políticas antirracistas, foi quem ficou a cargo de mediar a cerimônia. O sacerdote é amigo próximo da família de Marielle e responsável por celebrar todas as homilias sobre a parlamentar nesses cinco anos, desde que foi assassinada.
Enquanto discursava e dava procedimento a cerimônia eucarística, padre Julio direcionou sua fala a filha de Marielle, Luyara Santos, que emocionada fechou os olhos e orou. Atrás dela, estava a viúva de Anderson, Ágatha Arnaus, que também participou do momento. Para o sacerdote, a vereadora foi uma "mulher preta, pobre e periférica que se tornou símbolo dos direitos humanos, bandeira que tanto carregou durante seu mandato".
— Quanto mais humanos somos, mais divinos nos tornamos. Matou-se o corpo, mataram alguém muito especial. Mas seu legado será lembrando. Alguém que lutou pelo povo periférico. Pedido de justiça e não é pedido de vingança. A vingança não nos traz paz. A justiça traz leveza para a alma. Estamos de mãos dadas — disse o padre para o público presente.
Parlamentares no altar e pedido à Oxalá
Borges também rezou pelos parlamentares que foram prestigiar as homenagens a Marielle e Anderson. Em um momento solene, chamou ao altar os vereadores Edson Gomes (PT), Monica Cunha (PSOL), Monica Benício (PSOL), Luciana Boiteux (PSOL) e as deputadas Marina do MST (PT), Renata Souza (PSOL) e os ex-deputados Waldeck Carneiro e Mônica Francisco.
Ovacionado, aceitou as palmas e seguiu com as comemorações em memórias da parlamentar com o público ecoando ao fundo da igreja: "Marielle presente!".
— Saúdo a vocês (vereadores e deputadas) com um compromisso sério com a vida das pessoas. Compromisso com a periferia da cidade do Rio de Janeiro, com aqueles que estão, muitas vezes, colocados às margens da sociedade. Queremos justiça. Vingança, jamais — pontuou Borges.
Entre os presentes, estavam em sua maioria mulheres, jovens e ativistas dos direitos humanos, a diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, além de amigos e familiares das vítimas. O grito é, ao mesmo tempo, uma homenagem à recordação de quem dedicou boa parte da vida na luta contra as desigualdades.
Luciano Gomes não poupou elogios ao governo atual. Durante a missa, acenou à antiga colega de classe, irmã da Marielle e agora Ministra de Igualdade, Anielle Franco, que não esteve presente na cerimônia. Na ocasião, o padre em um ato inusitado, declarou sua preferência política ao presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo (PT-RJ), de quem é próximo. Freixo não compareceu à missa deste ano.
— Eu apoie o Freixo como candidato ao governo do Rio nas eleições passados e vou continuar apoiando nas eleições futuras. Ele é uma pessoa que eu admiro e acredito do trabalho que ele faz. A Marielle, de certo modo, vem do legado dele. Eu e a Arielle tivemos o Freixo como professor na Organização Social e Política do Brasil (OSPB). Então, nós queremos lembrar com alegria deste grande homem que será nosso governador do Estado do Rio de Janeiro, se Deus quiser — afirmou o padre.
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O sincretismo religioso entre o catolicismo e o candomblé também esteve presente na celebração. Emocionado, o padre fez questão de direcionar uma oração aos familiares da vereadora onde afirmou que "Oxalá, pede que em todos os momentos da vida sejamos orientados para o amor"
— Não à guerra e não à fome. Oxalá que sempre em tudo tenhamos a mão dele sobre nós. Uma socióloga (referindo-se à Marielle) buscou colocar em prática aquilo que aprendeu nos livros que levou para a sua comunidade, a Maré, o Rio de Janeiro e depois para o mundo.
A vereadora e viúva de Marielle, Monica Benício, também discursou. Ela afirmou que a falta de respostas sobre o mandante e a motivação do crime impede que as famílias e amigos vivam o luto em paz.
— Tem momentos políticos, que o estado nos obriga pelos cinco anos sem resposta sobre quem mandou matar Marielle. E momentos como esse, que o nosso luto deveria permitir, que é rememorar a saudade, mas não de um lugar violento, e sim de um lugar de vibrar muito amor e paz para Marielle e para o Anderson. Mas infelizmente, o estado brasileiro ao não responder, faz com que a gente precise não só revisitar as saudades, mas também revisitar a violência para seguir cobrando justiça para que nunca mais aconteça nada parecido — disse a parlamentar. Fonte: https://oglobo.globo.com
“CARTA PARA UM PADRE QUE SE SUICIDOU"
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Pe. Thiago Linhares - Diocese de Campos”
Olá, meu irmão, depois da notícia da sua morte alguns choraram, outros julgaram. Aliás, durante a vida já foi assim, né? Uns estão, permanecem, amam. Outros... deixa pra lá...
Muitos não estão entendendo por que um padre pode tirar a própria vida, talvez seja porque não compreendem que padre também é gente. Foi assim com você também né?
Lembra daquele dia que você chegou mal naquela reunião? É, ninguém percebeu.
Lembra daquela vez que você cancelou a missa porque não se sentia bem? É, quase ninguém compreendeu.
E aquela vez que você estava mais calado que o de costume? Alguém te perguntou se precisava de algo? Eu sei que não.
Por aqui continuam dizendo que todo mundo tem problemas. Mas os problemas de todo mundo eram seus, mas os seus não eram de quase ninguém.
Lembra aquele dia que você passou a manhã toda escutando? E daquela reunião de animação pastoral? Recorda quando você fez mais do que era sua obrigação fazer? É, ninguém notou que você não estava bem. Aliás, quase nunca imaginam que podemos não estar bem, talvez porque esquecem que padre também é gente.
Por aqui andam dizendo nos bastidores que padre não é coitadinho e que muitos pais de família são exigidos da mesma forma, e é verdade. Só que para este as exigências são de 10 pessoas no máximo. Mas sobre você pesaram as exigências de uma comunidade inteira, e mais as da sua família, e mais as da Mitra Diocesana e mais as suas próprias... É, ninguém
considerou.
Nenhum padre é coitadinho. A gente só é gente, e a obscuridade da vida também chega para nós. Como chegou para você, e você não suportou.
Perdão, meu irmão, pelas vezes que suas dores visíveis se tornaram invisíveis. Ninguém as viu. Ou se viram, passaram adiante. Eu sei que pesa o fato de acharem que somos sempre uma rocha, mas fique em paz, rocha também se quebra.
Você se foi, mas que seu destino continue a gritar: Padre também é gente!
Por aqui seguimos pedindo misericórdia por ti e por nós!
Em Cristo, seus irmãos padres, “gente como você!”
Lágrimas e emoção na despedida ao Padre Douglas.
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Lágrimas, emoção e manifestações de carinho marcaram o velório e o sepultamento do Padre Douglas Ferreira Leite na última sexta-feira, 10/03.
O velório teve início volta de 1h30 dentro da Igreja Matriz da Paróquia Santa Bárbara em Fervedouro. Logo pela manhã, foi celebrada uma missa com a presença dos paroquianos que eram pastoreados pelo Pe. Douglas e cerca de 24 padres da Diocese de Caratinga e Dioceses irmãs que se comoveram e solidarizaram com a partida do padre.
Na manhã da sexta-feira (10), após a missa o féretro partiu da Paróquia de Santa Bárbara em Fervedouro com destino a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Conceição de Ipanema, sua terra natal onde o padre foi sepultado.
Após a última missa em sua homenagem, celebrada pelo bispo diocesano Dom Emanuel Messias de Oliveira e diversos padres da diocese de Caratinga, houve também o carinho dos fiéis para com o padre e seus familiares.
Quando um padre se vai, todos nós perdemos, perdemos um amigo, um conselheiro, um mensageiro da Palavra, uma dor imensurável para seu rebanho, seus amigos e também para sua família. O seu pai, senhor José Cristóvão se fez forte e levou todos a se emocionar, com lágrimas no rosto agradecendo a Deus, pois seu filho realizou dois grandes sonhos: “ser padre e comprar um fusca”.
Padre Douglas partiu jovem, deixando no coração de todos aqueles com quem conviveu seus ensinamentos, seu sorriso largo e seu amor pela Igreja.
Histórico
Natural de Conceição de Ipanema, no Vale do Rio Doce, o Padre Douglas Ferreira Leite nasceu em 23 de dezembro de 1987, filho de José Cristóvão Teixeira Leite e Maria Lucia Ferreira Leite.
O sacerdote foi ordenado em agosto de 2021 pelo bispo Dom Emanuel Messias de Oliveira e foi o primeiro vigário na Paróquia de Santa Bárbara, em Fervedouro, pertencente à Diocese de Caratinga, onde estava por apenas 4 meses.
Colaboração - Texto – Gicélia e Cainan – Pascom Diocesana / Fotos - Neuza Santos e José Carlos – Paróquia Santa Bárbara / Jéssica - Pascom Simonésia (Fotos Conceição de Ipanema). Fonte: https://www.portalcaparao.com.br
Dez anos de Francisco, o papa que renovou a Igreja Católica
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Argentino incomodou conservadores com discurso progressista e defesa dos mais pobres
Por Bernardo Mello Franco
O primeiro papa latino-americano vai completar dez anos no trono de São Pedro. Em março de 2013, o argentino Jorge Mario Bergoglio não aparecia nas listas de favoritos para a sucessão de Bento XVI. Sua eleição foi tão surpreendente quanto as transformações que ele promoveria na Igreja.
“A escolha do nome Francisco foi uma senha. Ali começou a mudar tudo”, resume o padre Julio Lancellotti, que não conteve as lágrimas quando assistiu ao anúncio do papa na TV.
Na primeira aparição pública, o pontífice chamou a atenção pela simplicidade. Dispensou o crucifixo de ouro e a estola vermelha usada pelos antecessores. Três dias depois, ele lembrou São Francisco de Assis e disse desejar “uma Igreja pobre e para os pobres”.
“O papa é radicalmente fiel ao Evangelho e aos ensinamentos de Jesus. Ele é uma pessoa verdadeiramente cristã. Não gosta de insígnias nem de bajulação”, elogia o padre Lancellotti, que coordena a Pastoral do Povo da Rua em São Paulo.
Francisco surpreendeu a Cúria ao abrir mão de mordomias e privilégios. Ao fim do conclave, fez questão de ir ao hotel onde se hospedava para buscar as malas e pagar as despesas. Há poucos meses, ele lamentou não poder mais usar o transporte público, como fazia até os tempos de cardeal. “Em Buenos Aires, eu era muito livre. Gostava de ver como as pessoas se locomoviam”, justificou.
A mudança de estilo foi acompanhada por declarações contundentes contra a desigualdade. O papa não perde uma chance de condenar a concentração da riqueza. “O mercado por si só não pode resolver todos os problemas, por mais que nos façam acreditar nesse dogma da fé neoliberal”, escreveu, na encíclica “Todos irmãos”.
O inconformismo o transformou em alvo de setores da direita, que passaram a tratá-lo como um perigoso subversivo. Quando Francisco criticou a destruição da Amazônia e saiu em defesa dos povos indígenas, o então presidente Jair Bolsonaro resolveu provocá-lo. Disse que o papa poderia ser argentino, mas Deus era brasileiro.
“Bolsonaro não foi ao Vaticano nem para a canonização de Santa Dulce dos Pobres, a primeira santa nascida no Brasil. Acho que ele não teve coragem de olhar nos olhos do papa”, critica Lancellotti.
No auge da pandemia, o padre recebeu ataques enquanto atendia a população de rua. Em outubro de 2020, foi surpreendido com um telefonema do papa, que elogiou sua dedicação aos sem-teto. Mais tarde, no Vaticano, Francisco se referiu a ele como “mensageiro de Deus”.
“Quando reconheci a voz do papa, meu coração disparou”, contou Lancellotti na sexta-feira. Horas antes de conversar com a coluna, ele voltou a receber ameaças. Um homem interrompeu sua missa aos gritos, acusando-o de “sustentar vagabundos”.
A defesa dos mais pobres não é a única explicação para o incômodo com Francisco. O papa também se notabilizou por posições consideradas progressistas em temas como aborto, homossexualidade, divórcio e celibato de sacerdotes. Mesmo sem revisar os dogmas da Igreja, despertou a ira de alas mais conservadoras do catolicismo.
Aos 86 anos, Francisco tem enfrentado problemas de mobilidade, mas não dá sinais de que vá renunciar. Numa entrevista recente, ele avisou que governa com a cabeça, não com os joelhos. “Posso morrer amanhã, mas está tudo sob controle”, brincou. Fonte: https://oglobo.globo.com
Papa Francisco exerceu diplomacia fluida em seus 10 anos à frente da Igreja
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Pontífice causou alguns curtos-circuitos com abordagem mais pessoal de assuntos da geopolítica
Papa Francisco acena para multidão do papamóvel ao chegar a missa em Nairóbi, no Quênia - Thomas Mukoya - 26.nov.15/Reuters
MILÃO (ITÁLIA)
De um lado, um dos pontífices mais comunicativos da Igreja moderna. De outro, uma máquina diplomática que tenta realizar seu trabalho por meio de ações contínuas e cuidadosas. Às vezes, essas duas forças agem juntas no papa Francisco, em nome do objetivo maior de favorecer o diálogo e a busca pela paz. Em outras, apesar de suas boas intenções, resultam em curto-circuitos.
Um desses desencontros aconteceu em torno de um dos temas mais enroscados da geopolítica atual, a Guerra da Ucrânia. Em abril do ano passado, poucas semanas após a invasão do Exército de Vladimir Putin ao país vizinho, o Vaticano convidou para o rito da via-crúcis, na Sexta-Feira Santa, uma mulher ucraniana e outra russa, que seguraram juntas, lado a lado, a cruz em parte do percurso que simboliza o caminho de Jesus à sua crucificação.
A ideia foi levada adiante apesar de queixas públicas nos dias anteriores à celebração, manifestadas tanto pelo embaixador de Kiev junto à Santa Sé, quanto pelo arcebispo da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que considerou a cena "inoportuna". Um incidente diplomático que resultou do esforço de equidistância praticado naquele momento pelo papa Francisco.
"Havia um sentimento de perda por parte da Ucrânia, e a escolha do papa pareceu uma reconciliação imposta. E uma reconciliação pode ser um problema para quem está sofrendo uma guerra", comenta Andrea Gagliarducci, vaticanista da rede americana Catholic News Agency e da agência italiana ACI Stampa.
O episódio mostra como a diplomacia do papa Francisco tem sido caracterizada pela fluidez em sua década à frente da Igreja Católica, completada nesta segunda-feira (13). "Ele tem uma abordagem muito pessoal, mais que diplomática. E quando algo se baseia em um relacionamento pessoal, ele muda de acordo com as circunstâncias", afirma.
A diplomacia do papa é fluida também porque esse modo de agir do argentino acontece simultaneamente ao trabalho tradicional, com conversas e visitas calculadas, chefiado pela secretaria de Relações Exteriores do Vaticano, hoje a cargo do britânico Paul Gallagher. "No fim, é preciso entender como essas duas coisas se combinam. Não há uma linha a seguir precisa, a diretriz é o instinto do papa", diz Gagliarducci.
Ao longo dos meses, Francisco foi deixando de lado a equidistância em relação ao conflito, ao condenar com cada vez mais ênfase a guerra "absurda e cruel", ainda que tentando oferecer uma porta aberta a Putin. Em diversas ocasiões, manifestou disposição de viajar a Kiev e a Moscou para atuar como mediador, o que não tem perspectivas para acontecer. O problema, diz Gagliarducci, é que a mediação da Santa Sé não pode ser imposta. "Ela se oferece somente quando solicitada. E, para a Rússia, ainda não é o momento", afirma o vaticanista.
A busca pelo diálogo e a manutenção de pontes, seja entre o Vaticano e outros países, seja entre as próprias nações, é exercida por Francisco também por meio de suas viagens internacionais. Primeiro pontífice nascido fora da Europa depois de 13 séculos, o argentino deslocou o eixo dos destinos papais para países mais distantes de Roma, com especial atenção para Ásia e África.
Das 40 viagens já realizadas, 16 foram dentro do continente europeu, 11 para o asiático, oito para o americano e cinco para o africano. Com média de quatro partidas internacionais por ano –considerando a interrupção de 2020, em razão da pandemia–, ele supera seu antecessor, Bento 16, com três viagens por ano, sendo 17 de 24 para o continente europeu. O ritmo se aproxima, porém, do de João Paulo 2º, que fez 104 viagens, bem distribuídas pelo globo, ao longo de 26 anos de papado.
Pesam questões de saúde na comparação com Bento 16, mas as escolhas do argentino de ir a lugares mais remotos, como Mianmar, onde quase 90% da população é budista, refletem sua ideia de igreja. Mesmo na Europa, nunca foi a grandes católicos como França e Espanha, preferindo Bulgária e Romênia. "O papa é atento àquilo que acontece nas periferias, porque fala de uma 'Igreja em saída'", afirma Matteo Cantori, professor de história das relações entre Estado e Igreja da Universidade Niccolò Cusano, em Roma.
Presente na primeira exortação apostólica de Francisco, em novembro de 2013, a expressão "Igreja em saída" é um dos fundamentos do seu pontificado. Significa uma Igreja de portas abertas para todos, mas também missionária e proativa para ir ao encontro das pessoas, menos voltada para si própria. "Sua diplomacia deu muitos passos à frente. Ela olha para o futuro e não só dentro de determinadas fronteiras. Dá voz para quem não a tem, incluindo não-católicos e não-cristãos", diz Cantori.
Entre os momentos mais marcantes de suas viagens, estão a missa realizada no México, em 2016, na fronteira com os Estados Unidos, ponto simbólico pela imigração, a ida à ilha grega de Lesbos, no mesmo ano, que concentra campos de refugiados, e a recente visita à República Democrática do Congo, onde ouviu vítimas de violência do conflito local que se arrasta por décadas.
Em 2016, foi histórico o encontro, em Cuba, entre o papa e Cirilo, o líder da Igreja Ortodoxa Russa.
Além da Guerra da Ucrânia, restam ao menos dois outros pontos que testam a diplomacia do papa. O relacionamento com a China, com quem a Santa Sé não têm relações formais, ao mesmo tempo em que o Vaticano reconhece Taiwan diplomaticamente.
Foi no papado de Francisco, em 2018, que foi assinado um contestado acordo com Pequim sobre a nomeação de bispos, renovado novamente em outubro. O tratado buscava aliviar uma divisão de longa data entre a igreja oficial, apoiada pelo Estado chinês, e um rebanho clandestino leal ao Vaticano. Foi a primeira vez desde a década de 1950 no país asiático que ambos os lados reconheceram o papa como líder supremo da Igreja Católica.
Mais urgente, porém, é a crise com a Nicarágua, onde religiosos foram presos e instituições ligadas à igreja, como universidade e a Cáritas, foram nos últimos dias banidas pela ditadura de Daniel Ortega. "É uma situação de ataque à igreja muito forte. Ali, o problema é que é impossível o diálogo", diz o vaticanista Gagliarducci. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
3º Domingo da Quaresma: sede de deus
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ÁGUA PARA QUEM TEM SEDE
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
No Evangelho de João (4, 5-42), encontra-se o famoso diálogo de Jesus com uma mulher samaritana, à beira do poço de Jacó. Falando das coisas da vida, como tirar água do poço, Jesus vai fazendo a mulher entender que é preciso buscar uma água que sacie toda a sede humana. Temos sede de vida, de sentido, de ética.
Jesus, como bom Mestre, vai conduzindo uma conversa que parecia impossível. Os samaritanos eram discriminados pelos judeus porque haviam se casado com povos não judeus e acabaram adquirindo costumes estranhos e diferentes dos galileus e dos judeus. Quem conversasse ou tivesse contato com um samaritano seria considerado impuro.
O encontro se realiza diante de uma fonte de água. Esse era um lugar de encontros, conversas e de proximidade entre as pessoas que iam buscar água. O horário era meio-dia, o sol estava quente e Jesus, cansado pela viagem.
Quando a mulher chega, Jesus lhe pede de beber, expressão de quem tem sede, mas não é de água. Ele quer ser acolhido para ele mesmo matar a sede que existe em todo coração humano. Jesus inicia o diálogo com aquela mulher sem acusar seus erros e pecados, não trata do sentimento de culpa e fracassos de sua vida. Ele se aproxima e pede algo que ela pode oferecer.
A mulher se espanta, pois seria muito estranho um judeu usar o mesmo jarro (copo ou balde) de um samaritano. Ele ficaria impuro! Entre Jesus e a mulher existem barreiras culturais que parecem muros intransponíveis. Jesus a provoca dizendo: “Se conhecesses o dom de Deus!” Ele mostra a ela que todo ser humano tem sede de felicidade, mas muitas vezes se engana em buscas e encontros.
Jesus fala à mulher de uma água viva que ele conhece. Ela, porém, pensa somente na água material e pergunta-lhe como ele tiraria essa água do poço. Jesus, então, revela para aquela estrangeira a verdadeira água da vida que somente ele pode dar. Contrária à atitude da mulher que não quer dar de beber a Jesus, o Mestre oferece, gratuitamente, sua água que é, na realidade, o Dom de si mesmo.
A mulher fica interessada pela água que Jesus revela. Então, ela passa a pedir água a Jesus. Era isto que Jesus queria: despertar seu interesse pela água viva. No fundo, essa mulher, como todo ser humano, tem sede de Deus.
De repente, porém, Jesus, aparentemente, muda de assunto: pede que ela chame o seu marido. Jesus quer fazê-la descobrir que ela procura um amor e não encontra, por isso teve muitos maridos e muitos ídolos, mas não tem um amor verdadeiro. A mulher se envergonha da situação. Jesus a coloca diante da realidade de sua existência marcada por buscas e fracassos. A samaritana teve diversos maridos que a seduziram e depois a abandonaram. Ela confiou neles, mas foi traída. Os vários maridos apontam para as várias realidades nas quais ela acreditou, mas não encontrou o que procurava.
A mulher atesta que também ela espera o Messias que virá. E aqui está uma surpresa: Jesus se revela como o Messias. Sou Eu. É o ponto alto do encontro entre Jesus e a mulher. A samaritana está ouvindo a própria palavra feita carne que lhe fala. A verdadeira sede é saciada quando a verdade revelada não oprime o ser humano, mas revela seus desvios e erros, propondo caminhos novos. Todos temos sede, muitas vezes buscamos saciá-la em descaminhos da vida. Quaresma é tempo de repensar o estilo de vida que estamos levando, buscando a fonte da água vida. Só Jesus sacia nossa sede! Fonte: https://www.cnbb.org.br
Dez anos de pontificado – no jeito de Francisco
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Francisco passou a reformar a Igreja, nem tanto nas doutrinas e estruturas, mas a partir de dentro, no espírito que a animava
Dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, escreve mensalmente na seção Espaço Aberto
Há dez anos, no dia 13 de março de 2013, acontecia a eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, ao cargo de bispo de Roma e papa de toda a Igreja Católica Apostólica Romana. Já era noite e a chuva fina e fria não impediu que uma multidão acorresse à Praça de São Pedro, no Vaticano, para conhecer o novo papa, ouvir suas primeiras palavras e receber sua bênção.
Eram grandes as expectativas por mudanças no Vaticano e à frente da Igreja inteira. A maioria das pessoas, porém, não teria imaginado tantas e tão grandes surpresas em pouco tempo: um primeiro papa jesuíta, um papa não europeu depois de muitos séculos, um papa latino-americano, argentino! Não menos surpreendeu o nome escolhido, pois nunca houve, antes, um papa Francisco. E, em vez de morar nos aposentos do palácio apostólico, como seus predecessores, ele se recolheu num pequeno apartamento da Casa Santa Marta, que serve também para outros moradores estáveis e hóspedes de passagem.
As mudanças, porém, não ficaram apenas em aspectos simbólicos, mas foram aparecendo nas suas palavras, seus gestos e decisões. Francisco passou a reformar a Igreja, nem tanto nas doutrinas e estruturas, mas a partir de dentro, no espírito que a animava. Escolheu um conselho de cardeais que encarregou de pensar, com ele, a reforma da Cúria romana, estrutura de organismos que cercam o papa e o auxiliam no governo da Igreja. Desde logo, falou que gostaria de ver uma Igreja próxima das pessoas, de suas lutas, seus sofrimentos e angústias. Comparou-a com um hospital de campo em tempos de guerra, que está no lugar onde há feridos, para os socorrer. Desafiou toda a Igreja a não se voltar apenas para si mesma, mas a sair ao encontro do povo, como “Igreja em saída missionária”. E criticou a imagem da Igreja como instituição clerical, recordando que ela é povo de Deus e comunidade de todos os que acolhem a fé eclesial e recebem o batismo. Por isso, Francisco passou a acenar, desde o começo do seu pontificado, para a sinodalidade eclesial, qualidade que implica a união e a participação de todos os membros na vida e missão da Igreja.
Suas atenções não se voltaram apenas para a própria instituição eclesial. Francisco está preocupado com os pobres e todo tipo de pessoas que sofrem. Por isso, ele tem feito gestos simbólicos e tomado iniciativas concretas em relação aos migrantes que, depois de passarem toda sorte de agruras nos seus lugares de origem, acabam sendo explorados por modernos traficantes de escravos e chegam às portas dos países ricos, sem serem acolhidos. O papa tem se preocupado com os grupos periféricos, todas as pessoas descartadas pelos preconceitos mais diversos e por sistemas e projetos econômicos, que priorizam mais o lucro e a acumulação do que a partilha. Faz insistentes e quase solitários apelos pela paz e a solução das guerras e conflitos mediante o diálogo e a negociação justa. Faz questão de visitar países e lugares periféricos, para destacar a dignidade de todos e levar palavras de ânimo às populações esquecidas.
Francisco busca o entendimento e a fraternidade entre todos. Nesse sentido, ele tem procurado aproximar adversários em torno da mesa do diálogo, partindo do princípio de que qualquer solução conseguida mediante o diálogo sincero e paciente é melhor que uma batalha vencida na guerra. Com frequência, volta ao argumento da fraternidade universal de todos os povos, ensinando que a humanidade, apesar de suas diferenças étnicas, raciais, culturais, sociais ou religiosas, é uma única família, onde todos têm a mesma dignidade e os mesmos direitos fundamentais. Para prevenir ou solucionar conflitos, é necessário, portanto, desenvolver e aprofundar laços fraternos efetivos entre todos os membros da grande família humana. Nesse sentido, Francisco promove o diálogo com outras religiões, partindo do princípio de que, antes mesmo das crenças e tradições religiosas, existe a base humana comum a todos os praticantes de religião, ou não praticantes, que deve ser valorizada. Além disso, a adoração de Deus não pode ser dissociada do interesse sincero pelas demais pessoas, que também são filhas de Deus.
Nos dez anos do pontificado de Francisco, cresceu a atenção da Igreja pelas questões ambientais. Não foi por opção ideológica, mas partindo do pressuposto de que o mundo não existe apenas para poucos nem para poucas gerações: o planeta Terra e o universo inteiro são a “casa comum” da grande família humana e seu cuidado está nas mãos do homem. Portanto, cabe-nos usufruir dos bens deste mundo para a existência digna de todos os seus habitantes. Não é justo que alguns vivam na superabundância, enquanto outros vivam na miséria. Ao mesmo tempo, cabe-nos zelar para que nossa habitação transitória não seja arruinada e permaneça acolhedora para todos os seus habitantes, presentes e futuros. Zelar bem pela casa comum é questão de justiça, amor ao próximo e respeito a Deus.
*CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO Fonte: www.estadao.com.br
Jesus e a Samaritana- Roteiro para reflexão e oração em Grupo: A Pedagogia de Jesus torna transparentes as coisas da vida
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Frei Carlos Mesters, O. Carm
1- Abertura
Acolher as pessoas, invocar o Espírito Santo com uma prece ou um canto. Um momento e silêncio
2- Objetivo:
Aprender como tornar transparente a vida para que ela nos revele algo de Deus. Baseando-se no que a Samaritana e os discípulos já sabem ou vivem, Jesus procura ajudá-los a perceber uma dimensão mais profunda nas coisas da vida, por exemplo, na água.
3- Chave:
Durante a leitura, vamos prestar atenção na maneira como Jesus ajuda as pessoas a passar do visível e palpável para a percepção da presença invisível de Deus.
4- TEXTO: João 4,1-42
Depois da leitura um momento de silêncio
5- Perguntas:
1- Como Jesus faz para que a Samaritana chegue a perceber que, dentro dela, existe uma fonte de água viva? Como faz para passar do sentido material e real da água para o sentido simbólico?
2- O que mais chamou a sua atenção na pedagogia de Jesus? Por que?
3- Onde, no Antigo Testamento, a água é associada ao dom da vida e ao dom do Espírito?
4- Em que pontos a pedagogia de Jesus nos questiona, provoca ou critica?
6- Preces: Transformar o texto em preces espontâneas
7- Salmo 120: “Por meus irmãos e amigos eu lhe desejo: A Paz esteja com você!”
Subsídios:
1-Jesus encontra a Samaritana perto do poço, o lugar tradicional de encontros e de conversas. Ele parte da necessidade bem concreta da sua própria sede e faz a mulher sentir-se necessária e servidora. Pela pergunta de Jesus ela descobre que Jesus precisa dela para ele poder resolver o problema da sua sede. Jesus desperta nela o gosto de ajudar e de servir.
2- Jesus usa a palavra água, ao mesmo tempo, nos dois sentidos: o sentido material, normal, da água que mata a sede, e o sentido simbólico da água como fonte de vida e dom do Espírito. Ou seja, Jesus usa uma linguagem que as pessoas entendem, mas, ao mesmo tempo, desperta nelas a vontade de aprofundar e de descobrir um sentido mais profunda nas coisas da vida.
3- O uso simbólico da água tem raiz na vida, na história e na tradição do povo. Jesus conhece as tradições do seu povo e nelas se apoia na conversa com a Samaritana. Sugerindo o sentido simbólico da água, ela evoca nela o Antigo Testamento, onde é frequente a mística da água como símbolo da ação de Deus nas pessoas. Jeremias, por exemplo, opõe a água viva da fonte à água de cisterna (Jr 2,13). Cisterna, quanto mais água você tira, tanto menos água terá. Fonte, quanto mais água você tira tanto mais água terá. Outros textos do Antigo Testamento: Is 12,3; 49,10; 55,1; Ez 47,1-3, etc.
4- O diálogo tem dois níveis.
1- O nível da superfície, do sentido material da água que mata a sede das pessoas. Neste nível, a conversa é tensa, e não tem continuidade. Quem acaba levando vantagem é a Samaritana, pois Jesus não conseguiu entrada na vida dela por esta porta.
2- O nível da profundidade, do sentido simbólico da água como imagem da vida nova trazida por Jesus. Neste nível, a conversa tem uma continuidade perfeita. Depois de ter revelado que ele mesmo, Jesus, é a vida nova, ele diz: “Vá, chama teu marido, e volta aqui!”(16). Pois Jesus é o verdadeiro marido que vem trazer a vida nova para a mulher que buscou a vida toda e até agora não tinha encontrado. Além disso, se o povo aceitar Jesus como “noivo”, terá acesso a Deus em qualquer lugar que seja, contanto que seja em espírito e verdade(23-24).
5- Jesus declarou sua sede, mas ele não chegou a beber. Sinal de que sua sede era simbólica. Tinha a ver com a sua missão. É sede que continua nele, a vida inteira, até à morte. Na Cruz, na hora de morrer, ele diz: “Tenho sede!”(Jo 19,28) Declarada sua sede pela última vez, ele pôde dizer: “Está tudo consumado!” (Jo 19,30) Realizou sua missão.
Aos gritos, homem interrompe missa celebrada pelo padre Julio Lancellotti
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Segundo o sacerdote, o invasor proferiu insultos por causa da pastoral de rua, fez ameaças e jogou o celular contra ele e os fiéis.
Por Louise Queiroga — Rio de Janeiro
Um homem entrou na igreja onde o padre Júlio Lancellotti celebrava uma missa na manhã desta sexta-feira (10) e interrompeu a celebração. Em dado momento, o invasor disse: "ah, vai sustentar vagabundo". Ele tinha como alvo a campanha de distribuição de alimentos a pessoas vulneráveis.
"Este morador da Moóca, hoje, invadiu a igreja interrompeu a missa aos gritos e me insultou por causa da pastoral de rua. Jogou o celular contra nós e proferiu ameaças", postou o sacerdote em rede social.
Segundo o padre, o autor das ameaças ainda voltou a lhe fazer provocações, já do lado de fora da igreja, depois da interrupção da missa. Ele criticava de forma exaltada as ações sociais que a comunidade da igreja realiza para as pessoas em situação de rua da região. Mais cedo, padre Julio havia realizado uma distribuição de alimentos num centro comunitário.
O ativista de direitos humanos Lucas Louback também fez uma postagem sobre o caso e apresentou mais detalhes. Lucas relatou que a invasão ocorreu no sacramento da Eucaristia, um momento importante da missa em que o sacerdote promove a transfiguração do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus Cristo, em memória de sua morte e ressureição, conforme ditam os dogmas do catolicismo.
"O padre é muito bom", disse uma das pessoas ajudadas, em vídeo publicado nesta sexta-feira.
"Durante o momento da Eucaristia celebrada pelo padre Júlio Lancelotti um homem interrompeu a violentamente missa. Isso ocorreu minutos antes a distribuição do café para população em situação de rua e vulnerabilidade", relatou Lucas.
O autor do post definiu a situação como "aporofobia". E explicou: "o ódio do homem era contra a população de rua e ao padre por ajudá-los", acrescentando que tal sentimento foi "direcionado a pessoas e a caridade e não ao que gera esse quadro".
Ao GLOBO, Lucas explicou que o invasor parecia querer culpar o padre pelo aumento da população de rua nas redondezas. O homem ainda teria atribuído ao religioso a responsabilidade pela suposta presença de tráfico de drogas no bairro. Segundo o ativista, a principal mensagem que ele passou, atrelada a uma série de preconceitos e proferida repetidamente, foi chamar as pessoas vulneráveis de "vagabundas" e "bandidas".
Essa não foi a primeira vez que o padre foi alvo de intolerância. Em dezembro de 2022, ele postou uma foto nas redes sociais segurando a imagem de um menino Jesus negro, diante da celebração do Natal. Lancellotti acabou recebendo críticas por causa da cor da pele do bebê na escultura. O religioso foi acusado de promover uma “militância”, "lacrar" e tentar “mudar a história”. Ao GLOBO, ele disse acreditar que o episódio pode ser entendido como um retrato do preconceito racial muito presente no país.
Numa entrevista anterior, feita em 2021, Lancellotti destacou que a manifestação de ódio aos pobres não é uma novidade.
— [Esse sentimento] Sempre existiu, mas aumenta na proporção em que aumenta a população de rua. Na Europa, eclodiu com o movimento dos refugiados e o termo foi cunhado pela filósofa Adela Cortina. É importante nominar um fenômeno que tem sido muito vivenciado aqui — afirmou na ocasião.
Com mais de 1,3 milhão de seguidores no Instagram e vinculado à Arquidiocese de São Paulo, o padre é conhecido por suas iniciativas de caridade. Nas redes sociais, ele mostra o trabalho que executa. Fonte: https://oglobo.globo.com
Polícia confirma autoextermínio de padre encontrado morto após desaparecer
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O corpo do padre foi localizado ontem em uma mata de Miradouro (Reprodução//Redes sociais)
O padre Douglas Ferreira Leite, que estava desaparecido desde a manhã de terça-feira (7) e foi encontrado morto ontem (9) a tarde, cometeu autoexteríminio. A informação foi confirmada nesta sexta-feira (10) pela Polícia Civil, que ainda investiga as circunstâncias da morte.
“A Polícia Civil confirma que o padre, de 35 anos, encontrado morto nessa quinta (9), em Miradouro, foi vítima de suicídio. O desaparecimento ocorreu nessa terça (7) em Fervedouro. As investigações prosseguem para completa elucidação dos fatos”, informou a corporação.
O corpo do padre foi localizado ontem em uma mata de Miradouro. O delegado Glaydson Ferreira, que comanda as investigações, diz que há a suspeita de que o líder religioso estivesse sendo vítima de extorsão.
“O que poderia ser a motivação estamos ainda investigando, mas tomamos conhecimento de que o padre, dias antes do sumiço, teria pegado quantias em dinheiro emprestado o que poderia levar a crer que ele estaria sendo extorquido ou outro delito”, disse.
Diocese lamenta a morte
Douglas saiu de Fervedouro, na Zona da Mata, por volta de 10h30 na terça-feira. Ele e outro padre viajaram com destino a São Francisco do Glória, cidade a pouco mais de 9 quilômetros de onde saíram.
Segundo a polícia, a vítima teria almoçado no local e não foi mais visto. O corpo dele foi encontrado na tarde de ontem, no município de Miradouro, a 22 quilômetros de Fervedouro.
Douglas Ferreira Leite, de 35 anos, fazia parte da comunidade da paróquia de Santa Bárbara, no município de Fervedouro, na Zona da Mata mineira. Em nota, a diocese de Caratinga lamentou a morte.
Onde conseguir ajuda?
Especialistas em saúde mental reforçam a necessidade de busca por ajuda em momentos difíceis, já que todos nós estamos sujeitos a enfrentar questões que nos atordoam e causam sofrimento. Por isso, a mensagem é: você não está sozinho (a).
Ligações para o CVV (Centro de Valorização da Vida) são gratuitas em todo o país. Por meio do telefone 188, pessoas que sofrem de ansiedade, depressão ou que correm risco de cometer suicídio conversam com voluntários da instituição e são aconselhados. A assistência também é prestada pessoalmente, por e-mail ou chat.
Chat de atendimento (clique aqui)
Ligue 188
Por e-mail (clique aqui)
Presencialmente (veja os postos de atendimento aqui)
Além do CVV, também existem no Brasil os Caps (Centros de Atenção Psicossocial). Trata-se de um serviço aberto constituído por uma equipe multiprofissional, que atua interdisciplinarmente no atendimento a pessoas com sofrimento ou transtorno mental.
*Larissa Reis Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.
Fonte: https://bhaz.com.br
Padre foi extorquido por golpistas antes de se matar em MG, diz polícia; sacerdote pediu R$ 9 mil a amigos
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Corpo de Douglas Ferreira Leita, de 35 anos, será sepultado na tarde desta sexta-feira em Conceição de Ipanema, sua cidade natal. Morte gerou comoção de fiéis e colegas de clero
Por Arthur Leal
Padre Douglas, durante cerimônia da Diocese de Caratinga (MG). Sacerdote foi achado morto e pode ter sido vítima de golpistas Reprodução
A Polícia Civil de Minas Gerais já sabe que o padre Douglas Ferreira Leite, de 35 anos, se matou após ter sofrido uma tentativa de extorsão de "golpistas profissionais". Por enquanto, nenhum suspeito foi identificado, mas as investigações continuam. O corpo do sacerdote foi encontrado nesta quinta-feira, na cidade de Miradouro, com sinais de enforcamento, dois dias após seu desaparecimento ter sido registrado na delegacia. Poucas horas antes de morrer, ele havia pedido dinheiro emprestado a dois amigos, nos valores de R$ 5 e R$ 4 mil, sem dar maiores explicações, e apresentava comportamento estranho.
— Ele pegou dinheiro com duas pessoas, que já identificamos, em valores aproximados de R$ 5 e R$ 4 mil e estava sendo extorquido. Temos essa confirmação, mas ainda não podemos revelar muitos detalhes — revelou ao GLOBO o delegado Glaydson Ferreira, à frente do caso. — Seriam golpistas profissionais, o que dificulta a identificação.
O corpo do padre Douglas foi liberado ainda nesta quinta-feira pelo Instituto Médico Legal e o velório começou à meia-noite na Paróquia de Santa Bárbara, em Fervedouro (MG), sob forte emoção de fiéis. Uma missa foi realizada no início da manhã, às 7h, e às 15h ele será sepultado em Conceição de Ipanema, sua cidade natal, para onde está sendo levado em cortejo. Antes, às 13h, a Diocese de Caratinga realiza missa de exéquias.
Em nota publicada nesta quinta-feira, a Polícia Civil afirmou que o corpo do padre, cujo desaparecimento foi registrado dois dias antes, em Fervedouro, foi localizado em Miradouro. Em vídeo, o delegado Glaydson narrou o que se sabe até agora. Segundo ele, nenhuma linha de investigação é descartada por enquanto.
— Na quarta-feira, por volta de 19h30, nós fomos informados do desaparecimento do padre Douglas e imediatamente comparecemos ao local. Iniciamos as investigações, onde verificamos que o padre, na terça-feira, por volta de 10h30, saiu da cidade de Fervedouro, juntamente com seu amigo, também padre, em direção a São Francisco do Glória. A princípio, teriam almoçado no local e ele, por volta de 11h45, teria retornado de carro, sentido a Fervedouro, não sendo mais visto — conta o delegado. — Iniciamos investigações com a finalidade de localizar o corpo e, durante diligências, verificamos que estava justamente em um lugar próximo de onde o veículo que o padre utilizava foi abandonado, na cidade de Miradouro, próximo a um restaurante.
O investigador confirma que uma das possibilidades é de que o padre tenha sido vítima de extorsão antes de seu assassinato.
— O que poderia ter gerado a motivação nós ainda estamos investigando, mas tomamos conhecimento de que o padre, dias antes de seu sumiço, teria pegado quantias em dinheiro emprestadas, o que poderia levar a crer que ele estaria sendo extorquido ou outro delito — concluiu.
Dinheiro emprestado
A reportagem conversou com o padre Agrimaldo José Teixeira, da Paróquia São Francisco de Assis. Ele disse que, da última vez em que o padre Douglas foi visto, ele havia pedido dinheiro emprestado a um outro padre amigo, e estaria preocupado em pagar uma terceira pessoa que estaria cobrando esta quantia dele.
— O padre Fernando esteve com ele na terça-feira pela manhã e almoçou com ele. Foi depois desse almoço que ele sumiu. Ele comentou comigo que notou que ele estava um pouco estranho, preocupado, e disse que depois explicaria tudo — conta o padre Agrimaldo. — Como eles eram muito amigos, eram da mesma cidade (Conceição de Ipanema-MG), foram ordenados na mesma paróquia, o padre Douglas tinha proximidade e amizade com ele, e pediu dinheiro emprestado. Mas não explicou para que seria esse dinheiro. Parece que alguém estava cobrando ele por algum motivo.
Diocese publica nota de pesar
"A Diocese de Caratinga (MG) comunica, com grande pesar, o falecimento do Pe. Douglas Ferreira Leite, até então Vigário Paroquial da Paróquia de Santa Bárbara de Fervedouro.
O Pe. Douglas estava desaparecido desde o final da manhã do último dia 7 de março, quando havia sido visto pela última vez.
Na tarde de hoje, 9 de março de 2023, foi encontrado sem vida no município de Miradouro – MG.
Na firme esperança da ressurreição, bendizemos a Deus por seu frutuoso ministério sacerdotal, vivido com zelo e ardor, ao longo deste um ano e seis meses, desde sua ordenação presbiteral, no dia 15 de agosto de 2021.
Solidários aos familiares do Pe. Douglas, amigos e paroquianos, rezemos por seu descanso eterno ao lado do Cristo Bom Pastor, a quem serviu com tanto amor e doação. Pe. Douglas Ferreira Leite". Fonte: https://oglobo.globo.com
Mais um padre chegou ao seu Calvário...
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Pe. Wagner Souza
Diocese de Itaguaí RJ
A notícia do desaparecimento e hoje da morte do jovem irmão, Padre Douglas da diocese de Caratinga em Minas Gerais, faz tornar ainda mais evidente a figura do Sacerdote dos nossos tempos.
Infelizmente, ele não é o primeiro e nem faz muito tempo que tivemos conhecimento de um Padre encontrado depois de dias, sem vida e com suspeita de auto-extermínio no Brasil. Como diz o Papa Francisco, os Padres são como os aviões que só viram notícia depois que caem.
De fato, nenhum de nós observa e reconhece a maravilha de voar e chegar rápido de um canto a outro, sem preocupação com congestionamento ou qualquer interrupção nas estradas. Voamos e vemos aviões o tempo todo e nos parece normal, até descobrirmos que eles caem e muitas vezes, caem porque precisam de manutenção, passam por tribulações que não são capazes de superar e etc.
Assim são os Padres. Nós os vemos semanalmente ou diariamente prontos a nos servir, num mesmo lugar e no nosso horário, sempre disponível para satisfazer nossas preferências, afinal de contas hoje é possível escolher. Então se esse padre não me agrada eu mudo de Igreja e vou à Missa e passo a admirar o padre da outra Paróquia, enquanto ele não me contraria, porque se o fizer eu mudo novamente, afinal as opções são muitas...
Do outro lado, existe o Bispo ou o Superior, o Clero ou a Congregação, que muitas vezes acabam não percebendo que excedem nas cobranças, exigem muito e oferecem pouco. Esperam produção, obra funcionando, Igreja cheia e caixa alto, nada mais. Não importa a saúde, não importa o humor, nem muito menos o que se vive... Ficou Padre, precisa trabalhar. Tem que corresponder ao esperado e se virar.
Vida pessoal, perseguição no Seminário e depois, as reclamações do povo, indiferença por parte dos irmãos e a vida tem que continuar. Não importa o que aconteça, tem que celebrar, atender o povo, pregar bem e ai se alguém reclamar! Todos terão razão. Só o Padre que não.
Uma hora, essa cruz pesa.
Nem sempre se consegue manter o ânimo.
O brilho das velas se apagam, a Igreja se esvazia e na solidão da casa ou do quarto se percebe que a indiferença e a solidão se cruzaram e esta é a cruz a ser levada adiante.
Não importa como, com a ajuda de quem ou de que forma, é preciso ir, para que não se perca o ministério, as condições para a vida digna, enfim... O prestígio que se adquiriu com o Sacerdócio, através da Igreja.
Alguns se tratam, outros desistem e vão embora...
E, infelizmente existem os que por medo da vida que virão a viver, chegando ao seu limite, no ponto mais alto, desistem de tudo, inclusive deste mundo.
Uma pena!
Mas, devemos aproveitar desses sinais. Enxergar com atenção esta realidade e nos demorar um pouco mais nesse cenário, para fazermos algumas perguntas:
O que é um padre?
Para que serve?
Quando precisamos dele?
Qual sua real importância?
E Como podemos ajudar?
De que maneira podemos apoiar?
A partir disso, eu penso que as figuras de Cirineu e Verônica, podem nos inspirar a não permitir que o Calvário seja o fim. Mas, que dali mesmo morrendo com Cristo, seus Ministros ressurjam para uma vida nova de fato.
Pense nisso.
Reze isso!
Seja você Bispo, Padre, Religioso, Consagrado ou Leigo.
O Padre é importante para você. Fonte: https://www.facebook.com/wagner.souza.7923
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